quinta-feira, abril 14, 2011

CORA RÓNAI - Ninguém pensou nos jovens


Ninguém pensou nos jovens 
CORA RÓNAI

O GLOBO - 14/04/11

Não, eu não fui ao Teatro Municipal no dia da abertura da temporada da OSB. Muito me arrependo: perdi um espetáculo histórico, uma lição de cidadania e de lealdade dada por jovens instrumentistas solidários com seus mestres e colegas.
Recapitulando, para quem estava de férias em Marte: a nossa Orquestra Sinfônica Brasileira, tal como a conhecíamos, acabou. Metade dos músicos foi demitida pela Fundação, por se recusar a passar por uma avaliação, se não mal intencionada, pelo menos muito mal explicada pelos diretores. A questão é que um bom maestro tem a possibilidade de avaliar seus músicos a cada ensaio, assim como, digamos, um bom editor avalia a sua equipe a cada edição do jornal. Mal comparando, propor a avaliação de toda uma orquestra, nos moldes propostos pela FOSB, equivale a mandar uma redação inteira fazer vestibular de jornalismo.
Bom. Com a OSB no limbo, a abertura da temporada caiu em cima da OSB Jovem, que fez tudo direitinho. Entrou em cena com seus instrumentos, sentou-se e, assim que o maestro, debaixo de vaias, ergueu a batuta, levantou-se em peso e retirou-se do palco, deixando o senhor Minczuk colher a tempestade que tinha plantado.
Representantes da OSB Jovem retornaram ao palco pouco depois, para ler um manifesto, mas a palavra lhes foi negada. O que queriam dizer os jovens? Leiam o que escreveu Matheus Moraes, um dos membros dessa valente e correta orquestra:
"Por que nós fizemos o que fizemos? Antes de responder a essa pergunta, eu gostaria de fazer uma outra, que me consumiu por noites inteiras: por que o concerto não foi cancelado? As razões pelas quais o concerto deveria ter sido cancelado não cabem numa carta. A OSB está passando por uma crise de proporções nunca vistas. Praticamente toda a comunidade musical se manifestou contra o que está sendo feito pela FOSB. Só de cabeça, a UniRio, a UFRJ, a Fundação Villa-Lobos, a Petrobras Sinfônica, a Sinfônica do Teatro Municipal, a Ordem dos Músicos do Brasil e o SindMusi publicaram notas oficiais em repúdio. Artistas de calibre internacional se recusaram a se envolver com a orquestra nesse período, como Nelson Freire, Cristina Ortiz, Roberto Tibiriçá, Ana Botafogo, Alex Neoral, Fabiano Segalote e Marina Spoladore, ou manifestaram-se por carta aberta contra as atitudes da FOSB, caso de Isaac Karabtchevsky, Alex Klein, Ricardo Rocha, Allison Balsom e dúzias de outros.
"Nós, músicos jovens e (pelo menos no meu caso) pouco experientes, nos vimos na posição de substitutos involuntários de nossos colegas - e em inúmeros casos, também nossos professores, mentores, amigos, exemplos profissionais. Nós sofremos com isso, e não foi pouco. Nós fomos colocados como defensores das atitudes de nossos superiores. Afinal de contas, se continuamos tocando sob suas ordens e acatando suas decisões, como poderíamos estar a favor de nossos colegas demitidos?
"Fora tudo isso, havia o acúmulo de carga em volta do concerto em si. Mais de uma vez, os assinantes das séries da OSB vieram a público manifestar que não queriam, nem haviam pago, para assistir a uma orquestra jovem. É fato sabido que músicos da OSB estariam tocando do lado de fora do teatro em protesto; e que músicos de outros grupos e localidades entrariam no teatro com o único intuito de protestar contra Minczuk e vaiar os músicos.
"Coloquem-se, por um minuto, na situação em que a OSB Jovem se via: seu público dividido entre assinantes desconfiados e músicos hostis, e, do lado de fora, nossos ofendidos colegas e mestres tocando em protesto ao concerto que nós estaríamos executando. Daí a minha pergunta: por que o concerto não foi cancelado? Por que esse concerto foi levado a cabo, até às últimas consequências, se tudo e todos estavam contra ele?
"A OSB Jovem é um projeto pedagógico; nós estamos ali para aprender. O que poderia ser aprendido sob essas condições? Por que nem um único dos 11 membros do Conselho levantou a questão de o quanto estar naquele palco, naquele dia, seria prejudicial para nós? Colocando de outra maneira, entre maestro, fundação, conselho, patrocinadores, produção e público; por que ninguém pensou na gente?"
Parabéns, Matheus, parabéns, meninos e meninas. Ninguém pensou em vocês, mas vocês souberam pensar por si próprios, e deram aos adultos uma linda aula de coragem e lealdade.
A esta altura, não há uma só orquestra no mundo que ignore o que está acontecendo no Rio. Entre as centenas de e-mails que circulam à velocidade da luz pela internet, destaco um trecho de Ole Bohn, spalla da Orquestra Nacional da Noruega, enviado para a garotada da OSB Jovem:
"Como vocês sabem, o único responsável por esta situação é o senhor Minczuk. Ele usou mal o seu próprio instrumento, que são seus músicos. Quando tentou tocar outro instrumento - vocês - ele o maltratou igualmente. Mas vocês se mantiveram firmes e merecem a nossa maior consideração. (....) O que vocês fizeram terá grande impacto no futuro de músicos em todos os países. Vocês nos deram esperança e a prova de que dignidade e respeito ainda são parte da nossa profissão."
Pessoas, é dramática a situação dos cães e gatos abandonados do estado, desde as enchentes da Serra. Neste domingo, no Parcão da Lagoa, das 10h às 16h, haverá feirinha de adoção, com um bicho mais lindo do que o outro esperando um bípede para chamar de seu. A Ama Animal, que organiza o evento, fará também um bazar beneficente e pede doações de todos os tipos: remédios, ração, caminhas, coleiras e guias, produtos de limpeza e produtos pet em geral. Vamos lá? 

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Quanto vale montar iPads?


Quanto vale montar iPads? 
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 14/04/11

É preciso recombinar a dupla juros e dólar 


Não, fabricar iPad no Brasil não é um avanço tecnológico expressivo. Há uma maneira muito fácil de verificar isso. Basta ler o que está impresso no tablet, na parte de trás, abaixo da marca: "Desenhado pela Apple na Califórnia - Montado na China."
A ciência, a tecnologia e a inovação, mais o trabalho qualificado, geram o valor. Montar o aparelho numa fábrica, assim como montar celulares ou computadores, é como produzir comodities. Como a Apple, a Intel também mantém seus centros de pesquisa e desenho nos EUA e monta chips em diversos países emergentes.
Quando o presidente Obama se refere à capacidade da economia americana de sair da crise e voltar a crescer, ele lembra: este é o país do Google, do Facebook, dos iPhones e iPads, nenhum fabricado lá.
Reparem também na Coreia do Sul, cujas companhias são como a Apple, criadoras de tablet, e, eventualmente, montadoras.
Sim, é bom ter uma planta de montagem de iPads no Brasil. No mínimo, gera empregos. Logo, é boa a notícia que a companhia chinesa deu à presidente Dilma. Mas há muitos aspectos a observar.
Suponha, por exemplo, que os chineses mandem todos os componentes apenas para serem encaixados e embalados aqui. Seria uma submontagem, uma terceirização do contrato obtido pela companhia chinesa com a Apple. Vai começar assim, que é mais fácil, prevendo-se um aumento do componente nacional brasileiro ao longo do tempo. Isso, entretanto, dependerá de muitos fatores envolvendo o custo Brasil.
Também não é certo que o made in Brazil saia mais barato do que o importado - ou seja, não é certo que o consumidor tenha um benefício direto. O problema aqui, de novo, é o custo Brasil - o que inclui impostos, elevadíssimos, e todo um ambiente de negócios restritivo à empresa privada.
Trata-se de um pecado admitido. Tanto que o Ministério do Desenvolvimento está examinando a possibilidade de incluir os tablets no sistema chamado "Processo Produtivo Básico", o que possibilitaria uma sensível redução dos impostos IPI, federal, e ICMS, estadual. Também existe a possibilidade de se incluir os tablets na categoria computadores, o que eliminaria os impostos PIS e Cofins, federais.
Para se beneficiarem desses regimes especiais, as empresas fabricantes terão que acertar metas e cotas com o governo.
De todo modo, sem esses benefícios não tem negócio. Por que os chineses fabricariam aqui mais caro? Só se tivessem a garantia do governo brasileiro de que a importação seria restringida - criando-se mais uma distorção, mais um regime especial para alguns.
Tudo considerado, temos aqui diversos exemplos de problemas que envolvem as condições de crescimento no Brasil. Primeiro, estamos fora do lado mais valioso da indústria da Tecnologia de Informação, que está no desenho, na capacidade de inovação, na geração de novos produtos a partir de novas ideias. Essa indústria é o resultado direto de boa educação e de um ambiente de negócios que facilite a vida de empreendedores que transformam ideias em produtos. E atenção, um ambiente favorável a todos, não apenas aos que conseguem favores do governo.
Nosso atraso em educação e, pois, na falta de trabalho qualificado, é notório. (Escolaridade média do trabalhador brasileiro, sete anos; do trabalhador americano e do coreano, 13 anos.)
O ambiente de negócios só funciona na base do quebra-galho, ou seja, de redução de impostos aqui e ali, beneficiando algumas indústrias, alguns setores, em detrimento dos demais que estão na vala comum.
Mesmo os privilegiados não têm a vida fácil. Precisam gastar tempo, energia e dinheiro mantendo azeitados os canais de comunicação com os burocratas do governo.
Tudo isso para dizer que trazer a montadora de iPads é um vistoso lance diplomático, mas é pouco quando se pensa numa estratégia de longo prazo que favoreça a instalação aqui da indústria de ponta.
Como está funcionando? O governo, ou melhor, a presidente, diretamente, acerta com uma multinacional as condições para que esta se instale no país. É uma tática.
O que seria objetivo estratégico? A redução do custo Brasil, com: menos impostos e sistema tributário mais racional; facilidades para fazer negócios; governo mais eficiente e menos gastador; e melhor infraestrutura, tudo para aumentar o investimento privado. E um empenho total na educação.
E os juros? Sim, também precisa reduzir os juros, a questão essencial da política econômica hoje. Mais que isso, é preciso recombinar a dupla juros/dólar - tema de próxima coluna. Há boas propostas na praça. 

JOSEF BARAT - Tragédias anunciadas - remediar x prevenir


Tragédias anunciadas - remediar x prevenir
JOSEF BARAT
O Estado de S. Paulo - 14/04/2011

Reunindo quatro de seus Conselhos, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (Fecomércio) ofereceu uma abordagem abrangente e integrada das calamidades que vêm assolando, de forma recorrente, diversas regiões do País. Essa visão mais ampla é necessária, pois os desastres decorrem de uma complexa conjugação de causas e deixam um amplo e triste legado de perdas humanas e materiais. Por atingirem grande número de pessoas, especialmente as menos favorecidas, a reação é de mobilização e ajuda. Mas, passado o impacto maior, volta-se à situação de "normalidade", sem as ações preventivas que possam gerenciar os riscos da próxima calamidade.

É o momento de entender e avaliar toda uma gama de fatores de natureza geológica, ambiental, urbanística, jurídico-institucional, política e socioeconômica. Assim será possível alcançar as necessárias políticas públicas, ações de governo e mobilização da sociedade, de forma a abarcar a complexidade das causas e prevenir os efeitos. É natural que, diante do horror provocado pelas tragédias, reapareçam as perguntas óbvias: Por que não prevenir, em vez de remediar? Por que não temos modernos sistemas de mobilização e gestão de riscos para evitar tantas perdas?

Do ponto de vista da sustentabilidade, por que as chuvas causam tantas perdas? Como moldura externa, há o impacto das mudanças climáticas e da elevação da temperatura média da Terra. Mas há ainda as repercussões da absurda devastação da Floresta Amazônica, que se agravarão caso a destruição não seja contida. Além disso, há a notória incapacidade de conter ocupações predatórias e a degradação ambiental no meio urbano. Mas por que elas ocorrem? A rigor, a legislação não é frágil, apenas não são impostos limites às invasões, por não haver interesse na fiscalização pelas autoridades e os políticos. O sistema político-eleitoral brasileiro é deformado e perverso, pois se acumplicia sistematicamente com a ocupação predatória e a degradação ambiental, uma vez que as áreas de risco ocupadas se transformam facilmente em "currais" eleitorais.

O arcabouço legal que regula a vida urbana - com amparo da Constituição federal e do Estatuto das Cidades - se torna uma ficção, quando as tragédias revelam o descumprimento dos seus dispositivos. Do ponto de vista socioeconômico, é surpreendente como, após décadas de leniência com as ocupações ilegais, não se associam políticas e mecanismos de regularização e titularidade dos lotes urbanos a mecanismos de prevenção de riscos. Os ganhos econômicos e sociais seriam significativos se adotadas políticas consistentes de estímulo à regularização, oferta de infraestruturas e ações de prevenção.

Finalmente, por que o planejamento urbano não consegue lidar com a dicotomia prevenção x prejuízo, de forma a introduzir parâmetros mais modernos na gestão urbana? Na verdade, as autoridades do Executivo, o Legislativo e o Ministério Público só se mobilizam quando ocorrem as catástrofes, mesmo sabendo que são anunciadas. Fecham, assim, os olhos para as soluções técnicas e os erros são repetidos. Não se pode esquecer de que o Brasil é um país tropical e os eventos climáticos tradicionais, como as chuvas de início de ano, têm a exuberância e o vigor dos trópicos e não podem ser considerados aleatórios.

É fácil concluir, portanto, que as ações de prevenção e a avaliação realista de riscos devem fazer parte da agenda das autoridades nos três níveis de governo. É hora de entender que o planejamento urbano transcende a simples elaboração de planos físico-territoriais. Trata-se de fortalecer e aprimorar a gestão urbana. O crescimento mais ordenado das cidades exige: 1) integração e ações conjuntas dos três níveis de governo, especialmente nos espaços metropolitanos; 2) articulação de ações antecipadas para reduzir perdas; e 3) visão abrangente e multidisciplinar dos fatores que levam à ocupação desordenada predatória, para impor limites à ação humana. Uma boa receita para sair do chavão das "obras" e priorizar a gestão.

VINICIUS TORRES FREIRE - Inflação de intrigas e inflação


Inflação de intrigas e inflação 
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 1404/11

O AMBIENTE da política econômica continua conturbado, para não dizer que o alvoroço aumentou durante esta primeira metade de abril.
Trata-se aqui tanto da controvérsia cada vez mais amarga a respeito da política econômica de Dilma Rousseff como das intrigas entre as autoridades da área -tanto as titulares como as desejosas de terem voz decisiva sobre economia.
As medidas de controle da oferta de dinheiro, do crédito, do consumo e da inflação do governo Dilma são o tema da polêmica. Tal debate agora transborda para além do universo paralelo das pessoas que se ocupam de política monetária.
Antes objeto de críticas mais veladas, em geral entre pares economistas, a política "alternativa" do governo Dilma para a inflação agora é vítima de críticas abertas e de avacalhações até em programas de TV.
Em suma, a política do governo é tentar deter a inflação com menos altas de juros e com mais controles "administrativos" de crédito e da oferta de dinheiro na economia.
Apesar da amargura, há economistas de bancões para quem a "nova política econômica" está num rumo certo ou ao menos razoável. Um economista como Pérsio Arida, que não é bem um guerrilheiro da heterodoxia, diz que é difícil prever os resultados de medidas tão diferentes, mas que até "pode dar certo" (mas, se der errado, alerta o mesmo Arida, a correção do estrago exigirá paulada mortal de juros).
"Dar certo", obviamente, é não deixar a inflação sobrevoar o teto da meta oficial e legal de inflação que o BC deve mirar (4,5% no centro, 6,5% no limite máximo).
Note-se, ainda, a respeito dessa querela, a mudança nas projeções de juros feitas pela instituições que mais acertam previsões na pesquisa que o Banco Central faz com o mercado (pesquisa Focus). Em vez de terminar o ano em 12,25%, a Selic iria a 13% (está em 11,75%).
Como nota o relatório econômico semanal da Febraban, "analistas" certeiros acreditam que, mesmo com a continuidade da política "alternativa", o BC não hesitaria em pisar no acelerador dos juros, dada a percepção geral de que o caldo da inflação está engrossando. Pode-se ouvir conversa semelhante de várias pessoas relevantes na banca.
Do outro lado do balcão, a intriga no primeiro escalão do governo voltou a ficar intensa. Os instrumentos de medição da fofoca são obviamente imprecisos, mas é difícil dizer que os querelantes estão quietos como haviam ficado logo em seguida a um chamado público da presidente, em meados de março. Então, havia querela ou boatos de quizila entre os ministros Antonio Palocci (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda). O primeiro tentaria desautorizar o segundo e sua política.
Bem, as intrigas voltaram. Estão em notas e reportagens em diversos jornais; em "informações de bastidores" (rumores) repassadas a jornalistas. Para piorar, envolvem também o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que contribui explicitamente para a boataria ao criticar em público a política do governo em relação ao câmbio, ao real forte. Na verdade, Coutinho havia figurado na onda de mexericos de março, mas "na margem". Agora, foi ao centro do ringue de rumores.
O ambiente não está bom. A dúvida sobre a inflação ainda vai durar meses. Pelo menos no governo, a intriga poderia ser menor.

JAPA GOSTOSA

CELSO MING - Reinvenção da indústria


Reinvenção da indústria
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/04/11

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, está anunciando investimentos de US$ 12 bilhões a serem realizados em cinco anos pela Foxconn, empresa gigante de Taiwan, destinada a montar produtos eletrônicos no Brasil.
As primeiras informações chegam desencontradas e não fazem sentido. Ninguém entendeu o que vão fazer 20 mil engenheiros numa indústria de montagem de chips cujo produto é criado e desenvolvido nos Estados Unidos. Só para comparar, o setor automotivo inteiro não chega a ter no Brasil mais de 12 mil engenheiros, conforme dados da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). Nem ficou claro onde essa empresa vai buscar 100 mil funcionários, num mercado de trabalho sabidamente escasso em mão de obra minimamente qualificada. Toda a Zona Franca de Manaus tem pouco mais de 110 mil funcionários.
Independentemente do déficit de consistência nessas informações, o fato é que, apesar do discurso dos dirigentes da indústria que apontam desindustrialização e sucateamento do setor produtivo nacional, o Brasil vai recebendo uma enormidade de investimentos nessa área. Em 2010, por exemplo, nada menos que 36,8% dos US$ 52,6 bilhões que ingressaram no País na condição de Investimento Estrangeiro Direto (IED) vieram para a indústria.
Enfim, apesar da forte valorização do real e do elevadíssimo custo Brasil, o investidor estrangeiro está apostando no futuro da indústria brasileira. Parece não dar importância à retórica de fim de feira partilhada pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto.
Em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo na última segunda-feira, um dos maiores especialistas em indústria no Brasil, o economista Antonio de Barros Castro, advertiu que há uma revolução do setor produtivo mundial. Lá se foi o tempo retratado nos anos 50, pelo economista alemão Hans Singer, em que as relações internacionais de troca determinavam que o produto industrializado era mais nobre e mais valorizado; e em que as matérias-primas e a energia eram desprezadas como bens de baixo valor agregado. Hoje as commodities passaram a ser o produto escasso e estratégico.
Não faz mais sentido - adverte Barros de Castro - proteger a indústria existente e esperar que agregue valor às cadeias de produção porque a concorrência externa, armada da mais avançada tecnologia, chega antes e mais barato. E é possível, até mesmo, que os novos investimentos asiáticos no Brasil se encarreguem de alijar a tradicional indústria brasileira em sua própria cozinha.
"Mesmo se o câmbio e o custo Brasil forem neutros, boa parte da indústria brasileira não é competitiva porque o sistema industrial chinês é mais eficiente. A indústria tem de se reinventar."
Isso significa que certos segmentos da indústria brasileira estão com os dias contados. Para não morrer, não basta aparar as unhas por meio da redução de alguns custos. Têm de mudar.
O problema é que nem os dirigentes da indústria parecem ter consciência disso nem o governo brasileiro parece preparado para apontar os rumos de uma virada.
CONFIRA
O Índice de Atividade Econômica, cuja função é antecipar o comportamento do PIB, mostrou em fevereiro um consumo muito aquecido, um crescimento de 7,32% no período de 12 meses terminado em fevereiro. É o que aponta o gráfico.
É suficiente?
As autoridades do Ministério da Fazenda entendem que já há sinais de desaceleração. Há, sim, desaceleração, mas não está claro se será suficiente para puxar o avanço do consumo para a altura dos 4% ao ano. Ou seja, não está claro se dá para evitar nova esticada da inflação. 

ANCELMO GÓIS - Mundo cruel


Mundo cruel
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 14/04/11

Acredite. Quando as crianças ou seus pais voltaram à escola de Realengo, após a tragédia, para buscar mochilas que ficaram para trás, alguns celulares e aparelhos de MP3 haviam sumido. 

Calma, gente
Michel Temer anda com grande escolta de seguranças, como se fosse vice da Líbia. Terça, quando foi ao QG da PM do Rio homenagear os soldados que salvaram vidas na escola de Realengo, o carro particular que trazia o sargento Alves, principal herói da tragédia, foi impedido de entrar no quartel pelos seguranças do vice. 

Caso médico
Romário, como se sabe, alegou problema de saúde ao desistir de ir à Espanha nessa missão escandalosa da Câmara. O problema, de fato, existe. Após anos de futevôlei na praia sem protetor solar, o ex-craque e hoje deputado vai fazer uma cirurgia para retirar um pequeno tumor na pele com o cirurgião plástico Gustavo Merheb. 

Carro etc.
Tony Ramos é o primeiro brasileiro, diz a Audi, a comprar o modelo A7, carrão de R$ 324 mil, que chega ao Brasil em maio. 

Fato relevante

Eike Sempre Ele Batista está deixando a barba crescer. Deve ser por isso que a Bovespa, ontem, caiu 0,61%.

Maria na tela

A vida da Maria da Penha, inspiradora da lei que pune agressão a mulheres, vai virar filme. Ela cedeu os direitos à atriz e produtora gaúcha Naura Schneider, que já abordou o tema da violência no lar no longa “Dias e noites”.

Robocop caboclo
Quem vem ao Rio no início de maio é o roteirista Nick Schenk, indicado ao Oscar por “Gran Torino”,de Clint Eastwood. Fica uns 20 dias trabalhando com o diretor José Padilha nesse novo filme do velho Robocop. 

Isto é Lula
Um brasileiro recém-chegado dos EUA conta que assistiu à palestra de Lula na Microsoft. Diz que o ex fez sucesso, mas a plateia não entendeu quando Lula se referiu a Bil Gattes como uma pessoa “possivelmente inteligente”. Possivelmente? 

Suassuna, o filme 
Já está sendo finalizado o primeiro episódio de “Nordeste de Suassuna”, documentário sobre as tradições culturais dos nove estados da região, com roteiro do grande pernambucano Ariano Suassuna. No filme, de Walter Carvalho, Suassuna mostra as manifestações artísticas nordestinas.

A cabeça da PM
Por iniciativa do Bope, psicólogos da PM discutiram internamente, ontem, a saúde mental da tropa. A ideia do diretor-geral de Saúde da corporação, coronel Alberto Alves Borges, é pôr em cada batalhão um médico, um enfermeiro e um psicólogo de plantão à disposição dos militares e de suas famílias. 

Crime e castigo
Veja como a ministra Carmen Lúcia, do STF, tem razão ao reclamar da morosidade do processo de expulsão do procurador Élio Fishberg, acusado de falsificar assinaturas de colegas. Fishberg está afastado do MPRJ desde 2007, mas ainda recebe o salário de mais de R$ 24 mil. Retratos da vida Leonardo Dias Batista, ator que atuou em “Cidade de Deus”, trabalha hoje como pedreiro no PAC do Complexo do Alemão. 

Abaixo o preconceito 
Sérgio Cabral vai lançar em maio uma campanha contra a homofobia no Rio. 

Legado da Copa 

A Câmara aprovou projeto do deputado Alessandro Molon para criar uma comissão de acompanhamento do legado da Copa de 14 e dos Jogos de 16. Andrógeno no Rio O modelo sérvio Andrej Pejic, sensação no mundo da moda ao posar como homem e mulher, desfilará no Fashion Rio pela grife carioca Ausländer. Ele é a atual estrela de MarcJacobs e Jean Paul Gaultier.

DEMÉTRIO MAGNOLI - Três Josés no funeral de Laryssa


Três Josés no funeral de Laryssa
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S. Paulo - 14/04/2011

"De onde saiu esse cara? Ele conseguiu destruir minha família". O sociólogo José de Souza Martins e o psicanalista Renato Mezan sugeriram respostas à indagação do motorista de ônibus Gérson da Silva, padrinho de Laryssa, uma das meninas assassinadas na chacina do Realengo. Martins escreveu que "o rito sacrificial medonho" derivou da irrupção das crenças arcaicas sobre a pureza e a impureza na esfera de uma modernidade pelicular. O assassino "lavou com sangue propiciatório o caminho da sua eternidade". Mezan escreveu que "era a sexualidade" que Wellington temia. O assassino matou seus próprios demônios interiores para aplacar a ira imaginada dos pais mortos e se reunir novamente com eles.

Martins e Mezan procuram reconstituir uma história singular, que oferece vislumbres sobre a sociedade moderna e a condição humana em geral. Nossas autoridades políticas, percorrendo uma trajetória inversa, fornecem uma resposta ideológica à pergunta do padrinho devastado de Laryssa. Elas estão dizendo que a chacina revela a insuficiência das leis sobre o comércio de armas. José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Rio, defendeu a revisão do Estatuto do Desarmamento. José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, anunciou medidas suplementares para dificultar o acesso às armas. José Sarney, presidente do Senado, pediu a proibição total da venda de armas. A loucura dos três Josés é de ordem diferente da de Wellington. Ela não matará ninguém, mas nos afasta um pouco mais da racionalidade política.

Uma notícia plantada assegura que Dilma Rousseff chorou duas vezes ao tomar conhecimento do evento do Realengo. Muitos de nós choramos. A presidente provavelmente chorou mesmo, pensando "na nossa própria violência, que por se exercer por meios mais sutis não deixa de ter semelhança" com a de Wellington, como escreveu Mezan. Não é preciso criticá-la quando, ao divulgar suas lágrimas privadas ou derramá-las em público, cumpre a quase compulsória obrigação da democracia de massas de se revelar tão humana quanto os cidadãos comuns. Algo completamente diverso é o sequestro da tragédia para promover uma agenda política com fundas raízes ideológicas.

O que fazer? No plano utilitário, não há nada a fazer para evitar uma chacina futura, que acontecerá. Contudo, nestes tempos de demagogia sem freios, em que autoridades e políticos obedecem aos comandos automáticos dos marqueteiros, multiplicam-se as mais nefastas propostas de ação. O senador Cristovam Buarque quer cercar as escolas com barreiras policiais inexpugnáveis, implantando uma pedagogia do medo. Sarney, sempre ele, pretende poluir ainda mais o currículo escolar com aulas de "segurança pública". A obsessão pela segurança é o sinal distintivo do declínio da crença nas liberdades públicas e individuais. A proposta de proibição total do acesso legal às armas sintetiza, hoje, uma doutrina política hostil às liberdades e aos direitos dos cidadãos.

Não são as armas que matam, mas aqueles que as utilizam: facas e bombas de fabricação caseira servem perfeitamente para promover chacinas. Wellington não comprou sua arma legalmente, mas a adquiriu num mercado subterrâneo movido pelo contrabando e pelos intercâmbios entre a "polícia bandida" e o crime. Inexiste um nexo lógico entre nossas leis sobre armas e o "ritual medonho" do Realengo. Entretanto, os arautos da proibição total, derrotados no referendo de 2005, transitam no território da comoção coletiva, o espaço mais propício para as doutrinas liberticidas. Oportunistas, pretendem anular a decisão popular por meio de um voto no Congresso ou, apenas, da manipulação administrativa das regras legais.

Psicólogos de botequim atribuem a sociopatia de Wellington ao bullying. "A culpa é do meio social", asseveram eles, reforçando a moda que rejeita o conceito de responsabilidade dos indivíduos sobre seus próprios atos. Na sua dança demagógica ao redor da sepultura de Laryssa, os três Josés conferem forma política a tal ideia. As suas propostas trazem implícitas duas mensagens. A primeira: o horror do Realengo seria fruto de uma "sociedade armada". A segunda: para minimizar o risco de novas chacinas o Estado deve civilizar a sociedade, tutelando-a e extinguindo direitos individuais.

Como tantos outros, o direito de acesso às armas não é absoluto. O Estatuto do Desarmamento, adequadamente, estabelece limites estritos ao seu exercício. A proposta de proibição total não constitui a regulamentação de um direito, mas a sua abolição. Como a proibição não atingiria os criminosos nem as empresas de segurança, o seu nome legítimo não é "desarmamento geral", mas desarmamento unilateral de cidadãos comuns que não podem pagar serviços armados privados. Contra isso, exatamente, votaram dois terços dos eleitores, evidenciando um apreço pelas liberdades que não encontra correspondência em nossa elite política.

A indagação de Gérson da Silva não tem uma resposta, mas muitas, que são conjecturas. Martins e Mezan indicam as entradas ocultas para o labirinto que Wellington percorreu até voltar armado à escola de sua infância. Contudo nunca saberemos ao certo "de onde saiu esse cara", o suicida assassino que, numa explosão de violência aleatória, sacrificou a seus demônios imaginários meninas e meninos iguais a nossos filhos ou netos. Por outro lado, conhecemos a anatomia da violência sistemática, cotidiana, em nossa sociedade. Sabemos muito sobre a fonte real das armas dos criminosos "racionais" - não é mesmo, José, o Cardozo? Sabemos quase tudo sobre a pavorosa criminalidade policial - não é mesmo, José, o Beltrame? Sabemos bastante sobre a persistente desigualdade dos cidadãos diante do sistema judiciário - não é mesmo, José, o Sarney?

Só podemos chorar, como choramos, junto com os familiares e colegas das vítimas de Wellington. Quanto ao mais, há muito a fazer.

GOSTOSA

ANNA RAMALHO - Tensão no mercado


Tensão no mercado 
ANNA RAMALHO
JORNAL DO BRASIL - 14/04/11

Em 2006, após ser reeleito, Lula abriu o mercado de resseguros, antes limitado à ação do IRB Brasil RE. Desde então, vigorou o sistema aberto. Mas, há alguns meses, uma portaria da Superintendência Nacional de Seguros Privados (Susep) decretou retrocesso, ao ampliar a reserva de mercado para resseguradores locais. 

Desde então
Governos do Canadá, Estados Unidos e Alemanha protestaram junto ao Palácio do Planalto. Igualmente, entidades nacionais de resseguros fizeram reclamações. Com isso, hoje reina certa insegurança no mercado. 

Senhora encrenca
Na abertura, decretou-se que 40% do mercado seria "preferencial" para os locais, mas a Susep determinou que sejam "obrigatórios", o que pode elevar os custos do resseguro, principalmente em grandes obras.

Dois pesos, duas medidas
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) concordou com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) que, durante reunião na Comissão de Relações Exteriores, afirmou que a Conferência das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável - a Rio + 20 – que acontece em 2012, tem maior relevância que a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. 

Ponto de vista

Na Rio + 20 serão confrontados avanços e retrocesso da Agenda 21, sobre redução de emissão de gases de efeito estufa, com um balanço das mudanças climáticas no mundo. O que tem mais peso, na opinião da Excelência, do que goleadas e bons resultados em salto de vara.

É a tal história
Ter razão o Cristovam tem, mas vai ficar falando sozinho. Ou só com o Randolfe, né, não?

Samba de uma nota só
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Fernando Collor (PTB) recebeu, anteontem, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Forças Armadas da França, embaixador Josselin de Rohan. Entre os temas abordados durante a conversa, o estreitamento da parceria estratégica entre os dois países. Resumindo: compra dos caças Rafale. 

Fatura absurda
Rohan garantiu ao senador que a França fará a transferência total da tecnologia dos caças ao Brasil, ao contrário dos EUA, que repassam apenas parte dela. Só pra lembra: o pacote de 36 aviões custará a bagatela de US$ 6,2 bilhões ou seja R$ 11,4 bilhões de reais – uma dinheirama que poderia beneficiar a Saúde e a Educação, os descalabros do país.

Anfitriões internacionais
Simone e Jacob Orlean reuniram anteontem para jantar em Milão, na Itália, 60 arquitetos e decoradores brasileiros, presentes à Feira de Milão. Milagrosamente, todos chegaram pontualmente às 20:30h ao chiquérrimo Hotel Bulgari, onde comeram as delícias do chef Elio Sironi, e de lá só saíram às duas da matina. Empolgado, Caco Borges fez discurso e foi aplaudidíssimo.

A vez do Rio
Se tudo correr nos conformes, o mítico Théâtre du Soleil, em sua turnê 2011, passará pelo Rio de Janeiro em novembro

Essa semana está no Brasil Elaine Méric, Diretora de Turnês da companhia de Ariane Mnouchkine, para acertar os últimos detalhes. De passagem pelo Rio, ela se encontrou com Antônio Grassi , presidente da Funarte, Dimitry Ovtchinnikoff , Adido Cultural da França no Rio, Eva Doris Rosental, Superintendente de Arte da Secretaria de Estado de Cultura, e Emilio Kalil, Secretário Municipal de Cultura do Rio, numa tentativa de unir forças para que Les Naufragés du Fol Espoir possa ser visto pelos cariocas.

Raspadinhas

Bete Bullara, do Cineduc, faz palestra sábado, para professores do projeto Luz, Câmera e Educação!, em Barra do Piraí. 

A Pontapé lança coleção inspirada em Paris.

A Foxton, dos estilistas Marcella Mendes e Rodrigo Ribeiro, lança coleção Back to Classics.

ILIMAR FRANCO - Mais um na festa


Mais um na festa 
ILIMAR FRANCO 
O GLOBO - 14/04/11

Os parlamentares, principalmente os da oposição, que ingressaram no PSD têm a expectativa de indicar nomes para os cargos de segundo escalão do governo federal. Os partidos aliados, no entanto, não querem abrir espaço para os novos. Alegam que só têm direito a cargos os partidos que votaram na presidente Dilma Rousseff nas eleições, e que o PSD vai precisar antes mostrar serviço, para depois começar a reivindicar posições.

Com a palavra, Fernando Henrique
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreve sobre as reações ao seu artigo para a revista “Interesse Nacional”. 1. Sobre desistir do povão: “Como se alguém que ganhou as eleições presidenciais duas vezes no primeiro turno (e contra Lula) fosse ingênuo a este ponto!”. 2. Sobre a reação crítica dos aliados: “É de doer que políticos da oposição deixem de lado o conjunto dos argumentos e das propostas que fiz no artigo e, antes de o lerem, façam coro ao petismo, colocando-me como um insensato que despreza o voto das parcelas mais desfavorecidas da população. Fariam melhor se lessem com mais calma o que escrevi”. 

"Os ruralistas não têm a força que apregoam” — Alessandro Molon, deputado federal (PT-RJ), sobre a rejeição, ontem, no plenário da Câmara, de emenda que isentava de impostos insumos para produzir glifosato

MIMO. A criação de uma CPI na Câmara para investigar a CBF não decolou. Dezenas de deputados retiraram suas assinaturas, inviabilizando a iniciativa. Eles receberam uma camisa oficial da seleção acompanhada de bilhete do presidente da entidade, Ricardo Teixeira, que dizia: “Receba, ilustre deputado, os meus agradecimentos pela hospitalidade com que fui recebido, quando da minha estada em Brasília, no dia 29 de março”. 

CPMF

Está prevista para o fim do mês a conclusão de estudo da FGV sobre a gestão de recursos na área da Saúde. A partir daí, o governo decidirá se vai apoiar ou não a recriação da CPMF na votação da regulamentação da Emenda 29.

Parlasul

A Comissão de Relações Exteriores da Câmara aprovou ontem parecer do deputado Dr. Rosinha (PT-PR) estabelecendo eleições diretas para o Parlamento do Mercosul em 2014, com lista fechada e financiamento público. São 75 vagas.

Primeiro aeroporto privado no Nordeste
O Rio (Galeão) e São Paulo (Viracopos) perderam. O primeiro aeroporto, de carga e passageiro, a ser concedido à iniciativa privada será o de São Gonçalo do Amarante (RN). O TCU aprovou ontem o modelo de edital. A Anac deve publicar na última semana de abril o edital de concorrência. O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), relatou que serão investidos R$ 1 bilhão na construção e na operação do novo aeroporto.

Negócios
As principais áreas de interesse da missão comercial chinesa que virá ao Brasil no mês que vem são: energia, infraestrutura para as Olimpíadas de 2016 e inovação tecnológica. E o Brasil quer ter relações bilaterais com a China.

Dissidentes
Na votação da admissibilidade da medida provisória que garante financiamento para o trem bala, sete senadores da base votaram contra. O placar foi 46 x 19. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), esperava resultado pior.

 QUASE RESOLVIDO. O ex-governador Orlando Pessuti (PMDB-PR) deve integrar o Conselho de Itaipu e indicar um diretor da empresa binacional. 
 O OUVIDOR da Câmara, Miguel Corrêa (PT-MG), fará audiência pública, dia 29, na Assembleia Legislativa do Rio, para ouvir a opinião dos cidadãos sobre temas em debate na Casa.
● REFORMA. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) vai propor sabatina para diretor-geral e secretário-geral da Mesa Diretora do Senado. Ele integra a comissão de reforma administrativa da Casa.

CONTARDO CALLIGARIS - Realengo


Realengo 
CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/04/11


1) EM MARÇO de 2009, em Wendlingen, Alemanha, um jovem de 17 anos entrou no colégio do qual ele tinha sido aluno e começou uma matança que terminou com seu suicídio e custou a vida a 15 pessoas.
Na época, notei que, para os suicidas-assassinos de massa, encarnar o anjo da morte é sempre uma demonstração pública. E perguntei: uma demonstração de quê?
Pois é, num mundo dominado por máscaras e aparências, talvez os únicos eventos que se destaquem por serem indiscutivelmente reais sejam o nascimento e a morte. Nessa ótica, as meninas, para nos obrigar a levá-las a sério, podem engravidar e dar à luz. Quanto aos meninos, o que lhes sobra para serem levados a sério é morrer ou matar.
Por isso as meninas pensam no amor, e os meninos, na guerra; as meninas sonham em ser mestres da vida, os meninos sonham em ser mestres da morte.
Em suma, atrás da singularidade das razões de cada um, os suicidas-assassinos (todos homens) parecem agir na tentativa desesperada de se levarem a sério e de serem, enfim, levados a sério: "O mundo me despreza e me desprezará mais ainda, mas, diante de meu ato mortífero, não poderá negar que sou gente grande, um "macho de respeito'".
Mais um detalhe. Cada vez mais, a preservação da vida parece ser nosso valor supremo. Todos estão dispostos a qualquer coisa para não morrer; não é estranho que, de repente, aos olhos de alguns, a verdadeira marca de superioridade pareça ser a facilidade em matar e se matar.
2) É possível que a vida escolar de Wellington, o assassino de Realengo, tenha sido um suplício. Mas a simples vingança pelo bullying sofrido não basta para explicar seu ato. Eis um modelo um pouco mais plausível (e infelizmente comum).
Durante sua adolescência, um jovem é zombado pelos colegas e, sobretudo, pelas meninas que despertam seu desejo. Para se proteger contra a recusa e a humilhação, o jovem se interdita o que ele deseja e que lhe está sendo negado: "As meninas que eu gosto riem de mim e de meu desejo por elas; para não me transformar numa piada, farei da necessidade virtude: entrarei eu mesmo em guerra contra meu desejo. Ou seja, transformarei a exclusão e a gozação num valor: não fui rechaçado, eu mesmo me contive -por exemplo, porque quero me manter ilibado, sem mancha".
Wellington, o assassino de Realengo, na sua carta de despedida, pede para não ser contaminado por mãos impuras. Difícil não pensar no medo de ele ser contaminado por suas próprias mãos, e no fato de que a morte das meninas preservaria sua pureza, libertando-o da tentação.
A matança, neste caso, é uma maneira de suprimir os objetos de desejo, cuja existência ameaça o ideal de pureza do jovem. Ora, é graças a esse ideal que ele transformou seu fracasso social e amoroso numa glória religiosa ou moral. Como se deu essa transformação?
Simples. Para transformar os fracassos amorosos em glória, o fanatismo religioso é o cúmplice perfeito. Funciona assim: você é isolado? Sente-se excluído da festa mundana? Pois bem, conosco você terá uma igreja (real ou espiritual, tanto faz) que lhe dará abrigo; ajudaremos você a esquecer o desejo de participar de festas das quais você foi e seria excluído, pois lhe mostraremos que esse não é seu desejo, mas apenas a pérfida tentação do mundo. Você acha que foi rechaçado? Nada disso; ao contrário, você resistiu à sedução diabólica. Você acha que seu desejo volta e insiste? Nada disso, é o demônio que continua trabalhando para sujar sua pureza.
Graças ao fanatismo, em vez de sofrer com a frustração de meus desejos, oponho-me a eles como se fossem tentações externas. As meninas me dão um certo frio na barriga? Nenhum problema, preciso apenas evitar sua sedução -quem sabe, silenciá-las.
Fanático (e sempre perigoso) é aquele que, para reprimir suas dúvidas e seus próprios desejos impuros, sai caçando os impuros e os infiéis mundo afora.
Há uma lição na história de Realengo -e não é sobre prevenção psiquiátrica nem sobre segurança nas escolas. É uma lição sobre os riscos do aparente consolo que é oferecido pelo fanatismo moral ou religioso. Dito brutalmente, na carta sinistra de Wellington, eu leio isto: minha fé me autorizou a matar meninas (e a me matar) para evitar a frustrante infâmia de pensamentos e atos impuros.

DORA KRAMER - Palavra de honra


Palavra de honra
DORA KRAMER - 14/04/11

O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/04/11

O projeto que regula os meios de comunicação eletrônicos será enviado pelo governo ao Congresso no segundo semestre e, segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, não terá resquício de controle do conteúdo das programações das emissoras de rádio e televisão. Jornais e revistas, por não serem concessões públicas, ficam de fora do projeto.
Contrariando o que pretendia o ex-ministro Franklin Martins - aprovar o projeto "com entendimento ou enfrentamento" o mais rápido possível -, uma das primeiras medidas da presidente Dilma Rousseff foi adiar a discussão e pedir a Paulo Bernardo que passasse "um pente-fino" no texto a fim de que não sobrassem brechas do chamado "controle social da mídia", visto como uma tentativa do governo de cercear o trabalho da imprensa.
De acordo com o ministro, o conceito com que o governo trabalha é o da "liberdade de expressão". A despeito da garantia de que não passará perto de censura, ainda assim o projeto suscitará polêmica no especialmente sensível aspecto da regulamentação da Constituição no tocante ao estímulo à produção independente e aos porcentuais de programação nacional e regional a serem estabelecidos em lei.
"Não podemos criar exigências irreais que sejam economicamente inexequíveis. É preciso encontrar um meio-termo, inclusive porque se exigir o aumento muito grande de produções nacionais em relação ao que se faz hoje o governo fica obrigado a criar linhas de financiamento específicas. Ao mesmo tempo, o estímulo oficial é o que vai fazer essa indústria da cultura e do entretenimento crescer ao ponto de gerar índices significativos de empregos."
No momento, esse é o debate interno a respeito da proposta de regulamentação. A demora deve-se também a negociações internas com vistas a administrar o afã "controlador" de setores (muitos) do PT e à decisão do governo de dar tempo ao tempo para apaziguar os ânimos acirrados pela condução anterior do assunto, considerada desnecessariamente agressiva.
"É preciso tirar a carga emocional dessa discussão", diz Paulo Bernardo.
Falência múltipla. Que o PT tente desqualificar a análise de Fernando Henrique Cardoso sobre o papel da oposição, compreende-se, já que a lógica adotada por boa parcela do partido (há exceções) é a da negação de ideias quando partem do campo adversário.
Há também o fato de FH ter ido ao ponto conclamando a oposição a correr atrás das "novas classes possuidoras" antes que o PT o faça.
Agora, que os oposicionistas, aí incluídos tucanos, enxerguem as palavras dele pela perspectiva simplória de pregação ao "abandono do povão" é algo que só pode ser atribuído à cabeça atrasada de boa parte dos políticos e de especialistas cujas referências de raciocínio se prendem à dinâmica de funcionamento dos partidos.
Muita bobagem se falou, mas com elas produziram-se provas materiais a mancheias a respeito do que disse o ex-presidente sobre o esgotamento dos instrumentos tradicionais nas práticas político-partidárias.
Por essas e outras é que FH tem razão quando afirma que os partidos se transformaram em "clubes congressuais", cada vez mais distantes da vida real.
Ao essencial. Mesmo defensores da proibição da venda de armas acham extemporânea a proposta de se repetir a consulta popular de 2005 que disse "sim" ao comércio legal de armamentos.
Segundo eles, há o risco real de se repetir o resultado. Portanto, mais eficaz seria zelar pelo cumprimento do Estatuto do Desarmamento no tocante, por exemplo, a controles rígidos no porte de armas e origem de munição.
Anticlímax. A sensação entre os senadores é de descrença na aprovação da maioria dos pontos da reforma política em plenário.
Motivo: ausência de consenso mínimo para formação de maioria em quórum constitucional de três quintos. 

JAPA GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO - CACOS DE TELHAS


CACOS DE TELHAS
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/04/11

O BNDES está colocando mais pedras no caminho do que as já esperadas para liberar financiamento para a Odebrecht construir o estádio do Corinthians em Itaquera. O banco concorda em repassar R$ 400 milhões para uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) formada para a execução da obra. Mas quer o Timão fora dela.

EM FRENTE
A empreiteira está quebrando a cabeça, junto com dirigentes do clube, para encontrar um modelo que se enquadre nas regras do banco. Mas pretende iniciar a obra até o fim do mês, com ou sem o empréstimo aprovado.

TÔ FORA
José Dirceu não atenderá aos apelos de Jair Bolsonaro (PP-RJ), que pretende citá-lo como sua testemunha de defesa na acusação de racismo. "Não vou perder um minuto com ele", diz o ex-ministro. Dirceu nunca mais pisou na Câmara dos Deputados depois que foi cassado. Ele afirma que só pretende voltar lá caso seja inocentado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no processo do mensalão e depois anistiado pelo parlamento.

PÁGINAS ROSAS
O governo Dilma Rousseff vai rastrear, todos os dias, por 24 horas, durante um ano, a programação de 23 TVs e 21 rádios, além de 73 jornais, 12 revistas e dezenas de sites e blogs para monitorar "a forma e intensidade das matérias publicadas" referentes a "assuntos ligados às temáticas das mulheres". O objetivo é "avaliar a inserção da Secretaria de Políticas para as Mulheres" nos meios de comunicação.

PÁGINAS ROSAS 2
O levantamento está orçado em R$ 336 mil.

PÁGINAS ROSAS 3

O governo vai gastar também R$ 84 mil para comprar buquês e arranjos de flores nobres, tropicais e do campo para enfeitar o gabinete pessoal e a residência oficial que abrigam Dilma, além de solenidades de que ela participa.

LUTO
Neste orçamento estão incluídas também 50 coroas fúnebres -parte delas médias, com 150 flores, e outras "grandes e especiais", com 200 flores, para velórios considerados mais importantes.

ANTONIO E MILTON
Antonio Banderas fez um pedido para os produtores que organizam sua vinda ao Brasil, em maio. Quer conhecer Milton Nascimento.

CASAMENTO MODERNINHO
O jogador de polo Fábio Diniz e a modelo Mariana Bittencourt foram ao casamento da estilista Cris Barros e do empresário Toninho Abadalla, na casa dele, no Jardim Europa. Fabiana Pastore, Eliane e J.Hawilla, da Traffic, também estiveram lá.

TRAÇOS DE TOMIE

O arquiteto Ruy Ohtake representou a mãe, Tomie Ohtake, na abertura da mostra dela, anteontem, no instituto que leva seu nome. O ator Paulo César Pereio também conferiu "Pinturas Cegas", com curadoria de Paulo Herkenhoff.

PACOTE COMPLETO
O Vasco, primeiro clube carioca a fechar com a TV Globo a transmissão do Campeonato Brasileiro até 2015, vai ter a reforma de parte de seu estádio feita por empresa do grupo da emissora. A Outplan desembolsou R$ 2,5 milhões no São Januário e deve inaugurar e gerir, a partir do fim do mês, o setor "premium", com 1.980 cadeiras numeradas, acesso privado e venda de ingressos pela internet. A empresa também construiu 34 camarotes que poderão ser vendidos em pacotes anuais por, no mínimo, R$ 60 mil cada.

ESTRELINHA
A atriz americana Kate Hudson, namorada de Matt Bellamy, da banda Muse, ganhou um apelido da equipe que acompanha os músicos no Brasil: "Miss Penny pain in the ass" (algo como "senhorita chatinha"), por conta das exigências que faz. Ela está grávida de seis meses. O apelido é trocadilho com o nome de Penny Lane, personagem de Kate em "Quase Famosos".

CAMARIM DE RISCO
Dois músicos que se apresentaram no sábado, na Fundação Ema Klabin, no Jardim Europa, tiveram um laptop, carteira e dois celulares furtados no camarim. O curador do museu, Paulo de Freitas Costa, diz que "foi um furto simples, oportunista" e que a polícia já está investigando.

CURTO-CIRCUITO

O Museu Afro Brasil abre hoje a exposição "Elos da Lusofonia", de arte de países onde se fala português, às 19h30.

O cantor Amabis estreia hoje show com participação de Céu e outros artistas, no Studio SP, às 23h. 18 anos.

Liège Monteiro fez a lista de convidados da estreia de "Deus da Carnificina, uma Comédia sem Juízo". Hoje, às 21h30, no Teatro Vivo. 14 anos.

O programa "Sonora Livre", do portal Terra, recebe ao vivo a cantora Manu Gavassi, hoje, a partir das 16h.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI