domingo, janeiro 22, 2012

Cadê a ala dos mensaleiros? - REVISTA ÉPOCA



O tema da Gaviões da Fiel neste Carnaval é a exaltação (e bajulação) ao mais célebre dos corintianos, o ex-presidente Lula. Nunca antes na história deste país a escola conseguiu tanto dinheiro de patrocínio - nem tantos políticos interessados em mostrar samba no pé


Quem for à avenida assistir ao desfile da escola de samba Gaviões da Fiel em homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve estar preparado para uma daquelas obras de fantasia de que só a folia do Carnaval brasileiro é capaz. Estão lá as alas que, previsivelmente, aludem a programas como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, ProUni e Luz para Todos - além de uma bateria vestida com macacões de metalúrgico e de uma coreografia inspirada no escorpião, o signo de Lula no zodíaco. Mas o ziriguidum vai além.

Lembra quando o governo Lula tentou criar um conselhão de jornalismo para tentar controlar a mídia? Pois a Gaviões vem aí com uma descabida ala da liberdade de imprensa... Lembra quando o PT, num primeiro momento, cogitou não assinar a Constituição de 1988? Pode então deixar o samba rolar para a ala de exaltação ao desempenho de Lula e dos petistas na Constituinte. E abre alas para os passistas vestidos de notas de real que desfilarão pelo sambódromo (seria uma desajeitada referência ao plano econômico que estabilizou nossa economia e foi bombardeado por Lula e pelo PT desde a primeira hora?). E que dizer do maior esquema de corrupção de que o país já teve notícia? Cadê a ala dos mensaleiros? Ou do ditador iraniano favorável ao apedrejamento de mulheres e apoiado por Lula? Cadê o carro alegórico do Ahmadinejad? E do dólar na cueca? E... bem, não importa, minha gente. Tem Lula na avenida. É Carnaval, eeê ooooôôô ....

Como peça de marketing, o desfile da Gaviões não deixa nada a desejar às alegorias e aos adereços de um Duda Mendonça. A sequência de alas apresenta alguns delírios característicos dessa forma peculiar de construção cênica conhecida como desfile de escola de samba. Num dos pontos altos, o sambódromo será tomado por passistas fantasiados de borboletas. Foi a forma que o carnavalesco Igor Carneiro encontrou para representar uma das frases mais conhecidas de Lula, dita em dezembro de 2007, quando ele procurava justificar sua mudança de posição em relação à CPMF, o imposto sobre transações financeiras criado para financiar a saúde. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o PT criticava o imposto. No poder, precisou do dinheiro para fechar as contas. Lula, com seu pragmatismo, mudou de opinião e se saiu com uma citação de Raul Seixas: "Eu não tenho vergonha e muito menos tenho razão para não dizer que eu mudo de posição e há muito tempo eu digo que prefiro ser considerado uma metamorfose ambulante".

Quando descobriu que o PT se recusou a assinar a Constituição de 1988 - e só o fez posteriormente com ressalvas, Carneiro diz que levou um susto e cogitou excluir a ala da Constituinte. "Mas aí encontrei um discurso recente do Lula, de quando ele era presidente, dizendo que, se ocorresse o que o PT queria, ele teria dificuldade de governar", diz Carneiro. Essa recente metamorfose de Lula bastou para preservar o que estava planejado. E quanto à ala da "Liberdade de Imprensa"? Obviamente a Gaviões esqueceu o capítulo da difícil e tensa relação entre o governo Lula e a imprensa livre, marcada pelas tentativas de setores do PT de introduzir o que era chamado de "controle social da mídia", um eufemismo para a censura.

As escolas de samba endeusam seus homenageados desde muito antes de o ditador Getúlio Vargas, por meio de seu Departamento de Imprensa e Propaganda, apoiar as agremiações que falavam bem dele e suas realizações. Também já faz tempo que as escolas de samba adotaram o esquema do "enredo patrocinado", exaltando Estados, cidades ou mesmo setores da economia em busca de dinheiro. Neste ano, a Porto da Pedra carioca falará do esplendor e da glória do... iogurte. O motivo? O dinheiro de uma indústria de laticínios.

Homenagear Lula, no entanto, é um negócio muito melhor. Graças a seu enredo, a Gaviões da Fiel fará um dos desfiles mais caros de seus 43 anos de história. A agremiação vai gastar R$ 3,5 milhões, um terço a mais que a escola gastou nos últimos carnavais. "No ano passado, nosso enredo era sobre Dubai", diz Carneiro. "Não apareceu nenhum interessado em patrocinar." Neste ano, numa folia bajulatória, choveram ofertas de patrocínio, a ponto de algumas terem sido recusadas. TIM, Schin, RedBull, Consigaz e Água de Cheiro ajudarão a bancar o desfile. "É porque é o Lula, né?!", diz Carneiro. "Estamos de portas abertas para os caminhões de dinheiro", diz o presidente da Gaviões, Antônio Alan, conhecido como Donizete, em tom de piada.

O plano de transformar o corintiano Lula em enredo vem sendo desenhado pela Gaviões há mais de um ano. A ideia teve pronto apoio do presidente do Corinthians, Andrés Sanchez. Graças ao apoio de Lula, Sanchez conseguiu que seu time ganhasse um estádio financiado com dinheiro público. Foi ele, habitué da quadra da escola às sextas-feiras à noite, quem intermediou o convite a Lula. O ex-presidente já fora procurado pelas escolas Portela e Vila Isabel, ambas cariocas. Declinou dos dois convites. A turma da Gaviões caprichou no convencimento. Em maio passado, Sanchez, Donizete, Carneiro e outros dirigentes da escola foram à sede do Instituto Lula mostrar todos os detalhes do desfile. Ao longo de duas horas, apresentaram ao ex-presidente cada paetê em PowerPoint e ouviram alguns pitacos do ex-presidente, de seu filho, Lulinha, do ex-ministro Luiz Dulci e do presidente do PT em São Paulo, Edinho Silva.

Além de empresas patrocinadoras, o enredo sobre Lula atraiu um cordão de políticos que normalmente não se interessariam pelo chuvoso carnaval paulistano. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), se deslocará para São Paulo, tratada desdenhosamente pelos cariocas como "túmulo do samba", para sambar em homenagem a Lula. Vascaíno e mangueirense, Cabral vestirá a fantasia de Metamorfose Ambulante. Outro passista de luxo deverá ser o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Ele foi convidado por Lula a abandonar os trios elétricos do Galo da Madrugada, no Recife, e se juntar à festa petista. Com os governadores, cerca de 20 parlamentares, federais e estaduais, mostrarão sua ginga e malemolência na passarela. A organização da ala ficou a cargo do deputado estadual Donisete Braga (PT-SP). Cada fantasia custa R$ 600. Braga afirma que a disputa entre os políticos foliões é grande. Um dos que já confirmaram presença é o deputado federal José Mentor (PT-SP), citado nos autos do mensalão.

Os governadores Sérgio Cabral, do Rio, e Eduardo Campos, de Pernambuco, já confirmaram presença no desfile paulistano

Os sindicalistas também aderiram com força ao desfile e sambarão ao som de Vai meu gavião/ Cantando a saga do menino sonhador/ Um filho do sertão, cabra da peste/Irmão/Que deus pai iluminou! Em nome da Força Sindical, o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), adversário político de Lula no passado em que o PT não era governo, comprou uma ala inteira, batizada de Profissão Cidadão. Nela, desfilarão os filiados da Força. Quando soube que sua principal rival comprara uma ala, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não marcou passo. As 100 fantasias da ala Sindicalismo foram compradas pela CUT. São vendidas a R$ 450 cada. Informada de que fora atravessada no samba, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), ligada ao PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab e flerte antigo dos tucanos, correu para sair nas mesmas condições das outras centrais. "A Força já apoiou o Serra, mas eles mudaram de ideia", diz Ricardo Patah, presidente da UGT. "Política é como nuvem, uma hora está de um jeito, outra hora de outro."

Pelos planos traçados pela Gaviões, Lula participará do desfile ao lado da mulher, dona Marisa, e dos filhos. Para a aparição da família Silva, a escola construiu um palco armado no último carro alegórico do desfile. Há duas semanas, a filha Lurian apareceu num ensaio na quadra da escola de samba e pediu adaptações em sua fantasia, originalmente um biquíni, para torná-la mais comportada. Como Lula está em tratamento de um câncer na laringe - ao receber a notícia da doença, sua primeira reação foi perguntar ao cardiologista Roberto Kalil se o tratamento permitiria que ele desfilassse -, há dúvidas sobre sua presença. Os dirigentes da Gaviões chegaram a pensar em construir uma estátua de Lula, com 13 metros de altura, para suprir sua possível ausência. Mas desistiram da ideia. Eles sabem que, sem Lula em carne e osso, o desfile perderá muito de seu impacto

5 comentários:

Jurema Cappelletti disse...

Quem sabe esta será a sexta grande frustração do ex-presidente. Não poder aparecer no desfile; ver a escola não ganhar, mesmo sendo ele o "tema"; ver a escola de samba perder o desfile mesmo que ele seja o tema e esteja presente.

VAMOS ÀS APOSTAS.

(a referência a este artigo do seu blog vai ser incluído agora mesmo no
"Frustração ao ritmo do Bolero de Ravel... " (ainda está em tempo porque acabou de ser editado.

João Paulo disse...

Realmente. Ler esse blog é uma perda de tempo.

Não passa de mais um abutre jornaleiro. Os filhos da elite se remexem, mas não no ritmo do carnaval!!

Anônimo disse...

Realmente perdi meu tempo com esse lixo da oposição !

Anônimo disse...

Que merda de matéria !

Anônimo disse...
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