sexta-feira, julho 01, 2011

BARBARA GANCIA - Sodoma e Gomorra 2.0

Sodoma e Gomorra 2.0
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11 

Lamento informar, mas a Parada Gay de São Paulo não é esse motivo todo de orgulho que dizem


O RIO TEM a praia e a Marquês de Sapucaí e São Paulo tem o shopping Cidade Jardim com sua beleza histórica e localização VIP. O Rio tem Jobim e São Paulo tem Roberto Justus. Qualquer comparação que se faça desfavorece a pauliceia a ponto de romper o baço de tanto rir, não?

Mas uma coisa nós temos que a cariocada nem sonha: a Parada Gay. A Parada Gay de São Paulo é a maior do universo. Não existe na galáxia nada que se compare. Mais de 50 milhões de pessoas compareceram à avenida Paulista no último domingo para celebrar a diversidade. Bem, quase. Foram cerca de uns dois Uruguais e meio mais uns três times do River Plate juntos.

Sem contar que a Parada Gay de São Paulo é uma imensa festa do interior. As bibas e sapas de cidadezinhas do interior que passam o ano inteiro sendo humilhadas e destratadas, que são motivo de riso e alvo de futrica acabaram dando as mãos numa imensa corrente na semana passada. Foram 90 milhões em ação, um espetáculo e tanto. Haja banheiro de rodoviária para dar conta de tamanha emoção.

Vá ver se no Rio tem uma parada gay como a nossa. Tem não. Já participei da manifestação carioca. Vão lá uns dois ou três carros de som, uns camaradas vendendo Havaianas com arco-íris, outros empurrando umas pamonhas pra cima da turma e só. Preparo de colonoscopia é bem mais animado do que a Parada Gay do Rio.

Pensando bem, a troco de que o carioca precisa se orgulhar da sua sexualidade na avenida, quando faz isso todo santo dia no baile funk, na praia ou, sabe lá, livremente na casa da tia dele?
Agora o pessoal anda discutindo se deve chamar atenção para as semelhanças ou reafirmar as diferenças da condição homossexual. A conversa é boa.

Mas temo que o debate só aconteça no papel e entre gente lida e polida. Fui cobrir o final da Parada Gay para a TVFolha e cheguei à rua da Consolação depois da chuva e da tentativa de arrastão. Encontrei um clima hostil. Metade das pessoas com quem tentei falar se recusou a mostrar a cara para a câmera e a outra fez questão de dizer que só estava ali na condição de observador. Não vi quase ninguém sóbrio. E o que tinha de gente se bulindo uma na outra?

Nesta semana, em discurso na assembleia, Myrian Rios, ex-modelo e atriz e atual deputada arrependida, confundiu gays e pedófilos. Ignorância que parece ser mais norma do que exceção.

Basta ver como agiam na parada os ditos "simpatizantes". Eles estavam lá para arrebentar. Porque aquela é a festa dos gays e, ali, naquele território, por definição, pode tudo. Está certo que cheguei em fim de festa, mas o que eu vi na Parada Gay 2011 foi algo próximo de uma suruba ao ar livre.

Nos primeiros anos, a parada tentava ser nova-iorquina. Depois, transformou-se em zoológico. Agora, "a maior parada gay do mundo" virou possivelmente uma das maiores esbórnias do planeta. Que espelha o país conservador, sem instrução e violento que a abriga.

Lamento informar, mas a Parada Gay de São Paulo não é esse motivo todo de orgulho que dizem. Por mais democrático que seja seu transcorrer, está longe de representar uma vitória para os homossexuais. O Rio de Janeiro, com a paradinha merreca dele lá, ainda tem uma sexualidade muito mais bem-resolvida.

3 comentários:

Alberto Santos disse...

Sou gay e tenho a mesma visão que você. Nunca fui à parada gay de SP mas a visão que tinha era essa, a de completa festa ao ar livre e não uma manifestação cidadã-política por direitos iguais.Se nós, gays e não gays também nos preocupássemos em fazer um protesto político com esses quase 4 milhões de pessoas do Brasil inteiro, muita coisa já teria mudado. Com certeza.

o cetico brasileiro disse...

É Barbara, o manto da lei está encobrindo todas essas esbórnias comentados. E ai de alguém reclamar dos excessos... Logo vão falar que é homofobia. Vejos esses excessos diariamente em lugares públicos (uem frequenta o ibirapuera sabe do que falo...), e agora estamos impedidos de reclamar nossos direitos, o direito ao respeito, o direito de dizer que não concorda com a postura infeliz e indelicada de muitos...

Vox disse...

"O que se fala revela mais sobre quem fala do que sobre o que se fala."
Não acho que esse texto (de péssima qualidade para quem alega ser jornalista)revela homofobia por parte de quem o escreveu.
Revela sim uma carga enorme de frustração, péssimo humor,inveja da alegria e da liberdade alheia.
A "jornalista" não é homofóbica é apenas uma senhora infeliz que disfarça sua frustração com ironia.