sexta-feira, agosto 27, 2010

MÔNICA BERGAMO

Beto Martins
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/08/10 

DJAVANIZANDO O cantor Djavan lança nesta semana o disco "Ária", com músicas que não são de sua autoria; entre as canções escolhidas está "Palco", de Gilberto Gil, que foi escolhida para virar clipe; as cenas de bastidores das gravações ficarão disponíveis no site do compositor 

PELOTÃO PAULISTA 

O empenho do presidente Lula em SP tem outra explicação, além de tentar alavancar Aloizio Mercadante ao governo de SP: é no Estado que ele pretende tirar a diferença entre as bancadas de deputados do PT e do PMDB a serem eleitas em outubro. Os dois partidos calculam que os petistas podem eleger até 18 parlamentares paulistas, contra três do PMDB. A performance compensaria vantagem que os peemedebistas devem levar em Estados como Ceará, Rio, Goiás e Maranhão. 

FOICE 
A maior bancada de deputados sai na frente para eleger o futuro presidente da Câmara, em 2011. No PT já há articulações em torno de Cândido Vaccarezza (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), que tentam se reeleger. 

QUINTAL 
A possibilidade de José Serra (PSDB) perder para a presidenciável Dilma Rousseff (PT) na cidade de São Paulo, como indica o Datafolha, dificulta o plano que parte do PSDB já traçava para ele em caso de derrota nacional: ser candidato a prefeito em 2012. "Fica difícil", diz um tucano próximo. Hoje Dilma tem 41% na capital, contra 35% de Serra. 

NOSSO GORDO 
Ronaldo deve receber o título de cidadão paulistano no dia 31, no vale do Anhangabaú, em SP, no show do centenário do Corinthians. 

LULA EM CAMPO 
E o apoio do presidente Lula, que está "estimulando" a Odebrecht a construir um estádio para o Corinthians, incomodou dirigentes de outros clubes. "Também quero", disse um deles à coluna. Palmeiras e São Paulo farão reformas em suas arenas. 

ROBERTO SÓ DELAS 
Roberto Carlos proibirá a entrada de homens em um de seus próximos shows. Só mulheres poderão assistir à apresentação que ele fará no dia 21 de novembro no Anhembi. "Porteiros, garçons, engenheiros de som, todos os cargos serão ocupados por mulheres", diz Dodi Sirena, empresário do cantor. A exceção será aberta aos músicos da banda do cantor. Uma orquestra de cordas só de mulheres aumentará a presença feminina no palco. 

MADRINHA 
A ideia do show, diz Dodi, foi de Hebe Camargo. A renda será revertida para uma entidade voltada para a prevenção de doenças como o câncer de mama. 

ACESSO 
A associação AME Jardins entregará aos comerciantes e moradores dos Jardins cartilha pedindo a adequação de calçadas para o acesso de pessoas com dificuldades de locomoção. Ela foi elaborada em parceria com a vereadora Mara Gabrilli (PSDB-SP). Ela, que é cadeirante, andou pelas ruas do bairro e constatou problemas como elevações e degraus, pisos irregulares e ausência de rampas. 

AS BELAS DA TARDE 

A ex-modelo Mariana Weickert reencontrou colegas como Ana Claudia Michels e Marcelle Bittar no lançamento da coleção de verão da grife Alór, da qual é sócia com Francine Taulois, anteontem à tarde, no Itaim Bibi. 

LIDANDO COM NÚMEROS 

A cerimônia de entrega do Prêmio Economista do Ano reuniu personalidades da área e empresários no espaço Rosa Rosarum, nesta semana. Quem levou o prêmio principal foi Marcos de Barros Lisboa, do Itaú Unibanco. 

CURTO-CIRCUITO 

Clô Orozco apresenta a coleção de verão da Huis Clos hoje, às 14h, nas lojas da marca. 

Tulipa Ruiz e a cubana Yusa fazem show hoje, às 21h, no Memorial da América Latina. Classificação: livre. 

Isabela Capeto lança hoje nova coleção de sua grife. 

Ronaldo Fraga realiza desfile de sua marca infantil hoje, às 20h, no Fashion Weekend Kids, no shopping Iguatemi. 

com DIÓGENES CAMPANHA, LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA 

SERRA PRESIDENTE

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Uau! Dilma é a Mulher Cabide!

JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/08/10


E os lulistas estão de salto alto. Não dizem mais "bom dia". Acordam e gritam: "Bom Dilma!"

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-Geral da República! Ereções 2010! E na Bahia tem um candidato chamado Bomba! E sabe qual o slogan dele? "Bomba no Congresso Nacional!" Rarará! E sabe como se faz um frango à Maluf? Primeiro, rouba o frango. Depois, você faz como quiser mesmo.
E manchete do sensacionalista: "Dilma sobe mais e Serra já pode ver sua calcinha". A calcinha da Dilma não. Poupe-me dos detalhes sórdidos! A Dilma é a Mulher Cabide! Vive pendurada no Lula. A Dilma é a sogra do Brasil! Antes de casar, é uma maravilha. Casou, já começa a mandar: "Não trabalha mais, isso é hora de chegar em casa, porra?!".
E o Serra ganha em três capitais: Higienópolis, piscina do Clube Pinheiros e Country Club do Rio! E o Serra tá ganhando em Curitiba porque ele é tão animado quanto o Carnaval de Curitiba. Rarará! E um leitor me disse que a Dilma, a dona Marisa e a Marta juntas parecem os Três Porquinhos!
E já que o Tiririca pode ir pro Congresso, o Lula devia ir pro "Show do Tom"! Pra sempre. Rarará! E o Serra diz que vai dobrar o Bolsa Família. Dobrar e guardar. Rarará! E os lulistas estão de salto alto. Não dizem mais "bom dia". Acordam e gritam: "Bom Dilma". Rarará!
E o OTÁRIO ELEITORAL? E o Quércia? "Quero xer o xenador do futuro!" E um amigo meu quer xerar a xereca da Xakira. E eu quero doar uma dentadura seminova pro xenador do futuro! E com esse ar seco o Quércia não tá mais cuspindo, tá assoprando! E a piada mais infame que corre no Twitter: "O Dolabela atirou um celular na cabeça da mulher. AAAAAIphone".
E eu sou candidato a presidente pelo Partido da Genitália Nacional! PGN! Indecisos e indecentes, votem em mim pra presidente! Vote PGN e não complique. Vai deixar de votar no Simão pra votar no Tiririca?
Já tenho quatro projetos: vaga de corno para estacionamento em shopping, legalização da profissão de Ricardão, acabar com a lei da gravidade que ainda nos prende ao chão e Bolsa Hortifruti: todo brasileiro terá direito a uma mulher fruta! Rarará!
Inclusive o senador Suplicy, que tá pedindo pra gente votar na Mulher Pêra. É verdade. Ele aparece todo sério, ético, e fala: "Recomendo a Mulher Pêra para o Congresso Nacional". A situação tá ficando psicodélica. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA

RUY CASTRO

Fuga para o vencedor

RUY  CASTRO


FOLHA DE SÃO PAULO - 27/08/10


Em 1984, quando se estabeleceu que Tancredo Neves e Paulo Maluf disputariam a presidência no Colégio Eleitoral (formado pelos deputados e senadores), o quadro parecia óbvio. Tancredo atrairia os democratas, os patriotas, os que queriam o Brasil de volta para fazer dele um novo país. Com Maluf ficariam as raposas, os fantasmas da velha ordem, os oportunistas, os que se locupletaram com os militares no poder.
Ou seja, Tancredo atrairia o voto ideológico; Maluf, o fisiológico. E, como o Congresso já era então um viveiro de fisiológicos, não seria surpresa se Maluf vencesse.
Mas, em poucas semanas, quando ficou claro que o povo, esgotado por 21 anos de ditadura, queria respirar, eles decidiram que Tancredo deveria ganhar. Donde deu-se a maciça migração de votos. Em de 15 de janeiro de 1985, Tancredo foi eleito por massacrantes 480 votos contra 180 de Maluf. O que acontecera? O Colégio Eleitoral ficara súbita e corajosamente ideológico?
Não, era o contrário. Os fisiológicos é que abandonaram seu mentor e se grudaram naquele que despontava como vitorioso. A equação se invertera. Com Maluf, ficaram os malufistas sinceros e radicais – logo, ideológicos. Já Tancredo assimilou todos os demais: as raposas, os fantasmas da velha ordem, os oportunistas etc., assim como já assimilara José Sarney como seu vice.
O mesmo está acontecendo hoje, com a diferença de que a eleição é direta. Ao sentir o vento soprar para Dilma Rousseff, pessoas que normalmente estariam ao lado de José Serra têm se esmerado no contorcionismo a fim de se aproximar da candidata de Lula. É a fuga para o vencedor. A cada ponto conquistado nas pesquisas, Dilma terá mais dinheiro, comícios, palanques, siglas e aliados do que Serra.
A Serra, no dia 3 de outubro, restará contar os amigos que lhe restaram – os que não se juntaram à hemorragia.

MERVAL PEREIRA

Sonho verde 

Merval Pereira
O Globo - 27/08/10


Daniel Cohn-Bendit, de 65 anos, o mítico líder dos estudantes franceses em maio de 1968 e hoje deputado em quarto mandato pelo Partido Verde no Parlamento europeu — ele diz com indisfarçável orgulho que é o único político eleito por dois países, França e Alemanha — tem um sonho em relação à eleição presidencial brasileira: quer a candidata do Partido Verde, Marina Silva, no segundo turno para debater diretamente com Dilma Rousseff, a candidata de Lula. “Este é o debate que o Brasil realmente precisa ver, para escolher o melhor programa”.

Ele diz que na Europa não se vê com grande emoção a eleição brasileira porque todos estão convencidos de que a candidata do presidente Lula vai vencer. Ao mesmo tempo, os europeus não veem muita diferença entre o PT de Lula e o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, que, aliás, foi um dos professores de “Dany Le Rouge” (por ser ruivo e socialista) naquele mesmo ano, na Universidade de Nanterre, onde a revolta estudantil eclodiu, depois se espalhando pelo país inteiro.

“São duas vertentes da mesma social-democracia. É como se fosse o partido trabalhista inglês disputando com o partido francês”.

Ele, aliás, ao fazer essa comparação revela uma crítica a partidos políticos dessa vertente, que considera culpados pelo fracasso da esquerda por não terem regulado o capitalismo.

Lula, por exemplo, CohnBendit considera o representante de uma esquerda atrasada, que esteve em voga há 30 anos na defesa do produtivismo a todo custo.

E ficou contente ao saber que Marina repetiu sua tese na quarta-feira em Porto Alegre, dizendo que Lula representava uma esquerda atrasada, que não dava a devida importância às questões do meio-ambiente.

Ele considera que o Brasil está fracassando na virada ecológica e pode pagar um preço alto por não compreender a natureza da mudança.

Por isso, acha que Marina seria a solução mais moderna para se contrapor às propostas da esquerda socialdemocrata que, acredita, Dilma e Serra representam.

“A primeira vez em que vi a Marina, achei ela toda frágil, mas quando fala tem uma força danada. Nós somos diferentes, porque a Marina é religiosa, e eu não acredito em nada. Mesmo assim, temos visões comuns”.

Daniel Cohn-Bendit não vive do passado, embora não renegue sua atuação política em maio de 68. “Eu mudei porque o mundo mudou”, diz ele, que lembra que naquele momento todas as utopias estavam abertas para a juventude, e muita coisa no mundo mudou justamente por causa da revolta dos estudantes.

Mas, hoje, está convencido de que os avanços dependem da estabilidade democrática, e não de revoluções.

Por isso não entende a esquerda latino-americana que ainda trata com reverência a revolução cubana, ou considera Hugo Chávez uma alternativa política válida.

É um crítico da política externa do governo Lula, que lhe parece movida mais por um sentimento antiamericano do que pela defesa dos valores democráticos, como os direitos humanos.

Na sua definição, Cuba representa um autoritarismo inaceitável, Chávez é o velho caudilhismo latino-americano e o Irã de Ahmadinejad, outro aliado político de Lula, o mais perigoso por ser o mais forte, com a possibilidade de ter a bomba atômica.

Cohn-Bendit acha que é até compreensível, pela história da região, um antiamericanismo, mas se espanta ao saber que Lula mantinha uma relação mais amigável com o expresidente George W. Bush do que com Barack Obama.

E também considera que, assim como o governo socialista da Espanha ajudou a libertar presos políticos em Cuba, o governo brasileiro poderia trabalhar para que os direitos humanos fossem respeitados nas ditaduras com as quais se relaciona.

Depois de se informar sobre a maneira como Lula escolheu sua candidata Dilma Rousseff, avalia que ele deve estar com intenções de tornar-se uma espécie de tutor da futura presidenta, da mesma maneira que o russo Putin escolheu para substituí-lo como primeiro-ministro Medvedev.

Mas ele não acredita que na política as coisas se passem tão linearmente: “A missa não está terminada na relação de Putin com Medvedev”, comenta Cohn-Bendit, numa expressão que mostra sua dúvida sobre se a relação dos dois não terminará em conflitos políticos como costuma acontecer entre criatura e criador.

Ele acha que, com Dilma eleita, Lula voltará a ser o líder sindicalista que tentará manter o poder: “Vai almoçar três vezes por semana com a presidenta para influir no governo”, comenta com uma ponta se sarcasmo.

Daniel Cohn-Bendit tem mandato no Parlamento Europeu até 2014, e está preparando o espírito para deixar de fazer política como atividade parlamentar depois de terminar seu quarto mandato.

Além da literatura, tema sobre o qual tem um programa na televisão suíça, ele quer se dedicar a fazer cinema, pois “preciso ter outro interesse que não apenas a política, porque senão ficarei doido”.

Um de seus projetos tem relação com a Copa do Mundo de futebol de 2014, que será realizada no Brasil: “Gostaria muito de fazer um filme sobre o tema, porque acho que haverá um problema incrível. O que acontecerá se o Brasil perder a Copa?” Cohn-Bendit diz que todos respondem que isso é impossível, “e é por isso que eu acho o tema fascinante”. Racionalmente, diz ele, o Brasil tem cerca de 40%, 50% de chances de ganhar, não muito mais do que isso.

“Não haverá 11 jogadores apenas, mas 130 milhões.

Qual é a estrutura psíquica, mental de um país que não aceita nada além da vitória como resultado final? Raramente há uma unidade dentro de um país, do mais pobre ao mais rico, todos convencidos de que o Brasil vencerá”.

Um novo Maracanazo, como o de 1950 quando Brasil perdeu para o Uruguai no final da Copa, “será cem vezes maior”, diz Cohn-Bendit, que considera mais fascinante ainda a possibilidade de em 2014 o próprio Lula estar concorrendo novamente à Presidência.

SERRA PRESIDENTE

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO


O crime continuado do PT
EDITORIAL
O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/08/10

Foi preciso uma decisão judicial, tomada na terça-feira, para que o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, pudesse exercer o direito elementar de acesso ao inquérito instaurado na Corregedoria-Geral da Receita para apurar a devassa nas suas declarações de renda - cópias das quais foram parar em mãos de pessoas ligadas à campanha da candidata petista Dilma Rousseff. E só assim o País ficou sabendo, já tardiamente, que o sigilo fiscal de outros contribuintes também foi quebrado na mesma ocasião, com a mesma sórdida intenção de atingir o candidato tucano ao Planalto, José Serra.

Em 16 minutos, na hora do almoço do dia 8 de outubro de 2009, na delegacia do Fisco em Mauá, na Grande São Paulo, foram abertas e impressas as declarações do ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique, Luiz Carlos Mendonça de Barros; do arrecadador informal da campanha de Serra ao Senado em 1994 e em seguida diretor da área internacional do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira; e do empresário Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima de Serra.

Os sistemas de controle da Receita identificaram como pertencendo à analista fiscal Antonia Aparecida Neves Silva a senha utilizada para a invasão no computador da servidora Adeilda Ferreira dos Santos. Antonia, contra quem foi aberto processo administrativo, admitiu ter passado a senha a Adeilda e a outra colega, Ana Maria Caroto Cano. Todas negam envolvimento no caso. O processo depende de uma perícia que não tem data para terminar. É incerto igualmente se aparecerão os nomes dos autores e mandantes do crime. Se aparecerem, não será antes da eleição.

O que parece fora de dúvida é que a devassa foi ordenada de dentro do apparat petista para a formação de um dossiê a ser eventualmente usado contra Serra, conforme revelado pela Folha de S.Paulo, que teve acesso ao material. Na campanha de 2006, quando ele concorria ao governo paulista, o coordenador da campanha do então candidato ao Senado pelo PT, Aloizio Mercadante, envolveu-se com a malograda tentativa de um grupo de companheiros de comprar uma papelada para atacar o tucano. Eles foram presos em flagrante com uma bolada de dinheiro. O presidente Lula limitou-se a chamá-los de aloprados.

Não se sabe se desta vez também há dinheiro envolvido na sujeira afinal desmascarada. Ainda que haja, deve ter prevalecido na montagem da operação o mais autêntico espírito partidário do vale-tudo para tomar e permanecer no poder, como, por palavras e atos, o próprio Lula ensina sem cessar à companheirada. Esse espírito está na origem do mensalão, do escândalo dos aloprados e das demais baixarias que vieram à tona nestes 8 anos. Do PT se pode dizer, parafraseando uma citação clássica, que nada esqueceu e nada deixou de aprender em matéria de vilania política.

Aprendeu, sobretudo, que os fins não apenas justificam os meios, mas dependem de meios eficazes para ser alcançados. O principal deles é o controle - no sentido mais raso do termo - da máquina pública. Dos muitos objetivos a que serve o aparelhamento do Estado, um dos mais importantes é criar um disseminado e leal "exército secreto", como já se escreveu nesta página, pronto para fazer os trabalhos sujos que dele se demandem. A ordem tanto pode partir dos mais altos escalões do governo ou do partido como resultar da iniciativa de indivíduos e grupos que conhecem as regras do jogo na casa e sabem a quem recorrer numa ou em outra circunstância.

No caso da violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB e a Serra, é até possível que Dilma só viesse a saber dela quando já estava em curso ou depois de escancarada. O que teria sido possível graças a inconfidências de membros da campanha em conflito com o setor de onde parece ter partido a decisão de arrombar o cofre de informações da Receita. Mas, na ordem das coisas que contam, o essencial, o assustador, é que se constituiu no governo uma rede de agentes que a qualquer momento pode funcionar como uma organização criminosa.

Essa estrutura, que se nutre do próprio Estado em que se encastelou, só deverá se fortalecer com a provável vitória da candidata presidencial do PT.

DORA KRAMER

Continuísmo 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 27/08/2010

O presidente Luiz Inácio da Silva não se aguenta: morre pela boca, mas nunca deixa passar uma excelente oportunidade de ficar calado.


Na quarta-feira teve duas chances e aproveitou as duas. Na primeira, contou em público uma versão mentirosa de um episódio ocorrido há oito anos, em que posou de vítima de preconceito por parte do diretor editorial do jornal Folha de S. Paulo. Isso apesar de as testemunhas estarem bem vivas para contestar.

Na segunda vez, discursava aos militares sobre a nova lei que reforça a estrutura do Ministério Defesa quando do coração lhe brotaram as palavras de lamento - sempre "em tom de brincadeira" - por não ter enviado uma "emendinha" propondo ao Congresso "mais alguns anos de mandato".

Note-se que não se referiu a disputa, mas a extensão.

O presidente Lula não se segura. De vez em quando externa o que lhe vai às profundas da alma, coisas que jamais esquece: a derrota da CPMF e a impossibilidade de ter aprovada a chance de alcançar um terceiro mandato sem traumas institucionais.

O problema com o imposto do cheque não é o dinheiro. Isso não faz falta ao governo. Lula não se conforma é com a derrota política que o fez perceber a impossibilidade de aprovar a emenda do terceiro mandato no Senado.

Assuntos sobre os quais nunca cogitamos não vêm à tona assim sem mais nem menos. Muito menos um tema como esse.

Ultimamente o presidente vem fazendo referências cruzadas a respeito. Lamenta o fim do segundo mandato, diz o quanto ficará saudoso do poder, insinua influência permanente no governo da "presidenta" que já considera eleita e ordena à tropa que empenhe todo esforço na eleição de uma bancada gigante de senadores.

De preferência derrotando todos aqueles que lhe fizeram oposição mais aguerrida. Não quer só maioria, quer vingança.

E para quê, se chega ao fim o seu tempo?

Aí é que está. Se realmente conseguir eleger Dilma a Lula parecerá que pode conseguir qualquer coisa. Maioria no Senado, voltar à Presidência em 2014, exercê-la de fato até lá com o beneplácito da "presidenta" de direito.

Por que tanta vontade de ter maioria no Senado, qual o projeto que indica essa necessidade?

No caso de Dilma não se aplica o preceito de que a criatura dá adeus ao criador tão logo assuma o poder. Ocorre quando o criador não tem o controle real das coisas, a começar pelo partido e pela figura que atua no imaginário popular.

Se ousar contra ele, a criatura sabe que a tempestade não lhe será leve.

Muito além. Não é (só) a liberdade dos humoristas que está sendo violada com as proibições impostas pela Lei Eleitoral. São as garantias de toda a sociedade, além da Constituição como fiadora da liberdade de expressão.

De onde é louvável a iniciativa da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão de entrar com ação direta de inconstitucionalidade contra o veto ao exercício da crítica política nos 90 dias que antecedem as eleições.

Lamentável é terem se passado 13 anos de (quase) total insensibilidade com a violência da lei, a despeito dos isolados reclamos.

Meta comum. Os caminhos são diferentes, mas o objetivo dos governos da Venezuela, da Argentina e do Brasil é o mesmo: tutelar a sociedade e assegurar trânsito livre de críticas aos respectivos projetos de poder, por intermédio do controle da informação.

O governo Lula ensaia, recua e insiste em manietar a imprensa por meio de instâncias colegiadas e sugestões corporativas. Os Kirchner alteram as leis para prejudicar os grandes grupos de comunicação.

Chávez é explícito. Hoje prende e arrebenta, mas nem sempre foi assim, embora caminhe nesse sentido desde o início. Os fascinados por "governos do povo" - os bem-intencionados, não os vendidos - é que não percebem o andar da carruagem do autoritarismo.

Só se dão conta e protestam quando suas vozes já não podem mais ser ouvidas.

GOSTOSA

PAINEL DA FOLHA

Assombração
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/08/10 

O novo Datafolha sobre a sucessão paulista, que mostra Geraldo Alckmin (PSDB) estável na liderança isolada e Aloizio Mercadante (PT) em ascensão exclusivamente devida à queda de Celso Russomanno (PP), será recebido com algum alívio pelos tucanos. 
A campanha de Alckmin entrou em alerta máximo com a pesquisa na qual Dilma Rousseff (PT) aparece pela primeira vez à frente de José Serra (PSDB) no Estado. Em privado, seus integrantes reconhecem que ninguém sabe o tamanho da onda na qual surfa a candidata de Lula, e que, se ela for capaz de carregar Mercadante até o segundo turno, o risco será grande. 


Aerodilma De um cardeal petista, em resposta a quem lhe pergunta se a vantagem aberta por Dilma dará a ela mais chance de ajudar aliados em dificuldades, como Mercadante: "Não tem como botar muita gente na carga, senão o avião corre o risco de perder altitude". 

Especial De todas as conclusões do novo Datafolha, a que Lula mais festejou foi a dianteira assumida por Dilma em SP. Já está decidido que o encerramento da campanha será no Estado. 

Nem vem Em dois Estados, a recusa dos candidatos a governador aliados ao pedido para incluir Serra na propaganda de TV foi, no dizer de um coordenador da campanha, "quase formal": Minas e Rio Grande do Norte. 

Cash De um aliado de Serra, sobre o quadro atual: "Agora, a única chance de ele não ser completamente abandonado nos Estados é o PSDB começar a ajudar financeiramente as campanhas locais". O problema é que, em casos de desvantagem tão acentuada, muitas vezes o dinheiro vai e mesmo assim o apoio não vem. 

Sem estímulo Dilma tem hoje intenção de voto espontânea (35%) maior do que a obtida por Serra na pergunta estimulada (29%). 

Arquivo De Dilma, em 28 de junho, respondendo no "Roda Viva" a pergunta da Folha sobre a violação do sigilo fiscal de Eduardo Jorge: "Enquanto vocês não demonstrarem a prova, é uma acusação, do nosso ponto de vista, infundada". Anteontem, a Corregedoria da Receita atestou que foram violados os sigilos não apenas do vice-presidente do PSDB mas também de outras três pessoas ligadas ao partido. 

Misturado 1 Entre os gaúchos que votam em Serra, 40% escolhem José Fogaça (PMDB) para governador; 27% preferem Tarso Genro (PT); apenas 21% ficam com a tucana Yeda Crusius. 

Misturado 2 Dos simpatizantes do PDT, 42% declaram voto em Tarso, enquanto 38% preferem Fogaça. O vice de Fogaça é o deputado pedetista Pompeo de Mattos. 

Misturado 3 No Paraná, 45% dos eleitores de Dilma escolhem Osmar Dias (PDT), o candidato a governador aliado à petista, e 42% preferem Beto Richa (PSDB). 

Vaivém Dança das cadeiras na cota do PMDB quercista no primeiro escalão do governo de São Paulo: José Carlos Tonin, ex-prefeito de Indaiatuba, é o novo secretário estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, no lugar de Luiz Carlos Delben Leite. 

Visita à Folha Milú Villela, coordenadora do Comitê de Articulação do Compromisso Todos pela Educação, presidente do Museu de Arte Moderna de SP e do instituto Itaú Cultural, visitou ontem a Folha. Estava com Mozart Neves Ramos, membro do conselho do comitê. 
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELLI 

tiroteio 

É o efeito da pedra no lago. O presidente Lula lançou a pedra, e agora as ondas começam a atingir todo o país. 
DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre o avanço de Dilma Rousseff em regiões e segmentos do eleitorado nos quais antes José Serra liderava. 

contraponto 

Na pia 

Em discurso no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lula lembrou que, diante da crise nos EUA, estimulou o consumo interno: 
-Desoneramos geladeira, fogão, máquina de lavar roupa. A mulherada deu um banho de comprar... 
Lula arrematou com a lavadora de louças: 
- Ninguém gosta de lavar louça. Uma maquininha ajuda "pacas". Lá em casa não precisa, porque o marido faz, mas onde o marido não tem a compreensão que tem na minha casa, a mulherada foi às compras! 

SERRA PRESIDENTE

WASHINGTON NOVAES



As enchentes paulistanas e a teoria do ''já que''

Washington Novaes 
O Estado de S.Paulo - 27/08/10

São graves as preocupações manifestadas por editorial deste jornal (A proteção dos mananciais, 15/8, A3) em relação às modificações do Plano Diretor de São Paulo que permitirão a construção de novos conjuntos habitacionais verticais para 4 mil habitantes do entorno dos Reservatórios Billings e Guarapiranga. O primeiro abastece 1,2 milhão de paulistanos; o segundo, 3,8 milhões. Billings já perdeu, com as ocupações irregulares, 12 quilômetros quadrados de seu espelho d"água e recebe 400 toneladas diárias de lixo; Guarapiranga tem 1,3 milhão de moradores no seu entorno.

O Ministério Público estadual já considerou a decisão um "desastre administrativo". E ela segue a linha aberta pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que, com o pretexto de permitir a implantação de saneamento, admitiu a legalização de ocupações humanas em áreas de preservação permanente (APPs). É o que o autor destas linhas tem chamado de teoria do "já que": já que não se consegue impedir a ocupação ilegal, para evitar uma parte do problema - esgotos a céu aberto ou contaminando lençóis subterrâneos - permite-se o que é considerado o mal menor, a legalização, pois sem esta não seria possível implantar o saneamento; se este é concretizado ou não depois, é outra questão...
Não se pretende aqui minimizar o problema, que é imenso e dramático. Ainda há poucos dias, num simpósio promovido pelo Instituto de Engenharia de São Paulo para discutir a questão de enchentes na cidade, com a participação de secretários e subsecretários paulistas e paulistanos, além de professores universitários, ficaram patentes as dimensões gigantescas de todos os ângulos desse e de outros problemas de um conglomerado de quase 20 milhões de pessoas, das quais quase 2 milhões (400 mil famílias) vivem em favelas, 1,2 milhão em áreas de preservação (mais 38% em quatro anos).
Quem pensa (corretamente) em descentralização como forma de administrar mais de perto as questões esbarra em números como o de subprefeituras que já têm em sua área quase 800 mil pessoas - população de muitas capitais brasileiras. Quem tenta resolver os problemas aparentemente gerados por determinados rios ou córregos logo verifica que esses problemas nascem a montante, em outras subprefeituras, ou até muito longe (na região metropolitana há 300 córregos e 70 rios sepultados sob o asfalto). A limpeza de córregos exigiu, pelo último balanço, trabalhos em mais de 2.600 quilômetros - e três anos depois o trabalho teve de ser executado de novo em muitos lugares . Para limpar pelo menos três vezes por ano as 1.117.086 bocas de lobo existentes na capital é preciso trabalhar em pelo menos 3.060 delas a cada dia do ano. A varrição de ruas exige que se trabalhe em 17 mil quilômetros. No corte de grama são 63,4 mil metros quadrados. É preciso coletar 16 mil toneladas diárias de lixo, mais 3 mil toneladas de entulhos. A Operação Cata-Bagulho recolheu em 2009 mais de 100 mil toneladas. A área de saneamento tem avançado, mas quase um terço dos esgotos coletados de habitantes da capital não é tratado e 6% da população ainda não tem suas casas ligadas às redes coletoras. Mais de 20% da água que sai das estações de tratamento continua a se perder em furos e vazamentos na rede de distribuição. Buscar mais água só seria possível a distâncias enormes, com custos estratosféricos.
Num quadro com essas dimensões, é tarefa descomunal o enfrentamento de enchentes, embora já se disponha de um sistema integrado de alerta, com 180 estações de monitoramento, capazes de observar a sequência de dias chuvosos e emitir avisos prévios do risco de inundações. Principalmente nestes tempos de "eventos extremos" intensificados por mudanças climáticas - como os de dezembro de 2009, quando caíram 90 milímetros de chuva em 18 horas (8/12) e duas semanas depois (21/12) mais de 60 milímetros em seis horas. O solo impermeabilizado, redes de drenagem insuficientes, inexistentes ou entupidas não dão conta de tal volume de água (90 milímetros de chuva significam quase 100 litros de água por metro quadrado de solo).
Está cada vez mais claro que são indispensáveis mudanças radicais. Embora não resolva toda a questão, a descentralização administrativa é imperiosa, para estar mais perto dos problemas. Mas a resistência da corporação política é muito forte. Pode-se lembrar o episódio, já mencionado neste espaço, de quando a Universidade de São Paulo fez um projeto nessa direção e o ofereceu à Câmara Municipal. Previa a criação de várias regiões, cada uma delas com orçamento autônomo, e sua gestão - inclusive o poder de decidir que obras ou programas executar - caberia a um conselho distrital, com a participação de representantes diretos da sociedade. Foram aprovadas apenas a descentralização e a criação de cargos - não o orçamento autônomo nem a participação da sociedade.
É preciso tomar consciência da urgência das decisões. A população crescente, a complexidade progressiva das questões indicam com clareza que tudo se agravará com o tempo. Não há soluções mágicas. Mas o enfrentamento positivo exigirá que a sociedade deixe apenas de reclamar e participe das decisões. Fazendo opções, inclusive sobre a geração de recursos por meio do pagamento de impostos - e fiscalizando também a arrecadação e a aplicação.
Infelizmente, a atual campanha eleitoral mostra que estamos distantes até da discussão dessas dimensões do problema, quanto mais da proposta de soluções. Só que a população pagará o preço - quanto mais demorar, mais difícil será. Nem adianta sonhar os sonhos que duas pesquisas de opinião na Grande São Paulo já mostraram, com dois terços da população dizendo-se desejosos de se mudar para outros lugares - exatamente por causa dos problemas comentados linhas atrás.
Que lugares poderiam receber 12 milhões de pessoas?