segunda-feira, agosto 08, 2011

AUGUSTO NUNES - Lula foi à lona em Bogotá


Lula foi à lona em Bogotá
AUGUSTO NUNES
VEJA ONLINE

O pastelão encenado no picadeiro do Circo do Planalto por Dilma Rousseff, Nelson Jobim e Celso Amorim acabou ofuscando o fiasco do palanque ambulante em Bogotá, onde fez escala na quinta-feira passada para animar um encontro entre empresários brasileiros e colombianos. Lula estava lá para discorrer sobre as relações entre os dois países. No meio da discurseira, resolveu discutir a relação com Alvaro Uribe. Foi nocauteado no primeiro assalto.

Caprichando na pose de consultor-geral do mundo, com os olhos voltados para o presidente Juan Manuel Santos, Lula cruzou a fronteira da civilidade com a desfaçatez dos inimputáveis. “Estou certo que você e a presidenta Dilma Rousseff podem fazer mais do que fizemos o presidente Uribe e eu”, começou. Pararia por aí se fosse sensato. Nunca será, confirmou a continuação do falatório: “Tínhamos uma boa relação, mas com muita desconfiança. Não confiávamos totalmente um no outro”.

Lula confia em delinquentes, cafajestes, doidos de pedra, assassinos patológicos, sociopatas, ladrões compulsivos ─ e em qualquer obscenidade cucaracha. Hugo Chávez é um bolívar-de-hospício, mas o amigo brasileiro participou até de comícios eleitorais na Venezuela. Evo Morales tungou a Petrobras e anistiou os ladrões de milhares de carros brasileiros, mas Lula tem muito apreço por um lhama-de-franja. Cristina Kirchner não perde nenhuma chance de atazanar exportadores brasileiros, mas Lula não resiste ao charme da inventora do luto de luxo. O único problema do subcontinente é Uribe.

Embora desprovido de razões para desconfianças, Lula foi permanentemente desrespeitoso ─ e frequentemente grosseiro ─ com o colombiano que também conseguiu dois mandatos nas urnas, despediu-se da presidência com 85% de aprovação nas pesquisas e transmitiu o cargo ao sucessor que escolheu. Embora sobrassem motivos para desconfiar de Lula, Uribe sempre o tratou com respeito e elegância. E suportou pacientemente, durante oito anos, as manifestações unilaterais de hostilidade.

A paciência chegou ao fim, avisou a devastadora sequência de mensagens divulgadas por Uribe no Twitter. “Lula criticava Chávez em sua ausência, mas tremia quando ele estava presente”, pegou no fígado o primeiro contragolpe. Outros três registraram que “Lula se negou a extraditar o Padre Medina, terrorista refugiado no Brasil”, que “Lula procurou impedir que a televisão transmitisse a reunião da Unasul em Bariloche que discutiu o acordo militar entre a Colômbia e os Estados Unidos” e que “Lula jamais admitiu que os integrantes das FARC são narcoterroristas”.

O quinto contragolpe ─ “Lula fingia durante o governo que era o nosso melhor amigo” ─ não seria o último. Mas o nocaute já se consumara quando foi desferido. É compreensível que o viajante ainda estivesse grogue no dia seguinte, como comprovam a forma e o conteúdo da entrevista publicada pelo jornal O Tempo. “Sinceramente, estranhei muito a reação do companheiro Uribe, por quem tenho profundo respeito”, recuou o palanqueiro, que se negou a comentar o teor das mensagens.

“Se ele tem alguma dúvida com alguma coisa que eu disse, seria mais fácil me chamar em vez de tuitar”, queixou-se. O uso do neologismo parece ter induzido o repórter a acreditar que Lula tem intimidade com modernidades virtuais. Pretendia usar o twitter para responder a Uribe? , quis saber o jornalista. “Não, porque é preciso pensar antes de dizer as coisas, e muitas vezes no Twitter a pessoa não pensa, simplesmente escreve”, desconversou.

Como o entrevistador não replicou, pode-se deduzir que não conhece direito o entrevistado. Deveria ter-se informado com Uribe, que sabe com quem está falando. O ex-presidente colombiano sabe que Lula é do tipo que primeiro fala e depois pensa ─ se é que pensa. Sabe que Lula não escreve, em redes sociais ou num guardanapo do botequim, pela simples e boa razão de que não quis aprender a escrever.

Lula comprou a briga usando o microfone. Colidiu com a palavra escrita e acabou nocauteado pelo Twitter.

GOSTOSA


CARTA AO LEITOR - A agressão do "Dr. Júlio"



A agressão do "Dr. Júlio"
CARTA AO LEITOR
REVISTA VEJA 

Ao longo de quase 43 anos de existência, VEJA teve de driblar a censura da ditadura militar, foi ameaçada por extremistas de direita e de esquerda e tornou-se alvo de campanhas difamatórias promovidas por mercenários da escrita bancados pelo governo petista. Na semana passada, em Brasília, o ataque deu-se no nível da agressão física a um jornalista de VEJA. No fim da tarde da última quinta-feira, o editor Rodrigo Rangel, da sucursal da revista na capital do pais, cumpria uma das obrigações elementares do bom jornalismo: ouvir o outro lado da história. A história em questão tem como personagem principal o lobista Júlio Fróes. Como revela a reportagem que começa na página 64 desta edição (LEIA AQUI), Fróes montou sua base de operações no Ministério da Agricultura. Ali, manipulava licitações para beneficiar empresas e subornava funcionários públicos com "pacotes de dinheiro". Tudo com o aval e o conhecimento dos graúdos que cercam o ministro Wagner Rossi. O lobista, embora não tenha nenhum vínculo formal com o Ministério da Agricultura, gozava de tratamento vip, como usar a entrada e o elevador privativos do ministro. Na repartição, era conhecido como "doutor Júlio".

O jornalista de VEJA foi entrevistar o "doutor" num restaurante, para tentar entender a origem de tantos privilégios. A conversa durou trinta minutos. Confrontado com os fatos apresentados por Rangel, o lobista Fróes, sem poder refutá-los, passou a fazer ameaças. Perguntou se o jornalista tinha mulher e filhos. Nesse ponto, Rangel achou mais prudente dar a entrevista – integralmente gravada – por encerrada. Quando ele se levantou da mesa, porém, Fróes puxou-o pelo braço, aplicou-lhe uma gravata e joelhadas na barriga e no rosto. Rangel foi jogado contra uma mesa. Antes de fugir, o "doutor" ainda roubou o bloco de anotações do repórter. A agressão, testemunhada por mais de uma dezena de clientes e funcionários do restaurante, foi comunicada à polícia. O jornalista, com um dente quebrado, fez exame no Instituto Médico-Legal. Ao longo de quase 43 anos de existência, VEJA ultrapassou toda sorte de obstáculo para exercer sua missão de fiscalizar o poder e denunciar os que subtraem a nação. Não será a violência física do "doutor Júlio" que mudará essa história.

RECRUTA ZERO


GUILHERME FIUZA - Dia do Orgulho Hétero: a guerra inútil do sexo


Dia do Orgulho Hétero: a guerra inútil do sexo
GUILHERME FIUZA
Revista Época 

A ideia da criação do Dia do Orgulho Heterossexual em São Paulo, apesar de idiota, é coerente. É para esse tipo de aberração que a história "progressista" caminha. O Brasil elegeu e santificou um ex-operário, o mundo achou que estava salvo com a eleição de um presidente americano negro, o Brasil se achou moderno ao passar a ser presidido por uma mulher. Obama está enrolado numa crise política (com pretextos financeiros), Dilma se debate com a corrupção herdada dela mesma e Lula fatura com palestras populistas ao lado do cadáver insepulto do mensalão. Mas o que importa são as bandeiras.

A eleição de um negro para a Casa Branca foi importante como símbolo. Mas o arrastão politicamente correto que coloniza o planeta logo a transformou numa panaceia, numa estranha apoteose étnica – como se a grande virtude de Obama fosse a cor de sua pele. Preconceito com sinal trocado. Essa espécie de "racismo do bem" não poderia dar em outra coisa: excitou a reação conservadora, fazendo emergir a ala radical do Partido Republicano e agravando a crise da dívida dos Estados Unidos.

É exatamente o mesmo fenômeno que ronda a exacerbação da cultura gay. O que poderia ser um movimento saudável, de afirmação dos que foram (e são) oprimidos por sua natureza afetiva, ganha tons de arrogância e até revanchismo. Foi assim que o MST começou a botar os pés pelas mãos: seguindo a doutrina de aprendizes de maoísmo como João Pedro Stédile, não bastava conquistar terras – era preciso depredar as instalações dos proprietários.

De repente, a moral heterossexual precisa ser confrontada. Figuras retrógradas, como o deputado Jair Bolsonaro, ganham combustível e até se declaram vítimas de "heterofobia" – miseravelmente com razão. Quem não tem orgulho gay, ou não simpatiza com a causa, está na berlinda. Como se isso fosse antídoto para a opressão passada, presente ou futura. A principal novela da televisão brasileira força a barra pela "normalidade" dos casais gays, querendo apressar a assimilação de costumes na base da militância. É um tiro que sai pela culatra (sem trocadilho, diria o filósofo Agamenon Mendes Pedreira).

O Dia do Orgulho Hétero, aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo, é uma excrescência. Mas é herança legítima do movimento gay, ou pelo menos de sua face totalitária, difundida pelos evangelizadores do politicamente correto. Se carregar a bandeira gay significa, em alguma medida, constranger os héteros, estaremos andando em círculos no território da discriminação (não importa para que lado ela esteja apontada). É quando os progressistas se tornam, orgulhosamente, reacionários.

Quando os progressistas se tornam reacionários, nós andamos em círculos no território da discriminação

Em outra frente de "discriminação progressista", o sistema de cotas nas universidades produziu um resultado curioso. Em 15 anos de adoção da medida, com reserva de vagas para negros e provenientes de escolas públicas, a presença das classes C, D e E nas universidades federais não cresceu nem um ponto porcentual (eram 44,3% em 1996 e 43,7% em 2010).

Houve um ligeiro aumento da presença de pretos e pardos e também de estudantes vindos de escolas públicas. E por que mesmo foi implantado o sistema de cotas? Para dar oportunidade no ensino superior a minorias socialmente desfavorecidas. Como se viu pelo resultado da pesquisa por classes, as cotas não beneficiaram quem tem menor renda. Ou seja: negros ficaram com vagas de brancos de sua mesma faixa social, assim como estudantes de escolas públicas ganharam o lugar de colegas do ensino privado com o mesmo nível de renda (ou, possivelmente, até menor).

O que deveria ser uma forma de resgate social virou, portanto, privilégio racial (e curricular). A "discriminação progressista" tornou-se só discriminação.

Os politicamente corretos não descansarão enquanto pretos e brancos, ricos e pobres, gays e héteros não entrarem definitivamente em guerra.

GOSTOSA


Entrevista - GUSTAVO FRANCO


Entrevista - GUSTAVO FRANCO
Folha de S. Paulo - 08/08/2011

EX-PRESIDENTE DO BC AFIRMA QUE BRASIL DEVE SER "PRUDENTE", PORQUE NÃO TEM SITUAÇÃO TÃO DIFERENTE DE PAÍSES COM PROBLEMAS

Exaustão fiscal global está na origem de turbulência

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

"Teremos uma marcha lenta no Primeiro Mundo em razão da necessidade de corrigir os excessos fiscais. Não há espaço para políticas keynesianas de gasto nem para redução dos juros." A avaliação é de Gustavo Franco, 55, ex-presidente do Banco Central (governo FHC), para quem a crise pode significar "o fim de uma era de keynesianismo fácil".
Sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, Franco vê uma "exaustão fiscal global" e advoga a redução dos gastos públicos. "Não vejo bolha nenhuma, muito menos fracasso neoliberal", diz.

Folha - Qual o impacto da decisão da Standard & Poor"s de rebaixar os EUA?
Gustavo Franco - No primeiro momento é simbólico, pois os EUA continuam AAA em duas outras agências. As determinações estatutárias de fundos de pensão e dos bancos centrais geralmente falam de grau máximo em duas agências. Acho que é um belo "wake up call" [chamada para despertar], pois fica claro que a disciplina que se exige de todos num mundo interconectado também deve ser praticada e cobrada na potência central.

Por que as Bolsas caíram? É, de fato, por causa de temores de recessão ou há outros ingredientes?
Sim, há temores quanto à recessão, sobretudo no hemisfério Norte, mas o que torna as coisas mais preocupantes é a situação fiscal no Primeiro Mundo, onde as dívidas dos governos chegaram a patamares tão altos que a sensação é a de que se esgotou a capacidade desses países fazerem políticas fiscais expansionistas.

Os governos devem colocar mais dinheiro no mercado financeiro? Haverá nova socialização das perdas?
Não é a situação de 2008, não há bancos a salvar. Ao menos por ora, nunca se sabe. A natureza do problema é outra: os países se engasgaram com tanta "socialização das perdas" por cima de "socializações de ganhos" e conquistas sociais e excessos de gasto público em geral.

Se as agências de risco erraram de forma tão dramática em 2008 (não prevendo o colapso do Lehman; qualificando os bancos da Islândia como AAA) e também agora nos cálculos do rebaixamento dos EUA, por que elas seguem tão importantes? Elas vão ser "rebaixadas" por governos e outras instituições?
Essa é uma boa pergunta. Em boa medida, na segunda-feira [hoje] os mercados estarão se perguntando se a Standard & Poor"s está com essa bola toda.
Normalmente as agências reagem defasadamente ao que todo mundo já sabe, padrão que se repete dessa vez. E erram o tempo inteiro, sim e, em muitos casos, no contexto de conflitos de interesse. O Tesouro Americano contesta os cálculos da S&P. Uma das revelações desta segunda vai ser a importância que os mercados atribuem às agências de risco.

Se os títulos dos EUA estão com pior avaliação, qual a opção? Títulos alemães?
Títulos dos EUA.

Estamos entrando num período de recessão mais longo e profundo?
Recessão é uma palavra forte, não é bem isso. Cresce a consciência de que teremos uma marcha lenta no Primeiro Mundo em razão da necessidade de corrigir os excessos fiscais. Não há espaço para políticas keynesianas de gasto nem para redução dos juros, que já estão no chão. De onde vai vir o crescimento?

De onde? O capitalismo não consegue mais fazer crescimento?
Seria errado pensar assim, a julgar pelos quatro séculos de bons serviços que o capitalismo tem com este planeta, e também porque não há alternativa. O desafio será o de direcionar políticas públicas para trabalhar fatores como produtividade, inovação, regulação, ambiente de negócios, infraestrutura e num contexto de economia fiscal, de modo a elevar a confiança da economia privada, de empresas e consumidores.

Se recessão é uma palavra forte, como o sr. definiria a situação atual? Estagnação?
Apenas baixo crescimento, ao menos durante o período de acomodação dos efeitos financeiros e fiscais de crise. Há certa ansiedade nesses países, pois há muito crescimento na Ásia e, em menor escala, no Brasil.

Em termos históricos essa recessão seria comparável à recessão de 29 ou à do final do século 19, que resultou no declínio da Grã-Bretanha e na ascensão dos EUA e da Alemanha?
A crise de 1929 é uma fonte inesgotável de lições, e o presidente do FED [banco central americano], que é um historiador que conhece o assunto, tratou muito bem de evitar os erros daquele tempo, especialmente no terreno da política monetária. Acho meio exagerado falar da decadência dos EUA como potência econômica.

Vivemos o estouro de várias bolhas? Há quem afirme que a crise desses dias é a prova do fracasso neoliberal. É? Não vejo bolha nenhuma, muito menos fracasso neoliberal. É preciso olhar a situação com frieza, sem preconceitos ideológicos: o que estamos vivendo é o esgotamento do crescimento do Estado nas grandes democracias ocidentais, e mais o Japão, onde os níveis de endividamento público ultrapassaram medidas habitualmente aceitas de responsabilidade fiscal.
O mal-estar é causado pelo fato de que há deficits e dívidas enormes. Os gastos públicos têm que cair. Em cada sociedade há um grupo, como o Tea Party, que vai se opor a aumento de impostos. O enredo do impasse americano é global, e, por isso mesmo, foi tão impactante. É uma prévia do que vai ser visto em muitos países. É como se fosse o fim de uma era de keynesianismo fácil, onde tudo sempre se resolve com o gasto público, socializando perdas, ou acomodando sucessivas e inesgotáveis "conquistas", e coalizões cada vez maiores. Essa paralisação fiscal-financeira do Estado representa novo desafio, talvez início de um novo tempo.

Politicamente, quais serão os efeitos da decisão da S&P e todo o enrosco de Obama com o Congresso? A China já está reclamando.
Acho que o impacto pode até ser positivo, na medida em que mobiliza energias políticas para a busca de soluções. A China é um capítulo à parte, pois não tem os problemas fiscais próprios das democracias ocidentais por uma razão simples e óbvia: não é uma democracia. Para ser, e evitar uma primavera que pode ser tumultuada, teria que alterar muito de suas instituições ligadas ao mercado de trabalho e à seguridade social. O fato é que a China tem sido a fonte de um discurso meio vigarista sobre o "fracasso do modelo liberal" que na verdade é uma velha cantilena sobre a ineficiência da democracia.

Como o sr. avalia a fragilidade de economias como Itália e França? Como está a saúde financeira dos bancos europeus?
O temor alcança todos, e por isso era bom ficarmos nós, aqui no Brasil, bem quietos e prudentes, pois os nossos números fiscais não estão muito diferentes daqueles dos países com problemas. Nesses episódios de elevação da aversão ao risco, os mercados ficam procurando os países e as empresas fragilizados.

A situação dos bancos europeus terá impacto no Brasil?
Se aparecer algum grande problema bancário europeu, certamente terá efeitos por toda parte. Mas hoje não há clareza sobre isso.

Alguns analistas têm receio do excessivo endividamento privado brasileiro no exterior. Uma virada no câmbio poderia colocar empresas sob risco. O sr. compartilha desse temor?
Não compartilho. Acho que o volume não é muito grande, e as empresas sabem fazer hedge. A medida descabida foi o IOF [Imposto sobre Operações Financeiras] sobre derivativos que torna o hedge mais caro para as empresas. O tema do momento é outro: dívida pública. E o que me preocupa no Brasil é o governo achar que tudo está bem nesse terreno, e que o rebaixamento americano seria como uma promoção para nós. Nada mais perigoso.

Qual deve ser o impacto na taxa de juros, no câmbio e no crescimento?
Os impactos sobre o Brasil estão ainda indefinidos. As pressões sobre a Bolsa são meio exageradas e fazem as empresas brasileiras ficarem muito baratas relativamente a seus resultados. A oportunidade para comprar parece-me clara.

O sr. prevê novos rebaixamentos de países pelas agências de risco?
É provável, ao menos pela S&P, pois, ao alterar a classificação do país, geralmente se alteraram as de todas as empresas ali sediadas. Será interessante verificar se esse protocolo será obedecido dessa vez. Parece que a S&P não tinha muita ideia do tamanho da dificuldade que criou para si. E a impressão que tenho é que o próximo assunto é a Europa, pois é onde estão os maiores problemas de dívida soberana.

O que aconteceu nos últimos dias é uma tragédia inesperada ou é algo de dimensão menor? A recuperação vai demorar mais?
A natureza do problema não me parece ser a de um problema agudo, como o pânico bancário provocado por uma sucessão de bancos quebrando como em meados de 2008. Mas de um peso, que dobrou de tamanho em dois anos, que os governos terão que carregar por um bom tempo. É a exaustão fiscal global.
Alguns mais fracos, os Piigs [Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha], estão com dificuldades, e mesmo nos países mais sólidos as pessoas estão debatendo sobre como distribuir o peso e os sacrifícios.
É uma espécie de marcha forçada, onde será preciso algum tempo para diminuir o peso e ajustar as contas, na qual pode acontecer algum incidente, é claro. Os EUA estão fazendo a sua parte. Talvez amanhã [hoje], por curioso que pareça, as pessoas voltem seus olhos para Itália e Espanha. Na verdade, os assuntos das conversas no âmbito do G7 e de bancos centrais da Europa não serão muito relacionados aos EUA, mas à blindagem da Europa.

O que o sr. recomendará aos clientes? Onde investir? Ouro? Ativos reais?
Depende de cada caso. E o nosso perfil é de investidor de longo prazo, e a receita para esse tipo de investidor é contrária ao comportamento da "manada". A oportunidade que se apresenta é a de comprar ações de boas empresas que subitamente se tornaram baratas.

RAIO-X
GUSTAVO FRANCO, 55

ORIGEM
Rio de Janeiro (RJ)

CARGO
Estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos

CARREIRA
Foi presidente do BC (1997-1999). Participou da formulação do Plano Real

FORMAÇÃO
É bacharel (1979) e mestre (1982) em economia pela PUC do Rio e doutor pela Harvard University (1986)

Frases

"Cresce a consciência de que teremos uma marcha lenta no Primeiro Mundo em razão da necessidade de corrigir os excessos fiscais. Não há espaço para políticas keynesianas de gasto nem para redução dos juros"

"O tema do momento é outro: dívida pública. E o que me preocupa no Brasil é o governo achar que tudo está bem nesse terreno, e que o rebaixamento americano seria como uma promoção para nós. Nada mais perigoso"

MÔNICA BERGAMO - PADRÃO DE MULHER

PADRÃO DE MULHER
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 08/08/11

A apresentadora do "Jornal da Record" Ana Paula Padrão lançará amanhã o portal Tempo de Mulher com um evento no hotel Hyatt que contará com palestra da atriz Geena Davis. "Minha causa é o empoderamento feminino", diz. O site "terá instrumentos de pesquisa para a manutenção de um grande banco de dados sobre a mulher brasileira".

BOAL BRASILEIRO

O acervo de Augusto Boal pode ficar no Brasil. Há alguns dias, o ministro Fernando Haddad, da Educação, telefonou para Cecília, a viúva do dramaturgo, e ofereceu ajuda para que ela não enviasse o material para os EUA. Por falta de apoio e condições, ela tinha aceitado proposta da New York University, interessada na documentação.

"QUASE DESMAIEI"
Cecília diz que precisaria de US$ 500 mil para limpar, catalogar e digitalizar 20 mil textos, 300 horas de vídeo, 120 de áudio, 2.000 fotos, 120 cromos e desenhos. Pediu ajuda a diversas instituições, sem sucesso, e desistiu de manter o acervo. Até que Haddad telefonou. "Quase caí dura e seca. Quase desmaiei. Vou ficar felicíssima se ele me ajudar", afirma.

BAÚ UNIVERSITÁRIO
Fernando Haddad e Cecília Boal começaram a negociar para que o acervo fique sob a responsabilidade da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

DIVINAS CAIXAS
A Microservice definiu o formato do relançamento de toda a obra da cantora Elizeth Cardoso na extinta gravadora Copacabana -cujo acervo agora pertence à empresa. Serão três caixas, com dez CDs cada, com os discos das décadas de 50, 60 e 70.

CAPITAL DE GIRO
A Subprefeitura de Pinheiros fará vistoria em vários imóveis alugados na região da avenida Brasil.
Neles funcionariam escritórios sem autorização -a área é residencial. Um dos estabelecimentos que serão visitados é uma agência do BIC Banco que já foi multada em R$ 2.259. O BIC não quis se pronunciar.

SARAU DO ARNALDO
O músico Arnaldo Baptista gostaria de levar o sarau que fez para fãs na serra da Cantareira, há duas semanas, para outros espaços.
Batizado de "Sarau o Benedito?", a apresentação conta com o músico ao piano de cauda entoando músicas como "Gatinho Cetim" e "Cê Tá Pensando que Eu Sou Loki", entre outras.

QUERO SER ZÉ MAYER
Rodrigo Lombardi, protagonista da novela "O Astro", conta que um dia pretende fazer o musical "Um Violinista no Telhado". "Fui assistir à peça com o José Mayer [ em cartaz no Rio]. Ele está incrível! Um dia quero fazer esse papel", diz Lombardi.

PLANETA DOS MACACOS
Uma equipe francesa de filmagens baixou na Amazônia para as filmagens em 3D de "Planeta Verde", que vão até novembro. O longa sobre a floresta amazônica é uma coprodução França-Brasil. "Troquei o convívio com os atores pelos macacos", brinca o produtor Caio Gullane. "O filme é uma espécie de 'Marcha dos Pinguins', mas com macaquinhos", diz. A previsão de lançamento é para 2012.

VAI, TIAZINHA
Suzana Alves, a Tiazinha, viverá nos palcos uma pernambucana doida para se casar com um baiano rico. A atriz será protagonista de "O Casamento Suspeitoso", peça escrita por Ariano Suassuna. Estreia no dia 25, no teatro do Sesi.

ESPELHO
Um seminário realizado pela Justiça Federal de São Paulo reunirá em setembro jornalistas como César Tralli, William Waack e o apresentador Marcelo Tas em torno do tema "Poder Judiciário e Imprensa". O público-alvo do evento, organizado pelo desembargador Fausto De Sanctis, são magistrados e servidores. Mas as palestras serão abertas também para o público geral.

COM VOCÊS
O meio artístico compareceu em peso à estreia do espetáculo "Sem Mim", nova coreografia do Grupo Corpo. O cineasta Hector Babenco, o crítico Zuza Homem de Mello, o músico Tom Zé e o secretário de Cultura do Rio, Emilio Kalil, entre outros, conferiram a apresentação no Teatro Alfa.

PACOTE COMPLETO
O fotógrafo Drausio Gragnani deu uma festa em sua casa para o lançamento de coleção da designer Sarah Chofakian. O modelo Gaetano Gaiso é a estrela do catálogo, assinado pelo anfitrião. Entre os convidados, o empresário Carlos Jereissati Filho e a modelo Natália Zambiasi.O fotógrafo Drausio Gragnani deu uma festa em sua casa para o lançamento de coleção da designer Sarah Chofakian. O modelo Gaetano Gaiso é a estrela do catálogo, assinado pelo anfitrião. Entre os convidados, o empresário Carlos Jereissati Filho e a modelo Natália Zambiasi.

CURTO-CIRCUITO

Ana Luiza Trajano lança cardápio paraibano em seu restaurante, o Brasil a Gosto, em evento para convidados. Hoje, às 20h.

Jô Soares fará o talk show de encerramento do Congresso Nacional de Gestão de Pessoas no dia 17, no Transamerica Expo Center.

Ricardo Hasson Sayeg e Wagner Balera lançaram o livro "O Capitalismo Humanista", nas versões impressa e em e-book.

O MAM de São Paulo passou a ter entrada franca aos sábados para as mostras "No Ateliê de Portinari" e "Um Outro Lugar".

O 14º Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes será lançado com um jantar hoje, no Palácio da Liberdade, em BH.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

ANCELMO GÓIS - Geografia do crime


Geografia do crime
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 08/08/11

A prisão do traficante Biscoito (que seria responsável pela morte de um diretor de Bangu III, em 2008) mostra, na era das UPPs, como se acelerou a migração de bandidos entre favelas do Rio. Chefe do tráfico da Mangueira, ele andava pelo Complexo do Alemão, ambos ocupados, além de Juramento e Jorge Turco. Foi preso no Jacarezinho.

Dando choque
A Rádio Interruptor diz que duas graúdas do setor elétrico pressionam pela saída de Nélson Hubner, diretor-geral da Aneel. A razão seria a ideia dele de contratar uma auditoria externa para fiscalizar concessionárias que prestam serviço ruim. A conferir.

Toma que o filho... 
A Finep manifestou à Ancine o desejo de não mais gerir o Fundo Setorial do Audiovisual. Argumenta que não é a sua praia. O FAS financia projetos ligados ao cinema.

Brasil vai à guerra
Uma das primeiras tarefas de Celso Amorim no Ministério da Defesa é apressar a ida de um contingente militar, estimado em 300 soldados, para a fronteira entre Líbano, Israel e Síria. No Itamaraty, Amorim participou dessas negociações com a ONU.

No mais
Dilma, além de não aceitar sugestão de Lula de manter Henrique Meirelles no BC, como disse Gilberto Carvalho à “Época”, nomeou o executivo para um cargo de mentirinha nos Jogos de 16. Muy amiga.

Modelito Pitanga
A Preserv, fabricante de preservativos, vai lançar amanhã uma camisinha tamanho GG. O Preserv Extra Premium terá 58 milímetros de largura e 190 milímetros (ou 19 centímetros!) de comprimento, com lubrificante à base de água.

Lula na avenida
Noca da Portela, 78 anos, o querido compositor carioca, e Osvaldinho da Cuíca, 71, um dos grandes nomes do samba paulistano tocou com Adoniran Barbosa), preparam parceria para concorrer na disputa de samba- enredo da Gaviões da Fiel. O enredo da escola paulistana, como se sabe, será “Verás que um filho fiel não foge à luta”, em homenagem a Lula.

Aliás...

Lula, pelo visto, pode passar o carnaval na ponte aérea. Como saiu aqui na coluna, o expresidente será convidado para desfilar na Grande Rio, que fecha os desfiles na Sapucaí.

Rock Brasília
O documentário “Rock Brasília — era de ouro”, do mestre Vladimir Carvalho, vai abrir em setembro o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Viva Dóris!
Dóris Monteiro, 76 anos, a grande cantora que se queixou, como saiu aqui, de não ser mais lembrada para shows, foi convidada, viva!, para cantar no Cariocando, no Rio. Serão três sábados seguidos — 3, 10 e 17 de setembro.

Virou moda?

O bar Devassa da Tijuca, no Rio, não é o único do bairro a pôr no braço dos garçons um dispositivo que vibra quando o cliente aperta um botão. O Rota 66, ali perto, também submete a turma da bandeja à pequena, digamos, tortura.

Danone no samba
Última escola do Grupo Especial do Rio a anunciar seu enredo, a Porto da Pedra levará à Sapucaí, em 2012, “Da seiva materna ao equilíbrio da vida”, sobre alimentos à base de leite. Tem patrocínio da Danone.

A três anos da Copa 
Quem reparou foi nosso grande diretor e ator Daniel (Salomão Hayalla) Filho: — A Infraero daria boa ajuda à imagem do Rio se proibisse a venda de voucher de táxi no Galeão. Das gaiolas de vidro, mulheres gritam e acenam para os turistas, que olham assustados sem saber o que elas vendem.

Cena carioca 
Semana passada, perto de 20h, no Centro de Diagnóstico da Barra, um rapazinho berrou, irritado porque a recepcionista exigia, para um exame, uma requisição que ele não tinha: — Quero falar com o diretor da clínica “bocalmente”! A recepção lotada caiu na gargalhada. 

ILIMAR FRANCO - O último ato


O último ato
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 08/08/11
 
Para coroar a sequência de episódios que resultou em sua saída do governo Dilma, o ex-ministro Nelson Jobim mandou avisar que não participará de solenidade de transmissão do cargo para o ministro Celso Amorim. Com a mudança no comando da Defesa, os comandantes militares estão na expectativa de que, a partir de agora, possam ter interlocução direta com a presidente da República.

Rossi vai enfrentar o Senado
Depois de nadar de braçada em audiência pública na Câmara na semana passada, a vida do ministro Wagner Rossi (Agricultura)deve ser mais difícil na Comissão de Agricultura do Senado, na quarta-feira. A demissão do secretárioexecutivo, Milton Ortolan, vai esquentar seu depoimento. A seu favor, ele tem a boa vontade de parte da oposição que integra a bancada ruralista. Além disso, no Planalto não se considera que a pasta padeça do mesmo descontrole que levou à faxina nos Transportes. Por enquanto, a atuação do ministro, tomando
providências imediatas, diante de cada caso denunciado, está agradando.

'O ministro Guido Mantega precisa nos dizer o que vai acontecer com o dinheiro que o Brasil tem aplicado em títulos da dívida americana”
— Rodrigo Maia, deputado federal (DEM-RJ)

O VOTO ‘LISTÃO’.
 O PMDB vai apresentar um voto em separado na reforma política na Câmara. O relator da matéria, o deputado Henrique Fontana (PT-RS), na foto, quer o voto em lista. Os peemedebistas vão propor um sistema misto para as eleições proporcionais: 50% em lista, 50% majoritário, o chamado distritão. Se o PT desistir do voto em lista, como o PMDB desistiu do distritão, a Câmara poderá votar a reforma.

Mais grana

O governo do Rio vai pedir mais verbas do governo federal para a Região Serrana. Muitas obras de contenção de encostas e dragagens não têm previsão de recursos. A crise econômica está retardando o cronograma da reconstrução.

Oba-oba

O governador Jaques Wagner (BA) não perde a oportunidade de encher a bola da presidente Dilma. Na sexta-feira, em Juazeiro, ele a festejou dizendo: “Se eu tivesse que batizá-la, eu lhe daria o nome de batismo de Mulher Coragem”.

Oposição, CPI e factoides
Alguns senadores da oposição estão dizendo que aprenderam uma lição ao encaminhar o pedido de CPI do Ministério dos Transportes. Consideram que foi um erro protocolar a CPI com apenas 27 assinaturas. No futuro, acreditam que é preciso coletar mais de 30 apoios, tornando mais espinhosa a tarefa do governo Dilma de retirar assinaturas de senadores de sua base parlamentar sensíveis aos rumores da opinião pública.

Alerta
Diante do susto que o governo tomou com a CPI dos Transportes no Senado, um senador petista adverte que a rodada de conversas
que a presidente Dilma Rousseff fez com as bancadas não foi suficiente. É preciso virar rotina.

Apostas
Os nomes do PCdoB para as eleições municipais são: Manuela D’Ávila (Porto Alegre), Netinho de Paula (São Paulo), Renildo Calheiros
(Olinda), Inácio Arruda (Fortaleza), Perpétua Almeida (Rio Branco) e Ângela Albino (Florianópolis).

 A BANCADA do PMDB vai escolher, na quarta-feira, seu candidato ao TCU. Há três nomes no partido disputando a vaga: Osmar Serraglio (PR), Átila Lira (AM) e Fátima Pelaes (AP).
 DEPUTADOS federais do PT de São Paulo, que têm base na capital, se reúnem nesta semana para discutir as eleições para a prefeitura paulistana.
● O PRESIDENTE do DEM, senador José Agripino (RN), nega que pretenda lançar seu filho, o deputado Felipe Maia (DEM-RN), para prefeito de Natal.

RENATO JANINE RIBEIRO - A autoridade presidencial


A autoridade presidencial
RENATO JANINE RIBEIRO
Valor Econômico - 08/08/2011

Em meio ano, Dilma Rousseff demitiu três ministros de Pastas importantes. No começo de seu governo, escrevi que ela estava em busca de seu estilo. Sucedia a dois grandes comunicadores. Fernando Henrique Cardoso, em que pese vivermos num país sem maior simpatia pelos intelectuais, usou sua cultura e simpatia - era o chefe de governo mais culto que tivemos desde José Bonifácio - para transmitir, à sociedade, uma nova agenda, mais econômica na verdade do que política. Luiz Inácio Lula da Silva utilizou sua verve e carisma para comunicar-se com uma parcela bem maior da sociedade. Se adotou políticas de inclusão social, aumentando a classe C e reduzindo as D e E, fez algo parecido no discurso político: dirigiu-se sobretudo aos pobres, falou com eles, em especial com suas famosas metáforas. E Dilma? Que estilo teria, perguntei em fevereiro, depois desses governantes que sabiam tão bem falar à sociedade?

Agora, temos dados concretos. Dilma continua falando pouco. Também não é de escrever. Ela assina. Assina demissões. Há uma lógica clara no seu modo de demitir. Quando um ministro é suspeito de corrupção, ela quer que preste satisfação à sociedade. Dá-lhe uma chance. Não demite ninguém de pronto. Porém, se a satisfação prestada não for convincente - e foi esse o problema de Palocci, que era o grande ministro de uma grande Pasta, bem como o de Alfredo Nascimento, que dirigia um dos principais ministérios da Esplanada, não só pelo dinheiro manejado mas pela popularidade que gera, se construir e consertar estradas - o ministro sai. Esse não é um juízo criminal. Não sabemos se foram ou não culpados das acusações que lhes foram dirigidas. É um julgamento político. A política lida com aparências. Para ela, não basta a mulher de César ser honesta, ela tem de parecer honesta - para retomar o célebre dito de Júlio César, pronunciado assim mesmo na terceira pessoa.

Não basta acusar para derrubar um ministro. Ana de Hollanda foi atacada no começo do governo, pelas políticas que adotava (ou não adotava) e também por uma questão de diárias pagas a ela. Dilma deu-lhe um abraço, num corredor, e disse que fosse em frente. Só isso. Não houve colo, força-tarefa para defender a ministra, nada. Mas Hollanda se virou e saiu dos holofotes. Em suma, a presidente dá chance a quem é criticado e espera que a pessoa se mostre capaz de superar o mau momento. Porém, cobra. Um ministro não ficará no cargo fazendo-se de tonto.

Lembremos o episódio Henrique Hargreaves, em que o principal ministro de Itamar Franco, falsamente acusado de corrupção, se demitiu para que tudo fosse apurado e só voltou ao ministério devidamente isentado de culpa. Os tempos mudaram. Hoje, o único tema da oposição é a corrupção. Ela não discute como baixar a apreciação do real, não entra no mérito do trem-bala - apenas, acusa o governo de corrupto. Os decepcionantes PV e Marina, por sua vez, sequer fazem campanha contra a redução do imposto sobre os automóveis. Seria impopular defender mais impostos sobre os carros, mas o que se espera dos verdes? Que proponham o novo. Isso não vemos nem na oposição tucana, que só fala em desvio de verbas, nem na verde, que praticamente não fala. Hoje, se cada ministro acusado se afastasse, a oposição inviabilizaria a baixo preço e com meras palavras o governo. O que se pode esperar da presidência é que mande os acusados prestarem contas.

Já o desfecho do caso Jobim é diferente, mas normal. Se não o demitisse, a presidente se desmoralizava. O que temos de entender, e cabe aos jornalistas descobrir, é por que ele quis sair como saiu. Em poucas semanas, multiplicou provocações que não podiam ser toleradas. Recordo o sociólogo Emir Sader, que seria diretor da Casa de Ruy Barbosa. Numa entrevista, Emir se referiu a sua superior, a ministra Ana de Hollanda, como "autista". Era uma alusão bem humorada e até carinhosa. Bastou para que perdesse o cargo. Mas Emir é um acadêmico; nesta área, estamos acostumados a dizer o que pensamos, sem meditar muito as consequências.

Nelson Jobim é um político brilhante, que foi ministro de três governos seguidos e se destacou nos três Poderes da República. Foi o melhor ministro da Defesa que tivemos desde a criação da Pasta. Então, por que deu três declarações sucessivas e provocadoras? Queria sair como herói? Para tanto, precisaria estar representando uma causa nobre, contra uma eventual falcatrua. Nada disso está à vista.

Dilma não aceitou, nem podia aceitar, o que precisamente para os militares é o pecado mortal: a indisciplina e, com ela, a tolerância com a indisciplina. (Ainda hoje, paira a suspeita de que, se Jango não tivesse admitido a indisciplina dos sargentos e marinheiros em 1964, vários generais, entre eles o comandante de São Paulo, não se teriam revoltado; o golpe de Estado fracassaria). O chefe do Ministério da Defesa desrespeitou a comandante-em-chefe das Forças Armadas. A essa altura, importa pouco avaliar como será Celso Amorim - como ainda sabemos pouco de Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti. Nenhuma dessas indicações, em que pesem as qualidades do ex-chanceler no Itamaraty, impressionou muito a opinião pública. Mas o que conta é que a presidente mostrou firmeza.

Ainda ignoramos como Dilma vai se comunicar. O que vimos é que exige respeito. É um dado importante. É um começo. Talvez precise terminar de ajeitar o governo. Isso demora - talvez um ano. Depois, terá de mostrar que ideais vai transmitir - como FHC e Lula fizeram. Está indo bem na tarefa de pôr ordem no ministério. Terá de mostrar para quê. Isto é: o que tem a propor ao povo. Esperemos.

PAULO DELGADO - A aspereza da política


A aspereza da política
PAULO DELGADO
O Globo - 08/08/2011

O alto grau de inconveniências ministeriais produzidas no início do governo da primeira mulher presidente do Brasil não encontra explicações somente na política. Há uma linha que costura essa atmosfera de ferimentos autoprovocados e associa autoridades a comportamentos desonestos nos Transportes, desarrumadas explicações na Casa Civil e crispação no funeral sem luxo da boa gestão da Defesa.

Declarações, discursos, comícios e instintos diversos dão sempre a sensação aos políticos de que influenciam fortemente os acontecimentos. Iludidos com o princípio da elasticidade da almofada, caracterizado por manter a forma do último que se assentou sobre ela. Hábito contrário ao princípio da continuidade do regime presidencialista estável e transparente. E às boas normas da autoridade, como bem disse nosso sexto presidente, Afonso Pena, ao seu opositor Rui Barbosa: "Na distribuição das pastas não me preocupei com a política, pois esta direção me cabe. Os ministros executam meu pensamento. Quem faz a política sou eu."

Mas o que é mesmo fazer política? Há um sentimento de que é cada vez mais difícil imaginar a política institucional baseada em serenidade, probidade e força. Os elementos de dispersão, a dificuldade de produzir consensos, os limites artificiais entre governo e oposição e a constante atmosfera de desimportância para questões de longo prazo tornam o exercício do poder uma rotina extravagante. O fato de a presidente não se interessar por pontificar no epicentro da política e todo o seu burburinho diário não é inércia ou indiferença à política. É que deveriam ser suficientes, para o bom desempenho administrativo, o poder e as prerrogativas da Presidência como instituição. Essa é uma postura, um tipo de singularidade, pouco praticada no nosso presidencialismo. Reforçada pela tendência para analisar com ênfase, cuidado e prudência os prós e contras das decisões, revela um temperamento. E não o desejo de negar o arranjo que a elegeu como se vê pelo convite aos novos ministros, todos da base do governo. Lealdade sem subordinação é a boa prática. Mas quem se contenta em traduzir convicções em apoio ou votos estando com o apetite aceso? Difícil essa gastronomia eleitoral se ajustar ao estilo de uma autoridade que prefere reunir-se para tomar decisões do que para prolongados jantares de reivindicação.

Os esqueletos da política e suas mazelas não estão escondidos nos armários só do Estado. Mas pendurados por aí em inúmeros endereços públicos e privados. São cada vez maiores as pressões que o poder econômico, o sistema financeiro e os grandes fornecedores fazem sobre o Estado. Que, às vezes, para não sangrar decide não decidir em prejuízo do futuro. Nossa infraestrutura que o diga. Aqui, trens, aeroportos, estradas, pedágios, pontes, estádios de futebol, hidrelétricas, só funcionam na lógica superfaturada dos construtores. Aliados da destruição do panorama das cidades com seus prédios fora do tamanho e lugar, entupindo calçadas, esquinas, praças, ruas, parques - pressão constante para alterar códigos de posturas e avançar sobre o pedestre, árvores, lagoas e rios.

O espírito de grupo, com suas regras fechadas, está tirando o sono dos governos. A hegemonia brutal do sistema financeiro sobre a ordem mundial é a principal causa da desarmonia atual das coisas. A economia sempre foi o motor da ligação imperfeita entre a política e a sociedade, mas encontrava na política o freio às relações deletérias que as ambições de grupos privados queriam impor. Hoje é a política, e suas relações deletérias com grupos privados, o principal fator de desestabilização da vida social e econômica. A morte do liberalismo clássico, não o contrário, está na origem da crise econômica que arrasta a Europa em desrazão e os Estados Unidos em insensatez.

A aspereza da política não é fruto da sua natureza. Mas do convívio com diferentes concepções sobre seu uso e objetivos.

MELCHIADES FILHO - Desenho colorido


Desenho colorido
MELCHIADES FILHO
FOLHA DE SP - 08/08/11 

BRASÍLIA - As decisões de Dilma Rousseff levam duas marcas: ampliam o já fabuloso poder da Presidência e ignoram, quando não afrontam, convenções da política.
Sozinha, ou ladeada de poucos assessores de confiança -que, entre o entusiasmo e a resignação, batem continência-, a presidente faz só o que quer e do jeito que quer.
Montou uma equipe sem luz própria. Confiou o BC a funcionários de carreira sem "projeção no mercado". Na Casa Civil, trocou um veterano da política por alguém "que nem sequer conhece Brasília".
O desenho é propício para que Dilma defina pessoalmente diretrizes e até detalhes dos programas de governo, como ficou claro na atabalhoada montagem do pacote de estímulo à indústria nacional.
Derrubados Antonio Palocci e Nelson Jobim, não há, no primeiro escalão, ninguém com trânsito nos outros poderes nem currículo para fazer contraponto à presidente.
O vice Michel Temer, craque em acordos e potencial foco paralelo de comando, foi escanteado de todas as principais decisões.
Nesse sentido, a articulação política, tão cara a Lula e a FHC, deixou de ser prioridade. Virou incômodo.
Dilma atropelou os protocolos quando bloqueou emendas parlamentares, demitiu suspeitos de corrupção nos Transportes e nomeou um diplomata de esquerda para a chefia das Forças Armadas. Não teve receio de alienar congressistas, políticos em geral e militares.
Uns admiram o empenho dela em fazer diferente. Outros questionam a obsessão pela microgerência e o alheamento à realidade extragabinete. Aqui e ali, começam a surgir as comparações com Collor.
O presidente corrido do cargo, porém, sucumbiu a uma outra Brasília. Há 20 anos, o Legislativo era símbolo da democracia recém-conquistada e contava com forças engajadas em melhorar a política.
O trunfo de Dilma é a ruína moral do Congresso, dos políticos em geral e, inclusive, de seu partido.

RUBENS RICUPERO - Questão nacional e desglobalização


Questão nacional e desglobalização
RUBENS RICUPERO
FOLHA DE SP - 08/08/11

Se não houver eficácia em neutralizar a desvalorização de moedas estrangeiras, a economia será destruida

A nova política industrial indica a opção do governo por uma desglobalização moderada como remédio à agonia da indústria e ao perigo do agravamento do panorama social e político.

Em artigo de notável lucidez em O Estado de S. Paulo, Luiz Werneck Vianna detectou a volta da questão nacional como resultado de dois movimentos simultâneos. De um lado, o agronegócio, vitorioso nas exportações, invade o núcleo duro do poder (na votação do Código Florestal, por exemplo). Do outro, a indústria cede o lugar central que ocupou durante 80 anos na realização do projeto nacional ao perder a capacidade de assegurar a modernização da economia e a integração do mercado interno.

Agravada por problemas brasileiros (juros, impostos, custo Brasil), a crise do projeto nacional não é culpa do agronegócio, mas da combinação de dois fatores, ambos externos: a valorização da moeda e o “choque de mão de obra” provocado pela inclusão de centenas de milhões de chineses no circuito manufatureiro mundial.

Na persistência desses dois fatores, uma pura saída nacional forte redução dos juros, eliminação do custo Brasil, salto de competitividade é na prática inexequível. Se, em condições externas mais favoráveis, pouco dessa agenda caminhou nos 17 anos do real, seria irrealista esperar avanços decisivos nos próximos dois ou três anos, quase a duração do atual governo.

Sobretudo porque eles vão coincidir com o recrudescimento da crise nos EUA, na Europa e no Japão, onde os recentes descalabros só nos deixam a certeza de que a desvalorização do dólar, a manipulação das moedas asiáticas e o excesso de liquidez financeira continuarão a criar para o Brasil ameaças das quais temos de nos defender.

Esse quadro é anormal e de exceção, obrigando também a respostas excepcionais. Pertencem a esse gênero as medidas de alívio anunciadas, que representam, sem dúvida, um recuo estratégico limitado em relação a compromissos assumidos nas negociações comerciais.

A dúvida não é a heterodoxia do favorecimento à produção local, mas sua modéstia, comparada ao gigantesco socorro dos americanos à GM e a ações similares de europeus, argentinos e outros. Pois, se não houver razoável eficácia em neutralizar a desvalorização competitiva de moedas estrangeiras e o excesso de ingressos financeiros, a economia brasileira será destruída antes de ter tempo para avançar na agenda interna de competitividade.

A implacável valorização do real só não inviabilizou a exportação de commodities agrícolas e de minério de ferro porque o aumento dos preços internacionais compensou parcialmente os custos internos em alguns casos. Não faltam setores agrícolas onde a margem já desapareceu ou quase.

Não fosse a contribuição isolada das commodities agrícolas e minerais, a crise do projeto nacional estaria em fase terminal. Uma desglobalização temporária e defensiva capaz de abrir espaço para elevar a competitividade interna interessa, assim, não apenas à indústria, mas a todos os setores. A questão nacional passa não pela disputa entre setores, mas pela sua união, junto aos sindicatos, contra a importação da crise externa.

VINICIUS MOTA - A China acusa o golpe

A China acusa o golpe
VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 08/08/11

Enquanto a política americana exibe suas entranhas ao mundo, a China reage em velho estilo. Os Estados Unidos, diz um comunicado da agência de notícias chinesa, deveriam curar seu vício pelo endividamento, passando a viver com seus próprios meios.

A China empresta muito do que poupa a governos nos EUA e na Europa. Em títulos da dívida americana, deposita 40% de suas economias - US$ 1,2 trilhão, ou um PIB do México. Com o valor e os juros do dólar em queda, o patrimônio chinês se desvaloriza.

Mas o pior para a China é que a deterioração do poder de compra do Ocidente chacoalha o solo no qual brotou e vicejou o "milagre chinês". Estava combinado que a Ásia reprimiria seu consumo, enquanto se tornava uma fabulosa fábrica de mercadorias baratas, para satisfazer e financiar europeus, americanos e quem mais viesse.

Se os EUA decidirem "viver com os próprios meios", o que a China fará com tanta capacidade produtiva?

Pequim vai permitir - ou vai conseguir evitar - que os chineses consumam e se endividem em ritmo mais acentuado? Que cresçam salários e itens de bem-estar escassos na China, como aposentadoria, férias, assistência médica e descanso semanal? Que a fatia da população urbana aumente depressa e atinja níveis de países ricos? Os efeitos de uma transição como essa seriam suportáveis pela ditadura?

Coisas estranhas ocorrem na China. A "repressão preventiva" após a Primavera Árabe foi brutal. Um acidente com trem-bala no mês passado gerou volume inusual de crítica pública ao governo. Perto da sucessão no PC, emerge a figura exótica de Bo Xilai, um tipo populista que chefia o partido em Chongqing, com seus 30 milhões de habitantes.

Agora a crise nas economias ocidentais atormenta o status quo da ditadura chinesa com o pesadelo de o país ter de consumir tudo o que produz. De um jeito dramático, o mundo está ficando interessante.

MARIA INÊS DOLCI - Consumidor tão bonzinho


Consumidor tão bonzinho
MARIA INÊS DOLCI
FOLHA DE SP - 08/08/11



Ou nos mexemos, ou em breve tudo vai custar o dobro, porque quem cala, e aceita quieto, consente



Nunca imaginei, honestamente, que tantas coisas positivas acontecessem ao Brasil nas últimas décadas. Ou melhor, pensei que as coisas mudassem para melhor logo após o final da ditadura militar, mas os primeiros governos civis foram frustrantes, com resultados pífios.
Dentre as boas surpresas, destaco o sucesso no combate à inflação, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e suas consequências, a redução da pobreza e a ascensão das classes C e D.
Confesso que esperava muito mais das agências reguladoras, e que é triste ver os brasileiros ansiosos por bons serviços públicos, submetidos a apagões de energia, a aeroportos mal administrados, a telefonia móvel de má qualidade e acesso à banda larga idem.
A continuidade do poder absoluto do sistema financeiro é outra pedra no sapato do consumidor.
Nos últimos anos, com a valorização do real ante o dólar, e a ampliação dos consumidores com alguma renda, enfrentamos outro fenômeno preocupante, que poderá desfazer parte da inclusão social: o encarecimento do país.
Especialmente em São Paulo e em outras grandes cidades, pagamos preços absurdos, extorsivos, quase inacreditáveis, por um prato de macarrão, pelo estacionamento do automóvel, por serviços em geral.
Estamos longe de contar com uma boa distribuição de renda. Há mais empregos formais, mas somos, em média, muito mal remunerados. É verdade que um empregador que pague R$ 2.000 para um profissional destina outro tanto em impostos e taxas ao governo.
Há vários fatores que condicionam a elevação de preços: alta carga tributária; especulação livre e desenfreada; crescente oligopolização da economia nacional; falta de mobilização dos consumidores.
Esqueçamos, por um instante, os três primeiros itens. Afinal, dificilmente mudarão no curto prazo, ainda mais sem ações concretas dos três Poderes para que isso ocorra.
A mobilização, contudo, cabe a nós. Por que não brigamos pelos nossos direitos? Por que não usamos nosso poder de fogo, como consumidores organizados, para boicotar, por exemplo, as empresas de estacionamento que nos cobram, em São Paulo, R$ 30 por três horas de serviços?
Porque podemos pagar. E também para não quebrar nossa rotina de imobilismo.
Somos capazes de sair às ruas para protestar contra o fraco desempenho da seleção brasileira em campo.
Mas não nos dignamos a comparecer a uma esporádica reunião de condomínio do prédio, que decidirá, entre outras coisas, o reajuste da mensalidade cobrada pelos serviços prestados no edifício em que moramos.
Enfrentamos uma longa espera em um restaurante da moda, pagamos muito caro por um prato mais ou menos, e por um serviço de má qualidade, sem nenhum questionamento.
Se boicotássemos aqueles que abusam dos preços -sem nenhum espírito dos antigos "fiscais do Sarney"- a situação mudaria. Mas, não, se há como pagar, que se pague.
Imóveis dobraram de preço. Nossos automóveis são caríssimos e não dispõem de itens de segurança para lá de básicos em países desenvolvidos. As tarifas de luz, de água, de telefone e de banda larga estão entre as mais salgadas do mundo.
Apesar disso, nem nos damos ao trabalho de avaliar, periodicamente, o trabalho dos políticos que elegemos. Na maioria das vezes, esquecemos os nomes dos candidatos nos quais votamos.
A cidade de São Paulo, uma das mais ricas do mundo, uma cornucópia de geração de tributos em todos os níveis de governo, está à matroca. Ruas esburacadas, trânsito infernal, transporte coletivo ruim, tudo isso permeado por apagões e por uma poluição insana, nos dias mais secos do inverno.
Assistimos a tudo como se fosse um filme ruim, de um Freddy Krueger que nos ameaça impunemente.
Ou nos mexemos, ou em breve tudo custará o dobro, porque quem cala, e aceita quieto, consente.
Como dizia uma personagem de humor, com sotaque norte-americano, "brasileiro tão bonzinho".
Pois somos.

LUIZ FELIPE PONDÉ - Os infortúnios da melancolia


Os infortúnios da melancolia
LUIZ FELIPE PONDÉ 
Folha de SP – 08.08.2011)

No filme de Lars von Trier, melancolia não é só o nome de uma doença, mas o nome de um planeta


Marquês de Sade (século 18) escreveu, entre outras obras, “Justine ou os Infortúnios da Virtude”, sempre vista como uma obra erótica ou de crítica política. Mas ela é mais do que isso.

Se Sade fosse apenas um escritor “jacobino” (como fazem dele os maníacos por crítica política) ou um escritor que só fala de sexo (como fazem dele os risíveis defensores da redenção humana através de uma gozada na boca de uma assustada menina de 13 anos que engole o esperma em prantos), ele seria um escritor menor.



Não, Sade era um filósofo que achava que a natureza é má, incluindo a natureza humana e sua história. O “divino” marquês se inscreve numa tradição (dos trágicos, gnósticos, maniqueus, cátaros) que se pergunta se a natureza (ou Deus) não seria em si má, cruel e perversa. Não seria o cosmo uma câmara de torturas?

Eu, nos meus piores dias, me pergunto se essa tradição não teria razão. Guardo-a em minha alma como um veneno íntimo, uma irmã gêmea, sempre em vigília, pronto a me asfixiar de lucidez.

A marca mais “física” dessa dúvida (quanto à validade da vida e de seus infinitos rituais inúteis) é quando o corpo fica muito pesado e o próprio caminhar se torna uma tarefa impossível -como no caso da personagem melancólica Justine do novo filme de Lars von Trier, “Melancolia”.

Muitos dos grandes filósofos, como Descartes, Pascal, Leibniz e Kant (entre outros) temiam que esses pessimistas tivessem razão e que o único afeto inteligente diante da vida fosse a tristeza, ou, melhor dizendo, num vocabulário filosófico elegante, a melancolia. Se os melancólicos tiverem razão, “não há esperanças para nós”, como vaticina a profetisa melancólica Justine de Von Trier.

O cineasta dinamarquês vem dialogando com essa tradição há algum tempo. Sua briga não é com a sociedade apenas contemporânea (ou do “capital”, como creem os ingênuos ou mal informados), sua discussão é bem mais profunda do que pensa nossa vã filosofia.

Em “Dogville”, Grace (graça!), mulher linda, trabalhadora e generosa, ao final, se torna, com razão, vingativa e assassina porque os habitantes de Dogville eram como cães miseráveis. Em “Anticristo”, a mãe prefere gozar a impedir que o filho pule pela janela (além de torturá-lo com pequenas coisas ao longo de sua curta vida). Ela é a testemunha encarnada de que “aqui reina o caos” e de que a “natureza é o templo de Satã”.

A razão, em “Dogville”, e a psicologia “científica”, em “Anticristo”, são objetos de ironia cruel. Em “Melancolia”, o cunhado milionário da melancólica é o risível (e covarde) crente nos cálculos da ciência oficial que nega a rota de colisão entre a Terra e o gigantesco planeta chamado Melancolia.

Lars von Trier nos dá sua versão dos infortúnios de Justine. Se em Sade ela é a vítima indefesa da crueldade de uma natureza que ama torturar suas criaturas, revelando a inutilidade da virtude no mundo (lembremos que Sade usa o nome Justine como alternativa para “infortúnio”), em Von Trier ela é a vítima indefesa da melancolia porque (sempre) percebeu que “a vida na Terra é má” e condenada. Um acaso isolado e único no universo: “Estamos sós”, diz a profetisa Justine.

Mesmo a comida mais gostosa revelará seu sabor verdadeiro: a substância última das coisas são as cinzas. Ao tocar o mundo com a boca, a profetisa Justine sente o “gosto” da verdade infeliz das coisas.

No filme, melancolia não é apenas o nome de uma doença, mas o nome do planeta que prova que os melancólicos são profetas.

Quando finalmente se comprova a inevitabilidade da “dança da morte” (nome dado no filme para a rota de colisão), Justine aparentemente sai da tristeza e se revela a mais corajosa das duas irmãs. Ela não se cura, o universo é que deixa de “mentir” sobre si mesmo.

Numa noite clara, ela oferece seu corpo nu ao planeta Melancolia, como uma mulher apaixonada faz para seu amante, buscando seu beijo. Uma declaração de amor à morte.

Imagine, nesta segunda-feira, por um instante, se Justine tiver razão e estivermos mesmo sós num universo feito de cinzas.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - Os escolhidos do governo


Os escolhidos do governo
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 08/08/11

À decepção que o anúncio do pacote de apoio à indústria causou, pela timidez do conjunto e pela indefinição das regras e da amplitude de muitas de suas medidas, agora se soma a surpresa com a medida provisória e as novas decisões que fazem parte do Plano Brasil Maior, como o governo o denominou. Um programa financiado com recursos públicos, que já cumpriu seu papel e por isso tinha data para acabar, será prorrogado por mais um ano e ampliado. Setores industriais que gozam de benefícios especiais desde a chegada do PT ao governo serão novamente agraciados com vantagens fiscais, mesmo que continuem a apresentar excelente desempenho no que se refere à produção, vendas e geração de emprego. Já o enfrentamento do real desafio da indústria, que é o aumento de sua capacidade de competir globalmente, continua a aguardar medidas concretas.

Embora venha afirmando que faz um severo ajuste de suas contas, o governo decidiu aumentar os empréstimos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para que este amplie os financiamentos que concede a juros subsidiados, e prorrogar por mais 12 meses o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferece financiamentos em condições ainda mais favoráveis.

Criado em 2008 para evitar que os investimentos sofressem maior redução por causa da crise global, o PSI deveria terminar neste ano. Os resultados da economia brasileira em 2010, quando o PIB cresceu 7,5% e o volume de investimentos teve aumento recorde de 21,8%, não deixam dúvidas de que, se tinha um papel a desempenhar, o PSI o fez bem. Mesmo assim, ele será mantido e, além disso, o BNDES voltará a financiar capital de giro, como fez durante a crise.

No momento em que a expansão do crédito e o aquecimento da demanda continuam a pressionar os preços, empurrando a inflação para muito perto do limite superior da meta inflacionária, a ampliação da oferta de financiamentos com juros fortemente subsidiados tornará os problemas ainda mais agudos.

O BNDES dispõe de um enorme poder financeiro, que, se bem utilizado, pode impulsionar de maneira notável a expansão e a modernização do sistema produtivo nacional, dando-lhe melhores condições para competir globalmente. Esse poder, porém, também lhe permite escolher setores ou grupos aos quais concederá prioridade, e essa escolha nem sempre pode ser coincidente com os interesses do País. Que sentido tem, por exemplo, o financiamento do BNDES a empresas brasileiras para aquisições no exterior, se o efeito mais positivo da operação for a geração de empregos em outros países, não no Brasil, como já ocorreu, ou apenas a recomposição do grupo controlador da nova empresa?

O governo do PT, desde o seu início, também tem feito escolhas pelo menos polêmicas, como, por exemplo, a da indústria automobilística, na qual surgiu, no fim da década de 1970, o novo sindicalismo que, em seguida, deu base para a criação do PT. Estabeleceu-se, então, entre essa indústria e sindicalistas e dirigentes petistas, uma aliança que continua forte. No anúncio do Plano Brasil Maior, o governo falou em "política de incentivo à produção nacional" para o setor automobilístico. Sabe-se agora que é um belo incentivo.

As montadoras instaladas no País, todas multinacionais, terão direito ao mais longo dos benefícios tributários do pacote industrial. A medida provisória editada pelo governo reduz o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as empresas que elevarem o conteúdo nacional em seus veículos, aumentarem os investimentos e produzirem veículos inovadores. Em outras isenções ou reduções tributárias, boa parte dos ganhos foi transferida para os consumidores. Desta vez, os ganhos irão integralmente para as empresas.

É difícil entender as razões desse benefício, pois, como diria o ex-presidente Lula, nunca antes na história deste país as montadoras venderam tantos carros nos sete primeiros meses do ano como venderam em 2011. Foram 2,03 milhões de unidades, 8,6% mais do que em igual período de 2010. Ainda assim precisam de benefícios tributários?

MARCIA PELTIER - Luxo e conforto


Luxo e conforto 
MARCIA PELTIER 
JORNAL DO COMMÉRCIO - 08/08/11

Pela primeira vez, a Feira das Américas – ABAV 2011, em outubro, no Rio, terá como expositor um aeroporto internacional, o de Chagi, de Cingapura. O terminal conquistou, este ano, o título de melhor aeroporto do mundo pela consultoria de Skytrax World Airport Awards, repetindo o resultado de 2010, e já havia sido eleito o número 1 da Ásia. Projetado para receber 70 milhões de passageiros/ano, o local é também uma opção de lazer e turismo no país. Dispõe de spa, cinema, piscina, academia, terminais high tech com acesso à internet gratuito e o maior pavilhão de feiras do sudeste asiático.

Batuta

O maestro Lorin Maazel interrompeu suas férias e chegou ao Rio, quinta-feira, atendendo ao convite para reger a OSB durante o Festival Beethoven, em substituição a Kurt Masur. Aos 81 anos, o americano veio sozinho e cheio de energia: mal deixou as malas no Copacabana Palace, seguiu para os ensaios no HSBC, na Barra. O imbróglio que envolve a orquestra - que Maazel não rege desde 1988, quando esteve à frente de um concerto no Aterro do Flamengo - em nada afetou o andamento dos trabalhos.

Fã do Rio

Ao avistar a Lagoa Rodrigo de Freitas, Maazel exclamou um “Meu Deus!”. Em Copacabana, disse que a vista era ainda mais bonita do que a de sua lembrança. O regente estará à frente da OSB nas sete sinfonias de Beethoven, a partir desta quarta-feira.

Mobilizados

A Conferência Ethos 2011 terá a participação de um número recorde de ministros de Estado. A edição deste ano, que começa hoje, na Fecomércio/SP, irá discutir propostas de transição para uma economia verde e inclusiva. Já confirmaram presença Jorge Hage (CGU), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Maria do Rosário (SEDH), Gilberto Carvalho (SGP) e Tereza Campello (MDS). Terminais de computador serão colocados à disposição dos que quiserem fazer sugestões. As propostas integrarão um documento que será levado à conferência Rio+20, em junho de 2012.

Locação de luxo

Audi e BMW irão participar, pela primeira vez, do Salão da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, amanhã e quarta-feira, em São Paulo. O setor, que adquire 10% da produção automotiva brasileira, ainda engatinha na oferta de veículos de luxo para locação. A aposta é de que o serviço pode ganhar corpo, à medida que a cultura do carro alugado avança no país.

Atrás da câmera

Premiada em festivais nacionais e internacionais pelos longas Contra Todos e Um Céu de Estrelas, a atriz Leona Cavalli vai trocar de papel. Em sua primeira experiência como diretora, irá rodar o documentário O caminho do Peabiru, na Amazônia. ‘’Vamos dar aulas de interpretação para os índios, que depois vão participar de um filme sobre a cultura deles’’, explica. Enquanto o projeto amadurece, ela começa a gravar a novela A vida da gente, da TV Globo, em que viverá uma pediatra que não consegue engravidar. ‘’Ela terá um grande conflito com o marido que doa o sêmen para outra mulher’’. Leona, que pretende ter filhos, está totalmente mobilizada com o folhetim. Tem visitado maternidades e conversado com especialistas.

A vez da ciência

O novo Código Florestal Brasileiro será debatido pela Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, presidida pelo senador Eduardo Braga (PMDB/AM). A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência fez lobby para que isso acontecesse. É que no relatório apresentado pelo deputado Aldo Rebelo, segundo a SBPC, os critérios científicos foram ignorados.

Classe virtual

Pesquisa do Instituto Politécnico de Ensino à Distância mostra o perfil de quem procura cursos profissionalizantes virtuais. A maioria (30%) concluiu o ensino médio, mas quem está cursando a faculdade (26%) também busca formação técnica. O Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, atrás de São Paulo, entre os estados com maior número de alunos em salas de aula não convencionais. São cerca de 78 mil que se distribuem entre cursos de idiomas (inglês e espanhol), seguidos de gestão e liderança, contabilidade e finanças e eventos e turismo.

Livre Acesso

A educadora, escritora e filósofa Tânia Zaguri é a convidada do programa Marcia Peltier Entrevista de amanhã. Conselheira titular da Associação Brasileira de Educação e com vários livros publicados, entre os quais Manual de instruções para pais das gerações X e Y, ela vai falar da convivência nem sempre harmoniosa entre os dois mundos. A conversa vai ao ar às 23h, na Rede CNT.

Cento e cinquenta cirurgias em crianças e jovens com lábio leporino serão realizadas gratuitamente, no Hospital Pedro Ernesto, na Operação Sorriso. Estima-se que um bebê em cada 650 nascido apresente a doença. Para agilizar a triagem dos pacientes, funcionários voluntários da Abbott vão participar do processo de seleção no hospital, hoje e amanhã.

Acaba de ser aberto no Città America, na Barra, um salão exclusivo para homens, o Città Barber Shop, com direito a massagem estética, limpeza de pele, podólogo e design de sobrancelhas, entre outros serviços, mais a tradicional barba com toalha quente. Na sala de espera estão disponíveis jogos de dominó, xadrez e cartas.

A artista plástica Heli Freireg abre exposição, amanhã, às 18h, na Galeria de Arte doBNDES,apresentando esculturas, pinturas, serigrafias e desenhos.

A Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) recebe, hoje, o título de benemérita do Estado do Rio de Janeiro em homenagem aos seus 111 anos de existência e contribuição à saúde pública no Brasil, no plenário da Alerj. Ela é a única produtora de vacina BCG no país.

A White Martins e a MRS Logística renovaram a parceria com a organização Escola de Gente para prorrogar, até o dia 28, a exibição da peça Um amigo Diferente?, primeiro espetáculo para infância e juventude do Brasil totalmente adaptado para pessoas com deficiência. A peça está em cartaz gratuitamente aos sábados e domingos, às 11h30, no Teatro Oi Futuro do Flamengo.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Precisa-se de governo


Precisa-se de governo
CARLOS ALBERTO SARDENBERG 
O Estado de S.Paulo - 08/08/11

Ficou entendido assim: a crise financeira de 2008 resultou de falhas de mercado, deixado excessivamente livre. Vai daí que a resposta exigia, necessariamente, mais controle do governo e da sociedade sobre esse mercado. Controle social, nós sabemos, é muito complicado. Acaba sendo capturado por grupos organizados. Assim, a coisa ficou mesmo por conta dos políticos eleitos, que justamente reclamavam mais poder de decisão.

O que vimos depois, porém, não é nada satisfatório.

Os últimos episódios nos Estados Unidos (a incrível disputa em torno do limite da dívida pública do país) e na Europa (como lidar com o euro e com os países endividados) mostram que estamos diante de uma imensa "falha dos políticos".

Ressalva: é verdade que os governantes conseguiram evitar o pior na crise de 2008 e de seus desenvolvimentos imediatos. Apesar de percalços e de atrasos, os líderes mundiais coordenaram ações econômicas e monetárias e bloquearam o desastre mais temido, que seria uma imensa depressão global. Ainda há poucos meses, parecia que o serviço havia sido muito bem feito. Os cenários da recuperação eram positivos: a economia global crescendo pouco mais de 4,5% neste ano; os Estados Unidos crescendo bons 3,4%; a zona do euro, sempre mais lenta, um pouco menos de 2%; e a Alemanha podendo emplacar a ótima média de 3% para 2010 e 2011. E os emergentes em ritmo acelerado. Estão vendo? diziam líderes políticos mundo afora.

Cantaram vitória antes da hora. Para alguns, os mercados foram à forra. De certa forma, é verdade. Mas não no sentido de que os gananciosos especuladores estariam cobrando mais uns trocados. O que os mercados estão apontando, quando derrubam as bolsas e elevam as taxas de juros cobradas de países europeus devedores, é justamente a incapacidade dos governos.

Não deixa de ter sua ironia. Neste momento, os governantes esperam que os mercados resolvam, ou ao menos administrem, os problemas econômicos e financeiros deixados pelos próprios governos. E os mercados estão pedindo que os governantes façam alguma coisa.

Ocorre que a saída da fase aguda da crise foi incompleta.

Considerem os países devedores europeus. Os governos de Portugal, Irlanda e Grécia puseram a culpa nos fundos e nos bancos quando estes passaram a exigir taxas de juros altíssimas para financiar as dívidas deles. Mas as dívidas já eram "impagáveis". Nem fazendo economia brutal, deixando de pagar até as contas de luz e de água, aqueles governos conseguiriam pôr suas contas em dia.

Ora, essa situação de insolvência não ocorre de um momento para outro. Não se improvisa, como diria Nelson Rodrigues, são desastres longa e pacientemente construídos. No caso, viver muitos anos gastando mais do que se tem.

Por que, então, os bancos continuaram emprestando até bem pouco tempo atrás?

Simples. Porque eram títulos em euros - cujo fiador em última instância, financeiro e moral, é a Alemanha. Estão, agora, cobrando o fiador.

Daí o papel principal de Angela Merkel. E aqui o problema: a liderança da chanceler alemã está longe da tradição deixada por Konrad Adenauer, Willy Brandt e Helmut Kohl. A União Europeia mandou dinheiro para os devedores, mas e daí? Qual o plano de médio prazo para tirar aqueles países da estagnação e colocá-los na rota do crescimento?

Até aqui, estão quebrando galhos, às vezes até com eficiência. Mas daqui a pouco cai a árvore inteira. Durante muito tempo se disse que a Europa era assim mesmo: a sociedade do bem-estar social, impostos altos, muitos benefícios e serviços públicos. Não crescia mais nada, mas, e daí? Já era rica. Depois da acumulação, era hora de gozar.

Ocorre que o dinheiro não deu. Acreditava-se que acabaria na próxima geração, que teria de iniciar um novo ciclo de poupança. Mas o problema já está aí. Sucessivas lideranças levantaram a Europa de hoje: a reconstrução depois da 2.ª Guerra Mundial; o Estado do bem-estar social; a União Europeia; a unificação da Alemanha; o euro; a incorporação dos ex-socialistas. Belíssimo trabalho. E agora?

As lideranças atuais da Europa estavam mal-acostumadas. Parecia que era só tocar o serviço, sem complicar. Pois estão sendo chamados a tarefas mais complexas e parecem algo assustadas com isso.

Nos Estados Unidos, o panorama político é ainda pior. O aumento do teto da dívida pública, decidido na última hora, depois de semanas de confrontos, deveria ser uma providência simples e automática. É o mínimo de responsabilidade que se espera de um devedor como os Estados Unidos - a potência dominante, emissora da moeda global.

Pois diversas lideranças americanas pareciam não dar a menor atenção a essa responsabilidade. E também os Estados Unidos, como a Europa, precisam definir rumos para as próximas gerações. Há uma conta chegando para todos - governo, famílias e empresas, que também viveram à larga.

Se Hegel estava certo, a humanidade produz os líderes de que precisa na hora em que precisa. Parece que está na hora. Inclusive por aqui.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Plano da Petrobras empresta R$ 265 mi a fornecedores
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 08/08/11

Em um mês, o programa da Petrobras de estimular empréstimos com juros menores dos principais bancos do país a seus fornecedores resultou em financiamentos de R$ 265 milhões -valor considerado elevado por se tratar de uma linha de crédito de capital de giro.
Batizado de Progredir, o projeto permite que o contrato de fornecimento à Petrobras sirva como garantia do empréstimo ao seu fornecedor direto e aos demais elos da cadeia. Ou seja, possibilita financiar também o "fornecedor do fornecedor".
As empresas podem tomar emprestados e adiantar recursos que receberiam da Petrobras em até 50% do valor do contrato com a petroleira.
Gestado desde 2010, o Progredir começou a funcionar no mês passado, quando foram fechadas 25 operações.
Os bancos estimam que o custo dos empréstimos foi reduzido em 30% com as garantias da Petrobras.
Para o diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, o Progredir alivia o caixa da Petrobras e transfere ao mercado esse tipo de empréstimo, antes feito com recursos próprios da companhia.
Desse modo, diz, sobram mais recursos para investimento -um dos gargalos da empresa, que prevê vender ativos e postergar projetos para cumprir seu plano de negócios de US$ 224,7 bilhões de 2010 a 2015.
Com custo de capital mais baixo, diz, os fornecedores também poderão oferecer produtos e serviços mais baratos à Petrobras.

Operações com moeda local entre Brasil e Argentina crescem 83%

O número de operações pagas em real no comércio entre Brasil e Argentina bateu recorde em maio passado. Foram realizadas 467 transações, crescimento de 83% ante o mesmo mês de 2010.
"É interessante para os dois países incentivar o comércio em moeda local, pois o dólar tem tido uma oscilação muito grande", diz Samy Dana, professor da escola de economia da FGV-SP.
A alta na quantidade de operações, porém, é muito maior nas exportações brasileiras para a Argentina, que representaram 465 das 467 transações no mês.
A aceitação do pagamento em real pelos empresários brasileiros explicita a confiança na economia do país, segundo o cientista político da Universidade Federal Fluminense Thiago Rodrigues.
"O comportamento dos argentinos é previsível, pois eles não querem fazer reserva de uma moeda de um país emergente", diz Rodrigues.
O Sistema de Pagamentos em Moeda Local do Mercosul começou a ser utilizado por Brasil e Argentina em outubro de 2008.
O Brasil também negocia a adoção desse mesmo modelo com o Uruguai.
Para ser implantado, o sistema depende de acordo entre os Bancos Centrais dos países envolvidos.

GÁS NOS EMPRÉSTIMOS
A expectativa dos bancos é que o número de empréstimos cresça rapidamente nos próximos meses. A Caixa e o Bradesco, por exemplo, montaram equipes exclusivas para oferecer a linha de crédito. "Quando as empresas perceberem que o modelo permite a obtenção de crédito com rapidez, haverá grande crescimento. Já financiamos quase R$ 100 milhões", diz o diretor do Bradesco Poder Público, Renan Mascarenhas.
A Caixa fechou R$ 14 milhões em financiamento e tem engatilhados empréstimos de mais R$ 20 milhões.

Terra do sol Projetos entre empresas japonesas e brasileiras serão abordados em encontro da CNI e sua congênere Nippon Keidaren. Participarão os presidentes da Petrobras, Sergio Gabrielli, da Vale, Murilo Ferreira, e do BNDES, Luciano Coutinho.

Joia de bolsa A joalheria Tiffany & Co. passa a vender no Brasil sua linha de objetos de couro, como bolsas e carteiras. A coleção, que usa texturas como crocodilo, cobra, novilho e camurça, foi lançada em Nova York no final de 2010. As primeiras peças já chegaram às lojas. Uma bolsa grande custa R$ 1.690.

SUPLEMENTO PARA CLASSE C
O grupo farmacêutico brasileiro Cimed ingressa no segmento de cosméticos e suplementos alimentares, com foco na classe C, que já atende com medicamentos genéricos. "Queremos aproveitar a força de vendas que temos nas farmácias", diz o presidente João Adibe. A nova divisão deve atingir 12% da produção do grupo, em Pouso Alegre (MG), que está sendo ampliada. Os investimentos são de cerca de R$ 20 milhões e devem levar o faturamento a R$ 420 milhões no final deste ano.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e PEDRO SOARES

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Parentada
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 08/08/11

Um dos argumentos a que os peemedebistas se apegavam ontem na tentativa de reduzir o impacto das denúncias sobre o cabide de empregos para familiares de políticos do partido na Conab é a semelhança com o que ocorre em outras pastas. Segundo eles, se for feito um censo na Esplanada, nenhum partido de expressão na base escapará ileso.
O fim de semana foi de intensos contatos entre o Planalto e o PMDB. Os peemedebistas se diziam ontem convencidos de que há uma operação "panos quentes" em curso. A própria presidente Dilma Rousseff, em telefonema a Michel Temer, teria elogiado o desempenho de Wagner Rossi na Agricultura.
Perdas e danos Chegou ao ouvido de petistas que Wagner Rossi queixou-se pelo fato de o PT, na visão dele, ter sido o único partido a não defendê-lo com ênfase no depoimento à Comissão de Agricultura, na quarta.

Radar Deputados davam como certo ontem que, depois das novas denúncias contra Rossi, o ministro terá de voltar a se explicar na Câmara, de onde saiu aplaudido na semana passada. Na quarta, o peemedebista é esperado no Senado.

Peneira 1 Matheus Benevides Gadelha não só tinha cargo na Conab como, por pressão do avô, o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE), estava em curso operação para promovê-lo a uma diretoria do órgão.

Peneira 2 Para nomear o agora demissionário Milton Ortolan na secretaria-executiva da Agricultura, Rossi teve de vencer pressões internas do partido. À época, o ex-deputado Silas Brasileiro (MG) de tudo fez para ficar com a vaga, movimento abortado pelo próprio ministro, que resolveu bancar na pasta seu fiel aliado.

Militante Dilma confirmou para o presidente do PT, Rui Falcão, que irá ao congresso do partido, marcado para o início de setembro.

Bom conselho 1 Geraldo Alckmin renovará, em 2012, três das sete cadeiras do Tribunal de Contas de SP, hoje dominado pelos indicados por Orestes Quércia e Luiz Antonio Fleury. Sairão Fulvio Biazzi, Eduardo Bittencourt e Cláudio Alvarenga, que completam 70 anos.

Bom conselho 2 Dois conselheiros serão diretamente escolhidos pelo governador. Outro sairá de lista tríplice vinda do TCE. A corrida pelos cargos, vitalícios e com salários de R$ 23 mil, já foi deflagrada. O preenchimento atenderá sobretudo à lógica das alianças para as eleições municipais.

DNA Com as mudanças, o tribunal passará a ter maioria filotucana. Em 16 anos de governos do PSDB, o único escolhido foi Robson Marinho, ex-chefe da Casa Civil de Mario Covas acusado de receber propina no caso Alstom. Entre os cotados estão os deputados federais Dimas Ramalho (PPS), Vanderlei Macris (PSDB) e Ricardo Tripoli (PSDB) e o estadual Jorge Caruso (PMDB).

Bagageiro O governo paulista pretende instalar compartimentos para malas em parte dos vagões da futura linha 13, que fará a conexão USP Leste-Cumbica. O objetivo é facilitar o acesso de passageiros ao terminal de Guarulhos.

Descarrilou O plano plurianual de Alckmin congela os projetos dos trens regionais de Campinas e São José dos Campos sob justificativa de que coincidirão com o traçado do trem-bala. Já as conexões com Jundiaí, Sorocaba e Santos continuam contempladas.
com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Com o PMDB vale a máxima distorcida da oração de São Francisco: é dando que se recebe."
DO DEPUTADO JUTAHY JÚNIOR (PSDB-BA), sobre o cabide de empregos para parentes de políticos do PMDB na Conab, subordinada ao ministro peemedebista Wagner Rossi (Agricultura).

contraponto

Pelos velhos tempos

Durante viagem a Paris, o deputado estadual Pedro Tobias (PSDB-SP) visitou uma cafeteria que frequentava quando estudante de medicina. Pediu um café e, na hora de pagar, percebeu que só tinha dólares. Como o balconista aceitava apenas euros, o cliente protestou:
-Conheço este lugar desde antes de você nascer!
O funcionário chamou o dono, que passou a relembrar com Tobias a trajetória de seu estabelecimento e, surpreendentemente, concordou em receber na moeda americana. O tucano, porém, não se deu por satisfeito:
-Depois de tudo disso, o café tem que ser de graça!