quarta-feira, março 09, 2011

LU AIKO OTTA

Conta de restos a pagar maquia cortes
LU AIKO OTTA
O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/03/11
Para economista, manobra permite ao governo dizer que está contendo as despesas enquanto, de fato, adia os pagamentos

A presidente Dilma Rousseff herdou um problema fiscal mais sério do que o desequilíbrio que forçou o governo a programar um corte de R$ 50,1 bilhões nas despesas deste ano. A causa seria a maquiagem das contas de 2010, numa estratégia que vem sendo repetida desde 2003. O alerta é do economista Mansueto Almeida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A suspeita surgiu porque o bolo de despesas iniciadas em 2010 cujo pagamento ficou para este ano, os chamados restos a pagar, foi muito grande: R$ 128,8 bilhões. Esse valor não aparece no Orçamento. Ou seja, o corte não o afetou, e ele continua exercendo pressão sobre o caixa.

"O governo tem um problema com sua gestão fiscal ainda maior do que aquele que aparece nas análises do orçamento aprovado", diz Mansueto na nota técnica Restos a Pagar e Artifícios Contábeis.

O secretário do Tesouro, Arno Augustin, informou que só pretende quitar R$ 41,1 bilhões em atrasados em 2011. As demais despesas, muitas ainda em fases iniciais de contratação, deverão ser canceladas. A possibilidade de "calote" nos restos a pagar acendeu sinais de alerta no Congresso, pois a maior parte deles se refere a emendas de parlamentares ao Orçamento de 2010.

Desde 2006, o volume de restos a pagar vem crescendo continuamente. Ao mesmo tempo, o montante em pagamentos de atrasados que ocorreu no ano seguinte também cresceu. Para Mansueto, isso sugere a existência de uma espécie de orçamento paralelo, o dos atrasados. "Isso permite ao governo mostrar que está sendo feito um esforço maior de contenção de despesas, quando o que de fato ocorreu foi a postergação de pagamentos", comentou.

Além da maquiagem, outra razão para essa prática seria o Executivo obter maior liberdade para escolher onde alocar os recursos disponíveis: se para pagar os restos ou para executar o orçamento do ano. Este ano, por exemplo, Dilma tem R$ 48,3 bilhões em restos a pagar. Esse volume é o mesmo do que foi investido no ano passado inteiro.

Desconfianças. "Se você me perguntar se eu tenho certeza que há maquiagem, eu vou dizer que não. Mas tenho desconfiança, porque o saldo só cresce e a execução (pagamento) de restos a pagar também", disse o economista. Em 2004, a quitação de restos a pagar foi de R$ 5,67 bilhões. Em 2010, atingiu R$ 44,18 bilhões.

O resultado das contas do governo central em janeiro explicitou o truque. As despesas deram um salto de 24% em comparação com o mesmo mês no ano passado, enquanto em dezembro a taxa de incremento havia sido bem menor: 4,6%. Assim, os números indicam que o governo segurou despesas em dezembro e recuperou o atraso em janeiro.

Pelos cálculos do economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, a quitação de atrasados em janeiro pode ter sido da ordem de R$ 5 bilhões.

Além de adiar pagamentos, o governo ainda recorreu a manobras contábeis para melhorar o resultado de 2010, como o aumento das receitas em R$ 31,9 bilhões decorrente da capitalização da Petrobrás.

Ainda assim, o setor público fechou suas contas de 2010 com um resultado equivalente a 2,78% do Produto Interno Bruto (PIB), quando a meta era 3,1% do PIB.

A prática de empurrar despesas para o futuro e assim melhorar o resultado fiscal de um ano vem sendo utilizada desde 2003, quando o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ganhou prestígio e credibilidade do mercado financeiro ao anunciar a elevação da meta do superávit primário (economia de recursos públicos para pagamento da dívida pública) de 3,75% do PIB para 4,25% do PIB. Naquele ano, o saldo de restos a pagar aumentou de R$ 4,2 bilhões para R$ 7,95 bilhões. Foi um crescimento de R$ 3,7 bilhões, ou 0,25% do PIB do ano.

FERNANDO RODRIGUES


A banalização do mal
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/03/11

Brasília - O governador do Rio Grande do Sul e um dos principais formuladores do PT, Tarso Genro, reclamou ontem dos mensageiros. Num artigo na Folha, refletiu sobre o pouco prestígio dos políticos:
"É visível que existe, em grande parte da mídia, também uma campanha contra a política e os políticos, o que, no fundo, é, independentemente do objetivo de alguns jornalistas, também uma campanha contra a democracia".
Tarso escolheu um momento ruim para redigir seu texto. No fim de semana, tornou-se público um vídeo no qual a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) aparece recebendo um maço de dinheiro das mãos do delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa. A cena não é inédita na política, embora continue a ser chocante.
É fascinante que esse vídeo tenha nascido no mesmo covil de outros conhecidos há mais de um ano. Mas só surgiu agora, quando Jaqueline Roriz já está eleita.
Deputados mudaram as regras de decoro não faz muito tempo. Ninguém pode ser cassado por crimes cometidos antes da eleição. Eis aí a sutileza: matou alguém, assaltou ou recebeu dinheiro sujo antes da eleição? Sem problemas.
Por fim, o corregedor da Câmara, Eduardo da Fonte (PP-PE), está em viagem de férias no exterior. Volta dia 13. A prática de "emendar um feriado" é levada ao paroxismo no Congresso. Até lá, Fonte acompanhará o episódio. Nada mais.
Nesses escândalos políticos em Brasília, o roteiro é sempre igual. A pressa é inimiga da prescrição. Tudo é acomodado para que o tempo passe, nada seja apurado de fato e ninguém acabe punido. Quando se trata de um político do baixo clero, como é o caso de Jaqueline Roriz, a operação é facilitada.
Diferentemente do que afirma Tarso Genro, quem faz "campanha contra a democracia" não é a mídia, mas os políticos, protagonistas desse enredo cujo objetivo tem sido apenas a banalização do mal.

DILMA CABEÇA OCA

PATRÍCIA MARRONE

Saltando do trampolim
PATRÍCIA MARRONE
O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/03/11
O governo de Obama atribui à perda da competitividade da sua indústria manufatureira a causa do pesado déficit comercial e da enorme dificuldade com que se depara hoje a economia americana para retomar os níveis de emprego da fase anterior à crise.

Os democratas têm sinalizado claramente a ênfase que pretendem atribuir a uma política industrial sustentada na inovação. Ela prevê, entre outras iniciativas, a reforma no sistema de patentes e incentivos para que graduados nas melhores universidades permaneçam no país. Além disso, a política estimulará a substituição de importados e a repatriação de investimentos de americanos no exterior, entre tantas outras medidas.

A nossa indústria guarda algumas semelhanças com a dos EUA. Nos dois países, a manufatura é responsável por quase 21% do PIB. O problema é que, comparando o valor adicionado gerado pela indústria dos dois países, a americana adiciona 14,3 vezes mais valor à produção do que a brasileira. Além disso, cada empresa industrial brasileira com mais de cinco empregados gera, em média, sete vezes menos valor que uma americana, e os nossos empregados, cinco vezes menos valor para a nossa indústria por ano do que os deles.

Se os americanos estão preocupados com a falta de competitividade de sua manufatura, imaginem como nós deveríamos estar, com tanta defasagem? Apresentamos, assim, algumas sugestões sobre iniciativas que, se adotadas, poderiam melhorar os mecanismos de estímulo à inovação na indústria.

Para dar mais foco à inovação, sugerimos financiar estudos de mercado acoplados a projetos de investimento, auxiliando a empresa a direcionar a especialidade em que deve promover a inovação. Além disso, as disciplinas nas universidades poderiam ser direcionadas para os focos. O estimulo à integração da indústria com os serviços a ela correlatos a diferenciaria de seus concorrentes em serviços pós-venda e em engenharia de manutenção.

Quanto ao aprimoramento dos instrumentos de apoio, seria importante promover a revisão geral dos incentivos e a simplificação de procedimentos para a análise do mérito das empresas na estruturação dos projetos e na reunião da documentação. Ações poderiam ocorrer no sentido de disseminar informações sobre incentivos fiscais, linhas de financiamento e fundos de capital de risco existentes.

As medidas para o fortalecimento da infraestrutura de pesquisa, desenvolvimento e inovação certamente exigirão aportes para reequipar as escolas técnicas e aliá-las a laboratórios de teste, voltados para atender aos principais setores de cada Estado. A ampliação das dotações para bolsas de mestrado e doutorado no País contribuiriam igualmente.

Aprimoramentos na lei trabalhista fomentariam a aplicação na empresa de conhecimento desenvolvido na academia, permitindo a formalização de contratos de trabalho flexíveis por tempo parcial, sem prejuízo das atividades docentes nem risco para as empresas. A pontuação na carreira acadêmica de docentes que se integrarem em programas de empresas poderia se somar. Do lado da empresa, falta estimular a contratação de programas das universidades e a transferência para o Brasil de centros de pesquisa e desenvolvimento de multinacionais.

Quanto ao apoio à inovação nas pequenas empresas, é urgente mapear instituições como: agências de fomento, instituições científicas e tecnológicas e núcleos de inovação tecnológica de cada Estado. Por isso, sugerimos a obrigatoriedade da adoção de uma metodologia padronizada para a apresentação das informações sobre cada entidade do sistema de ciência e tecnologia.

Assim, apesar de as políticas industriais nacionais atuais pretenderem promover mudanças pela inovação na prática, o salto que o Brasil terá de dar exigirá esforço desproporcional. Temos de começar imediatamente e com medidas de alto impacto e baixo custo.

ECONOMISTA E MESTRE EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.

COORDENA O DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DE VÁRIAS ENTIDADES DE CLASSE PATRONAIS, SENDO SÓCIA

DA CONSULTORIA WEBSETORIAL.

REFÉNS DO CRIME

Reféns do crime 
REVISTA VEJA
Juízes que atuam contra o crime organizado, principalmente no interior do Brasil, se dizem intimidados pelas constantes ameaças de morte e seqüestro. Com medo, pedem a criação de uma polícia exclusivamente para protegê-los 

Na última quarta-feira, Odilon de Oliveira, 62 anos, deixou o pré¬dio da Justiça Federal de Cam¬po Grande, por volta de 6 horas da tarde, cercado por três homens arma¬dos com metralhadora, que o conduzi¬ram a um carro blindado contra tiros de fuzil. A cena poderia ilustrar o transpor¬te de um perigoso criminoso, mas é par¬te da rotina de um juiz federal que há treze anos não pode andar sozinho pelas ruas da capital sul-mata-grossense. Na magistratura faz 24 anos, Odilon foi res¬ponsável pela prisão de mais de uma centena de criminosos ligados ao tráfico internacional de drogas. Somente nos últimos cinco anos, determinou o seqüestro de 260 imóveis usados pelas quadrilhas. Sua cabeça está a prêmio. Em 1998, quando sofreu a primeira ameaça de morte, ela valia uma fazenda no Paraguai. Hoje, a recompensa gira em tomo de 300000 dólares. Nos últi¬mos anos, a Polícia Federal descobriu oito planos para executá-lo, que varia¬vam de rudimentares tentativas de inva¬são a sua casa a surpreendentes fama de envenenamento. O caso do juiz Odi¬lon não é único e, o mais grave, está se tomando cada vez mais recorrente.

Tentativas de intimidação da Justi¬ça, em que o perigo ultrapassa a simples ameaça e se materializa em atentados, sempre foram frequentes em regiões fronteiriças e nos grotões do país, onde a criminalidade se aproveita da débil presença do estado para atuar com mais desenvoltüra. Por isso, a magistratura longe dos grandes centros já é uma ati¬vidade de extremo risco. "A vida de um juiz que aplica a lei com rigor acaba, de uma forma ou de outra. Ou os bandidos te matam, ou você se transforma em um refém do próprio medo", diz Odilon de Oliveira. Desde 1998, o juiz de Campo

Grande é acompanhado por pelo menos três policiais federais. Ele só sai de casa para trabalhar. "Não tenho mais vida social, conto nos dedos de uma das mãos os amigos' que ainda preservo e não me lembro da última em vez que fui ao cinema", lamenta. Mesmo em casa, a presença de homens armados é uma constante. O primeiro dos três pavimen¬tos da residência foi transformado em alojamento para os seguranças. Apesar disso, Odilon nunca cogitou a hipótese de abandonar sua área de atuação. Mas seu sentimento de vulnerabilidade é ta¬manho que faz uma advertência preocupante: "Não me arrependo, mas também não aconselho os jovens juízes a seguir o meu caminho".

O Brasil tem 2000 juízes federais, 500 deles atuam na esfera criminal, responsável pelos crimes mais graves e, naturalmente, por julgar os crimino¬sos mais perigosos. A. situação das co¬marcas afastadas dos grandes centros é a mais precária. No município de Pon¬ta Porã, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, a juíza Lisa Taubemblatt aguarda há um mês res¬posta a um pedido de proteção. A soli¬citação foi feita depois que se desco¬briu que um traficante condenado por Taubemblatt orquestrava um plano pa¬ra executá-la. Os agentes intercepta¬ram telefonemas e mensagens realiza¬dos de dentro do cárcere, ordenando que "apagassem aquela juíza". Até que a Polícia Federal providencie um des¬tacamento para garantir sua segurança, a juíza está sendo escoltada por um grupo de cinco agentes pagos pelo Tri¬bunal Regional Federal. "Nós somos alvos fáceis", afirma ela. Um detalhe importante para entender a dimensão do problema: o tal traficante não é uma personalidade no mundo do crime.

A juíza Raquel Corniglion sabe o que o nome e a ficha de um criminoso podem significar na hora de tomar uma decisão. Ela atuou na área de execução penal do presídio de segurança máxi¬ma de Campo Grande entre 2007 e 2009, quando a cadeia tinha como de¬tento ilustre o traficante Fernandinho Beira-Mar. Em 2008, Raquel teve de decidir sobre um pedido de transferên¬cia de Beira-Mar para o Rio de Janei¬ro. Durante o andamento do processo, a polícia descobriu que o bandido mais perigoso do país planejou raptar os fi¬lhos da juíza para forçar uma decisão a seu favor. Mesmo diante do perigo, Raquel teve de se virar sozinha. "Pas¬sei quinze dias dormindo em locais di¬ferentes todas as noites. Meu filho mais novo, de 3 anos, me acompanha¬va até o fórum. O mais velho teve de passar um mês com um casal de ami¬gos dos meus pais que eu mal conhe¬cia. Foi horrível", comenta. E desaba¬fa: "S.e eles tivessem conseguido pegar meus filhos, qual seria minha deci¬são?". Hoje, a juíza mora no interior de Mato Grosso do Sul, mas não divulga o nome da cidade, e ainda se consi¬dera refém dos criminosos.

A situação preocupa tanto que a As¬sociação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) defende a criação de uma força de segurança .que se dedicaria exclusi¬vamente à proteção dos magistrados. "Não podemos depender da disponibi¬lidade da PF. Em regiões críticas, co¬mo as fronteiras, o efetivo é pequeno e há problemas logísticos imensos", afir¬ma o presidente da entidade, Gabriel Wedy. A classe defende também mu¬danças na lei para acabar com a perso¬nalização dos processos. Hoje, é co¬mum que o mesmo magistrado - prin-cipalmente em comarcas menores ¬conduza um caso da fase inicial até a condenação do réu. Isso poderia ser feito por um colegiado de juízes. A in¬tenção é diluir a participação pessoal dos juízes no processo, o que dificulta a perseguição aos responsáveis pela in¬vestigação. Tal medida foi adotada na Itália nos anos 90, durante a Operação Mãos Limpas, ofensiva do governo contra a atuação da máfia, que resultou na abertura de mais de I 200 processos e 600 condenações.

O crime organizado sempre teve a intimidação às autoridades como estratégia para o sucesso de suas empreita¬das ilícitas. O papel do estado deveria ser justamente impedir esse tipo de sa¬botagem. Mas o que se percebe hoje é que já existe um considerável desequi¬líbrio de forças. Diz o jurista Luiz Flá¬vio Gomes: "Nosso sistema de prote¬ção é rudimentar. Muitos juízes não aceitam trabalhar em determinadas re¬giões por temer investidas de crimino¬sos". O juiz Pedro Francisco da Silva é um exemplo. Em treze anos de atuação no Acre, ele mandou "para a cadeia mais de cinquenta traficantes e criminosos de colarinho branco, além do ex-depu¬tado Hildebrando Pascoal, o homem que trucidava suas vítimas com uma motosserra. Os tentáculos das organi¬zações que combateu avançaram sobre sua família. Há seis anos, ele convive com o medo. Em 2005, a polícia pren¬deu um grupo de pistoleiros contratados para matá-lo. "Acabei me tornando um prisioneiro. Sempre que queria sair com minha esposa, tinha de comunicar à equipe de escolta com antecedência. Acabou minha privacidade", comenta. Em 2008, o perigo chegou bem perto. Quatro homens armados invadiram sua casa. "Só não morri porque mudava minha rotina diariamente. Naquele dia, saí de casa quinze minutos antes do usual", lembra.

o juiz Adelmar Aires Pimenta da Silva, do Tocantins, trocou a Vara Cri¬minal pelo Juizado de Pequenas Cau¬sas depois que seus filhos se tornaram alvo de criminosos. Em 2009, Pimenta da Silva ordenou a prisão de uma qua¬drilha que utilizava aviões, fazendas e se valia de proteção policial para dis¬tribuir drogas. Logo depois das conde¬nações, foi descoberto um plano para sequestrar o filho de 4 anos do magis¬trado, que deveria. ser trocado pela li¬bertação de um dos integrantes da qua¬drilha. Assustado, Pimenta da Silva solicitou transferência da vara criminal em setembro do ano passado, quando descobriu que um dos réus, que havia saído da cadeia, era seu vizinho. "Esse bandido morava a 100 metros da mi¬nha casa. Não podia ficar tão exposto. Mesmo com a mudança, ainda convivo com o medo de fazerem algo contra meu filho", diz.

Até em capitais onde o estado se faz presente e a visibilidade serve de escudo para o magistrado, os mesmos expedientes de intimidação são utiliza¬dos para constranger a toga. No Rio de Janeiro, a juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, conhecida pela rigorosa condução de casos polêmicos, como o do ex-banqueiro Salvatore Cacciola e da máfia de jogos ilegais, vive sob ameaça. Em 2009, ela recebeu um DVD com imagens de homens portan¬do malas de dinheiro. O áudio da gra¬vação garantia que os personagens eram policiais recebendo propina para executá-la. "É horrível ter medo de an¬dar na rua. Pior ainda é saber que meu caso talvez nem se compare ao de co¬legas que atuam em áreas onde o esta¬do não é tão forte", comenta. A juíza reforçou os cuidados com a segurança e dirige um carro blindado.

O enfraquecimento da magistratura é um mal comum a democracias pouco desenvolvidas e, mesmo nestas, em si¬tuações-limite, como a que a Itália en¬frentou nos anos 90 quando decidiu dar um basta ao poder da máfia. Para Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) , o estado brasileiro não está dotado de recursos para proteger seus juízes como seria desejável. "É pre¬ciso evitar que a atual realidade seja o embrião de um processo muito mais gra¬ve de enfraquecimento das instituições republicanas", afirma Mendes. Resume o jurista Paulo Brossard: "Em um país onde o juiz tem medo, ninguém pode ficar tranquilo".

VILAS-BÔAS CORRÊA

Ladra por parte de pai e mãe

VILAS-BÔAS CORRÊA 
JORNAL DO BRASIL - 09/03/11 

Adeputada federal Jaqueline Roriz, filha do ex-governador do Distrito Federal, o notório Joaquim Roriz (PSC), para variar deverá ser alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Mais um registro no prontuário de uma família que parece seguir à risca, com a devida adaptação, o venerando adágio: a família que vive unida permanece unida. No caso, parece mais uma quadrilha formada por uma família. 

A bola da vez, a jovem deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), meteu- se em mais uma enrascada que custou a pipocar na Justiça. Coube à diligência do procurador- geral da República, Roberto Gurgel, a iniciativa de pedir a abertura de investigação. Em entrevista ao jornal Correio Brasiliense, o procurador confessou a sua perplexidade diante do vídeo que corre de mão em mão, em que a única atriz, que é a deputada Jaqueline, que por um passe de mágica da Câmara dos Deputados integra a comissão de reforma política da Câmara, recebe pacotes de dinheiro para financiar a sua campanha a deputada distrital, nas eleições de 2006. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pasma: “As cenas são fortíssimas. 

É uma situação extremamente grave. As imagens não deixam dúvida do estado da política em Brasília”. As imagens foram gravadas pelo ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal Durval Barbosa. A família Roriz contou com parceiros para compor a quadrilha. E sempre se dá um jeitinho. Outros políticos de Brasília posaram para as fotos recebendo pacotes da corrupção do mensalão do DEM. Durval Barbosa fez um acordo de cavalheiros com o Ministério Público para reduzir a pena nos vários processos a que responde no Ministério Público, mediante a entrega de documentos que comprovam as irregularidades. Documentos, provas, gravações é o que não falta. Numa delas de três minutos gravação, Jaqueline aparece com o marido, Manoel Neto, recebendo maços com R$ 50 mil e ainda pede mais. Candidamente: “Tem possibilidade de você aumentar isso para mim?”, pergunta a Durval.

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS

O Rei e o príncipe 
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 09/03/11

Roberto Carlos sapecou Aécio Neves de elogios na Sapucaí e prometeu votar no mineiro para presidente em 2014: — Aliás, na eleição passada, eu já tinha decidido votar em você. Pena que não foi candidato. 

Pinto no lixo, bicho
Contente da vida com o desfile na sua escola do coração, Roberto Carlos não deixou a Sapucaí logo depois de passar com a Beija-Flor. Enquanto funcionários já começavam a limpeza da pista, o Rei voltou ao camarote para tomar café da manhã feliz que nem pinto no lixo. 

Louboutin e Niemeyer 
Christian Louboutin, o badalado designer francês de calçados, vai lançar uma linha de maquiagens e veio ao Brasil contratar Oscar Niemeyer para desenhar as embalagens. 

Máfia
O puxador da Vila, Tinga, alterou um pouco seu tradicional grito de guerra. Ao invésde “solta o bicho!”, disse: “Solta o Wilson!!!” Wilson Alves, presidente da escola, está preso, acusado de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis.

Pai liberal
Xororó, o cantor sertanejo que desfilou no carro do caminhoneiro, na Beija-Flor, liberou a filha Sandy para ser garota- propaganda da Devassa: — Todo brasileiro tem cerveja na geladeira. Não faz mal nenhum. Há controvérsias.

Madre Maurina

Morreu, aos 84 anos, a madre franciscana Maurina Borges da Silveira, presa, torturada e banida do país em 1970. Segundo Frei Betto, ela pode ser considerada “uma das mártires (e inocente) da ditadura militar de 1964.”

Mão suja
De Diego Alemão para Rafinha, outro ex-BBB, que foi cumprimentar o ator Paulo Goulart no banheiro de um camarote: — Ele é ator de primeira linha. Não dá para cumprimentar sem lavar a mão, não. Ah, bom!

O negócio do mijo
Antônio Rodrigues, dono da rede carioca de botequins Belmonte, mandou cobrar R$ 5 de cada folião que quisesse ir ao banheiro em seus bares no carnaval. Queria evitar os mijões.

Só que...
Do faturamento de seus bares no Jardim Botânico, em Ipanema e Leblon, 85%, acredite, vieram... dos mijões. Cerca de 70% eram mulheres. Cada pessoa que ia ao banheiro recebia um comprovante fiscal. 

Planta na Mente
Uma turma que prega a legalização da maconha põe seu bloco, o Planta na Mente, na rua hoje, às 16h20m, na Lapa. A turma tentou conseguir autorização da prefeitura para desfilar. “Mas ninguém respondeu”, diz Adriano Caldas, um dos fundadores do bloco. “Como é uma manifestação pacífica, estamos respaldados na Constituição.”

Troca de louras
A Suderj do samba informa: no provável desfile da Vila Isabel, no Sábado das Campeãs, sai Gisele Bündchen, que já voltou para os EUA, e entra Cláudia Leitte. A musa do axé confirmou presença no último carro alegórico da escola. 

Tomara-que-caia
No Bloco dos Cineastas, que sai hoje, na Gávea, no Rio, uma ala promete desfilar com vestidos tomara-que-caia combinados com máscaras de Ana de Hollanda, a ministra da Cultura. Maldade.

ILIMAR FRANCO

Encontro marcado 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 09/03/11

A presidente Dilma Rousseff chamou as centrais sindicais de trabalhadores para conversar nesta sexta-feira. O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que é “pauta livre”. Os sindicalistas vão tentar reabrir negociação sobre o reajuste da tabela do Imposto de Renda, pedir a “valorização” das aposentadorias e o fim do fator previdenciário.

“A expectativa é reconstruir um pouco essa relação” — Paulo Pereira da Silva, deputado (PDT-SP) e presidente da Força Sindical, sobre o encontro com Dilma

Lenha na fogueira
As centrais sindicais têm uma reunião com movimentos sociais marcada para dia 23, em Brasília. Na pauta, a política econômica do governo Dilma. Não faltarão críticas ao salário mínimo de R$ 545, ao aumento da taxa de juros e ao ajuste fiscal. “A Dilma está sendo ganha por uma política de arrocho, financista. Precisamos mostrar que ela está errada”, reclama o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). Entre as entidades esperadas no encontro estão UNE, MST e Central de Movimentos Populares. “O Lula ouvia todo mundo, mas depois sempre decidia para o nosso lado”, diz Paulinho da Força. 

CRÍTICAS
. Os movimentos sociais não são os únicos insatisfeitos com os rumos da política econômica do governo Dilma. Aliado de primeira hora, o PCdoB também tem reclamado. “Estamos preocupados com algumas sinalizações, como o ajuste fiscal e a alta dos juros. Esse modelo se esgotou”, disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) (foto). A ala à esquerda do PT também anda incomodada.

Racha

Os tucanos ainda não conseguiram definir quem vai presidir a Comissão de Infraestrutura do Senado. Disputam o posto os senadores Flexa Ribeiro (PA) e Lúcia Vânia (GO). O impasse na bancada do PSDB se arrasta há um mês.

Marimbondos
O Senado teve uma despesa inusitada no início deste ano. A Casa desembolsou R$ 1.230, em 14 de fevereiro, para remover um
enxame de marimbondos de suas dependências. O incidente foi na Subsecretaria de Edições Técnicas.

Privilégio
O Senado gastou neste ano, até o dia 3 de março, R$ 79.200 com reembolso de despesas médicas e odontológicas de ex-senadores e seus cônjuges. Esse valor diz respeito somente a atendimento fora da rede credenciada e refere-se a 24 pessoas. Sem ter que contribuir, ex-senadores e seus cônjuges têm direito a atendimento vitalício e a reembolso de R$ 32,9 mil por ano desse tipo de despesa.

Gastos telefônicos
E o Senado pagou neste ano, até o dia 3 de março, R$ 7.200 em reembolso de conta telefônica residencial de oito senadores. Arthur Virgílio (PSDB-AM), que não conseguiu se reeleger, recebeu R$ 588 referentes à sua conta de telefone residencial de janeiro, mês em que o Congresso está de recesso. O mandato de Virgílio expirou em 1o- de fevereiro. O mesmo caso ocorreu com Gerson Camata (PMDB-ES), que não disputou a reeleição. Ele recebeu R$ 259 referentes a janeiro.

 ÉTICA 1. O PSOL pretende contestar a jurisprudência do Conselho de Ética da Câmara, segundo a qual fatos anteriores ao mandato não podem embasar abertura de processo de cassação de mandato. 
 ÉTICA 2. O partido vai argumentar que a eleição de Jaqueline Roriz para deputada distrital, em 2006, quando ela aparece em vídeo recebendo dinheiro de Durval Barbosa, teria pavimentado seu caminho para a Câmara dos Deputados.
● ÉTICA 3. E diz o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ): “Postura ética não tem prazo de validade. Moralidade pública não deve ser periódica ou episódica”.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

De quem entende
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/03/11

Ricardo Amaral não tem dúvidas: quem vence hoje o Carnaval do Rio é a Unidos da Tijuca. Para ele, Paulo Barros criou um novo paradigma visual e técnico nos desfiles. "O primeiro a fazer isso foi Fernando Pamplona. Ele era coreógrafo do Teatro Municipal, arriscou e deu show", lembra o new-old e competente homem da noite. Depois, veio a segunda transformação, Joãosinho Trinta, reconhecido nacionalmente.

"Agora ele lidera a terceira onda", analisa o responsável pela volta do baile da cidade do Rio e também por reviver a própria Feijoada do Amaral. Ao lado de dois parceiros da nova geração, Alexandre Accioly e Luiz Calainho.

Barros não tem tradição no setor: antes de ser carnavalesco, foi chefe de cabine de bordo da Varig.

De quem entende 2
Bruno Barreto faz a mesma aposta que Amaral: Paulo Barros e Unidos da Tijuca na cabeça. "Cada ala que passa é uma surpresa. Não há um só minuto de monotonia na avenida", avalia.

Aposta de folião
Zeca Camargo só perdeu o desfile da Mangueira e, com o panorama que possui, aposta... na Tijuca. "Tenho certeza que Paulo vai levar", afirma. Para ele, o carnavalesco mudou o patamar do carnaval. "Agora há dois níveis: Tijuca e, logo abaixo, as outras escolas".

Aposta 2

Danielle Winits, mesmo grávida de sete meses, deu rasante pelos camarotes e adivinha em que ela aposta? Tijuca também. "A escola é super vanguardista. Criatividade é a palavra", acredita.

Aposta 3
Helena Ranaldi gostou mais da Portela, mas como a escola não foi julgada por causa do incêndio que destruiu seu barracão, trocou de voto: Tijuca.

Aposta 4
Aécio Neves, "mangueirense de coração", assume que neste ano é "comissão de frente" de outra escola: Beija-Flor. "Só por causa do Rei", pondera.

Aposta 5
Monique Evans não se rendeu ao ilusionismo da Tijuca. "Vai dar Mocidade Independente", torce ela, que desfilou pela escola.

O Rei, o cão e as devassas
Aécio Neves foi surpreendido com convite de última hora anteontem. Quando foi à concentração da Beija-Flor desejar sorte a Roberto Carlos, tema do enredo, foi intimado a desfilar. Disse não, mas prometeu ficar aplaudindo do camarote da Devassa. O que fez. "Pouca gente me emociona. O Rei é uma delas. Já beijei muuuuito às suas custas. Devo muito a ele", ri.

José Mariano Beltrame estava no camarote concorrente, o da Brahma. O secretário de Segurança Pública do Rio foi com a mulher, que passou a noite puxando-lhe o braço para evitar que ele se enroscasse em conversas. Numa brecha, comentou sobre paz na cidade: "Agora está tudo bem, graças a Deus. Até agora não tivemos problemas".

Lea T., estrela da noite na Brahma, chegou direto do desfile da Givenchy, em Paris, acompanhada de dez seguranças e... um cachorro, transexual como ela. Sim, seu cão acabou de fazer mudança de sexo.

A Sandy disse que todo mundo tem um "lado devassa". E qual é o do Xororó, pai da cantora? Com as bochechas coradas, responde: "Esse lado fica guardado só para quem a gente ama".

E por falar em devassidão, meninas nos blocos carregavam placas onde se lia: "Se a Sandy é devassa, imagina nós?".

/DÉBORA BERGAMASCO E MARILIA NEUSTEIN

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60 dias duros
CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/03/11
Completados os primeiros 60 dias, o governo Dilma enfrenta uma confluência de problemas na economia com que não contava e que complicam a administração.

O mais grave deles é a inflação acentuada agora pela alta dos preços do petróleo e das commodities agrícolas. O governo Lula havia corrido o risco calculado de enfrentar uma elevação generalizada de preços ao permitir o excessivo aquecimento da economia. A ideia era expandir o emprego e a renda de maneira a lubrificar os trâmites eleitorais da candidata oficial. O diagnóstico do Banco Central era o de que a indústria já vinha operando a fogo baixo desde abril de 2010 e que, por isso, os juros básicos (Selic) podiam continuar estancados por mais tempo nos 10,75% ao ano. E o próprio governo entendeu que podia expandir impunemente as despesas públicas porque o baixo desempenho da indústria compensaria eventuais excessos fiscais.

Um pouco tarde, tanto o Banco Central como o próprio governo entenderam que o aquecimento foi longe demais. E foi o que puxou a inflação para acima dos 6% ao ano, como se viu em fevereiro.

Agora, apesar da torcida em contrário, para segurar os preços - prioridade do governo Dilma como tantas vezes repetido -, tanto os cortes orçamentários parecem insuficientes como os juros básicos têm de subir bem mais do que o inicialmente planejado.

Os demais controles da economia trabalham insatisfatoriamente também porque é preciso amansar a inflação. O câmbio preocupa. As reservas estão a US$ 310 bilhões e, no atual ritmo de compras do Banco Central, saltarão em alguns meses para US$ 350 bilhões, sem que se reverta a tendência à valorização do real. A todo momento, o Ministério da Fazenda despacha avisos de que mobilizará seu arsenal contra o enorme afluxo de moeda estrangeira. No entanto, não pretende reduzir ainda mais as despesas públicas para abrir espaço para a queda dos juros e, assim, evitar que mais recursos entrem para tirar proveito dos juros bem mais generosos pagos pelo Tesouro do Brasil.

E não é só isso. Eventual desvalorização do real (alta da cotação do dólar), que o governo pudesse comandar, não ajudaria a conter a inflação porque encareceria o produto importado. Portanto, se algum sucesso puder obter no câmbio, será apenas o de estabilizar as cotações, e não de desvalorizar o real.

O combate à inflação paralisa o governo também na administração das demais contas externas. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, não para de reclamar da excessiva entrada de produtos estrangeiros, especialmente da China, que fazem concorrência desleal à indústria brasileira. Mas também aí o governo não consegue avançar porque, no momento, o contra-ataque à inflação precisa da forte concorrência do produto importado de maneira a desestimular reajustes mais agressivos de preços por parte dos produtores locais.

Sobra a vaga aposta em que, lá por julho ou agosto, a inflação estará controlada, que os juros não terão mais de subir, que as despesas públicas não terão mais de cair, que a indústria terá recuperado seu ritmo de produção, que alguma coisa mais consistente se poderá fazer para estabilizar (ou, quem sabe, reverter) a atual trajetória do câmbio, e que a política econômica poderá voltar a ser ativa. Mas, por enquanto, tudo isso não é muito mais do que uma aposta.

MÍRIAM LEITÃO

Fim do carnaval
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 09/03/11
Aumentou muito o risco econômico nas últimas semanas. A eclosão dos conflitos nos países do Norte da África e do Golfo elevaram o preço do petróleo e o risco do imprevisto. Na Europa, há o perigo de que comece uma onda de reestruturação das dívidas dos governos. No Brasil, os analistas estão revendo para baixo a previsão de crescimento e para cima, a de inflação.

Sei que isso não é lá notícia para se dar numa quarta-feira de cinzas, quando os foliões começam a guardar as fantasias, e os que escolheram descansar no carnaval têm que fazer um certo esforço para voltar ao cotidiano de trabalho, mas o fato é este. Tudo ficou um pouco pior nas últimas semanas.

No Brasil, o cenário econômico continua sendo bom, mas não tão bom quanto parecia ser, quando se dizia que a queda da taxa de crescimento era apenas um efeito estatístico de base de comparação. Os dados são contraditórios, como se viu na semana passada, com a forte venda de carros de fevereiro, ao mesmo tempo em que outros setores da indústria já sentem a desaceleração.

A encrenca está de novo nos países produtores de petróleo. A situação piorou tanto com os eventos na Líbia, pela reação ensandecida de Muamar Kadafi, que, visto de hoje, Hosni Mubarak parece um estadista. A teimosia do ex-governante egípcio e até a sua insensata reação de mandar camelos e cavalos para a Praça Tahrir parecem suaves perto da decisão de Kadafi de precipitar a guerra civil e mandar bombardear a própria população.

Os movimentos de revolta se espalham por vários países produtores de petróleo e, se isso estimula a se sonhar com mais liberdade na África, mundo árabe e Irã, por outro lado, o fato imediato é que aumentou o risco da falta de suprimento e de alta dos combustíveis. Como se vê nos EUA, mesmo não sendo importante comprador de petróleo líbio, e mesmo a Líbia não sendo um importante produtor mundial, a gasolina já está subindo na bomba.

Aqui, o preço fica estável qualquer que seja a cotação internacional porque há uma empresa só fornecedora, produtora, importadora. A Petrobras não tem a menor transparência sobre seu sistema de formação de preços. Nos últimos anos, tem seguido orientações políticas de não mexer nos preços quando o petróleo cai no mercado internacional, e assim formar um colchão amortecedor para não subir quando a cotação sobe lá fora. Isso traz a vantagem extra para ela de eternizar a atual situação de monopólio, porque ninguém quer produzir ou importar petróleo em país dominado por grupo tão forte. No máximo, as empresas aceitam se associar à Petrobras.

Mas no longo prazo esse sistema é insustentável. As previsões feitas numa reunião de presidentes de grandes empresas da área do petróleo na semana passada em Houston, no Texas, são de que a demanda vai crescer mais de um milhão de barris/dia, por causa do crescimento dos países em desenvolvimento. Outro fato de aumento da demanda é o transporte. O mundo vai dobrar o número de carros de um bilhão para dois bilhões em 2050. A longo prazo, o aviso é para reduzir a dependência do petróleo; a curto prazo, o alerta é para o risco das consequências da desestabilização geopolítica em países produtores.

De imediato, o que se tem no painel é que a incerteza no mundo dos produtores de petróleo leve de volta à recessão as economias da Europa e dos EUA. O canal direto de contaminação é o aumento do preço dos combustíveis.

Na política, o risco é de que a primavera do Norte da África e do Golfo se perca pela violência dos governantes e ambiguidades dos países mais importantes do Ocidente. O Egito foi esquecido porque todos os olhos foram para a Líbia e porque se considerou que uma vez sem Mubarak o problema estava resolvido. O país ainda vive forte crise econômica, agravada pela paralisia durante o mês do protesto e as manifestações continuam pedindo mais e mais mudanças. Permanecem os protestos na Tunísia, Irã, Iêmen, Omã, Bahrein, Kuwait, Iraque. Por mais sólida que pareça a monarquia ditatorial da Arábia Saudita, até lá há protestos. Não são todos eventos políticos da mesma natureza, alguns movimentos são de extraordinária complexidade.

Não há saída boa para a Líbia. Uma intervenção internacional só acirrará ainda mais a divisão interna. O risco é de provocar uma onda nacionalista que se voltará contra os insurgentes, que seriam acusados de terem chamado intervenção estrangeira. A única esperança é a renúncia de Kadafi para começar a reconciliação do país. É torcer.

É neste mundo de riscos, mudança geopolítica, conflitos que o Brasil terá que reduzir o ritmo de crescimento, elevar os juros, conter gastos públicos e tomar medidas de prudência para conter a euforia de consumo que se formou no ano passado pelos excessos de gastos e a expansão descontrolada do crédito. Mas baixar a bola é o melhor a fazer agora até que se entenda melhor a evolução de todos esses acontecimentos que juntos tornaram o ano de 2011 mais complexo do que parecia à primeira vista.

O carnaval acabou. Nos últimos tempos o Brasil viu a folia extrapolar: ela começa bem antes do sábado e vai até bem depois da quarta-feira de cinzas. Na economia, não se pode ampliar o calendário da folia. Mesmo vivendo bom momento, e com um crescimento voltado para o mercado interno, a instabilidade internacional afeta o Brasil.

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

UÍSQUE SÓ PARA A DIRETORIA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/03/11

No último dia dos desfiles das escolas de samba do Rio, Roberto Carlos reina na avenida -e também nos bastidores dos camarotes, onde era a maior estrela.

Aécio Neves, do camarote da Devassa, manda um torpedo para Dodi Sirena, empresário de Roberto Carlos: quer visitar o rei no camarote. "Eu quero muito ver o Roberto na avenida, mas não sei se vou aguentar até de madrugada." A maratona momesca do ex-governador e da namorada, Letícia, começou no sábado, numa feijoada. "Nós, ontem [domingo], assistimos ao Carnaval como John Lennon e Yoko Ono: na cama, com cobertor até o pescoço."

Bruno Gagliasso, garoto-propaganda da cervejaria, teve que marcar presença no local. Posa para fotos, dá dezenas de entrevistas. "Eu tô começando a gostar de Carnaval", diz a namorada dele, Giovanna Ewbank. "O Bruno também teve que trabalhar em Salvador, e foi muito legal. Todo mundo é tão feliz em Salvador, todo mundo é tão feliz o tempo todo..." Ela é instada a revelar os "defeitos" do amado. "Toda vez que sai do banho, ele deixa a toalha molhada em cima da cama. Ele não aprende!"

As atrizes Dira Paes e Flávia Monteiro pedem uísque. O maître diz que "é só para a diretoria" -a família Schincariol e os amigos de Ricardo Amaral, Alexandre Accioly e Luiz Calainho, como Aécio. "Se eu soubesse, teria trazido de casa", reclama Dira. "Mas quem sai na revista não é a diretoria, né?"

No camarote Rio, Samba & Carnaval, muitos empresários, executivos e políticos -e poucas celebridades. "É muito difícil trazer grandes artistas sem pagar cachê. A Adriane [Galisteu, que estava na área] tá aí porque é amiga do Maurício Mattos [empresário que organiza o camarote]", diz Daniel Guimarães, assessor do espaço.

A atriz Susana Vieira chega ao camarote da Grande Rio para vestir a fantasia da escola. Os fotógrafos pedem uma cena de beijo com o namorado, Sandro Pedroso. Ela recusa. "No dia em que tiver uma foto de beijinho em público, ela vai valer R$ 1 milhão, para ajudar as crianças na África do Sul."

Na Brahma, Ronaldo repete o roteiro do dia anterior: fuma, dança e belisca o bumbum do ex-jogador Edmundo. A novidade: além de cerveja e chope, tomou dois copos de uísque com energético. Bia Antony dança com movimentos sensuais perto da perna do marido.

Um cinegrafista registra a cena, e Ronaldo grita com ele, pondo o dedo na cara. "Eu sou parceiro dele", minimiza o profissional. "Ele chamou minha atenção, perguntou se eu iria estragar uma amizade de anos. Ainda moro em Bento Ribeiro (RJ). Ronaldo ficou rico e eu não."

"A gente não pode fumar aqui na varanda, mas o Ronaldo pode até na pista, né?", diz uma convidada para o segurança que pede que ela apague o cigarro. O pai do Fenômeno, Nélio, também fuma. Mas os dois mal se falam. Sabia que o Ronaldo era fumante? "Ah é? Não tô sabendo, não." "Isso não é ruim pra carreira dele?", pergunta um repórter. "Que carreira? Ele já parou."

Na passarela, expectativa pela entrada de Roberto no carro alegórico. "É o rei! É o rei!" "Espera que eu vou com você, rei!", gritavam as pessoas na concentração da Beija-Flor ao ver um Corolla preto entrar no local. Alcione chega ao carro alegórico. Sobe uma escada estreita. Para no meio. "Ai, meu Deus! Olha lá, será que a Alcione vai conseguir passar?", diz uma diretora de harmonia.

Hebe chega à concentração usando sapatilhas. A mulher de seu sobrinho segura os escarpins vermelhos com strass. "Hebe, dá selinho!", pedem passistas.

Às 6h06, quando o rei aparece, é ovacionado por quem está perto. As crianças que irão desfilar com ele choram e gritam: "Rei! Rei!". O carro acelera. Pelo caminho, mais chorões se emocionam com a presença do ídolo.

com DIÓGENES CAMPANHA e LÍGIA MESQUITA, do Rio, e THAIS BILENKY, de São Paulo

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Varejistas incrementam distribuição de peixes
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/03/11

Com o aumento do consumo de peixe no país, principalmente por famílias da nova classe média, os supermercados fazem investimentos para incrementar o abastecimento nas lojas.
O grupo Pão de Açúcar investiu R$ 7 milhões e inaugurou um centro de distribuição de pescados em Osasco (SP) para abastecer 195 lojas.
O Carrefour finaliza mudanças na forma de receber pescados de seus fornecedores -o recebimento será unificado no centro de distribuição da rede. O Walmart anunciou há poucos meses medidas para garantir a oferta de produtos sustentáveis em suas lojas.
O consumo per capita de pescado no país subiu de sete quilos em 2009 para nove quilos em 2010, segundo o Ministério da Pesca. A Organização Mundial da Saúde recomenda consumo anual de 12 quilos por pessoa.
Pedro Pereira, diretor comercial do grupo Pão de Açúcar, diz que a rede espera alta de 25% na venda em 2011. No ano passado foram comercializadas 40 mil toneladas.
"Com o aumento do poder aquisitivo, o consumidor das classes C e D diversificou a alimentação", diz Pereira.
Setenta novos funcionários foram contratados para o novo centro do grupo, com capacidade de expedir 50 mil toneladas de pescado ao dia.
Alexandre Horta, da consultoria GS&MD Gouvêa de Souza, diz que, com o aumento do preço de frete, as redes, mesmo as menores, buscarão mais eficiência na distribuição. A rede Enxuto, de Campinas, que deve abrir sua sexta loja, é uma das regionais que faz estudos para criar centro de distribuição.

GARANTIA
O mercado de seguros de pessoas -que inclui seguros de vida, de educação e outros- movimentou R$ 15,7 bilhões em prêmios no ano passado.
O aumento foi de 15% na comparação com o ano anterior, de acordo com levantamento da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).
O seguro de vida em grupo acumulou em R$ 7,8 bilhões em 2010, alta de 8,5%. O de vida individual ficou com R$ 1,1 bilhão em prêmios, variação de 36,9%.
Seguros de vida prevalecem nas classes A e B, com presença em 18% dos lares.
Na classe C, o índice de penetração do produto é de 6% Nas classes D e E é de 2%.
Impulsionado pelo aumento na renda, o seguro prestamista, que garante pagamento de prestações, movimentou R$ 3,3 bilhões em prêmios e expandiu 24,94%.

METAL LÍQUIDO
A Mextra, especializada em produção de ligas metálicas, vai inaugurar em setembro mais uma fábrica em Taubaté (SP). A obra faz parte de um projeto de reciclagem de alumínio, segundo seu diretor, Ivan Barchese.
A unidade será usada para o processo de retorno à fabricação de latas e insumos para a indústria.
Também vai dar continuidade à nova operação de alumínio líquido, que já começa a acontecer neste mês na fábrica atual, além de uma produção de pó metálico. A proximidade do cliente é estratégica no mercado de metal líquido, segundo Barchese, o que cria uma proteção contra a concorrência chinesa.
Está nos planos a expansão de outra fábrica em Diadema (SP), com foco em ferro.
A Mextra está presente na China, com duas plantas para transformação de metal em parceria com um produtor de manganês.
"Lá fazemos um trabalho diferente, para endurecer o alumínio. O custo na China é 40% mais baixo."

Viagens internacionais aquecem o mercado cambial
O crescimento do número de brasileiros que viajam ao exterior tem aquecido, no país, os mercados de câmbio e de meios de pagamento internacionais.
O Banco do Brasil, que lançou há cerca de três meses um cartão pré-pago para gastos em dólar e em euro, registrou mais de R$ 30 milhões em contratações desse serviço no período.
As operações de câmbio da Cotação, empresa do Banco Rendimento, cresceram 35% no ano passado em relação a 2009. A venda de cartões pré-pagos para viagens internacionais, por sua vez, aumentou 60% no mesmo período de comparação.
A corretora B&T Associados, que atua em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Recife, fazia mil operações por mês no início de 2009. Hoje, a média é de 15 mil.
O aumento também foi influenciado pela queda do dólar e pelas parcerias entre operadoras de câmbio e agências de turismo, de acordo com o diretor da corretora, Túlio dos Santos Júnior.

Preço perde força na hora de escolher o local de compraApesar de ser ainda o maior fator de influência, o preço tem perdido importância na escolha do local onde as compras são feitas.
Uma alta na importância da qualidade do produto e do atendimento denota aumento no grau de exigência do consumidor. O atendimento subiu de 22% para 31%.
Os dados são de levantamento da Fecomércio-RJ, de abrangência nacional.
Em janeiro deste ano, o critério preço foi levado em conta por 78% dos brasileiros, parcela menor perante os 83% de janeiro de 2010 e 85% do ano anterior.
O movimento está relacionado ao aquecimento da economia, à elevação do poder aquisitivo e à expansão do crédito, segundo a entidade.

CONTRA FRAUDE

Os bancos que atuam no país precisarão informar todos os detalhes de sua carteira de crédito à CIP (Câmara Interbancária de Pagamentos) a partir de abril.
O processo, que tem o objetivo de evitar a dupla venda, como ocorreu no banco PanAmericano, deverá ser feito pela C3 (Central de Cessão de Crédito).
As companhias maiores conseguirão disponibilizar as informações necessárias com sua própria estrutura, mas as menores tendem a terceirizar o serviço.
A C&M lançou software para que pequenas e médias instituições alimentem a C3. "Já temos 16 adesões fechadas", diz o presidente da empresa, Orli Machado.
A venda do serviço será gratuita. "Bancos desse porte fecham entre 250 mil e 300 mil contratos de crédito por ano e cobramos até R$ 0,70 por cada um."

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK , VITOR SION, ANDRÉA MACIEL e CLAUDIA ROLLI