sexta-feira, julho 01, 2011

BARBARA GANCIA - Sodoma e Gomorra 2.0

Sodoma e Gomorra 2.0
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11 

Lamento informar, mas a Parada Gay de São Paulo não é esse motivo todo de orgulho que dizem


O RIO TEM a praia e a Marquês de Sapucaí e São Paulo tem o shopping Cidade Jardim com sua beleza histórica e localização VIP. O Rio tem Jobim e São Paulo tem Roberto Justus. Qualquer comparação que se faça desfavorece a pauliceia a ponto de romper o baço de tanto rir, não?

Mas uma coisa nós temos que a cariocada nem sonha: a Parada Gay. A Parada Gay de São Paulo é a maior do universo. Não existe na galáxia nada que se compare. Mais de 50 milhões de pessoas compareceram à avenida Paulista no último domingo para celebrar a diversidade. Bem, quase. Foram cerca de uns dois Uruguais e meio mais uns três times do River Plate juntos.

Sem contar que a Parada Gay de São Paulo é uma imensa festa do interior. As bibas e sapas de cidadezinhas do interior que passam o ano inteiro sendo humilhadas e destratadas, que são motivo de riso e alvo de futrica acabaram dando as mãos numa imensa corrente na semana passada. Foram 90 milhões em ação, um espetáculo e tanto. Haja banheiro de rodoviária para dar conta de tamanha emoção.

Vá ver se no Rio tem uma parada gay como a nossa. Tem não. Já participei da manifestação carioca. Vão lá uns dois ou três carros de som, uns camaradas vendendo Havaianas com arco-íris, outros empurrando umas pamonhas pra cima da turma e só. Preparo de colonoscopia é bem mais animado do que a Parada Gay do Rio.

Pensando bem, a troco de que o carioca precisa se orgulhar da sua sexualidade na avenida, quando faz isso todo santo dia no baile funk, na praia ou, sabe lá, livremente na casa da tia dele?
Agora o pessoal anda discutindo se deve chamar atenção para as semelhanças ou reafirmar as diferenças da condição homossexual. A conversa é boa.

Mas temo que o debate só aconteça no papel e entre gente lida e polida. Fui cobrir o final da Parada Gay para a TVFolha e cheguei à rua da Consolação depois da chuva e da tentativa de arrastão. Encontrei um clima hostil. Metade das pessoas com quem tentei falar se recusou a mostrar a cara para a câmera e a outra fez questão de dizer que só estava ali na condição de observador. Não vi quase ninguém sóbrio. E o que tinha de gente se bulindo uma na outra?

Nesta semana, em discurso na assembleia, Myrian Rios, ex-modelo e atriz e atual deputada arrependida, confundiu gays e pedófilos. Ignorância que parece ser mais norma do que exceção.

Basta ver como agiam na parada os ditos "simpatizantes". Eles estavam lá para arrebentar. Porque aquela é a festa dos gays e, ali, naquele território, por definição, pode tudo. Está certo que cheguei em fim de festa, mas o que eu vi na Parada Gay 2011 foi algo próximo de uma suruba ao ar livre.

Nos primeiros anos, a parada tentava ser nova-iorquina. Depois, transformou-se em zoológico. Agora, "a maior parada gay do mundo" virou possivelmente uma das maiores esbórnias do planeta. Que espelha o país conservador, sem instrução e violento que a abriga.

Lamento informar, mas a Parada Gay de São Paulo não é esse motivo todo de orgulho que dizem. Por mais democrático que seja seu transcorrer, está longe de representar uma vitória para os homossexuais. O Rio de Janeiro, com a paradinha merreca dele lá, ainda tem uma sexualidade muito mais bem-resolvida.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Fusão Sadia-Rogério Ceni!

Ueba! Fusão Sadia-Rogério Ceni!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11 

Continuo com a minha campanha Fica Rogério! Vai ter frango! Mas não precisava abusar! Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta.
Jornal "A Tarde": "Ônibus irregular com torcedores do Corinthians é retido". Confusão! Continua o babado da fusão Pão de Açúcar e Carrefour. Vai virar Carrefúcar. Ou Carrefurto. Ou Pão Francês.
Mas como disse aquele do Twitter: "O pão é francês, mas a rosca é brasileira!". E as manchetes do site de humor Sensacionalista: "Cade analisa fusão entre Sadia e Rogério Ceni". Rarará!
"Piauí Herald": "BNDES analisa fusão entre Bolsonaro e Myriam Rios". Twiteiro: "Cade estuda fusão de Gretchen com Mulher Maravilha". Pão de Açúcar Carrefour: com essa fusão vai ter carrinho bomba! Carrinho de supermercado bomba! Quando passa no caixa, explode o saldo!
E um amigo meu foi pro supermercado e pegou o caixa preferencial para idosos, gestantes e portadores de necessidades especiais. E a caixa: "O senhor tem alguma necessidade especial?". "Tenho sim. Necessito de dinheiro." Rarará!
E um outro foi com carrinho até o caixa, largou o carrinho de lado e foi embora. Rarará!
E ai, ai, ai. Tá duro ser são-paulino. Tá cruel ser bambi! Continuo com a minha campanha Fica Rogério! Vai ter frango! Mas não precisava abusar! Levou outro do Botafogo. Frango de Botafogo é frango assado!
E o Rogério mudou de nome pra GRANJÉRIO! Rogério Senil: 40 anos de idade mais 40 anos de goleiro!
Um corintiano disse que vai fazer uma vaquinha pra comprar o passe do Rogério. Cada um dá R$ 5, compra o passe e deixa no São Paulo mesmo! Avícola Bambi! Já tem até a promoção: Ceni McChicken!
Tá uma esculhambação! Diz que o Ronaldo abriu a agência Nine e o Rogério vai abrir a FIVE! Rarará!
Como diz uma amiga minha: "Isso que dá ser convencido". A vingança vem a galope! E a seleção com Pato e Ganso? O Brasil não vai ganhar, vai grasnar! Grasnamos da Argentina!
E o cúmulo do mau humor. Olha esta faixa em Paraty: "Não tenho gasolina! Não tenho dinheiro! Não faço fiado! Não empresto nada! NÃO VI! NÃO FUI! E NÃO VOU".
E mais uma predestinada. Professora de engenharia aeroespacial da UFABC: Celeste Celestino.
E esta placa: "Temos pintinhos". Em que cidade? FARTURA! Tá fartando mesmo. Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - A minha Paris à meia-noite


A minha Paris à meia-noite  
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O ESTADÃO - 01/07/11

Não sei qual é a cidade do sonho das novas gerações. Será uma ligada à tecnologia, aos iPds, iPods, iPhones, Kindler e outros? Minha filha diz que hoje são muitas as metrópoles, cada uma com seu fascínio. Mas, ponderou, talvez Tóquio? Bem, Sofia Coppola já esteve lá e fez um filme perfeito, Encontros e Desencontros. A cidade da minha geração foi Paris, que permaneceu invicta por décadas. Aos 15 anos eu queria ir para lá, aos 18 continuava, passei pelos 20, 25. Aos 27 consegui descer em Orly. O Charles De Gaulle não existia em 1963. Tudo me veio à cabeça quando assisti à Meia Noite em Paris, de Woody Allen, um filho da mãe. Sacana, fez o filme que eu queria fazer. Não é de hoje que o Woody Allen me copia. Eu tinha A Rosa Púrpura do Cairo na cabeça havia muito tempo, quando ele me apareceu com o filme. Essa história de personagem sair da tela e vir para o mundo real existia em minha vidinha.

Na infância, os personagens saltavam da tela e me acompanhavam. Voei no tapete com o ladrão de Bagdá e no foguete de Flash Gordon, Tarzan ficava furioso porque na minha mangueira só eu tinha cipó para voar de galho em galho, o Zorro me deu uma máscara igual à dele, Roy Rogers me emprestava o cavalo Trigger, cavalguei com Drago, estive ao lado do Capitão Blood, o corsário, navegando pelo Caribe. Adorava a palavra corsário.

Robin Hood deixou a floresta de Sherwood e se embrenhou comigo entre as mamoneiras dos terrenos baldios de Araraquara me ensinando a atirar com arco e flecha. Namorei Margaret O"Brien e Elizabeth Taylor, brinquei com Lassie, mesmo que ela estivesse encarnada num vira-lata paulistinha muito do vagabundo, porém fiel. Posso dizer que passei a infância e, não temo dizer, parte da adolescência convivendo com aquela gente que escapava da tela e ficava comigo pelas ruas da cidade, dormiam não sei onde, mas a cada manhã vinham me despertar. Cada dia era um, como sabiam que era a companhia deste ou daquele que eu preferia?

Não, Woody Allen! Depois você veio com Zelig. Ora, muito antes de você, fui capaz de me transformar, de encarnar todas as pessoas que eu admirava, do goleiro King, do São Paulo, ao Juscelino Kubitschek, de Gagarin ao Dr. Jivago, de Phillip Marlowe a Rick, o dono do café em Casablanca. Fui Julien Sorel e, acima de tudo, o Tom Ripley vivido por Alain Delon na versão de 1960 de O Sol por Testemunha. Perdoem-me, o mundo real sempre me chateou.

Quando entrei na sala para desfrutar Paris e aqueles anos 20 e 30 em que vivi lá, por meio dos livros, filmes, fotos, canções, fotografias e imaginação, senti-me ultrajado e pensei: como processar Woody Allen por levar minha vida ao cinema? Ele só errou, a meu ver, no solo inicial de Sidney Bechet. Eu teria usado Petite Fleur, tão francês e que Booker Pittman tocava na boate Cave, nos anos 60, aqui em São Paulo. Muito antes do personagem Gil Pender ir a Paris para tentar viver seu sonho, que sua mulher americana burra e bitolada não entendia, secundada pelos pais tapados, eu tinha convivido com Hemingway, Gertrude Stein, Djuna Barnes, Gerald Murphy (é dele a frase: "Viver bem é a melhor vingança"), Anaïs Nin, Henry Miller e suas cabotinices (palavra antigona, hein?) sexuais e com Scott Fitzgerald - quantas vezes andei sozinho pelas ruas, aguentando as lamúrias de Zelda, inconformada com o sucesso do marido?

Verdade que, mais tarde, deixei os anos 20 e pulei para os 50/60, era outra Paris igualmente excitante e mais próxima, uma vez que convivi com Brigitte Bardot e Roger Vadim, com Christian Marquand, Jean-Louis Trintignant, e aquela turma louca que fez de Saint-Tropez um point descolado. Circulava com Marie Laforêt, Truffaut, Godard e Belmondo, todos nos sentíamos acossados. Vivia pelo Champs-Elysées com Jean Seberg (por que foi se matar?) vendendo o The New Herald Tribune. Todos sabíamos do affaire Marquand e Marlon Brando, mas éramos modernos, avançados, o mundo estava aí para ser vivido e degustado até a última gota. Françoise Sagan e eu, sentados no café Dôme, revisamos um romancezinho ousado para a época, que ela acabara de escrever e estava sem título. Naquele momento, dei com a melancolia nos olhos dela e disse: Bom Dia, Tristeza. Nasceu o título que avassalou o mundo. Myléne Demongeot, gostosinha, rival de Brigitte, me provocava muito, mas eu estava caidinho por Pascale Petit. Minha chateação é que por não ser existencialista, e sim católico apostólico romano, nem Sartre nem Simone me aceitavam no grupo do La Coupole. Quanto a Albert Camus, compartilhávamos o absurdo da vida. Ele me apelidou de "o estrangeiro".

Este filme Meia Noite em Paris era para ter sido escrito por mim, que cultuei e me apaixonei por Paris desde as primeiras aulas de francês de mademoiselle Fanny, que nos obrigava a decorar Chateaubriand e Prévert, a ler Lamartine e Paul Valéry. Paris de René Clair e de Françoise Arnoul e Martine Carol, que mostravam os seios despudoradamente. Benfeito, não fiz o filme, fiquei bobeando, veio um nova-iorquino e colocou na tela tudo que a minha geração quis. Não fizemos, azar, outro fez. Ainda bem que fez direito e colocou nele Marion Cotillard, um êxtase. Falando nisso, o presidente francês está bem servido, a Carla Bruni é uma gracinha.

ANCELMO GÓIS - Dilma é cultura

Dilma é cultura
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 01/07/11

Dilma vai mesmo assistir à palestra de Antonio Candido, 92 anos, considerado o maior crítico literário brasileiro, quarta que vem, na Flip, em Paraty. O mestre, que dividirá a mesa com José Miguel Wisnik, vai falar sobre Oswald de Andrade, o homenageado da festa este ano.

E mais...
Em Paraty, Dilma vai dormir na Casa Amarela, alugada pelos organizadores da Flip. Tempos civilizados Dilma vai convidar todos os ex-presidentes (Sarney, Collor, Itamar, FH e Lula) para as reuniões preparativas da Rio+20. Pode ser o primeiro encontro, em anos, de Lula e FH.

Fundação Vale 
O novo presidente da Fundação Vale será Ricardo Piquet, ex-executivo da Fundação Roberto Marinho.

Meu, seu, nosso 

Luciano Coutinho, antes de assumir o comando do BNDES, foi consultor de várias empresas — inclusive do Pão de Açúcar. O grupo de Abílio Diniz, como se sabe, tenta pegar grana do banco estatal para se fundir com o Carrefour.

Aliás...
A ideia de o BNDES injetar uns que integra a Câmara de Gestão do Governo, levou um perplexo e desavisado economista, parceiro da coluna, a perguntar: — Mas a Câmara é para os empresários ajudarem o governo ou para o governo ajudar os empresários?

Bola da fortuna
Gente que participa das negociações diz que, se o argentino Conca, do Fluminense, for para a China, terá o terceiro maior salário do futebol mundial. Só vai perder para o conterrâneo Messi e o português Cristiano Ronaldo.

Jogos patrióticos
A paranoia dos EUA com terrorismo não poupou a delegação americana que virá para os Jogos Mundiais Militares, que começam 16 de julho, no Rio. O grupo, entre outros itens, vai trazer sua própria... água para consumo.

Amor de Protógenes
A revista “RG” que chega às bancas em julho revela os bastidores da vida amorosa de... Protógenes Queiroz, o exdelegado da Polícia Federal e hoje deputado do PCdoB. Protógenes vai ser papai. A ricaça Roberta Luchsinger, herdeira do Credit Suisse, conta seu romance com o ex-tira, de quem está grávida de sete meses.

Aliás...

Roberta falou da ideia de levar a história da Operação Satiagraha para o cinema. O projeto, que estaria bem adiantado, teria a colaboração até de Fernando Meirelles.

Harry Potter
O bruxo adolescente mais famoso do cinema e da literatura é o próximo personagem de Hollywood a desembarcar no Rio. Será no Morro da Urca, dia 14, a pré-estreia de “Harry Potter e as relíquias da morte — parte 2”, último capítulo da franquia de filmes criados a partir dos best-sellers de J.K. Rowling.

O vilão vem...

Aliás, o evento será exclusivo para fãs da série, e terá a presença de Tom Felton, que vive Draco Malfoy, o vilão.

Meu Deus
O juiz substituto da 4o- Vara Federal de Niterói, André Lenart, tem recebido ameaças de morte em telefonemas anônimos. Lenart dará, nos próximos dias, a sentença do caso da Operação Alvará, que investigou o envolvimento de PMs e do presidente da Vila Isabel, Wilson Vieira Alves, com a exploração de máquinas caça-níquel.

Rock e samba

Ed Kowalczyk, o pop star americano que canta hoje no Vivo Rio, encomendou à sua produção a contração de dois percussionistas de samba do Rio. Tocarão com o gringo, no show, Carlos Sant’anna, do Bangalafumenga, e Thiago da Serrinha, da banda de Mart’nalia.

Samba na estrada 

O musical “É com esse que eu vou”, de sambas, de Sérgio Cabral, pai, e Rosa Maria Araújo seguirá o destino do antecessor, “Sassaricando”, de marchinhas, também concebido pela dupla. Vai viajar o Brasil inteiro, de Manaus a Porto Alegre, entre setembro e novembro. 

ILIMAR FRANCO - Costura prévia

Costura prévia 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 01/07/11

O governo Dilma negociou na Câmara mudanças na medida provisória da Copa, que cria o Regime Diferenciado de Contratações (RDC), para atender aos senadores governistas. Foi o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), quem sugeriu que fossem feitas mudanças na Câmara. “A maior transparência, a divulgação do preço logo após a licitação e a redução dos poderes da Fifa e do COI foram aprovados a nosso pedido. Para facilitar a rápida votação no Senado”, conta Jucá.

Criação do PSD de vento em popa
O PSD vai se registrar nos TREs de 16 ou 17 estados entre os dias 15 e 20 de julho. O pedido de registro será acompanhado de 500 mil a 600 mil assinaturas de apoiamento certificadas. O prefeito Gilberto Kassab (São Paulo) planeja fazer a primeira convenção nacional e registrar seu primeiro diretório nacional no TSE na primeira quinzena de agosto. O partido teria hoje 43 deputados e dois senadores. Mas há outros esperando para embarcar no PSD. Sobre as ações para impedir sua criação, Saulo Queiroz minimiza: “Vai tudo muito bem. Se o
PMDB, o PT e a presidente Dilma estivessem contra nós, seria mais difícil; mas se o nosso adversário é o DEM não dá para ficar com medo”.

"Quero fazer uma confissão. Em 94 e 98, muito trabalhei para tirar uns votinhos teus nas eleições presidenciais, mas foi difícil” — Marco Maia, presidente da Câmara (PT-RS), na comemoração dos 80 anos de FH

ESFINGE. Na comemoração dos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro Nelson Jobim (Defesa) elogiou o bom humor do tucano que, segundo ele, era usado nos momentos difíceis do governo para distensionar o ambiente. “Nunca levantou a voz nem criou tensão entre os que o assessoravam”, lembrou. E, citando Nelson Rodrigues, disse: “De uns tempos pra cá, os idiotas perderam a modéstia”.

Bom humor
Comemorando seus 80 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso brincou ontem, em encontro com parlamentares no gabinete do presidente do Senado , José Sarney (PMDB-AP): “Falem mais alto. Estou ficando surdo”.

Coisa de pele
Na briga pelos royalties do petróleo, governadores de estados não produtores que são amigos do governador Sérgio Cabral não querem esticar a corda. Dizem que estão preocupados com o momento de “fragilidade” de Cabral.

Gracejos
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), estava sentado ontem ao lado do ex-presidente Fernando Henrique, em reunião fechada, pouco antes da solenidade em comemoração dos 80 anos de FH. Quando os fotógrafos chegaram, Sarney fez questão de trocar de lugar com o vicepresidente Michel Temer. “Olha a experiência. É para comprometer o Temer”, brincaram os peemedebistas Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, aos cochichos.

Partilha
Vem aí o acordo sobre a divisão dos royalties do petróleo. Os não produtores reconhecem que os produtores merecem tratamento diferenciado. E os produtores concordam em dividir o bolo desde já. No scritp: a União paga o acordo.

Mui amigo
Os parlamentares do Rio dizem que o governador Geraldo Alckmin (SP) é aliado dos estados produtores de petróleo no pré-sal, no qual ele também será produtor. Mas que no póssal sua aliança é com os estados não produtores.

 EMPREGO. O ex-prefeito de Cuiabá Wilson Santos (PSDB) foi nomeado para o conselho de empresa controlada pela Cemig, a estatal mineira de energia.
 SOBRE a reunião de governadores para tratar dos royalties do petróleo fala o governador Eduardo Campos (PE): “Quebramos o clima de conflito que marcou a votação dos royalties no Congresso”.
● FUGINDO de dar sua opinião sobre a participação do BNDES na operação Pão de Açúcar-Carrefour, o governador Marcelo Déda (SE) se divertiu: “O especialista neste assunto é o Eduardo Campos, fala com ele aqui do meu lado”. E passou o telefone.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS - Uma agenda confusa e perigosa


Uma agenda confusa e perigosa
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11

As opiniões e os conselhos do ex-ministro Delfim Netto precisam ser levados a sério por todos os atores relevantes da economia brasileira. Principalmente por aqueles que, por ocuparem posições importantes no governo, estabelecem as prioridades de médio prazo para o País. Por isso, sugiro que reflitam sobre as advertências que ele fez em recente artigo publicado na imprensa brasileira.

Para Delfim, o Brasil vive hoje - e viverá nos próximos anos - um período muito favorável criado pelo aumento das cotações dos produtos primários. Acrescentaria que, com a transformação da China em grande polo industrial, passamos a viver também com preços mais reduzidos em uma grande gama de produtos - principalmente maquinas e equipamentos - que importamos.

A combinação dessas duas forças tem provocado uma melhora impressionante nas relações de preços entre nossas exportações e os produtos que compramos no exterior.

Cálculos feitos por Fabio Ramos, economista da Quest, mostra que, nos últimos anos, a melhora nos termos de troca representou um choque de riqueza equivalente a aproximadamente 1,6% do PIB por ano.

Mas essa situação favorável de nosso comércio exterior tem gerado outros ganhos indiretos para a economia brasileira, como uma situação externa sólida e uma moeda forte nos mercados de câmbio. Essa combinação tem sido importante para a atração de poupança externa, elemento fundamental no financiamento dos investimentos de capital que projetam para o futuro nosso bom momento na economia.

Delfim alerta para os riscos de deixarmos passar essa oportunidade que o acaso nos oferece e que não será eterna. Mais uma vez, a fábula da cigarra e da formiga se coloca diante da sociedade brasileira e, principalmente, do governo federal.

Precisamos usar esse 1,6% de ganho no PIB, que é uma enormidade, para construir um futuro que não dependa tanto da conjugação favorável dos astros, representados hoje pelos preços elevados das commodities nos mercados internacionais.

Concordo totalmente com essa leitura de Delfim. É preciso olhar esses ganhos como algo a ser investido com eficiência para que, se no futuro voltarmos a uma relação menos favorável de preços, possamos continuar a crescer.

Infelizmente, quando olhamos para os primeiros seis meses do governo Dilma não é esse cenário que podemos ver. Pelo contrário, algumas das ações catalogadas como prioritárias pelo Planalto nada têm a ver com essa agenda estratégica. O que temos é uma visão confusa, sem nenhuma amarração com um projeto articulado de uma economia mais eficiente até o final da década.

De um lado, vemos um agente importante para as transformações necessárias, como o Bndes, correndo atrás de uma utopia discutível de transformar - e fortalecer - o capitalismo brasileiro via criação de grandes grupos privados locais.

Pelo menos duas dezenas de bilhões de reais da capacidade de empréstimo desse banco já foram gastos para criar grandes frigoríficos internacionais. Sempre me pergunto - sem encontrar uma razão sólida - qual a importância disso no contexto mundial nos próximos anos. Por outro lado, vamos embarcar em gastos consideráveis para viabilizar dois sonhos de consumo - e não de investimento -, que são a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.

Quando esses dois momentos passarem - e eles passarão rapidamente -, restarão apenas algumas obras faraônicas que nada têm a ver com as demandas para chegarmos a uma economia mais eficiente no futuro.
E, para completar essa agenda de gastos de cigarras, temos ainda o tal do trem-bala entre Campinas e Rio de Janeiro, que - apesar de consumir algumas dezenas de bilhões de reais - não agrega um grau sequer de maior eficiência à nossa estrutura logística.

As estradas continuam as mesmas, os portos estão com imensas filas de navios esperando espaço para atracar e a nossa malha ferroviária precisa expandir-se na direção dos Andes para permitir uma ligação com o Pacífico.

NELSON MOTTA - Perdidos no ciberespaço


Perdidos no ciberespaço
NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 01/07/11

Quando vários sites do governo são invadidos e o ministro da Ciência e Tecnologia diz que quer convidar "os hackers" para um encontro no ministério "para ajudarem a construir os indicadores e a forma da transparência", a coisa está feia: ou ele não sabe o que é um hacker ou pensa que pode usá-los como os "blogueiros progressistas", pagando-os com patrocínios estatais.

Astuto e sagaz como um Suplicy, Mercadante pensa que um hacker é um cracker do bem, que pode ser cooptado. Ele quer conversar, ele acredita no diálogo democrático (rs). Ele nunca ouviu falar do cibergênio do mal Kevin Mitnick e de seu rival Tsutomu Shinomura, que protagonizaram o mais célebre e sensacional duelo de hackers da história digital. No final, Shinomura conseguiu rastrear Mitnick e o entregou ao FBI, mas depois também passou para o lado escuro do ciberespaço.

Hackers de verdade invadem redes de computadores de bancos, de cartões de crédito, de companhias telefônicas, de governos, roubam bases de dados, inventam sistemas diabólicos de multiplicação de spams, não são lúdicos grafiteiros digitais do ciberespaço, como crê o analógico ministro. Ele acha que os crackers são malvados que "invadem sistemas para divulgar mensagens políticas", mas acredita que os hackers são bonzinhos, que vão adorar conversar com ele no ministério, todos com os seus crachás de "hacker", tomar um lanche e acertar a data do "Hacker"s Day" patrocinado por uma estatal. Cuidado, ministro, se eles vierem, não são hackers: são nerds.

A ignorância e ingenuidade do ministro sobre temas básicos de sua pasta envergonha, mas não surpreende, é compatível com os conhecimentos de Edison Lobão sobre energia e a expertise de Pedro Novais em turismo.

Só com seus currículos e experiência na área, a maioria dos atuais 37 ministros não conseguiria emprego, mesmo mal pago, em qualquer empresa privada séria. E certamente não passaria em nenhum concurso público para cargos de terceiro escalão nas pastas que ocupam.

Quem sabe os hackers progressistas de Mercadante possam ser úteis nos "núcleos de inteligência" do PT nas próximas eleições ?

MIRIAM LEITÃO - Como dantes?


Como dantes?
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 01/07/11

No dia 6 de junho de 1976, o grupo Pão de Açúcar comprou a Eletroradiobraz. Foi financiado com dinheiro público. O Ministério da Fazenda deu uma ordem ao Banco Central, que emitiu dinheiro do "suprimento especial". Tudo foi concretizado dentro do BNDE. Não havia o S ainda. A diferença é que agora muita gente fica indignada. Naquela época era normal.

Foi da forma descuidada dos anos 1970 que o Brasil produziu o descontrole de gasto que alimentou a inflação que nos consumiria nas décadas de 1980 e 1990. Foi com instrumentos como o "suprimento especial", ou outros canais pelos quais se gastava sem controle no Brasil, antes que os orçamentos fossem unificados e a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada.

Em 1976, achava-se normal o governo financiar uma troca de donos de empresa de varejo. A Eletroradiobraz, que havia nascido nos anos 40, era a rival do grupo Pão de Açúcar na implantação do conceito de supermercados. A empresa dos Diniz usava a expressão Jumbo para as suas grandes lojas. A Eletro passou a usar o nome de Baleia para as suas. Naquele ano a baleia encalhou e a concorrente comprou, mas financiada pelo governo. A capa da revista Exame daquela época tem a foto do empresário vencedor naquela operação. Adivinhou. Era já Abilio Diniz.

O Brasil mudou muito desde então, por mais que às vezes pareça em pleno regresso aos velhos ideais que nos levaram a um País estatizado e com inflação descontrolada. Hoje o Banco Central não pode mais emitir através de uma ordem de "suprimento especial". Mas o Tesouro acaba de ser autorizado a se endividar em mais R$ 55 bilhões para pôr no BNDES. O Banco já recebeu outros R$ 230 bilhões.

No ano de 1976 o País estava em pleno delírio de crescimento financiado e controlado pelo Estado. Havia muitos balcões pelos quais o dinheiro público corria para as mãos de empresários que estavam sendo escolhidos para serem os campeões nos diversos setores. Agora, de novo, o BNDES decidiu que cabe a ele escolher os campeões. Só no setor de frigoríficos já colocou R$ 16 bilhões em empréstimos ou participações acionárias. Com R$ 10 bilhões financiou a compra da Brasil Telecom pela Telemar.

Gastou bilhões salvando a Aracruz e a Votorantim numa operação em que as duas se fundiram para se recuperarem da especulação que fizeram no mercado de derivativos cambiais. Outros bilhões foram para salvar a Sadia, que foi comprada pela Perdigão. Isso é para citar algumas operações.

O BNDES tem um braço que é para atuar no mercado de capitais e é natural que compre e venda ações. O problema é quando ele faz isso apenas porque algum brilhante estrategista considerou que, se algumas empresas ficarem bem grandes, o Brasil será forte e ganhará a competição internacional. Pior ainda é quando ele faz isso para salvar uma empresa da sua própria incompetência em operação-hospital. Para a ministra Gleisi Hoffmann, como o BNDESpar compra e vende ações o dinheiro não é público.

O banco se financia com dívida pública e pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Tem também o retorno de empréstimos e de operações de mercado de capitais, mas a origem da sua capitalização é de fundos públicos e dívida pública, portanto, evidentemente, é dinheiro seu, nosso e da ministra.

Houve um tempo no Brasil em que havia a ideia de que dinheiro público era sem dono. Hoje já se sabe que ele é resultado de impostos ou dívida feita em nosso nome. É mais difícil gastar de forma ilimitada, porque há leis, controles, prestações de contas, metas de inflação, Lei de Responsabilidade Fiscal. Mesmo assim o governo gasta demais. Ontem o Banco Central informou que só em maio o déficit fiscal do governo foi de R$ 14,7 bilhões. Mesmo num excelente momento da economia o governo fecha no vermelho mês após mês. No ano o buraco já foi de R$ 35 bilhões.

Há quem inverta a equação e considere que se o governo baixar os juros o déficit vai sumir. O Tesouro paga uma enormidade de juros, de fato. Até maio foram redondos R$ 100 bilhões. O governo paga à taxa de 12,25% e o BNDES cobra dos seus devedores 6%. Essa é uma parte do problema: o crédito é direcionado a clientes especiais. Com ele o governo gasta porque paga aos seus credores mais do que recebe dos devedores. Além disso essa fatia do crédito não responde à política monetária; isso obriga o BC a subir ainda mais os juros quando quer que sua ação tenha efeito monetário.

O melhor caminho é reduzir o gasto público, ter a meta de chegar ao déficit zero, para que os juros possam cair. Dessa forma o custo do crédito subsidiado diminuirá. Além disso é preciso ser seletivo com dinheiro subsidiado.

O Brasil tem visitado o passado em inúmeras operações. Quer ser sócio de uma empresa de supermercado numa operação que favorecerá Abilio Diniz & outros, da mesma forma como em 1976 ajudou-o na compra da Eletroradiobraz. Naquela época, o argumento era que a empresa, se não fosse comprada, quebraria. Agora, a ameaça seria que o Casino compraria o Pão de Açúcar, então melhor que ele vire parte do Carrefour.

Se em vários pontos tudo parece como dantes, qual é a diferença? O Brasil mudou. Hoje o País reage ao que antes achava normal; ainda que o governo repita tanto os erros velhos. Hoje o País passou pelo tormento inflacionário e sabe o que gasto público tem a ver com inflação. Neste dia 1º de julho de 2011, décimo sétimo aniversário do Plano Real, é um bom momento de lembrar que não estamos em 1976. Naquele ano, a inflação foi de 42%. Nos anos seguintes, continuou a escalada.

EDITORIAL - O ESTADÃO - O governo na vitrine


O governo na vitrine
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 01/07/11

Desprezando o bom senso e todos os sinais de alerta, o governo decidiu investir sua reputação - e não só dinheiro público - na fusão dos Grupos Pão de Açúcar e Carrefour, um negócio polêmico, legalmente arriscado, potencialmente nocivo a consumidores e fornecedores e inteiramente estranho à missão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Apesar de seu empenho, nenhuma autoridade conseguiu justificar a participação do Executivo nessa aventura nem dissipar os temores diante da ameaça de maior concentração de poder no mercado de alimentos e de outros bens essenciais. Ao contrário: ao tentar defender o indefensável, as autoridades se arriscam cada vez mais num terreno política e moralmente pantanoso.

Não se usará recurso público nessa operação, disse a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Segundo ela, o dinheiro será investido pelo BNDESPar, numa transação de mercado. Mas todo o recurso usado pelo sistema BNDES - para empréstimo ou para investimento - é público, venha do Tesouro, do Fundo de Amparo ao Trabalhador, de fontes internacionais ou do lucro de suas operações. O BNDES é um banco público, sem acionistas privados, e esse é o status também do BNDESPar. A advogada Gleisi Hoffmann, ex-diretora financeira de Itaipu e especialista em gestão pública, certamente conhece esses dados, mas parece havê-los esquecido.

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, presidente do Conselho de Administração do BNDES, foi igualmente infeliz ao defender a fusão e a possível participação do banco. A associação entre o Pão de Açúcar e o Carrefour "abrirá uma porta importantíssima para a colocação de produtos brasileiros industrializados no mundo inteiro", afirmou. Segundo ele, seria esse o grande interesse estratégico da operação. A alegação é constrangedoramente ridícula.

O Pão de Açúcar já é associado a um grupo francês, o Casino. Produtos com a marca desse grupo são vendidos na rede brasileira. O comércio tem funcionado na mão inversa? O Carrefour poderá oferecer melhores perspectivas para esse intercâmbio? O ministro passou longe desses detalhes, e isso é compreensível, porque o comércio do Brasil com a França e com outros países da União Europeia envolve questões muito mais complexas. Não é esse o ponto.

O ministro escorregou, também, ao criticar os bancos privados por deixarem de ajudar a fusão. Segundo seu raciocínio, o BNDES apenas cumprirá, como sócio do empreendimento, um papel negligenciado pelas instituições privadas. Esse argumento pode valer para os financiamentos de longo prazo destinados a programas de investimento e até, em casos muito limitados, para aplicações de risco. Não serve, porém, para certas operações desenvolvidas pelo BNDES nos últimos anos. Essas operações incluem a ajuda a grandes empresas capazes de levantar dinheiro no mercado interno e externo, o apoio a grupos selecionados para papéis "estratégicos" (mas não estratégicos de fato) e o socorro generoso a grandes empresários em apuros.

Para completar, um lembrete inevitável: não é função do governo - e isto inclui o BNDES - cuidar dos interesses do empresário Abílio Diniz em suas disputas com os dirigentes do Grupo Casino. Esse é um assunto estritamente privado e é um abuso tentar travesti-lo como questão de interesse nacional. O interesse nacional está relacionado a outro ponto - a preservação de condições sadias de concorrência num segmento de grande relevância para o bem-estar da maior parte da população. Será preciso pensar especialmente naquelas áreas onde Pão de Açúcar e Carrefour já têm uma grande participação no varejo.

Toda ação do governo em relação a esse caso - por meio do BNDES, do sistema de defesa da concorrência e de outras instituições, como a Comissão de Valores Mobiliários - será acompanhada com muito interesse dentro e fora do País. O governo estará numa vitrine, até por causa da presença do empresário Abílio Diniz num órgão ligado à Presidência, a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, e de seus vínculos com a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor.

WASHINGTON NOVAES - Muito mais alimentos, sem reduzir a pobreza


Muito mais alimentos, sem reduzir a pobreza
WASHINGTON NOVAES
O Estado de S.Paulo - 01/07/11

Na reunião em que foi eleito diretor-geral da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da ONU, há poucos dias, o ex-ministro brasileiro José Graziano da Silva assegurou - com sua experiência de gestor do programa de combate à fome entre nós - que esta será a sua prioridade: enfrentar esse problema no mundo, para que até 2015 o número de carentes de alimentos no planeta, hoje em torno de 1 bilhão, se reduza à metade. "É o desafio do nosso tempo", disse na ocasião o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, lembrando que um dos complicadores dessa questão, "o protecionismo dos ricos" à sua produção de alimentos, só tem aumentado. E isso quando a própria FAO alerta que os preços desses produtos continuarão a subir nos próximos dez anos. E que a produção precisará crescer 70% até 2050, para alimentar os 9,2 bilhões de pessoas que estarão no mundo nessa época.

Não é a única preocupação de Annan. Ele alertou também para os crescentes compra e arrendamento de terras em outros países por especuladores e fundos de alto risco de países industrializados. Só em 2009 foi comprada na África uma área equivalente ao território da França (FAO, 27/6). São movimentos decorrentes das incertezas econômicas do mundo, com investidores buscando garantias reais, no momento em que os papéis financeiros chegam perto de US$ 600 trilhões, para um produto bruto mundial na casa dos US$ 60 trilhões anuais. E no momento em que Nouriel Roubini, um dos pouquíssimos economistas a prever a crise de 2008-2009, alerta (Estado, 23/6) para o forte aumento do "risco de uma parada e um duplo mergulho em economias avançadas", em seguida a altas pronunciadas nos preços de alimentos, petróleo e commodities, que fazem "ressurgir o espectro da inflação".

Em reunião do G-20, nos mesmos dias, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, afirmou que os mercados agrícolas, "os menos transparentes", vão se transformando, "sem regras, em loteria, na qual a sorte sorri para os mais cínicos". Por isso mesmo, o Brasil declarou seu apoio a um Sistema de Informações dos Mercados Agrícolas, administrado pela FAO, que possa coibir movimentos indesejáveis nessa área. Mas não aceita um mecanismo de estabilização de preços agrícolas. Para o ministro da Agricultura brasileiro, o único caminho para isso é "aumentar a produção".

Tudo acontece num cenário paradoxal. Um relatório da própria FAO - Perdas globais de alimentos e desperdício de comida - assegura (11/5) que um terço dos alimentos produzidos no mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas anuais, se perde ou é desperdiçado. São 670 milhões de toneladas nos países industrializados e 630 milhões nos demais. Os consumidores ricos, diz o documento, desperdiçam 222 milhões de toneladas de frutas e hortaliças - tanto quanto toda a produção de alimentos na África. Isso quer dizer um desperdício per capita de 95 a 115 quilos anuais nos EUA e na Europa. Nessa mesma hora, lembra o Banco Mundial, com a crise no Oriente Médio e na África, o preço dos alimentos ali já subiu 36%.

Mas o que se fará? Estender a todo o mundo o padrão de consumo de alimentos já vigente nos países mais ricos? E como? Há quase duas décadas o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) chama a atenção: para isso seriam necessários mais dois ou três planetas como a Terra. Lester Brown, diretor do Earth Policy Institute, acha (New Scientist, 5/2) que a "bolha de alimentos" vai tornando insustentável a situação da água e da terra. Na Índia, 175 milhões de pessoas são alimentadas com grãos produzidos com água retirada em maior quantidade que a reposta. Na China são 130 milhões. Segundo Brown, metade da população mundial já vive em países com escassez de água - "e esta noite mais 219 mil pessoas se terão acrescentado à população mundial" (mais de 80 milhões por ano).

Trazendo para o Brasil a questão do combate à fome, que será preciso fazer? Segundo o IBGE, 10 milhões de brasileiros vivem com até R$ 39 por mês; 4,8 milhões moram em domicílios sem renda alguma; ao todo, a população de "miseráveis" chega a 16,2 milhões (equivalente à população total do Chile); abaixo da linha da pobreza - R$ 70 por mês - estão 8,5% dos 190 milhões de habitantes; 5,7 milhões vivem com R$ 40 a R$ 70 por mês; só no Estado de São Paulo são 1.084.402 "miseráveis". O governo federal pretende investir R$ 20 bilhões para enfrentar o problema, dos quais R$ 16 bilhões do Bolsa-Família (que é a única renda de 88% dos 13 milhões de beneficiários). Mais uma vez, pode-se comparar esse investimento com os mais de R$ 150 bilhões anuais pagos em juros a bancos e investidores em papéis da dívida.

Não há dúvida de que já somos o segundo maior produtor de alimentos no mundo, atrás apenas dos EUA. E o Ministério da Agricultura espera aumentar a produção em 23% em uma década. Mas, como observa o ex-ministro Rubens Ricupero (Folha de S.Paulo, 26/6), esse desenvolvimento só se sustentará se formos capazes de encontrar soluções para "os desafios do meio ambiente". Para justificar a preocupação lembra ele números citados pelo também ex-ministro José Carlos Carvalho: "No Vale do Rio Doce, um hectare sustentava 2,8 cabeças de gado; hoje, mal chega a 0,6".

E assim vamos no mundo dos paradoxos. A produção de alimentos cresce, sobem os preços, "commodities" transformam-se em garantia para investimentos, juntamente com a compra de terras em países mais pobres. Mas não se consegue sair de perto do número terrível de 1 bilhão de famintos no planeta, 40% da humanidade vivendo abaixo da linha da pobreza. A China caminhando para se tornar grande potência, mas Xangai, sua cidade mais populosa (acima de 20 milhões de habitantes), baixando legislação para proibir que cada família tenha mais de um cachorro - a política do "cachorro único" (ainda assim, mais de 5 milhões de cachorros; de quanto se precisará para alimentá-los?).

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Guerra, a continuação
SONIA RACY
O ESTADÃO - 01/07/11

Assim que foi divulgada a oferta feita pela Gama propondo a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour Brasil, terça-feira de madrugada, a Wilkes - holding formada pelo Casino e família Diniz - mandou e-mail oficial para todos os seus conselheiros, incluindo os cinco representantes do Casino.

Entre outras, foi lembrada a proibição de negociação de ações da companhia por membros do conselho ou qualquer outra parte relacionada. Respeitando orientação usual da CVM, disciplinada por lei.

Ontem de madrugada, o Casino comunicou que comprou mais de 10% das ações preferenciais existentes no mercado nos dois dias sequentes.

Guerra 2

Fonte do Casino justifica: a proposta de fusão foi anunciada publicamente. E o Casino tomou conhecimento dela assim. Portanto, não fez suas compra na base de informação privilegiada.

Flambado

Márcio Thomaz Bastos, advogado do Pão de Açúcar, almoçou anteontem com José Carlos Dias, advogado do Casino. Bastos abriu mão de seu hábito diário de comer no Magari para ir ao La Casserole.

Gesto a favor da culinária francesa na busca pela paz?

Nunca antes

Lula se encontrará segunda-feira com Sebastián Piñera, presidente do Chile. Será a sexta reunião com um chefe de Estado no prazo de sete dias.

Sonho de Ícaro


Continua a novela "Helipontos em Sampa". As Secretarias do Desenvolvimento Urbano, do Verde e da Habitação reuniram-se anteontem com o MP.

Acertaram que cada representante colocará no papel suas lacunas. Daí, montarão um projeto de lei ou decreto alternativo para tentar regulamentar esses espaços.

Eu voltei


Depois de anunciar no fim do mês de maio o fechamento de suas três lojas no Brasil, representadas por Esber Hajli, a Diesel volta à carga. A grife italiana conhecida por seus jeans de luxo já teria escolhido seu novo representante no País: Patrick Siaretta, da TeleImage.

Procurado, o empresário não confirma nem desmente a notícia.

Eu virei

Donna Karan vem a São Paulo em novembro. Fará palestra em um fórum de sustentabilidade do SWU. Resta saber se vai mesmo querer conhecer John of God (João de Deus), conforme desejo manifestado à coluna ano passado em NY.

In memoriam

Paulo Renato Souza passará a dar nome à Escola de Formação de Professores do Estado. Alckmin assina decreto nos próximos dias.

Aos 46 minutos


Realmente, Aloizio Mercadante está avoado com toda esta confusão em torno do dossiê do aloprados. O ministro mandou aviso à GS1, responsável pelo seminário Brasil em Código, quarta-feira, que não poderia fazer sua palestra exatos cinco minutos após o evento ter começado. No Hyatt, SP.

Na frente


Ana de Hollanda anuncia, semana que vem, parceria do MinC com a Petrobrás. Distribuirão R$ 14, 5 milhões, dos quais R$4,5 milhões serão destinados a projetos culturais da Funarte e R$2 milhões à recuperação do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio.

Alexandra Von Furstenberg abriu ontem a loja Jo De Mer, marca da brasileira Amália Spinardi, com almoço em Beverly Hills.

Thomas Shannon, embaixador americano no Brasil, lidera recepção para comemorar antecipadamente o Dia da Independência dos EUA. Hoje, na Amcham.

Cecilia Panipucci abre exposição hoje. No Mercado de Arte e Moda, em Pinheiros.

O Teatro Viradalata estreia hoje com espetáculo Mamy. Em Perdizes.

O May Help Dinner, jantar em prol das Casas do Amparo, acontece hoje, no Hyatt. Com apoio da BMW.

Luis Alvaro, do Santos, inova entre os cartolas. Mandou carta de solidariedade para Daniel Passarella, presidente do River Plate. Lamentou a queda do time para a 2ª divisão do futebol argentino.

Neymar repaginado

Ricardo Almeida foi escolhido por Neymar para ser seu maestro visual. Como teste, o estilista fez um paletó sob medida para o jogador usar agora durante a Copa América. Mesmo sem prova, caiu como uma luva. Em conversa com a coluna, Almeida contou como vê o estilo do craque.

Como será o novo Neymar?

Não posso querer mudar a identidade dele e ainda estou pensando no que fazer. Não interferirei, vou só orientar. Afinal, ele tem agenda lotada, mora em Santos. E eu trabalho em São Paulo.

Habitualmente, os atletas cultivam um estilo despojado. Como casar isso com elegância?

Uma peça sofisticada no vestuário faz uma diferença enorme. Já criei um blazer para ele usar com jeans que acredito ser elegante. Dá para bolar coisas bacanas. Quando eu supervisionei o Alexandre Pires, por exemplo, ele acabou eleito o artista mais bem vestido do ano, na frente do Caetano Veloso. E cantava pagode, para você ver. O Lula idem. O Duda Mendonça me procurou e ele ainda tinha aquela imagem do metalúrgico. Sempre há algo interessante para fazer sem mexer na identidade da pessoa.

O que acha do estilo dele?

O seu pai reclamou que ele usa calça baixa. Mas essa molecada é assim mesmo. Veste as roupas com a cueca aparecendo. Não acho preciso encaretar ele. Jamais ficará com a cara do Roberto Justus.

O cabelo dele virou moda. O que você acha do corte?

Virou moda porque é ele. O cabelo, aliás, foi tema de uma das nossas conversas. Eu mudaria, prefiro algo não tão longo e todo desmanchado. Mas quando você mostra algo diferente, como moicano do Neymar, vira foco das atenções. E a tua energia cresce bastante. Então, não sei até que ponto vale a pena mudar isso. / MARILIA NEUSTEIN

EDITORIAL - FOLHA DE SP - A capitulação de Dilma

 A capitulação de Dilma
EDITORIAL
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11
Dilma Rousseff cedeu às pressões de sua base parlamentar e estendeu por mais 90 dias o prazo para o pagamento de emendas aprovadas pelo Orçamento de 2009 e ainda não executadas -são cerca de R$ 4,6 bilhões dos chamados "restos a pagar".
O decreto que autorizava a liberação desse dinheiro expirou. Até a véspera, a presidente mantinha o firme propósito de não atender os parlamentares, contrariando, inclusive, sua ministra da articulação política, Ideli Salvatti.
Prevaleceu, afinal, a solução intermediária, já que os deputados insistiam na prorrogação do decreto até o final do ano.
Do episódio fica, porém, a sensação de que a presidente capitulou às chantagens, ainda que a contragosto. É mais um exemplo de adaptação forçada da presidente às regras do jogo da "realpolitik", depois de um início de mandato em que ela tentou estabelecer um padrão de conduta menos concessivo em relação às demandas por cargos e verbas.
Diante da perspectiva do revés, os líderes dos partidos aliados no Congresso fizeram ameaças abertas ao governo.
Entre as retaliações citadas, diziam que iriam votar o projeto que regulamenta os gastos da União, dos Estados e dos municípios com a saúde (emenda 29) e a proposta de emenda constitucional que cria o piso salarial nacional para policiais civis, militares e bombeiros -ambos assuntos que Dilma quer manter afastados da agenda.
Não há dúvida de que boa parte das ameaças são apenas blefes. Se é fato que no "presidencialismo de coalizão" não se governa sem o Congresso, é mais verdade que boa parte dos congressistas se acostumou a viver como parasita, dependente do Executivo.
O valor total das emendas pendentes, embora nada desprezível, não chega a comprometer, sozinho, os esforços de ajuste fiscal. O governo, no entanto, joga fora a oportunidade de acenar com uma atitude austera, cujo valor está longe de ser apenas simbólico.
As emendas representam um gasto de má qualidade, que contempla quase sempre interesses paroquiais dos congressistas.
Não bastasse isso, o escândalo envolvendo membros da Comissão de Orçamento, no final do ano passado, mais uma vez mostrou que as emendas se tornaram um instrumento corriqueiro de desvio de recursos para os bolsos de parlamentares ou seus apaniguados.
O Congresso deveria ver na discussão do Orçamento uma de suas principais tarefas. Na prática, o Legislativo aprendeu a se aproveitar do papel subalterno a que ficou relegado na elaboração do documento e se especializou em tirar proveito do varejo da política.

GOSTOSA

JOÃO MELÃO NETO - O que faz a diferença


O que faz a diferença
JOÃO MELÃO NETO 
 O Estado de S.Paulo - 01/07/11

Prezada dona Dilma Rousseff, esta não é a primeira carta que lhe escrevo e não há de ser a última. Comecei a escrever para a senhora ainda quando era, por assim dizer, a primeira-ministra do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais precisamente, quando ele manifestou o desejo de fazê-la sua sucessora. A senhora acha que é coisa pessoal? De forma alguma! Eu tenho escrito a todos os presidentes da República, há décadas. Essa é uma forma de levar a eles as verdades que os seus áulicos se abstêm de lhes transmitir.

Eu e muitos mais temos ojeriza ao seu partido e a tudo aquilo que representa. Sinceramente, achamos que a maioria dos seus correligionários - ao menos aqueles que gozam de algum provento ou benesse pública - é hipócrita. Eles estão no poder e insistem em fazer um discurso oposicionista, condoreiro e arrebatado.

Quando é que eles vão acordar? Ou melhor, quando é que nós vamos acordar?

Para mim, sinceramente, não há nenhuma diferença entre corruptos de esquerda e corruptos de direita; entre homicidas de um lado ou de outro.

Por que o Cesare Battisti haveria de ser melhor do que o Jorge Rafael Videla? Ambos transgrediram as regras mais elementares de uma sociedade civilizada. Só que o primeiro, alegando ter agido em nome de uma causa justa, está livre e solto no Brasil. Já o segundo cumpre prisão perpétua na Argentina. Teria Videla tido melhor sorte se tivesse fugido para cá?

Não há nada de novo nisso. Juan Domingo Perón, desde meados da década de 1940, já agia assim. E até hoje o partido dele elege presidentes - e presidentas - da República platina.

Seja com Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) ou Rafael Correa (Equador), o fato é que esse discurso populista de esquerda se vem alastrando como uma praga pelo nosso continente. Essa gente fala em igualdade enquanto só dá guarida aos seus. Eles tacham os seus opositores de fascistas, mas praticam o mais escancarado corporativismo. É aquela velha história: para nós, tudo; para os outros, o rigor da lei.

E temos de ficar precavidos. Quem fala em liberdade é visto como de direita. Os da esquerda preferem falar em libertação.

Estes últimos são arrogantes porque entendem que todos os seus eventuais malfeitos não passam de "acidentes de percurso". Os fins justificam os meios. Tudo se perdoa quando a causa é a justa. Afinal, eles acreditam ser os únicos e legítimos porta-vozes dos mais humildes.

Quem está com a razão? Provavelmente nenhum.

Mas não lhe estou escrevendo por isso. Embora eu não tenha apoiado a sua candidatura a presidente da República, entendo que todos nós, brasileiros, devemos torcer para que o seu governo dê certo. Até porque o pior que pode acontecer é o seu antecessor voltar.

Temos notado, nestes seus primeiros seis meses de governo, a sua opção por uma menor exposição pública. Nas raras vezes em que apareceu, mostrou-se reservada e comedida.

Aqui, na planície, eu posso garantir-lhe que o seu comportamento recatado lhe tem assegurado o apoio de gente que a senhora nem imagina. São pessoas que lhe negaram os seus votos por entenderem que o seu governo seria uma continuação do de seu mentor. E adotaria o mesmo estilo falastrão e bravateiro de se comunicar.

Quantos despautérios, meu Deus! E os seus acólitos ainda pretendiam, pouco tempo atrás, criar uma nova língua portuguesa. Feita sob medida para o jeito especial de ele falar.

Nesse sentido, o início de sua gestão se tem revelado uma agradável surpresa.

O que se teme, agora, é o contrário. Naquilo em que Lula pecou por excesso, a senhora, agora, corre o risco de ser marcada pela escassez. Estou falando de decisão e atitude.

Já residi aí, pertinho de onde a senhora está, no Planalto Central. Entre as coisas que aprendi, uma das principais é que, diante das situações críticas, é melhor tomar uma decisão errada do que não tomar decisão nenhuma. Erro dá para corrigir; indecisão, não.

A senhora se lembra dos anos 1970? Pois naquela época, nos Estados Unidos, havia um presidente que ganhou a fama de ser indeciso, Jimmy Carter. Ele não conseguiu ser reconduzido ao cargo porque - na ânsia de encontrar as melhores soluções - quando se decidia já era tarde demais. Acabou sendo substituído por um ex-ator de cinema, Ronald Reagan. Os eleitores sabiam que este tinha menos cultura, mas o escolheram por demonstrar mais convicção.

Dona Dilma, deixe de se ocupar das miudezas da administração. Existem por aí muitos profissionais capacitados para cuidar disso.

Ninguém precisa de uma presidente que seja apenas eficiente. O que se espera da senhora, agora, é liderança. E para tanto é preciso empunhar uma bandeira, sair das trincheiras e mostrar o caminho.

A senhora há de saber que os maiores oradores da Antiguidade foram Demóstenes, em Atenas, e Cícero, em Roma. Mas, provavelmente, desconhece qual era a maior diferença entre eles.

Plutarco, historiador, biógrafo e ensaísta grego, comparou os dois, estudou a vida e a personalidade de ambos e não chegou a grandes conclusões. Cícero era mais culto e experiente, porque havia ocupado diversos cargos públicos. Quanto ao ateniense, o registro é de que o seu discurso era mais veemente.

Quem, com grande perspicácia, veio a observar o que, de fato, os distinguia foi John F. Kennedy: "Quando, no Senado romano, Cícero discursava, as pessoas comentavam: "Como ele fala bem!"".

Já com Demóstenes as reações eram outras. Após a sua fala, na Ágora, as multidões bradavam: "Marchemos!".

MÔNICA BERGAMO - EM PELE DE TIGRE

EM PELE DE TIGRE
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11

O humorista Rafinha Bastos aparece seminu na capa da "RG" de julho. "É muito fácil tirar sarro de quem não tem senso de humor", diz à revista sobre suas piadas polêmicas, como quando disse que toda mulher feia que era estuprada "deveria dar graças a Deus". Surgiram cartazes em muros da rua Augusta com a frase "Estupro? No Comedians tem" e uma seta indicando o bar de humor, do qual Rafinha é sócio. Rafinha diz: "Se os comediantes tiverem que responder por toda piada que fazem, não terão tempo para mais nada na vida. Nem comédia".

MARCHA LENTA
As negociações para a aprovação, no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), da BRF Brasil Foods, fusão da Sadia com a Perdigão, "recomeçaram mal". E deixaram os conselheiros "desanimados", de acordo com um dos integrantes do órgão. A empresa já apresentou proposta de vender 15% de sua produção. Segundo o mesmo conselheiro, se a companhia não se desfizer de pelo menos 20%, o Cade dificilmente aprovará a operação.

TÃO LONGE

O Banco Votorantim se afastou nos últimos dias das negociações para garantir financiamento à construção do estádio do Corinthians, o Itaquerão. A instituição teria o papel de repassar o empréstimo do BNDES, de R$ 400 milhões, a um fundo controlado por Odebrecht e Corinthians. E se comprometeria a pagar de volta o BNDES, que não aceita garantias diretas do Timão.

TÃO PERTO

As negociações voltaram a ser feitas com os bancos oficiais do governo -CEF (Caixa Econômica Federal) e especialmente Banco do Brasil.

BILHETERIA
O banco repassador do financiamento do BNDES receberá como garantias do Corinthians receitas futuras de eventos no estádio e também do "naming rights" (direito de comercialização do nome da arena).

OLHO NO LANCE
Pelé enxergou direitinho o jogo em que o Santos conquistou a Libertadores, na semana passada. Tinha operado de catarata duas semanas antes no hospital Albert Einstein, com o oftalmologista Walter Takahashi.

BAIÃO DO CHICO
Mais uma música do novo disco de Chico Buarque será liberada na internet. A Biscoito Fino vai disponibilizar hoje, no site chicobastidores.com.br, a faixa "Tipo um Baião".

UM PÉ LÁ, OUTRO CÁ

A Sony vai distribuir no Brasil o novo disco da cantora Joss Stone, "LP 1", que terá lançamento mundial em 26 de julho. A artista deixou a EMI e abriu seu próprio selo, o Stone'd Records. No exterior, o álbum sai pela gravadora independente SurfDog.

EL NIÑO
O poeta Augusto de Campos e Caetano Veloso se encontraram anteontem no Bourbon Street, em SP, na gravação de programa de Arnaldo Antunes para a MTV. Campos: "Não sei se estou sentindo frio ou calor...". E Caetano, de cachecol: "Eu só sinto frio quando faz calor. Porque quando faz frio, a gente se enfia nuns agasalhos e volta o calor!".

DJ SARKOZY

O produtor musical Pierre Sarkozy, filho mais velho do presidente da França, Nicolas Sarkozy, vem ao Brasil na próxima semana. Na quarta, ele participa da festa da nova temporada do programa "Extreme Makeover Social". Prometeu doar o cachê para instituições de caridade assistidas pelo reality, apresentado por Cristiana Arcangeli. Na sexta, Sarkozy discoteca em Florianópolis.

GELADA
O Ministério do Turismo está providenciando autorização para que operadoras de turismo brasileiras passem a oferecer pacotes para a Antártida. Ricardo Moesch, diretor da pasta, foi a Buenos Aires negociar para o Brasil no grupo dos países que já fazem a viagem. Hoje brasileiros que viajam para lá têm que comprar pacotes de operadoras de outros países -em geral, da Argentina.

ESTRELA-D'ALVA

O empresário de Duda Bündchen, 4, sobrinha da top model Gisele Bündchen, nega que a menina já tenha sido convidada para estrelar campanha da C&A com a tia. Segundo Eduardo Santos, Duda fará uma campanha no segundo semestre, que ainda não está fechada. A garota começou a carreira de modelo aos três anos. E tem empresário desde então.

VIVA A VOZ

Fernanda Thompson deu festa para a segunda temporada do programa "Viva Voz" em sua casa, em Alto de Pinheiros. A apresentadora da atração, Sarah Oliveira, recebeu o diretor Toniko Melo e a joalheira Camila Sarpi, entre outros convidados.

FESTA LITERÁRIA
O poeta Glauco Mattoso comemorou 60 anos em evento, anteontem, no Centro Cultural Barco. Fez um debate com o escritor Lourenço Mutarelli, entre outros participantes. E autografou exemplares de "Tripé do Tripúdio e Outros Contos Hediondos" e "Bibliotheca Mattosiana". Marçal Aquino parabenizou o colega.

CURTO-CIRCUITO


O Quarteto de Cordas de São Paulo se apresenta hoje às 21h, e no domingo às 11h, no Theatro Municipal. 7 anos.

Jorge Ben Jor e a banda do Zé Pretinho tocam hoje em jantar em prol das Casas do Amparo, patrocinado pela BMW Group Brasil. No hotel Grand Hyatt, às 19h30.

Edmar Bacha e Simon Schwartzman autografam "Brasil: A Nova Agenda Social". Na Livraria da Vila dos Jardins, na terça, às 19h.

Milene Domingues e o filho Ronald participam da campanha Emagrecimento Solidário para a Casa Ronald McDonald. Hoje, às 14h.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

MONICA B. DE BOLLE - A pia da cozinha

A pia da cozinha
MONICA B. DE BOLLE
O ESTADÃO - 01/07/11

Em inglês, o título deste artigo expressa um estado geral de confusão e desordem. Como tantas outras expressões na língua do Bardo, a metáfora é gloriosamente visual. Pilhas de pratos, copos, talheres, panelas, utensílios culinários em geral, alguns com um pouco de água e sabão, outros ainda com restos de comida e manchas de gordura. A imagem caracteriza o estado atual do debate sobre o nível das taxas de juros no Brasil.

O jornal Valor Econômico publicou, nas últimas duas semanas, uma série de artigos de economistas de variadas linhas de pensamento sobre o espinhoso tema das taxas de juros brasileiras. Como era esperado - dada a complexidade do tema -, as controvérsias foram muitas. Vários apontaram, direta ou indiretamente, a insuficiência da poupança no País como uma das causas para a anomalia dos juros "excessivamente altos". Outros tacharam o argumento de "simplista", mas não propuseram um diagnóstico alternativo, seja por não quererem ser acusados de também possuir a suposta arrogância intelectual que acomete os economistas, seja por ser sempre mais fácil refutar os argumentos dos outros do que propor alternativas. Alguns se limitaram a analisar a conjuntura atual e, em certos casos, enaltecer o desordenado debate sobre os "novos instrumentos" de política econômica - as tais das medidas macroprudenciais -, que simplesmente resgatou da pia da cozinha utensílios gastos e encruados de detritos, conferindo-lhes novo polimento com um nome rebuscado. Um Bombril sofisticado, de 1.001 utilidades.

É evidente que a insuficiência da poupança, por si, não pode explicar a peculiaridade dos juros do País, como reconhecem os próprios proponentes do argumento em suas diversas matizes. Não há dúvida de que o brasileiro é perdulário, mas há no mundo muitos exemplos de esbanjadores cujas taxas de juros são relativamente "normais". Os EUA pré-crise, por exemplo. Ou o México, a Colômbia, o Peru, que têm taxa de poupança perto de 20% do PIB e déficit fiscal de 2% - nada muito distante da realidade brasileira, onde a poupança é de 18% do PIB e o déficit nominal, 2,3%. Qual seria, então, nossa "jabuticaba", parafraseando o título do artigo de André Lara Resende (Juros: equívoco ou jabuticaba?, Valor Econômico, 16/6)?

Eis uma hipótese: o governo brasileiro ainda não conseguiu se desvencilhar do "viés inflacionista" que caracteriza a condução da política econômica. Confrontado com a escolha entre preservar o crescimento ou combater a inflação, o governo continua tentando explorar um trade-off ardiloso, sobre o qual não tem controle. Nos 12 anos do regime de metas no Brasil, só conseguimos manter a inflação igual ou menor que o centro da meta em quatro ocasiões - uma delas em 2009, quando o mundo sentiu o brutal impacto do colapso financeiro de 2008. A manutenção de uma meta de inflação acima dos níveis que vigoram nos nossos pares emergentes e a aversão do governo a discutir seriamente as vantagens de um banco central independente são também reflexos desse impulso inflacionista nativo.

Mas o grande segredo é que não há segredo. Quando o governo tenta explorar o trade-off entre inflação e crescimento, as expectativas se ajustam desfavoravelmente, impedindo uma convergência mais rápida dos juros para os ditos "padrões internacionais". Os agentes econômicos se munem de estratégias defensivas que distorcem a alocação de recursos, geram uma poupança improdutiva, que não favorece a expansão do investimento de longo prazo. O quadro é piorado por essa jabuticaba gigantesca em que se transformou o BNDES, plenamente engajado na pérfida política de campeões nacionais.

Uma cozinha suja é um local desagradável. Malcheiroso, repleto de gordura incrustada, manchas entranhadas e superfícies pegajosas. Está na hora de tirar a macroeconomia da cozinha e remover, com um bom detergente, as crostas ideológicas desse falacioso embate entre a "ortodoxia" e a "heterodoxia"; é muito melhor refletir sobre os fascinantes dilemas macroeconômicos do Brasil na sala de estar. Sem se esquecer de limpar a cozinha, evidentemente.

AFROUXOU

CELSO MING - Fusão esquisita


Fusão esquisita
CELSO MING
O ESTADÃO - 01/07/11
O empresário Abílio Diniz insiste em que essa megafusão entre o Grupo Pão de Açúcar, que ele preside, e o Carrefour será um negócio bom para todos. O diário Financial Times, de Londres, na sua edição de ontem, expõe a suspeita de que os únicos ganhadores serão os advogados.

Os dois litigantes estão armados. O Grupo Casino, que acusa o Grupo Pão de Açúcar de atropelamento da lei e da ética, contratou para defender seus interesses o criminalista José Carlos Dias. E o empresário Abílio Diniz convocou o também criminalista Márcio Thomaz Bastos.

Esse é um jogo bruto entre interesses privados, daqui e do exterior, cujo resultado está exposto a condenações na Justiça, também, daqui e do exterior. E, no entanto, vai levando o governo Dilma a tomar partido, como se se tratasse de uma questão de Estado, supostamente para evitar a desnacionalização do varejo nacional.

Sem ao menos questionar a lisura do negócio e sua legalidade (perante os organismos de Defesa da Concorrência e perante o atual acordo de acionistas), o BNDES já se dispôs a despejar quase R$ 4 bilhões em dinheiro público. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o ministro do Desenvolvimento fazem a afirmação estranha de que "não há recurso público" envolvido na parada. E, no entanto, o BNDES, que trabalha com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Tesouro acaba de receber nova injeção de vitamina oficial, desta vez de R$ 50 bilhões. Se os recursos de um banco estatal como o BNDES não são públicos, que acionistas privados então o sustentam?

O ministro Fernando Pimentel, que se propõe a defender o setor produtivo, justamente o que será espremido pela nova superempresa, defende a nova armação e tenta argumentar que o BNDES apenas está no jogo porque os bancos nacionais se omitem. É um argumento de qualidade duvidosa. Em princípio, qualquer banco nacional ou estrangeiro, especialmente da França, teria especial interesse em financiar um negócio limpo e atrativo.

O empresário Abílio Diniz se empenha em envolver a bandeira nacional em mais essa encrenca pessoal, com a disparatada afirmação de que a fusão vai abrir as portas na Europa para o produto brasileiro. Só não explica por que a atual sociedade com o Grupo Casino, que agora quer alijar do negócio - um grupo tão francês e tão grande quanto o Carrefour -, não foi capaz de cumprir esse objetivo.

Não basta assegurar sinergia e eficiência. Sem concorrência, o sistema definha e a economia popular sai derrotada. Os advogados que estão costurando o novo arranjo defendem a tese de que a empresa que sairá da fusão não provocará concentração excessiva do mercado varejista. Argumentam que a nova empresa não terá mais do que 32% do mercado. E nessa conta metem o Brasil inteiro, incluindo o Acre, o Amapá e o Piauí, onde a presença do Pão de Açúcar e do Carrefour ou não existe ou é insignificante. Não levam em consideração o estrago sobre a economia popular de que o novo conglomerado será capaz de produzir no Centro-Sul - especialmente em São Paulo onde, neste ano, o setor deverá faturar perto de R$ 70 bilhões.

E, se esse negócio é tão bom para todos, falta demonstrar por que será bom para o interesse público, o único que deveria contar num país regido por princípios republicanos e democráticos.

CONFIRA

Meta de inflação

Como esperado, o Conselho Monetário Nacional manteve a meta de inflação de 4,5% para 2013. Assim, a meta anual permanece a mesma pelo nono ano seguido. Isso já define parâmetros para a inflação futura, pois a expectativa para 2013 começa a ser definida desde já. Significa que os formadores de preços começam a calibrar seu jogo para uma inflação em 2013 não inferior a 4,5%.

Realismo

Pode-se argumentar que baixar a meta não seria opção realista, porque obrigaria o Banco Central a trabalhar com margens mais estreitas, num ambiente de fortes incertezas externas. Além de sacrificar certo crescimento econômico (pois os juros teriam de ser mais altos para obter uma inflação mais baixa), uma meta inferior a 4,5% ao ano poderia tirar flexibilidade a toda política econômica.

Sem avanço

E, no entanto, apesar da crise, a inflação dos países ricos gira hoje em torno dos 2% ao ano. Desse ponto de vista, não houve avanço.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Empresa investe R$ 80 milhões em bairro no Pará
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11

A Vallor Urbano, empresa de urbanização de áreas e terrenos residenciais, vai investir R$ 80 milhões em um empreendimento de 9 milhões de m2 na região metropolitana de Belém (PA).
Serão construídos quatro bairros residenciais, uma área comercial e um centro de tecnologia para pesquisa de óleos, que será de propriedade de uma fabricante de dendê, dona do terreno.
A primeira fase da obra terá duração de até dez meses e abrigará mil famílias.
"Escolhemos o Pará, pois é um Estado com grande reserva mineral e possibilidade de rápida urbanização, com a construção da usina de Belo Monte", diz o fundador da companhia, Sérgio Guimarães Pereira Júnior.
A empresa será responsável por asfaltamento de ruas, instalação de postes de luz e desenvolvimento do sistema de saneamento básico.
"Todas as residências terão esgoto tratado, o que é normal em São Paulo, mas importante em Belém, onde apenas 12% das casas possuem essa condição."
O projeto será o primeiro da companhia na região Norte. A Vallor Urbano pretende realizar outras obras semelhantes em Marabá e Salinas, ambas no Pará, e em municípios nordestinos com até 100 mil habitantes.

Justiça concede liminar contra lei de sacolas plásticasO Tribunal de Justiça derrubou, em caráter liminar, a lei que proíbe a distribuição de sacolinhas plásticas em supermercados na cidade de São Paulo.
A decisão foi tomada na quarta-feira e publicada ontem no "Diário daJustiça".
A lei havia entrado em vigor em maio, mas garantia um período de adaptação aos estabelecimentos comerciais até 31 de dezembro.
O procurador-geral do município, Celso Coccaro, afirmou que a prefeitura ainda não foi notificada, mas que irá recorrer da decisão no Supremo Tribunal Federal.
O Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo foi quem entrou com a ação contra a prefeitura e a Câmara Municipal. A instituição acionou a Justiça em outras 20 cidades por causa de leis que proíbem as sacolinhas.
O desembargador Luiz Pantaleão, que concedeu a liminar, não quis falar sobre o assunto. A ação ainda será julgada pelo órgão especial do Tribunal de Justiça.

LIXO NA CAÇAMBA
A Prefeitura de São Paulo passa a usar a partir de hoje 31 novos caminhões que serão entregues pela Ecourbis.
A frota da companhia, que trabalha exclusivamente na limpeza da capital paulista, chegará a 445 veículos.
Até setembro, serão trocados 80 desses caminhões por um novo modelo, que emite 47% a menos de monóxido de carbono.
O investimento total da companhia neste ano será de R$ 30,5 milhões.
"A renovação faz parte do contrato da licitação que vencemos em 2004 e tem duração de 20 anos", afirma o presidente da empresa, Nelson Domingues.
Entre os novos caminhões, há dois menores para o trânsito em ruas mais estreitas da cidade de São Paulo.

NAS NUVENS
Atento às novas tecnologias de armazenamento de dados na internet, Marco DeMello (ex-Microsoft) fundou, ao lado de dois sócios norte-americanos, uma holding de quatro empresas de serviços pela internet.
O investimento inicial ficará entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões.
"Queremos criar outras empresas no futuro, além dessas quatro", diz DeMello.
"Isso, porém, depende de encontrarmos mão de obra qualificada", acrescenta.
A primeira empresa do grupo a ser aberta é a PSafe, de armazenamento de dados e segurança em nuvem.
O setor em que as outras empresas atuarão é mantido, por enquanto, em sigilo.
Uma delas, porém, deve ser uma imobiliária on-line.

Taxa de investimento de 20% só em 2015, diz consultoria
A taxa de investimento da economia brasileira deve registrar lento processo de elevação nos próximos anos.
A expectativa é que a Formação Bruta de Capital Fixo atinja 20% do PIB só em 2015, segundo a Tendências.
No primeiro trimestre deste ano, a taxa foi de 18,4% do PIB, índice 0,2 ponto percentual acima do de igual período de 2010, segundo o IBGE.
"Esse patamar está longe do da China, cuja taxa de investimento é de 45% para chegar a um crescimento de 10%", diz Stefânia Grezzana, economista da Tendências.
Os baixos níveis de poupança das famílias e do governo e a inapropriada estrutura de incentivo ao investimento limitam avanços na taxa, segundo Grezzana.

NOVOS DESTINOS
Colômbia, Estados Unidos e Peru foram os principais destinos escolhidos pelos brasileiros como alternativas a Argentina e Chile, onde alguns aeroportos permanecem fechados devido às cinzas do vulcão Puyehue.
A procura por pacotes para os Estados Unidos, em especial para as cidades de Orlando e Miami, aumentou 50% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com a Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens) e a agência Tia Augusta.
"São destinos atrativos para quem vai viajar com os filhos e só pode ir no mês de julho", diz o diretor da Abav Leonel Rossi Jr.
A preferência por países da América Latina é explicada pelo preço semelhante, segundo Jaime Abraços, diretor da Marsans Brasil.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

VINICIUS TORRES FREIRE - Como Dilma quer investir?

 Como Dilma quer investir?
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11
Governo controla gastos, mas corta investimento; falta de planos limita ação privada na infraestrutura
VAI DAR mais ou menos certo o plano do governo de conter o aumento de gastos neste ano. Vai dar ainda mais certo se o governo fizer o corte errado, porém agora inevitável, nas despesas de investimento.
Como de praxe, e ao contrário do prometido, parte importante da economia dependeu da redução da despesa em investimento, em termos absolutos e relativos (ao tamanho da economia, do PIB).
Como prometido, a contenção de despesa não caiu na conta dos "gastos sociais", em particular das transferências diretas de renda. Como era esperado, mas nem tanto, o superavit primário (receitas menos despesas, exceto os gastos com juros) depende mais do aumento da receita do que do corte de gastos.
Nas contas de Mauricio Oreng, economista do Itaú, o aumento do superavit primário neste ano, equivalente a 1,2% do PIB, deveu-se em 57% ao aumento da receita e, claro, 43% ao aumento suave dos gastos (dados de janeiro a maio deste ano, conta feita sobre os dados divulgados ontem pelo governo).
O corte em investimentos é mais ou menos inevitável, como é costume histórico no país, porque há grandes despesas obrigatórias e o Orçamento é engessado. Gasta-se o grosso em servidores (quase 23% do total) e em previdência (33,5%). Os gastos sobre os quais o governo tem mais liberdade de ação, "discricionários", são apenas 22% do total. Estão incluídos aí os investimentos (pouco mais de 5% do total).
Isto posto, coisa toda muito sabida, pergunta-se qual o plano do governo para retomar investimentos e, ao mesmo tempo, continuar a reduzir a dívida pública (é para isso que serve o superavit primário). Há problemas adiante.
No ano que vem, haverá alguns aumentos de gastos grandes e inevitáveis, como o do salário mínimo, reajuste que bate na conta da Previdência Social. A despesa com juros da dívida pública será maior, pois a inflação será desagradável até o final de 2012, pelo menos.
O crescimento do PIB não deve passar de 4%, como neste ano -a arrecadação de impostos deve, pois, crescer menos. Neste ano, ainda cresce a 9,3% (incluída da receita da Previdência Social e excluídas as transferências federais para Estados e municípios).
Incentivar investimentos privados, embora orientados pelo governo, poderia ser uma solução.
Meio a contragosto e no "desespero da Copa", o governo vai privatizar aeroportos. No segundo semestre, pode anunciar os portos que deseja ver construídos por empresas privadas, programa que vem sendo regulado e desenvolvido lentamente desde 2008 e que, dadas algumas incertezas da regulação, pode não atrair investimento bastante.
Com alguma sorte, o dinheiro começa a pingar em aeroportos em 2012. Nos portos, talvez em 2013. Não há planos visíveis de conceder estradas (inclusive as que levam mercadorias aos portos).
Concorrências problemáticas emperram o início de hidrelétricas como Belo Monte. O governo perde tempo, energia e, provavelmente, dinheiro, insistindo em ideias de jerico como a do trem-bala. A esperança é que o projeto, de tão ruim, acabe por não sair do papel e não desvie capital para uma obra economicamente inviável, o que já vai acontecer com os dinheiros gastos com estúpidos estádios de futebol bilionários.


GOSTOSA

ELIANE CANTANHÊDE - Violência virtual

Violência virtual
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11

O PSDB diz que não comprou, o DEM diz que não comprou, e a Folha não compra informação, mas alguém pode acabar pagando pelos e-mails que o hacker ‘Douglas’ copiou da então candidata e atual presidente Dilma Rousseff.

Para qualquer mortal, já seria um enorme problema. Em se tratando de Dilma, é gravíssimo.

‘Douglas’ está em vantagem. Tem os e-mails e sabe o que eles contêm. Graças à manchete de ontem na Folha, dos repórteres Matheus Leitão e Rubens Valente, o Planalto sabe que ‘Douglas’ tem os e-mails de Dilma, mas não sabe o que de fato eles contêm.

Se há 600 e-mails, isso pode, e até deve, incluir dados pessoais, afetivos, de saúde, profissionais, de interesse político ou mesmo de governo, já que Dilma, antes de se candidatar, era chefe da Casa Civil, centro das decisões — e, naturalmente, de segredos — da era Lula.

Uma frase mal colocada, um adjetivo malcriado, uma revelação qualquer, um dado de governo... e o material vira uma bomba-relógio.

Com um detalhe que pode contar a favor ou contra Dilma: a possibilidade de adulteração de trechos dos textos originais. A favor porque pode servir de argumento para desmerecer todo o resto, mesmo o que seja verdadeiro.

Contra porque um ‘caco’ tende a ser explosivo, para confundir. Até ser desmentido, pode dar confusão e trabalho.

O mais assustador é que um estrago desse tamanho foi feito por um quase garoto de 21 anos, desempregado, de periferia. Imagine o que profissionais ou uma quadrilha podem ousar. Dá um frio na espinha. E é essa sensação que percorre o Palácio do Planalto.

Depois da importante notícia de ontem da Folha e das invasões da semana passada em ministérios, na Receita, no IBGE, no Senado, na Petrobras, a única conclusão é que há uma guerra virtual em curso no Brasil. E os agressores são como fumaça, desmancham-se no ar. A não ser quando querem dinheiro.

DORA KRAMER - Lei forte e carne fraca

Lei forte e carne fraca
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 01/07/11 

Não é verossímil que o governador do Rio de Janeiro em seu segundo mandato, tendo sido deputado, presidente da Assembleia Legislativa de seu Estado e durante alguns anos senador, não conheça as restrições legais impostas a um agente público.

Impossível que Sérgio Cabral Filho nesta altura da vida desconheça o que é correto e o que é incorreto, conveniente ou inconveniente na conduta de um detentor de delegação popular para chefiar um governo.

Tanto sabia que sua ida à festa de aniversário de empresário fornecedor do governo em avião cedido por outro, dono de negócios para os quais as relações com o poder são imprescindíveis, em casa de ex-doleiro enrolado com a Justiça, não era ato aceitável, que sua assessoria no primeiro momento da queda do helicóptero que transportava parte dos convidados, negou que o governador já estivesse em Porto Seguro.

Soa até ofensivo ao discernimento geral que o governador venha a público em meio às inevitáveis críticas ao seu comportamento para propor a criação de um código de conduta ética para governantes.

Se o propósito era mostrar arrependimento, melhor teria sido apenas apresentar suas desculpas, assumir o erro e mostrar-se disposto a assumir as consequências, caso o Ministério Público resolva tomar alguma providência.

“Adoro direito comparado”, disse ele ao se propor a fazer uma pesquisa sobre “o que existe em outros Estados e no mundo” a respeito de ética pública, a fim de elaborar o tal código e a partir daí, então, seguir as regras.

É a maneira mais fácil de sair de uma sinuca: não havendo resposta convincente, muda-se de assunto dando a entender que se toma uma iniciativa moralizante.

Quando o escândalo é político, se propõe uma reforma política. Quando tem a ver com distorção de princípios, sugere-se um novo compêndio ético.

Logo após o escândalo do mensalão, o PT dedicou-se à elaboração de um código de ética. Assim como no Congresso se criaram os conselhos de ética quando suas excelências iniciaram a temporada de exorbitâncias ainda em cartaz.

O governador se dispõe a fazer o “debate” a respeito dos limites entre o certo e o errado. Se ainda não aprendeu a distinguir, não será a experiência do que “existe em outros Estados e no mundo” que vai ensiná-lo.

A frase ouvida de Roberto Campos certa vez em Brasília é de uso recorrente aqui, mas vale ser repetida por adequada à situação: “Minha filha, não é a lei que precisa ser forte, é a carne que não pode ser fraca”.

Emendas
Se no final era para ceder à pressão pela prorrogação do prazo para pagamento das emendas parlamentares remanescentes de 2009, a presidente não deveria ter feito pose de valente dizendo que enfrentaria a “rebelião” do Congresso a qualquer custo.
Com essa, Dilma Rousseff incluiu mais um item no vaivém de seu processo de (in) decisão.
Se a ideia é ganhar tempo e não pagar as emendas, a esperteza tem pernas curtas. Daqui a três meses vence a prorrogação e o problema voltará a bater com mais força à porta do gabinete presidencial.

Osso duro
Depois de uma campanha presidencial marcada pela falta de firmeza na oposição ao governo Lula, José Serra parece disposto a assumir uma posição oposicionista.
Em 24 horas bateu em Aloizio Mercadante, propôs ao PSDB documento de confronto com o governo Dilma e, na homenagem a Fernando Henrique no Senado, foi para cima do PT.
Deve ter entendido que fazendo média não chega a lugar algum. Agora só falta o partido deixar que faça oposição.

Público-privado
Ajuda do BNDES a Abílio Diniz para a incorporação do Pão de Açúcar ao grupo Carrefour explica o servilismo de certos empresários a governos que lhes pareçam maleáveis.
Nenhuma diferença em relação aos políticos tão mal falados por colocarem seus mandatos à disposição de benesses do Estado.