segunda-feira, novembro 14, 2011

ANCELMO GOIS - Os votos de Nem


Os votos de Nem
 ANCELMO GOIS
O GLOBO - 14/11/11


A prisão de Nem e a chegada da UPP à Rocinha pode ter efeito na política interna na favela. A comunidade tem intensa atividade política, com várias facções.
Na União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha, Nem apoiava o grupo de Claudinho da Academia, morto em 2010. Na eleição, a entidade apoiou André Lazaroni para deputado estadual e Marcelo Sereno (ex-assessor de Zé Dirceu) para federal.



SAINDO DO FORNO
O escritor Luiz Fernando da Silva Pinto, vencedor de dois prêmios Jabuti, prepara o lançamento de seu novo livro, O trigo, a água e o sangue: as raízes estratégicas do Ocidente, pela Editora FGV. O autor pesquisou as civilizações que povoaram a Terra entre, acredite, 20.000 a.C. a 1.200 a.C. para falar de... sustentabilidade.

TEMPLO GIGANTE
O padre Marcelo Rossi, um sucesso editorial no Brasil, deu entrevista à revista Alfa deste mês e falou sobre seu santuário, que abrigará mais gente do que a Basílica de Aparecida e enfrentará, pelo tamanho, os templos pentencostais. Marcelo Rossi revela ainda quanto gastou na construção do templo: até agora, R$ 25 milhões (terreno e obra). Mas a estimativa é que o santuário consumirá ainda outros R$ 25 milhões.

DIA DE ÍNDIO
A 1ª Turma do TST manteve sentença que condenou o luxuoso River Jungle Hotel, de Manaus, a indenizar em R$ 150 mil um grupo de índios, além de pagar direitos trabalhistas referentes a vínculo empregatício entre 1998 e 2003. É que o hotel, por cinco anos, exibiu os índios como atração a turistas em troca de comida e R$ 100 por “show” (o valor era dividido entre os índios adultos).

SE LIGA, BOTAFOGO
O Juventus, da Itália, mandou um representante ao Brasil semana passada. Está de olho no lateral Mario Fernandes, do Grêmio, e no meia Elkeson, do Botafogo.

MINISTRO ERUDITO
Sábado, na véspera da tomada da Rocinha, Cabral teve uma reunião no Palácio Laranjeiras com o ministro Cardozo, da Justiça. Enquanto aguardava o governador, Cardozo se sentou ao piano do salão e surpreendeu. Tocou Beethoven, para a estupefação geral. Cabral chegou no meio do recital e puxou os aplausos e o coro de “bravo!”.

GUERRA INVENTADA
Nem todo mundo elogiou a tomada da Rocinha, ontem. A professora universitária Roberta Duboc Pedrinha escreveu um artigo para a Agência Nacional das Favelas em que chamou a operação de “sensacionalismo caro com a invenção de uma guerra”. Há controvérsias.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Os soldados que vasculham a Rocinha carregam um GPS de última geração. De uma central improvisada no 23 BPM, pode-se acompanhar onde cada um está.

MULHERES NA GUERRA...
Aliás, à frente dessa central estavam ontem Marlisa Amorim Neves, do Bope, Tatiana Querido Soares, do Batalhão do Leblon, Marisa Dreys, da Polícia Rodoviária Federal, e a chefe de Polícia, delegada Martha Rocha.

O VOO CEGO DO MINISTRO DO TRABALHO - REVISTA VEJA


O VOO CEGO DO MINISTRO DO TRABALHO
REVISTA VEJA

Em viagem oficial ao Maranhão, Carlos Lupi usou avião alugado por um dos principais acusados de desviar dinheiro de convênios com o ministério. E o acusado estava entre os passageIros
DANIEL PEREIRA, HUGO MARQUES, GUSTAVO RIBEIRO E PAULO CELSO PEREIRA

Na manhã de 13 de de­zembro dc 2009, um avião de pequeno porte decolou de Imperatriz, no Maranhão, com des­tino a Timon, no mes­mo estado. Quando o King Air branco com detalhes em azul, de prefixo PT­ONI, já cruzava o céu na altitude e na velocidade determinadas no plano de voo, o então assessor do Ministério do Trabalho Weverton Rocha tomou um susto. Pela janela, ele viu um rastro de fumaça perto do tanque de combustível. Disciplinado, avisou imediatamente seu chefe, o ministro Carlos Lupi: "Olha, parece que está vazando querosene". Osso duro de roer, como se definiu na semana passada, Lupi reagiu com a confiança e a verborragia que lhe são peculiares. "Nada de mau vai nos acon­tecer. Tenho 49 orixás que me acompa­nham", disse, ecoando um de seus man­tras prediletos. Em seguida, o ministro avisou o comandante do problema. O avião retomou a Imperatriz, foi consertado e retomou a viagem ao destino fi­nal. Estavam a bordo também o ex­governador do Maranhão Jackson La­go, já falecido, o então secretário de Políticas Públicas de Emprego do mi­niSlerio, Ezequiel de Sousa Nascimen­to, e um convidado especial - o gaú­cho Adair Meira.

Naquele domingo, Lupi, Rocha, Lago e Nascimento, todos do PDT, participaram de um ato político em Timon. Nos dois dias anteriores, percorreram sete municípios maranhenses em uma intensa agenda oficial, divulgada ·no site do Ministério do Trabalho, reservada ao lançamento de um programa de qualificação profissional no estado. Nos trajetos entre cidades, usaram o mesmo King Air e estiveram sempre acompanhados a bordo do con­vidado especial Adair Meira. Adair não é do PDT, mas tem relações intes­tinas com o partido. Ele comanda uma rede de ONGs que têm contratos mi­lionários com o Ministério do Traba­lho. Era, portanto, um interessado di­reto no programa que estava sendo anunciado no Maranhão. Mais do que isso. Foi Adair quem "providenciou" o King Air que transportou o ministro e os pedetistas do governo pelo Mara­nhão, numa daquelas clássicas confra­ternizações entre interesses públicos e privados, cuja despesa acaba sempre pendurada na conta do contribuinte.

O ministro Carlos Lupi cumpriu uma agenda oficial, usando um avião privado, pago por um dono de ONG que tem negócios com o ministério. E, pior, um dono de ONG acusado de fraudar o próprio ministério. Na edição passada, VEJA revelou a existência de um esquema de arrecadação de propina operado por integrantes do PDT lota­dos na cúpula do Trabalho. O grupr agia em duas frentes. Numa delas, e'­torquia ONGs às voltas com irregulan­dades na execução dos contratos e que por isso mesmo, ficavam sem recebe dinheiro da União. Na outra, fazia vi ' grossa a malfeitorias cometidas pc ONGs amigas, como as dirigidas Adair Meira - o convidado especia. Essas denúncias levaram Lupi a pres esclarecimentos ao Congresso. Aos de­putados, Lupi afirmou desconhecer Adair Meira. "Eu não tenho relação nenhu­ma, absolutamente nenhuma, com o - como é o nome? - seu Adair", afirmou, num providencial lapso de memória. Depois, emendou: "Posso ter e devo ter encontrado com ele em algum convênio público. Não sei onde ele mora". Quanta descortesia. No fim de 2010, um ano após o tour mara­nhense, a Fundação Pró-Cerrado e a Rede Nacional de Aprendizagem, Pro­moção Social e Illtegração (Renapsi), duas ONGs de Adair, receberam do Ministério do Trabalho, numa solenidade em Brasília, o Selo Par­ceiros da Aprendizagem, con­cedido a entidades conside­radas de excelência na for­mação profissional.

Também no fim de 2010, a Renapsi foi escolhida pelo ministério como parceira num projeto para qualificar trabalhado­res no Maranhão - isso apesar de ter credenciais nem de longe abonadoras. A Procuradoria da República já pediu a devolução de recursos públicos embol­sados pelas entidades de Adair. A Con­troladoria-Geral da União (CGU), por sua vez, apontou uma série de irregula­ridades nos contratos executados por ela. Na audiência com os deputados, Lupi garantiu que quase nunca viaja em aviões particulares. E assegurou que jamais se locomovell à cll"ta de Adair. "Nunca andei em aeronave pes­soal nem dele nem de ninguém". disse o ministro. Lupi esqueceu de combinar a versão com um de seus antigos asses­sores. Procurado por VEJA, Ezequiel Nascimento, ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego do Mini"tério do Trabalho, confirmou que o King Air fi­cou à disposição do ministro e dos pe­detistas no Maranhão. Confirmou tam­bém a presença de Adair Meira a bordo nos voas entre municípios. E mais: in­dagado sobre quem providenciou o avião para servir ao ministro, o ex-as­sessor foi taxativo: "O Adair".

Para cumprir a agenda oficial do ministério, o ex-assessor de Lupi con­tou ter saído de Brasília rumo a São Luís já a bordo do King Air e já na companhia de Adair Meira. O dono da Pró-Cerrado embarcara em Goiânia, onde ficam a sede da ONG e também a da Aerotec Táxi Aéreo, a proprietária do avião. Nos trajetos percorridos a partir da capital do Maranhão rumo às cidades do interior, Nascimento e Adair ganharam a companhia de Lupi, We­verton Rocha e Jackson Lago. Indaga­do sobre o caso, o hoje deputado We­verton Rocha confirma que o avião foi alugado para atender à comitiva do mi­nistro, mas ressalta que quem bancou a despesa, calculada em aproximada­mente 70000 reais, foi o PDT, através do ex-governador morto. O fato de o partido pagar pelo deslocamento de um ministro a serviço, além de não fa­zer nenhum sentido prático, já seria um absurdo sob o ponto de vista ético. Mas, ainda que fosse verdade, não ex­plica o que fazia no voa o - como é mesmo o nome? .. - Adair Meira, do­no da ONG que mais tarde iria se be­neficiar do resultado da viagem. O deputado, claro, também nega a presença do empresário, con­firmada pelo seu colega de ministério e de partido Eze­quiel Nascimento. Procurado, Adair disse que jamais voou no mesmo avião que o minis­tro, que não tem nenhuma re­lação mais próxima com ele e que suas ONGs são escolhidas pelo Ministério do Tra­balho por competência. A Aerotec não quis se pronun­ciar. Diz o filósofo e profes­sor de ética Denis Rosenfield: " Quem pagou ou deixou de pagar não altera os termos da questão. O problema está nesse tipo de relação de favo­recimento a partidos e políti­cos. Essa é a questão. Eu cha­maria isso de capitalismo de compadrio. O problema é que o governo cria um tipo de re­lação em que muitas vezes o empresário fica obrigado a jogar esse jogo".

Desde 2008, a Fundação Pró-Cerrado e a Renapsi do convidado especial Adair Meira receberam 10,4 milhões do Ministé­rio do Trabalho. Ao passar um pente-fi­no nos convênios, a CGU encontrou ir­regularidades de todos os feitios. A Pró­Cerrado, por exemplo, realizou paga­mentos a empresas sem que houvesse justificativa para tais gastos, organizou cursos .em locais inadequados e ainda informou ter distribuído lanches antcs do início das aulas. Pior: "Não foi de­monstrada nenhuma providência para a superação das falhas apontadas", diz a CGU. No caso da Renapsi, há um dado assustador - para o contribuinte: a au­sência de comprovação de despesas no valor de 5 milhões de reais. Pró-Cerra. do, Renapsi e Fundação Universitária do Cerrado, a terceira ONG do - como é mesmo o nome? - seu Adair, têm funcionários em comum. Essa sobrepo­sição de servidores, segundo órgãos de controle, é usada para facilitar desvios. Meira nega que use de tal expediente para fraudar os cofres públicos.

Conhecido pelo estilo centraliza­dor, o ministro Carlos Lupi convoca secretários e diretores de departamen­to para discutir a lista de pedidos de assinatura de convênios e de liberação de recursos. Decide sozinho quem e como atender. Faz anotações nas rela­ções apresentadas pelos subordinados. Chega a mudar o número de estudantes que serão atendidos em cidades distan­tes. Presidente licenciado, mas coman­dante de fato do PDT, ele está à frente da estratégia para beneficiar o panido por meio das decisões e da estrutura administrativa da pasta. São os pró­prios parceiros dele que fazem esse relato documentado. Chamado em Mi­nas Gerais de "pai do ProJovem", nu­ma referência a um dos programas to­cados pelo ministério, o deputado Ade­mir Camilo conta que sempre tratou dos convênios diretamente com Lupi. Camilo trocou o PDT pelo PSD recen­temente. Um dos convênios apadrinha­dos por Çamilo foi fechado com o Ins­tituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC). As ações do !MDC são investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. En­tre os alvos, estão três saques de 800000 reais, na boca do caixa, às vés­peras da eleição. Camilo diz desconhecer tais irregularidades, que, se exisli­rem, seriam de responsabilidade dos dirigentes do IMDC.

De tão ostensivo, o uso político­partidário do Ministério do Trabalho sob a batuta de Lupi foi criticado pelo Tribunal de Contas da União. Num re­latório produzido em setembro, o TCU elenca falhas graves em contratos de qualificação profissional firmados com três ONGs. Há de tudo: pagamentos em duplicidade, pagamentos por servi­ços não prestados, redução do número de pessoas atendidas sem a respectiva diminuição do custo do projeto, entre outros. E foi apenas uma amostragem. O tribunal analisou convênios de 6 mi­lhões de reais. Das três ONGs investi­gadas, duas são comandadas pelo ex­tesoureiro do PDT em Goiás. No pe­ríodo dos convênios, o diretório goiano do partido foi presidido por Marcelo Panella. Amigo de Lupi há mais de vinte anos, ele foi chefe de gabinete do ministro até agosto passado. Não resis­tiu no posto depois que parlamentares do próprio PDT procuraram o Palácio do Planalto para acusá-lo de cobrar propina em troca de decisões oficiais. O ministro da Secretaria-Geral da Pre­sidência da República, Gilberto Carva­lho, admitiu em público que, informa­do dos fatos, o governo determinou a Lupi que tomasse providências.

O esquema de extorsão envolven assessores de Carlos Lupi, revela por VEJA na edição passada, levou ministro a afastar Anderson Alexand dos Santos do cargo de coordenado ­geral de qualificação. Ele e Wevert Rocha, o ex-assessor especial e agora deputado federal, são acusados por ­rigentes de ONG, parlamentares e e vidores do ministério de fixar o valor da propina e cobrar a fatura das entid des. Os representantes das duas entid ­des que denunciaram o crime - Êpa e Oxigênio - foram convidados a prestar depoimento numa comissão de sindicância instaurada para apurar o caso. Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff também pediu esclare mentos a Lupi, mostrou-se satisfeita orientou, como tem sido de praxe, q ele fosse ao Congresso explicar-se. E. polgado, o ministro chegou a desafiar publicamente a presidente: "Só a abatido a bala" e "duvido que a Dilma me tire. Não saio nem na reforma ( minislerial) ". Logo depois, Lupi recebeu um pito da presidente por meio da Ir ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil tentou contornar a situação na audiê cia com os deputados: "Presidente Dilma, desculpa se eu fui agressivo. Eu amo". Uma declaração de amor tão sincera quanto as prestações de contas de certas ONGs.


LUPI, O PDT E O MINISTÉRIO

Desde que assumiu o cargo, em março de 2007, Carlos Lupi transformou o Ministério do Trabalho numa repartição do seu partido, o PDT

• Lupi enfrentou a Comissão de Ética Pública para continuar comandando simultaneamente o ministério e o PDT

Ministério do Trabalho e Emprego

PDT

• Destinou os principais cargos do ministério a militantes e a dirigentes de sua agremiação

• Por meio de uma manobra nada republicana, passou a controlar o órgão colegiado de onde saem os recursos para convênios com ONGs suspeitas.Também autorizou a entrega dos milionários programas sociais do ministério a entidades ligadas ao partido

• O aparelhamento resultou em denúncias de extorsão e desvios de dinheiro envolvendo assessores, entidades como a Funda ão Pró-Cerrado, e dirigentes ligados ao PDT

PAULO GUEDES - Nossos grandes desafios são internos, não externos


Nossos grandes desafios são internos, não externos
PAULO GUEDES
REVISTA ÉPOCA

Em meio à frágil recuperaçào da economia americana, ao agravamento da crise europeia e à ameaça de desaceleração econômica da China, aumentam as incertezas quanto ao futuro desempenho da economia brasileira. É cada vez mais preocupante a perspectiva de que sejamos arrastados por esse vendaval causado, de um lado, pelo mergulho de 3,5 bilhões de eurasianos nos mercados globais de trabalho e, de outro, pelos excessos de financistas anglosaxões e de sociais-democratas europeus.

O macroambiente externo é, sem dúvida, um dos condicionantes de nosso desempenho. Mas a economia brasileira não é uma folha ao vento da globalização.

Temos um mercado interno de dimensões continentais, que sempre nos permitiu uma dinâmica própria de crescimento.

Tanto para o bem quanto para o mal. Estivemos perdidos no caos inflacionário dos anos 1980 e da primeira metade dos anos 1990, enquanto crescia a economia mundial e se expandiam aceleradamente os fluxos de comércio internacional.

Participamos do forte ritmo de crescimento global sincronizado no período 2003-2007.

Após o estouro das bolhas de crédito e dos imóveis, o mergulho das Bolsas e o colapso da produção em 2008-2009, o Brasil e outros gigantes emergentes ensaiaram na reflação de 2010-2011 um descolamento da crise que se aprofundava nos países avançados. Teríamos fôlego para sustentar esse descolamento ou seriamos brevemente tragados pelo buraco negro da grande crise contemporânea?

Uma coisa foi a reflação de demanda por políticas anticíclicas, ampliando o grau de utilização da capacidade instalada a curto prazo e empurrando a expansão do produto interno bruto no Brasil acima de 7% em 2010. Outro coisa inteiramente diferente é o desafio de manter uma dinâmica de crescimento sustentável em meio à crise mundial.

A primeira questão critica é nossa vulnerabilidade ao macroambiente externo. Diz respeito a nossa capacidade de absorver os impactos diretos de um choque causado pelo aprofundamento da crise global. Na dimensão financeira, em que medida a persisténcia da crise bancária europeia em torno da dívida soberana poderá atingir os canais de crédito para o Brasil, como ocorreu em 2008-2009? E, na dimensão comercial, a desaceleração da China derrubando os preços das commodities poderia causar um deficit nas contas externas, uma forte desvalorização cambial e um recrudescimento da inflaçao brasileira?

O Brasil não é uma folha ao vento da globalização. Com as reformas, nos tornaremos a fronteira do crescimento global

A segunda questão crítica para o crescimento sustentável, ainda mais importante do que as condições externas, é o macroambiente interno: a existência de um ambiente favorável aos negócios, de modo a facilitar os investimentos na ampliação da capacidade produtiva do país. Isso inclui a estabilidade dos preços, a simplicidade dos impostos, mercados de trabalhos flexíveis, investimentos em educação e regime previdenciário que garanta a acumulação de capital. A qualidade das políticas públicas em todas essas dimensões é fundamental para viabilizar uma elevada taxa de investimentos internos, bem como um alto grau de competitividade externa.

Apesar de nossos receios quanto à influência negativa do macroambiente externo, nossas mais importantes limitações são de caráter interno. Por que não são tão temíveis os fatores externos? A rápida desalavancagem de bancos americanos e europeus e a grande redução de dívida soberana ameaçãm de implosão as finanças ocidentais. Mas o Brasil já desalavancou seu sistema financeiro quando saiu do turbilhão inflacionário. E tivemos também de controlar os níveis de endividamento do setor público. Por isso têm resistido ao contágio aos canais de crédito internacional ao Brasil.

Mais ainda, ante o esfriamento das economias avançadas e o aumento no risco de sua dívidas soberanas, melhoraram as condições do financiamento de longo prazo para o país. Enquanto o governo da Ítalia paga juros de mais de 7,5% ao ano em seis títulos de 30 anos. o Brasil paga pouco mais de 4,5% ao ano em sua dívida de longo prazo. Como alertava Antonio Conselheiro, o sertão vai virar mar, e o mar virar sertão.

E quanto aos receios de queda dos preços de commdities? A verdade é que o afundamento do preço do dólar, sintonia clássico da doença holandesa - quem achou petróleo entrou em crise pela queda do câmbio, tornou-se um fator de desindustrialização. Uma queda moderada dos preços de matérias primas e o consequente aumento da taxa de câmbio desagradaria a ondas de turistas brasileiros , esfriando nossas compras de imóveis em Miami. Mas devolveria alguma competitividade às industrias brasileiras de móveis, calçados,têxteis, manufaturas etc. E desobrigaria o Banco Central de cada vez mais desconfortável compra de dólares. Apesar da desaceleração econômica global, persistem pressões de alta nos preços de matérias-primas, graças às políticas de juros reais negativos nos Estados Unidos e na China.

Os grandes riscos, mas também as maiores oportunidades, estão no macroambiente interno. Com algumas poucas, mas profundas, reformas poderíamos nos transformar na nova fronteira do crescimento global. Em meio à guerra mundial por empregos, faltam ao Brasil as reformas de modernização: a correção da hipertrofia da União ( reforma do Estado), a descentralização de recursos e atribuições para Estados e municípios ( reforma fiscal), a simplificação de impostos e redução de alíquotas ( reforma tributária). a revisão de obsoleta legislação salarial ( reforma trabalhista com eliminação de encargos sobre custo do trabalho) e a universalisalização da poupança ( reforma previdenciária). Esse é o capital institucional necessário à dinâmica de crescimento interno que desejamos.

Temos recursos naturais abundantes, do minério ao pré-sal; muita terra e água sobrando, que nos dão comida barata e energia limpa; uma demografia extraordinariamente favorável para as próximas três décadas; e o mundo nos oferece dinheiro barato e novas tecnologias acessíveis enquanto parou para conserto. Falta-nos o essencial: investimentos maciços em educação, pois o capital humano é o principal fator de criação de riqueza para indivíduos, empresas e nações na sociedade do conhecimento. Estará nossa classe política à altura de tão grandes desafios

AÉCIO NEVES - Pensar é preciso


Pensar é preciso 
AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 14/11/11

Só os fanáticos não têm dúvidas. Esta frase, se não é de Nelson Rodrigues, poderia ser. E, na política, só os covardes, acrescento, não têm convicções. Mas, entre a dúvida e a convicção, entre a tibieza e o sectarismo, descortina-se um amplo espaço para que floresçam a reflexão, a busca do conhecimento e o exercício da inventividade. 
Relembro esse filósofo do cotidiano que foi Nelson Rodrigues, cético de carteirinha, não para me resignar ao imobilismo crônico que parece caracterizar a atual governança do país, mas, pelo contrário, para reagir à miudeza de um varejo político aprisionado na acomodação e voltado para o imediatismo. Ao grau zero de criatividade do continuísmo, cabe à oposição contrapor a responsabilidade cívica de pensar, ousar, debater, divergir e convergir. 
Realizamos, há uma semana, no Rio, o seminário "A Nova Agenda: Desafios e Oportunidades", promovido pelo Instituto Teotônio Vilela, sob a coordenação dos economistas Elena Landau e Edmar Bacha. 
O ITV é uma entidade partidária ligada ao PSDB. O seminário não o era. Quem teve a oportunidade de assisti-lo, de percorrer o repertório de propostas e ideias apresentadas por Pérsio Arida, Gustavo Franco, Armínio Fraga e Simon Schwartzman, entre muitos outros, compreendeu claramente que o ali proposto extrapola uma mera agenda de alternativa de poder.
Foi encerrado com brilhantismo por um Fernando Henrique renovado e provocativo, que não nos deixou esquecer que a oposição precisa vocalizar -"Ou fala ou morre", sentenciou com razão. 
Afinal, há nove anos o Brasil é coadjuvante do seu próprio crescimento. Surfamos na onda da prosperidade mundial enquanto deu. Agora aguardamos, em perplexidade entorpecida, que a tormenta internacional se dissipe. 
Ao governo, absorvido pelo cotidiano gerenciamento da governabilidade, falta o combustível da energia política capaz de conduzir as reformas estruturais -na economia, na administração pública, na educação, na infraestrutura-que fariam o Brasil mudar de patamar como nação. 
Ouvimos formulações de alto alcance estratégico e outras de simplicidade desconcertante. Por exemplo, de como modernizar toda a malha ferroviária em operação no país com o dinheiro que está reservado para o inacreditável trem-bala; de como aumentar a remuneração da caderneta de poupança e do FGTS, impactando positivamente a poupança interna do país. 
Refletiu-se sobre novos caminhos para superação da baixa qualidade da educação e saúde oferecidas nas redes públicas. Muitas ideias surgiram. Outras certamente virão. Que elas possam inspirar o novo e necessário debate que o Brasil e os brasileiros merecem.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


“A ISSA É UM GRITO COLORIDO NOMEIO DO PRETO E BRANCO”
SONIA RACY
O ESTADÃO - 14/11/11

Daniella Helayel, estilista radicada em Londres, fala sobre o sucesso depois de vestir a princesa
Desde novembro do ano passado, quando Kate Middleton apareceu de vestido azul no anúncio de seu noivado com o príncipe William, a vida de Daniella Helayel não é mais a mesma. “Eu era mais conhecida só no mundo da moda”, afirma a estilista, dona da marca Issa, novo xodó das celebridades.

Fluminense de Niterói, Daniella construiu seu caminho profissional fora do Brasil. E desde que a imagem do famigerado vestido foi replicada nas capas de jornais e revistas do mundo inteiro, a estilista ganhou novos clientes, fãs, projetos de crescimento e uma sócia de peso, Camilla Al-Fayed, cujo pai foi dono da tradicional loja inglesa Harrods. E o irmão, Dodi, namorado fatídico de Lady Di. A recente sociedade empolga Daniella. Não é para menos: proporciona a possibilidade de expandir a marca para outros países. E ela escolheu o Brasil para abrir sua loja primogênita. Prevista para o primeiro semestre do ano que vem, a estilista confirmou, em rasante por São Paulo semana passada, que será no Shopping Cidade Jardim. Antes de embarcar para o Brasil, Daniella recebeu a coluna em sua casa, um prédio de três andares de frente para o rio Tâmisa, no bairro de Chelsea, um dos mais elegantes de Londres.

Despojada e já com hábitos ingleses assimilados, serviu um chá da tarde e falou sobre os novos rumos da marca, enquanto brincava com seus dois cachorros, Monster e Snowball.

Sobre Kate Middleton, a designer fala pouco, prefere manter a discrição. Mas não deixa de se orgulhar de carregar o título de estilista da princesa: “Ah, é uma honra, né? Ela é linda. Por dentro e por fora”.
A seguir, os melhores momentos da conversa.

Como nasceu a Issa? 
Nasceu porque eu não conseguia achar roupas pra mim. Só comprava roupas vintage. Não tinha uma roupa nova no meu closet. Já havia trabalhado com moda em NY, como consultora para algumas marcas brasileiras. Quando me mudei para Londres, não sabia o que queria fazer. Dali pra frente, foi algo totalmen-
te intuitivo. Aconteceu. Mas eu sempre soube que queria trabalhar com beleza, com algo relacionado à moda.

E o nome da marca?
Quando eu morava no Rio, pegava onda e os surfistas gritavam “issa”.

Você fez sua carreira fora do Brasil. Começou em NY, depois foipara Londres. Fui para NY e fiquei lá ate agosto de 99. Um mês antes, terminei um namoro de 5 anos e pensei que precisava mudar. Estava enjoada dos americanos, fui viajar e vim parar em Londres. “Issa it’s a London thing”. Não teria acontecido em outro lugar do mundo. Mas a experiência de NY foi importante, porque me deu knowhow e meios para me financiar.

Muita gente que nunca tinha ouvido falar na Issa a conheceu porque Kate Middleton usou um vestido da marca no anúncio do noivado com o príncipe William. Qual o impacto disso?
Ela foi capa de jornais e revistas de todo o mundo usando aquele vestido. E todo mundo falou sobre isso. Porque o anel era antigo, pertencera à princesa Diana, mas o vestido era novo (risos). Foi um impacto enorme. Agora, por exemplo, eu estava em Hong Kong e um homem da área de finanças perguntou: “Você é da Issa, aquela do vestido azul?”(ri-
sos). Eu era conhecida no meio da moda. Abriu um leque de novos consumidores.

Você sabia que ela usaria o vestido no anúncio? Ela ligou encomendando?
Eu não tinha a menor ideia. Foi total surpresa. Estava na ginástica e, quando voltei, havia algumas mensagens dizendo que o noivado ia ser anunciado. Aí começaram a ligar lá no escritório perguntando se ela ia usar alguma coisa da Issa. Quando Kate apareceu na TV, as meninas no escritório começaram a gritar, comemorando. E o telefone não parou mais.

Muitos se referem a você como a estilista da princesa. Como vê essa designação?
Ah, é uma honra, né? Ela é linda por dentro e por fora. Tem uma personalidade incrível. Mas é só. Não costumo falar das minhas clientes. Meu negócio é fazer roupa.

Mas, e os boatos de que ela teria anorexia?
Isso é ridículo. O Rupert Murdoch perdeu o império dele por conta desse tipo de fofoca. Da invasão de privacidade. Acho isso péssimo, muito feio. Mas a verdade sempre vem à tona.

Muitas celebridades usam seus vestidos. Tem alguma que você ainda gostaria de vestir? 
Várias. A primeira é a Michelle Obama. Acho ela o máximo. Inteligente, linda, culta, se cuida. Anda de shorts, descalça. A elegância está na postura. Adoro essa coisa despojada.

Suas roupas têm cores fortes, que não correspondem à clássica mulher inglesa. Como foi entrar nesse mercado?
Fui muito bem aceita. Aqui todo mundo usa preto. Eu queria colorir o mundo, deixar todos felizes. Para mim, moda é para enfeitar. As pessoas têm de se sentir para cima. Então, a Issa é um grito colorido nesse mundo preto e branco. Com certeza tem a ver com as minhas raízes brasileiras. Por ter nascido em Niterói. Por ter a vista do Rio.

Outra marca registrada são os vestidos acinturados. Você disse que não conseguia comprar roupa. Acha que valoriza o corpo? 
As mulheres adoram. A gente sempre quer ter uma cinturinha mais fina (risos). Procuro deixar o colo bonito, afinar a cintura, disfarçar o quadril. Isso são coisas que a roupa pode fazer para valorizar a mulher. A roupa tem de destacar o seu melhor. Ninguém quer parecer um saco de batatas.

Como foi feita sua última coleção, “I Love Rio”? 
Começamos com Cuba. Mas eu não estava gostando das estampas.Aípenseiemfalardo Rio. Todos os meus amigos estrangeiros estavam apaixonados pelo Rio. Como já tínhamosfeito umapesquisa de silhuetas que eram meio Cuba, super elegantes, resolvi misturá-las às imagens do Rio nas estampas.

E as modelos que você escolhe? 
Têm de ter a ver com a coleção. Androginia não funciona para mim, por exemplo. Só servem as lindas. Eu vendo beleza. Issa “it’s about beauty”, felicidade. Você não vai ver nada esquisito nas minhas coleções nunca. Porque eu não gosto.

Você vendeu 51% da marca para a Camilla Al-Fayed. Por quê? 
Estávamos conversando há um tempo, nos conhecemos há oito anos e somos amigas. A Harrods foi uma das primeiras lojas a comprar Issa. Aí aconteceu. A Camilla veio com a parte administrativa e financeira. Que é tudo de bom, né? Eu fico mais com a criação. Agora, o céu é o limite. A Camilla traz toda uma infraestrutura. O acesso a mão de obra, consultores e pessoas que eu não teria como conseguir antes dela.

Quais os planos estratégicos para o crescimento da Issa? 
Quero fazer muitas coisas com o Brasil. Vamos abrir uma loja no Shopping Cidade Jardim. Estamos estudando a melhor estratégia. Se será uma joint venture, um franchise... Mas, como as taxas de importação são muito altas, queria fazer uma linha que fosse made in Brazil. Algo de linha praia com as Havaianas... verão o ano inteiro.

E projetos na Europa? 
Adoraria fazer uma colaboração com a H&M, por exemplo. Algo do tipo “Issa Holiday para H&M”. Mas ainda não surgiu nenhum convite.

Você tem fábrica na China? 
Sim. Mantenho essa fábrica desde a primeira coleção que vendemos bastante. Os chineses são os melhores. E o mais bacana é que a qualidade de vida lá está melhorando muito. O horário é respeitado, os salários mais que dobraram.

Qual a posição da China no mercado da moda?
O mercado é totalmente novo. E o poder de compra deles é impressionante. Estão inflacionando o mercado. São muito poderosos. Fui pela primeira vez a Hong Kong em 1996, depois voltei em 2004. Desde então, vou pelo menos três vezes por ano. E a cada viagem, tudo muda. É incrível. O mercado onde a Cartier mais cresce é lá. Eles estão abrindo lojas em cidades que a gente nunca ouviu falar. As vendas dobram a cada ano.

Londres é considerada, hoje, um dos polos de criação da moda. Acha que está mais em evidência do que Paris e NY? 
Tudo é importante. Mas existe uma coisa criadora com Londres. Virou uma coisa ‘boomy’. Era alternativa e, de repente, os designers pensaram que também têm de vender. Então, há uma fusão entre criatividade e comercial.

O que acha das londrinas? 
Excêntricas (risos). O homem londrino usa muito terno. Já as inglesas sempre vão dar um twist no visual. Colocar um broche, um acessório.

Qual é, na sua opinião, um pecado fashion?
Cada um faz o que quer. Não existe pecado... (hesita, pensativa), exceto “ugg boots”. São aquelas botas que têm pelinho, parecem patas de elefante (risos). Não tenho nenhuma, mas, aparentemente, é bem quentinha e confortável. Para ficar em casa, escon-
dida, pode.

O que te inspira na hora de criar suas coleções?
Sempre quis criar o time dos meus sonhos. Porque não fazemos nada sozinhos. Inclusive, tenho um funcionário que é meu segredo (risos). Tenho um segredo na minha equipe. É um modelista, um gênio. Vocês deviam fazer uma foto dele. Mr. Leslie Poole (na foto ao lado). Existem as minhas tentativas antes e depois de encontrar o Leslie.

Onde busca referências? 
Nunca vejo revista de moda, por exemplo. Busco muito mais em livros, na internet. Trabalho com referências antigas, coisas que vejo nas minhas viagens também. Mas a marca da Issa será sempre a roupa acinturada, não importa a tendência.

Vocês seguem tendências, fazem pesquisa de mercado? 
A única pesquisa que fazemos é de preços dos concorrentes. Para equalizar com os nossos. A gente detesta tendência. Estamos na contramão, sempre.

RENATO JANINE RIBEIRO - Ministérios de primeira e de segunda


Ministérios de primeira e de segunda
 RENATO JANINE RIBEIRO 
VALOR ECONÔMICO - 14/11/11

Por que o governo não dá a merecida importância a ministérios como Esportes, Turismo - que foram moeda de troca na composição da aliança no poder e talvez por isso tiveram seus ex-titulares acusados de malfeitos - e Cultura, cuja ministra é criticada, pelos artistas, por um desempenho que não lhes agrada? São três Pastas pequenas e secundárias na Esplanada, mas portadoras de um enorme futuro. Tudo indica que, em poucos anos, o aumento do lazer, inclusive criativo, a preocupação com a saúde e a difusão do hábito de cuidar do corpo vão gerar um grande boom, econômico e social, na cultura, nos esportes e no turismo. Por que, então, figuram eles no final da hierarquia dos ministérios? Por que essa miopia dos governantes - e aí incluo os estaduais e municipais? 
Esportes e Turismo estão entre os ministérios cujos primeiros titulares no governo Dilma foram acusados de corrupção. A ministra da Cultura foi chamada de inepta. Tenham ou não razão os seus críticos, essas Pastas sempre ficaram em segundo plano. Cultura teve alguns grandes ministros, a começar por Celso Furtado, mas nunca muito dinheiro. Mas será nesses ministérios, e alguns outros, que muita coisa boa poderá nascer no futuro próximo. Então, ou o governo passa a priorizá-los - ou vamos perder grandes oportunidades. 
Esses setores têm potencial de riqueza econômica. Nos esportes estão hoje dois eventos de alcance mundial, a Copa e os Jogos Olímpicos. Mas, para além das efemérides, o fato é que, quanto mais as classes médias e a sociedade em geral queiram ter maior prazer com seu corpo, maior "wellness", palavra ainda sem tradução mas que designa um bem-estar intensificado, mais crescerá a área de Esportes. Isso abre perspectivas inéditas para os ministérios e secretarias, estaduais e municipais, da área. 

Governo despreza as Pastas de maior futuro 
Turismo é outra Pasta que às vezes serve, como Esportes, para fazer alianças a baixo custo com partidos ou líderes a quem você não teria coragem de dar a Fazenda, a Justiça ou a Casa Civil. No segundo governo Lula, foi o prêmio de consolação a Marta Suplicy por não receber a Educação - e ela fez uma boa gestão. Contudo, politicamente é um ministério fraco, até porque notícias a respeito saem no caderno de Viagens e não no de Política... Mas cada vez mais o prazer de viajar estará na ordem do dia. Não por acaso, quando Mares Guia ocupava a Pasta, no primeiro governo Lula, seu amigo Claudio de Moura Castro propôs medidas em favor do ecoturismo, do turismo radical e de outras formas de prazer, digamos, "de ponta". 
Ao contrário de Esportes e Turismo, a Cultura não serve de moeda de troca partidária - ou porque se tem mais respeito por ela (improvável), ou porque se vê menor chance de negócios. Mas costumo cotejá-la com Ciência e Tecnologia. São dois ministérios refinados, que lidam com assuntos de qualidade. Contudo, embora haja bem mais artistas do que cientistas no Brasil, o MCT é mais rico que o MinC. Por quê? Porque os cientistas são organizados. Unem-se. Pressionam. Embora biólogos e físicos praticamente controlem a politica científica, também as outras áreas conseguem seu quinhão. Já na Cultura, é difícil. A criação é muito dispersa. A verba acaba pequena. 
Temos aqui grandes oportunidades desperdiçadas. É provável que, em poucos anos, as áreas de maior interesse das pessoas sejam os esportes e a cultura - com uma brecha para as viagens, claro. "Mens sana in corpore sano", dá vontade de dizer, mas com uma diferença: o ideal da primeira metade do século XX - ginástica sueca e alta cultura - cede lugar a exercícios alternativos, variados, e a uma cultura cheia de diversidade, criativa, espontânea. Acredito que aí surgirão negócios economicamente poderosos. Ouso dizer que quem apostar em menos carros e mais academias e centros culturais (ou em cultura sem centros) não só fará um bem para a humanidade como, além disso, poderá ganhar um bom dinheiro. 
Por que, então, os governos deixam esses ministérios num segundo plano? É verdade que o único ministro de FHC maior que seu cargo foi o dos Esportes - Edson Arantes do Nascimento - e que o único ministro de Lula maior que o seu posto era o da Cultura - Gilberto Passos Gil Moreira. No entanto, Pelé foi um ministro apagado e Gil várias vezes esteve ameaçado de ficar sem orçamento. Pelo menos uma vez, eu soube que esteve a ponto de pedir demissão, pois iam cortar 57% de suas verbas. Imaginem só, perder Gilberto Gil: falta audácia a nossos governos. 
Sei que algumas Pastas são decisivas. Uma comanda a economia, da qual hoje tudo depende. Ora é a Fazenda, ora o Planejamento. Outra dirige a política, as leis - é a Justiça. A terceira é a Casa Civil, que articula o governo - tanto que nos Estados se chama secretaria de Governo. Um grupo de Pastas que já foi decisivo, os militares, hoje se reduziu à sua real significância, no ministério da Defesa. Muito bem. 
Temos os grandes ministérios "sociais", como Saúde, Educação e Desenvolvimento Social. Eles investem no futuro, pois quando funcionam bem reduzem doenças, melhoram a qualidade de vida, qualificam as pessoas no trabalho e no lazer. Merecem seus orçamentos altos. 
Mas o que não dá para entender é que, ainda hoje, Pastas que têm carimbado no seu DNA as palavras "futuro", "prazer" e mesmo "felicidade" fiquem relegadas a um segundo plano, com verbas pequenas e, sobretudo, pouca antevisão, pouca projeção do novo, servindo de moeda partidária e se exigindo pouca performance delas. Um mundo novo está surgindo, e falta arrojo aos governos para perceber tudo o que pode nos trazer - e, mais que isso, tomar as medidas nesta direção. 

GUILHERME FIUZA - O paraíso das frutas podres


O paraíso das frutas podres 
GUILHERME FIUZA 
REVISTA ÉPOCA

Rousseff tem um jeito peculiar de desafiar a corrupção: prestigiar os donatários de capitanias apodrecidas 

Rousseff desafia a corrupção. Essa manchete foi publicada pelo jornal francês Libération, na passagem da presidente brasileira por Cannes, na reunião do G20. Orlando Silva acabara de cair, e o artigo concluía que, com a demissão do sexto ministro, Dilma se emancipava de Lula. Não interessaram ao jornal de esquerda as reuniões de emergência entre criador e criatura para tentar salvar a cabeça do ministro do Esporte. Nem a frase da presidente após a demissão:"Orlando Silva não perde meu respeito". O que o Libération acha da relação de Dilma com Carlos Lupi?

Não interessa. O que essa imprensa europeia progressista" e decadente publica não tem, de fato, a menor importância. Interessa é que boa parte da opinião pública brasileira, incluindo a que lê francês, acha que Rousseff desafia a corrupção.

Rousseff tem um jeito peculiar de desafiar a corrupção. É um desafio, por assim dizer, carinhoso. Por uma impressionante coincidência, as máquinas dos Transportes, da Agricultura, do Turismo, do Esporte e do Trabalho serviam a formas quase idênticas de sucção pelo PR, pelo PMDB, pelo PCdoB e pelo PDT - fiadores do PT e do Plano Dilma. É notável, ainda, que toda essa tecnologia dos convênios com ONGs e entidades companheiras provenha do tempo em que Rousseff  mandava na Casa Civil. Segundo Lula, ela coordenava todos os projetos do governo.

Mais curioso ainda: mesmo depois de a imprensa mostrar que esses pedaços do Estado brasileiro tinham virado capitanias partidárias, com seus donatários já caindo de podres,Rousseff fez questão de prestigiá-los, um por um. Nunca se desafiou a corrupção com tanta compaixão.

O chefe de gabinete do ministro do Trabalho e o tesoureiro do PDT eram a mesma pessoa. E atenção: isso não era segredo. Responsável pelas finanças do partido, Marcelo Panella ajudou a cozinhar mais de 500 relatórios de prestação de contas no ministério, que, segundo o Tribunal de Contas da União, sumiram nas gavetas da gestão Carlos Lupi. Nesse paraíso de convênios invisíveis, multiplicam-se histórias demanejo desinibido de dinheiro público - como no caso da ONG campeã de verbas em Minas Gerais. Essa ONG, com o imodesto nome de Instituto Mundial de Desenvolvimento da Cidadania, passou a ser investigada pela Polícia Federal depois de um evento desagradável. Um funcionário seu sacou numa agência bancária R$ 820 mil em espécie, às vésperas das eleições de 2010. Tudo normal, se o portador da ONG não tivesse tido o azar de ser assaltado. Perder dinheiro não é problema no Ministério do Trabalho, o chato é perder a discrição. Foi aberto um inquérito, em que consta que dirigentes da ONG pediram aos funcionários do banco para declarar à polícia que o saque fora só de R$ 80 mil. Um abatimento de 90%, em nome da modéstia.

O Ministério Público Federal suspeita de uso da ONG para caixa dois eleitoral. Mas deve estar enganado. O donatário do ministério e mandachuva do partido era Carlos Lupi, que tinha a total confiança de Rousseff. E Rousseff, como se sabe, desafia a corrupção.

Apareceu então uma denúncia de cobrança de propinas para liberar verbas do Ministério do Trabalho. Francamente, para que propina numa simbiose que já funciona tão bem? Só se foi a força do hábito.

Em meio atanto denuncismo,Rousseff, a chefe dos chefes, decidiu falar em cadeia nacional de rádio e TV. Para a surpresa geral, não se referiu ao único assunto que justificaria a urgência de um pronunciamento à nação. Anunciou a criação de dois programas de saúde pública, prometendo um choque de eficiência no setor. Não ficou claro que modelo de eficiência será adotado, mas possivelmente seja o do Ministério do Trabalho - e aí terá feito sentido a oportunidade do anúncio.

Há também o modelo do Ministério da Educação, testado e aprovado. Por três anos seguidos, o ministro fez política para valer e não cedeu ao denuncismo em torno do Enem. Foi premiado com a candidatura a prefeito de São Paulo.

Pelo histórico de seu primeiro ano de governo, Rousseff tem à disposição vários modelos de eficiência na gestão da coisa pública. O Brasil já conhece bem cinco deles, cada um mais criativo no desafio à corrupção do anterior. Se há algum outro, deve estar guardado a sete chaves.

LÚCIA GUIMARÃES - Domingo no parque


Domingo no parque
LÚCIA GUIMARÃES
O Estado de S.Paulo - 14/11/11

Nos últimos dois meses, apesar da minha resistência a rotinas, dei para me repetir, às vezes, nos domingos. Carrego as baterias das câmeras e pego a linha 1 do metrô até a Rector Street. Enquanto caminho até o Zuccotti Park, sei que vários passageiros que saltaram comigo têm o mesmo destino. Alguns carregam cartazes enrolados. Outros têm a expressão de turistas subindo as escadas do Corcovado. Visitantes europeus emitem um ar satisfeito de aprovação. Japoneses temperam a modéstia com olhares arregalados. O que os passageiros desta linha do metrô aos domingos têm em comum? O que os aproxima dos moradores do acampamento?

Como é fácil para alguns, depois de algumas horas no parque, reduzir tudo ao capricho de desocupados, junkies e esquerdistas new age. Sim, alguns minutos confinada entre barracas são o bastante para registrar um aroma que combina a roupa não lavada com a escassez de higiene pessoal. E daí? Alguns minutos na esquina sudoeste ocupada pelos tambores são o bastante para sonhar com a bateria da Mangueira ou da Portela. E daí?

Alguns minutos de conversas desconexas com os sem-teto, desesperados para pertencer a uma ordem social que os expulsou, bastam para ceder à tentação de condenar as múltiplas versões do Ocupem ao rodapé da história. Mas, espere, quem é essa mulher de 56 anos que passa os dias tricotando na calçada norte do acampamento? Ela não discursa, apenas produz luvas, toucas e cachecóis para os acampados. Seu cartaz pede o fim das duas guerras, da pena de morte e um país melhor para seus seis netos. O que há de radical nessa expectativa?

E esse homem de terno que passeia pelo parque? É um analista que continua a trabalhar para uma instituição financeira mas, em 1999, foi ridicularizado e perseguido por escrever um relatório de mil páginas alertando investidores para venderem ações de bancos, depois de analisar o nível assustador de risco nos empréstimos da então crescente bolha imobiliária. Ele se declara um capitalista que gostaria de defender o capitalismo dos capitalistas americanos.

O problema está em tentar recolher sinais literais de transformação social entre as barracas cada vez mais fortificadas para enfrentar o inverno. Fazer comparações simétricas com o Tea Party à direita é outro desserviço. Nenhum grupo ligado ao Ocupem tem o apoio de conservadores como os bilionários irmãos Koch, que já doaram em torno de US$ 200 milhões para causas conservadoras.

Um comentarista comparou a lerdeza da mídia americana diante do movimento sem líderes à postura dos ditadores árabes expressando perplexidade com a varredura democrática da primavera. É um exagero. Mas vivemos em tempos de tags, categorias a tweets. Tudo deve ter seu encaixe digital e já.

Escrevo no Dia dos Veteranos, sob o impacto do suicídio de um ex-soldado de 35 anos. A polícia não divulgou seu nome, patente ou antigo posto, à espera de notificação da família. Ele se fechou numa barraca do acampamento Ocupem Vermont e apertou o gatilho. Um terço dos americanos que estão voltando para casa das duas guerras, no Iraque e Afeganistão, sofrem de alguma aflição psiquiátrica. O desemprego entre os veteranos é 30% mais alto.

No empurra-empurra resultante da presença dos músicos David Crosby e Graham Nash no parque, na última terça-feira, eu me separei do cinegrafista e fui me embrenhar com uma câmera pelas barracas, à caça de uma foto que registrasse, naquela tarde, o encontro dos anos 60 com a rebeldia dos millenials, como são chamados os jovens de menos de 30 anos. Ao tentar pular um pequeno canteiro, fui alertada por um habitante do parque: "Não se atreva a pisar nas plantas!" Um punhado de flores quase secas eram testemunhas do avanço do outono. Meu censor sabia que estava brigando por poucas pétalas. E eu sabia que ele estava defendendo mais do que o canteiro. Ele queria que eu pisasse no parque com um novo respeito.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Nos calcanhares
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 14/11/11

Pesquisa feita para o Palácio dos Bandeirantes mostra o governo de Dilma Rousseff, pela primeira vez, com uma taxa de "ótimo/bom" ligeiramente superior à obtida pela administração de Geraldo Alckmin no Estado de São Paulo. Trata-se de apenas um ponto percentual de diferença: ela registra 51%; ele, 50%. Numa outra abordagem, em que os entrevistados dizem somente se "aprovam" ou "desaprovam" a gestão, o tucano aparece à frente da petista (71% de aprovação contra 67%).

O resultado chama a atenção porque, embora os patamares de ambos sejam semelhantes desde o início do ano, o movimento dela é mais claramente de ascensão.

Lanterna O mesmo levantamento confere à administração de Gilberto Kassab (PSD) na capital paulista um percentual de "ótimo/bom" expressivamente inferior aos de Dilma e Alckmin: 27%. Os que "aprovam" são 39%.

Luz amarela Tudo somado, os "azuis" concluíram que Lula não será o único cabo eleitoral de peso à disposição de Fernando Haddad em 2012. Tal diagnóstico dá argumento aos que consideram imprescindível a aliança entre Estado e prefeitura, já no primeiro turno, para enfrentar a máquina petista.

Ironia O quadro projetado pela pesquisa tenderá a estimular, entre tucanos locais, a pregação informal do voto "dilmalckmin" em 2014. Se for candidato à Presidência, Aécio Neves poderá provar em São Paulo do mesmo veneno servido a José Serra em Minas em 2002 e 2010.

Restos a pagar Apesar do flerte de seus dirigentes com Gabriel Chalita (PMDB), o DEM tem claro que não poderá contrariar frontalmente a orientação de Alckmin na disputa pela prefeitura paulistana. O governador deu sobrevida à sigla no Estado quando ela sofria ataque especulativo do PSD de Kassab.

Em suspenso Com o anúncio da aposentadoria política do vice Frank Aguiar (PTB), Luiz Marinho (PT) tenta conter a disputa por esse posto na chapa com a qual pleiteará a reeleição em São Bernardo. O prefeito disse ao secretariado que o assunto será tratado a partir de março. Como pretende concorrer ao governo paulista em 2014, o vice poderia ganhar de presente dois anos de mandato.

Prerrogativa 1 Na semana passada, cercado de caciques peemedebistas em jantar na casa de Michel Temer, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro defendeu mudança constitucional que permita aos ministros do STF indicar um novo membro da Corte caso o presidente da República demore mais de um mês para fazê-lo.

Prerrogativa 2 Kakay, como é conhecido o criminalista, argumenta que a vacância prolongada dá ao Executivo o poder de influenciar em alguma medida a pauta do Supremo, pois certas matérias exigem quórum mínimo de oito ministros. Com frequência, há entre os 11 membros do tribunal quem esteja em viagem ou de licença.

Hiato Cem dias se passaram entre o anúncio da aposentadoria de Ellen Gracie e a escolha de Rosa Maria Weber Candiota para substituí-la. A indicada ainda terá de ser sabatinada pelo Senado.

Penta Além do ex-velejador olímpico Lars Grael, o novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, conversou com o ex-jogador de futebol Cafu.

Assíduo Lula conta aos que o visitam que, desde o anúncio de sua doença, recebe telefonemas diários de José Sarney. Na sexta-feira passada, o presidente do Senado foi a São Bernardo do Campo.

tiroteio
"De tanto peso, tanta bala perdida e tanto esforço para permanecer no cargo, apesar das contradições, acho que a memória do ministro do Trabalho foi embora."

DO SENADOR AGRIPINO MAIA (DEM-RN), sobre Carlos Lupi haver negado em audiência no Congresso qualquer relação com Adir Meira, dono de rede de ONGs, com quem viajou pelo interior do Maranhão.

contraponto
Eternamente jovem

Ao receber os atletas que foram ao Panamericano, Dilma fez questão de saudar Bernard Rajzman, chefe da delegação brasileira em Guadalajara.

-Você é uma referência para a minha geração!- afirmou a presidente sobre o ex-jogador de vôlei, inventor do saque "jornada nas estrelas".

Assessores palacianos presentes à cerimônia se divertiram com a pequena confusão de Dilma, nascida nos anos 40. Bernard, que veio ao mundo na década seguinte, destacou-se entre o final dos 70 e início dos 80.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

GOSTOSA


RUBENS RICUPERO - Corrupção e declínio



Corrupção e declínio
RUBENS RICUPERO
FOLHA DE SP - 14/11/11

Temos problemas parecidos aos italianos, mas a agenda brasileira é ditada por queda de ministros e escândalos
Ao contrário do que sustentam alguns politicólogos, a corrupção inseparável do presidencialismo de coalizão praticado no Brasil acabará por gerar crises crescentes de governabilidade até ocasionar o declínio da economia e a destruição do regime político. Os que se fixam apenas nas maiorias legislativas não enxergam dois fatores que solapam o sistema na raiz.

O primeiro é a destruição da confiança, base, como ensinava Bobbio, da democracia. O fenômeno já abarca entre nós quase a totalidade da opinião pública informada. Ninguém mais acredita que partidos e candidatos tenham outro objetivo que não seja o enriquecimento rápido e ilícito. No limite, a perda de confiança conduz a explosões de cólera conforme vem ocorrendo nos países árabes, onde a causa principal da revolta das multidões é o protesto contra a injustiça e a corrupção dos governantes. Em nossa história esse sentimento desempenhou papel crucial na mobilização da classe média nas crises do suicídio de Vargas, da eleição de Jânio, do impedimento de Collor, e, ao lado do anticomunismo, do golpe de 1964. O governo se felicita com razão da expansão dos setores médios e sua transformação em maioria, mas deveria lembrar que o comportamento político da classe média se caracteriza pela intolerância ante a corrupção. À medida que o setor se expande, essa intolerância só tende a aumentar.

O segundo fator subestimado é o preço crescente, em termos econômicos, dos arreglos com partidos. Argumenta-se que o dinheiro envolvido na corrupção é insignificante comparado ao tamanho da economia. Pode ser verdade em relação às somas do suborno e da extorsão. O problema está no custo astronômico da multiplicação de ministérios inúteis, cargos supérfluos, perda de eficiência, irracionalidade na aplicação de recursos, incompetência na escolha e gestão de projetos dos quais são exemplos o trem bala e Belo Monte. E o custo das reformas que não se fazem porque mexem com os interesses dos partidos da coalizão? No início dos 1970 o setor público poupava 6% do PIB, parte do qual investido em infraestrutura de energia e transportes. Hoje, o governo é deficitário e não consegue investir. Quanto dessa perda se deve ao custo político da coalizão? Por que um presidente como Lula nem sequer tentou propor a reforma da estrutura sindical herdada do corporativismo fascista apesar de ser uma das bandeiras históricas do seu partido?

Por décadas a Itália foi também governada por coalizões corruptas e ineficazes. Não tem importância, alegava-se, pois o dinamismo e a inovação das pequenas empresas garantiam o crescimento. A ilusão se desfez quando o fim do regime terminou esclerosando a economia. Em grau distinto, alguns de nossos problemas se parecem aos italianos: crescimento lento, investimento baixo, incapacidade de aumentar produtividade e competitividade, aposentadorias precoces. Política doente contagia a economia. O sintoma de nossa doença é que, em vez de ser dominada por essas questões, a agenda brasileira é ditada semana após semana pelos escândalos de corrupção e a queda de ministros.

Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.

LUIZ FELIPE PONDÉ - Ontologia leviana dos seios


Ontologia leviana dos seios 
LUIZ FELIPE PONDÉ
 Folha de SP - 14/11/11


Hoje acordei um tanto leviano. Em dias assim, falo a sério de filosofia. O niilista respira identificando em toda parte a morte da metafísica. Pra quem não sabe, a metafísica é a "ciência" segundo a qual existiria um mundo de formas eternas e plenas, invisível aos olhos, mas visível ao "espírito".

Engraçado como muita gente combate a artificialização da beleza do corpo em nome de uma beleza "natural". O que essa gente não entende é que se a metafísica morreu, a existência de uma natureza "natural" também morreu, porque tudo neste mundo da matéria é impermanente, vago, impreciso, e, acima de tudo, dolorido.

Com a morte de Deus (símbolo máximo da morte da metafísica), o corpo velho é apenas um corpo feio e decadente. Se Deus não existe, toda beleza artificial é permitida. Logo, viva o silicone.

Mas não quero falar de Deus, quero falar de seios.

A vida pode ser miserável e pequena. Triste constatação. Mas miserável pode ser apenas a constatação de que anatomia é destino, como dizia Freud. O corpo, essa massa mortal que perde a forma com o tempo, é nosso lar, uma casa em que habitamos e que nos abandona, deixando-nos a herança do pó.

"A Pele em que Habito", título do novo e maravilhoso filme de Almodóvar, define nosso destino. Mas não vou falar do filme, pois é aquele tipo de filme de que quanto menos se fala, melhor, porque quando se fala dele, corre-se o risco de falar demais.

O freudiano, agostiniano e dostoievskiano Nelson Rodrigues, o maior filósofo brasileiro, escreveu um livro chamado "Asfalto Selvagem, Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores", no qual a heroína Engraçadinha, segundo ele, seria infeliz porque tinha seios belos demais.

O mundo não perdoa a (a falta de) beleza, seja ela visível ou invisível. Por um seio bonito, mata-se e morre-se. No mínimo paga-se caro.

Acho que o SUS deveria pagar cirurgias plásticas para mulheres pobres colocarem silicone nos seios. Por que não? Travestis gozam de cirurgias de mudança de sexo, por que nossas mulheres não deveriam ter o direito de ficarem mais belas?

Ontologia é a disciplina da filosofia que estuda as essências das coisas e dos seres vivos. A ontologia diz o que você é. A ontologia da mulher passa pelos seios, pelas pernas e pela doçura, assim como a do homem pela potência e pelo dinheiro. O resto é mentira.

Tanta tinta corre no mundo em nome da política e da economia, e, ainda assim, os seios podem decidir a vida e o amor verdadeiro. Diante deles, a alma desfalece em desejo. Como disseram filósofos no passado, se o nariz de Cleópatra fosse diferente, a história do Ocidente teria sido outra.

Fala-se muito que devemos dar valor à alma, ao que se tem "dentro de si", ao que se "é", e não ao que se "tem", mas, o dia a dia, aquele mesmo em que acordamos atordoados pela constante constatação de nossas carências e impotências, parece dizer o contrário. O futuro pode sim ser julgado pela beleza dos seios.

Isso pode ser um indicativo da solidão do mundo no qual só a matéria existe. O niilismo, assim como o Demônio, o maior de todos os humanistas, respeita a angústia das feias.

Este fato, como todo fato obscenamente verdadeiro, pede silêncio de nossa parte. Mas eu, que peco constantemente em nome do vício, confesso: as pessoas quase sempre fazem tudo pelo que podem ter e não pelo que podem ser. E, muitas vezes, o "ser" é decorrente do "ter". E não falo de grana, falo de seios.

Fosse Platão um admirador do sexo frágil, abriria seu diálogo "O Banquete" (sobre o amor) pela ontologia dos seios da mulher.

Sendo assim, a indústria da beleza deveria receber maior atenção da filosofia e não apenas suas pedras de desprezo.

Colocar silicone pode ser um pedido discreto de amor. Uma forma tímida de buscar o olhar negado. Com o tempo, a forma dos seios abandona o mundo, ficando presa no mundo miserável do passado. Não se pode pegar com a mão ou com a boca a lembrança dos seios perdidos, apenas a forma dos seios reconstituídos.

A beleza artificial é uma batalha discreta contra o vazio do corpo e da alma.

ALMIR PAZZIANOTTO PINTO - O menino enfermo


O menino enfermo
ALMIR PAZZIANOTTO PINTO
CORREIO BRAZILIENSE - 14/11/11

Este artigo pretende ser a fotografia em 3x4 da realidade social brasileira, em flagrante contraste frente à propaganda ufanista do governo. Relata o site Migalhas que determinada criança de 2 anos, identificada como V.E., vítima de hidrocefalia, foi conduzida pelos pais à unidade do SUS no início do mês de maio, da cidade de Juína, Estado de Mato Grosso. Trata-se de grande município, com cerca de 26.300km² e 42 mil habitantes, encravado na fronteira com Rondônia, distante 720km de Cuiabá, e rodeado por magníficas propriedades, onde são cultivados o algodão e a soja, e criados rebanhos bovinos.

Frente à inexistência de recursos locais e nas localidades próximas, em 2 de junho o médico responsável pelo atendimento requisitou assistência hospitalar na capital do estado, onde o pequeno deveria ser internado em UTI pediátrica, para procedimento cirúrgico.

Baldados os esforços do médico e impossibilitada a família de arcar com despesas de viagem, hospedagem e tratamento, em 12 de agosto o Ministério Público estadual recorreu à Justiça Civil, com base no Estatuto do Menor e do Adolescente, para que o estado assumisse as responsabilidades diante da criança enferma. Na mesma data, o juiz de direito dr. Gabriel da Silveira Matos ordenou, mediante despacho nos autos, que a Secretaria da Saúde, dentro de cinco dias, designasse o hospital que internaria o paciente, sob pena de multa diária de R$ 30 mil.

Transportada em ambulância municipal e munida do mandado judicial, a família percorreu três hospitais cuiabanos, sem obter sucesso, sob a fria alegação de falta de vaga. Em 7 de outubro, o Ministério Público voltou à carga, desta vez para pedir o bloqueio de verbas publicitárias, ou tributárias, que seriam destinadas ao custeio da cirurgia em instituição particular.

Para ser breve, o menino e os pais permaneceram desamparados, à espera de alguma providência do governo de Cuiabá. Diante da dramática situação, o juiz de direito de Juína, (conhecida, segundo página local da Internet, como esgoto a céu aberto), sob o fundamento de estado de calamidade pública, e apoiado na Lei Complementar nº 97/99, e na Lei nº 8.745/93, deliberou recorrer ao apoio das Forças Armadas.

Nesta altura do dramático episódio, pouco importa examinar os aspectos jurídicos da questão e discutir se o magistrado agiu dentro dos limites da sua competência constitucional e legal. Informado por sensibilidade poucas vezes vista, e diante da trágica situação da criança e dos pais, tomou medidas que julgou adequadas.

Em memorável despacho, o desassombrado juiz registra: “A situação que se vê, atualmente, com a saúde em Mato Grosso, longe de ser uma situação excepcional, ou momentânea de dificuldade, passou a ser constante e duradoura, pois inúmeros são os pedidos judiciais para internação de pacientes feitos já há mais de um ano. Se, ao que tudo indica, faltam leitos, a construção de mais hospitais é uma decisão discricionária do Poder Executivo, eleito para, em seu nome, eleger as prioridades. O que se constata atualmente são obras de grande porte, como estádios para a Copa do Mundo, prédios públicos confortáveis e funcionais, como os da Justiça do Trabalho, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, Justiça Eleitoral, Justiça Federal, Ministério Público, Fórum e muitos outros (de suma importância para o bom funcionamento do Estado e a garantia do estado de direito), compras de veículos, duplicação de rodovias, mas, paradoxalmente, no estado campeão do rebanho bovino, de plantio de soja, algodão e outras culturas, não se veem prédios da mesma envergadura para atender o ser humano, ou ainda mais, um garotinho de 2 anos de idade que precisa ser internado. Não se veem nem obras em andamento nesse sentido”.

A crítica contundente procede. Nada mais havia necessidade de registrar. Em poucas palavras o magistrado decreta a falência do SUS, desmente governantes que alardeiam inexistentes progressos sociais e põe em xeque a Constituição, quando diz “A saúde é direito de todos e dever do Estado” e garante, no papel, “acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

A presidente Dilma Rousseff anunciou, com estardalhaço, lançamento de programa voltado à erradicação da miséria. Não há necessidade de se chegar a tanto. Basta assegurar às famílias pobres a possibilidade de receberem tratamento médico a que têm direito, como seres humanos.

MALVINA TUTTMAN - O ato de aprender e ensinar, questão ética

O ato de aprender e ensinar, questão ética
MALVINA TUTTMAN
FOLHA DE SP - 14/11/11

O Enem já se mostrou exitoso; o que está hoje em discussão, portanto, é o comportamento que fere a ética de profissionais que se intitulam educadores

Pensar o significado da educação implica ir além de uma observação simplista, fragmentada, que se ocupa, apenas, em analisar partes do processo educacional.

É necessário reeducar o modo de olhar e perceber os princípios e os valores que estão subjacentes às práticas em exercício nas instituições de ensino. Refiro-me, especialmente, à questão da ética.

Paulo Freire, em suas obras "Pedagogia da Autonomia" e "Pedagogia da Indignação", de modo incisivo, aborda essa temática denominada por ele de ética universal.

Freire aponta que os educadores devem exercitar uma "ética inseparável da prática educativa". Esse exercício deve se concretizar no cotidiano, na prática diária.

Ainda, segundo o autor, é preciso que o educador possa "testemunhá-la (a ética), vivaz, aos educandos". Fortalecida por suas palavras, indago-me: o que estará pautando o ato de ensinar e aprender em nossas escolas?

O fato isolado da apropriação indevida de questões sigilosas de um exame nacional me faz, enquanto educadora, refletir sobre a atualidade dos pensamentos de Paulo Freire em relação a essa atitude.

Onde estão os princípios da solidariedade? O fortalecimento do espírito público? Será que a ética do mercado, já denunciada por Freire, que se atrela a interesses pessoais de uma pequena parcela da sociedade brasileira, está se sobrepondo à dignidade que deve pautar a ética universal defendida por ele?

Tão importante quanto avaliar todo o processo de elaboração ou aplicação de um exame ou algo similar é rever as atitudes, as formas de agir de educadores. Isso também deve ser pautado pela sociedade.

Que cidadãos estamos formando quando expomos centenas de estudantes ao constrangimento de receber e ocultar informações privilegiadas? Queremos que valores como a mentira e a fraude façam parte dos ensinamentos às futuras lideranças do nosso país?

É gratificante saber, entretanto, que, apesar de possíveis influências negativas, jovens de 16, 17 anos já têm presentes em sua formação a preocupação com o outro, com o respeito à verdade. Pude perceber isso quando alunos, indignados, procuraram o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) sem receio de expor livremente a verdade.

Nesse momento, senti a força de outro tipo de educação, que vai além da escolar: a educação familiar. É preciso, mais do que nunca, fortalecer a eticidade. O currículo de nossas escolas deve considerar mais que conteúdos acadêmicos.

O nosso compromisso como educadores é o de agir coerentemente com princípios éticos. Paulo Freire nos ensina que a conduta do professor educa mais do que a simples abordagem conteudista.

Como diz Freire, "a força do educador democrata está na sua coerência exemplar: ela que sustenta sua autoridade. O educador que diz uma coisa e faz outra, eticamente irresponsável, não é só ineficaz: é prejudicial".

Como professora há mais de 40 anos, posso afirmar que o que ocorreu em Fortaleza é um caso isolado. Porém, precisamos ficar atentos ao que está acontecendo. Todos somos responsáveis. Não deixemos que mudem o foco do real significado dessa lamentável realidade.

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que ocorreu nos dias 22 e 23 de outubro, acompanhado por toda a sociedade, já se mostrou exitoso, tanto do ponto de vista pedagógico como operacional.

O que está em questão não é o Enem, e sim o comportamento que fere a ética de profissionais que se intitulam educadores.

O Inep tem a clareza de que é preciso, cada vez mais, aprimorar todo o processo. Ainda há muitas questões a serem aprofundadas, e esse instituto está pronto para a tarefa.

MALVINA TUTTMAN é presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Foi reitora da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Brasil exporta modelo de financiamento agrícola
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 14/11/11

O Brasil começa a exportar a países europeus um modelo de financiamento para o agronegócio.

Em fevereiro, a equipe brasileira do IFC (braço financeiro do Banco Mundial) recebeu representantes de Sérvia, Ucrânia, Rússia e Bulgária interessados no sistema de garantia usado na agricultura, além de membros da FAO (agência das Nações Unidas para alimentação).

O formato de penhor cedular brasileiro, que é usado como garantia para obrigações futuras, foi replicado para a Sérvia e aguarda para ser votado lá, segundo Renato Buranello, do escritório Demarest e Almeida Advogados, que adaptou a experiência brasileira para a legislação daquele país.

"A Sérvia estudou a CPR [Cédula de Produto Rural], que representa uma obrigação de entrega do produto, uma garantia. Havia um projeto de lei que buscava criar o que chamamos de penhor futuro, mas não havia um paradigma", diz Buranello.

Os outros países devem seguir a Sérvia, segundo Luiz Daniel de Campos, oficial de investimentos para o setor de agronegócio no Brasil do IFC.

"Existe uma carência desse tipo de legislação no Leste Europeu. O Brasil tem experiência. Eles não têm financiamento privado para a agricultura e estão buscando estimulá-lo", diz.

FOCO NO SUL
A carioca Óticas do Povo investirá R$ 90 milhões para entrar no Sul do país. A empresa pretende abrir até 54 lojas próprias na região nos próximos quatro anos.

A primeira foi inaugurada há três semanas em Florianópolis. Outras 11 devem ser instaladas em SC. Nos outros Estados, a empresa também começará pelas capitais. Serão 20 lojas no RS e até 22 no PR.

"Estamos caminhando para o Sul devido ao poder de compra local", diz o presidente da companhia, Manoel Carlos Pessanha.

Após se estabelecer no Sul, a empresa pretende entrar no interior de SP. Deve começar em 2015 por Ribeirão Preto, Marília e Bauru.

"O mercado de ótica é muito grande. Estima-se que 60% das pessoas que precisam de óculos não os usam. Com informação, esse número tende a diminuir."

A Óticas do Povo tem hoje 91 lojas próprias no RJ, em MG e no ES.

NÃO AGRADAM
Consumidores de 14 países consideram que 80% das marcas não satisfazem suas expectativas de bem-estar e melhoria da qualidade de vida, segundo estudo da Havas Media.

Os setores de finanças e de telecomunicações foram citados pelos entrevistados como os que apresentam as piores performances.

A pesquisa aponta, porém, que há companhias que melhoraram sua relação com os consumidores. Entre elas, a Petrobras e a empresa francesa de energia EDF.

O estudo também listou as empresas que melhoram a vida do consumidor, segundo os 50 mil entrevistados. No topo, ficou a sueca Ikea, do setor de móveis.

Cerca de 65% dos consumidores ouvidos afirmaram estar fortemente ligados à Coca-Cola. Apenas 35%, no entanto, disseram que a marca gera impactos positivos no cotidiano deles.

COTA PRODUTIVA
Os setores de serviços e administração pública são os que mais contratam pessoas com deficiência, segundo estudo que será divulgado no final deste mês pela Fiesp.

Quase metade (44,07%) dos profissionais contratados por meio da Lei de Cotas trabalha nesses segmentos.

A indústria e o comércio aparecem em seguida, com 37,26% e 14,69%, respectivamente, nos dados da Fiesp.

A pesquisa também analisa a distribuição dos profissionais no mercado.

O setor de alimentos e bebidas, por exemplo, contrata grande número de deficientes visuais devido à maior capacidade de concentração.

O levantamento faz ainda uma análise da faixa salarial das pessoas com deficiência.

Outro ponto abordado é a localização das empresas com mais de cem funcionários, que são obrigadas a cumprir a Lei de Cotas.

Ensino... Entre estudantes que usam crédito universitário, 67% são responsáveis pelo pagamento das parcelas, segundo a Ideal Invest, que faz esse tipo de financiamento.

...superior Dos cerca de 800 alunos entrevistados, 48% responderam que não estariam estudando sem a obtenção de crédito e 31% fariam um curso mais barato.

Dois em um Os escritórios de advocacia L.O.Baptista, de São Paulo, e Schmidt, Valois, Miranda, Ferreira & Agel (SVMFA), do Rio, acabam de unir suas operações.

NÚMERO
US$ 257 bilhões é a última projeção do Mdic para as exportações deste ano

"MADE IN BRAZIL"

A projeção final de exportações para este ano é de US$ 257 bilhões, segundo o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). No início deste ano, a previsão era de US$ 228 bilhões. A estimativa não será mais revista neste ano, informa o ministério.

A Abece (Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior), que também projeta as exportações na "faixa de US$ 255 bilhões", estima superávit comercial de aproximadamente US$ 30 bilhões e intercâmbio comercial de aproximadamente US$ 480 bilhões em 2011.

"No primeiro semestre de 2012, essa corrente de comércio deve superar meio trilhão de dólares", de acordo com a entidade que representa empresas de trading.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ