terça-feira, novembro 01, 2011

RODRIGO WOLFF APOLLONI - Cândido e o tonel de piche



Cândido e o tonel de piche
RODRIGO WOLFF APOLLONI
GAZETA DO POVO - 01/11/11

Quando, há algum tempo, fui convidado para es­­crever uma coluna semanal para esta Ga­­zeta do Povo, cogitei a possibilidade de não abordar temas relacionados à política brasileira. Ba­­sicamente, por não me sentir competente para tanto, em especial diante das muitas excelentes análises disponíveis em jornais e blogs. Política, de fato, jamais foi a minha praia, a não ser, talvez, a de outros tempos, da Antiga China ou da Revolução Francesa, que ocupa meu espírito em prazerosas leituras nos dias de chuva.

Ainda assim, nos últimos tempos me senti tentado a escrever sobre o tema. Para expressar um sentimento pessoal de desconfiança, repulsa e impotência. Não sei, aliás, se isso é escrever sobre política. Pelo menos, não deveria ser. Fa­­to é que o caso envolvendo o ministro dos Esportes – rocambole de pilantragem, ideologia cara de pau e alianças de governo pouco recomendáveis – foi a tardia gota d’água, e eu comecei a me sentir mergulhado em um tonel de piche.

Nesse processo, passei a desconfiar também da Copa do Mundo e da Olimpíada, dois dos eventos mais legais que um país pode conhecer. Se me perguntassem hoje, eu mandaria ambos às favas, imaginando a enormidade da incompetência e da corrupção presumivelmente envolvidas com sua consecução. E argumentaria observando, filosoficamente, que, antes de se arrumar para o mundo (com obras cuja produção não nasce do apelo popular, mas da localizada demanda dos eventos desportivos), um país deveria se arrumar para os seus.

Nesse vagalhão de niilismo, é claro, deixei de perceber os mi­­lhares de cidadãos honestos – operários, atletas e, mesmo, políticos – que estão trabalhando para que tudo corra bem; e sacrifiquei a saudável sensação de orgulho e felicidade que, desde já, contamina muitos de meus compatriotas.

É uma pena, principalmente porque não vejo, pelo menos no curto prazo, qualquer possibilidade de mudança. Não do Brasil, mas – coisa bem pior – de meu próprio olhar, que, de repente, passou a desconfiar de tudo, das ideias políticas à esfericidade da bola oficial da Copa.

ROSELY SAYÃO - PRESOS NO MUNDO SOLTOS NA REDE



ROSELY SAYÃO 
PRESOS NO MUNDO SOLTOS NA REDE
FOLHA DE SP - 01/10/11

Se a criança não aprende a ter habilidade social no mundo real, como poderá ter no virtual?

UMA PESQUISA apontou, em 2005, as crianças brasileiras como as que mais assistiam à televisão. Será que a situação mudou de lá para cá? Ou nossas crianças continuam campeãs nessa modalidade?
Pode ser que tenham trocado a televisão pelo computador, porque uma pesquisa atual revelou que nossas crianças são as que acessam as redes sociais mais cedo. Ou será que somaram as horas em frente à TV com as horas diante do computador?
Muitas crianças, aos nove anos, já tinham telefone celular e o usavam com intimidade. Agora, com essa mesma idade, muitas já possuem vários outros aparelhos, com funções variadas. O tablet é apenas mais um deles que permite acesso à internet.
Criar páginas e perfis em sites de relacionamento é uma entre as várias atividades que os mais novos podem realizar na internet.
O curioso fica por conta de um detalhe: esses sites não são indicados para crianças. Pelo menos, não para as que têm menos de 13 anos.
Muitos insistem que nossas crianças se mostram cada vez mais precoces. Apostam que elas sabem o que querem, que usam todos os recursos da informática de forma até melhor que os próprios pais e outros adultos da família, que têm vida social intensa etc.
Por outro lado, com a violência urbana, as crianças têm sido cada vez mais tuteladas em sua relação com o mundo real.
Os pais temem que seus filhos transitem pelo mundo público desacompanhados. Desse modo, crianças e adolescentes vão de casa para a escola sempre levados pelos pais ou por seus substitutos, assim como para festas e outros locais que frequentam. Mas, nesses locais, ficam sozinhos ou com seus grupos.
É comum vermos grupos de crianças entre nove e 12 anos nos shoppings sem a companhia de adultos, não é?
O mais provável é que seus pais as levem até lá e marquem uma hora para buscá-las depois que a programação planejada terminar.
Mas, nesse intervalo de tempo, as crianças ficam sozinhas. Como o local é fechado, os pais consideram a situação segura.
Da mesma maneira, consideram segura a relação dos filhos com a internet.
Mesmo com todos os alertas que têm sido dados, o mundo virtual parece bem menos ameaçador do que o real, para os pais.
Agora, vamos juntar algumas informações que temos.
Escolas têm tido dificuldade para contribuir positivamente com a socialização de seus alunos no espaço público. A explosão de pequenas violências entre eles no espaço escolar -fenômeno que tem sido chamado de bullying indiscriminadamente- é uma prova disso.
Além disso, a própria competição escolar por boas colocações, classificação etc. em nada ajuda na socialização dos mais novos.
Quanto aos pais, esses socializam seus filhos para o convívio no espaço privado, que é marcado pela afetividade. E, nas cidades, não há outro espaço além da escola que tenha a função de contribuir de maneira educativa com o processo de socialização dos mais novos.
Isso significa que eles têm crescido sem aprender, no conceito e na experiência, a conviver respeitosamente com o outro com quem não tenha vínculos afetivos.
E tem mais: também não aprendem a proteger a sua intimidade e a sua privacidade. Aliás, talvez nem aprendam o sentido disso.
E, quem não aprende a ter habilidade social no mundo real, como poderá ter habilidade no mundo virtual?
Precisamos pensar nisso antes de considerar os inúmeros e reais benefícios que as crianças podem colher no mundo da internet.

CELSO MING - Jogo de empurra



Jogo de empurra 
CELSO MING
 O Estado de S.Paulo - 01/11/2011

É indisfarçável o jogo de empurra no Grupo dos 20 (G-20) países economicamente mais importantes, cujos chefes de Estado têm encontro marcado nesta quinta-feira em Cannes, na França.

Sob o argumento de que a crise é global e que exige ação solidária, os mesmos europeus que não se arriscam a colocar mais dinheiro no seu Fundo querem que emergentes, detentores da maior pilha de reservas internacionais (US$ 6,8 trilhões no fim do segundo trimestre, segundo o FMI, ou 68% do total) ajudem a sustentar o passivo do bloco do euro.

Enquanto isso, dirigentes dos Estados Unidos advertem que a Europa não fez tudo o que deveria para resgatar o euro e sua economia e que, assim, não há como ajudá-la. Enfim, há coisas que o rei tem de fazer sozinho, sem ajuda dos seus pajens.

Uma das questões que a presidência do G-20, hoje nas mãos da França, quer equacionar é a reforma do Sistema Financeiro Internacional. Desde 1971, quando o então presidente americano, Richard Nixon, suspendeu a conversibilidade do dólar em ouro, distorções se acumulam.

As taxas de câmbio estão submetidas a solavancos (excessiva volatilidade), fato que prejudica o planejamento e o cumprimento dos contratos tanto das empresas como dos governos. A insegurança tem provocado enormes emissões de moeda pelos grandes bancos centrais. Isso tende a acirrar guerras cambiais em alguns países, ou seja, levam os bancos centrais a ações defensivas para impedir valorização demasiada das próprias moedas. As distorções produzem, também, grandiosas transferências de capitais para emergentes, cujo efeito é a acumulação de reservas (veja gráfico). Apenas no G-20, a soma de déficits e superávits saltou de US$ 580 bilhões (2,3% do PIB dos 20) para US$ 2,5 trilhões (5,6% do mesmo total).

A França propõe reforçar a coordenação política, instituir mecanismos que reduzam a acumulação de reservas pelos emergentes e esquemas para regulação de atividades bancárias.

Tudo isso fica muito vago e inconsequente. Não haveria tantas disparidades e tamanha acumulação de reservas pelos países em desenvolvimento se os já desenvolvidos não tivessem se endividado tanto. As reservas dos emergentes são preponderantemente constituídas de títulos de dívida emitidos pelos ricos. O mesmo se pode dizer da superexposição dos bancos às dívidas soberanas. Só aconteceu porque os países avançados se endividaram demais, situação relacionada com excessivo aumento do consumo.

Ou seja, emergentes e maiores instituições financeiras se transformaram em grandes credores dos países ricos por que eles se sentiram à vontade para emitir quantos títulos de dívida quisessem. E a China só se tornou recordista entre empilhadores de reservas porque sucessivos governos dos Estados Unidos acharam muito cômodo os chineses se dispusessem a financiar seu consumo.

Isso significa que de nada adiantará um ajuste por meio de controles voluntaristas de fluxos de capital e de reforço de capitalização dos bancos, caso os países ricos não tratem de conseguir seu próprio equilíbrio fiscal – que dispense novos endividamentos.

Confira
O gráfico mostra a evolução da dívida líquida do setor público até setembro deste ano.

Reservas dobradas. O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, declarou nesta segunda-feira em Cingapura que a Petrobrás tem reservas de 35 bilhões de barris de petróleo. A informação é da agência Dow Jones. O último "fato relevante sobre o assunto" revelado pela Petrobrás, em 14 de janeiro, reconhece a existência de apenas 15,3 bilhões de barris em reservas comprovadas. E a atual produção da empresa é de 2,2 milhões de barris diários.

FABRÍCIO CARPINEJAR - Pela extensão



 Pela extensão
FABRÍCIO CARPINEJAR 
ZERO HORA - 01/11/11

Há histórias que me enervam. Tenho medo de dormir até com a luz acesa. Não paro de andar pelos corredores, inquieto como um copo espírita.

São relatos que despertam a nítida sensação de que a vida é um majestoso percurso de voz e eco. Aquilo que digo num dia terá resposta no seguinte, que o melhor é ser responsável e atento desde cedo.

Minha amiga Teresa brigava muito com seu pai na adolescência. Época de reunião dançante, meias de lurex coloridas, carteiras emborrachadas.

E telefonemas longos, que custavam uma fortuna e recebiam paranoica fiscalização.

No auge dos 16 anos, Teresa tricotava fofocas com o namorado, e o pai Omar acalentava a triste mania de escutá-la pela extensão.

A quebra de sigilo telefônico acontecia pela própria família. Vigorava arapongagem amadora para descobrir o que os jovens aprontavam.

As casas contavam com dois aparelhos, um na sala e um segundo mais privativo, no quarto ou no corredor.

O trinido vinha para Teresa, e o pai protestava:

– É seu namorado, atende logo e não demora, que estou esperando ligação.

Todos sempre esperavam alguma ligação. Todos sempre demoravam. Todos sempre reclamavam.

Teresa colocava os pés na parede, enrolava os cabelos com uma caneta e não cansava o ouvido. O pai fingia que ia dormir e acompanhava secretamente a serenata do casal. Criou uma série de métodos para não ser identificado. Erguia bem devagarzinho o gancho e segurava o pino com a mão esquerda para evitar ruídos. Prendia o ar, e mergulhava literalmente na correnteza verbal. De modo nenhum, suspirava ou tossia. Resistia no esconde-esconde, com taquicardia de ladrão novo. Às vezes, era desmascarado e a filha berrava:

– Pai, baixa o fone!

Na maior parte dos contatos, saía impune. Teresa odiava a bisbilhotice. Reclamava da falta de privacidade. Formulou um padrão de comportamento para censurar a intrusão fantasmagórica. Quando vinha linha cruzada, lá estava o espião. Quando a dicção falhava, lá estava o grampo.

Teresa hoje tem 50 anos. Seu pai morreu há duas décadas. Ela nunca mais ergue um gancho sem cogitar que Omar cuida dela. Tem vergonha de pensar nisso – apoiando a coisa horrível que ele fazia –, porém torce mesmo para que esteja ouvindo tudo no outro lado da linha: prevenindo maldades, aconselhando caminhos.

No meio de uma conversa comigo, bateu um desespero e ela gritou:

– Pai, não baixa o fone!

No início, não entendi: – Pai? Que pai?

Depois fui entendendo que morrer é não ser visto e permanecer vivo na extensão.

JARBAS PASSARINHO - Difícil biografia


Difícil biografia
 JARBAS PASSARINHO
CORREIO BRAZILIENSE - 01/11/11

Não sou biógrafo, mas um escrevinhador que viveu 32 anos de vida pública em que conheceu a natureza humana, capaz de revelar, a um só tempo, a grandeza e a miséria com que nos encanta e desencanta, de um lado, a admiração e, de outro, a decepção. O vendaval de denúncias que tem atingido o ministério da presidente Dilma Rousseff é tão chocante que espanta. O leitor da mídia se confunde no julgamento de quem é, em cada caso, o verdadeiro e o dissimulado. 
Houve casos decepcionantes para a defesa. Um que não pôde justificar o crescimento do patrimônio na coincidência com o fato de ser chefe da campanha eleitoral da então candidata à Presidência da República, o que ensejou maledicências. Outro que obteve ressarcimento com dinheiro público da despesa de motel, pelo Senado, incomumente assaltado na idade avançada, em que são raros os desejos eróticos do “amor desviado” de Pausânias, na Afrodite sensual do discurso no Banquete de Sócrates, memorizado por Platão. Um terceiro defendeu-se cabalmente de culpa, um técnico que chefiava o Dnit, do Ministério dos Transportes. Indignado, praticamente desafiou a autoridade da presidente da República. Recebeu apoio do ex-presidente Lula, mas não reverteu a demissão. A altivez com que se houve chegou a causar admiração. 
De todos, porém, o mais surpreendente foi o então ministro do Esporte. A Fifa envolveu-se indevidamente nas denúncias. Chegou a considerá-lo impossibilitado de negociar a Lei Geral da Copa do Mundo. A intervenção salvou-o, dada a inevitável reação da presidente, que lhe concedeu o benefício da dúvida. Disse que dela recebera garantia de permanência no posto. Apoiado vigorosamente por seu partido, aumentou a arrogância, em especial após o apoio do ex-presidente Lula, que se empenhou em fazê-lo ostensivamente. Enfrentou o Legislativo, blindado contra esperada agressividade da minoria decepcionante. O procurador-geral negou pedido dos líderes governistas para não oferecer denúncia ao Supremo contra o ministro. Disse–lhes que os indícios são veementes e não os atendeu. 
Presunçoso, o ex-ministro afirmou que “se sentia cada vez mais indestrutível”, mesmo quando o Supremo mandou investigá-lo. Foi a gota d’água em que se afagou . Os arroubos com que falava de defender sua honra contra a denúncia de seu delator não trazia em sua defesa dados concretos. Argumentou que o agressor, “um bandido”, prometeu provas. Não as apresentou, porque não as tinha. A questão seria resumida em palavra de um contra a de outro, chefe de duas ONGs conveniadas com o Ministério do Esporte, que já haviam recebido mais de R$ 3 milhões. A acusação era o cumprimento de ameaça se elas não continuassem recebendo o benefício, razão semelhante à de Roberto Jefferson ao desencadear o mensalão. 
Tudo ficaria nisso não fosse o jornalismo investigativo, que trouxe as provas cabalmente ao destruir a tese da presunção da inocência com que o ex-ministro fora generosamente protegido pela presidente da República de julgamento antecipado. E as provas evidenciaram que se tratava não de calúnia do acusador, mas de delação de uma quadrilha, dedicada ao desvio do dinheiro público, de que participavam ONGs depravadas pelo PCdoB. 
Barbara Tuchman, a notável historiadora americana, no livro A prática da história indaga se “a história pode ser escrita quando ainda fumega”, e acrescenta: “Quem são os historiadores, os contemporâneos do acontecimento ou aqueles que vêm depois?”. Prefiro a contemporaneidade, apesar do risco dos humores da paixão, particularmente, como é o caso se estiver preso a uma tese ideológica. Bárbara insiste que o historiador neutro e objetivo não existe, mas uma opinião comedida esfria o julgamento e permite uma avaliação mais justa. Suponho oportuno o debate sobre o ex-ministro do Esporte, que negou até à exaustão o comprometimento com a corrupção e que seu afastamento do ministério foi decisão da presidente, de fundo político. 
Dê-se por indiscutível que o delator, que iniciou a sua via crucis, é desqualificado moralmente e o ministro do Esporte é responsável pelo aparelhamento do Estado, designando para cargos de relevo do ministério militantes aguerridos do seu partido político, o PCdoB. Serviu mais aos interesses partidários que ao esporte. Ele pode até julgar-se vítima da parcialidade da imprensa na revelação das provas. Lembrará o que Churchill disse do historiador Macaulay, que lhe era crítico implacável: “Esqueceram de avisar-me que este historiador de cativante estilo faz história selecionando fatos positivos para quem quer enaltecer e negativos para detratar”. O noticiário teria recorrido apenas aos fatos negativos para retratá-lo.

ANCELMO GOIS - O poder da fé


O poder da fé
ANCELMO GOIS 
O GLOBO - 01/11/11

Gilberto Carvalho, que foi com Dilma ontem ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, levou para Lula um terço benzido por um padre de Brasília.

Dia de visita
Zé Dirceu vai interromper um dolce far niente em Fernando de Noronha para ver Lula amanhã.

Calma, gente
O ex-ministro Orlando Silva entrou estes dias no Bar do Calaf, em Brasília, e foi vaiado.

Rei do gado
Roberto Carlos, o Rei, comprou sábado, em pessoa, 20% de uma vaca da raça nelore no leilão de gado na Agrozurita, de Ivan Zurita (leia-se Nestlé).
Vai pagar a mimosa em 20 parcelas de R$ 73 mil.

Modelo Einstein
A organização social ligada ao Hospital Albert Einstein, de São Paulo, negocia sua vinda para o Rio.
Deve administrar o Hospital Pedro II, em Santa Cruz, que a prefeitura herdou do estado.

Se a moda pega...
O governo português, por causa da crise econômica, cortou os salários dos gestores de estatais e dos presidentes de institutos públicos.
Os primeiros não poderão ganhar mais que o primeiro-ministro (5.300 euros, ou uns R$ 14.000 mensais). Os outros vão receber até um teto de 4.512 euros (R$ 11.731). Há casos de executivos com vencimentos de 30.000 euros que terão o salário reduzido a um sexto do atual. 

‘Love of my life’
A Globo Livros comprou os direitos no Brasil do livro “Queen — História ilustrada da maior banda de rock de todos os tempos”, do britânico Phil Sutcliffe.
Lança em novembro. A obra narra a trajetória do grupo e traz mais de 500 imagens.

PARECE UMA prisão, mas é um prédio residencial, na Avenida Afrânio de Mello Franco, a uns 200 metros da... 14a- DP, no Leblon, o bairro dos vips, área nobre. A cena chamou a atenção do coleguinha Edney Silvestre, da TV Globo, que passa sempre por ali e reparou na novidade

Diário de Justiça I
A 6a- Câmara Cível do Rio determinou que a gigante L’Oreal pare de comercializar produtos com a imagem da modelo Juliana Galvão, sob pena de multa de R$ 100 mil por violação.
Juliana alega que a empresa, sem seu consentimento, usa uma foto sua, tirada em 1999, numa grande campanha de produtos de coloração de cabelos.

Diário de Justiça II
O Banco do Brasil pagou ontem, numa ação trabalhista, R$ 48,7 milhões a 190 bancários de Nova Friburgo, RJ, após mais de 20 anos de batalha judicial por perdas salariais, segundo o advogado Felipe Santa Cruz.

Última forma
A agência de propriedade intelectual Momsen & Leonardos continua firme e forte, ao contrário do que saiu aqui ontem.
Só um sócio, Luiz Leonardos, do total de 22, saiu para abrir outro escritório. Melhor assim.


Culto das princesas
Sarah Sheeva, filha de Baby Consuelo e Pepeu Gomes, tem comandado um culto evangélico no Rio que chega a reunir mais de 500 mulheres no Clube Olímpico, em Copacabana.
É chamado de “Culto das princesas”. Na pregação, Sarah ensina à mulherada a... “ser princesa e não cachorra”. Veja um vídeo no site da coluna.

Segue...
No culto, Sarah se veste de princesa.
Grande parte dos fiéis é de adolescentes. Homens com mais de 2 anos de idade não entram.

A vida como ela é
Nelson Rodrigues, que faria 100 anos em 2012, será enredo do Bloco do Barbas, do Rio, presidido por seu filho Nelsinho.
Uma ideia é a porta-bandeira desfilar de noiva, em referência à famosa peça do mestre.

Aliás...
Carlos Alberto Parreira também vai homenagear Nelson.
Em dezembro, o Footecon, seu fórum de futebol, terá painel sobre o papel do Anjo Pornográfico na crônica esportiva.

Champanhe sob sol
A Praia do Pepê, na Barra, no Rio, já dita novidades para o próximo verão.
A moda ali é beber minigarrafas de espumante, com direito a baldinho de gelo na areia.

Circo no cemitério
Para animar os visitantes, amanhã, Dia de Finados, o cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, no Rio, contratou o... circo de Marcos Frota.

MARIETA SEVERO dá, digamos, um cheiro em Júlia Almeida, a atriz que expõe, na Livraria Argumento, no Leblon, fotos que fez em viagens pelo mundo

TIAGO ABRAVANEL, o talentoso neto de Sílvio Santos que tem lotado o Teatro Casa Grande com um musical sobre a vida de Tim Maia, emociona-se com a reação da plateia. Não é fofo?

PONTO FINAL
Deve ser só coincidência. Mas repare nos vestidos de Gisele Bündchen na capa da revista “Haper’s Bazaar”, que está nas bancas, e de Sophie Charlotte, a atriz de “Fina estampa”, na campanha de uma grife. Como diz a humorista Dadá Coelho, “figurino repetido não preenche álbum”.

GOSTOSA


ALON FEUERWERKER - Intolerável


Intolerável 
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 01/11/11

Nas entrelinhas O ataque de ontem contra a repórter da TV Globo, mesmo isolado, deve ser entendido num contexto. Um certo ambiente de glamurização da agressividade e da violência, gratuitas ou não. Pouco a pouco, tenta-se legitimar o ato de coagir, para impor fatos consumados 


Uma jornalista da TV Globo foi vítima de violência física e impedida de continuar a entrada ao vivo no telejornal, quando reportava em rede nacional sobre o tratamento médico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diagnosticado no sábado com câncer de laringe. 
Foi um fato isolado? Produto apenas da estupidez individual? Talvez. Se foi ou não, tanto faz, trata-se de matar o problema na origem. 
O Brasil é uma democracia, e jornalistas — como outros profissionais — devem ter garantido o direito de trabalhar em segurança. 
Independentemente da área de atuação, do veículo que os emprega ou da linha editorial do material jornalístico que produzem. 
Há certos limites na vida em civilização. A proteção absoluta à segurança física dos jornalistas no exercício profissional é um limite. Quando se cede à tentação de relativizar esse princípio, as coisas estão a caminho de piorar, e muito. 
O ataque de ontem contra a repórter, mesmo isolado, deve ser entendido num contexto. Um certo ambiente de glamurização da agressividade e da violência, gratuitas ou não. 
Pouco a pouco, tenta-se legitimar o ato de coagir pela força, para impor fatos consumados. Na política ou fora dela. É mais rápido e mais fácil. E mais truculento. 
E dá bem menos trabalho do que usar a inteligência ou a capacidade de persuasão. Em vez de gastar tempo tentando convencer de que você está certo, criar por meio da mobilização violenta de grupos constrangimentos insuperáveis, a não ser que o constrangido reaja na mesma moeda.
No âmbito da política, é até possível discutir a legitimidade dessa forma de expressão, quando se vive sob uma ditadura. Mas numa democracia? Qual é o sentido disso? Qual é a mensagem do manifestante que no Estado democrático de direito esconde o rosto com um pano e vai entrincheirar-se? Ou sai lançando pedras e coquetéis molotov? 
Pois a raiz dos fenômenos é a mesma. 
O Estado democrático de direito é uma conquista a preservar. Nas relações político-sociais e também nas individuais. E ele garante a liberdade até o ponto em que alguém não usa essa liberdade para suprimir o mesmo direito de outro. Simples assim. 
Aliás, nunca houve época em que o trabalho jornalístico estivesse tão exposto à crítica, à fiscalização. E tudo em tempo real. O que é ótimo. Especialmente para os jornalistas, submetidos hoje a um eficientíssimo controle de qualidade. 
Não gostou da matéria? Não gosta do veículo? Ataque nas redes sociais, na web 2.0, promova campanhas de boicote, faça o que bem entender. Mas não atravesse a linha vermelha da liberdade de expressão e do respeito à integridade alheia. 
A democracia garante também o direito de ir e vir, de participar ou não de movimentos políticos e sociais, entre outras prerrogativas. Infelizmente, parece que vamos desenvolvendo certa tolerância a reconhecer como democráticas as tentativas violentas de suprimir esses e outros direitos. 
Está na hora de acordar. Ou já passou da hora. 

OpçãoNão escrevo às segundas no Correio, então vai aqui a mensagem, com atraso. Boa e rápida recuperação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Que derrote o câncer e volte à vida normal. 
Cânceres podem ser enfrentados com sucesso. Um bom exemplo foi o vice-presidente José Alencar, cuja dignidade e valentia na doença recolheram respeito e admiração maciços. 
A ponto de nunca, jamais, os possíveis cenários decorrentes dos diferentes desdobramentos clínicos do câncer de Alencar terem sido objeto do trabalho jornalístico. 
Ou da especulação jornalística. 
É um modus operandi de que gosto. E que pretendo seguir. Espero que você, leitor ou leitora, compreenda e também respeite essa minha opção. 

ILIMAR FRANCO - Perspectiva ruim


Perspectiva ruim
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 01/11/11

O principal entrave para a liberação das emendas parlamentares, às vésperas da votação da DRU, está nos ministérios das Cidades e do Turismo. Temendo novos escândalos, os ministérios do Planejamento e da Fazenda aumentaram a fiscalização naquelas pastas, o que dificulta a liberação dos recursos. A devassa geral determinada nos convênios com ONGs é mais um ingrediente.

DRU: Tudo ou nada
Apesar de parcela do baixo clero ameaçar prorrogar a Desvinculação de Receitas da União (DRU) por apenas um ano, líderes aliados afirmam que a votação será tudo ou nada. Eles condicionam a prorrogação até 2015, como quer o governo, à liberação das emendas parlamentares. Para os líderes, estender até o final de 2012, impondo novo pedágio à presidente Dilma no ano que vem, seria passar dos limites. A base aliada viabilizou a apresentação dessa emenda pelo líder do DEM, deputado ACM Neto (BA), para mandar um recado ao Planalto de que não está de brincadeira. Dilma fará um apelo aos líderes na próxima segunda-feira.

"Vamos dar trabalho” — Paulo Pereira da Silva, deputado federal (PDT-SP) e presidente da Força Sindical, sobre emenda ao Orçamento para conceder aumento real aos aposentados que ganham acima do salário mínimo

NA BERLINDA. A dificuldade em liberar as emendas parlamentares só piora a já delicada situação dos ministros Gastão Vieira (Turismo), na foto, e Mário Negromonte (Cidades), que não têm o apoio de suas bancadas, respectivamente a do PMDB e a do PP. Os deputados peemedebistas reclamam que Vieira não os recebe e querem convocá-lo para uma reunião antes da votação da DRU.

Natimorta
Do ex-senador Heráclito Fortes (DEM-PI) sobre a CPI das ONGs, que presidiu: "Ela é um cadáver insepulto." O relator foi o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), que priorizou a discussão do marco regulatório do setor, em vez das denúncias.

Só "love"
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fundador do PSD, e o presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), não se desgrudam mais. Os dois chegaram juntos ontem à posse do novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo.

Unanimidade
A proposta do relator-geral do Orçamento, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), de criar emendas de iniciativa popular para municípios de até 50 mil habitantes deve ser excluída do texto. A iniciativa não agradou aos deputados, que perderiam assim a função de intermediários para a liberação desses recursos. O governo também não aprovou a ideia, já que seria pressionado pelos prefeitos para pagar essas emendas.

Pós-código
Um dos relatores do Código Florestal, o senador Jorge Viana (PT-AC) pretende remeter o texto para a elaboração de leis específicas de proteção da Amazônia, do Cerrado e da Caatinga, nos moldes do que já existe para a Mata Atlântica.

Alerta
O economista José Roberto Afonso alerta que, para antecipar receitas para o Rio, como compensação pelas perdas decorrentes da redistribuição dos royalties do petróleo, seria preciso flexibilizar a Lei de Responsabilidade Fiscal.

BOM HUMOR. Do prefeito de Viçosa (AL), Flaubert Filho, depois que o ministro Aldo Rebelo (Esporte) disse que não atenderia ao pedido de transferir para sua cidade natal a abertura da Copa: "Mas ele vai fazer o encerramento lá."

BATALHA. Aos amigos com quem falou depois da descoberta do câncer, o ex-presidente Lula disse: "Eu só ganho guerra difícil."

NA EPÍGRAFE do livro "A batalha do Senado", lançado na França, a jornalista Suzette Block cita frase da presidente Dilma em sua posse: "Eu prefiro o barulho da imprensa livre do que o silêncio das ditaduras."

COLOCA O VAGABUNDO NO SUS

COLOCA O VAGABUNDO NO SUS


RUBEM ALVES - Despedida



Despedida
RUBEM ALVES
FOLHA DE SP - 01/11/11

Essa crônica é uma despedida. Resolvi, por decisão própria, parar de escrever em Cotidiano.

Devo ter perdido o juízo. Minha decisão contraria um dos dois maiores sonhos de cada escritor. Primeiro, o sonho de ser um best-seller. Encontrar algum livro seu nas prateleiras da livraria Laselva, nos aeroportos. Confesso: sou vítima dessa vaidade. Mas não aprendo a lição. Nos aeroportos, vou sempre visitar a Laselva na esperança de lá encontrar um dos meus livros. Saio sempre desapontado.
O outro sonho dos escritores é ter seus textos publicados num jornal importante: ser lido por milhares de leitores. O que significa reconhecimento duplo: do jornal que os publica e dos leitores. Isso faz muito bem para o ego. Todo escritor tem uma pitada de narcisismo.
Fernando Pessoa tem um poema que diz assim: "Tenho dó das estrelas luzindo há tanto tempo, tenho dó delas..." E ele se pergunta se "não haverá um cansaço das coisas, de todas as coisas..." Respondo: Sim. Há um cansaço. A velhice é o tempo do cansaço de todas as coisas. Estou velho. Estou cansado. Já escrevi muito. Mas, agora, meus 78 anos estão pesando. E como acontece com as estrelas, há sempre a obrigação de brilhar.
A obrigação: é isso o que pesa. Quereria ser capaz de viver um poeminha do Fernando Pessoa: "Ah, a frescura na face de não cumprir um dever... Que refúgio o não se poder ter confiança em nós..." Perco o sono atormentado por deveres, pensando no que tenho de escrever. Sinto - pode ser que não seja assim, mas é assim que eu sinto - que já disse tudo. Não tenho novidades a escrever. Mas tenho a obrigação de escrever quando minha vontade é não escrever.
Não é qualquer coisa que se pode publicar num jornal. O próprio nome está dizendo: "jornal", do latim "diurnalis"; de "dies", dia, diurno; o que acontece no dia; diário.
O tempo dos jornais é o hoje, as presenças. Mas minha alma é movida pelas ausências: nos jornais, não há lugar para ressurreições.
Acho que aconteceu comigo coisa parecida com o que aconteceu com a Cecília Meireles. Escrevendo sobre ela, Drummond falou o seguinte: "Não me parecia criatura inquestionavelmente real; por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me sempre a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Por onde erraria a verdadeira Cecília, que, respondendo à indagação de um curioso, admitiu ser seu principal defeito 'uma certa ausência do mundo'"?
Deve ser alguma doença que ataca preferencialmente os velhos e os poetas. A Cecília descrevia o tempo da sua avó com "uma ausência que se demorava". E Rilke se perguntava: "Quem assim nos fascinou para que tivéssemos um olhar de despedida em tudo o que fazemos?" O sintoma dessa doença é aquilo que a Cecília disse: uma certa ausência do mundo.O místico Ângelus Silésius já havia notado que temos dois olhos, cada um deles vendo mundos diferentes: "Temos dois olhos. Com um, vemos as coisas do tempo, efêmeras, que desaparecem. Com o outro, vemos as coisas da alma, eternas, que permanecem". Jornais são seres do tempo. Notícias: coisas do dia, que amanhã estarão mortas.
E é por isso vou parar de escrever: porque estou velho, porque estou cansado, porque minha alma anda pelos caminhos do Robert Frost, porque quero me livrar dos malditos deveres que me dão ordens desde que me conheço por gente...

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Primavera em Paris


Primavera em Paris
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP 01/11/11

Perguntam-me às vezes se existe algum escritor português da nova geração que mereça atenção particular. Aconteceu na minha passagem recente pela Festa Literária Internacional de Cachoeira, na Bahia.
Pouco tenho a dizer. Leio, com disciplina espartana, a ficção portuguesa que se publica. Mas existe uma frase de James Ellroy plasmada no escritório onde trabalho que impede qualquer adesão intelectual ou emocional a ela. "Spring in Paris - who gives a shit?"A frase foi retirada das memórias de Ellroy ("The Hilliker Curse: My Pursuit of Women") e resume a minha atitude em relação à ficção moderna: escritores que escrevem com o coração na boca, ou nas mãos, não têm lugar na minha estante.
E a ficção portuguesa -a nova- está povoada por esses bons selvagens, de primitivismo embaraçoso, para quem a primavera em Paris seria pretexto para uma longa divagação adolescente. O responsável por essa praga é, naturalmente, António Lobo Antunes, um clichê sentimental que, para um país pequeno e sem uma crítica digna desse nome (há exceções, claro), oferece ao "candidato a escritor" um modelo fácil de imitar.
Pena. Eu prefiro ver a inteligência em funcionamento e, de preferência, apresentada com aquela "sprezzatura" que Castiglione aconselhava no "Livro do Cortesão": graciosidade sem esforço evidente.
É o mais difícil de atingir - exige disciplina, trabalho, experiência e talento, muito talento. Mas por vezes acontece.
Julian Barnes, 65, um dos melhores escritores ingleses, conseguiu-o agora com "The Sense of an Ending", que venceu o Man Booker Prize. Foi a primeira vez que Barnes levou o prêmio. Foi a quarta vez que foi indicado. Estranho?
Sim, se pensarmos no sistema de premiação português (ou brasileiro), onde as comadres se vão premiando umas às outras com intimidade típica de bordel. Na Inglaterra, os prêmios literários não são brincadeiras. E a presença de um Julian Barnes na lista não significa coisa nenhuma.
Este ano, aliás, Barnes foi motivo de polêmica, não de deslumbramento. Para começar, a imprensa acusou o júri de ter esquecido outros escritores fundamentais, como o excelente Alan Hollinghurst. E, depois do veredito, de ter premiado um trabalho "menor" de Barnes quando já o deveria ter feito em 1984 (com "Flaubert's Parrot") ou 1998 (com "England, England").
Posso discordar? Sim, "Flaubert's Parrot" é o meu Barnes preferido.
Mas "The Sense of an Ending" é uma pequena lição de literatura para qualquer "candidato a escritor" que não queira seguir a estrada brega do sentimentalismo.
Começa por ser uma lição formal: para usar uma palavra que não tem tradução rigorosa em português, a pena de Barnes é "effortless", exibindo uma ironia e sensualidade que só costumam acontecer na última fase de qualquer grande criador.
Mas "The Sense of an Ending" é também uma lição de inteligência narrativa ao escolher um tema aparentemente banal para o trabalhar com verdadeira tensão dramática.
Esse tema banal é a memória de Tony Webster, um sexagenário divorciado e, como diriam os psiquiatras, sem grande "élan vital", que recorda o passado e procura um sentido para ele.
Mas, pergunta Barnes, será possível reconstituir esse passado na nossa memória imprecisa? Ou o passado de cada um é apenas a interpretação que fazemos dele - um ato criativo constante, onde preenchemos as falhas e as dúvidas com as certezas dos nossos medos e da nossa imaginação?
No caso de Tony, essas dúvidas serão testadas com uma herança inesperada que o joga de volta para a juventude - e para um velho amigo de escola que optara pelo suicídio ainda jovem.
Eis o momento para que Tony confronte o que julga que sabe -e o que terá sucedido a Tony e a todos os sobreviventes do seu ato.
Primavera em Paris - que interessa isso? Penso na cidade e sei que poderia escrever sobre as pessoas com quem lá estive; as verdades e as mentiras que foram ditas ou escutadas; os momentos de felicidade ou tédio.
Mas, lendo Julian Barnes, também é provável que tudo isso seja apenas o reflexo de um reflexo que conto a mim próprio para ter "o sentido de uma história". Sobreviver é contar histórias.

ARNALDO JABOR - A busca do tempo perdido (3)



A busca do tempo perdido (3)
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 01/11/11

D. Marieta usava sapatos altíssimos e vermelhos, de onde saíam pernas magras e totas. Pintava-se muito com o batom emplastrado como uma ferida em meio a rugas que escorriam em seu rosto de 80 anos, encimado por sobrancelhas feitas a lápis e olhos com sombra azul.

Ela e sua filha se mudaram para o térreo de nosso prédio. A primeira coisa que fizeram foi derrubar o grande flamboyant plantado no jardim do seu apartamento que nos brindava com chuvas de flores vermelhas. Eu vi com horror a queda da árvore tão linda, deixando apenas o cimento frio como uma lápide. Com elas, veio o neto e filho, Antonio Augusto, da mesma idade que eu, que elas tratavam como um bibelô precioso, contando suas graças para minha mãe - de como ele gostava de brincar de mulher grávida com um travesseiro na barriga. Elas eram donas do menino, obrigando-o a estudar piano que enchia as manhãs com escalas sem fim. Eu era talvez seu único amigo, pois os garotos da escola estranhavam sua fragilidade, seus cabelos encaracolados. A mãe e a avó sirigaita cuidavam do Antonio Augusto com protecionismo feroz e pareciam se vingar de alguma coisa passada.

A existência do pai tinha sido banida dos domínios de d. Marieta e sua filha, sob a desculpa de que era caixeiro-viajante. "Nada disso", minha mãe diagnosticou, "são separados, e elas têm vergonha e escondem..."

Seu Plácido era o nome do pai, que vinha, sim, tímido, quase invisível e ficava brincando com o filho, ali no ex-jardim cimentado que ele olhava com muda tristeza. Ele parecia gostar muito do filho único que, eu percebia, demonstrava uma inquietude constrangida ao conversar com o pai, como se estivesse desobedecendo a alguma ordem. Seu Plácido entrava raramente no apartamento para entregar o dinheiro da pensão e, talvez, para exibir à vizinhança uma aparente "normalidade".

Depois, ia embora ou, para irritação da avó, de olhos duros na janela, levava o menino até o botequim onde tomava silenciosamente um copo de leite e dava um guaraná para o filho. Essa rotina durou vários anos até nossa adolescência, quando já era evidente o desgosto de seu Plácido com a fragilidade feminina de Antonio Augusto.

O mundinho em que eu vivia era vazio, mas tinha alguns habitantes, ao contrário de hoje - um vazio que parece cheio. Tinha d. Elsa, linda, que morreu de câncer fulminante, tinha o médico espírita de cara vermelha e todo vestido de negro, tinha o paralítico que ouvia jazz muito alto.

E tinha Miss Baby. Ela devia ter uns 40 anos, ainda bonita, grande e se movia diferentemente das outras mulheres da rua. Andava com a leveza corajosa de mulheres vividas, ela, ex-vedete do Cassino da Urca. Morava sozinha e, de tempo em tempo, aparecia um visitante com uniforme da Panair. As vizinhas evitavam-na - ela destoava da paisagem moral do bairro. Miss Baby vivia na varanda com um penhoar solto, onde se entreviam seios firmes. Ela nos fascinava com sua liberdade, seu mundo diferente das mães da rua. Uma tarde, eu vi que seu Plácido passou em sua porta e conversou com ela, com a tranquilidade de velhos amigos. Teria ele conhecido Miss Baby nos bons tempos do cassino?

Nessa época, eu e Antonio Augusto conversávamos muito à noite, na metafísica de adolescentes virgens na beira do mar que batia nas pedras povoadas de caranguejos. Éramos apaixonados por literatura - ele muito mais do que eu - falando sobre o rock que surgia e atrizes americanas que ele colava no espelho. Lembro-me do espanto da poesia mágica, quando descobrimos Rimbaud. Sob uma noite muito estrelada ele me falou: "O 'nada' não existe. É ilógico; sobre o 'nada' não se fala..." Nós não sabíamos quem éramos, mas já falávamos do universo.

Um dia, ele me procurou excitadíssimo: "Papai me disse ontem que a Miss Baby quer me conhecer; eu fiquei com medo e disse que mamãe não queria que eu nem olhasse para ela. Aí, papai me agarrou pelos ombros e me sacudiu. Ele disse que ela está me esperando de tarde. E, me sacudindo com força, falou que eu estava proibido de falar para mamãe e vovó..." Ele viu nos olhos de seu Plácido que teria de ir.

No dia seguinte, preparou-se com zelo para o temido encontro; tomou um longo banho, raspou a levíssima penugem de seu rosto, escolheu camisas, inventou um penteado mais para Elvis Presley e foi. Fiquei com a impressão de que ele perderia a virgindade antes de mim.

"E aí?", perguntei, ansioso, quando ele voltou de noite.

E ele contou que "chegou morrendo de medo quando ela abriu a porta, mas que ela foi muito bacana e falou que papai tinha dito a ela que eu queria conhecê-la e aí eu entrei e ela ficou olhando para mim com um sorriso simpático, chegou perto e fez uma festa no meu cabelo, dizendo que era lindo e desmanchou meu topete de Elvis e aí ela perguntou se eu achava seus seios bonitos e aí ela abriu o penhoar um pouco e ficou me olhando e perguntou se eu queria pôr a mão neles..."

"E aí?", perguntei sem ar.

"Aí, eu segurei os seios dela e ela ficou rindo da minha falta de jeito. A casa é cheia de retratos dela no cassino, cantando, e tinha também na prateleira um lindo arranjo de cabeça, um chapéu todo de flores e fitas e, aí, ela pôs outro arranjo na cabeça e perguntou se eu queria experimentar aquele. Foi o máximo; eu e ela cobertos de plumas, fizemos um dueto lindo. A gente cantou: 'Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim', imitando a Carmen Miranda. Foi o máximo!"

"E aí? Depois...", eu perguntei perplexo.

"Depois, nada. Ela me abraçou muito, com os olhos cheios d'água e me deu um presente..."

"Só isso?"

"É... Me deu este presente aqui."

Ele abriu a camisa e me mostrou um colarzinho de pérolas baratas...

Ele tinha mudado. Seu rosto estava sério, de quem tinha entendido uma coisa nova.

Olhamo-nos em silêncio. Ele sorriu e me tocou no ombro, amigável e mais adulto.

Era feliz.

Naquele ano, minha família mudou-se para Copacabana. Falamos por telefone algumas vezes mas, aos poucos, sumimos um do outro.

Fui tocando minha vida e, anos depois, soube que Antonio Augusto fora encontrado morto, em circunstâncias mal esclarecidas.

REGINA ALVAREZ - Jogo de xadrez


Jogo de xadrez
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 01/11/11

Que a crise na zona do euro dominará a agenda da cúpula de líderes do G-20 ninguém duvida. Todos os demais assuntos da pauta, embora relevantes, ficarão em segundo plano diante da urgência do primeiro tema. Falta muita amarração no pacote anunciado semana passada pelos líderes europeus e, por isso mesmo, aumentaram as expectativas em relação ao encontro de líderes esta semana em Cannes.

Não se sabe exatamente como será a participação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos emergentes no esforço para recuperar o bloco europeu. E essa definição, mesmo que não seja apresentada em detalhes. pode sair da cúpula do G-20, já que todas as peças desse jogo de xadrez estarão presentes no encontro.

A expressão “jogo de xadrez” foi usada pelo economista Paulo Nogueira Batista Jr., que representa o Brasil no FMI, em artigo onde alerta para as “cascas de banana” e “risco de facadas nas costas” que envolvem essa negociação. Batista Jr. diz que esta é uma oportunidade que o G-20 não deveria desperdiçar, pois “será um fiasco se os líderes se reunirem para aprovar trivialidades, reiterar boas intenções e repetir generalidades, saindo de Cannes sem oferecer uma resposta à crise”.

O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e atual sócio da Consultoria Tendências, considera que uma sinalização importante que o G-20 daria para mercados nesse momento seria reforçar o papel do FMI, com mudança na governança para uma maior participação dos emergentes:

— O mercado vai olhar com lupa o comunicado do G-20. Qualquer sinal de avanço vai ser bem recebido.

Os representantes do governo brasileiro na cúpula trabalham para que isso aconteça. Mas os países europeus demonstram pouco entusiasmo em reforçar a posição dos emergentes no Fundo, embora neste momento estejam com o pires na mão em busca de recursos da China, do Brasil e de outros catalogados nessa categoria. Assim, fechar a equação não será simples.

Já em relação a outros pontos da agenda, como algum tipo de regulação no fluxo de capitais, por exemplo, Loyola não espera avanços.

— Não vejo possibilidade de sair nada concreto na área de regulação de fluxo de capitais. Os países não irão assumir esse ônus neste momento de crise, reduzindo as possibilidades de se defenderem — afirma.

Efeito perverso
Enfrentar o desemprego elevado é um dos muitos desafios que a Europa tem pela frente. A taxa de desocupação média na zona do euro bateu recorde em setembro, atingindo mais de 16 milhões de pessoas, 10,2% da população economicamente ativa, segundo dados divulgados ontem pela Eurostat. O gráfico abaixo mostra que o problema é ainda mais grave entre os jovens com menos de 25 anos, para os quais a taxa chegou a 48% no caso da combalida Espanha. Entre agosto e setembro, o desemprego nessa faixa etária aumentou em todos os países encrencados da região, com exceção da Irlanda, que registrou pequena redução.

Professor do IE Business School, o economista espanhol Fernando Fernández destaca que recuperar a confiança e o acesso ao mercado são os grandes desafios da Espanha, o que exigirá uma reforma laboral profunda. Fernández considera que o euro ainda corre riscos, apesar do pacote de medidas anunciadas pelo bloco europeu, na semana passada, para atacar a crise local.

— Haverá riscos enquanto não se chegar a uma integração fiscal, financeira e política. Mas digamos que nos afastamos consideravelmente do precipício.

CUSTO ATENUADO: A desvalorização cambial nos últimos dois meses reduziu drasticamente o chamado custo fiscal de manutenção das reservas internacionais. Entre julho e setembro, esse custo despencou de 2,5% do PIB para 0,1%. Se o dólar sobe, o governo ganha, porque tem mais créditos a receber do que dívidas em moeda estrangeira.

LADEIRA ABAIXO: Se os números do IBGE confirmarem hoje nova queda da produção industrial, como preveem alguns analistas, será o terceiro recuo em quatro meses. O Itaú Unibanco estima queda de 1,4%; o Bradesco, de 1,3%.

GOSTOSA


XICO GRAZIANO - Fantasma da fome


Fantasma da fome
XICO GRAZIANO 
O Estado de S.Paulo 01/11/11

Segundo as contas da ONU, o mundo acaba de completar 7 bilhões de habitantes. "Hoje à noite precisamos abrir espaço para 219 mil pessoas na mesa do jantar". Curiosa e dramática, a frase de Lester Brown instiga o pensamento. Haverá comida para tanta gente?

A população humana atingiu seu primeiro bilhão em 1800. Naquela época Thomas Malthus fez uma das previsões mais famosas da História, afirmando que a população humana crescia em progressão geométrica enquanto a produção de alimentos aumentava em progressão aritmética. A tragédia da fome aproximava-se.

Demorou 130 anos para dobrar a população humana. E, ao contrário do que se previra, a produção agrícola, impulsionada pela tecnologia, deu conta do recado. A expansão das áreas cultivadas e o aumento da produtividade por hectare afastou o temor do colapso alimentar. Somado aos extraordinários avanços na medicina, que favoreceram a saúde pública, o estouro demográfico na Terra acelerou-se. Em 1960 já éramos 3 bilhões de almas.

Os neomalthusianos se eriçaram. O intenso crescimento populacional no chamado Terceiro Mundo levaria à catástrofe famélica. Novamente, porém, a agronomia ajudou a derrotar o pessimismo, graças à força produtiva do pacote tecnológico, assentado em quatro pilares: melhoramento genético, mecanização, irrigação e quimificação (fertilizantes e defensivos). Em 1970, o Nobel da Paz laureou o agrônomo norte-americano Norman Borlaug, pai da Revolução Verde.

Nos últimos 40 anos a produção rural saltou 150%, ante metade disso na população. O processo da Revolução Verde deixou claro que a fome, persistente em várias regiões do mundo, não se deve às deficiências da produção, mas, sim, às dificuldades de sua distribuição na sociedade. Quer dizer, uma culpa das desigualdades na renda. Sem dinheiro no bolso falta comida na mesa. Malthus parecia esquecido definitivamente.

Ledo engano. Um temor pela escassez varre o mundo. Mesmo atenuado pela queda da natalidade, o crescimento populacional está recebendo a contribuição de novos fenômenos para pressionar a demanda alimentar. Trata-se dos ganhos de renda da população nos países em desenvolvimento, em sintonia com a urbanização, verificada na Ásia, especialmente.

Nesse contexto, a Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que até 2050 a produção de alimentos - grãos e carnes - precisará crescer entre 70% e 100% para atender à procura das famílias. Não ocorrendo, haverá tendência global a majorar o preço médio dos alimentos, afetando imensos contingentes populacionais. O fantasma da fome ronda perigosamente a civilização.

O raciocínio antigo, viciado e simplista, logo pensa: bobagem, esse assunto já se resolveu antes. Há coisas mais relevantes para preocupar a humanidade, como, por exemplo, a devastação ambiental. Aqui, sim, o panorama futuro surge assustador.

Confesso que ando meio desorientado, refletindo sobre essa matéria. Não sou o único. A ameaça da fome coletiva, que angustia os estudiosos há séculos, parece retomar uma espiral ascendente. Desta vez, porém, vestiu uma nova complexidade. É como se a ecologia estivesse elevando ao quadrado o problema resolvido até então pela agronomia. Explico-me.

A gradativa tomada de consciência pública sobre os problemas ambientais estipula limites crescentes à expansão da agropecuária. A sociedade não tolera mais o desmatamento. Antigamente a ocupação do oeste norte-americano ou a mais recente derrubada da mata atlântica eram sinônimos de progresso. Agora representam uma tragédia contra a biodiversidade.

Basta ver, por aqui, a polêmica sobre o Código Florestal. Certos ambientalistas combatem radicalmente as mudanças propostas, recebendo enorme respaldo de mídia. Venerado na velha sociedade, o ruralismo periga transformar-se em palavrão. Os esverdeados tempos modernos azucrinam a agricultura.

Existem, ademais, limitações físicas à expansão dos cultivos. Nos EUA, na Europa, na Austrália, no Oriente Médio e na China as terras aráveis encontram-se totalmente ocupadas. Sofrem, ao contrário, prejuízos trazidos pela desertificação de territórios e pelo rebaixamento de lençóis freáticos. Encolhendo a irrigação, cai junto a produção.

Grosso modo, o homem apropriou-se produtivamente de dois terços da Terra. No terço restante localizam-se a Amazônia, as savanas africanas, as florestas asiáticas, as tundras geladas, áreas preservadas. Explorar tais espaços em nome da segurança alimentar vai dar encrenca, agravando a crise ecológica.

O preocupante cenário indica que entre preservar e produzir é preciso fazer as duas coisas. Só que ninguém sabe direito como. Alguns vislumbram que os produtos transgênicos venham a ser a solução do dilema, elevando a produtividade das áreas já exploradas. Aos ambientalistas soa como uma ironia da História.

Tudo anda contraditório. O aquecimento global, por um lado, compromete a produção tropical de alimentos e, por outro, vai liberar terras geladas para o plantio. O confinamento de animais dispensa pastagens, mas exige rações processadas com grãos, cujo cultivo aumenta. Energia renovável da biomassa pode roubar terra do alimento.

Engana-se redondamente quem pensa ser fácil vencer o moderno desafio da fome. Há quem sugira a dieta vegetariana obrigatória - falta convencer quem começou agora a comer picanha. Combater o desperdício - incluindo a gula da obesidade. Ingerir proteicos insetos - basta esquecer o nojo. Soluções ousadas, não impossíveis.

O caminho da sabedoria passa pela humildade. Se vencer a arrogância típica da humanidade, enterra Malthus de vez. Senão virá a crise.

ILAN GOLDFAJN - Expectativas diminutas


Expectativas diminutas
ILAN GOLDFAJN
O Globo - 01/11/2011

A dívida deverá chegar a 120% do PIB em 2020, na melhor das hipóteses. Dependerá da adesão voluntária de 90% dos credores ao calote de metade do que têm a receber. E de anos de aperto fiscal. Não há possibilidade de depreciação da moeda para crescer exportando. A competitividade terá de ser ganha na forma de preços e salários mais baixos, solução que a sociedade em greve ainda terá de aceitar. Esse é o pacote anunciado para a Grécia. Evitar o contágio para outros países não é fácil. Não foram aprovados recursos suficientes para tal. A saída é usar o dinheiro disponível para evitar uma quebra bancária e esperar ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou da China para enfrentar o problema das outras dívidas. Os mercados respiraram aliviados com o anúncio de novas medidas, houve até uma pequena euforia. Esperavam notícias piores. Um plano anunciado parece melhor que nenhum nesta era de expectativas baixas.

Saberemos mais sobre a disposição do resto do mundo em ajudar a Europa nesta semana na reunião do G20. Os Estados Unidos têm seus próprios problemas, e a China é cautelosa, quer saber se as medidas adotadas são suficientes. O plano tem três pilares. O primeiro é a reestruturação da dívida grega, com base no calote de 50% e num novo programa de financiamento de 100 bilhões de euros por parte do FMI e da União Europeia até o fim do ano. O segundo é a recapitalização dos bancos europeus baseada num novo teste de stress que sugere a necessidade de 106 bilhões de euros. E, o terceiro, é o uso do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês) para captar novos recursos no setor privado, governos (China, etc.) ou no FMI. A ideia é chegar a um trilhão de euros para poder fazer frente a todas as necessidades atuais. Afinal, com os problemas na Europa chegando à Espanha e à Itália, evitar o contágio precisa uma soma de dinheiro que ultrapassa as centenas de bilhões e chega a trilhões.

Há, certamente, dúvidas. Haverá adesão "voluntária" em larga escala para a reestruturação da Grécia? Os recursos disponibilizados para a capitalização dos bancos são suficientes? (Ou seja, o stress test foi estressado o suficiente?) EUA, China, FMI ou o setor privado estarão dispostos a contribuir com consideráveis recursos adicionais? E os países com dificuldades conseguirão implementar os difíceis ajustes fiscais por anos?

Nenhuma dessas questões é de resposta imediata. Há riscos sérios de implementação. Por exemplo, não acredito que facilmente o setor privado ou a China venham a colocar novos recursos que alavanquem o fundo europeu. O setor privado teme o calote, que já começou na Grécia. A China deve se questionar por que os próprios governos europeus não estão dispostos a contribuir com mais recursos.

De qualquer forma, o anúncio das medidas diminuiu o risco de um colapso imediato. Uma corrida bancária ou uma quebra de um país agora vão depender do sucesso do que foi anunciado. Aguarda-se o desfecho. A esperança, que é a última que morre, acaba de ser renovada.

Mas as dificuldades atuais na Europa já devem impactar o crescimento do PIB. As políticas de ajuste fiscal são a solução no longo prazo, mas no curto prazo também diminuem o crescimento. A incerteza sobre o futuro reduz a confiança dos empresários e dos consumidores, diminuindo investimento e consumo. Em geral, espera-se um crescimento negativo no ano que vem e muito baixo por anos pela frente.

No Brasil, estimamos que a redução das perspectivas de crescimento global, o aumento da incerteza e a piora das condições financeiras internacionais vão impactar negativamente o crescimento via redução da confiança aqui dentro, assim como queda do crescimento das exportações, com uma defasagem mais longa.

Mesmo sem ruptura, o cenário global é de crescimento mais baixo devido aos graves problemas, principalmente na Europa. O mais provável é que o mundo hoje caminhe em fortes altos e baixos. Após um período longo de baixos, entramos num período de alta, após os anúncios das medidas na semana passada. O mundo vive o alívio, provavelmente de curta duração, fruto de uma época de expectativas diminutas.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Setor de eólica busca informação sobre avanço chinês
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 01/11/11

Na próxima semana, a Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) vai detalhar ao mercado novas informações que obteve sobre o avanço chinês no país.

A crescente expectativa de que companhias chinesas pretendem atuar no setor de eólica brasileiro tem sido comentada há meses entre empresários do meio.

Em missão à Ásia em outubro, a Abeeólica visitou empresas de bens de capital para reconhecer o nível de interesse no Brasil por parte dos competitivos concorrentes chineses.

"A Sinovel está adiantada no processo de decisão de vir para o Brasil. Não seria só para vender equipamentos. Eles se preparam para montar fábricas aqui. Sentimos que eles têm planos de negócios", diz Élbia Melo, presidente-executiva da entidade.

Recentemente a Desenvix fez contrato de compra com a chinesa Sinovel para um parque eólico no Nordeste.

"Outras empresas estão em fase de namoro, mas nada ainda tão concreto", diz.

Além da Sinovel, Melo cita a Goldwind e a Guodian.

A estatal chinesa Guodian já sinaliza planos de investir no Brasil para construir uma fábrica de turbinas. Caso se concretize, servirá de base para atender toda a América.

Financiamento foi outro tema abordado nas reuniões.

"Eles têm disposição para emprestar para o Brasil, mas dificilmente esse dinheiro entraria, pelo fato de o risco cambial ser muito alto", afirma a executiva.

"O que discutimos desvenda bem a história da vinda dos chineses. Outra coisa de que se fala é que os chineses vão nos vender equipamento, mas, se tiver defeito, será difícil reparar. Com fabricação local, a história muda."

TURISMO CULTURAL
A cidade de São Paulo é a mais procurada como destino para o feriado de 15 de novembro, segundo pesquisa do buscador de viagens Mundi.

A capital paulista foi escolhida por 21% dos clientes do portal, que recebe 10 milhões de visitantes por mês.

"A liderança de São Paulo foi surpreendente. O principal motivo é que, com o feriado prolongado, as pessoas aproveitam para fazer visitas culturais e assistir a festivais de música", diz Rodrigo Waissman, gerente do Mundi.

Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE) e Salvador (BA) têm 13%, 8% e 5% das preferências, respectivamente.

"Nos próximos meses, com as férias e o verão, essas cidades litorâneas devem voltar a assumir a liderança de buscas", afirma Waisman.

Mínimos... Devido às constantes mudanças na legislação do PIS e da Cofins, cerca de 55% das empresas afirmam que se atualizam diariamente, de acordo com estudo da consultoria Fiscosoft. Mais de 60% das empresas dizem que já recolheram as contribuições de forma incorreta por conta da complexidade da legislação.

...detalhes Com a proximidade da data limite para a obrigatoriedade da entrega da EFD-PIS/Cofins, em fevereiro do próximo ano, aproximadamente 65% das empresas afirmam que ainda não estão preparadas, segundo o levantamento. O objetivo da medida é tornar a apuração das contribuições sociais mais transparentes para o fisco nacional.

MAGRELAA brasileira AceFitness vai trazer para o país em dezembro a linha de bicicletas recém-lançada pela marca esportiva Reebok.

Serão feitas algumas alterações no produto para que se adeque à demanda do país. Características de freio, câmbio e cores serão adaptadas para o consumidor de lazer, que compõe o mercado brasileiro, de acordo com Ricardo de Campos, sócio da empresa.

"Cores como vermelho e azul vendem mais aqui. A linha dobrável também é uma tendência forte. O consumo deve crescer com a ampliação das ciclovias ", afirma.

Com uma estimativa de venda de 50 mil unidades por ano, a empresa também tem planos de iniciar fabricação em Manaus.

"Vamos avaliar o resultado desse lançamento primeiro. Mas temos planos." A AceFitness, que tem hoje 35 lojas no país, vai abrir outras 20 unidades no próximo ano.

CONSTRUÇÃO IMPORTADA
As importações registram ritmo crescente no setor de construção, de acordo com levantamento que a Abramat (associação da indústria) vai divulgar hoje.

O volume deve alcançar US$ 7 bilhões neste ano, o que representa mais de 10% do valor das vendas da indústria no mercado doméstico.

No ano passado, foram registrados US$ 6 bilhões.

A entidade atribui os números à "falta de isonomia em impostos e conformidade técnica em relação ao produto importado".

BALANÇA
US$ 6 bilhões foi o volume das importações do setor de material de construção em 2010

US$ 7 bilhões é o volume estimado para este ano

10% é o que as importações representam do total vendido no mercado interno

Europa... O cientista político Dominique Moïsi, fundador do Instituto Francês de Relações Internacionais e professor visitante de Harvard, fará palestra sobre a China, em SP.

...e Oriente O evento, no dia 8, será organizado pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso e pela FAAP.

Refeição rápida A rede de lanchonetes Subway deve abrir mais 67 unidades até o final do ano. A empresa tem hoje mais de 700 lojas no país.

Nuclear Leonam Guimarães, da Eletrobras Eletronuclear, está nos EUA para participar de um encontro sobre implantação de energia nuclear.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

MÔNICA BERGAMO - FILA DE ESTRELAS


FILA DE ESTRELAS
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 01/11/11

A exibição de "O País do Desejo", dirigido por Paulo Caldas, na Mostra Internacional de Cinema de SP contou com a presença do elenco. Os atores Fábio Assunção, Maria Padilha e Gabriel Braga Nunes foram à sessão no Unibanco Arteplex.

SEGURO GERAL
A Susep, superintendência que regulamenta o setor de seguros privados, vai criar regras para estimular a operação do microsseguro no Brasil, modalidade voltada para a baixa renda. O órgão, vinculado ao Ministério da Fazenda, vai reduzir de R$ 15 milhões para R$ 3 milhões o capital mínimo necessário para a abertura de uma empresa prestadora desse serviço.

SEGURO 2

Esse tipo de seguro poderia ter beneficiado, por exemplo, moradores de baixa renda da região serrana do Rio atingidos por enchentes em janeiro. A Susep vai ainda selecionar moradores das comunidades para atuar como corretores, como já ocorre com o microcrédito. Luciano Santanna, superintendente do órgão, calcula que mais de 200 empresas hoje no país operam microsseguros na ilegalidade.

PLANO

As despesas hospitalares do tratamento de Lula devem ser bancadas por um plano de saúde que ele "já paga há muito tempo", de acordo com um dos médicos da equipe. "E, além do plano, ele tem dinheiro também", diz Paulo Okamotto, braço direito do petista e presidente do Instituto Cidadania. Lula estava cobrando R$ 200 mil para dar palestras.

MURO

A assessoria de Lula diz que tem "poupado" o ex-presidente dos ataques no Twitter em que pessoas defendem que ele se trate pelo SUS. O ex-presidente não lê o microblog e ninguém teria mostrado as críticas a ele.

MUITA CALMA

Ao chegar ao hospital Sírio-Libanês, ontem, Lula conversou com os médicos sobre a possibilidade de perder a barba por causa da quimioterapia. Um deles disse que todos já esperavam que ele chegasse barbeado para o tratamento. "Ainda não, ainda não!", respondeu o ex-presidente.

GELADO

No domingo, quando recebeu em casa apenas os cinco filhos (Lurian, Fábio, Sandro, Marcos e Luiz Claudio) e netos, Lula recebeu a orientação de comer apenas sopa e alimentos pastosos, não muito quentes. E sorvete, para a alegria das crianças.

LULINHA

E Lula será avô pela sexta vez em janeiro, quando os médicos preveem que ele finalizará o tratamento. O bebê, um menino, é filho de Sandro e de sua nora Marlene, sobrinha de Okamotto. Deve se chamar Lucas.

GOTA D'ÁGUA

Depois de ter várias de suas entradas ao vivo interrompidas por um homem que diz ser de um movimento chamado "Merd TV", a TV Globo decidiu fazer ontem um boletim de ocorrência. Acha que ele ultrapassou os limites ao interromper Monalisa Perrone ontem, no Sírio -e dar uma joelhada nas costas da jornalista.

RESPOSTA

Zezé Di Camargo e Luciano confirmaram gravação hoje para o "Programa do Jô", da TV Globo.

De acordo com a assessoria da dupla, eles devem dizer que continuam juntos, ao contrário do que afirmou Luciano em um show na semana passada.

CÁTEDRA

O "International Herald Tribune" está relançando sua página na web. E contratou colunistas de países emergentes para escreverem.

Entre os convidados está o professor de relações internacionais Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas.

TARDE DE PINCEL

A colecionadora Fernanda Dias Menezes de Almeida, Jorge Schwartz, diretor do museu Lasar Segall, e a marchand portuguesa Cristina Gama foram à abertura da mostra "Homenagem²". Os artistas Macaparana, que participa da exposição, e Sergio Fingermann estiveram na Dan Galeria.

CURTO-CIRCUITO
A quarta edição do Festival Contemporâneo de Dança de SP começa hoje e vai até o dia 13.

O Movimento do Ministério Público Democrático integra a comissão organizadora da 1ª Conferência Estadual sobre Transparência e Controle Social.

O Encontro Internacional de Filatelia acontece nesta sexta e sábado, no Novotel Jaraguá, no centro.

Juscelino Pereira oferece pratos com trufas brancas nesta semana, no Piselli.

A Widex fará exames gratuitos de audição nos sócios do clube Paulistano em novembro.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY