quinta-feira, dezembro 15, 2011

João Gilberto doente - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 15/12/11


Amigos de João Gilberto, que cancelou a turnê comemorativa de seus 80 anos, torcem para estarem errados. Mas temem que o gênio da MPB, pena, nunca mais se apresente nos palcos. João está doente e cada vez mais isolado. É somatório de problemas físicos e psicossomáticos — que vão da necessidade sempre adiada de uma cirurgia no ciático à reclamação de dores no braço, de gripes e da voz.

Segue...

Soma-se a profunda tristeza com a natimorta turnê. Deu tudo errado. O acordo para os shows havia sido feito por Cláudia Faissol, mãe da caçula de João. Foram afastadas pessoas próximas do artista, como Otávio Terceiro e Edinha Diniz, e até gente da família.

Para concluir...

Pouco conhecidos no eixo Rio-São Paulo, os empresários (OCP Comunicação e Maurício Pessoa Produções) não conseguiram patrocínio. Nem mesmo pela Lei Rouanet. A turnê de 2007, por exemplo, tinha apoio do Itaú. Finalmente, os preços dos ingressos (até R$ 1.400) afugentaram o público, já cético sobre a disposição de João de se apresentar.

No mais...

João não merece.

Mau agouro

Jorge Ferreira, o Jorjão do Feitiço Mineiro, de Brasília, ligou para saber do amigo Lula e contou ter feito um samba para Sócrates pouco antes de sua morte. “Tudo bem Jorjão”, reagiu Lula. “Mas, pelo amor de Deus, não faça samba para mim agora!”

Amor de Oscar
Oscar Niemeyer, que hoje faz 104 anos, é um apaixonado. Sua mulher, Vera Lúcia, fez plástica no rosto com o cirurgião José de Gervais. Feliz pelo sucesso da operação, o mestre desenhou para o doutor a gravura de uma mão que segura uma flor.

A REFORMA DO Maracanã abriu uma
vista inédita da Zona Norte do Rio para o Cristo Redentor. Repare nas fotos do coleguinha Custódio Coimbra, feitas ontem da Avenida Radial Oeste. No pé em que as obras estão agora, com as antigas arquibancadas do estádio vazadas pela demolição, o monumento, que é o principal cartão postal da cidade, pode, pelo menos temporariamente, ser admirado pelos cariocas que vivem na outra ponta do Túnel Rebouças

Faltam 910 dias
De olho na Copa de 14, o ministro Alexandre Padilha promoverá vacinação contra sarampo e rubéola para quem trabalha no setor de turismo, como a turma dos hotéis. Começa em 2013, ano da Copa das Confederações.

Polêmica LGBT

Luiz Mott, o antropólogo e ativista da causa gay, nega-se a participar da 2a- Conferência Nacional LGBT, hoje, em Brasília. Discorda da política da União e diz que “não será conivente com mais esta encenação bufa do atual governo e de seus sequazes, que se contentam com migalhas e vendem sua dignidade por um prato de lentilhas”.

Aliás...

Mott afirma que nunca antes na história deste país “tantos gays foram assassinados, espancados e morreram de Aids”.

Amigo do rei
O TRE-RJ exonerou o chefe da 245a- Zona Eleitoral de Campo Grande, Renato Martins, e abriu processo administrativo que pode resultar em sua demissão. O funcionário, professor de um cursinho para concursos, é acusado de dizer aos alunos ser “amigo íntimo” do presidente do TRE, Luiz Zveiter, de quem “poderia até receber informações privilegiadas sobre gabaritos”.

E mais...

A exoneração foi comunicada publicamente ao servidor, na sala de aula, pelo próprio Zveiter.

Retratos da vida

A 16a- Câmara Cível do Rio condenou a Maternidade Walter Franklin e um médico a indenizarem um casal e sua filha em R$ 51 mil por “abusos sexuais”. Segundo a ação, a mulher estava em trabalho de parto na clínica, em Três Rios, RJ, quando o médico plantonista “começou a acariciar sua genitália, suas nádegas, a alisar e elogiar seus seios, tentou introduzir o pênis ereto em sua boca e se masturbou até ejacular em seu rosto”. Meu Deus...

Poxa, madame

Ontem, uma madame alourada, de uns 30 anos, foi a um salão na Barra, no Rio, fez cabelo, unhas e... partiu sem pagar.
A dondoca acabou na 16a-DP.


Cena carioca
Sábado, numa sessão do infantil “O Gato de Botas” na sala 8 do UCI do New York City Center, na Barra, quando as luzes se acenderam no fim, um casal foi surpreendido quando a moça ainda estava, digamos, com a boca na... botija do rapaz.

Cobrança nada pink - MARCIA PELTIER

JORNAL DO COMMÉRCIO - 15/12/11
Aconselha-se à ministra Maria do Rosário ir preparada para ouvir fortes críticas da comunidade arco-íris na abertura, hoje, da 2ª Conferência Nacional LGBT, que acontece até domingo, em Brasília. Segundo Toni Reis, presidente da ABGLT, dentre os principais pontos de cobrança estarão a criminalização da homofobia e a capacitação das polícias para que os crimes contra os gays não fiquem impunes.

Rio, paraíso gay

A maior queixa de todas será, sem dúvida, a falta de recursos para a implementação das políticas públicas do setor. “Enquanto o Rio reservou R$ 17 milhões este ano para essa finalidade, o governo federal está anunciando apenas R$ 1,1 milhão em 2012. Ou todos os gays se mudam para a cidade ou o governo repensa o orçamento nacional”, ameaça.

Solidariedade

O ex-ministro Marcílio Marques Moreira - que comemorou, semana passada, 80 anos com jantar elegante no Gávea Golf Club - avisou a seus ilustres amigos que não queria presentes, mas que aceitava doações que seriam repassadas para o Pro Criança Cardíaca. O somatório da verba arrecadada foi tão significativo que salvará a vida de duas crianças que estavam na fila de espera de uma cirurgia. Um ótimo presente neste fim de ano para os pequenos e suas respectivas famílias.

Templo do consumo

A tradicionalíssima loja de departamentos Bergdorf Goodman, dona de um dos mais importantes prédios da 5th Avenue em Nova York, está de olho nos brasileiros. Além de investir no treinamento dos funcionários, para que falem português, o departamento de beleza acaba de recomendar o Beauty Ultimate Repair Cream assinado pela clínica do dr. Ivo Pitanguy. O produto é um dos destaques da seção neste fim de ano. Já a estilista Martha Medeiros, famosa por criar vestidos glamorosos de renda feitos à mão, será a primeira brasileira a desfilar uma coleção no disputado salão Evening Wear. O evento está marcado para o dia 26 de fevereiro de 2012.

Em alta

Uma edição limitada de joias assinadas pelos irmãos Fernando e Humberto Campana será leiloada, hoje, na Sotheby's de Nova York. O conjunto de peças, intitulado Mosaico, foi feito em parceria com a joalheria H. Stern em ouro 18 quilates e adornado de diamantes. O lote com um colar, uma pulseira e um anel terá lance inicial de US$ 24 mil.

Roteiros vips

Inspetor para a América do Sul do prestigiado guia Condé Nast, Felipe Candiota lança segunda-feira, na Livraria Argumento do Leblon, Brazil Hotels, com uma seleta lista de 23 hotéis e pousadas brasileiros.Em versão bilíngue, inglês e português, a obra é recheada com mais de 360 fotos. Além de endereços em costas litorâneas, o autor relaciona locais ainda pouco desbravados, como a Pousada Reserva Ibitipoca, em Minas. A publicação chegará, em janeiro, à Europa e à América do Norte, pela Loft Editora.

Chanuká

George Israel, do Kid Abelha, está ensinando Toni Garrido a cantar o Hava Nagila e mais Yerushalayim Shel Zahav, canção que Roberto Carlos interpretou em hebraico no seu show em Jerusalém. É que os dois vão fazer o espetáculo de abertura, dia 20, às 19h30, num palco no calçadão da Praia de Copacabana, da Festa das Luzes da comunidade judaica. A dupla também vai cantar os grandes sucessos das suas carreiras na celebração, que faz parte do calendário oficial da cidade e terá a presença de Eduardo Paes.

Feliz centenário

A Morro da Mesa, produtora da Cachaça Montanhesa, preparou um produto especial para festejar os 104 anos de Oscar Niemeyer, comemorados hoje. A cachaça Tonel 8 terá como ícone, na garrafa, os traços do mestre retratando a Igreja da Pampulha. No rótulo, uma frase célebre de Niemeyer: “A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem”. O arquiteto, que já foi apresentado a um exemplar da branquinha, prometeu experimentar a bebida.

Paixão na lata

A Arcor do Brasil aposta na paixão dos brasileiros pelo futebol para abocanhar fatias maiores do mercado de panetones no país, do qual detém participação de 4%. Para isso, pôs em campo a Triunfo, marca da empresa que obteve licença dos principais clubes paulistanos - Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos. Eles terão seus escudos estampados em latas de panetone de 500g no período de Natal e Ano Novo. A projeção de faturamento é de R$ 20 milhões, alta de 15% sobre 2010. Os times cariocas, por enquanto, estão de fora.

Na terra de Pagodinho

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, visita hoje à tarde o campus de laboratórios do Inmetro, em Xerém, para assinar um acordo de cooperação técnico-científica com o presidente João Jornada. O instituto negocia sua participação num grupo de trabalho que irá definir como serão realizadas as medições, no futuro, dos serviços de banda larga, que terá sua capacidade de transmissão aumentada. Em parceria com o Ministério das Comunicações, o Inmetro já realiza medições dos sistemas de radiodifusão digital com uma unidade móvel, que testa a qualidade do áudio digital.

Livre Acesso

Hoje acontece a VIII edição do Prêmio Innovare, que contempla as boas práticas ligadas à justiça, inclusão Social e combate ao crime organizado. A festa será na sala de sessões da primeira turma do STF, em Brasília.

Maria do Mar Guinle e Natália Warth lançam hoje, na Argumento do Leblon, O Importante é ter Status, uma crítica às relações nas redes sociais.

O Ateliê da Imagem promove, amanhã, exibição em loop do trabalho de fotógrafos do programa de mestrado da UFF, na exposição Futuro do Pretérito.

A peça infantil O Francês Voador encerra temporada do projeto Uma Viagem pelo Mundo na História no Museu Naval, na próxima segunda, às 14h com entrada franca.

A Ditta,conhecida pelas roupas de festa, lança, nesta quinta-feira, peças em renda, laise e paetê, especialmente para o Natal e o réveillon, na loja do Shopping da Gávea. As clientes serão recebidas com espumante e panetone.

Produtor do projeto Lê para Mim?, de incentivo à leitura infantil, o engenheiro Marcelo Aouila lança seu segundo livro para adultos. Cuidado com os Ovos! será autografado neste sábado, a partir das 16h, no Memphis Belle Café, em Botafogo.

A estilista Livia Lima convida para a venda especial de Natal, hoje, a partir das 16h, em seu ateliê, em Ipanema.

Municípios sem economia - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S. Paulo - 15/12/11


Municípios deveriam viver da renda gerada pela produção de bens e serviços para o mercado - artigos industriais, mercadorias agrícolas e serviços privados -, mas essa não é a regra em boa parte do Brasil. Para 1.968 municípios, 35,4% do total, a administração pública representou um terço ou mais do valor gerado por todas as atividades em 2009, segundo os últimos dados do censo municipal divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Administração, nesse caso, corresponde ao conjunto das ações do setor público, incluídos os serviços de educação e saúde e a seguridade. Em alguns casos, a participação desses itens na renda chegou a 70% ou 80%.

O estudo sobre o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios cobre o período de 2005 a 2009, iniciado num ano de intensa atividade econômica e encerrado num momento de recessão. Algumas alterações são facilmente previsíveis. A crise global de 2008-2009 afetou os preços dos produtos básicos e prejudicou o valor da produção de municípios dependentes do agronegócio e da mineração.

Por exemplo, a participação de Campos (RJ) no PIB nacional diminuiu de 1% em 2008 para 0,6% em 2009 por causa da desvalorização do petróleo. A de Vitória (ES) passou de 0,8% para 0,6% em consequência do barateamento do minério de ferro. Variações como essas, no entanto, são meramente conjunturais e têm pouco significado para a análise das tendências de longo prazo. Muito mais instrutivo é observar, por exemplo, a continuação das grandes desigualdades entre regiões ou Estados, apesar de alguma redistribuição de pesos num período de dez anos. A medida mais ampla de concentração pouco mudou.

Considerados os municípios de todo o Brasil, o índice de Gini passou de 0,87 em 2000 para 0,86 em 2005 e permaneceu nesse nível até 2009. Esse índice mede graus de concentração de qualquer tipo de variável (renda, propriedade, educação, etc.) e varia de 0 a 1. Quando mais próximo de 1, mais desigual a distribuição. O indicador pouco mudou entre regiões e também no interior de cada uma, talvez porque a redistribuição geográfica das atividades tenha sido menos intensa que nas duas décadas anteriores, mas isso é só uma hipótese.

A maior parte da análise concentra-se na comparação dos dados de 2008 e 2009, mas, apesar disso, é possível ter uma boa ideia da persistência da pobreza e do baixo nível de atividade produtiva em boa parte do território nacional. Em 2009, a renda per capita de metade dos municípios foi inferior à mediana do País, de R$ 8.395. Sessenta por cento dos municípios do Norte enquadraram-se nessa categoria. No Nordeste, a proporção chegou a 93%. Ficou em 37% no Sudeste (11% em São Paulo), 10% no Sul e 23% no Centro-Oeste.

A maior concentração de municípios com economia mais dependente da administração pública estava, naturalmente, nas áreas mais pobres. Na Região Norte, eram 57,9%. Na Região Nordeste, 76,3%. Quando a administração pública gera mais de um terço do PIB de um município, é fácil imaginar de onde vem a receita fiscal: a maior parte deve provir de transferências federais ou estaduais, não só por causa do baixo valor gerado pelas atividades privadas, mas também porque o esforço local de arrecadação deve ser muito frouxo.

Mesmo em algumas capitais a participação do valor bruto da administração, saúde e educação no PIB municipal é muito alta. Em Brasília, correspondeu a 49%, em 2009, mas isso é compreensível, no caso de uma cidade construída só para ser capital. Em várias grandes cidades do Norte e do Nordeste essa participação ficou entre 14% e 40%. Em São Paulo, não passou de 6,2%.

O peso da administração pública na economia brasileira tem crescido há mais de uma década, como assinala o IBGE. Mas há nesse cálculo uma distorção. Boa parte desse aumento decorre muito mais do encarecimento de um setor público ineficiente, balofo e dispendioso do que de uma expansão efetiva dos serviços. Os municípios mais dependentes da administração pública não são apenas pobres. São vítimas de uma ação governamental de baixa qualidade.

Mais consumo, menos PIB - CELSO MING


O Estado de S. Paulo - 15/12/11


Há algumas coisas esquisitas acontecendo na economia brasileira.

O consumo vem crescendo mais do que a produção e isso é ruim porque não é sustentável – como advertiu nesta quarta-feira a Confederação Nacional da Indústria (CNI), presidida pelo empresário Robson de Andrade (foto). E, no entanto, o Brasil vive uma fase de pleno emprego. Falta mão de obra para quase tudo: de engenheiros a pedreiros; de executivos de primeira linha a empregadas domésticas.

O ambiente é de franca retração da produção – como ficou demonstrado nesta quarta pelo IBC-Br, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central. No entanto, a inflação ainda é alta demais, acima de qualquer padrão internacional.

A poupança nacional continua contraída e, por isso, o investimento segue insuficiente, mal chega a 20% do PIB. Enquanto isso, a demanda, que cresce perto de 5% neste ano, tem de ser suprida cada vez mais pelas importações.

O problema de fundo não é o real valorizado demais – como insistem os dirigentes da CNI e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). É a baixa competitividade do setor produtivo brasileiro que, em grande parte, é determinada pelo excessivo custo Brasil: carga tributária superelevada, juros altos, infraestrutura cara, Justiça lenta e confusa, baixa qualidade da mão de obra e por aí vai.

A indústria já está tão dependente de fornecimento externo de matérias-primas, componentes, conjuntos e capitais que forte desvalorização da moeda elevaria ainda mais seus custos – o que, por sua vez, reduziria ainda mais sua competitividade. Por outro lado, uma das mais importantes razões pelas quais os juros são altos no Brasil são os financiamentos subsidiados, cuja principal beneficiária é a indústria.

Um câmbio artificialmente desvalorizado e juros artificialmente baixos tentariam compensar a falta de competitividade do setor produtivo sem solucionar a questão principal.

Os empresários reclamam por mudanças de rumo, mas também não têm proposta e acabam se contentando com favores temporários e discriminatórios. Ao primeiro encalhe de mercadoria, o setor de veículos, por exemplo, mobiliza seus lobbies para obtenção de favores fiscais, como redução do IPI e proteção comercial. São providências que antecipam vendas e desembocam em saturação da demanda, como acontece agora.

O Brasil precisa de mais poupança e de mais investimento para garantir avanços econômicos. Para viabilizá-los, são necessárias reformas – cujos projetos estão encalhados em Brasília. Por mais paradoxal que pareça, elas não comparecem mais nas listas de prioridade dos dirigentes de empresas.

Não deixa de ter razão a CNI quando afirma que é preciso "mudar o padrão de expansão doméstico e eleger o investimento – e não o consumo – como a alavanca do crescimento". Mas isso exigiria forte formação de poupança e, portanto, adiamento do consumo. Se é por aí, então é preciso aguentar também longos períodos de retração das vendas. Os empresários aceitariam isso?

CONFIRA

No gráfico, a evolução do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) até outubro.

Racha entre poder e política. Para um dos maiores pensadores da atualidade, o filósofo Zigmunt Bauman, os políticos perderam o braço executor. "Antes, o poder e a política residiam no Estado-nação. Podia haver contradições, debates e posições contrapostas, mas uma vez tomada uma decisão, o Estado-nação o faria. Nada disso acontece agora." Para Bauman, ruíram dois pilares da sociedade: a solidariedade e a confiança. (Nesta quarta-feira, no El País.)

Home, sweet - SONIA RACY

O ESTADÃO - 15/12/11

Quem quiser poderá comprar um apartamento na futura Vila Olímpica, no Rio, antes de 2016. E com desconto. Só que, para ocupá-lo, terá de esperar o fim do evento.
Pelo menos é essa a intenção da Ilha Pura, escolhida para construir o complexo. A empresa, recém-constituída, é fruto de parceria Odebrecht/ Carvalho Hosken – gigante proprietária de terrenos e imóveis na Barra da Tijuca. Em estágio avançado, o projeto conta com contrapartida da prefeitura carioca para fornecimento da infraestrutura necessária.
A Vila abrigará 17,5 mil atletas.

Maré vazante
Estão à venda duas empresas concorrentes: Tok&Stok e Etna. Coincidência?

Rebanho
Ratinho anunciou, em seu programa, que vai apoiar Andrea Matarazzo caso ele saia candidato. Já José Aníbal está herdando militantes históricos da base do partido. Tripoli vem recebendo apoio de ambientalistas e filiados. E Bruno Covas tem Alckmin.

Virgindade
Marta Suplicy provocou gargalhadas, anteontem, ao retrucarMarcelo Crivella no Senado. Tema? Alei que garante vacinação gratuita contra o HPV emmulheres dos 9 aos 40 anos. Marta defendia prioridade a meninas de até 13 anos, antes da vida sexual, quando Crivellaperguntou: “Mas e as virgens de 30 anos, como ficam?”
A senadora devolveu: “Continuarão virgens, Crivella”.

Luluzinha
Em momento Luluzinha, na mesma terça, à noite, Marta jantou com cinco ministras de Dilma e senadoras. Entre uma garfada e outra no bacalhau, o grupo pediu à petista para organizar outro jantar, semana que vem, em solidariedade a Rosa Weber.
A nova ministra do Supremo foi muito pressionada no Senado. “Não fariam isso com um homem”, reclamou Marta.

Ídolo
O pai de Neymar teve dia de rei do futebol, ontem, em Nagoya. Ao adentrar no hotel onde está a delegação do Santos, foi cercado por torcedore s. Tirou ao menos trinta fotos.

Gato
Em entrevista ao site da Fifa, Nelsinho Baptista, técnico do derrotado Kashiwa, disse se lembrar muito bem dos tempos em que jogava no São Paulo ao lado de Muricy Rama-lho: “Eutinha 20 anos; ele, 18”.
Difícil... nascido em 1950, Baptista é cinco anos mais velho do que o treinador do Santos.

De peso
Acontece hoje, em Brasília, a entrega do Prêmio Inovare, criado pelo Ministério da Justiça. Em sua oitava edição, elege os melhores juiz, promotor público e advogado, entre outros.
Ganham o quê? R$ 50 mil cada.

Pelos ares
Em segredo, Miguel Falabella planeja final ousado para Xanadu, musical que estreia em janeiro no Rio. Quer que Danielle Winits, na pele de Kira, deusa da dança,voe sobre a plateia montada em um cavalo alado.
Acena não existe nem na montagem da Broadway.

Ler e escrever
Carlo Collodi, criador de Pinóquio, recebe dupla homenagem. ACosac Naify lança edição limitada de seu mais célebre livro, com tradução de Ivo Barroso; e a Montblanc, canetas inspiradas em sua obra.
Hoje, no Shopping Cidade Jardim.

Como me sinto
Enquanto o circo pega fogo em torno darenovação de seucontrato com o Corinthians, Tite está visitando o filho nos EUA. Anteontem, foi conhecer um estádio de futebol americano no Tennessee. Posicionou-se atrás do banco de reservas e aproveitouo localvazio para dar uma de torcedor.
Começou axingar o técnico imaginário: “Buuuuurro! Troca esse jogadooooor”.
Só para relaxar...

Fio por fio
Martha Medeiros comemora. Fechou contrato para vender na tradicional Bergdorf Goodman, em Nova York, E dobrou sua loja nos Jardins. A estilista, que trabalha com rendeiras em Alagoas, conversou, anteontem, com a coluna.

Como foi o convite para entrar nos EUA? Está preparada para ver seus vestidos nos tapetes vermelhos?
É um sonho, né? Quando a Bergdorf Goodman quis conhecer meu trabalho, fiquei muito feliz. Montei direitinho minha apresentação. Até ensaiei. Eles amaram.

Acha que a renda brasileira

Na frente
Anteontem, na reunião do Conpresp que formalizaria o tombamento de Congonhas, faltou o... relator. Pela votação, o aeroporto se tornará, sim, patrimônio paulistano. Assim que for assinado o documento oficial.

Júlio Medaglia rege a Filarmônica Vera Cruz em concerto de encerramento das atividades do ano da Academia Paulista de Letras. Hoje, na APL. Gratuito.

Neto autografa sua biografia, Eterno Xodó. Hoje, em lounge do Shopping Frei Caneca.

José Carlos Grubisich recebe a medalha Légion d’Honneur das mãos de François Fillon, primeiro ministro francês. Hoje, em Brasília.

Torcedores do Santos, em Nagoya, comemoraram a vitória ontem, cantando: “Barcelona, pode esperar, a sua hora vai chegar.” Otimistas?
está sendo mais valorizada? Principalmente entre as clientes mais viajadas. Sabem o valor de um trabalho feito a mão. A renda demora cerca de um ano para ficar pronta, e um vestido envolve o trabalho de trinta rendeiras. Acredito que, cada vez mais, as pessoas não procuram só o produto, compram expertise. E minha roupa reflete esse tempo.

Suas peças são caras, consideradas de luxo. De que maneira isso retorna para as rendeiras? Volta totalmente. Triplicamos o valor pago às rendeiras. Começamos trabalhando com 80 e hoje temos 300 mulheres. Sabem o que produzem, e vender é uma oportunidade de futuro para elas.

Renda não sai de moda?
Nunca. Porque representa feminilidade e sofisticação. A renda nasceu para cobrir princesas.

Por que a decisão de crescer a loja? Houve aumento na procura por vestidos?
Vim de Maceió, fui bem recebida em SP. Minhas clientes me cobravam um mix maior de produtos, como sandálias de renda, blusas... Aumentei nosso espaço para oferecer essa nova gama.

O pensador do Rio - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 15/12/11

André Urani faz parte de uma geração de economistas "cariocas" que começou a se debruçar sobre os caminhos e descaminhos da sua própria terra. Exemplo dessa dedicação é a coletânea "Rio de Janeiro: A hora da virada", de Urani (nascido na Itália e criado em São Paulo) e Fabio Giambiagi (filho de argentinos, criado lá), cariocas por opção.

Outro carioca, Marcelo Neri, da FGV, destaca que economistas cariocas traçaram as principais políticas públicas nacionais, do Paeg (Programa de Ação Econômica do Governo) dos anos 1960 ao Real, passando pelo Cruzado e chegando ao regime macroeconômico vigente, mas não só.

Do desenho do SUS ao Bolsa Família, que teve em Ricardo Paes e Barros e Ricardo Henriques figuras fundamentais, economistas do Rio sempre exerceram papel de destaque.

As principais virtudes de André, um batalhador diferenciado pelo Rio, na visão de outro amigo, o consultor Claudio Porto, eram o rigor dos cientistas sociais, criatividade, generosidade e capacidade de agregação.

André Urani é considerado o responsável fundamental para o renascimento do Rio (ou sua reinvenção), e era quem melhor conhecia as trilhas para o Rio melhorar, como dizia o título de um livro seu.

Marcou sua passagem pela secretaria do Trabalho no município do Rio, quando o prefeito era Luiz Paulo Conde, com uma gestão criativa, em plena crise de desemprego. Lançou programas como o RioCredi (microcrédito) e o ATA (Associação de Trabalhadores Autônomos).

Passou os últimos anos a pensar o futuro da região metropolitana do Rio de Janeiro unida à de São Paulo (e vice-versa). No prefácio que escrevi, e em uma coluna na ocasião do lançamento do livro "Trilhas para o Rio - Do reconhecimento da queda à reinvenção do futuro", pela editora Campus-Elsevier, explico as soluções que Urani projetava para o futuro, na certeza de que o território entre as duas maiores cidades do país está sendo conurbado naturalmente. Vale a pena repetir.

A conurbação imaginada por André Urani abrange cidades dos três estados mais importantes do país, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, em direção a Campos, no Rio de Janeiro, a Campinas, em São Paulo, e a Juiz de Fora, em Minas Gerais.

A "Megalópole Brasileira", ou "M bras", é formada por 232 municípios interligados por diferentes aspectos, e equivale a apenas 0,97% do território brasileiro. No entanto, tem 41,7 milhões de pessoas, quase 23% da população brasileira, 96% residentes em áreas urbanas, contra uma taxa brasileira de 81%. E é responsável por 35% do Produto Interno Bruto brasileiro, com renda domiciliar per capita cerca de 55% maior do que a média brasileira.

Mas também, por representar um país ainda fortemente desigual, concentra boa parte dos pobres e indigentes do país.

A megalópole brasileira de Urani já chega preparada para o futuro, com uma taxa de analfabetismo que é cerca da metade da do país e, quando se fala de novas gerações, a diferença é ainda mais marcante: entre as crianças de 10 a 14 anos, a praga do analfabetismo está praticamente erradicada.

Tem 18,6% do total de estabelecimentos de ensino superior do país e reúne 24% de seus universitários. No eixo Rio-São Paulo estão localizadas as principais instituições e organizações ligadas à pesquisa, tais como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares (Ipen), o Laboratório Nacional de Computação Científica e a Fundação Getulio Vargas.

Para Urani, o que está em jogo é, simultaneamente, o revocacionamento de nossas duas principais metrópoles para o Século XXI, e o próprio papel do Brasil no mundo.

Essa e muitas outras ideias surgiram no OsteRio, reunião para debater as principais questões do desenvolvimento do estado do Rio, que se realizou durante esse período às noites de segunda-feira no restaurante Osteria Dell" Angolo, em Ipanema, a exemplo de experiências similares acontecidas em algumas cidades da Itália.

Depois de cerca de 50 reuniões dessas, André Urani me disse que chegara o momento de dar um passo à frente, oferecendo condições ao cidadão comum de reivindicar medidas concretas aproveitando as novas mídias sociais.

Ele se preocupava com o fato de que a sociedade civil organizada já consegue influenciar os processos de decisão, "mas o cidadão comum, as minorias e os grupos mais vulneráveis não encontram um caminho de diálogo com o poder público", gerando frustração, especialmente nos jovens, e contribuindo para o afastamento entre Estado e cidadão.

Já fragilizado pela doença, foi buscar na juventude o apoio para levar adiante seus sonhos. Foi um grupo de jovens coordenado por Miguel Correa do Lago que organizou o movimento chamado Meu Rio, que pretende aproveitar as novas tecnologias da comunicação e da informação para dar a esse público "um veículo de expressão e agregação de suas demandas individuais".

Para tal, está desenvolvendo tecnologia de ponta e uma estratégia inovadora "para dar à população novos canais de participação política e engajamento cívico", permitindo a cada carioca encontrar outros cariocas apaixonados pelo Rio e obter informação de qualidade sobre a cidade.

Como matávamos os mastodontes - FERNANDO REINACH


O Estado de S.Paulo - 15/12/11


Somos especialistas em caçar mamíferos até a sua extinção. Com um cérebro capaz de construir armas, usufruímos uma enorme vantagem competitiva.

Na Europa, nossos ancestrais dizimaram os mamutes. Mais recentemente, quase acabamos com os grandes felinos na África e na Ásia. Os rinocerontes estão à beira da extinção. Nos continentes habitados por nossos ancestrais há mais de 100 mil anos, a lista é longa.

Mas o que teria ocorrido na América do Norte, onde chegamos há menos de 20 mil anos, atravessado o Estreito de Bering, que separa a Sibéria do Alasca?

Quando os europeus chegaram à América do Norte, encontraram índios, pequenos felinos e bisões. Imaginaram que os elefantes e outros grandes mamíferos nunca teriam existindo por lá. Mais tarde, foram encontrados fósseis de diversos grandes mamíferos, como os mastodontes, parentes dos elefantes.

Os fósseis mais recentes coincidem com a época em que os seres humanos chegaram à América, o que sugeriu aos cientistas que o massacre que fizemos na Europa havia se repetido nas Américas. Agora, estudando a ossada de um único mastodonte, essa suspeita foi confirmada.

Uso de arma. Entre 1977 e 1979, foi desenterrada uma ossada de mastodonte (Mammut americanum) no Estado de Washington, no oeste dos EUA. Muitos ossos desse animal estavam fraturados e continham marcas produzidas por dentes ou instrumentos cortantes, indicando que o coitado havia sido morto e esquartejado por um predador.

O mais interessante foi a descoberta de uma costela, na qual estava inserido um fragmento de osso de quase 3 centímetros de comprimento.

Ao estudar cuidadosamente essa costela, os cientistas descobriram que o fragmento de osso que estava inserido nela era provavelmente a ponta de uma lança.

O osso possuía uma ponta bem afiada e havia penetrado 2 centímetros no interior da costela. A outra extremidade estava quebrada. Como não havia tecido ósseo cicatricial ao redor da ponta de lança, os cientistas acreditam que o animal morreu pouco depois do ferimento.

Reconstituição. Após reconstituir o esqueleto do mastodonte, foi possível determinar que a costela atingida pela lança era a 14.ª do lado esquerdo do mastodonte.

A ponta da costela em que a lança havia penetrado era exatamente o ponto em que a costela se encaixa na vértebra correspondente. Sem dúvida, aquele mastodonte havia sido morto por um animal capaz de manipular uma lança, ou seja, um ser humano.

O passo seguinte foi determinar a data exata em que o animal foi morto. Para tanto, amostras das presas de marfim e da costela em que a lança estava inserida foram datadas usando o método do carbono 14. Os resultados indicam que o mastodonte viveu entre 13.860 e 13.763 anos atrás.

Em seguida, os cientistas extraíram DNA da ponta de lança e determinaram que esse DNA era típico de um mastodonte, o que sugere que as armas de nossos ancestrais eram feitas a partir dos ossos de suas vítimas.

Parte da culpa. Até pouco tempo atrás, os seres humanos ainda podiam ser inocentados da extinção dos mastodontes. Isso porque se acreditava que os primeiros grupos humanos (civilização Clóvis) somente haviam ocupado a América por volta de 12 mil a 13 mil anos atrás, enquanto que a extinção dos mastodontes parecia ter ocorrido entre 14,8 mil e 13,7 mil anos atrás.

Os otimistas acreditavam que os mastodontes haviam sido extintos um pouco antes da chegada dos seres humanos. Essa nova descoberta, de um esqueleto de mastodonte ainda com a arma do crime, morto por um ser humano há 13,8 mil anos, demonstra que os humanos, se não foram os únicos responsáveis pela extinção dos mastodontes na América do Norte, seguramente contribuíram para que ela ocorresse.

Exemplos como esse mostram que vem de longe nossa vocação predadora. Provavelmente, sem ela não teríamos nos espalhado por todo o planeta. Não é à toa que é tão difícil convencer o Homo sapiens moderno a abrir mão do direito ao porte de arma (EUA), ao hábito de caçar patos e raposas (Grã-Bretanha), leões (África) e macacos (Amazônia). A história mostra que somos predadores sofisticados e eficientes, e não é o verniz cultural dos últimos cem anos que mudará radicalmente o nosso comportamento.

GOSTOSA


Baixar as armas - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 15/12/11


O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), convenceu os líderes do governo e dos partidos aliados a desistirem de mobilizar a base para votar a criação do Fundo de Previdência dos Servidores Públicos. Como o Senado só votará a criação do Fundo após o recesso, Maia preferiu agradar à oposição, que pretendia obstruir a votação, e votar na primeira semana de fevereiro. Maia não queria encerrar o ano num clima de guerra.

Vem aí o terceiro mandato?
O governo Dilma está debatendo a possibilidade de reconduzir dirigentes de agências e conselhos, além dos mandatos previstos em lei. A maioria destes órgãos prevê dois mandatos. Este debate foi iniciado depois que o governo reestruturou o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) do Ministério da Justiça, que incorporou funções que eram do Departamento de Proteção e Defesa Econômica. Ao incorporar a análise de condutas anticompetitivas, integrantes do governo Dilma entendem que foi criado um novo Cade. E, neste contexto, defendem um terceiro mandato para seu atual presidente, Fernando Furlan.

"Alguns entendem que esta Casa não passa de um puxadinho do Executivo e do Judiciário. Nós temos um STF que legisla; um presidencialismo monárquico; um Legislativo que tem uma dobradiça nas costas” — Pedro Taques, senador (PDT-MT)

DESCASO. O senador Jorge Viana (PT-AC) fez dura crítica, ontem no Senado, à omissão dos ministérios de Relações Exteriores e da Justiça no caso dos 728 refugiados haitianos acampados no município de Brasiléia (AC). O governador Tião Viana já gastou R$ 1 milhão com alojamento e alimentação. Viana reclama que o governo federal vem fazendo de conta que não se trata de um tema de política externa e de imigração.

Amarelaram
Tucanos e demistas debateram, reservadamente, a convocação do presidente da CNI e ex-da Fiemg, Robson Andrade, para explicar a consultoria prestada pelo ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento). A proposta foi arquivada.

Sem chance
Todos os contrabandos, como o de trocar armas por ingresso mais barato, incluídos pelo relator da Lei Geral da Copa, deputado Vicente Cândido (PT-SP), segundo o ministro Aldo Rebelo (Esportes), serão vetados pela presidente Dilma.

Na contramão
O diretor-executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, critica a ação impetrada pelo governo Sérgio Cabral, no STF, para restringir o acesso de deputados a informações sobre a administração estadual. "É descabido. O governo não deu nenhuma razão plausível. A informação parece embaraçá-lo", ironiza Abramo. O direito dos parlamentares de solicitarem informações também consta da Constituição Federal.

Reeleito
Com o apoio do presidente do partido, Roberto Jefferson, o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), foi reconduzido. "Um líder não se remove", sentenciou Jefferson. Assim, Silvio Costa (PTB-PE) retirou sua candidatura.

Inventário
O governo federal divulga hoje balanço semestral do Plano Estratégico de Fronteiras. O valor apreendido em dinheiro nas operações foi de R$ 2,55 milhões, mais US$ 407 mil. Oito vezes mais em comparação com o primeiro semestre.

MINORIA. O deputado Mendes Thame (PSDB-SP) será o novo líder da Minoria, no lugar de Paulo Abi Ackel (PSDB-MG).

O PP reelegeu o líder na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), e aprovou moção de apoio à permanência do ministro Mário Negromonte (Cidades).

DÁ PRA RIR, DÁ PRA CHORAR. A senadora Marinor Brito (PSOL-PA) criticou ontem o STF por dar posse a Jader Barbalho (PMDB-PA). Mas, há 15 dias, derramou elogios pela posse de João Capiberibe (PSB-AP). Ambos foram barrados pela Lei da Ficha Limpa.

Protesto dá capa. E agora? - CLÓVIS ROSSI


FOLHA DE SP - 15/12/11
Manifestantes precisam sair da praça para reinventar a política. Ou não terão futuro

A capa da revista "Time" desta semana é belíssima graficamente: mostra o rosto semi-coberto da "pessoa do ano", o "protester", esse pessoal que, como diz o texto, ocupou praças de Wall Street a Moscou, passando, claro, por Atenas, pela Primavera Árabe, por Madri.

A escolha é justa, por pouco que eu leve a sério esse tipo de seleção, pelo arbítrio que inexoravelmente a caracteriza.

O problema começa com a justificativa para a escolha: "Em 2011, os que protestavam não apenas expressaram suas queixas; eles mudaram o mundo", diz a "Time".
É no mínimo prematuro fazer tal afirmação.

Mudaram, é verdade, regimes ditatoriais no Egito, na Tunísia e na Líbia, obtiveram reformas tímidas mas promissoras no Marrocos e uma promessa de saída do ditador do Iêmen. Ótimo. Justifica ganhar a capa pelo presente, mas o futuro é questão em aberto.

Afinal, os movimentos vencedores das eleições na Tunísia e no Egito não foram exatamente os filhos diretos dos protestos, mas os bem estabelecidos grupos islamitas, ainda que clandestinos. Nada contra.
Concordo com Ed Husain, especialista do Council on Foreign Relations, quando diz que não há legitimidade sem levar em conta a Irmandade Muçulmana -o grupo-mãe de todos os partidos islamitas vitoriosos até agora, onde houve eleições.

Daí até a achar que um partido criado em 1928 possa de fato representar o grito pela mudança que foi o foco dos protestos vai uma distância que não dá para percorrer por enquanto.

Além disso, permanece o fato de que, se no mundo árabe, os protestos foram eficazes, no Ocidente, não mudou nada. Wall Street -cuja ocupação ajudou os "protesters" a ganhar a mídia norte-americana- continua mandando no mundo, do que dá prova, todos os dias, a crise europeia.

Um dos combustíveis principais dos protestos, o desemprego, não mudou. Ou melhor, mudou para pior: era de 7,7% na eurozona quando começou a crise e passou a ser, em outubro, de 10,3% (16,29 milhões de pessoas), o índice mais alto desde o início da encrenca.

Para que os donos da capa possam de fato mudar o mundo precisarão reinventar a política. Ocupar as praças é uma maneira eficaz de chamar a atenção e de pôr o dedo na ferida dos problemas, mas atacá-los exige uma atuação que os partidos políticos existentes não parecem nem dispostos nem capacitados a exercer.

Tome-se, por exemplo, o caso da Grécia. Os "aganaktismeni", versão local dos indignados, fizeram um e mil protestos, ocuparam a Syntagma, a praça principal, em frente ao Parlamento, engrossaram um punhado de greves com maciço acatamento, mas não foi minimamente afrouxado o aperto que levou a aumento de 40% no número de suicídios.

Idem para a Espanha, o país em que os "indignados" parecem ter reunido números mais expressivos. Mas a indignação não influiu no resultado eleitoral, que deu a vitória a um partido ainda mais disposto a fazer os ajustes que estiveram na origem dos protestos.

Falta muito, portanto, para que os "protesters" mereçam outra capa, em 2012, 13 ou seja lá quando for.

Geisel e Lula - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O GLOBO - 15/12/11

Não foi por acaso que parte da esquerda brasileira encantou-se com a política econômica do presidente Ernesto Geisel, na década de 70. O general, que trazia uma bronca dos americanos, tinha uma visão muito ao gosto da chamada ala desenvolvimentista da América Latina: o Estado comanda as atividades, investindo, financiando, subsidiando, autorizando (ou vetando) os negócios e a atuação de empresas. Mais ainda: com a força das estatais e seus bancos, o governo organiza companhias para atuar em determinadas áreas.

O presidente Geisel, claro, tinha mais poderes do que os governantes da democracia. Todos os setores importantes da economia estavam nas mãos de estatais, de modo que o controle era mais direto. Além disso, havia o AI-5. Quando o presidente dizia a um empresário ou banqueiro o que deveria fazer, a proposta, digamos assim, tinha uma força extra.

Mas Lula arranjou um modo de recuperar o modelo, no que foi apoiado e seguido por Dilma. Geisel, por exemplo, era o dono da Vale. Lula não era, mas pressionou a mineradora, impôs negócios e terminou substituindo o presidente da companhia. Geisel montou as famosas companhias da área petroquímica, tripartites, constituídas por uma empresa estrangeira, uma nacional privada e uma estatal, na base do um terço cada. Aliás, convém notar: não faltaram multinacionais interessadas. O capital não se move por ideologia, mas por... dinheiro. Devia ser um bom negócio entrar num país sem competição, com apoio de um governo local que não devia satisfações ao Legislativo, ao Judiciário ou à imprensa.

Do mesmo modo, as multinacionais do petróleo, hoje, vão topar (ou não) o novo modelo de exploração do pré-sal não por motivos políticos, mas pela possibilidade de ganhar (ou não) dinheiro.

Lula, no regime democrático, substituiu o AI-5 pela ampla base partidária, cooptada e/ou comprada com vantagens e cargos. Na economia, sobraram instrumentos poderosos, como os bancos públicos, especialmente o braço armado de empréstimos especiais do BNDES. Além disso, em um país de carga tributária tão elevada, qualquer redução dá uma vantagem enorme ao setor escolhido. O governo Lula-Dilma usa e abusa desse recurso.

Geisel ampliou a ação da Petrobras, levando-a à petroquímica, ao comércio externo e ao varejo dos postos de gasolina. O presidente Lula também mandou a Petrobras ampliar seus negócios e tratou de devolver à estatal parte do poder que perdera com a lei do petróleo de 1997, colocando-a como dominante no pré-sal.

Geisel tocou grandes obras, grandes projetos. Lula, idem. Não é coincidência que o petista tenha retomado usinas nucleares que constavam do Brasil Potência do general. Geisel tinha outra grande vantagem. Na época, não tinha licença ambiental, não tinha Ministério Público, nem sindicatos, nem juízes, nem ONGs para suspender obras.

Já Lula e Dilma passam o tempo todo tentando driblar esses "estorvos", mas vai tudo mais devagar. Inclusive porque a repartição do governo por critérios partidários retira eficiência da administração, abre espaço para a corrupção.

O governo Geisel deixou uma ampla coleção de cemitérios fiscais e empresariais. Sua presidência beneficiou-se da estabilidade promovida pelas reformas da dupla Bulhões/Roberto Campos, no governo Castello Branco, e de uma conjuntura mundial favorável. Enquanto o Brasil conseguiu financiamento externo, com os bancos internacionais passando para os países em desenvolvimento os petrodólares, a juros baratos, o modelo ficou de pé. Com a crise mundial dos anos 70, com inflação e recessão, consequência da alta dos preços do petróleo, de alimentos e, em seguida, do choque de juros, a fonte secou e o Brasil quebrou.

Resultaram estatais tão grandes quanto ineficientes. E empresas privadas que não resistiam à menor competição. Sem as tetas do governo, simplesmente sumiram, deixando empresários ricos e uma conta para o contribuinte.

Convém pensar nisso quando Lula e Dilma forçam os bancos públicos a ampliarem seus financiamentos. Quando levam a Petrobras e empresas privadas a investimentos provavelmente acima de suas capacidades. Ou quando o governo toca essas obras enormes, como a transposição do Rio São Francisco ou o trem-bala.

Como Geisel, Lula também herdou uma estabilidade construída pela administração anterior e se beneficiou de um ambiente internacional extremamente favorável.

O ambiente internacional está mais hostil. E já são visíveis alguns ossos de esqueletos: obras atrasadas e mais caras, investimentos ficando pelo caminho, indústrias locais protegidas (e ineficientes), gasto público elevado, desequilíbrios econômicos voltando, como a persistente inflação.

No grito, não - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE SP - 15/12/11

Se há questionamentos à conduta de um ministro, é dever do governo proporcionar as respostas

Foi um ensaio, ou um "trailer", das investidas tormentosas atribuídas a Dilma Rousseff na relação com os subordinados. Era só uma pergunta sobre a ida, ou não, de Fernando Pimentel ao Senado para depor sobre suas consultorias, com ou sem as aspas. Dilma Rousseff mostrou mais irritação do que a presidente da República se mostrou convincente.

A cena teve um lado positivo. A cada dia encontram-se, nos jornais e na TV, referências a "broncas da presidente", mas a precaução palaciana evita imagens. Dessa vez foi impossível, ficou ao menos um esboço. Afinal atestadas as broncas, vale trazer lá de trás um bom episódio no gênero.

O general Geisel também era dado às "broncas do presidente". Nem as portas do Congresso escaparam aos acessos da fúria autoritária.

Mesmo que não fossem descomposturas, sua presunção permeava os despachos com elevações grosseiras da voz.

O ministro Mário Henrique Simonsen, matemático brilhante, economista de alta reputação, discordava de Geisel em muitos aspectos da política econômica, mas os despachos de presidente e ministro da Fazenda mantinham elegância tolerável.

Até a primeira vez. A discordância era forte e Geisel se exasperava com as razões intransponíveis do ministro. De repente, Simonsen levantou-se e caminhou para a porta.
"Onde é que você vai?" - Geisel, em berros ainda.

"Vou embora. Não vim aqui para gritaria. Até porque, se for para gritar, eu grito mais alto do que o senhor!" - Simonsen, tenor, cantava óperas.

Geisel foi ainda o Geisel na voz exaltada: "Pois então grita! Senta aí e grita você também!"
Naquele e nos despachos seguintes, Mário não precisou exercitar a garganta.
Verdadeiras ou, como de hábito, um tanto exageradas, as atuais histórias palacianas apontam para uma certa falta de brio por lá.

No mínimo, falta um momento de Mário Henrique Simonsen, ainda que só um momento. Talvez tivesse utilidade.

A pergunta a Dilma Rousseff foi sobre o que o governo achava da possível convocação de Pimentel para depor. Pergunta apenas ociosa, porque há mais de uma semana governo e PT são a infantaria do seu escapismo. Mas a resposta, que não era só para um repórter, foi dada com muita rispidez:
"O governo não acha nada, o governo só acha o seguinte [portanto, acha alguma coisa]: é estranho que o ministro preste satisfações no Congresso da vida privada, da vida pessoal passada dele. Se ele achar que deve ir, pode ir. Se achar que não deve ir, não vai".

Não há dúvida de que Dilma Rousseff sabe muito bem, inclusive por sua vida, o que é idoneidade. Não é menor a certeza de que a presidente Dilma Rousseff, apesar das concessões em que se baseou a montagem do seu governo, sabe muito bem que idoneidade é exigência essencial para preencher um cargo público, tanto mais um alto cargo na orientação do país.

E Dilma Rousseff e a presidente sabem, ambas, que idoneidade não se refere ao período preciso em um cargo, em um governo, em dada atividade privada. É a "vida pessoal passada". Um conceito que não abre brechas na "vida pessoal passada".

Se há questionamentos à idoneidade da conduta, como no caso, de um ministro antes de empossar-se, é dever do governo e demais instituições proporcionar ao país as respostas, com a devida sustentação.
Não é "se ele quiser esclarece, se não quiser, não esclarece". Ou pode ser, sim -em regime como foi o do governo Geisel.

Para que servem as ONGs, afinal? - MARIA ALICE SETUBAL

FOLHA DE SP - 15/12/11

As ONGs, com estruturas ágeis e fluidas, conseguem articular diversos atores para produção de conhecimento, com o fim de promover igualdade social


A opinião pública está pedindo maior transparência na destinação e no uso dos recursos públicos. Torna-se, portanto, urgente e necessária uma reflexão sobre relações público-privadas.

Nesse contexto, a pergunta que sobressai na esfera pública, basilar para essa reflexão, é "para que servem as ONGs, afinal"?

Dada a diversidade do conjunto de organizações não governamentais, tanto de área quanto de objetivo e modos de atuar, um bom ponto de partida para a reflexão seria especificar de que ONGs estamos falando. Tratamos aqui das organizações que atuam na defesa dos direitos fundamentais do cidadão.

Tendo surgido com força durante o processo de redemocratização do país, as organizações da sociedade civil, juntamente com os movimentos sociais, exerceram um papel fundamental na construção da Constituição de 1988, a "Constituição Cidadã", para que esta atendesse aos anseios de toda a população brasileira, garantindo seus direitos básicos para uma vida digna.

Ainda hoje, as ONGs que lutam nas áreas de saúde, educação, meio ambiente, cultura, pelos direitos das crianças, mulheres, negros e povos indígenas, entre outras, cumprem uma função primordial para a consolidação da democracia brasileira, na medida em que são espaços de vocalização das demandas da sociedade e exercem o controle social das políticas públicas implementadas pelo governo.

Não basta a lei estar no papel, é preciso acompanhar e cobrar sua execução. Numa sociedade democrática, é direito e dever de cada um exercer esse controle. O que as ONGs fazem é organizar e expressar as demandas em nome de um coletivo. Portanto, tendo uma finalidade pública, a transparência também deve perpassar suas ações.

As ONGs não são instituições per si, são formadas por cidadãos que investem energia e conhecimento em um trabalho orientado pelo desejo de construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

Além de guardiãs dos direitos inalienáveis dos cidadãos, as ONGs podem contribuir para o aprimoramento das políticas públicas, por sua capacidade de produzir inovação, aliando conhecimento técnico às experiências e saberes dos que estão na ponta, na vida cotidiana.

O Estado é detentor do poder e tem a responsabilidade de implementar e monitorar as políticas de atendimento às necessidades do cidadão, o que denominamos "primazia do Estado". A natureza da sua ação é orientada pelo princípio da universalização do acesso aos serviços públicos e respostas às emergências, por meio das estruturas administrativas dos governos.

As ONGs, diferentemente, ao atuarem em um foco específico, com estruturas ágeis e fluidas, conseguem articular diversos atores para produção de conhecimento e estratégias diferenciadas para as diversas realidades de nosso país, a fim de promover a igualdade social.

As ONGs trabalham para o bem comum. Mas não trabalham sozinhas. Elas organizam o trabalho colaborativo para a construção de soluções para as questões sociais que atingem a todos. O livre fluxo de informações é crucial para ampliar o alcance das ações da sociedade civil organizada.

As novas tecnologias facilitam o acesso do cidadão às informações públicas. A demanda por transparência entre as relações do governo com ONGs é de interesse de todos.

MARIA ALICE SETUBAL, doutora em psicologia da educação pela PUC-SP, é presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, da Fundação Tide Setubal e do IDS - Instituto Democracia e Sustentabilidade.

GOSTOSA


Qual é? - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 15/12/11

Em privado, ministros do STF manifestaram grande desconforto com a entrevista à Folha na qual Ricardo Lewandowski previu que o julgamento do mensalão não se dará antes de 2013, com a consequente prescrição de penas como formação de quadrilha. Encarregado de produzir voto de revisão paralelo ao do relator Joaquim Barbosa, Lewandowski alega que, ao receber o processo, será obrigado a "começar do zero".

"Como 'do zero'?", estranha um ministro, lembrando que os autos estão digitalizados e que nada impediria o colega de se debruçar sobre o trabalho. E emenda outra pergunta: "A quem ele serve?".

Depois dizem... Ministros descontentes argumentam que o discurso de Lewandowski ajuda a alimentar especulação segundo a qual o preenchimento de vagas no Supremo, a partir de meados do primeiro governo Lula, teria sido pautado pelo objetivo de livrar os mensaleiros.

Para já O presidente do STF, Cezar Peluso, quer dar posse à ministra Rosa Weber na próxima segunda, às 10h.

Abafa o caso A aprovação de convite para que o presidente do Conselho de Administração da CEF, Antônio Henrique Silveira, fale à Câmara alarmou o Planalto. Ministros entraram em campo para negar que Dilma esteja decidida a demitir já o vice de Loterias, Fábio Cleto, indicação peemedebista.

Cotoveladas Presidente da Caixa, o petista Jorge Hereda não é alvo só do PMDB. Correligionários se queixam de que ele só ouviria a "turma do PanAmericano" -referência a diretores que estiveram à frente da aquisição de parte do banco de Silvio Santos.

Mix Insatisfações várias do PMDB ajudaram a enterrar a chance de a Câmara aprovar ainda em 2011 o fundo de previdência complementar dos servidores. Pesou mais, porém, o corpo mole de lideranças ligadas ao sindicalismo, como Marco Maia (PT-RS) e pedetistas de ressaca pela queda de Carlos Lupi.

Bem-vindo Diante da nota de "solidariedade" da bancada do PP ao baleado Mário Negromonte (Cidades), uma liderança do partido explica: "É para desanuviar o clima, já que daqui a pouco ele estará de volta à Câmara".

Tudo de bom Com Dilma em Porto Alegre, o Planalto recebeu ontem uma profusão de buquês, além de garrafas de vinho e champanhe, alusivos ao aniversário da presidente. O cabeleireiro Celso Kamura enviou conjunto de colar e brincos de ouro.

Oremos Fernando Haddad (PT) iniciou périplo evangélico para tratar da distribuição, pelo MEC, do polêmico kit anti-homofobia. O pré-candidato à prefeitura já esteve na TV Record, controlada pela Igreja Universal, e visitará outras denominações.

Coletivo De José Aníbal, sobre o esforço de Bruno Covas, seu rival nas prévias tucanas, em produzir material de campanha que o associe ao avô: "No PSDB, Mario Covas somos todos nós".

Na mesma Depois de prometer transparência às emendas, a Assembleia paulista aprovou brecha no Orçamento-2012 que permite a deputados redirecionar verbas para ONGs ao longo do ano.

Visita à Folha Thomas Shannon, embaixador dos EUA no Brasil, visitou ontem a Folha. Estava com T. J. Dowling, cônsul e diretor da seção de Imprensa, Educação e Cultura do consulado em São Paulo, Linda A. Neilan, vice-cônsul para Assuntos Econômicos, e Ana Paula Ferreira, assessora de imprensa.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Creio que a Justiça tarda, mas não falha. Por isso me preocupo com o risco de prescrição. No julgamento do mensalão, a sociedade gostaria de ver que o crime não compensa."

DO PRESIDENTE DO PSDB, SÉRGIO GUERRA (PE), sobre a possibilidade, admitida pelo ministro Ricardo Lewandowski, de que algumas das penas para réus do maior escândalo da era Lula prescrevam antes do julgamento do STF.

contraponto

Tetra ou penta?

Na sessão em que foi lido o relatório da Lei Geral da Copa, o deputado Deley (PSC-RJ), ex-jogador, defendeu a ampliação dos benefícios pagos pelo governo aos campeões de 1958, 1962 e 1970.

-Por que não estendê-los para dos jogadores das seleções de 1994 e de 2002? Muitos estão em situação ruim...

O relator, Vicente Cândido (PT-SP), desconfiou do interesse de Deley e perguntou, sem saber que o colega nunca fora convocado para um Mundial:

-De qual dessas Copas o senhor participou?

Jader na área - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 15/12/11

O PMDB terá em campo mais um jogador acostumado a lidar com a gangorra da política. E é isso que o PT considera perigoso

O retorno de Jader Barbalho ao Senado depois de 11 anos na planície só vem reforçar o que já dissemos aqui recentemente — a aplicação da Lei da Ficha Limpa no Brasil será mesmo um processo lento. Como um peão num tabuleiro de jogo infantil, dependendo da casa em que a legislação cair, ela será obrigada a regressar alguns passos.

O único político da galeria dos mais emblemáticos que continuava "pendurado" na lei era ele, senador eleito pelo Pará com 1 milhão e 800 mil votos. Os demais senadores famosos, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e João Capiberibe (PSB-AP), já haviam regressado ao Senado.

O peemedebista estava fora do Senado porque renunciou ao mandato em 2001, escapando assim de um processo de cassação. Ora, se a lei não valeu para as eleições de 2010, como é que Jader, eleito no ano passado, poderia estar impedido de tomar posse por conta de um dispositivo que ainda não estava em vigor? Essa era a pergunta que os advogados dele queriam que o Supremo Tribunal Federal (STF) respondesse. E Cezar Peluso ontem respondeu.

Muitos podem não gostar de Jader Barbalho, considerá-lo o pior do que existe na política nacional. Mas, ainda assim, nos bastidores, ministros do Supremo e de representantes de todos os partidos políticos sabiam que, mais dia menos dia, Jader assumiria o mandato para o qual foi eleito porque a lei não pode valer para apenas para punir uma pessoa. E sob esse ponto de vista, estão certos. Portanto, quanto à validade do Ficha Limpa, o que importa agora é salvar o futuro e fazer com que os processos judiciais caminhem mais rápido para que, quem tem culpa no cartório se torne um ficha suja de vez e não ficar nesse jogo de recorre dali, escapa de cá.

Por falar em não gostar...
Nos bastidores, quem está mais inconformado e de orelha em pé com o retorno de Jader Barbalho ao Senado é o PT. A presença de Jader representa uma maioria mais consistente ao grupo do qual fazem parte os presidentes da Casa, José Sarney (AP), e o do PMDB, Valdir Raupp (RO), além dos líderes do partido, Renan Calheiros (AL), e do governo, Romero Jucá (RR). Agora, eles terão força para indicar o sucessor de Sarney na Presidência da Casa, tirando o poder de equilíbrio do G-8, o grupo de senadores mais independentes dentro do PMDB. Além dos aspectos numéricos, há a capacidade política de Jader, o único até hoje que enfrentou o falecido senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), ao ponto de nocautear o político baiano no episódio do painel eletrônico do Senado.

Esse raciocínio chegou inclusive a São Bernardo (SP). Lá, o ex-presidente Lula tem comentado com alguns petistas a respeito dos riscos do retorno de Jader ao Congresso e a importância do senador paraense para o jogo do PMDB. Lula considera que o PMDB não pode ficar com presidência das duas Casas no biênio 2013-2014, sob pena de, com a maioria e o controle da pauta de votações de deputados e senadores, os peemedebistas terem força para tentar emparedar a presidente Dilma Rousseff num momento em que o cenário econômico internacional requer cautela.

Afinal, todos sabem que o PMDB joga desde o início do ano para ter mais voz no governo e mais destaque no governo. Volta e meia, seus caciques protagonizam uma manobra aqui, outra ali, no sentido de buscar esse espaço. Dilma, do alto de sua popularidade, tem se saído bem no jogo de cintura para evitar a entrega de setores estratégicos ao partido. Tirou um grupo de Furnas, da Funasa, do Ministério das Comunicações, da Saúde, da Integração Nacional. Enfim, usou o bambolê, presente do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, para manter os peemedebistas fiéis sem que o partido mandasse em metade da Esplanada.

Por falar em bambolê...
A sorte de Dilma é que Jader se apresentará como "gato escaldado". A amigos tem dito que tem plena consciência do processo que o derrubou do pedestal na virada do século. Por isso, será muito mais sereno do que há 11 anos, quando ruiu abraçado ao adversário Antonio Carlos Magalhães. ACM logo voltou e se reelegeu senador. Jader amargou o limbo. Mesmo eleito e reeleito deputado federal, manteve-se discreto. Evitou os holofotes e permaneceu nos bastidores, observando pacientemente os movimentos de todos os atores da política. Por isso, não raro, o então presidente Lula o chamava para conversar e trocar ideias sobre o cenário da política. Virou uma espécie de conselheiro informal em assuntos políticos. Por isso, Lula sabe o que fala quando se refere à importância de Jader para o PMDB.

Por essas e outras, a volta de Jader vai muito além da sensação do "Ih, a lei da Ficha Limpa ruiu". Na verdade, essa legislação estava adiada para o futuro há tempos. Embora ele se considere mais sereno, o PMDB terá em campo alguém acostumado a lidar com a gangorra da política. E é isso que o PT considera perigoso. Se um Renan incomoda muita gente, dizem os petistas, um Renan e um Jader incomodam muito mais.

Nova queda - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 15/12/11



Os primeiros indicadores que estão saindo do mês de outubro mostram que a economia continua fraca depois do PIB zero do terceiro trimestre. Na terça-feira, o IBGE divulgou 0% nas vendas do varejo em outubro; ontem, deu -0,32% o IBC-Br, do mesmo mês, indicador recentemente desenvolvido pelo Banco Central para analisar o nível de atividade e antecipar o PIB.

Foi a terceira queda seguida do IBC-Br, desde agosto. Mas a expectativa continua sendo que nos dois últimos meses do ano haja alguma recuperação, em função da queda dos juros e de algumas medidas de incentivo ao consumo. O conjunto de medidas do governo tinha mais incentivo ao exportador do que ao consumo, mesmo assim espera-se alta no índice, ainda que modesta.

As vendas do comércio não cresceram entre setembro e outubro e um dos motivos que desanimou o consumidor foi a alta da inflação: ela corroeu a renda e, assim, fez o trabalho de conter o consumo da pior forma. O que aconteceu com o varejo mostra que a inflação mais alta pode ser o pior freio para a atividade. Isso torna mais complexo o debate sobre a atuação do Banco Central. O o economista-sênior do banco HSBC, Constantin Jancso, explica que principalmente a inflação de serviços afetou o consumo das famílias.

- O consumo foi muito importante para manter o crescimento depois da crise de 2008. Mas a alta dos serviços está afetando a renda e esse é um gasto difícil de sofrer corte. Quem comprou uma TV de LCD não vai cortar o pacote de TV por assinatura. O natural é que ele adie outros gastos. Isso afeta o varejo - disse

O BC começou a reduzir os juros quando anteviu o agravamento da crise internacional e a parada no PIB. Foi criticado, inclusive aqui nesta coluna. A economia estava no mais difícil momento para se tomar a decisão de reduzir os juros, porque a inflação estava alta - ainda está acima do teto da meta - mas já estava contratada a desaceleração da atividade.

Há quem tenha criticado o BC no começo do ano, quando ele subiu juros diante da previsão de aceleração inflacionária. Ele estava certo, porque a inflação subiu muito, estourou o teto da meta. Se tivesse reduzido mais cedo, ele não teria evitado o PIB zero do terceiro trimestre ou a contração de outubro. Poderia, na verdade, ter piorado a situação porque a inflação quando reduz a renda real acaba sendo também um freio no consumo e no crescimento.

A aposta do BC de reduzir juros em agosto, em vez de parar para ver, era de que o cenário internacional pioraria tanto que a inflação cederia pela queda das commodities. Até agora, a crise da Europa piorou muito, algumas commodities caíram, mas os alimentos estão novamente puxando a inflação que está sob risco de terminar o ano acima da meta. Se a inflação cair, como prevê o governo, será mais fácil reativar a economia no ano que vem.

O economista Alexandre Maia, da Gap Asset, explica que a desaceleração ao longo do ano aconteceu por várias vias: inflação mais alta, que corroeu a renda das famílias; crise na Europa que adiou investimentos dos empresários; aumento de juros, retenção de gastos do governo e medidas de restrição ao crédito no início do ano. Maia acredita que a partir de novembro tanto a indústria quanto o comércio voltarão a crescer.

- Os três meses de agosto a outubro foram piores que os três meses de julho a setembro. Mas já temos indicadores antecedentes de novembro que mostram que a indústria e o comércio devem se recuperar. Mas ainda será uma recuperação sobre uma base baixa - disse Maia.

Os dados consolidados de novembro ainda não foram divulgados e dezembro é um mês em curso. Mas a GAP Asset estima alta de 0,4% no quarto trimestre sobre o terceiro tri, enquanto o HSBC estima 0,3%. Olhando para 2012, o banco espera alta de 3,7% no PIB e 5,4% na inflação. A GAP prevê 3,2% de PIB e 5,2% de inflação. Esses números mostram que o ano que vem deve começar num ritmo fraco e ir acelerando, ao contrário do que foi 2011. A boa notícia é que as projeções indicam uma inflação em queda, em 12 meses, e um PIB em alta.

- A inflação deve continuar caindo, dos 6,64% de novembro para 5,5% logo no primeiro trimestre do ano que vem. Mas, a partir daí, a taxa vai encontrar uma certa resistência, para fechar o ano nesse patamar. Já o PIB deve ter um primeiro semestre morno, para acelerar no segundo. Mas isso tudo dentro de um cenário sem ruptura na Zona do Euro - explicou Jancso.

O IBC-Br de outubro confirma que este foi um ano de perda de velocidade. No início de 2011, as previsões do Boletim Focus - que resume as percepções do mercado - eram de crescimento de 4,5%. Durante o ano, os economistas voltaram aos cálculos para reduzir a previsão do PIB. Ontem, novamente. A maioria das projeções mal se sustenta nos 3%. É possível que o PIB fique mais baixo do que isso. Em grande parte esse desempenho é consequência da confusa e assustadora crise do euro. O problema vai continuar afetando a economia brasileira nos próximos meses e isso torna mais incerto o cenário sobre o ano que vem.

Redes sociais e antissociais - MARION STRECKER

FOLHA DE SP - 15/12/11

Dias atrás, o principal executivo do Twitter, Dick Costolo, anunciou o redesenho do website e da versão para celular desse chamado microblog, em que cada mensagem pode ter, no máximo, 140 caracteres.

Essa limitação diferencia o Twitter dos concorrentes, o que é bom para ele. Mas, no fundo, essa limitação não existe, pois podemos publicar links encurtados que levam a textos maiores, e agora links que tocam músicas ou transmitem vídeos, tudo ali mesmo, nesse novo desenho. Como no Facebook.

No lançamento, Costolo disse que o Twitter “pode e tem a obrigação de alcançar todas as pessoas do planeta”. Rapaz ambicioso. Com 100 milhões de usuários cadastrados, entre eles eu, há bilhões ainda a conquistar para bater a meta

Primeira conclusão: as redes sociais na internet têm um enorme espaço para crescer. Por isso, penso, o redesenho do Twitter foi feito com mãos leves.

Não vi grande gritaria do público fiel ao Twitter com a nova interface, como geralmente acontece quando um serviço de alta audiência muda de aparência. Achei que o novo desenho melhora a experiência dos tais 100 milhões. Achei também que o serviço ficou ligeiramente mais compreensível, facilitando a conquista de público novo.

É cedo para julgar os ganhos comerciais que o Twitter pode vir a ter com as mudanças que fez para os anunciantes. Avançaram na criação de páginas de marcas, de modo a competir melhor com Facebook e Google+, a jovem rede social do Google, que está para substituir o Orkut. A propósito, o Orkut praticamente não existe mais fora do Brasil e da Índia, terra natal do seu criador, o senhor Orkut.

O Facebook, líder atual em redes sociais pela internet, diz contar com 800 milhões de usuários, oito vezes o tamanho do Twitter. Desde setembro, o Facebook também apareceu redesenhado. Entre as muitas mudanças, surgiu uma coluna à direita, atualizada ao vivo, que mostra o que as pessoas estão fazendo naquele instante. É curioso, mas é dispersivo. Normalmente fecho essa coluna, depois que descobri por acaso (ou intuitivamente, se o leitor preferir) como fechá-la. Mas tenho de fechá-la sempre, porque o sistema ainda não entendeu que esse é o padrão que desejo para mim.

O criador e principal executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, andou propagando nos últimos meses o conceito de “compartilhamento sem atrito”, que vem a ser algo como expor a Deus e ao mundo o que cada um consome ou compartilha sem pedir autorização preliminar.

Talvez eu exagere. Seria como divulgar a priori, sem pedir, de forma clara o bastante, de modo a que todos pudessem entender o que compartilhariam e com quem.

O argumento de Zuckerberg é poupar tempo das pessoas, que não precisariam mais tomar a iniciativa de compartilhar o que estão ouvindo, lendo, assistindo, comprando, gostando.

Talvez a questão tenha um componente geracional: quanto mais jovem, menos a pessoa se importa com coisas do tipo privacidade. Será que quando forem mais velhas e estiverem no mercado de trabalho elas gostarão que seus chefes ou possíveis contratadores tenham acesso a tanta informação pessoal?

Esse conceito do “compartilhamento sem atrito” está se espraiando. Muitos aplicativos (softwares) que as pessoas começam a usar na internet “facilitam” a vida do cliente ao permitir que usem o “login” (nome de usuário e senha) do Facebook. O “trade-off”, ou seja, o pagamento em troca, é permitir que suas atividades sejam monitoradas. Para quê? Ora, para vender publicidade dirigida.

O motivo é alvejar melhor a audiência com anúncios que possam ser do seu interesse. Melhorar as vendas. Aumentar o preço dos anúncios na internet. É assim que às vezes somos “perseguidos” por anúncios de produtos sobre os quais nos informamos uma vez na vida.

Vou dar outro exemplo. Um dia, quis conhecer a cidade inca de Machu Picchu. Comprei guias de viagem na loja on-line Amazon. Sabe o que aconteceu depois? A loja passou anos me oferecendo guias de viagem ao Peru, como se tivesse intenção de ir ao mesmíssimo lugar em todas as férias da minha vida!

Rudimentar, não?

 MARION STRECKER é jornalista, cofundadora e correspondente do UOL em San Francisco.

Sentidos do fundamentalismo - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 15/12/11

Eis uma (pequena) contribuição ao debate sobre fundamentalismo que se deu, recentemente, na Folha (artigos deIves Gandra da Silva Martins, 24/11, e Daniel Sottomaior, 8/12; cartas dos leitores Antônio Ilário Felici e Francisco Guimarães, 9/12; coluna de Hélio Schwartsman, 10/12).

Fundamentalista é, antes de mais nada, quem leva a sério sua convicção e segue à risca os preceitos que derivam dela.

Se você for católico, não se divorciará nem comerá carne na Sexta da Paixão; se for judeu, no sábado, evitará ligar a luz elétrica; se for muçulmano, não tomará álcool e, caso seja mulher, circulará de véu fora de casa; se for ateu, não invocará a misericórdia divina, nem mesmo em momentos de extremo perigo.

Meu pai era convencido de que existem mistérios para os quais qualquer resposta seria desonesta.

Nesse seu agnosticismo, ele era fundamentalista no sentido que acabo de definir. Um dia, quando meu irmão e eu éramos já adultos, ele quis que prometêssemos que, se ele, na agonia, pedisse a assistência de um padre, nós lhe negaríamos esse recurso, considerando que sua sanidade mental teria se perdido no aperto acovardado da última hora.

Prometemos. Por sorte, ele morreu sem pedir conforto religioso algum. Se ele tivesse pedido, não sei se eu teria mantido minha promessa; à diferença dele, eu não sou fundamentalista: decido e escolho segundo as circunstâncias e não por princípio.

Mesmo assim, tenho respeito, se não simpatia, por esse tipo de fundamentalismo. E acho que todos deveriam poder levar (e viver) suas convicções a sério, se assim quiserem -claro, nos limites básicos impostos pelos códigos Penal e Civil, que regem a convivência social.

Mas tenho pressa de chegar ao outro sentido, pelo qual fundamentalista é quem exige que os preceitos que derivam de suas convicções ou de sua fé sejam observados por todos -ou mesmo que eles se transformem em lei da sociedade inteira.

Esse tipo de fundamentalista, seja qual for sua convicção, religiosa ou ateia, é animado pela necessidade de converter os outros, a qualquer custo. Em geral, ele acha que a violência de seu espírito "missionário" é um corolário de sua fé e uma prova de sua generosidade: "Forçando o outro a se converter, eu só quero seu bem, mesmo que seja contra a vontade dele".

Com esse tipo de fundamentalista, eu implico, por duas razões.

Primeiro, detesto que alguém esconda sua violência atrás de pretensas boas intenções e não gosto da ideia de que um outro imagine saber o que é "bom" para mim.

Segundo, não acredito que alguém possa querer converter os outros à força por generosidade.

Há duas razões pelas quais, em regra, alguém quer impor as normas de suas convicções aos outros, e ambas são péssimas:

1) Ele precisa que ao menos os outros respeitem essas normas, que ele preza, mas não consegue impor a si mesmo - ou seja, incapaz de obedecer a seus próprios princípios, ele quer validá-los pela obediência forçada dos outros;

2) Ele quer se livrar da inveja que ele sente da vida dos que não respeitam essas mesmas normas (para assinalar a componente de inveja, presente nos moralistas, Alfred Kinsey, o grande sociólogo e sexólogo, dizia que "ninfômana" e "tarado" são os que conseguem ter uma vida sexual mais intensa do que a da gente).

Em suma, os motores de muitos fundamentalismos missionários são a incapacidade de viver à altura dos preceitos pregados e a inveja de quem não respeita esses preceitos.

Por isso, no debate (ou na gritaria) entre homossexuais e evangélicos, por exemplo, nem preciso decidir se gosto mais de Oscar Wilde ou do apóstolo Paulo.

Pois, bem antes e independentemente disso, a oposição relevante é a seguinte: os homossexuais não pretendem que os evangélicos passem todos a transar com parceiros do mesmo sexo ou a frequentar baladas gays, enquanto os evangélicos pretendem que os homossexuais se convertam e renunciem a seu desejo (transformado em "pecado") - ou, no mínimo, que eles sejam impedidos de viver segundo suas próprias disposições e convicções.

Ou seja, para se situar nessa oposição, não é preciso escolher entre as ideias e as práticas das partes, mas entre os que querem regrar a vida de todos segundo seus preceitos e os que preferem que, nos limites da lei, todos possam pensar e agir como quiserem.

Assim sendo, como se diz na roleta, "façam suas apostas".