sexta-feira, dezembro 30, 2011

Confusão na defesa comercial - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 30/12/11


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua conduzindo de forma atabalhoada a política brasileira de defesa comercial. Ele acaba de prometer um novo regime fiscal para a importação de têxteis e confecções, com o objetivo declarado de criar uma barreira contra produtos subfaturados ou importados em condições predatórias. "Já vi terno importado com valor de US$ 3 e até US$ 1,50, o que não paga nem o botão", disse o ministro, ao anunciar a substituição da tarifa cobrada sobre o valor do produto por uma taxa fixa sobre o quilo da mercadoria importada. No jargão profissional, será uma troca da alíquota ad valorem (aplicada sobre o valor) por uma ad rem (incidente sobre a coisa, isto é, sobre o bem material). A solução pode parecer atraente, mas é uma saída perigosa e tecnicamente ruim.

A preocupação com a concorrência movida por produtores de vários países emergentes, especialmente da China e de outros países da Ásia, é perfeitamente justificável. São igualmente justificáveis as dúvidas quanto às condições de formação de preço nessas economias. Além disso, a mudança de um para outro sistema de tributação é, em princípio, legal e menos sujeita à contestação na Organização Mundial do Comércio (OMC), do que a proteção adotada para a indústria automobilística no Plano Brasil Maior. Mas a medida é insatisfatória por mais de uma razão.

Do ponto de vista formal, cria uma complicação com os parceiros do Mercosul, porque toda a Tarifa Externa Comum do bloco é definida em termos ad valorem. Mesmo sem esse problema, a alteração do regime poderá custar caro ao País, porque a defesa baseada numa alíquota específica é muito grosseira e é geralmente evitada no comércio de bens industrializados. Outros governos serão tentados a retaliar de alguma forma ou a pressionar as autoridades brasileiras em busca de compensação.

Além do mais, o ministro da Fazenda parece um tanto confuso a respeito do assunto. Ao anunciar os preparativos para a aplicação das tarifas ad rem, mencionou a conversão dessa medida numa salvaguarda para o setor têxtil, semelhante à adotada para a indústria de brinquedos. Mas a política de salvaguardas, disciplinada pelo sistema internacional de comércio, é totalmente diferente. É aplicada por meio da elevação de tarifas ad valorem ou da criação de cotas. Para adotar essa política, as autoridades, depois de recebida a queixa, devem provar a ocorrência de um surto de importação gravemente danoso à indústria nacional. Segundo a associação da indústria têxtil, os números mostram tanto o surto - 40% de aumento da importação em um ano - quanto o estrago imposto à indústria local, com redução de 15% na produção de têxteis e de 4% na de roupas,

Se esse é o caso, o governo deve ter uma boa base para iniciar uma investigação. O próprio setor público deve dispor de importantes informações, a partir das licitações para a compra de uniformes militares. Durante anos, produtores baseados na China ganharam bom dinheiro fornecendo roupas e botas para as Forças Armadas do Brasil. Em agosto, ao lançar o Plano Brasil Maior, o governo prometeu uma vantagem de até 25% aos fabricantes nacionais.

Além de anunciar a mudança do regime tarifário para têxteis e confecções, o ministro Guido Mantega indicou a disposição de adotar medidas semelhantes para outros setores. Se o fizer, meterá o País numa enorme e custosa trapalhada. O Ministério da Fazenda tem atropelado os órgãos especializados em comércio internacional, como a Camex e o Ministério de Relações Exteriores, e vem-se enredando numa perigosa confusão entre defesa comercial, política industrial e protecionismo dos mais grosseiros. Governos devem manter a defesa comercial como atividade permanente, baseada em critérios técnicos e conduzida por funcionários especializados. Numa economia grande como a brasileira, isso requer uma estrutura mais complexa e mais ampla do que a disponível até hoje. O voluntarismo é incompatível com as necessidades e ambições da sexta maior economia do mundo - ou de qualquer uma com vocação para crescer e ganhar importância global.

Quem pode julgar o juiz? - NELSON MOTTA


O Globo - 30/12/11



Quando se fala desse assunto deve-se pesar muito bem cada palavra. Basta algum juiz de qualquer lugar achar que há algo de errado, ofensivo ou calunioso nelas, e você pode ser processado. E pior, o processo vai ser julgado por um colega do ofendido. Com raras exceções, jornalistas processados por supostas ofensas a juízes são sempre condenados por seus pares.

Sim, a maioria absoluta dos juízes é de homens e mulheres de bem, mas eu deveria consultar meu advogado antes de dizer isto: o corporativismo do Judiciário no Brasil desequilibra um dos pilares que sustentam o Estado democrático de direito. Basta ver os salários, privilégios e imunidades. A brava ministra faxineira-chefe Eliana Calmon está sob fogo cerrado da corporação por defender os poderes constitucionais do Conselho Nacional de Justiça e chamar alguns juízes de "bandidos de toga". Embora não exista melhor definição para Lalau e outros togados que aviltam a classe.

Como um sindicato de juízes, a Ajufe está indignada porque a ministra Eliana é contra os dois meses de férias que a categoria tem por ano, quando o resto dos brasileiros tem só um (menos os parlamentares, que têm quatro). Se os juízes ficam muito estressados e precisam de dois meses "para descansar a mente, ler e estudar", de quantos meses deveriam ser as férias dos médicos? E das enfermeiras? E aí quem cuidaria das doenças dos juízes?

"Será que a ministra diz isso para agradar a imprensa, falada e escrita? Para agradar o povão?", questiona a Ajufe. Como não é candidata a nada, as posições da ministra têm o apoio da imprensa e do público porque são éticas, republicanas e democráticas. Porque o povão, e a elite, julgam que são justas.

Meu avô foi ministro do Supremo Tribunal Federal, nomeado pelo presidente JK em 1958, julgou durante 15 anos, viveu e morreu modestamente, entre pilhas de processos. Suas únicas regalias eram o apartamento funcional em Brasília e o carro oficial. Não sei se foi melhor ou pior juiz por isto, mas sempre foi para mim um exemplo da austeridade e da autoridade que se espera dos que decidem vidas e destinos.

Crescimento exige medidas estruturais - GUSTAVO LOYOLA


O Estado de S.Paulo - 30/12/11

Há várias lições que podem ser extraídas da atual crise europeia. Sem dúvida, o excesso de endividamento de países como Grécia, Portugal e Itália, entre outros, é um dos maiores pecados por trás dos problemas sofridos pela zona do euro. Mas a causa raiz dessas dificuldades é a incapacidade da maioria das economias europeias de trilhar um caminho de crescimento sustentado.
No momento imediato, o mais importante é deter a progressão da crise no mercado de títulos soberanos e evitar a eclosão de uma crise bancária sistêmica que pode ser devastadora. Por isso é indispensável que o financiamento das dívidas dos países ainda solventes não seja interrompido como efeito do agravamento das incertezas no mercado financeiro. A atuação decidida do Banco Central Europeu como "emprestador de última instância" aos bancos europeus, aliada ao uso de recursos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e do FMI no refinanciamento dos países afetados, pode se prestar a este papel.
Porém, ainda que indispensáveis, as ações de "pronto-socorro" acima citadas devem ser encaradas como de efeito transitório, destinadas tão somente a comprar tempo para a adoção de medidas de ajuste estrutural que definitivamente possam afastar o risco de "default" da dívida soberana de Itália, Espanha e Portugal. Essas medidas devem abranger não só ações no campo fiscal - corte de despesas, aumento de impostos -, mas principalmente reformas que beneficiam o crescimento econômico sustentável das economias do euro.
A reduzida capacidade de crescimento de muitos dos países europeus ocidentais é consequência direta da persistência de instituições envelhecidas e incompatíveis com as necessidades das economias capitalistas no mundo contemporâneo, caracterizado pela globalização que exacerba as pressões competitivas. As regras rígidas que disciplinam o mercado de trabalho e os regimes previdenciários excessivamente tolerantes contribuem para o baixo crescimento da produtividade e para as altas taxas de desemprego, que atingem notadamente os mais jovens. Além disso, uma pesada burocracia é um fardo para os negócios e desincentivo para os investimentos. Tais pecados se tornaram ainda mais mortais no contexto da união monetária, já que os países menos eficientes não podem se utilizar da muleta do câmbio desvalorizado para preservar sua competitividade.
A adesão à Comunidade Europeia e, depois, à zona do euro foi para as economias periféricas da Europa uma oportunidade única para reduzir as disparidades de renda em relação a economias mais avançadas como a Alemanha. De fato, houve avanços importantes nas últimas décadas, como qualquer visitante à Espanha, Portugal ou Grécia pode constatar. Mas embora tenha sido abundante a colheita dos frutos da estabilidade e da redução dos prêmios de risco, houve pouco aprofundamento das reformas para assegurar a continuidade do crescimento após esgotados os benefícios da adesão ao mercado comum e à moeda única. A prodigalidade fiscal se tornou o sintoma mais grave da paralisia política ante os desafios da reestruturação da economia para competir na nova realidade da união monetária.
Independentemente do seu desfecho, o Brasil deve extrair da atual crise da zona do euro a lição de que o crescimento sustentado depende de reformas microeconômicas e do contínuo aperfeiçoamento institucional. A boa fase da economia brasileira nos últimos anos é resultado de relevantes mudanças institucionais introduzidas em nosso país, notadamente a partir da estabilização da moeda em 1994. Contudo, nos últimos anos, observa-se uma tendência preocupante de acomodação do governo, que praticamente abandonou iniciativas visando a aumentar a capacidade de crescimento do País no longo prazo. O que se vê, com frequência, são estímulos à demanda ou políticas de oferta que respondem a interesses setoriais imediatos, não necessariamente melhorando o ambiente geral dos negócios e favorecendo o aumento da taxa de investimento. Em algum momento essa estratégia pode dar errado, como nos ensinam os percalços atuais da Europa.

GOSTOSA


Balanço melancólico, que poderia ser outro - WASHINGTON NOVAES


O Estado de S.Paulo - 30/12/11



Chega-se ao fim do ano com uma sensação de desconforto, ansiedade, ante as incertezas do panorama econômico no plano mundial, que podem afetar as perspectivas de todos os países - inclusive do Brasil. Ao mesmo tempo, um olhar de relance sobre a evolução global nas duas últimas décadas leva a rever afirmação do mestre da economia polonesa Michal Kalecki, que seu discípulo, o professor Ignacy Sachs - a quem tanto deve o pensamento econômico/social/ambiental -, costuma citar: uma ideia nova leva o tempo de uma geração (20 anos) para chegar à prática. Porque a recapitulação das duas últimas décadas mostra um balanço melancólico.

Na conferência Rio-92, a gravidade da situação no clima e a necessidade de atuação imediata para reduzir emissões de poluentes levaram à criação de uma Convenção do Clima; duas décadas depois, na recente reunião de Durban, aprovou-se uma declaração que fixa para 2015 a aceitação, por todos países, de compromissos obrigatórios para reduzir as emissões - mas para chegarem à prática só em 2020, daqui a quase 10 anos, 40 anos após a Rio-92. A perda brutal da biodiversidade no mundo levou, também em 1992, a uma Convenção da Diversidade Biológica; mas um balanço na reunião de Nagoya, em 2010, mostrou que continuamos a perdê-la e já sacrificamos mais de 30% das espécies. Aprovou-se, em 1992, uma declaração sobre florestas, porque se perdiam no mundo 17 milhões de hectares a cada ano; continuamos a perder muitos milhões de hectares anuais, mais de 6 mil km2/ano no Brasil. Também se escreveu na Agenda 21 mundial que os países ricos aumentariam sua contribuição para reduzir a pobreza, de 0,36% do PIB anual para 0,70%; 20 anos depois, essa contribuição média já baixara.

Nesse panorama, surpreendem certas avaliações sobre o Brasil, como a de que é o país que mais contribui para reduzir emissões de poluentes - quando nos esforçamos em Durban para passar de 2015 para 2020 o início dos compromissos a serem firmados em 2015; porque se o ano fosse este último, teríamos de rever o "compromisso de redução voluntária", que é o de baixar em 40% as emissões, mas só calculadas pelo que seriam em 2020, um futuro hipotético. As avaliações sobre a redução do desmatamento entre nós a comparam com a média dos anos mais intensos de corte. De qualquer forma, continuamos a emitir mais de 10 toneladas anuais de carbono por pessoa.

Um capitulo à parte continua a ser escrito pelo projeto de novo Código Florestal, que certamente ampliará o desmatamento, com a redução das áreas obrigatórias de proteção à beira-rio, em encostas e topos de morros, além de mangues - sem falar na anistia para a maior parte dos desmatadores ilegais. E na falta de recursos do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama para atuar com eficiência nesse setor.

As áreas cobertas pela conferência de 1992 não são as únicas a produzir sensação de desconforto, internamente. Tome-se, por exemplo, o setor dos recursos hídricos, com a Agência Nacional de Águas a indicar que todas as nossa bacias hidrográficas, da Bahia ao Sul, estão em "situação crítica"; que mais de metade dos municípios brasileiros terão problemas graves no abastecimento urbano em poucos anos; que a perda de água nas redes públicas de distribuição continua acima de 40%. Nas últimas semanas, para completar, informa este jornal que estão paralisadas, em 6 dos 14 lotes, as obras da transposição de águas do Rio São Francisco, embora o orçamento total já tenha aumentado em R$ 1,8 bilhão, para chegar a R$ 6,8 bilhões, dos quais R$ 3,8 bilhões já foram empenhados e R$ 2,7 bilhões, pagos. E, muito grave também, pelo menos metade da população brasileira continua a não dispor de rede de coleta de esgotos - e por isso mesmo o despejo de esgotos sem tratamento em cursos d'água é a maior causa de poluição no País.

Muito relacionada com a área dos recursos hídricos é a da energia, em que se agravam os conflitos pela ampliação de projetos de usinas na área amazônica (Bacias do Xingu, do Tapajós, do Teles Pires). Sem que - como já tem sido dito tantas vezes nesse espaço - o Ministério de Minas e Energia se disponha a discutir com a comunidade científica e a sociedade nossa matriz energética e as alternativas que têm sido indicadas pela ciência, a começar pela possibilidade de forte redução do consumo, com programas de eficiência e conservação. Na verdade, a prioridade absoluta tem sido para obras que influenciem o crescimento do produto interno bruto (PIB).

Agora, quando organismos internacionais já acenam com a possibilidade de redução forte na taxa de crescimento do PIB brasileiro em 2012, cabe perguntar: qual é nossa estratégia mais ampla? Seguir com o obreirismo a qualquer custo? Não seria o caso de tentarmos fazer valer a excepcional possibilidade de sermos dotados de recursos naturais abundantes, no momento em que eles são o fator escasso no mundo? É uma vantagem comparativa única. Não deveríamos caminhar a passos largos para uma matriz energética "limpa" e renovável, outra possibilidade quase única no mundo? Seguiremos no modelo imposto pelos países centrais, de sobrevalorizar produtos industrializados e suas tecnologias - que eles produzem - e depreciar recursos naturais e produtos "primários" que importam?

Analistas de vários matizes afirmam que a crise do Primeiro Mundo não tem caminho definido para se encerrar - e seja qual for ele, levará anos e produzirá fortes consequências, até que se defina quem pagará os custos (a sociedade? O sistema financeiro?). E também se defina como se fará para reaproximar o mercado do dinheiro (que gira centenas de trilhões de dólares por ano) da realidade concreta (o PIB mundial está na casa de 62 trilhões de dólares, apenas).

Nessa hora, é preciso considerar: um país como o Brasil tem tudo para influenciar na mudança de rumos, e não apenas dos internos.

DE VOLTA PRA CASA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 30/12/11
Reviravolta no caso do sargento gay Laci de Araujo, preso em 2008 depois de se assumir homossexual e dar entrevista a Luciana Gimenez, na RedeTV!, ao lado do companheiro. Ele conseguiu reverter o processo em que era acusado de deserção. Provou que tinha epilepsia e depressão -e poderá se aposentar pelo próprio Exército.

DE VOLTA 2

O caso, na época, mobilizou movimentos de direitos humanos, que acusavam a força de perseguir e retaliar o militar por causa de sua condição sexual. A reviravolta ocorreu depois que uma junta pericial do próprio órgão, à qual o sargento recorreu para rever a deserção, concluiu que Laci é, na verdade, "incapaz definitivamente" para o serviço militar. O Exército diz que seguirá a determinação do laudo.

DE VOLTA 3

Laci de Araujo ainda responde, em liberdade, a outro processo por caluniar as Forças Armadas. Quando saiu da prisão do Exército, ele disse que foi torturado. Foi condenado a um ano de prisão. Está recorrendo.

CORDAS

O ginásio do Ibirapuera será transformado em um palácio vienense, com 150 lustres de cristal, em maio, para show de André Rieu.

O violinista holandês é um dos campeões mundiais de vendas de CD e DVD.

LIÇÃO DE CASA

A Justiça acatou pedido do colégio Lourenço Castanho (SP) para que um aluno tenha acesso à prova corrigida do Enem. O estudante teve a redação anulada. Mas, devido a seu ótimo desempenho escolar, a direção do colégio acredita que o exame foi trocado. Após ser intimado, o Inep, que aplica o Enem, terá cinco dias para mostrar o documento ao aluno.

CONTAGEM

Caso tenha havido erro, o Lourenço Castanho deve entrar com nova liminar para que o Inep reveja a nota a tempo de o aluno se matricular em universidades federais. O prazo termina em 12 de janeiro.

EU VOTO, TU VOTAS

Há um grupo de deputados estaduais insatisfeito com o andamento das votações na Assembleia de SP em 2011. Afirmam que na ordem do dia nunca são votados os projetos com vetos, quando o Executivo rejeita um item ou até mesmo a íntegra do projeto. O número, dizem, já chega a 580, todos parados.

EU VOTO, TU VOTAS 2

O presidente da Assembleia, Barros Munhoz (PSDB), afirma que as votações priorizam os casos urgentes. "Não vamos deixar de votar um aumento para os servidores, por exemplo, por causa de vetos. Cada projeto de urgência leva seis horas de discussão na Assembleia", diz. "Isso é coisa de quem não conhece o Parlamento."

ROCK PORTUGUÊS
A cantora Sónia Tavares, 34, é vocalista do grupo português The Gift. A banda, que compõe e canta principalmente em inglês, fez turnê pelo Brasil em outubro e lança por aqui, no começo de 2012, o "single" da canção "Primavera". Sónia está grávida de seu primeiro filho com o namorado, Fernando Ribeiro, de outra banda, a Moonspell.

SHOW DE BOLA

Jogadores como Neymar, do Santos, e o são-paulino Lucas participaram do Jogo das Estrelas, evento beneficente organizado por Zico. Ronaldo compareceu com o filho Ronald. O ex-goleiro Zetti e o comentarista Osmar Santos também estiveram no estádio do Morumbi, em São Paulo, anteontem.

CURTO-CIRCUITO

Gusttavo Lima e as duplas Jorge & Mateus e Humberto & Ronaldo se apresentam hoje na Arena Verão Show Guarujá. Classificação etária: 16 anos.

O complexo Siquini Parador Beach, com heliponto, atracadouro, spa e restaurantes, será inaugurado hoje em Ilhabela.

O DJ Badinha toca amanhã na festa "White Celebration", na Boogie Disco. A partir das 21h. 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Devagar quase parando - FÁBIO GUIBU


FOLHA DE SP - 30/12/11

Obras de transposição do rio São Francisco estão parcialmente paradas há cerca de um ano; galpões foram saqueados e mato cresce ao redor


Alojamentos depredados e saqueados no meio da caatinga, ao lado de um canal tomado pelo mato e corroído pela erosão, formam o cenário de abandono em vários trechos das obras da transposição do rio São Francisco.
O projeto federal de R$ 6,8 bilhões, iniciado em 2007, está parcialmente paralisado há cerca de um ano.
A Folha percorreu cerca de cem quilômetros do eixo leste da obra, a partir de Floresta (PE), onde está um dos pontos de captação de água.
O Exército continua trabalhando no local, mas os consórcios privados abandonaram as obras, reclamando a revisão dos seus contratos.
As máquinas foram retiradas, e milhares de trabalhadores, demitidos. Nos galpões que serviam de alojamento, portas, janelas e telhados foram saqueados.
Em trechos onde o canal estava sendo concretado, foi retirado até o plástico usado para isolar o cimento do chão. O sol racha o solo e provoca trincas no concreto. O mato toma áreas já terraplenadas.
A água que se acumula em alguns metros de vala vem da chuva ocasional e serve apenas para saciar a sede dos bodes e do gado das fazendas.
Nas agrovilas, o movimento intenso dos primeiros anos do projeto acabou. A paralisação das obras trouxe prejuízo aos comerciantes e devolveu ao campo os lavradores contratados como operários.
Dona de um restaurante na Agrovila 6, em Floresta, Eliane Maria da Silva Lisboa, 37, diz que levou um calote de cerca de R$ 20 mil com a demissão dos operários. "Vendi fiado, e eles foram embora sem pagar nada", reclama.
O restaurante, que em 2009 chegou a servir 400 refeições por dia e faturar R$ 150 mil por mês, quebrou. A comerciante recebe hoje três clientes por semana. "Fiz dívidas pensando em quatro anos de trabalho, mas só durou um."
Lisboa afirma que sua esperança está no reinício das obras. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, cinco dos 14 lotes da transposição estão parados, e os serviços serão retomados gradualmente a partir de janeiro.
O ministério afirma ter identificado 500 metros de rachaduras, fissuras e descolamento de placas de concreto em três trechos de canais. As falhas, diz, serão corrigidas "sem custo adicional para os cofres públicos".
Em nota, o ministério informou que todos os serviços "possuem garantia" e que o governo federal "não pagará, em hipótese alguma, o mesmo serviço em duplicidade".
A transposição prevê a construção de dois canais para levar água do rio São Francisco a 12 milhões de pessoas de 390 municípios de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, até 2025.

Na ponta do lápis - MIRIAM LEITÃO


O Globo - 30/12/11


As contas públicas do primeiro ano do governo Dilma são menos brilhantes do que parecem. Chegou-se a novembro com quase toda a meta cumprida. Ótimo. Os problemas são: essa não é a melhor meta; o ajuste foi feito com aumento da arrecadação e da carga tributária; os gastos comprimidos foram os dos investimentos; alguns gastos continuam não sendo contabilizados.

A comparação feita pelo Ministério da Fazenda com os países europeus para mostrar que o quadro fiscal brasileiro é bem mais favorável do que países como a Inglaterra é grosseiramente equivocada. Eles estão em crise e pioraram muito os dados fiscais. A piora deles não torna o Brasil melhor, apenas relativamente melhor.

Nós, felizmente, não estamos em crise e mesmo assim terminamos o ano com um déficit de 2,36% do PIB no critério nominal. O país usa há muito tempo o conceito de resultado primário. Isso fazia sentido anos atrás quando ainda se estava completando o trabalho de transição para a economia de inflação controlada. Há anos o Brasil deveria prestar mais atenção ao conceito nominal; que inclui o custo do pagamento de juros e é a forma mais completa de ver as contas públicas.

Em 2005, o então ministro Antonio Palocci sugeriu que se buscasse o déficit zero, aproveitando o bom momento da economia brasileira. A então ministra-chefe da Casa Civil disse que era um objetivo "rudimentar". Nada mais equivocado. Se tivesse buscado o déficit zero naquela ocasião o país teria enfrentado de forma muito melhor a crise de 2008, que levou o Brasil à recessão em 2009.

O superávit primário foi conseguido principalmente por aumento de arrecadação. A arrecadação das receitas federais aumentou 11,69% de janeiro a novembro, já descontada a inflação, em relação ao mesmo período do ano passado. A receita do Imposto de Renda Pessoa Física ficou 20,69% maior no período, só para citar um imposto. Ao mesmo tempo, os investimentos caíram de R$39,82 bilhões, em 2010, para R$38,75 bilhões, este ano, uma redução de 2,7%. A queda é ainda maior quando se calcula que o orçamento permitia investimentos que não foram realizados. Já os gastos de pessoal e encargos sociais subiram 8%, de R$147 bilhões para R$160 bilhões.

Quando os dados estiverem todos calculados o Brasil vai constatar que a carga tributária aumentou mais de um ponto percentual do PIB, na visão do economista Rogério Werneck. A compressão das despesas pegou exatamente o que não deveria pegar: os recursos para investimentos. O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) já estima que a alta será de 1,5 ponto, que elevará a carga a 36% do PIB. Para se ter uma ideia, em 1995, a carga tributária no Brasil era de 28,92%, ou seja, o Estado está sempre tendo que aumentar o peso dos impostos para cobrir o seu aumento de gastos. Entra governo e sai governo, é a mesma coisa. A cada ano, o Estado tira mais dos cidadãos que pagam impostos para cobrir gastos crescentes. Claro que uma política fiscal assim tem limites.

O Tesouro ainda tem gastos não corretamente contabilizados como o custo que tem tido nos últimos anos ? e teve de novo em 2011 ? com o BNDES.

O governo chama a transferência de recursos para o banco de "empréstimos" porque assim não entra como gasto. Claro que não é empréstimo e ainda que fosse tinha que ser registrado em orçamento a diferença entre o custo de captação do Tesouro e o custo dos juros cobrados pelo BNDES dos empresários.

Esse é um ponto opaco das contas públicas e o Brasil tem que continuar o esforço de tornar mais transparentes e auditáveis os gastos públicos. O que está acontecendo entre o Tesouro e o BNDES é um retrocesso nessa tendência. Desde a crise de 2008-2009 o BNDES já recebeu nessa modalidade de "empréstimo" R$285 bilhões. Este ano foram transferidos para o banco R$45 bilhões.

O grande problema nos gastos do governo, que vem de várias administrações, é a qualidade e eficiência das despesas. Investimentos interrompidos no meio e expostos à deterioração do que já foi feito, como o que foi flagrado recentemente numa reportagem do "Estado de S. Paulo" na transposição do Rio São Francisco, são uma forma de desperdiçar o parco e necessário dinheiro de investimento público. Dinheiro de gastos sociais que se perdem nos descaminhos das relações viciadas com algumas ONGs é uma forma ainda pior de perder o dinheiro do contribuinte. E há também as escolhas erradas de investimento.

O ano que vem começa com um aumento grande dos gastos previdenciários. Além disso, as empresas terão resultados piores e os impostos que recaem sobre o lucro das empresas deve arrecadar menos do que em 2011, quando as empresas recolheram os impostos sobre os gordos lucros de 2010. A tendência é de um ano fiscal pior.

Mas o mais desanimador nas contas é perceber que o governo continua trabalhando com as gambiarras criadas em tempos de emergência. A DRU começou com o nome de Fundo Social de Emergência. A ideia era se preparar para uma possível queda de arrecadação após a estabilização. Permanece até hoje e assim ficará nos próximos anos. O superávit primário é conseguido sempre pela contenção dos investimentos e elevação dos impostos arrecadados dos contribuintes. Nada se faz de permanente, de estrutural nas contas públicas.

Isso sim é rudimentar.

GOSTOSA


Anistia, não - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 30/12/11




Sem maioria no Congresso, ambientalistas aproveitarão a proximidade com a Rio+20, que ocorre em junho, para fazer uma campanha internacional pelo veto da presidente Dilma a trechos do novo Código Florestal. Por isso, os verdes se uniram aos ruralistas para adiar a votação do projeto para março, na Câmara. Produtores rurais também não gostaram do texto aprovado pelo Senado.

"O texto da Câmara é um retrocesso. Eu não aceito” — Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, sobre intenção de ruralistas de derrubar o Código Florestal aprovado pelo Senado e voltar ao texto da Câmara

Governo está otimista
Apesar de ser ano eleitoral, o governo está disposto a votar até março a criação do Fundo de Previdência Complementar dos Servidores, impopular na base do PT. Relator do projeto, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) diz que não há problema. "Eu era ministro da Previdência quando aprovamos a reforma em 2003. Depois fui reeleito com o voto do funcionalismo", diz ele. O ministro Garibaldi Alves (Previdência) também minimiza, argumentando que as novas regras valerão apenas para quem entrar no serviço público após a criação do fundo. "Uma vez que não contraria o direito adquirido, não vai haver resistência", disse ele.

PELA TANGENTE. Questionado sobre as reclamações de José Serra, na reunião da Executiva do PSDB, a respeito de suposto fogo amigo nas denúncias contra ele no livro "A Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) preferiu sair pela tangente: "Eu não estava lá". Perguntado se não fora informado por aliados que teriam feito sua defesa no encontro, ele insistiu: "Eu não estava lá".

Sucessão
O ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) disse a parlamentares, no coquetel no Alvorada, que seu sucessor não será ninguém da pasta. Ele havia sido questionado se seu secretário-executivo, Luiz Antonio Elias, assumiria.

Queridinhos
A presidente Dilma é só elogios para os presidentes da Capes, professor Jorge Almeida Guimarães, e do CNPq, professor Glaucius Oliva. Eles caíram nas graças de Dilma por causa da elaboração do programa Ciência Sem Fronteiras.

Assunto indigesto
Se alguém quiser ver a presidente Dilma irritada, é só lembrá-la que Belo Monte vai operar abaixo de sua capacidade por questões ambientais. Para aumentar a capacidade da usina, seria necessário fazer um reservatório maior. Mas, para diminuir o impacto ambiental, o governo optou por alagar o mínimo possível. Mesmo assim, a chiadeira é enorme entre os ambientalistas, que são contra a obra.

Solução caseira
Atual secretário nacional de Renda de Cidadania, Tiago Falcão assumirá a Secretaria Extraordinária de Erradicação da Pobreza Extrema, devido à saída de Ana Fonseca. Para o lugar de Falcão vai seu adjunto, Luis Henrique de Paiva.

Prévias
Pré-candidato à prefeitura de Niterói, o deputado federal Chico D´Ângelo (PT) quer que Rodrigo Neves deixe a secretaria estadual de Assistência Social para disputar as prévias. Diz que é necessário para garantir igualdade de condições.

O GOVERNO está exigindo, na concessão dos aeroportos, que o operador seja sócio do consórcio. E que tenha experiência de cinco anos, com transporte de 5 milhões de passageiros ao ano.

A AVALIAÇÃO no setor é que as exigências vão restringir a participação no leilão a operadores estrangeiros.

DO SECRETÁRIO municipal de Educação, Alexandre Schneider: "Eu adoraria ser prefeito de São Paulo, mas não estou cogitando isso". Ele diz que o PSD continua apostando na candidatura de Afif Domingos.

O fim de ano e a Lei Seca - HUGO LEAL



O GLOBO - 30/12/11
O período de festas de fim de ano é, sem dúvida, um dos mais aguardados por todos. Talvez, por isso, seja também um dos períodos mais perigosos em se tratando de acidentes de trânsito, quando todos estão mais emotivos, querendo comemorar o ano que passou e celebrar o que está por vir. Não é à toa que, exatamente nesta época, o número de acidentes de trânsito no Brasil aumenta, em média, 20%.

A Lei Seca completou três anos em 2011. Nesse sentido, está apenas engatinhando. Mas já colhe frutos e contribui muito para a redução de acidentes e mortes no trânsito. Ela não escolhe marca, cor ou ano do veículo, nem vai pela raça, classe social e status do motorista. Tem como únicos objetivos alertar para a perigosa mistura bebida e direção e preservar vidas.

Um novo embrião, porém, foi apresentado este ano à Câmara dos Deputados para endurecer ainda mais a Lei Seca. Está na fila para apreciação e deveria ser prioridade dos nossos parlamentares. O projeto de lei 535/11, também de minha autoria, aumenta a pena para quem for flagrado alcoolizado ao volante. Cria e dá ao Judiciário novas formas de provas para comprovar a embriaguez ao volante, além do bafômetro . Com ele aprovado, passam a ser provas testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outros meios que, técnica ou cientificamente , permitam certificar o estado
do condutor. Passam a ser reconhecidas pela Justiça também provas testemunhais, imagens, vídeos ou quaisquer outras provas admitidas em direito.

O texto do novo projeto de lei é resultado da discussão de toda a sociedade. Foi criado após debates e encontros com a sociedade civil, com representantes de Detrans de todo o país, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Militar.

Em todo o Brasil, anualmente são mais de 40 mil vítimas com resultados fatais no trânsito, uma média de 95 por dia, o que consome cerca de R$ 30 bilhões com despesas hospitalares e indenizações, entre outros gastos.

Mais da metade dessas mortes tem causas associadas ao uso de álcool . E n t re os j ovens, esses números são ainda mais alarmantes: 32,4% da faixa mais produtiva do país é vítima da violência no trânsito.

São números chocantes e que deveriam preocupar mais o Poder Executivo dos municípios, estados e da União, para que se unissem contra essa epidemia, principalmente no momento em que o Brasil está mobilizado pela Década Mundial de Ações para a Segurança no Trânsito (2011/2020). A Década foi instituída pela Organização das Nações Unidas, com a chancela da Organização Mundial de Saúde (OMS), e tem como meta a redução, em 50%, do número de mortes e acidentes no trânsito, num período de dez anos.

A Década e a Lei Seca são apenas alguns dos instrumentos para salvar centenas de milhares de vidas nos próximos anos, mas os resultados não devem aparecer em curto prazo. Mesmo assim, é nosso dever trabalhar para que, já em 2012, o Brasil e o mundo tenham uma redução significativa no número de acidentes e de mortes no trânsito.

Tamanho e pouca vergonha - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 30/12/11
RIO DE JANEIRO - Levantamento da Folha revelou que, em 2011, os acidentes nas estradas custarão ao país R$ 15 bilhões em atendimento hospitalar, danos aos veículos e perda de produção -quando as pessoas envolvidas no acidente morrem ou ficam incapacitadas e deixam de produzir.

Outra conta de chegar, esta feita por responsáveis pela investigação do desvio de recursos em órgãos federais, acusou neste ano um rombo de R$ 1,1 bilhão em arrecadações indébitas, contratos superfaturados e propinas. A palmatória cabe ao Ministério dos Transportes, cujo titular, Alfredo Nascimento, docemente constrangido, "demitiu-se" em julho, deixando à PF o trabalho de descobrir o paradeiro de R$ 759 milhões. Quatro outros ministérios (Agricultura, Turismo, Esporte e Trabalho) respondem pelo resto do prejuízo.

E, na semana passada, a Polícia Civil encontrou quase R$ 4 milhões em notas de R$ 50, escondidos nos esgotos de uma casa na Barra da Tijuca, de propriedade de um parente de envolvido com o jogo do bicho. Tudo bem, R$ 4 milhões parecem troco diante dos rombos federais. Mas, por qualquer parâmetro, é muito dinheiro para ter em casa -são 80 mil notas de R$ 50 passando à margem da economia.

Some-se a isto o dinheiro que se esconde no tráfico de drogas, contrabando, ONGs irregulares, mensalões, obras-fantasmas, "gatos" de luz, bancadas de camelôs e até na mão dos flanelinhas -e se terá uma ideia de como o Brasil produz dinheiro que rola de bolso em bolso e até gera riqueza, mas não conta para a riqueza nacional.

Rouba-se de dia, de tarde e de noite, no atacado e no varejo, à mão armada e desarmada, e, com tudo isso, o país oficial, que presta contas, é agora a sexta economia do mundo. Quem explica? Os antigos. Eles viviam dizendo que o Brasil só tinha tamanho e pouca vergonha.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 30/12/11



Hotelaria de negócios se recupera de crise no setor

A hotelaria de negócios no Brasil vai entrar em 2012 quase recuperada da crise que assombrou o setor no início da primeira década deste século.

Ao longo de 2011, a ocupação se sustentou em cerca de 70% nos grandes centros urbanos, após romper o piso de 50% em 2001, segundo estudo do Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), que reúne empresas do setor.

A crise teve início devido à explosão de construções e lançamentos de empreendimentos hoteleiros, sem demanda que acompanhasse.

O Rio se destaca com 78,4% em média neste ano por manter a ocupação mesmo nos finais de semana. Fortaleza e Brasília, porém, caíram.

O valor das diárias, apesar de crescente, ainda não atingiu a recuperação total, segundo Ana Maria Biselli, diretora-executiva do Fohb.

"Por ter havido um período de quase estagnação nos últimos dez anos, com declínio de preços, ainda há mercados como Curitiba e Fortaleza com tarifas abaixo", diz.

A categoria de médio padrão, que participa com o maior número de quartos (55%), é a de maior recuperação nas diárias. O segmento de melhor variação da taxa de ocupação é o econômico.

"Os novos empreendimentos que virão não seguirão na proporção do que já existe. Haverá diferença de categoria e localização. A nova oferta inclui mais investimento no econômico e há tendência de desconcentração das grandes redes no Sul e Sudeste."

CARRINHO DE INVESTIMENTO

Os investimentos no setor supermercadista em 2012 devem superar R$ 1 bilhão em projetos de expansão no Estado de São Paulo, segundo levantamento da Apas (associação de supermercados).

O Estado deve alcançar 6.956 supermercados e hipermercados, segundo o estudo.

Cerca de 87% dos entrevistados pela entidade afirmam que pretendem investir para ampliar seus negócios em 2012. Para 37% dos que pretendem investir, a finalidade será a construção de uma nova loja. Aproximadamente 40% dizem que devem ampliar suas lojas e 12% pretendem fazer aquisições.

A previsão de crescimento para 2011 foi de 7% em relação ao ano anterior.

CONTÊINER CHEIO

Duas das principais empresas de operação de contêineres pretendem crescer ao menos 8% em 2012.

O cálculo é baseado nas perspectivas das companhias e no desempenho do setor, que tem crescido duas vezes mais que o PIB nos últimos 15 anos.

Com o fim das obras em Imbituba (SC), a Santos Brasil espera disputar o mercado da região Sul, o segundo maior do país. "Estamos em negociação com vários clientes que pretendem mudar a operação para esse novo terminal", diz o presidente da empresa, Antonio Carlos Sepúlveda.

No novo terminal, a Santos Brasil espera que as cargas sejam, principalmente, das indústrias de metal mecânica, de tabaco e de frutas.

O Grupo Libra, por sua vez, espera crescer 10% em seu terminal do Rio e acima de 8% em Santos, segundo o CEO, Marcelo Araujo.

No canavial O Grupo São Martinho e a Case IH firmaram acordo de cooperação para o desenvolvimento de novas tecnologias para o cultivo da cana-de-açúcar. O objetivo da parceria é aumentar a eficiência da produção por meio de testes no maquinário do setor.

EUA com desconto A companhia de intercâmbio CI oferecerá preços mais baixos em cursos de idiomas e programas de trabalho nos Estados Unidos para os correntistas da conta universitária do Bradesco, após fechar acordo com o banco.

AMOR, RIQUEZA, PAZ...

PARA PULAR AS ONDAS

A tradição de aliar cor de calcinha a pedidos para o Ano Novo altera a rotina das marcas de lingerie.

A mais vendida nesta época pela Valisere e pela Hope é a amarela.

Vermelho, rosa e branco também são procurados. Durante o ano, os mais básicos branco, preto e chocolate ou bege representam a maior parte das vendas.

Ao lado do Dia dos Namorados, a data é a que mais vende, segundo Tatiana Monteiro de Barros, representante da La Perla no Brasil. "É uma cultura da brasileira. Há outros países em que isso ocorre, mas não com a intensidade daqui", diz Barros, que recebe questionamentos curiosos da matriz italiana ao fazer os pedidos para as vendas de final de ano.

A Scala lançou uma linha especial de Ano Novo. O produto vem com etiqueta de papel com sementes que a cliente pode plantar e fazer um pedido ao mesmo tempo.

Ofereci palavras, João Carlos me deu música - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO


O Estado de S.Paulo - 30/12/11


Adolescente, ouvi meu pai dizer ao Luis, meu irmão, e a mim: "Vocês vão comigo nesta viagem para conhecer o prédio da Sorocabana." Ele andava em estado de graça, tinha sido promovido a chefe do escritório central da estrada de ferro, a Contadoria, cargo com que sonhara desde o primeiro dia em que começou a trabalhar. São Paulo para ele era o que é hoje Paris, Nova York, Londres, Barcelona para nós, um destino encantado. Meu pai adorava esta cidade e passou a vida a trazer filhos, parentes, amigos, revelando-a em detalhes que iam do cine Metro a uma viagem no bonde Penha-Lapa, um dos trajetos mais longos, mostrando o luminoso do café Paraventi, em que um bule derramava café numa xícara. Puro deslumbramento.

Daquela vez, ele nos levou ao prédio da Sorocabana, ferrovia que ia até a barranca do rio, na divisa de São Paulo com Mato Grosso. Queria nos mostrar o pátio interno com jardim do edifício da administração, que nos parecia um palácio imponente. Como eram grandiosas as ferrovias! Meu pai nos deixou no jardim, foi à reunião. Luis e eu gozamos o esplendor de um castelo real.

Passados 60 anos, no dia 18 deste mês, ali estava eu outra vez naquele que foi o pátio interno da Sorocabana. Só que no camarote 9 da Sala São Paulo. Imagens se atropelaram na minha cabeça, fios se entrelaçando, rompendo e se reencontrando. Pois a Sala São Paulo hoje é a construção que revestiu aquele pátio que era mágico e agora, por meio da música, continua a ser. À minha frente, João Carlos Martins alternava-se com Diogo Pacheco na regência da Bachiana Filarmônica Sesi SP, num programa que trouxe Mozart, Puccini, Guerra Peixe, Villa-Lobos e terminou paulistanamente com Trem das Onze, de Adoniran Barbosa. Diogo voltou a reger aos 86 anos, depois de anos afastado por um AVC.

Voltou impecável e bem-humorado, contando ao público como, em 1968, foi convidado para fazer uma ponta no filme Bebel, Garota Propaganda, baseado em meu primeiro romance. Ensaiou dez vezes a sua fala. Todos riram quando ele revelou o seu único diálogo: "Encha o tanque, por favor", dito ao frentista de um posto de gasolina. Diogo, um amigo que, ao longo dos anos, ao nos cruzarmos na rua, brincávamos, ele gritando para o outro lado da rua: "Olá, maior escritor do Brasil", ao que eu respondia: "Olá, maior maestro do Brasil". Ele terminava: "E do mundo." Outra vez, numa palestra em que comentei que quando jovem achava cafonas os sapatos de camurça, ele, na primeira fila apontou para meu pé, eu trazia um par de camurça. Tempo e idade nos mudam, ainda bem.

Ah, que manhã foi aquela de duas semanas atrás! Foi além da orquestra. Além dos jovens músicos que Martins vai descobrindo por este Brasil afora. Além do coral de Botucatu, em que havia um menino de 7 anos, no máximo. Além desse projeto com jovens carentes que é parte de outro sonho imenso, porque João Carlos quer formar, nos próximos dez anos, mil orquestras no Brasil. Quem superou o que ele superou, vai conseguir. Fadado a nunca mais tocar, hoje toca e rege. Ah, manhã que me calou e comoveu. Antes da última música, João Carlos, chorando, mal conseguiu dedicar a mim o último concerto da temporada. Tudo por uma crônica que publiquei há meses, pedindo a ele que me perdoasse por um momento de inconsequência, quando cometi uma injustiça. Vocês não têm ideia do que isso significou. Fiquei travado porque, como Brandão, sou duro na queda. Destino esse, uma dureza que nos agonia. Ofereci palavras, ele me devolveu em música.

Ainda emocionado, no final caminhei para o saguão para abraçar João Carlos e agradecer. A meio caminho, fui interpelado por um jovem:

- Meu pai trabalhou com você no jornal Última Hora.

Não restam muitos da equipe do jornal onde me formei. Olhei para o jovem. Quem seria? Mil rostos passaram por mim. Momentos do final dos anos 50.

- Quem era seu pai?

- Natanael Azevedo.

Esta é uma idade em que a gente, temeroso, acaba obrigado a fazer uma pergunta:

- Nossa, Natanael. Está vivo ainda?

- Vivo e bem aos 86 anos. Faz esteira todos os dias.

Próprio do Natanael que precisava se mostrar durão, afinal, era quem controlava o dinheiro, as finanças, num momento em que havia uma crise no jornal. Quando cheguei, ainda repercutia a polêmica entre Samuel Wainer e Carlos Lacerda. Este, líder da UDN, acusava Samuel de, sendo judeu nascido na Bessarabia, estar impedido de dirigir um jornal brasileiro. Claro, a UH defendia Getúlio que Lacerda execrava. Foi um pega para valer e os anunciantes de UH se retraíram. Só me aliviei (eu e a maioria) financeiramente depois que as revistas mensais proliferaram e buscavam gente experiente em jornal, gente rápida no fechamento, no título. Naquele saguão da Sala São Paulo, outro pedaço de vida se iluminou mansinho. Com o retorno de momentos curiosos de 1957.

Aos sábados, formava-se uma fila diante do guichê da Tesouraria que começava a emitir vales. À medida que a fila chegava ao fim, o dinheiro entrava miúdo, em notas de 1, 2 ou 5 cruzeiros, que era o dinheiro que vinha direto das bancas de jornais. Até o momento em que o último tostão se ia e Natanael, desolado, mostrava a gaveta vazia. Vale? Só na próxima semana. Ou quinzena.

Saí dali pela manhã ensolarada e achei que merecíamos um almoço no centro onde passei os dez primeiros anos de minha vida paulistana. Atravessei a cracolândia pela Rua do Triunfo, a das distribuidoras de cinema, ali onde nasceu a Palma de Ouro de Anselmo Duarte, e fomos ao Dona Onça, da Janaína Rueda, rainha do centro com seu picadinho, seu cuscuz, suas cachaças. Bom ano para todo o sempre para todos nós.

GOSTOSA


Abatido em pleno voo - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 30/12/11


A exoneração de Allan Toledo da vice-presidência de Atacado, Negócios Internacionais e Private Bank, um dos postos mais importantes na hierarquia do Banco do Brasil, foi motivada pela constatação, à qual chegaram tanto o Palácio do Planalto quanto o Ministério da Fazenda, de que o executivo participava ativamente de movimento para desestabilizar o presidente do BB, Aldemir Bendine, cujo cargo pretendia herdar.
No posto desde 2009, Toledo havia construído ampla rede de conexões no grande empresariado. Entre seus interlocutores estavam Benjamin Steinbruch (CSN), Ivan Zurita (Nestlé) e Joesley Batista (JBS-Friboi).

Fico Há algum tempo, Toledo recebeu convite da iniciativa privada, mas não foi essa a razão de sua saída, ao contrário do que chegou a ser ventilado. Ele já tinha inclusive manifestado a intenção de recusar a oferta, embora financeiramente vantajosa.

Não fica Com 44 anos e 29 de banco, Toledo foi dispensado com requintes de constrangimento. A exoneração de vice-presidentes é evento raríssimo no BB.

Para depois Deputados e senadores reclamavam ontem que a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) entrou em férias sem cumprir várias promessas relativas às emendas. Congressistas dizem que a liberação de recursos para suas bases ficou muito aquém do combinado com o Planalto.

Lá... Segundo reportagem do "New York Times", deputados e senadores dos EUA se ressentem da atitude distante e reservada de Barack Obama. Ao contrário do que ocorria em governos anteriores, eles raramente são convidados a viajar com o presidente a bordo do Air Force One.

...como cá A queixa é idêntica à de congressistas brasileiros em relação a Dilma. Lula era pródigo nessas caronas, vistas na base eleitoral dos políticos como sinal de grande prestígio.

Fora do trilho 1 A perspectiva de demora na liberação da linha da CPTM obstruída no incêndio da favela do Moinho, em São Paulo, disparou alerta geral no Bandeirantes. O governo paulista teme que, na volta do feriado de Ano Novo, tanto o metrô quanto os trens metropolitanos entrem em colapso com a sobrecarga de passageiros.

Fora do trilho 2 Diante do risco, Geraldo Alckmin destacou auxiliares para cobrar de Gilberto Kassab a demolição do prédio, objeto de disputa judicial. Apesar de a prefeitura ter pedido ontem liminar para derrubar o imóvel, a interrupção no trecho vai durar mais oito dias. Isso porque a hipótese de implosão foi descartada.

Menos um Com apenas um vereador e planejando lançar candidatura própria em 2012, o PPS perdeu a Subprefeitura da Lapa. A gestão Kassab diz que a demissão de Carlos Fernandes, publicada ontem, é parte da "dinâmica administrativa" e não tem motivação política. A degola atingiu outros dois subprefeitos sem filiação partidária.

Campo neutro Conhecedor da rivalidade histórica entre São José dos Campos e Taubaté, Alckmin pretende sancionar a lei que cria a Região Metropolitana do Vale do Paraíba, seu principal reduto eleitoral, em Campos do Jordão. A solenidade está prevista para o dia 9.

DNA O Instituto de Medicina Social e de Criminologia de SP fechou convênio com a Defensoria Pública para ampliar de 20 mil para 25 mil o número de exames de investigação de paternidade e medicina legal feitos por ano.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"É assustadora a quantidade de denúncias contra juízes. Pegar licença-prêmio e, ao mesmo tempo, advogar é inadmissível para quem está habituado a julgar os cidadãos."
DO DEPUTADO PROTÓGENES QUEIROZ (PC do B-SP), sobre o TJ-SP ter concedido a 22 desembargadores licenças-prêmio referentes a períodos em que eles trabalharam como advogados, anteriores ao ingresso no serviço público.

Contraponto

Fazendo escola

Durante reunião na qual fez balanço da reorganização das carreiras do funcionalismo paulista, a secretária de Gestão Pública, Cibele Franzese, usou e abusou das planilhas e gráficos.
-Virei a rainha das tabelas neste ano...
Um jornalista interveio:
-Quem gosta disso é a presidente Dilma...
A secretária respondeu, em tom de brincadeira:
-Talvez ela queira me levar para trabalhar lá. Excel é comigo mesmo. Mas olha: o governador também adora...

O primeiro ano de Dilma: governo medíocre - ALBERTO GOLDMAN

FOLHA DE SP - 30/12/11

Não existe austeridade nem eficiência possíveis quando nacos do Estado são entregues a partidos para serem usados como agências arrecadadoras


O primeiro ano de governo de Dilma Rousseff -o nono de Lula, seu antecessor e mentor- caracterizou-se pelo desperdício do capital político obtido por ela com a vitória eleitoral de 2010: foi amorfo e insípido.

Dilma foi eleita presidente mas se contenta com o papel de atriz coadjuvante -escalada para refletir o brilho do ator principal e diretor do enredo- e de síndica do condomínio político constituído por Lula.

Os condôminos, começando pelas múltiplas facções do Partido dos Trabalhadores, não admitem abrir mão dos cargos e verbas federais, cujo rateio é a razão de ser da sua participação no governo. Nas suas disputas pelos nacos do poder não existem quaisquer preocupações sobre o futuro do país.

A presidente pode, parcimoniosamente, restabelecer uma civilidade básica no trato com as lideranças e com os partidos de oposição. Passar disso, porém, e mexer nos fundamentos do sistema de poder lulista-petista, nem sinal.

É o sistema de poder criado que deve ser avaliado, mais do que o desempenho da presidente. Mas o balanço é negativo para ambos, e preocupante para o país -principalmente para os que precisam e querem ganhar a vida honestamente.

Nenhum presidente, no passado, recorreu ao loteamento político da máquina estatal na extensão e com a desfaçatez de Lula. O efeito mais visível do clientelismo turbinado por ele foi a sucessão de escândalos no primeiro ano de Dilma.

O espetáculo da corrupção impune enoja a opinião pública, desmoraliza as instituições, paralisa a administração pública, desvia recursos necessários para atender demandas da sociedade e desafia as pretensas intenções moralizadoras da própria presidente, que troca os ministros que se demitem quando já não aguentam mais a pressão da opinião pública, mas não muda a regra de rateio dos ministérios.

Não há austeridade nem eficiência possíveis quando pedaços do Estado são entregues a partidos e facções políticas para serem usados como agências arrecadadoras.

As contas e indicadores de desempenho da máquina federal, da Funasa à Petrobras, registram o avanço dessa forma perversa de privatização do patrimônio público nestes nove anos. Ninguém entregou mais o Estado brasileiro ao apetite desmedido de sua base política do que Lula e Dilma Rousseff.

A perversão não se limita à máquina estatal. Escândalos recentes puseram em evidência o aparelhamento de entidades da sociedade civil como comitês eleitorais e canais de desvio de dinheiro público por grupos políticos instalados nos ministérios. A tal ponto que não se consegue mais distinguir quais as entidades sérias, quais as simples picaretagens.

Refém de uma base na qual políticos, sindicalistas, donos de ONGs e amigos empresários se acotovelam diante dos guichês pagadores da União, o governo custa a desacelerar a disparada insustentável dos seus gastos, adia investimentos essenciais e infla a dívida pública.

Além disso, não consegue eliminar os gargalos de infraestrutura que freiam o investimento produtivo e deixa passar a janela de oportunidade aberta pela emergência da Ásia, sem avançar com as reformas estruturais que qualificariam o Brasil como mais do que um mero exportador de produtos primários.

Sobre esse pano de fundo, o balanço do primeiro ano de governo da presidente Dilma, o nono de Lula, registra uma constrangedora sucessão de fracassos. Ao mesmo tempo, o quadro econômico internacional e o quadro nacional se mostram extremamente preocupantes.

Pode ser diferente. Basta que a presidente tome em suas mãos, imediatamente, as rédeas do poder, como lhe cabe por decisão popular, constituindo um governo que se submeta somente aos interesses do nosso país.

A hora e a vez dos municípios - ALOYSIO NEVES e RODRIGO TÁVORA


O GLOBO - 30/12/11
OEstado do Rio de Janeiro, após décadas de estagnação e acentuada deterioração social, atravessa atualmente um sólido processo de retomada do crescimento econômico, havendo, com isso, o resgate da até então combalida autoestima do cidadão fluminense. Após o encerramento da análise das contas de gestão de mais um exercício fiscal pelo Tribunal de Contas do Estado, observa-se que o processo de planejamento e austeridade financeira iniciado pela União e amplificado pelo estado praticamente não encontra paralelo na esfera municipal. É necessário que os municípios fluminenses integrem esse processo de forma mais efetiva, atuando de maneira séria e compromissada a fim de que o atual momento não seja desperdiçado.

Inúmeros são os fatores responsáveis pelo atual ciclo econômico, destacando-se, no plano nacional, o cenário favorável consolidado a partir de uma contínua política de estabilização econômica e de ajustes fiscais, e, no plano regional, a política de austeridade financeira adotada pelo Estado do Rio de Janeiro, associada à construção de um ambiente de segurança social e institucional.

De acordo com os dados divulgados pelo governo, encontram-se em curso no estado investimentos na ordem de cem bilhões de reais, o que acarretará a significativa ampliação da capacidade instalada de produção de relevantes segmentos da indústria. Esse ambiente favorável, no entanto, sujeita-se à instabilidade de fatores econômicos em uma ordem globalizada, podendo não se perenizar no longo prazo. As reiteradas crises financeiras internacionais impõem um imediato e rigoroso planejamento em todas as esferas federativas.

Esse desejado planejamento não é, contudo, observado em grande parte dos municípios fluminenses. No exercício fiscal de 2010, analisado pelo Tribunal de Contas do Estado ao longo do ano que se encerra, cerca de 10% dos municípios tiveram as suas contas rejeitadas e muitos outros apresentaram déficits financeiros. Mesmo naqueles que tiveram as contas aprovadas pelo Tribunal, a preocupação da maioria dos gestores restringiu-se ao estrito cumprimento dos percentuais e limites de gastos fixados na legislação, sem que se observe, adicionalmente, uma visão estratégica de longo prazo a fim de perenizar ou ampliar o ciclo de atividades econômicas.

É o planejamento que permitirá aos municípios ordenar suas atividades, bem como estabelecer as prioridades na persecução de seus objetivos. Trata-se de ferramenta básica para que o setor público possa desenvolver as suas atividades com racionalidade, notadamente em um contexto marcado pela escassez de recursos em contraposição à crescente demanda por prestações estatais.

Muitos municípios ainda dependem da União e dos estados, sem se esforçar no desempenho e aprimoramento da sua autonomia. É o momento, contudo, de mudança desse quadro, com União, estados e municípios assumindo as suas responsabilidades e trabalhando em conjunto.

Há, inclusive, um campo próprio de planejamento por parte dos municípios. A vinda de novos investimentos em segmentos estratégicos, como os setores automobilístico, naval e de petróleo, em regra, não decorre estritamente de uma política de fomento por parte dos municípios, mas toda a cadeia de produção de bens e serviços - que será alavancada a partir do estabelecimento e ampliação desses setores - dependerá essencialmente do planejamento municipal.

A inserção dos municípios fluminenses na rota de um desenvolvimento sustentável se mostra, assim, possível e necessária no atual cenário econômico do Rio de Janeiro, pois nunca houve uma oportunidade tão clara, como a atual, de assumirem um papel de maior relevo. Uma administração eficiente deverá, portanto, diante das circunstâncias favoráveis, criar estratégias capazes de estimular um crescimento sustentável e de propiciar o incremento e diversificação de receitas para que os municípios fiquem em situação fiscal mais equilibrada e estável, e menos dependente de receitas voláteis como as advindas dos royalties de petróleo e das participações especiais.

ALOYSIO NEVES é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio. RODRIGO TÁVORA é procurador do estado

Hotéis sem vagas - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 30/12/11


Visitantes sem reservas antecipadas em hotéis de São Paulo não têm onde ficar em dias úteis - alertou esta Coluna várias vezes. Se o setor hoteleiro não se mexer, isso tende a piorar muito durante a Copa do Mundo do Brasil.

Reservas para o período entre 12 de junho e 13 de julho de 2014 já estão sendo realizadas. Serão seis jogos na cidade, incluindo o de abertura e um dos semifinais. E perto de 300 mil turistas passarão por São Paulo - espera a São Paulo Turismo (SPTuris), que cuida de eventos apoiados pela Prefeitura.

Onde essa gente ficará é incógnita à procura de resposta. Nada tira a oferta de novos quartos de hotel em São Paulo do estado de coma. A média de ocupação paulistana saltou de 58,7%, em 2005, para 70,6%, em 2011 - como se vê no gráfico. Nesse ritmo, em 2015 passaria dos 80,0%. Desde que o País foi indicado para sede do Mundial, há cinco anos, não foi erguido um hotel sequer além dos 410 já existentes na cidade. Apesar de pequeno aumento de vagas que possa ocorrer, é improvável que o quadro geral mude em dois anos e meio, até a Copa.

No entanto, o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), que defende interesses do empresariado do setor, garante ter tudo sob controle. Aposta em que a competição, por si só, esvaziará a agenda de turismo de negócios paulistana (congressos, conferências, fechamento de contratos atraem 70% dos 12 milhões que visitam a cidade ano a ano). Assim, argumentam, sobrarão vagas para os torcedores que desembarcarão por aqui.

Mario Albuquerque, diretor da HG Consultoria, não vê sentido nessa lógica. Adverte que, com esses e outros argumentos, a categoria mostra despreparo, não a necessária capacidade de previsão. "Como foi em outras Copas, esta será uma excelente oportunidade para que o empresário brasileiro exiba seus produtos e acerte novos negócios. É um grave equívoco contar com o sumiço dessa clientela hoteleira no período. Ao contrário do que diz o segmento hoteleiro, é alto o risco de que faltem acomodações."

Caio Carvalho, ex-presidente da SPTuris - deixou o cargo há um mês, após sete anos de gestão -, adverte que os investidores estão excessivamente aferrados a uma visão de curto prazo: "Só querem saber das áreas nobres, onde não há espaço para construir mais nada - quando seria bem mais barato e mais rentável subir hotéis na periferia, que conta com alto potencial de valorização até 2020".

O novo presidente, Marcelo Rehder, ainda espera que 10 novos hotéis sejam construídos até 2014. Mas a perspectiva de que fiquem concluídos até lá é baixa.

Albuquerque diz que a falta de vagas será inevitável. E aponta como solução um improviso semelhante ao de outras cidades em que ocorrem grandes eventos: trata-se de aportar navios de turismo no litoral, acoplados a transporte ultrarrápido para a capital, para hospedar visitantes. Seria um quebra-galho coincidente com as férias escolares, em geral de tráfego mais intenso entre São Paulo e o litoral paulista. Em todo o caso, quem tiver ideia melhor que a apresente. /COLABOROU GUSTAVO SANTOS FERREIRA

Brasil potência - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 30/12/11
SÃO PAULO - A notícia de que o Brasil desbancará o Reino Unido do posto de sexta potência do planeta diz mais sobre as nossas mentes do que sobre a situação da economia de cada uma dessas nações.

Para começar, o conceito utilizado, o valor do PIB, reflete mais o tamanho da população do que a riqueza de seus habitantes. Em quinto lugar na lista de países mais populosos, o Brasil, com 192 milhões de pessoas, detém o sexto PIB -o que significa que estamos um pouco mais pobres do que "deveríamos". Já o Reino Unido, com 63 milhões, o 22º na lista dos mais povoados, exibe a sétima economia -bom para eles, mesmo porque desenvolvimento não é um jogo de soma zero, no qual, para um país ganhar, outro precisa perder.

Se quiséssemos avaliar a riqueza propriamente dita, uma medida mais adequada seria o PIB "per capita", critério em que o Brasil, com US$ 8.300 por habitante por ano, despenca para a 63ª posição. Os britânicos, com US$ 43.700, ficam em 20º lugar.

Perceber esses mecanismos não exige mais do que noções rudimentares de matemática. O interessante é que, mesmo cientes de que o título de "sexta potência" é um engodo, não deixamos de experimentar um lampejo de satisfação quando lemos no jornal que desbancamos o Império-onde-o-sol-nunca-se-põe. Por quê?

Seres humanos são incapazes até mesmo de pensar sem mobilizar emoções, preferências e outras manifestações inconscientes do cérebro primitivo, as quais influenciam sutil ou descaradamente decisões juízos que acreditamos racionais.

Basta um pequeno viés, como a vontade de que os brasileiros sejam mais ricos ou o desejo de vingança contra as políticas imperialistas britânicas, para que o cérebro se deixe seduzir pela notícia da "sexta potência" e lhe atribua veracidade e relevância. Cair nessa armadilha tem algo de delirante, mas é bem mais fácil do que parece. Na verdade, resistir a esses impulsos é que exige esforço.

GOSTOSA


A queda dos bad boys - EDUARDO MALUF


 O Estado de S.Paulo - 30/12/11


Não há nenhum crime nos altos salários de jogadores como Neymar e Damião, desde que deem retorno aos clubes e patrocinadores, sejam profissionais e disciplinados e respeitem o público. O ano se encerra com três casos clássicos de atletas que ganham muito, mas não se encaixam nesse perfil. Eles terminam 2011 como derrotados e simbolizam mudança importante no futebol: o espaço dos bad boys tem diminuído a cada temporada. Refiro-me a Adriano, Valdivia e Kleber.

Os jogadores de grandes clubes são pessoas públicas e, consequentemente, vitrine para a sociedade. Têm remuneração invejável, fama e praticam a atividade dos sonhos de muita gente. Mas também existe um preço a pagar. E o comportamento ético, mesmo longe dos gramados, deveria estar embutido no contrato.

Ninguém vê pecado em sair na noite de vez em quando e tomar uma cervejinha. Com moderação. O corpo, afinal, é a ferramenta de trabalho desses famosos rapazes. Um desentendimento esporádico com um colega, treinador ou dirigente também pode ocorrer. O problema é quando se torna algo frequente.

Adriano, que poucas vezes entrou em campo pelo Corinthians, parece ainda longe de recuperar a forma. Nos últimos dias, envolveu-se em nova confusão e corre o risco de perder mais uma oportunidade na carreira. Andrés Sanchez anda expondo por todos os cantos sua irritação com o milionário atleta. Talvez tenha errado ao apostar num personagem com histórico tão complicado.

Valdivia passou dos limites para quem teve tantos problemas físicos e pessoais e pouco contribuiu para o clube que pagou mais do que poderia para recontratá-lo. Além das lesões e noitadas, quase nada fez quando jogou. Mais reclamou com a arbitragem do que deu passes para gols, e chegou a ser cortado de uma partida da seleção chilena por ter aparecido num treino em "estado inadequado", segundo o treinador Claudio Borghi. O ato final não poderia ter sido pior: expulsão contra o Corinthians.

Kleber nunca deixou de se dedicar. Arrumou, porém, uma série de problemas com dirigentes e comissão técnica, quase não marcou gols e desfalcou o time em boa parte dos jogos por contusão. No primeiro semestre, desentendeu-se com a diretoria por causa de um interesse do Flamengo em levá-lo para o Rio. Forçou a saída do Palestra Itália de forma inadequada, já que tinha contrato com o Palmeiras. Depois do fracasso da negociação, em confronto com o próprio Flamengo, deu um bico no fair play ao tentar fazer gol num lance em que deveria ter devolvido a bola ao adversário. Mais tarde, entrou em atrito com Felipão e acabou dispensado. O recomeço será no Grêmio.

O trio serve de exemplo para quem acha que só a inspiração é suficiente para fazer sucesso. O futebol não tolera mais desleixo e indisciplina. Em 2012, esses três bad boys têm duas opções: respeitar mais a bola (e os torcedores) e voltar a brilhar ou começar a trilhar o caminho da decadência.

Muito além dos aposentos - GUSTAVO PATU

FOLHA DE SP - 30/12/11

BRASÍLIA - Brasileiros sexagenários ou mais idosos são cerca de um décimo da população do país atualmente. Em 20 anos, se as projeções dos demógrafos estiverem corretas, essa proporção vai dobrar.

Os aposentados, há um bom tempo, tornaram obsoleto o estereótipo de frágeis velhinhos de pijama -recolhidos a seus aposentos, conforme o antigo sentido da palavra.

Eles podem esperar por décadas de vida pela frente. Pelas estatísticas, a expectativa de sobrevida dos que chegaram aos 60 está em torno dos 20 anos, mas essa é apenas uma média que não revela o horizonte de possibilidades em expansão.

Graças à seguridade oficial, estão mais protegidos da pobreza e da miséria que os demais. Isso significa, em tese ao menos, mais acesso à informação e aos serviços públicos.

É o típico perfil de quem vai ambicionar mais direitos de cidadão. Se ainda não são, eles caminham para ser uma das mais importantes forças políticas do quadro nacional.

e sindicalistas já investem mais tempo e energia nesse filão. Ganha força o lobby para que seja definida política permanente de aumentos acima da inflação para todas as aposentadorias e as pensões, a exemplo do que é feito com os benefícios previdenciários equivalentes ao salário mínimo.

Um pleito não precisa ser majoritário para prosperar na democracia: uma minoria entusiasmada basta, se não houver oposição convicta e organizada. E poucos se animam a questionar ganhos que acabarão sendo de todos os que tiverem o privilégio de viver até lá.

Não há vantagem a ser concedida aos inativos que não tenha de ser paga pelos ativos; aposentados e pensionistas já consomem um quarto da arrecadação de impostos; há carências mais urgentes em saúde, educação e infraestrutura.

Mas ninguém disse que a democracia só lida com demandas economicamente razoáveis.

Sou médico,meu trabalho tem valor - FLORENTINO CARDOSO


O ESTADÃO - 30/12/11


O título deste artigo foi slogan de campanha das entidades médicas nacionais, em 2004, pela valorização do trabalho médico e da medicina. Passados quase oito anos, a situação pouco mudou, a despeito da luta incessante de instituições como a Associação Médica Brasileira( AMB).

É certo que conquistas foram obtidas, como no recente movimento na saúde suplementar.

Em vários Estados do País operadoras de saúde promoveram reajustes em consultas durante 2011. Mas ainda não chegaram aos patamares mínimos reivindicados pelos médicos nem resolveram a dramática defasagem dos demais procedimentos.

A exploração do trabalho médico impacta diretamente a qualidade da medicina, bem com oa assistência aos cidadãos. Para quitarem suas contas e garantirem sua sobrevivência médicos são obrigados a acumular vários empregos, cumprindo jornadas de 60, 70 ou mais horas semanais.

Nenhum indivíduo,seja de que área for, consegue manter a excelência de seu trabalho com tamanha sobrecarga. Mais alarmante ainda é ver que a problemática da desvalorização do médico e da medicina parece atender a uma política deliberada.

Se juntarmos algumas peças do quebra-cabeças da saúde, é a essa conclusão que chegaremos, fatal e lamentavelmente. Vamos mudar esse rumo! O Brasil é um dos países que menos investem em saúde no mundo. Meses atrás, a Organização Mundial da Saúde divulgou relatório anual com dados sobre a saúde no mundo, entre eles os investimentos no setor por país.

Entre os 192 avaliados, ocupamos a medíocre 151.ª posição.

Aqui a parcela do Orçamento reservada à saúde é em torno de 7%.

A média africana, extremamente mais pobre e com inúmeros problemas sociais, é de 9,6%.

O Sistema Único de Saúde (SUS)sofre com recursos insuficientes, impedindo a prática da boa medicina. A triste consequência surge com significativa parcela de profissionais qualificados se afastando cada vez mais da rede pública. Isso sem falar nos salários irrisórios; na tabela do SUS,que,por exemplo,remunera uma consulta básica de clínico geral, ginecologista e pediatra em menos de R$3;na falta de um plano de cargos e vencimentos, de uma carreira de Estado;na violência nas periferias - entre tantos outros complicadores.

São conhecidas por todos as péssimas condições de trabalho e assistência no SUS,gerando frustração e desmotivação. Graves obstáculos ao atendimento adequado marcam o dia a dia de postos de saúde, ambulatórios e hospitais.

Quanto mais carente a região e mais necessitada a população, pior é o quadro,bem evidenciad nas longas filas de espera por consultas, exames e cirurgias.

Angustia-nos ver pacientes jogados em macas nos corredores, a falta de profissionais,de medicamentos e equipamentos.

Mortes evitáveis ocorrem,em especial nas grandes emergências.

Sejá consideramos o retrato da saúde pública como filme de guerra, vejamos o que mais há por aí.

Nos últimos anos faculdades de medicina foram criadas às dezenas de norte a sul do País, a maioria escolas privadas (estarão visando somente o lucro?) sem estrutura mínima para formarbons médicos. Falamos de cursos sem hospital-escola, com corpo docente não adequadamente qualificado, bibliotecas precárias, grade pedagógica deficiente.

O resultado é o que vimos dias atrás, quando o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo apresentou o resultado das avaliações de prova facultativa com estudantes do último ano de Medicina. Quase metade deles não sabe interpretar uma radiografia, fazer um diagnóstico após receber as informações dos pacientes.

Metade ainda faria o tratamento errado para infecção na garganta,meningite e sífilis e não é capaz de identificar uma febre alta como fator que eleva o risco de infecção grave em bebê.Oque podemos esperar? E nossos filhos, pais, amigos e parentes de pessoas formadas com tamanha insuficiência de conhecimento? É, de fato, assustador.

Poderíamos parar por aqui para alicerçar o argumento de que médicos e medicina vêm sofrendo a taque de liberado nos últimos anos, assim como a assistência à população. Mas há muito mais.

Agora o governo federal, com a cumplicidade de alguns Estados, sinaliza a possibilidade de facilitar a revalidação de diploma de médicos brasileiros formados na Escola Latino-Americana de Medicina de Cuba. Comenta-se que a ideia é permitir que façam estágio em hospitais públicos, recebendo bolsa (com recursos de nossos impostos), enquanto fazem cursinho de reforço para se prepararem para uma prova.Um absurdo,que merece o devido parecer do Ministério Público Federal.

Por que essa predileção por Cuba? Não somos contra médicos formados fora do Brasil virem morar e trabalhar aqui,mas de fendemos direito igual para todos.

Existe o Revalida, devidamente chancelado pelo Ministério da Educação e que deve ser o caminho para todos os que querem revalidar o seu diploma obtido no exterior. Fortaleçamos o Revalida e não permitamos que qualquer faculdade ou universidade faça revalidação de diploma fora desse contexto.

Defendemos o sistema público de saúde.

Não é possível o SUS continuar com recursos insuficientes e profissionais desvalorizados.

Ao fazer vista grossa para a má formação e facilitar o ingresso na linha de frente da assistência de quadros não capacitados formados no exterior, afrontam se as reais necessidades dos cidadãos brasileiros, põem-se em risco a saúde e o bem-estar dos pacientes, desvalorizam-se os bons médicos e bombardeia-se a nossa medicina- hoje ainda uma referência como excelência.

Como presidente da AMB, registro publicamente para que fique claro: reagiremos à altura em nome da boa prática médica e da adequada assistência ao povo brasileiro.

Jamais defenderemos castas, pois queremos uma mesma medicina para todos.Deve prevalecer sempre o mérito, e não vieses surgidos de arroubos, que não sabemos que interesses defendem.

Sou médico e tenho compromisso com a vida, com a medicina e com a saúde da população.

O espanto na política e na economia - LUIZ GUILHERME PIVA

FOLHA DE SP - 30/12/11

Desde FHC, a permanência de políticas econômicas e a continuidade de alianças têm sido a norma; Lula seguiu tal caminho, que Dilma mantém


Quando começaram a cair ministros, muitos analistas predisseram que uma crise abalaria o governo Dilma. Uma parte começou a temer que a saída de Antonio Palocci da Casa Civil desse espaço a aumento de gastos. Outra acrescentou que a desconsideração com partidos aliados, sobretudo o PMDB, trincaria o apoio do Executivo no Legislativo, comprometendo a estabilidade.

Depois, quando o Banco Central iniciou a redução da Selic, surgiram analistas que denunciavam a "irresponsabilidade", causada pelos "interesses populistas" do governo. Vislumbraram inflação e desorganização da economia, além de fim da credibilidade do Banco Central.

Pois bem. Já caíram sete ministros. O Banco Central voltou a reduzir a taxa de juros e indica que seguirá reduzindo-a. E não ocorreu o que os analistas acima temiam ou previam. Por que se errou tanto?

Há algumas possibilidades de respostas. Uma delas é que de fato houve erro - sincero e isento. Não mais do que isso. Outra, que houve uma dose de torcida. Não menos do que isso. Ainda outra, que o apego a modelos econômicos e políticos às vezes atrapalha.

Mas há mais uma hipótese. Predomina no instrumental de muitos analistas o quadro econômico e político que o Brasil viveu de 1984 a 1994 (com extensões parciais até hoje). Não é de se estranhar. Antes disso, por quase uma geração, a ditadura era o cenário, e nele a análise econômica e política era assunto de iniciados que desvendavam códigos secretos. Não havia como analisar a superfície.

Quando veio a "vida política normal", por uma série de circunstâncias, as crises se encavalaram. O cotidiano ficou turbulento. E o (re)advento da análise política e econômica foi, justificadamente, marcado pelo espanto.

No campo econômico, o sobressalto dos pacotes, as fugas de capital, as crises cambiais, a hiperinflação, a recessão e as oscilações de ativos - "disparando" ou "despencando" nas manchetes.

No campo político, a fragilidade das bases governistas: nos governos Sarney e Collor, a instabilidade era a norma. Mudanças de lado, formação e desmanche de partidos e alianças e primado dos grandes escândalos. Ocorre que, também por várias circunstâncias, muita coisa mudou até hoje, embora aparentando mais perenidade que ruptura.

Desde o governo FHC, a permanência de políticas econômicas (com variações, e sem falar de mérito) e a continuidade de alianças políticas têm sido a norma. O governo Lula avançou nesses caminhos, que Dilma mantém.

Porém, muitos analistas ainda estão vendo, a todo momento, tudo disparar, despencar, esgarçar, balançar e cair. A ponto de ver a normalidade das alianças e a definição de diretrizes econômicas de maior alcance como excrescências em relação aos esperados eventos fantásticos de cada dia.

Não garanto que não acertem em algum momento, mais adiante. Mas acho que o espanto não está na ordem do dia.

CLAUDIO HUMBERTO

“Jucá, Sarney, Renan e Jader no Senado... Meu Deus!”
Senador Pedro Simon (PMDB/RS), demonstrando desconforto com correligionários

RENAN SE SALVOU DE UMA RASTEIRA DO PMDB

O Planalto acompanha de perto, e sem se envolver, a disputa interna que se trava dentro da bancada do PMDB no recesso parlamentar. O senador Eduardo Braga (AM) conseguiu oito assinaturas dos 16 senadores peemedebistas. Com mais uma adesão, ele destituiria o senador Renan Calheiros do cargo de líder. Renan só não perdeu a função porque o senador Eunício Oliveira não topou aderir.

POR UM TRIZ

Após verificar que não teria o apoio do senador Eunício Oliveira, Eduardo Braga teve que desistir da sua tão sonhada liderança.

CONTANDO VOTOS

A posse de Jader Barbalho na última quarta (28) no Senado, dá um fôlego novo a Renan, que passa a ter um senador a mais a seu favor.

OFF NO CARIBE 

Após o episódio, Braga está incomunicável. Resolveu esfriar a cabeça com a família no Caribe, de onde só retorna após o Ano Novo.

TUDO NA MESMA 

O ministro Aldo Rebelo (Esporte) conversou com a presidenta Dilma e não vai mais transferir o programa Segundo Tempo para o MEC.

É FOG

A notícia de que o Brasil superou o PIB do Reino Unido abalou os ingleses: leitores do Daily Mail propõem ao governo cortar a ajuda de 

£ 730 mil, dos £ 13.6 milhões “disponíveis”, do dinheiro dos contribuintes.

SE ELEIÇÃO FOSSE HOJE, AGNELO PERDERIA DO PSOL 

Após um ano de governo, o desgaste do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) foi tanto, que se a eleição fosse hoje ele perderia até para Toninho do PSOL, terceiro colocado em 2010. Pesquisa Mark/CH realizada entre 20 e 22 de dezembro com 595 pessoas mostra Agnelo derrotado pelos ex-governadores Joaquim Roriz (PSC) e Cristovam Buarque (PDT) em qualquer cenário.

O QUARTO

Barrado pela Ficha Limpa, Roriz lidera com 31,4%, seguido por Cristovam (22,7%) e Toninho (11,3%). Agnelo teria 10,9% dos votos.

ESPONTÂNEA

Os ex-governadores Joaquim Roriz e Cristovam Buarque vencem a pesquisa espontânea para o GDF, com 15,5% e 6,6% respectivamente.

REJEIÇÃO EM ALTA

Agnelo Queiroz só vence, segundo a pesquisa Mark/CH, a “rejeição”: tem 31,1%, seguido por Roriz (12,6%) e Toninho do PSOL (5,4%).

‘O POVO SABE’ 

Roriz afirma que “o povo reconhece o que fez por Brasília”, e percebe que “Agnelo tem fraquejado”. Ele espera o julgamento da Ficha Limpa, mas se diz preparado para ser candidato ao governo do DF em 2014.

SUSPENSE 

O segundo lugar agradou o Senador Cristovam Buarque (PDT), que deixou no ar uma possível candidatura ao governo se o cenário não mudar. E foi mais longe ao dizer que se o PDT se livrar das amarras com o PT e PMDB, quer estar preparado para disputar a Presidência.

ANIMAÇÃO 

Toninho do PSOL se animou com a pesquisa e atribui o resultado ao povo que “não suporta corrupção e está decepcionado”. Ele pretende se candidatar novamente, só não sabe se ao governo do DF.

GIBI SIBERIANO

Os gibis caríssimos e inúteis, que, certamente por vergonha, não são distribuídos pela Infraero – atribuindo o caos dos aeroportos a Estados e municípios – provocou a licença da chefe da área de comunicação da estatal, sem previsão de volta. Deve esfriar a cabeça na Sibéria.

FILHO DE PEIXE

Daniel, 9, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), vai longe: com a língua de fora roubou a cena da posse do pai, quarta (28), tirando o ex-ficha suja do foco. Merece a Disneylândia. Com grana do papai.

JINGLE BELLS

Moradores de São Gonçalo (RJ) ganharam de brinde de Natal um calendário com fotos da prefeita Aparecida Panisset (PDT) e do secretário de Desenvolvimento, Adolpho Konder, candidato a sucedê-la. 

Deve ser para ninguém esquecer a data da eleição em 2012.

EFEITO COLATERAL

A imprensa boliviana está de olho no projeto do presidente cocaleiro Evo Morales de “flexibilizar” a lei de licitações em obras para o “bem do povo”. Ele garantiu que os advogados do governo estarão “vigilantes”.

PENSANDO BEM... 

...Acusando os EUA de complô contra a saúde dos presidentes amigos, o câncer de Chávez não é na pélvis, mas no cérebro. 

PODER SEM PUDOR

EVO QUER FUNAI

Durante encontro de magistrados federais no Rio de Janeiro, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) revelou sua confiança sobre tantas visitas ao Brasil do presidente da Bolívia, o cocaleiro Evo Morales, aquele que promoveu o afano dos investimentos brasileiros em seu país: – Vem tanto, fala tanto do Brasil, é tão obcecado pelo Brasil, que desconfio que ele está querendo trocar a presidência da Bolívia pela da Funai”.