quarta-feira, fevereiro 02, 2011

ROBERTO DaMATTA

Flagelos
ROBERTO DaMATTA
O Globo - 02/02/2011

A diferença entre o cronista e o jornalista não é de estilo ou argúcia. É de tempo. O repórter e o editor escrevem no calor da hora, o cronista tem tempo. Raramente antecipa; normalmente, está defasado ou no mundo da lua. É o caso hoje. Já esquecemos o flagelo dos deslizamentos, mas entramos no das mudanças políticas não planificadas por eleições. O caso de uma parte do mundo árabe, começando pela Tunísia e pelo Egito, é prova disso. E a nossa falta proverbial de ações preventivas relativas aos flagelos, outra.

Os flagelos suspendem a convicção burguesa e iluminista de um mundo ordenado, funcionando por etapas. Como as histerias e neuroses, eles são casos reveladores de intrusões obscuras. Como um clamor liberal pode surgir numa burguesia que seria a beneficiária de todas as ditaduras? Tal qual os deslizamentos de Friburgo e Teresópolis, os flagelos políticos das mudanças radicais e não planificadas são revelações de que a ordem do mundo não segue os padrões de nossa vã sociologia política. O mundo é mais embaralhado do que pensamos e ele dá saltos mortais inesperados.

Por isso eu me interesso pelas teodiceias das catástrofes. Tanto das naturais, quanto das políticas. Estou muito interessado nos seus significados cósmicos. Ou seja: como o acidente capaz de produzir tanto sofrimento e compaixão ocorre aqui e não ali. Se - como dizia o frade Junipero no prodigioso livro de Thornton Wilder, "A ponte de San Luiz Rey" - existem leis em algum lugar, deve haver leis em todos os lugares, cabendo aos observadores descobri-las. O problema é que, quando fazemos um mapa moral da vida coletiva, o que encontramos é uma balbúrdia. Os bons e fracos sofrem tanto quanto os canalhas e fortes como faz prova a nossa história política, toda ela marcada por reviravoltas que não conduzem a mudanças mas repetem velhas jornadas. Em geral, digo logo, os flagelos subtraem a nossa onipotência tecnocientífica e nos nivelam às humanidades ditas primitivas, atrasadas ou arcaicas. Elas colocam numa nova perspectiva coisas que julgávamos definitivamente resolvidas; ou que estavam ocultas pela nossa mendacidade político-eleitoreira.

É assim que quero falar dos flagelos. Não desejo examinar o seu sentido técnico ou político (a ele fortemente ligado) que é sempre prático, mecânico e reativo: as casas desabaram porque foram construídas numa encosta errada por meio de uma licença fornecida pelo populismo irresponsável dos políticos que "servem ao povo" e assim ficam imensamente ricos; a revolta foi desencadeada pelos oprimidos que demandam liberdade. Mas quero vê-los no seu sentido moral ou cósmico. Aqui, cabe perguntar como as populações atingidas explicam o flagelo? Por que esta encosta e não aquela? Por que a minha casa e não a do outro? Só entendendo essas razões, podemos fazê-las cobrar reparos, liquidando o populismo.

Além disso, é preciso saber mais sobre as diferenças entre os flagelos. Uma peste tem um peso diverso de uma tempestade. Ela chega sorrateiramente, como a epidemia de virar rinoceronte do formidável Ionesco. Um sujeito se transforma em rinoceronte aqui, outro ali, ninguém dá muita bola e logo nos deparamos assustados com uma multidão de rinocerontes e descobrimos algo duro e protuberante na nossa própria testa...

Terremotos e tsunamis, como os deslizamentos, não se anunciam. Por isso, denunciam a temeridade de viver de um certo modo num dado local. Elas mostram o horror de uma falha humana porque afinal o mundo é, de cabo a rabo, humano. Por isso, demandam uma busca de responsabilidade moral e de pró-ação, coisas que não temos a coragem de fazer no Brasil. De fato, atingindo indivíduos de modo paulatino, as epidemias são rarefeitas, enquanto um deslizamento (ou terremoto) tem a propriedade de simplesmente acabar com o chão - a terra - onde se vive e na qual a própria ideia de equilíbrio, de centro e de base a vida se estrutura pois, nesses eventos, milhares são fulminados de uma só vez. Daí a sua tragédia. No plano social, somente os golpes de Estado e as revoluções se comparam com esses grandes desastres naturais. Esse "natural" que se confunde com um Deus que pune seus filhos desgarrados e assim deixa escapar administradores públicos (chamados erroneamente de "políticos") e especuladores (chamados enganosamente de "empresários") canalhas e irresponsáveis. A atribuição de uma imputabilidade divina recalca a causa imediata (o descaso dos gerentes públicos), do mesmo modo que ela bloqueia a ação preventiva porque, afinal de contas, tudo foi uma obra do acaso que não é responsabilidade de ninguém.

Deixamos de ordenar o mundo humanamente, não quando abrimos mão do que não podemos controlar, mas quando deixamos de lado o que é nossa obrigação prevenir. Um deslizamento não tem motivo ou intenção, mas sem intenção e motivo - ou seja, sem pôr as cousas numa ordem, situando o que é mais ou menos importante e valorizado - nós não poderíamos viver coletiva e humanamente, pois nada faria sentido. Dos baralhos aos eventos de nossas vidas. O problema é que, no curso de uma vida, há muitos embaralhamentos. Vivemos embaralhados nos baralhos e não é fácil separar as cartas e armar novos jogos. Coisa que, como dizem os flagelos, o Brasil precisa realizar com urgência.

ROBERTO DaMATTA é antropólogo.

CLÁUDIO SALES

Os reguladores sob ameaça
Cláudio Sales 
O Estado de S. Paulo - 02/02/2011

Muitos cidadãos que circulam por Brasília já devem ter se deparado com políticos que se dizem "defensores do consumidor", mas que, na prática, vivem em busca de temas de apelo popular para construir plataformas eleitorais, a despeito da verdade.

Uma das linhas de ação preferidas por esses congressistas é a intervenção intempestiva e midiática em processos formais como a definição de tarifas, um desafio técnico que não reserva espaço a amadores, mas que tem sido alvo do oportunismo político.

Um exemplo recente é a ameaça de alguns parlamentares de encaminhamento de ação ao Ministério Público contra os gestores da Aneel por supostas irregularidades na cobrança de tarifas elétricas entre 2002 e 2009.

Trata-se de uma ação inútil e destrutiva, pois a decisão já foi tomada, não será revertida. Seria a ação motivada por ressentimentos pessoais e para gerar constrangimentos e corroer a força institucional do regulador? Seria essa uma tentativa de alterar as decisões da agência por meio de pressão direta e personalizada sobre os diretores da Aneel? As decisões do regulador devem ser baseadas em leis e contratos e precisam ser imunes a "clamores" oportunistas.

Em relação ao passado, a Aneel não cometeu nenhuma irregularidade. A metodologia que definiu as tarifas entre 2002 e 2009 seguiu leis, normas e contratos. O próprio TCU atesta que não houve "descumprimento de dispositivos legais ou de regras inerentes aos contratos de concessão (Acórdão 1268/2010).

Sobre o presente e o futuro, a não neutralidade do tratamento dos encargos tarifários já foi contemplada por meio de aditivos aos contratos de concessão propostos pela agência, acatados pelas distribuidoras de eletricidade.

Difícil interpretar a motivação dessa iniciativa tão errada quando os deputados federais têm duas oportunidades concretas de defender o consumidor. Basta vetar duas iniciativas destruidoras de valor que partiram do governo federal.

A primeira oportunidade é a rejeição da prorrogação do encargo tarifário Reserva Global de Reversão (RGR), encaminhada pelo artigo 16 da Medida Provisória n.º 517. A prorrogação por 25 anos, proposta pelo governo no dia 31 de dezembro de 2010 (dia em que o encargo deveria ter sido extinto), surgiu sem discussão prévia ou alguma justificativa.

Se o Congresso impedir a prorrogação da RGR, o consumidor economizará R$ 40 bilhões. O benefício para os brasileiros será imediato e gerará um impacto muito maior do que a questão da neutralidade dos encargos tarifários, que tem sido abordada de forma tão equivocada por alguns parlamentares.

A segunda oportunidade preciosa de defender o consumidor é a rejeição da proposta do governo de aumento de uma parcela que compõe o generoso pacote de benefícios financeiros que a Usina Hidrelétrica de Itaipu já oferece ao Paraguai. Se esse aumento sem justificativas for aprovado pelo Congresso, lá se vão outros R$ 5 bilhões do consumidor ou contribuinte brasileiro.

E ainda há parlamentares que, na ausência de elementos racionais, têm defendido o aumento ao Paraguai dizendo que o "valor representa muito pouco para o Brasil". Uma afronta à verdade e um desrespeito aos milhões de brasileiros que vivem em Estados como Pernambuco e Alagoas, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) inferior ao do Paraguai. Alguns deputados e outros "patriotas" precisam lembrar que foram eleitos para defender interesses do Brasil, e não os dos outros países.

Portanto, com a simples rejeição de duas iniciativas do governo federal, o Congresso poderá economizar R$ 45 bilhões dos consumidores e contribuintes brasileiros (R$ 40 bilhões do episódio RGR e R$ 5 bilhões do episódio Itaipu).

Com números tão claros, essa é a hora de observar quais parlamentares se movem pelos interesses dos consumidores e quais estão apenas interessados em ações oportunistas e eleitorais.

GOSTOSAS

CELSO MING

Lavô-tá-novo
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 02/02/11

A operação de salvamento do Banco Panamericano pode ter sido uma maravilhosa obra de engenharia política e financeira, mas razões há para entender que o sistema bancário nacional ficou mais vulnerável a lambanças de todo tipo.

Um rombo acima de R$ 4 bilhões, aparentemente cavado pelos diretores, foi prontamente coberto pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que vai assumir as perdas em nome da preservação do sistema. Quando se imaginava que o déficit fosse de R$ 2,5 bilhões ainda se exigiu garantia de todos os bens do acionista controlador. Quando foi ampliado para acima de R$ 4 bilhões já não se pediu mais nada e o empréstimo virou indenização. Vá entender.

Com enorme sorriso estampado em todos os veículos de comunicação, Silvio Santos (Senor Abravanel) comemorou quanto pôde: "Não ganhei nem perdi nada. A televisão não está mais à venda, a Jequiti também não está mais à venda e as Lojas do Crediário do Baú também não estão mais à venda. A única coisa que foi vendida foi o banco".

Desta vez não foram empenhados recursos públicos, no sentido de que não saíram do Tesouro e tenham sido puxados do bolso do contribuinte. Mas não dá para dizer que esse FGC seja constituído de recursos unicamente privados. Tem, sim, administração privada e é formado por contribuições dos bancos. Como essas contribuições constituem custos dos bancos é óbvio que a conta está sendo disfarçadamente empurrada para o correntista e para o cliente das instituições, que cobrem esses custos ou por meio de pagamento de tarifas ou por meio de corte de remuneração para suas aplicações financeiras.

Enfim, ao final de uma história de desmandos, não há culpados nem responsabilizados. Há apenas um buracão de R$ 4 bilhões agora generosamente tapado. Levado às suas últimas consequências, esse desfecho está passando o recado de que os administradores de bancos podem aprontar à vontade, podem submeter as finanças da instituição que administram a todas as formas de criatividade. Se, lá pelas tantas, aparecerem coisas esquisitas no balanço do banco - descobertas não pelos auditores, porque estes não enxergam nada, mas por técnicos do Banco Central - ou o governo ou um fundo garantidor qualquer tratará de lavar tudo. É o princípio do lavô-tá-novo, aplicado aos bancos.

Esta surpreendente imunidade não é exclusividade nossa. A crise mostrou que a única vítima dos descalabros financeiros que se viram em escala global foi o Lehman Brothers. Os demais, tanto na Europa como nos Estados Unidos, foram socorridos, capitalizados ou absorvidos, quase todos com verbas públicas ou com verbas privadas regadas por favores de um ou vários governos.

Antes, ainda se dizia que apenas os grandes bancos não podiam quebrar, porque desencadeariam quebra em cadeia (crise sistêmica). Agora, até mesmo nanicos, como o Panamericano, estão defendidos contra riscos de administração incompetente ou fraudulenta.

Grandes naufrágios estão sendo evitados. Mas não foram evitadas as consequências, especialmente aquilo que os ingleses chamam de "moral hazard" (expressão mal traduzida por "risco moral). Não foi acionado nenhum mecanismo punitivo para que essas coisas não se repitam. Os espertos estão felizes.

CONFIRA

Preocupações da Argentina

Ontem, esta Coluna chamou a atenção para as queixas argentinas em relação ao superávit do Brasil no intercâmbio entre os dois países (de US$ 4,1 bilhões em 2010). E também ontem, o chanceler da Argentina, Héctor Timerman, avisou que o déficit preocupa: "Não é simples ter uma aliança estratégica e, em um momento dessa aliança, ter um déficit desta natureza. É preciso resolvê-lo de alguma forma". Desde 2003, há déficit para a Argentina.

JOSÉ NÊUMANNE

Do ''rouba, mas faz'' ao ''fala, mas não faz''
José Nêumanne 
O Estado de S.Paulo - 02/02/11

O depoimento do então secretário demissionário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência e Tecnologia, Luiz Antônio Barreto de Castro, em audiência da Comissão Representativa do Congresso Nacional, em 20 de janeiro, é um dos documentos mais relevantes e reveladores da incúria administrativa e do cinismo político no Brasil. E da forma como esses vícios foram levados a extremos do descalabro nas gestões petistas de Luiz Inácio Lula da Silva. Infelizmente, esse testemunho não teve a repercussão merecida nos meios de comunicação nem provocou em nenhum dos Poderes da República (se é que funciona de fato aqui um sistema tripartite de governo) e na sociedade o debate que deveria ter provocado para que os absurdos por ele indicados sejam evitados.

O primeiro absurdo já havia sido noticiado antes de o técnico ter sido ouvido em vão pelos congressistas, a convite da senadora Marina Silva (PV-AC), que foi ministra do Meio Ambiente do governo em questão. Os brasileiros que não tiveram o privilégio de acompanhar esse depoimento ou mesmo a audiência já sabiam que em 2005, quando um tsunami devastou praias asiáticas, o ex-presidente Lula tinha firmado um compromisso com outros 167 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para instalar, ao custo de R$ 115 milhões, um sistema de radares para prevenir desastres naturais. No entanto, não foi investido nenhum centavo e os cidadãos que pagam os impostos que bancam as despesas públicas só ficaram sabendo disso quando, em 17 de janeiro, a presidente Dilma Rousseff mostrou que não é tão loquaz como o antecessor, mas aprendeu muito bem alguns de seus mais caros truques de marketing, ao anunciar um tal Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais para o País. Seria uma piada de mau gosto se não fosse uma tragédia amarga. Pois ela anunciou para daqui a quatro anos a instalação do mesmo equipamento com cuja aquisição pelo Brasil seu antecessor e padrinho se havia comprometido em documento oficial internacional havia seis anos. A caradura do anúncio do governo foi tal que o prazo para o funcionamento, que era de dez anos, passou a ser de quatro, considerado insuficiente por quem conhece o assunto.

O depoimento do especialista no Congresso tornou-se histórico por relatar como e por que a palavra empenhada por Lula na ONU virou titica de galinha na prática. O burocrata que deixou o posto por discordar da forma como a promessa foi triturada nos trâmites da máquina pública federal revelou, antes de entregar o abacaxi com casca e tudo ao substituto nomeado, Carlos Nobre: "Há dois anos fizemos um plano de radares para entrar no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-1), não conseguimos. Fomos orientados a entrar no PAC 2, ficamos fora. E aí eu perguntei para meu ministério: E agora? O presidente disse que devíamos colocar no Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação Governamental (PCTI), que não teria fôlego para financiar os R$ 115 milhões".

Tudo isso seria ridículo se não fosse mais doloroso. Domingo, O Globo constatou que os responsáveis pelos PACs, pelo PCTI e pelo Orçamento da União (inclusive os representantes do povo no Poder Legislativo) não encontraram meios de conseguir R$ 115 milhões para salvar vidas em 500 áreas de risco e 300 sujeitas a inundações no Brasil, mas autorizaram o pagamento de R$ 1,2 bilhão para construir ou alugar prédios suntuosos para repartições públicas. Na Região Serrana do Rio, na Grande São Paulo e em Santa Catarina, só para citar os casos mais recentes e urgentes, brasileiros morrem ao desamparo de seus representantes e mandatários, enquanto a elite funcional federal se refestela nas sedes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da Polícia Federal (PF), do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Ministério da Cultura (MinC). Sem dinheiro para radares, para instalar varas federais no interior, para melhorar a saúde pública nem para construir aeroportos seguros, a União não enfrenta entrave algum para pagar contas de cerveja, chicletes de menta e bolas de futebol ou até para financiar eventos que afugentem o estresse da nata burocrática que na União Soviética era chamada de Nomenklatura. Tudo isso, porém, vira café pequeno se comparado com os desastres naturais: só a nova sede do TSE custará mais que o triplo do dinheiro que deveria ter sido, mas não foi aplicado nestes seis anos para salvar as vítimas dos temporais.

E não me venham com a conversa de que o excesso de precipitação pluviométrica pegou os maganões federais, estaduais e municipais com as barras arriadas das calças. A ONU, sempre a ONU, revelou em Genebra que, de 2000 a 2010, 7,5 milhões de brasileiros sofreram com 60 catástrofes naturais (sem contar as enchentes e os deslizamentos deste verão): 6 secas, 37 enchentes, 5 deslizamentos de terra, 5 tempestades, 1 terremoto, 3 incidentes provocados por excesso de calor e 3 epidemias.

Os leitores de Graciliano Ramos perceberão que houve seis vezes mais desastres provocados por excesso do que por falta de chuvas no País, acostumado a lamentar o flagelo da estiagem. Os observadores da cena política terão mais a aprender da frase do técnico federal em prevenção de enchentes Luiz Antônio Barreto de Castro, que resumiu exemplarmente o comportamento de Lula e seu popularíssimo governo de oito anos: "Falamos muito e não fizemos nada".

O flagelo das secas foi imerso sob a desgraça das cheias. E o país do "rouba, mas faz", ainda em plenos vigência e esplendor, ganhou agora outra dimensão trágica: é também a pátria do "fala, mas não faz". Falar menos do que Lula, Dilma já fala. Agora precisa fazer mais - muito mais do que anunciar o que foi prometido antes e nunca realizado.

THAÍS MARZOLA ZARA

Tensão no Egito ressalta necessidade de encontrar alternativas ao petróleo
THAÍS MARZOLA ZARA
Folha de S. Paulo - 02/02/2011

Nesta semana, o petróleo tipo Brent chegou a superar a barreira de US$ 100 o barril.
Sobre um mercado que vinha aquecido nos últimos dois meses, por conta de perspectivas de recuperação da economia norte-americana e compras chinesas, pesaram as preocupações com as crescentes tensões políticas no Egito, por dois motivos.
Primeiro, apesar de o Egito não ser um importante produtor, tem um grande papel no transporte do óleo do Oriente Médio e do Mediterrâneo para a Europa, pelo canal de Suez.
Mesmo o canal sendo estreito demais para permitir a passagem de petroleiros de maior porte, por ele passa cerca de 1 milhão de barris de petróleo por dia.
Além disso, mais 1,1 milhão de barris é transportado para o norte pelo oleoduto Suez-Mediterrâneo. Assim, pelo canal de Suez passam cerca de 2% da produção mundial de petróleo.
De efetivo estão ocorrendo apenas alguns atrasos nos embarques, provocados pela alteração de procedimentos -antes realizados via internet, passaram a ser feitos pessoalmente. O transporte, então, tem ocorrido de forma praticamente normal.
O segundo motivo para a alta recente do petróleo é que as tensões no Egito abrem caminho para especulações sobre uma reação em cadeia de outros países do Oriente Médio.
Isso, sim, poderia afetar seriamente a produção mundial, especialmente se chegasse até a Arábia Saudita. O mais provável é que a alta de preços tenha sido exagerada e tenda a se corrigir nos próximos dias, voltando a rodar em torno de US$ 90 por barril.
No pior dos casos, o petróleo continuaria vindo ao ocidente, nem que fosse contornando a África. No entanto, esse evento nos lembra que grande parte do petróleo mundial está sob um território sujeito a turbulências, reforçando a necessidade da busca de outras reservas do recurso natural e de alternativas a ele no médio e longo prazo.

THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.

VAMOS DOAR UNS PONTOS

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MÍRIAM LEITÃO

A estreita saída
Míriam Leitão
O GLOBO - 02/02/11

Al-Arashi, no Norte do Sinai, no Egito, é terra dos beduínos e pouco habitada. Uma fonte diplomática me contou que, até lá, havia ontem milhares de pessoas nas ruas. Disse também que conversou com uma mulher da alta classe média do Cairo e ouviu que ela havia mandado os filhos para a manifestação. O movimento contra Mubarak atingiu o país inteiro e todas as classes sociais.

A resposta de Hosni Mubarak, ontem à noite, foi insuficiente. Ele disse o que já se previa: que aos 83 anos não vai se candidatar novamente. Já se dizia que ele prepararia a candidatura do filho Gamal. O que chamou mais a atenção no discurso de ontem foi a ameaça implícita no pedido de que a polícia restaure a ordem e a afirmação de que o movimento deixou de ser pacífico.

A pergunta mais feita no Ocidente é se não é o começo de um governo radical islâmico. Isso ninguém sabe ao certo. O que se sabe é que a Irmandade Islâmica é apenas uma parte do movimento, não assumiu a liderança, e as oposições se uniram em torno de um líder moderado e internacionalmente conhecido, Mohamed ElBaradei. Como todos os processos de revolta, esse movimento - que está sendo chamado de Revolução de Lótus, numa referência à Flor de Lótus - pode escapar ao controle e se radicalizar.

Se acontecer isso, o primeiro culpado será o próprio Hosni Mubarak, que governou com mão-de-ferro durante 30 anos e agora se aferra ao poder iniciando um banho de sangue; ontem, a ONU dobrou as estimativas de mortos, para 300. Toda ditadura produz seus radicais pela falta de alternativas; quanto maior for a repressão, maior o risco de radicalização. O segundo responsável será o governo americano, que durante esses 30 anos forneceu armas, recursos e bilhões de dólares que sustentaram o regime.

Até ontem, as TVs ocidentais, a Al Jazeera, e a TV iraniana que transmite em inglês mostravam cenas de manifestações pacíficas, em que quem protestava empunhava bandeiras egípcias. Como a revolução de Jasmin da Tunísia, a revolta demonstrou ser nos primeiros oito dias um basta eloquente da população do país inteiro a Mubarak.

O plano dos manifestantes ontem era ir até o palácio do governo. Mas o quartel-general de cada uma das três forças armadas fica em torno do palácio. Além disso, a sede do governo foi cercada de arame farpado. Os líderes do movimento, numa decisão sensata, decidiram manter a população na Praça Tahrir e desistir do plano original. O exército estava presente, mas em atitude amigável.

O que ainda segura Mubarak no poder? O governo americano, que evoluiu, mas não o bastante. Pediu transição, mas não retirou completamente o apoio ao presidente. Por outro lado, o exército dá todas as demonstrações de simpatia em relação ao movimento, mas não dá qualquer ultimato a Mubarak. Isso dá a ele uma sobrevida, apesar de a oposição ter estabelecido claramente a sua condição para sair das ruas: Mubarak sair do governo. Mas há informações de que o chefe do exército egípcio esteve em Washington nos últimos dias.

A única forma de um governo sobreviver a uma manifestação tão forte é trágica: uma dura repressão. Foi o que aconteceu na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989, quando o governo comunista massacrou estudantes inocentes. Em Teerã, o governo de Mahmoud Ahmadinejad resistiu, em 2009, porque teve apoio religioso e militar, mas até agora a matança dos líderes da oposição ainda não acabou. Por isso, a única boa saída é a queda do ditador. Ontem, o governo iraniano dizia que o "levante do Norte da África é sinal do fim dos governos impopulares da região." Falava como se não tivesse feito o que fez para reprimir sua oposição. O levante no Egito parece maior, mais disseminado do que o do Irã; e Mubarak tem menos em que se segurar.

Na economia, o estrago da teimosia de Mubarak de não ouvir o ensurdecedor som das ruas é enorme. As maiores empresas americanas e europeias fecharam seus escritórios e repatriaram os executivos. Simplesmente a produção parou. O comércio está quase todo fechado. Os bancos e a Bolsa não funcionam há uma semana.

O levante egípcio é mais uma demonstração de como é pouco conhecida a força das novas tecnologias de comunicação. Tanto na Tunísia quanto no Egito houve nos últimos anos um aumento impressionante do acesso à telefonia celular, como mostrou ontem o site Dot Earth, do "New York Times" (veja no meu blog a reprodução dos gráficos). Quem subestima a força das novas tecnologias costuma argumentar que é pequeno o acesso à Internet num país como o Egito. Se não tivesse importância, não teria sido cortada pelo governo. Apesar da censura, as informações continuam fluindo. E é bem diferente quando o mundo está vendo.

Outra grande questão é se o levante do Egito vai contaminar outros países da região. Pode ser que haja, sim, reações em outros países, mas cada um tem uma realidade própria. O Sudão, vizinho do Egito, já está vivendo um momento de instabilidade, após a votação consagradora da proposta de separação do Sul do país. Há uma infinidade de encrencas em cada um daqueles países e muitos governos autoritários.

Um dos mais autoritários é a Arábia Saudita. Mas pouco se fala da ditadura dos Saud, porque quem produz 10 milhões de barris/dia de petróleo, e é um aliado americano, é sempre poupado. Assim era o Egito: um aliado "confiável", como dizia até dias atrás o governo americano. A dinastia dos herdeiros de Abdulaziz al Saud, parece ter controle do país que governa desde os anos 1930, mas um dos fantasmas que ronda essa crise é qualquer instabilidade na Arábia Saudita.

ROLF KUNTZ

Sem truque e sem anjo
Rolf Kuntz
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/02/11

Truque não vale, nem vale incluir nas projeções um novo golpe de sorte. O novo governo parece disposto a seguir regras desse tipo na condução da política econômica em 2011. Sem truque, as contas públicas do ano passado teriam sido fechadas com um resultado muito menos favorável. Dos R$ 101,7 bilhões de superávit primário registrados oficialmente, R$ 31,9 bilhões vieram da capitalização da Petrobrás. Por meio de um arranjo contábil, uma despesa virou receita. Sem o golpe de sorte - US$ 15 bilhões aplicados pelos chineses no fim do ano -, o investimento direto estrangeiro teria sido insuficiente para compensar o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos - US$ 47,5 bilhões, 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). As contas oficiais são hoje muito mais claras e mais prontamente acessíveis do que eram há alguns anos. Essa mudança foi um importante ganho institucional. Por isso mesmo, receitas excepcionais e intervenções do anjo da guarda são identificáveis mais facilmente e quase em cima do lance. Também os truques da chamada contabilidade criativa são captados com rapidez pelos analistas. Não vale a pena tentar enrolar a opinião pública. Economistas do setor financeiro dispõem das informações básicas e de condições técnicas para montar as próprias contas e mostrar, por exemplo, se receitas extraordinárias de depósitos judiciais foram importantes para a maquiagem dos dados oficiais.

O jogo limpo é o melhor negócio para o novo governo. Pode ser uma escolha moralmente superior e politicamente muito respeitável, mas é também uma decisão pragmática. A nova administração precisa de credibilidade. Os próximos quatro anos deverão ser difíceis. Para as economias desenvolvidas prevê-se uma convalescença demorada, com desemprego elevado pelo menos por uns dois anos. A arrumação fiscal será lenta e penosa nos Estados Unidos e na maior parte da Europa. Tudo isso poderá afetar o comércio internacional. Além disso, em algum momento será indispensável aumentar os juros no mercado internacional e também isso afetará o Brasil. Internamente, o governo terá de enfrentar os investimentos programados para a Copa do Mundo e precisará combinar esse esforço com a manutenção dos programas sociais. Em suma, a agenda interna será pesada e o governo não poderá contar com o empurrão amigo da prosperidade global.

A nova administração parte de uma situação já desconfortável. Do lado fiscal, será preciso realizar um ajuste estimado por especialistas em pelo menos R$ 54 bilhões. Talvez não possa fazer um corte tão grande, mas precisará pelo menos apresentar um plano confiável para os próximos anos. Haverá resistência mesmo entre os aliados - ou principalmente entre eles. Ao mesmo tempo, o Banco Central terá de conter a pressão inflacionária. Seus dirigentes precisarão aplicar políticas duras. Do lado externo, há o risco de uma deterioração maior da conta corrente, formada pelas balanças de mercadorias e de serviços e pelas transferências unilaterais. O mercado financeiro e as principais consultorias elevaram para US$ 9,5 bilhões sua projeção de saldo comercial. Se estiverem certos, será menos de metade do superávit do ano passado, US$ 20,3 bilhões. Mas continuam prevendo um grande buraco na conta corrente (US$ 67,9 bilhões) e um investimento direto líquido de US$ 40 bilhões. De acordo com essas projeções, será preciso financiar mais de um terço do déficit em conta corrente com endividamento e com capitais aplicados em papéis. Não dá para incluir nessas contas um ingresso repentino de recursos chineses.

Há boas notícias na balança comercial de janeiro, divulgada ontem. O valor da exportação, US$ 15,2 bilhões, foi 28,2% maior que o de janeiro do ano passado. O da importação, US$ 14,8 bilhões, foi 22,8% superior ao de um ano antes. Durante a maior parte do ano passado a importação cresceu bem mais velozmente que a exportação. É cedo para falar em mudança de tendência. Essa seria a melhor novidade. Mas há também notícias menos entusiasmantes. Os preços dos minérios e alimentos continuam sendo a principal sustentação da receita comercial. No ano passado, os preços dos básicos aumentaram 30,4%, enquanto o volume exportado aumentou 11,4%. Em janeiro, a receita dos básicos foi 56,3% maior que a de um ano antes e isso se resultou principalmente das cotações. Não deve ser ambição do novo governo manter o País na dependência da fome chinesa de matérias-primas. É preciso recuperar o dinamismo comercial do setor manufatureiro. Uma política de competitividade não é apenas mais um problema - é a síntese dos desafios econômicos.

NÃO É O QUE VOCÊ ESTÃO PENSANDO! OU É?

MERVAL PEREIRA

Em cima do muro
 Merval Pereira
O GLOBO - 02/02/11

Há um descompasso evidente entre o que acontece nas ruas do Egito e a reação dos governos ocidentais. Tanto quanto os Estados Unidos, os governos europeus estão muito cautelosos no tratamento diplomático da crise política que já derrubou o ditador da Tunísia e está colocando num aparente beco sem saída o ditador egípcio Hosni Mubarak, que piscou ao anunciar que não se candidatará a mais uma reeleição.

Não houve uma manifestação oficial da União Europeia, e os países tratam da questão com a prudência de quem ainda não sabe para que lado o vento está soprando.

Os governos da França, da Inglaterra e da Alemanha soltaram uma nota conjunta muito cautelosa, ainda procurando um papel para a ditadura de Hosni Mubarak.

Os europeus destacam o papel "conciliador" sempre exercido pelo governo do Egito na região para desejar que também agora na crise Mubarak se porte como um conciliador.

O presidente francês Nicolas Sarkozy esteve na reunião da União Africana em Adis Abeba, mas não se aprofundou na questão egípcia.

Disse apenas platitudes sobre a violência como uma maneira errada de buscar a solução de problemas.

Sem as amarras políticas que impedem uma explicitação de posição, nos debates no recente Fórum Econômico Mundial, houve um consenso de que o Egito seguirá o modelo da Tunísia, embora as situações sejam bastante diferentes.

A situação de desemprego maciço, um alto nível de pobreza e uma juventude em ebulição formam um quadro no Egito muito favorável a uma verdadeira revolução que não terá Mubarak à frente.

A juventude egípcia acredita na democracia nos termos ocidentais, e por isso é improvável um novo ditador ou um golpe militar, pois eles já viram esse modelo falir através do mundo árabe.

Os primeiros movimentos de Mubarak para amenizar a situação, indicando o vice-presidente e alterando seu Ministério não foram suficientes, assim como de nada valeu sua promessa de antecipar as eleições e não se candidatar.

Os egípcios querem uma mudança completa, querem ser tratados como cidadãos e ser ouvidos.

Dois ministros tunisianos, Yassine Brahim, ministro da Infraestrutura e Transportes, e Mustapha Kamel Nabli, presidente do Banco Central, fizeram parte do debate em Davos, que foi intermediado por Raghida Dergham, correspondente diplomático e colunista do "Al Hayat", dos Estados Unidos, e teve ainda a participação de Khalid Abdulla-Janahi, dos Emirados Árabes Unidos, Moncef Cheikh-Rouhou, professor de Finanças Internacionais da Escola de Administração da França, e Nkosana D. Moyo, vice-presidente e chefe de operações do Banco de Desenvolvimento da África com sede na Tunísia.

A dúvida era se os protestos nas ruas resultariam em uma saída negociada de Mubarak ou se haveria um banho de sangue.

Diante da posição dos militares de não atacar a população, tudo indica que está superada a possibilidade de um enfrentamento sangrento.

A revolta política na Tunísia, o país mais urbano e educado do Magreb, é considerada um ponto de partida para uma mudança no Oriente Médio e no Norte da África.

As sementes de mudança deixadas pela chamada "Revolução de Jasmin" estão já se enraizando e crescendo na região.

A revolução lançada pelas redes de relacionamento como Facebook tinha um campo fértil para se espalhar: uma classe média importante, com taxa de possuidores de casa própria de 80%, sem problemas étnicos ou religiosos, uma tradição de ser um estado robusto e bem organizado.

Houve desde o início na Tunísia, e parece estar acontecendo o mesmo agora no Egito, uma colaboração entre os militares e a população revoltada.

Um exemplo dessa integração foi a denúncia, através de mensagens de texto, diretamente para o site das Forças Armadas, da existência de franco-atiradores em alguns edifícios.

De posse da informação, os militares enviavam helicópteros para prender os atiradores.

Assim como no Egito, é a juventude que esteve à frente do movimento de revolta na Tunísia, utilizando-se das redes sociais e do twitter para se organizar.

No dia seguinte da queda do ditador Ben Ali, um dos novos ministros despachava através do twitter. Nas paredes era possível ler palavras de ordem oriundas dos movimentos estudantis de 1968 em Paris: "Democracia é um bom investimento".

A "Revolução de Jasmim" derrubou um mito que serviu para sustentar ditaduras em todo o mundo árabe, o de que haveria "ou uma ditadura ou o Talibã", ou a " Irmandade Muçulmana" no caso do Egito.

Pelo menos na Tunísia, e tudo caminha para que seja assim também no Egito, a revolução veio respeitando as instituições, e a mudança de regime foi feita dentro das regras da lei.

As instituições governamentais estão intactas e existe a previsão de convocar eleições dentro de seis meses.

Mubarak tentou um acordo com base na convocação de eleições para setembro, e os governos ocidentais que o apoiaram esses anos todos ainda estão na posição de defender uma "transição pacífica", o que significaria que ele controlaria o processo de sua substituição, o que não parece estar de acordo com o pensamento da maioria da população, que quer sua saída imediata do poder.

Mas tudo indica que esteja no fim a ditadura de Hosni Mubarak no Egito, e é previsível que daqui por diante as declarações dos países ocidentais serão cada vez mais distante de uma posição neutra como a atual.

DORA KRAMER

Por água abaixo
Dora Kramer
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/02/11

Nesta hora em que a base governista oficializa que o Congresso é um híbrido de almoxarifado do Palácio do Planalto com cartório para despachos de interesses específicos, caberia à oposição fornecer um discurso para a sociedade.

No mínimo para informar que não compactua com certas práticas, que está atenta às agruras do Parlamento. Dizer que é minoria, perdeu a eleição, mas não perdeu o juízo, o discernimento, a compostura nem a capacidade de perceber o que acontece debaixo do seu nariz e à vista de todos: a ruptura do Legislativo com a realidade do País que supostamente representa.

No lugar disso, PSDB e DEM vêm a público afagar os respectivos umbigos, ignorando os 43 milhões de eleitores que acabaram de atribuir à oposição a tarefa de denunciar os erros e propor as correções.

Quem está interessado em discutir o Brasil? Pelo visto até o momento, ninguém. Inclusive porque o ambiente não é propício. Se alguém propõe um tema, logo é acionado o porrete de matar debate materializado na desqualificação do debatedor mediante a justificativa de que seus interesses são meramente táticos ou estratégicos visando a um objetivo eleitoral.

O DEM, que havia se anunciado como um partido disposto a assumir a sua face clara, liberal, conservadora ou de direita, retrocedeu da discussão ideológica para a lavação de roupa suja pura e simples.

O PSDB, que proclamara a intenção de fazer jus ao seu eleitorado, se enfurna em questiúnculas regionais, numa disputa pelo comando do partido repleta de inutilidades, golpinhos, telefonemas ambíguos, mágoas de comadres, editoriais encomendados a jornais de província e pretensas demonstrações de força dos grupos aliados a José Serra e Aécio Neves.

Enquanto o partido estiver refém dessa disputa tola com todos os gestos de seus integrantes referidos nos interesses dessa ou daquela ala, a legenda vai continuar sem rumo, sem comando, sem horizonte, sem projeto nacional, caminhando de volta à origem.

Nessa trajetória fratricida, regionalista, sem discurso nem identidade o PSDB vai ficando cada vez mais parecido com o PMDB de origem.

Partido de onde Mário Covas, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, José Richa e tantos outros saíram para criar um partido de quadros qualificados para pensar o Brasil.

A ideia era se distanciar dos anacronismos e deformações que naquela altura, em 1988, já descaracterizavam a legenda capitã da luta pela redemocratização.

Infelizmente para a democracia restaurada há 26 anos, o projeto não resistiu ao tempo nem à ação dos que não souberam capitalizar o poder conquistado prematuramente - apenas seis anos após a fundação do partido com a eleição de Fernando Henrique em 1994 - e agora só fazem demonstrar que não sabem como recuperá-lo.

Visão de fora. Novato nas lides federais, o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) tomou posse ontem depois de quatro mandatos como vereador, estranhando o clima de júbilo consigo mesmos reinante entre os nobres colegas.

"Sinceramente, não entendi o motivo de tanta celebração, já que o momento de comemorar é na eleição. Hoje (ontem) seria o primeiro dia de quatro anos de trabalho, mas a Câmara dos Deputados parecia em transe de injustificado regozijo. Achei muito esquisito", disse ele, que ainda terá muito com o que se espantar.

Até tu. Se é verdade o que dizem aliados do governador Sérgio Cabral sobre a influência dele na indicação do novo ministro (Luiz Fux) do Supremo Tribunal Federal, é de se registrar a adoção do critério de "cotas" também para o Poder Judiciário.

Um loteamento expandido.

Releitura. No caso de José Sarney a (quase) unanimidade de burra não tem nada. Excessivamente esperta, porém, pode ser que um dia vire bicho e coma o dono.

GOSTOSA

RUY CASTRO

Faits-divers
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/02/11

RIO DE JANEIRO - No Natal último, em Jardim Santo André, zona leste de São Paulo, um homem armado com uma pistola 9 mm invadiu uma casa, rendeu as oito pessoas presentes, fez o roubo e fugiu usando peruca e roupas de mulher. Mas, assim que pôs o pé na rua, a polícia desconfiou de alguma coisa, abordou-o e ele confessou.
Dias depois, em Ituiutaba, MG, um homem procurado pela polícia, cansado de se esconder, também se disfarçou de mulher para dar uma voltinha. Enfiou-se num vestido florido, uma legging preta e uma plataforma lilás, e aplicou maquiagem leve. Mas não adiantou. A polícia suspeitou do mesmo jeito, pelo boné que, sem pensar, ele botou na cabeça ao sair, e pelo pomo de Adão, que fazia glu-glu como só o de um homem faz.
Também no Natal, em Franca, a 400 km de São Paulo, uma jovem de 23 anos foi presa por tentar envenenar a avó, de 74, servindo-lhe um bolo com raticida. Não se sabe ainda o que fez a senhora se salvar, se o gosto exótico do bolo ou a súbita gentileza da neta, louca para herdar a casa em que moravam.
Na mesma época, em Ipatinga, MG, morreu finalmente a mulher de 88 anos que, dias antes, já dada como morta, estava para ser enterrada quando, para grande surpresa do velório, se mexeu no caixão. Levada de volta ao hospital, não resistiu e só então morreu de verdade.
Semana passada, em Vitória, ES, uma mulher de 29 anos contratou um homem, de 28, para matar seu marido, oferecendo-lhe R$ 500, um aparelho de DVD, uma TV 20 polegadas e "três noites de amor". Mas o marido, 48 anos, atraído a lugar ermo, recusou-se a morrer, mesmo depois de levar cinco tiros de 38. O rapaz fugiu, o marido foi à polícia e esta abotoou a dupla, que não consumou a parte final do pagamento.
Incrível como tanta coisa continua acontecendo por aí enquanto nos entregamos à meditação no sacrossanto recesso do lar.

ILIMAR FRANCO

A última batalha
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 02/02/11

Pode ser apenas para pressionar a velha guarda do DEM, mas o ex-presidente do PFL Jorge Bornhausen está dizendo que seu último ato partidário será a convenção do partido, em 15 de março. Depois vai abandonar a política.

A oposição no Brasil está como o mundo árabe. Ela vai explodir” — Antonio Martins, ex-assessor do presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre a disputa interna de poder no PSDB e no DEM Kassab: decifra-me ou ‘enrolo-te' (sic) O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, está fazendo três movimentos paralelos. 1. Para os serristas, diz que vai para o PMDB, mas mantendo o controle do DEM e o alinhamento com a oposição; 2. Para o vice Michel Temer, diz que vai revitalizar o PMDB, apoiar a presidente Dilma Rousseff e se unir ao PT para disputar o governo paulista em 2014; e agora, 3. Anda sustentando a tese de que usufrui de uma excelente relação com o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Dividir o bolo
O ministro Carlos Lupi (Trabalho) está estimulando o Sinduscon e a Cbic a criarem um serviço social para o setor de construção civil. Se os empresários do setor adotarem a ideia, deixarão de contribuir com o Sesi, que é gerido pela CNI. 

Bicho papão
Um dos pivôs da crise de Furnas, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diz que assina o pedido de CPI do deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA). “Mas vamos investigar a época que ele presidia a Eletrobras”, afirmou Cunha.

Pop
O humorista e deputado Tiririca (PR-SP) foi sucesso de público ontem na solenidade de posse do Congresso. Um de seus assessores chegou a pedir um segurança à Câmara para escoltar Tiririca na saída do plenário, devido ao assédio. 

Governo contra CPI
Com ampla maioria na Câmara, o governo Dilma Rousseff não quer ouvir falar de CPI sobre Furnas. O ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) é taxativo: “Nenhum governo trabalha com a hipótese de CPI”. Os dois maiores partidos governistas também não querem saber de CPI. “Lógico que não”, refuta o líder do PMDB, Henrique Alves (RN). “Não vamos assinar, não é uma questão nacional”, argumenta o líder do PT, Paulo Teixeira (SP). 

O SENADOR Itamar Franco (PPS-MG) vai consultar a Casa sobre acumular sua aposentadoria de ex-senador, de R$6 mil, com o salário de R$26.723, correspondente ao teto salarial do funcionalismo.

QUE RENOVAÇÃO? O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) enviou uma carta, anteontem, ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), informando que não votaria nele porque a Casa precisa de renovação. “Votei no Randolfe”, disse ele.

OS BLOCOS formados na Câmara tiveram o objetivo de tirar o PV da Mesa e das comissões para colocar o PSC. 

Quem é quem no governo
A presidente Dilma Rousseff não quer que se repita a desgastante briga entre os partidos aliados a cada mudança nos cargos de segundo escalão. A emblemática substituição na Secretaria de Atenção à Saúde serviu de modelo do que não deve ocorrer. Por isso, o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) está levantando todas as informações sobre quem é quem no governo, identificando o padrinho de cada afilhado. A intenção é, na medida do possível, preservar os espaços dos partidos; e, quando isso não for possível, negociar previamente qualquer mudança. O ministro justifica: “O governo é novo e também é de continuidade”.

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes
E-mail para esta coluna: panoramapolitico@oglobo.com.br
Quem é quem no governo

BAIXO

BARBARA HELIODORA

Brincando com Shakespeare
Barbara Heliodora
O GLOBO - 02/02/11


Adaptação de "Romeu e Julieta" dirigida por João Fonseca é um espetáculo mais do que gratificante



Aproveitando a tradição inglesa (e um pouco também americana) de se montar bom teatro no colégio, Joe Calarco fez uma brilhante adaptação de "Romeu e Julieta" para quatro jovens atores, que foi fluentemente traduzida por Geraldo Carneiro. É difícil saber se, como Shakespeare na "Megera domada", o autor esqueceu de criar um final que concluísse o início passado na escola, ou se a precipitação no aplauso impede os atores de completar o espetáculo. Mas Calarco corta muito bem o texto, deixando o básico para ser contada a história dos amantes de Verona, e tornando o texto mais acessível a atores jovens, e a única ressalva é fazer, como muitos outros, a cena do balcão em um só plano. O texto é tratado com carinho pelo tradutor, e os quatro atores apresentam quatro colegiais que sabem do que estão falando. Se eles brincam um pouco com Shakespeare, este haveria de gostar de os ver tendo intimidade com sua peça.

Encenação despojada e concisa

A encenação, em cartaz até o fim da semana na Arena do Espaço Sesc, em Copacabana, é despojada e concisa. O cenário de Nello Marrese, um círculo de madeira com áreas projetadas em quatro pontos, mesas e cadeiras escolares, é atraente e adequado, e ótimos são os figurinos de Ruy Cortez, ao mesmo tempo uniforme e material para marcar os diferentes personagens. A trilha de André Aquino e João Bittencourt é muito boa, e o movimento de Rafaela Amado leva em conta tanto a história quanto a juventude dos intérpretes. A direção de João Fonseca é firme e imaginativa, pois acerta muito bem o duplo alvo de servir à peça original em si e à condição de improviso de jovens apresentado na peça de Calarco.

O nível de interpretação do quarteto de atores é bom como conjunto e como trabalho individual: Felipe Lima é o que atua menos, mas se sai bem no que faz. João Gabriel Vasconcellos (Romeu) e Rodrigo Pandolfo (Julieta) estão muito bem tanto nos protagonistas da tragédia como nos outros pequenos papeis que desempenham, e Pablo Sanábio mostra excepcional firmeza de ator tanto como Frei Loureço quanto como a Ama de Julieta, afora outras pequenas intervenções; juntos, formam um elenco de categoria acima do que costuma ser a média em nossos palcos.

"R & J de Shakespeare - Juventude interrompida" é um espetáculo mais do que gratificante, principalmente porque mostra que o riso crítico pode estar presente e chegar ao público com efeito bem mais agradável do que a usual queda para a chanchada; diretor e jovem elenco sabem o que estão fazendo, e o fazem muito bem.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! São Pobre Fashion Week!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/02/11

Versão Fashion Bucho no largo da Batata. No lugar de Ashton Kutcher e Demi Moore, Fiuk e Gretchen!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada pronta direto da Bahia: "Polícia flagra festa de aniversário de 18 anos com bolo de maconha". Na praia do Delegado! E mais um predestinado direto de Chapecó, Santa Catarina: Clínica de Cirurgia Plástica Rafael TIRAPELLLE! E esta: "Ronaldo quer estudar cabala". Não é melhor ele estudar CABOLA? Rarará! E o Fashion Week. Nova versão do SP Fashion Bixa! Versão brega chamada Fashion Bucho, no largo da Batata. Que eu chamo de Brasil Verdade: tem ponto de ônibus, lotérica e casa de macumba. Vá de metrô, churrasquinho de gato e pipoca sem queijo. Tendências pra 2011: baixa, gorda e com camiseta de político. E, no lugar do Ashton Kutcher e da Demi Moore, Fiuk e Gretchen!
E em Nova York tem uma modelo asiática chamada Shu Pei. Daria uma boa manchete pro Fashion Week: "SHU PEI NA PASSARELA". Rarará! E o site manourbano produziu o São Pobre Fashion Week. Na praça da Sé. Tendências de Moda Rua! Últimos lançamentos pra 2011! A touquinha volta este ano. Sabe aqueles mendigos com touca azul? E cigarro agora só do lado esquerdo da boca. Aquela guimba pendurada! Rarará! E os gordos exigem um SP FAT Week. E um leitor sugeriu o SP Fashion WikiLeaks! Rarará!
E o Egito? O AGITO? O Mubarak tá sendo chamado de Ditador Koleston. Com aquela tintura corvo. E eu conheci um gerente do Bradesco que é a cara do Mubarak. Rarará! E o chargista Duke mostra Mubarak lançando as dez novas pragas do Egito: sem celular, sem internet, sem Twitter, sem Facebook, sem e-mail, sem liberdade, sem democracia. E com muito gafanhoto! E diz que a pirâmide social do Egito é de cabeça pra baixo! E adote a campanha: Manda a múmia do Sarney pro Egito! Rarará!
O Brasileiro é cordial! Mais uma do Gervásio. Olha a placa na empresa em São Bernardo: "Se eu descobrir quem foi o bocó de argola que botou calmante no meu café, vou pegar esse asno metido a velhaco e fazer ele comer uma planta de comigo ninguém pode com vaso e esterco. Conto com todos. Assinado: Gervásio". E pichação num muro em Maceió: "Quem colocar lixo aqui vai engolir na tapa. LHE AGUARDO". Medo! Pânico! E ainda tem gente com medo do Kim Jong e do Ahmadinejad. Rarará!
A situação tá ficando egípcia. Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA

VINICIUS TORRES FREIRE

Pão egípcio e ferro brasileiro
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/02/02

Correntes de consumo e de produção gigantescas alteram o clima econômico e político pelo planeta
O PÃO ESTÁ caro no Egito, e o comércio exterior do Brasil foi muito bem em janeiro. Como assim?
Sim, o preço de comida, combustíveis, minérios continuou a subir muito em janeiro. O Brasil exporta muita comida e minérios. O Egito importa metade do trigo e do milho que consome. Mesmo que não importasse, o preço de trigo e milho ainda subiria -talvez o subsídio da comida ficasse menos custoso, a depender do câmbio.
O preço médio das commodities subiu 6,5% em janeiro, segundo um índice popular na praça, o CRB. No ano passado, o CRB subiu uns 24%. Nesse índice, da Thomson Reuters, é ponderada a evolução dos preços de petróleo, gás, trigo, soja, milho, café, algodão, carnes, suco de laranja, ouro, prata e platina, de acordo com as respectivas cotações em Bolsas americanas.
O preço do cobre é recorde. Os de outros metais estão chegando perto dos recordes de 2008, assim como os dos grãos; em meados de 2008 houve a rodada anterior da grande inflação de commodities, quando a economia mundial ainda estava superaquecida, apesar do declínio já evidente no mundo rico.
Dado que o Brasil tem uma balança comercial de petróleo mais ou menos equilibrada, em geral as exportações brasileiras melhoram de preço quando o CRB sobe. Em lugares ainda mais pobres e selvagens que o Brasil, onde a despesa com comida leva parte ainda maior da renda dos cidadãos (quando a renda existe, aliás), a alta do CRB tende a ser uma desgraça. Há pobres e miseráveis passando ainda pior no sul da Ásia e na África quase toda.
No Brasil, o preço das commodities em alta provocou surpresas como um deficit comercial menor do que o esperado em 2010. E outra surpresa em janeiro, um mês tradicional e relativamente mais fraco do comércio exterior. Mesmo com dólar barato e a decorrente surra em alguns setores industriais, o comércio exterior teve superavit em janeiro, pequeno, mas superavit. Mais interessante, a corrente de comércio (exportações mais importações) cresceu 32% sobre janeiro de 2010. O valor das exportações cresceu 34,5%, mais que o das importações (que cresceu 28,7%).
A resistência da balança comercial, o deficit externo menor do que o esperado, a torrente de dinheiro que vem entrando para fusões, aquisições, investimentos "produtivos" e outros, tudo isso ajuda a derrubar um pouco mais o dólar, o suficiente para avariar vários setores industriais, que perdem mercado no exterior e para importados.
Note-se, porém, que, embora o preço de commodities não cause aqui desgraças tão agudas como em lugares mais sombrios do planeta, a inflação desses produtos também contamina os preços no Brasil. O que empurra juros para cima. O que atrai um tanto mais de dólares, o que valoriza o real. O que prejudica alguns setores industriais. Etc.
O resumo da ópera é que estamos todos enredados por correntes de produção e consumo gigantescas, que alteram o clima econômico e até político do planeta. A bonança das commodities tornou o ambiente mais confortável para o governo Lula; agora, bate um pouco na inflação aqui, embora ajude a sustentar o equilíbrio externo. No norte da África, a mesma corrente turbina o preço da comida, o que enfurece o povo, o que balança ditaduras.

MÔNICA BERGAMO

KRAMER X KRAMER
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/02/11

O processo da guarda de Bruninho, filho de Eliza Samudio e do goleiro Bruno, ex-Flamengo, entrou na fase final. Na volta das férias do Judiciário, o juiz da Vara da Infância e da Juventude de Foz do Iguaçu deve marcar a audiência de instrução, na qual será julgado o pedido da avó materna, Sônia Moura, que obteve a guarda provisória do neto há sete meses. Logo após o desaparecimento de Eliza, o garoto ficou com o avô materno, Luiz Carlos Samudio, contra o qual pesa acusação de abuso da filha mais nova. As partes se submeteram a visitas de psicólogos e assistentes sociais, que vão embasar o veredicto.

Julia Roitfeld

A francesa Julia Roitfeld e a estilista Cris Barros foram homenageadas com um jantar na casa de Anna Cláudia e Flávio Rocha, anteontem. Cris assina coleção de inverno para a rede Riachuelo, de Rocha. E Julia será a estrela da campanha. A estilista argentina Concepción Cochrane e o herdeiro da Hermès, Dimitri Mussard, circularam pela festa.

BOLO DE ANIVERSÁRIO
Bruninho completa um ano no próximo dia 10. A avó programa uma festinha em família. "Ele já tem quatro dentinhos e está quase andando", diz Sônia, que o levou para morar com ela, o marido e o filho caçula em Anhanduí (MS). Bruninho está cada vez mais parecido com o pai. "O cabelo dele está enroladinho como o do Bruno", conta a avó. "Mas clareou e chegou ao tom do de Eliza na mesma idade."

HOMENS DE VERDADE
Ashton Kutcher vai se engajar no combate à exploração sexual e à pornografia infantil no Brasil. Na última sexta, ele e a mulher, Demi Moore, fizeram uma reunião com a Childhood Brasil, ONG da rainha da Suécia, Silvia, que mantém projetos no país. Como a Demi and Ashton Foundation (DNA) milita na área, o ator emprestou sua imagem para a campanha "Real Men Don't Buy Girls" ("Homens de verdade não compram garotas").

A ideia é passar essa mensagem na Copa do Mundo e na Olimpíada do Rio.

CÂMERA, CLOSE
O centro de reimplante do Hospital das Clínicas tentou agendar para ontem uma consulta da menina que teve a ponta do dedo decepada no hospital do Mandaqui. Foi informado de que não seria possível, porque a família daria entrevista na Rede TV! nos programas "Manhã Maior" e "A Tarde É Sua". David Príncipe, pai da criança, diz que o hospital falou com a avó da menina, e que "não sabia que tinham tentado marcar para hoje [ontem]".

BAGAGEM
Para a nova turnê do U2 no Brasil, em abril, 228 pessoas viajarão com a banda de Bono. Com a trupe embarcam 1.762 toneladas de equipamentos. Dentre eles, 400 caixas de som. O transporte de toda a infraestrutura será feito por 118 carretas.

PROFESSOR RAIMUNDO
Apesar de Chico Anysio estar internado desde dezembro no Rio, com problemas respiratórios e cardíacos, a editora Prumo mantém o plano de lançar, no dia 25, um novo livro do humorista. "O Fim do Mundo É Ali" será uma coletânea de 43 contos escritos ao longo de sua vida.

MINISTRA E EX-SENADORA BATEM PAPO DE MULHERZINHA

"Quando rolou o convite, era um domingo, véspera de Natal, eu estava em São Paulo. Fui para a Vila Madalena e entrei na sua loja. Aí falei [para a vendedora]: "Não pode ser muito formal, mas não pode não ser formal". Não podia explicar bem o que era", conta a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, a Ronaldo Fraga, no camarim do estilista na São Paulo Fashion Week, anteontem. Ela se referia ao vestido que usou na posse de Dilma Rousseff. Em uma fazenda no norte de Minas, Fraga nem ficou sabendo da cliente VIP.

Representante da moda no Conselho Nacional de Política Cultural, o estilista volta a se encontrar com a ministra em meados deste mês, agora numa audiência em Brasília. "Ele é nosso "cadeirante" lá", diz Paulo Borges, organizador da SPFW, suplente de Fraga no conselho.

A ministra -de vestido Maria Bonita Extra e bolsa de capim dourado- quis saber como foi o encontro de Borges com Dilma. "Conversamos por uma hora e meia. Ela não é política, é gestora. Foi uma reunião de trabalho, não um bate-papo. O Palocci [ministro da Casa Civil] perguntou: "Você já conversou com um presidente sobre moda antes?" Disse que estive com o Fernando Henrique [Cardoso]", conta ele.

A ex-senadora Marina Silva (PV-AC) chega após Ana de Hollanda deixar a sala. O estilista é só elogios. "Não vai ter nenhuma roupa minha que chegue aos pés dessa, com esse peso, com essa história e beleza." Marina vestia uma espécie de manta que lhe foi presenteada por uma tribo indígena da fronteira do Brasil com o Peru. O colar ela mesma fez, aproveitando adornos de um vaso que ganhou na campanha eleitoral. "Vou te pegar de escravinha [no ateliê]", brinca Fraga.

Depois do desfile, a ministra e a ex-senadora se encontraram no camarim. "Sou sua fã", disse Ana de Hollanda a Marina, abraçando-a. "Tá linda. Tudo bem contigo?" Marina responde: "Tudo bem, boa sorte. E parabéns por ter criado a Secretaria de Economia Criativa". Lembra que tal conceito estava em seu programa de governo. "Dá um abraço no Chico [Buarque, irmão da ministra]. Ele é muito especial para todos nós." E se despede com um "Deus a abençoe".

CURTO-CIRCUITO

A galeria Virgilio abre hoje, às 20h, mostra coletiva de seus artistas, na rua Dr. Virgilio de Carvalho Pinto, 426.

O paisagista Marcelo Faisal discoteca hoje em festa do programa i/D, do shopping D&D, no Museum. 18 anos.

A quinta edição da festa SuperTrash, na sexta, terá como tema "Cher x Christina Aguilera", no clube Vegas. Classificação: 18 anos.

Com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

BRAZIU: O PUTEIRO

ELIO GASPARI

A Espanha deporta? Deportemos
ELIO GASPARI
O GLOBO - 02/02/11 
Nunca é demais repetir: ao tempo em que os europeus exportavam sua gente para outras terras, a Espanha mandou para o BRASIL perto de um milhão de imigrantes. (A Itália mandou 1,5 milhão.) Passou o tempo, e a polícia espanhola continua perseguindo brasileiros que desembarcam em Madri. Há três anos, uma física que estava a caminho de um congresso em Lisboa foi detida por 53 horas e embarcada de volta. Há poucos dias, Denise Severo, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da Universidade de Brasília, foi detida por quinze horas pela meganha do aeroporto de Barajas e deportada. Retornou sem a bagagem.
Denise Severo botou seu trombone na internet:

"Havia cerca de 10 pessoas presas nesta situação e todas elas eram latinas e/ou negros da África!!! Ou seja, é xenofobia pura!!!! Mas xenofobia contra latinos e negros!!!! Puro preconceito!!! (...) Vou recorrer ao Itamaraty, vou fazer uma queixa oficial na Embaixada da Espanha no BRASIL, vou à Secretaria de Política para Mulheres e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, vou a todos os órgãos que puder para lutar contra esta arbitrariedade!!!"

A brasileira informa que tinha consigo a comprovação de emprego, emitida pelo MINISTÉRIO DACULTURA, passagem de ida e volta, reserva de hotel (em nome de uma amiga, que chegara em outro voo, informação confirmada pelo estabelecimento) e até cópia da escritura de sua casa. Isso tudo e mais o cartão Travelmoney do Banco do BRASIL, bem como os comprovantes da transação dos euros necessários para custear a viagem.

O embaixador da Espanha em Brasília, Carlos Alonso Zaldivar, pode procurar no arquivo alguns casos anteriores e verá que sua turma só mudou (um pouco) o tratamento dado aos brasileiros depois que a Polícia Federal, em muito boa hora, começou a deportar seus patrícios. Em março de 2008 foram devolvidos oito, com os mesmos argumentos oferecidos aos brasileiros em Madri.

Infelizmente, as dificuldades econômicas da Europa estão estimulando a busca de empregos no além-mar. Nessa hora, Pindorama volta a ser um porto seguro. Recentemente, diplomatas de diversos países procuraram o Ministério do Trabalho para discutir uma política de concessão de vistos de serviço para seus cidadãos. Bem que o ministro Carlos Lupi poderia discutir esses pleitos mostrando uma tabelinha de deportações arbitrárias impostas a brasileiros em cada país europeu.

Há brasileiros e brasileiras presos na Espanha por prostituição, tráfico de drogas, sequestros-relâmpago e falsificação de documentos. Problema deles, que violaram as leis locais. O ano de 2010 terminou com 163 espanhóis encarcerados no BRASIL, 52 a mais do que em 2009. A má conduta de uns não permite que os outros sejam tratados como suspeitos. Ademais, a preferência da meganha pela deportação de mulheres jovens revela que é a polícia espanhola quem tem um problema na cabeça, não suas vítimas.

Em pelo menos um caso de exercício da xenofobia, um governo europeu recuou quando soube que o BRASIL estava disposto a discutir uma agenda ampla, negociando inclusive a suspensão da reciprocidade da isenção de vistos de turista. Seria o caso de o chanceler Antonio Patriota perguntar ao embaixador Zaldivar se o seu governo pretende mudar as regras do jogo.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Varejo teme desabastecimento e pede importado no setor têxtil
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/02/11

Em preparação para a chegada do inverno, o setor têxtil começa a se preocupar com o abastecimento.
A produção de sintéticos e tecidos para costura de casacos esportivos não deve acompanhar por muito tempo o crescimento do consumo no Brasil, segundo a ABVTEX (associação do varejo têxtil), que reúne as grandes redes do país.
"Jeans, malharia e tricô nós até temos. O sintético, para produzir jaquetas, é o mais crítico", diz Sylvio Mandel, presidente da entidade.
Há um descompasso entre o crescimento do varejo e o da indústria, segundo Mandel. "A expectativa de alta do PIB em 2010 é de 7,5% enquanto o volume de vendas do varejo avançou 11,9% de janeiro a novembro."
Medidas protecionistas, como a elevação de barreiras a importados, agravam a questão, segundo Mandel, que se prepara para levar a Brasília pedido para que o governo não dificulte a entrada de itens estrangeiros.
"A indústria local não consegue dar conta, temos que completar com importado. Se aumentar os impostos, quem sente é o consumidor."
A Abit, que representa a indústria nacional, discorda. "Não somos contra o mercado livre e o comércio internacional, desde que sejam mantidas condições adequadas de concorrência", diz Fernando Pimentel, da Abit.
"O Brasil não pode ser condescendente com quem faz dumping, como a China, ou que não cumpram padrões ambientais e trabalhistas."

Encontro... 
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, visita a Fiesp na segunda-feira. Na pauta, a possibilidade de maior poder de decisão da pasta que, em muitos casos, depende da atuação de outros ministérios.

...por autonomia 
A dependência acaba travando ações efetivas para a indústria, segundo a Fiesp. A entidade quer pedir aumento do orçamento para o órgão e maior poder à Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Imposto... 
A Secretaria da Fazenda fixou em R$ 60 milhões o limite para o apoio financeiro de empresas a programas que preveem incentivo a projetos credenciados pelo governo do Estado em 2011.

...reutilizado 
A medida alcança potencial de 280 mil empresas que poderão destinar até 3% do ICMS devido para patrocínio de programas culturais e esportivos.

Pequenas... 
A Febraban aumentou em 50% o espaço destinado a pequenas empresas na próxima edição do Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras, que vai acontecer em junho.

...e tecnológicas 
Nos próximos meses, a instituição selecionará 24 empresas de pequeno porte do setor de TI para receberem subsídios e se apresentarem no evento.

Política... "Os investimentos no país poderiam ser bem maiores se não fossem as burocracias que existem na importação de máquinas e equipamentos", afirma Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior).

...industrial
 
O novo governo, segundo Segatto, precisa ter uma política industrial e uma de comércio exterior. "Com máquinas modernas, o país poderia produzir mais barato e exportar mais."

METRO QUADRADO TUPINIQUIM
Com promessa de ampliar investimentos no Brasil neste ano, além de outros países da região, a consultoria imobiliária Cushman & Wakefield registrou em 2010 um avanço dos aluguéis de escritório de primeira linha, com destaque para o Rio.
A ideia é aproveitar um cenário de crescimento que tem sido comum entre emergentes, como Brasil e China, que contribuíram para avanço geral.
"São Paulo está crescendo enquanto Nova York está saindo da recessão", diz John Santora -presidente mundial de clientes corporativos e investidores da Cushman- que desembarcou ontem em São Paulo, com James Underhill, presidente para as Américas.
Os preços de locação no Rio ficaram acima de Nova York, fato nunca antes registrado pela Cushman.
A média da região mais valorizada de São Paulo, a Faria Lima, fechou em US$ 80,4/ m2/ mês.

SAQUE SOLAR

A Perto, que fabrica equipamentos para bancos e comércios, como caixas eletrônicos, acaba de desenvolver um terminal de autoatendimento que funciona com energia solar.
O equipamento foi desenvolvido especialmente para o mercado indiano.
"É ideal para ser usado em países onde há muita queda de energia elétrica e grandes regiões rurais, como Índia, África, Paquistão e outros do continente asiático", afirma Thomas Elbling, presidente da companhia.
O painel solar irá alimentar gradualmente uma bateria, de carro ou de motocicleta, que será acionada quando o terminal estiver em uso. A operação de maior gasto de energia é o saque.
O terminal será apresentado em março na Cebit, feira de tecnologia, que acontece na Alemanha.
Para este ano, a Perto prevê faturamento de cerca de R$ 320 milhões.

MAIS DE US$ 10 BI EM 2016
Os gastos dos turistas estrangeiros no Brasil deverão superar os US$ 10 bilhões em 2016, devido aos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, afirma a Crowe Horwath RCS.
A partir de 2011, o aumento será de ao menos US$ 600 milhões por ano, segundo a consultoria. Em 2016, o valor chegaria a US$ 10,6 bilhões.
Outra projeção, chamada de "otimista" pela própria empresa, indica que os gastos dos estrangeiros no ano da Olimpíada serão de US$ 15,5 bilhões.
Além de sediar o maior evento esportivo do mundo em 2016, a realização da Copa do Mundo também contribuirá para atrair turistas, afirma a consultoria.
Em 2010, os estrangeiros gastaram US$ 5,9 bilhões com turismo no Brasil, 11% a mais que no ano anterior.
O resultado foi o pior crescimento do setor nos últimos oito anos, sem contar a queda de 2008 para 2009, devido à crise econômica mundial.

Pano 
As vendas do segmento de cama, mesa e banho em janeiro foram 1,5% superiores às registradas no mesmo mês de 2010, na região da rua 25 de Março, segundo o Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de São Paulo.

Força...
As inscrições para a terceira temporada do programa "10.000 Mulheres", da Goldman Sachs, terminam na próxima segunda-feira, em São Paulo. Serão oferecidas cem vagas gratuitamente às mulheres empreendedoras.

...feminina 
O curso foi desenvolvido a partir de uma pesquisa que relacionou a maior participação das mulheres no mercado de trabalho com uma expansão de 9,1% do PIB per capita até 2030.

Com Joana Cunha, Alessandra Kianek e Vitor Sion