quarta-feira, janeiro 25, 2012

A política monetária do ano novo - MARIO MESQUITA

FOLHA DE SP - 25/01/12

Os efeitos da política monetária sobre os preços funcionam com defasagem de alguns trimestres


No final do ano passado, seguindo a sistemática de comunicação vigente desde 1999, o Banco Central apresentou um relatório de inflação, no qual traçou suas projeções para a mesma até o final de 2013.

Esse relatório, amparado em cuidadosos estudos temáticos, apontou para um quadro inflacionário um tanto preocupante, do ponto de vista da convergência da inflação para a meta de 4,5%.

Isso porque as projeções do BC apontavam para inflação de 4,8% em 2012 e 5,3% em 2013.

Em palavras, as projeções da autoridade monetária incluídas no relatório mostravam que no cenário mais provável, que incorpora as expectativas de mercado quanto à queda da taxa de juros, a inflação não retornaria ao centro da meta, do qual se afastou desde 2010, nem em 2012 e muito menos em 2013.

Note-se que, no cenário acima mencionado, a Selic cai até 9,5% em 2012, mas volta a superar 10% em 2013.

A mensagem de prudência e comedimento apresentada no relatório de inflação veio na esteira de menção, na ata da reunião de novembro de 2011, aos efeitos defasados e cumulativos do relaxamento monetário conduzido até então, o que, na tradição dos textos do Banco Central, configura um incipiente sinal de alerta.

Evidentemente as decisões de política monetária não levam em conta apenas o cenário descrito pelas projeções, mas também uma ampla gama de informações, inclusive aquelas obtidas nas periódicas reuniões com outros bancos centrais, que ocorrem diversas vezes por ano, em geral na Basileia.

Mesmo assim, a combinação do tênue alerta de novembro com os números indigestos de dezembro levantou dúvidas sobre as perspectivas para a política monetária em 2012, em especial quanto à possibilidade de entrarmos permanentemente em uma era de taxas de juros de um dígito.

Essas dúvidas foram, entretanto, minimizadas por muitos observadores qualificados. Uma visão é que, em um ambiente de muita incerteza, não faria sentido se preocupar agora com a inflação de 2013.

Ocorre que a incerteza em torno do cenário central para 2013, que tem inflação divergindo da meta, serve para os dois lados. Isto é, a inflação pode ficar abaixo dos 5,3% projetados pelo Banco Central, mas pode também ficar acima.

Outra é simplesmente que, mesmo que a incerteza não fosse elevada, 2013 está longe demais para merecer preeminência na escala de preocupações do BC.

Acontece que os efeitos da política monetária sobre a atividade e a dinâmica dos preços funcionam com defasagem de alguns trimestres. Sendo assim, a partir de março ou, no mais tardar, abril, as decisões do Copom estarão voltadas para assegurar a convergência da inflação para a meta em 2013.

Ao repetir literalmente, na semana passada, o comunicado que acompanhou a decisão de novembro, o BC pareceu dar razão àqueles que minimizaram os sinais de prudência embutidos na ata daquela reunião e, em especial, no relatório de inflação de dezembro. A prova final virá amanhã, com a divulgação da ata da reunião de janeiro.

Outro tema que tem sido muito discutido na imprensa e nos mercados nesse letárgico início de ano é a decisão, iminente, do governo sobre o decreto de contingenciamento fiscal e as implicações para a política monetária.

Discute-se um programa de contingenciamento que iria de

R$ 50 a R$ 70 bilhões, e a maioria dos analistas aposta em um cenário intermediário, R$ 60 bilhões.

Muito mais importante, para a política monetária, do que o montante de contingenciamento a ser anunciado é a meta para o superavit primário. O BC vem trabalhando faz tempo com a hipótese de que este será equivalente a 3,1% do PIB, sem ajustes contábeis, em 2012 e 2013 -essa hipótese é levada em conta nos modelos que geraram as projeções citadas acima.

Deveria ser evidente que um anúncio de ajuste fiscal que simplesmente confirme a intenção de atingir tal meta não seria, por si só, suficiente para propiciar ao BC margem de manobra ampliada na implementação da política monetária.

Tudo mais constante, mais flexibilidade monetária requer um superavit primário maior. A conferir.

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