domingo, junho 06, 2010

AUGUSTO NUNES

 As milícias comandadas pelos generais da banda podre só conseguem matar de rir

AUGUSTO NUNES
VEJA ON-LINE - 6 de junho de 2010

Em junho de 2005, dias depois de despejado da Casa Civil pelo escândalo do mensalão, o deputado José Dirceu incorporou o guerrilheiro de araque num encontro da companheirada em São Paulo e caprichou na discurseira beligerante: ”Vou percorrer o país para mobilizar militantes do PT, dos sindicatos e dos movimentos sociais”, preveniu.  ”Temos de defender o governo de esquerda do presidente Lula do golpe branco tramado pela elite e por conservadores do PSDB e do PFL”. Passou as semanas seguintes mendigando socorro até aos contínuos da Câmara, teve o mandato cassado em dezembro e deixou o Congresso chamando o porteiro de “Vossa Excelência”.
Passados cinco anos, o sessentão que finge perseguir o socialismo enquanto corre atrás de capitalistas com negócios a facilitar tirou do armário a espingarda com balas de festim e declarou-se pronto para mais um combate que não travará. Ao saber da quinta multa aplicada ao presidente fora-da-lei, descobriu que a turma do golpe branco voltou à ativa e já se infiltrou no Tribunal Superior Eleitoral. “A direita está tentando usar o TSE para transformar o presidente Lula em refém, impugnar a candidatura de Dilma Rousseff e recuperar o poder”, informou. “O que os partidos conservadores estão fazendo é golpismo”.
No momento, Dirceu só comanda o regimento de mensaleiros que luta no Supremo Tribunal Federal para livrar-se da cadeia. Mas está preparado para liderar a contra-ofensiva dos milicianos do PT e dos movimentos populares se os adversários continuarem recorrendo à Justiça e se os ministros teimarem em aplicar multas que o multado paga com deboche. Convém ao TSE, portanto, promover o presidente a Primeiro Inimputável, esquecer os crimes que coleciona em parceria com a sucessora que inventou e deixar o casal em campanha delinquindo em paz.
Mas só garantir a candidatura da afilhada do chefe não basta, emendou o deputado Paulo Pereira da Silva, conhecido pela alcunha de “Paulinho da Força”, num encontro de representantes de centrais sindicais. O eleitorado poderá votar em qualquer concorrente, desde que seja Dilma Rousseff, avisou um prontuário que, em vez de abrir o bico em interrogatórios policiais, faz ameaças em comícios ilegais. “Como é que esse sujeito vai ser presidente da República?”, berrou Paulinho da Força. E se a proibição for ignorada por José Serra? “Vamos ter um conflito na sociedade brasileira com esse sujeito lá”, advertiu o orador que enriquece administrando simultaneamente a Força Sindical, o PDT paulista, um gabinete no Congresso e meia dúzia de ONGs malandras.
Ou o Brasil se dobra à vontade do Grande Pastor, estão advertindo os sacerdotes comparsas, ou a seita dos devotos de Lula tornará o país ingovernável. E que ninguém se atreva a acionar os instrumentos de defesa do Estado de Direito. Como informa a novilíngua do stalinismo farofeiro, usar a polícia para conter badernas é “repressão política”. Lembrar que, por determinação constitucional, cumpre às Forças Armadas neutralizar ameaças à ordem democrática é coisa de golpista. Se alguém ousar desafiá-la, a companheirada convulsiona o país.
Convulsiona coisa nenhuma. Os profissionais da fraude estão apenas blefando, convencidos de que o País do Carnaval continua a confundir fato e fantasia. Qualquer torcida organizada mobiliza mais militantes que o PT. As assembleias sindicais são tão concorridas que uma reunião de condomínio. Sem as duplas sertanejas, os brindes e a comida de graça, as comemorações do 1° de Maio juntariam menos gente que quermesse de lugarejo. Os movimentos sociais morreriam de inanição uma semana depois de suprimida a mesada federal. Tropas formadas por milicianos sob o comando de Dirceu, Paulinho da Força e outros generais da banda podre só podem matar de rir.
O que espera o Ministério Público para apanhar a luva atirada pelos farsantes? O que há com o Judiciário que não paga para ver? A tibieza do TSE sugere que o blefe, concebido para que velhos oportunistas e esquerdistas psicóticos ganhem tempo, ganhem força real e vençam pela rendição sem luta, segue seu curso. Os ministros talvez se sintam intimidados pela falácia do “presidente mais popular da história”. Deveriam convidar o colosso de popularidade a aparecer também fora das pesquisas.
Desde a vaia do Maracanã, Lula só se apresenta para plateias domesticadas. Na sexta-feira, foi apupado por uma multidão indignada com o atraso do almoço gratuito. O filme sobre o Filho do Brasil deveria deixar bilionários os autores da ideia. Estão todos correndo atrás do prejuízo. Se Lula e Dilma fossem enquadrados pela Justiça, o brasileiro comum seria tão solidário com os punidos como um auditório de Sílvio Santos com o calouro reprovado pelo júri.
Em 25 de outubro de 1978, quando o resgate do Estado de Direito era apenas um brilho no olhar dos democratas garroteados pelo AI-5, o juiz federal Márcio José de Moraes condenou a União pela morte de Vladimir Herzog, assassinado três anos antes por agentes da ditadura. Mais de 30 anos depois, o sequestro do Estado de Direito ainda é só um brilho no olhar dos liberticidas e o governo não pode, por enquanto, recorrer a instrumentos de exceção, mas não apareceu nenhum juiz disposto a fazer, sem riscos, o que fez Márcio Moraes cercado de perigos reais e imediatos.
Para que fique em frangalhos a fantasia dos assassinos da democracia, só faltam juízes decididos a enfrentar, em nome da lei e da razão, um presidente que zomba dos demais Poderes e afronta a Constituição que jurou proteger.

DANUZA LEÃO

Sexo e batina
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/06/10


PEDOFILIA, um crime abominável. Será que há mais pedófilos agora do que em outros tempos? Claro que não. Desde que o mundo é mundo, tios seduzem sobrinhas, pais seduzem suas próprias filhas e sempre existiram casos escabrosos no seio da Santa Madre Igreja, só que dessas coisas não se falava.
Quem nunca ouviu contar que numa cidadezinha perdida uma adolescente teve um filho do seu próprio pai? Uma criança que passa por esse tipo de abuso não entende o que está acontecendo, e se entendesse e contasse para a mãe, provavelmente seria chamada de mentirosa.
E contar o quê? Que aquele homem tão respeitado tinha segurado ela no colo e acariciado suas perninhas, de maneira exatamente igual -para ela- à sua própria mãe, sua própria avó?
Pedofilia, para acontecer, costuma ter a ver com poder. Diante de uma criança, o poder de um pai, de um médico, de um adulto conhecido, é imenso; imagina o de um padre. O que é dito num confessionário pode ser muito erótico, sobretudo se o padre puxar pela língua da criança. Mas uma coisa sempre me intrigou: nunca se ouve falar em crime de pedofilia praticado por mulher.
Há alguns anos houve um episódio nos EUA de uma professora que, acusada de manter relações com aluno de 16 anos, foi julgada e condenada. Quando saiu da prisão, ele já era maior de idade; foram morar juntos, tiveram um filho, e só não sei se foram felizes para sempre. Mas sinceramente: achar que um garotão de 16 anos foi seduzido por uma mulher de 28 é apenas ridículo.
Pelo que os fatos têm demonstrado, a pedofilia é doença, e doença incurável. Não adianta achar que a solução é ser tratado por psicólogos. É totalmente irreal imaginar que em um país como o nosso, onde as prisões são jaulas tenebrosas e superpopulosas, um pedófilo vai ser "tratado" e se curar; tanto quanto é delírio pensar em monitorar os presos que saem para passar o Natal com a família, fazendo com que eles usem a pulseirinha que permite o seu rastreamento. Prepare-se: a licitação seria dispensada, as pulseirinhas custariam uma fortuna e pouco tempo depois estariam à venda nos camelôs da cidade, com o manual de instruções ensinando a como driblar a polícia.
Os padres têm sido muito acusados de pedofilia, ultimamente, mas pense um pouco: jogar num seminário um garoto de 16, 17 anos, com os hormônios explodindo, e pretender que ele se mantenha casto para o resto da vida -não, isso não pode dar certo. É contra a natureza, e como é mais difícil para os padres seduzir mulheres, já que não convivem com elas, acaba sobrando para os garotos. Um belo dia, muito tempo depois, um deles resolve contar o que aconteceu na penumbra de uma sacristia e vira um escândalo. E os casos de que nunca vamos saber, que devem ser milhares?
Os padres precisam casar; não é justo deixá-los passar a vida em abstinência. Mas como seria para um padre começar um namoro? Convida para um chopinho, leva a garota para dançar? E motel depois, pode?
Eu conheço uma moça que namorou um padre; tudo começou por telefone, e ela gostou tanto, mas tanto, que dizia, para quem quisesse ouvir, que nada como um padre que tivesse guardado a castidade durante anos para acalmar as tensões, digamos assim, de uma mulher solitária.
A única coisa que ela não me disse (e eu esqueci de perguntar) é se ele usava batina.

GOSTOSA

JOÃO UBALDO RIBEIRO

A Misteriosa Sabedoria Oriental


JOÃO UBALDO RIBEIRO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/06/10
Por não saber bem do que se trata, já que existe uma infinidade de culturas e subculturas muito diferentes entre si, mas que podem ser chamadas de orientais, sempre procuro evitar contatos mais aprofundados com a Misteriosa Sabedoria Oriental, particularmente em certas circunstâncias como, por exemplo, nas conferências que alguém sempre faz, quando se vai a um restaurante japonês. De modo geral, explica-se que a Misteriosa Sabedoria Oriental chegou à conclusão de que peixe cru é mais sadio por isso, por aquilo e por aquilo mais. Na verdade, a sabedoria oriental envolvida nisso não tem nada de misteriosa. Os japoneses inventaram maneiras atraentes de comer peixe, legumes e algas crus porque moravam e moram num arquipélago sem combustível, onde até lenha sempre foi escassa. Aí, claro, o pessoal aprendeu a comer cru e elogiar, é natural e compreensível. (Sei que tem gente que encara essa afirmação como sacrílega; cartas indignadas para o editor, por caridade.)
O setor indiano dessa grande sabedoria ? que também é variadíssimo, mas os aficionados esquecem isto ? nunca cessou de fornecer farto material, sempre superior ao que temos por aqui. Lembro um amigo maledicente que alega incapacidade para discernir o que há de superior em viver de uma dieta constituída de bosta de vaca guisada e salada de manga verde, sentado numa cadeira de pregos, na companhia de duas cobras bailarinas. Maledicência, claro, para não falar na exploração de estereótipos sem fundamento na realidade. Mas eram mais ou menos esses os ideais de algumas pessoas fascinadas pela versão indiana da Misteriosa Sabedoria Oriental com quem já conversei.
Agora, porém, creio que devo dar a mão à palmatória. A última novidade da Índia está tendo merecido destaque no noticiário. Trata-se, como vocês devem ter visto nos jornais ou na televisão, de um senhor de 83 anos que afirma estar sem comer ou beber nada há mais de 70. Os médicos que o estudam não têm elementos para contestá-lo e com certeza já deve estar havendo reuniões preliminares de pelo menos uns três grupos de interessados, para montar no Brasil centros destinados a aplicar as descobertas recém-divulgadas. Tenho até uma sugestão para o nome de uma das cadeias de jejum público que deverão surgir. Tiro o nome de "fast food". Como "fast", além de rápido, também quer dizer "jejum" em inglês, sugiro que a primeira cadeia se chame "Fast Fast" ? quero somente um porcentual modesto do faturamento. O mercado é amplo e, durante os quatro meses que durar a moda, imagino que teremos botecos transformados em salões de jejum, onde os iniciados poderão não comer nada em ambientes sofisticados e propícios à meditação, assim como não beber nada sentados a mesas em que apenas a conta será material. Engana-se quem duvida, bobeia quem não investir.
Em Itaparica, contudo, a novidade não fez muito sucesso. Na habitual discussão do Bar de Espanha, ela até foi recebida com acentuado ceticismo da parte dos mais velhos. Ainda persistem recordações dos tempos em que havia pequenos circos e alguns deles visitavam Itaparica. É dessa época a controvertida figura de Rama Shanut, o faquir de um circo que passou uma temporada na ilha. (O faquir não era a principal atração do circo. A principal atração era a rumbeira Chiquita Salguero, em cuja homenagem abro estes parênteses, na verdade uma sergipaninha muito simpática chamada Pureza, a cuja lembrança vários velhos corações ilhéus palpitam.) Rama Shanut não deitava em pregos, mas ficava sem comer, numa gaiola com quatro ou cinco jiboiazinhas. Sob a alcunha popular de Charuto, era bastante festejado, mas foi obrigado a retirar-se da ilha com alguma urgência, quando se constatou que, apesar de cobrar quarenta centavos por cabeça a quem queria vê-lo jejuar, ele engordou seis quilos, depois de três meses de inanição.
Além disso, a fome nunca foi bem um problema aqui na ilha, porque sempre se pode dar um jeito de catar a proteína nos mangues ou nos bancos de areia expostos pela vazante. E há certos refinamentos, inspirados, como os da sabedoria japonesa, pela aspereza das condições vigentes. Assim, muitos dos que anseiam por um lanchinho ou café, mas no momento não dispõem de recursos, recorrem à jacuba (também denominada maria lígia, nunca descobri por quê). Para fazer jacuba, prepara-se um "café" de chicória seca, mistura-se com um pedaço de rapadura para adoçar, acrescenta-se farinha, mexe-se bem e bebe-se rápido, para não dar tempo de a farinha se depositar no fundo da caneca. É a extraordinária criatividade do povo brasileiro, imagino eu.
Além disso, tivemos em nossa história exemplos como o do finado Nelsinho do Alto (nome mudado porque os parentes podem não gostar de vê-lo citado), que dedicou a vida, como ele próprio dizia, a comer de tudo um pouco, pelo menos uma vez. Há grandes discussões sobre o que ele efetivamente comeu em toda a sua trajetória, mas é certo que comeu diversos urubus. Não gostava muito, até porque o tempo de cozimento era muito longo, mas comia, creio que por uma questão de princípio. Não duvido que alguns seguidores seus ainda mantenham discretamente a tradição.
Enfim, nada de realmente novo nessa história toda, talvez apenas a reação de Zecamunista. Ao saber da novidade, ele de início não disse nada, mas depois apareceu com o anúncio de que ia entrar em contato com o indiano, a fim de disseminar sua técnica entre nossos conterrâneos e futuramente tornar a ilha um polo para quem não quiser mais comer, notadamente as mulheres preocupadas com suas silhuetas.
- Mas, Zeca, quer dizer que o pessoal aqui vai passar sem comer nada?
- É, mas sem comer ninguém nunca mais. 

TUTTY VASQUES


A copa do humor involuntário


TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/06/10


A grande invasão já começou! Nos próximos dias, um exército de comentaristas esportivos toma de assalto, em definitivo, a programação de TV no Brasil. O direito de dizer ao vivo o que lhes vem à telha a qualquer hora do dia e da noite torna muito mais divertida a cobertura jornalística das copas. Seguem algumas pérolas capturadas nas transmissões de 2006, direto da Alemanha:
"A torcida grita Deutschland, ou seja, Alemanha em alemão", Cléber Machado (Globo).
"Traduzindo para o português, "toco e me voy" quer dizer não tá mais comigo", Maurício Noriega (Sportv);
"Hoje, o Felipão é tão adorado em Portugal quanto Pedro Álvares Cabral", Marinho Peres (Sportv);
"A Alemanha lembra o Rio Grande do Sul!" - Luciano do Valle (Band);
"A Copa é um ser vivo", Paulo Calçades (ESPN);
"O que Gana tem de bom na frente, tem de ruim atrás", Falcão (Globo);
"Se caprichar a coisa entra", Casagrande (Globo);
"A tomada por trás é mortal para o árbitro", José Roberto Wright (Sportv);
"Sou contra blog, mas esse negócio de palestra motivacional também é dose", José Trajano (ESPN);
"Nós, aqui, estamos em busca de Pasárgada", Márcio Guedes (ESPN);
"Se macumba fosse coisa boa, o nome não seria macumba, seria boacumba", Muller (Band);
"Faltou liderança e insubordinação", Marcelo Barreto (Sportv);
"Eu concordo com tudo que a Fátima Bernardes diz", Galvão Bueno (Globo);
"É nós na Fifa", Edu Elias (ESPN);
"Hexa doeu, Brasil!", Turma do Casseta & Planeta (Globo).
Esfriamento global

Faltou, decerto, sustentabilidade ao casamento de Al Gore. O relacionamento com Tipper chega ao fim após 40 anos de uma convivência feliz que precisa ser preservada pela separação.
Ciúmes de primeira-dama

Depois que Paul McCartney cantou para Michelle Obama na Casa Branca, d. Marisa Letícia não dá sossego a Lula. Quer porque quer que Chico Buarque vá cantar para ela no Palácio da Alvorada.
São Pauloludum

Alguns dos 14 trios elétricos que na quinta-feira animaram a Marcha para Jesus na zona norte de São Paulo voltam hoje à Av. Paulista no sacode da Parada Gay. Em matéria de mercado, o Corpus Christi na cidade já é quase tão atraente quanto o Carnaval de Salvador.
Basta!

Martinho da Vila perdeu eleições na Academia Brasileira de Letras para Geraldo Holanda Cavalcanti, que nunca escreveu um samba na vida. Por essas e por outras é que o Ziraldo desistiu de concorrer à imortalidade.
Ô, raça!

A presença da brasileira Iara Lee nos navios de ajuda humanitária atacados por Israel a caminho da Faixa de Gaza confirmam o que muita gente já desconfiava: tem cineasta paulista em todo lugar do mundo.
Peralá!

Os jornalistas italianos - ô, raça! - não têm mais o que inventar: não está rolando nada entre Dunga e a filha do Mandela. E não se fala mais nisso, ok? Só porque ele a recebeu na concentração, caramba?!
Incontestabilidade

Até que surja discurso melhor, há que se dar razão ao Lula quando diz que "pacabá com a guerra precisa de comida pacomê, pocausdequê não é com armas que se promove a paz". Pena que não dá para traduzir pro inglês, né?
Jogar sem bola

Liminar pode tirar a bola da estreia do Brasil na Copa. A CBF estuda a possibilidade do recurso jurídico, tantas foram as reclamações entre os jogadores brasileiros na África do Sul. 

GOSTOSA

FERNANDA TORRES

Crônica

REVISTA VEJA - RJ
Fernanda Torres
Dona Fernanda me ligou depois que leu minha última crônica para tentar me explicar definitivamente a profissão do meu avô, pai dela. Seu Vitorino, Vitório para os mais chegados, não era carpinteiro como eu afirmei, e sim modelador mecânico. Ela repete esse termo para mim desde que eu era criança, pensei em escrevê-lo, mas sempre o confundo com torneiro mecânico e tive receio de que pensassem que ele era bombeiro. Burrice da minha parte.
Quando minha bisavó Ana ficou viúva e precisou costurar bandeiras para sobreviver, internou meu avô, então com 7 anos, em um colégio do qual ele só saiu doze anos depois, praticamente sem ver a rua. Meu avô comia sem olhar para o lado e sem falar, resquício da educação severa do internato. Ele teve paralisia infantil e mancava quando andava, falta essa que transformou em ginga graciosa, que acompanhava com um leve cantarolar, um lari-lari inesquecível.

Seu Vitório fazia misérias com qualquer pedaço de madeira e tinha o impulso de consertar tudo o que estava quebrado. Era um ser apolíneo, doce, civilizado e amoroso. Batizou as três filhas com nomes começados em “A” para que fossem as primeiras da fila. Deixou-as ser o que bem quisessem na vida, sem nunca parar de idolatrá-las. Arlette, a mais velha, escolheu ser atriz e chegou a tirar carteira para circular na noite como as prostitutas; Aida, a do meio, virou dona de casa; e Áurea, a mais nova, mãe de santo no meio de uma família católica de origem italiana e portuguesa. Por seu tremendo sentimento de abandono e rejeição — a mãe internou somente ele, e não o irmão —, amou sua prole incondicionalmente. Era um ser profundamente espiritual; não religioso, espiritual.

No internato aprendeu carpintaria, marcenaria e finalmente o topo da pirâmide do ofício da madeira: a modelagem mecânica. Vitorino é o elo entre a Idade Média e a Revolução Industrial, entre o artesão e o operário especializado. Contratado pela Light, seu trabalho consistia em ler as plantas importadas do Canadá e conceber em madeira os moldes das peças de engrenagem para ser fundidos e utilizados na maquinaria da companhia de luz. Muitos dos velhos postes de fiação das ruas, cujas bases exibiam um refinado adorno, foram esculpidos por mãos como as do meu avô. Durante a II Guerra, quando a importação de produtos industriais foi interrompida, devido ao perigo crescente da rota marítima, operários com a sua capacidade talharam os protótipos reproduzidos em metal para que o Brasil continuasse a funcionar. Sem curso superior, artesãos como ele tinham de ter um conhecimento de matemática apurado, resultado de uma formação requintada, mistura de arte, técnica e sensibilidade. Vitorino foi o verdadeiro artista da família.

Apesar de eu jamais ter cursado faculdade, respeito e invejo quem completou doutorado e aprendeu a ordenar o mundo em um câmpus universitário. Mas noto, hoje, uma proliferação nefasta de universidades duvidosas que formam advogados, engenheiros, economistas e administradores sem a menor condição de gerir, construir ou defender os interesses de ninguém. É o comércio do canudo. E, por outro lado, não existe mais uma mão de obra qualificada como a do meu avô. Privilegia-se o doutor e não se dá valor ao técnico. O currículo escolar é lotado de teoremas, axiomas, robóticas, mitoses e mitocôndrias, tudo certo, tudo necessário, mas acredito que um menino recém-saído do ensino médio que tenha aprendido geometria através da carpintaria vá ter muito mais chance de emprego no mercado de trabalho do que o doutor mal preparado.

Salve o glorioso São José!

MERVAL PEREIRA

Sob vigilância
Merval Pereira
O GLOBO - 06/06/10

A aproximação política do Brasil com o Irã, especialmente depois que o presidente Lula assumiu o papel de mediador do programa nuclear, numa tentativa de evitar sanções do Conselho de Segurança da ONU, está chamando a atenção mundial para o nosso programa nuclear, como muita gente do próprio governo temia.

Depois que a revista alemã “Der Spiegel” fez no mês passado uma reportagem sobre a possibilidade de o país estar construindo uma bomba atômica, agora vem do “Asia Times” uma reportagem sugerindo que o Brasil está se aproximando de outro país pária, a Coreia do Norte, e levantando a suspeita de uma correlação com os programas nucleares secretos desses países e o do Brasil.

A revista alemã faz menção ao fato de que o Brasil não permite que os investigadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tenham acesso às centrífugas das fábricas de Resende ou Aramar, onde o urânio pode ser enriquecido até a 20% com autorização da AIEA para abastecer os submarinos nucleares, “mas ninguém sabe o que acontece com o combustível uma vez que está em prédios militares”.

Na verdade, a supervisão da agência internacional é feita normalmente, e eles têm o controle do urânio que entra na fábrica e o que sai processado, com o que podem constatar que quantidade está sendo usada.

O Brasil não permite que as centrífugas sejam vistas pelos técnicos internacionais para proteger um segredo industrial, pois desenvolvemos um equipamento que é mais avançado do que os existentes.

Essa atitude, juntamente com a recusa de assinar um protocolo adicional ao TNP, e a aproximação com Irã e Coreia do Norte, acende o sinal amarelo em setores da comunidade internacional.

Na reportagem do “Asia Times” é assinalado que o Brasil tornou-se, desde que Lula assumiu o governo, o terceiro maior parceiro comercial da Coreia do Norte, ajudando aquele país a resistir a sucessivas sanções internacionais nesse período.

Esse incremento das relações comerciais é visto como uma atitude política do Brasil, e o jornal chega a fazer relação entre a aproximação de agora com a atitude da Coreia do Norte de ter financiado o movimento guerrilheiro brasileiro durante a ditadura militar.

No estudo do especialista Joseph S. Bermudez chamado “Terrorismo: a Conexão Coreia do Norte” está assinalado que, de 1968 a 1971, o país comunista deu financiamento e assistência militar a várias organizações de esquerda brasileiras, especialmente a Carlos Marighella e sua Ação Libertadora Nacional (ALN) e à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que hoje têm vários ex-integrantes no primeiro escalão do governo.

O jornal asiático destaca que recentemente Marighella foi chamado de “herói nacional” pelo presidente Lula.

A reportagem, porém, não vai além de fazer ilações sobre a situação que considera similar dos dois países em relação à política nuclear, com especulações sobre uma possível retomada de antigos projetos nucleares pelo Brasil.

Um diplomata especialista na questão nuclear, que acompanha a trajetória do país nesse campo, falando à coluna à base do anonimato, por ainda estar na ativa, admite que há muitos, e em muitos países, que defendem a aquisição de uma “capacidade nuclear” sem que ela implique a construção de armas atômicas.

Com efeito, o desenvolvimento do ciclo completo do combustível nuclear em tese habilita um país a tomar a decisão de desviar suas atividades nucleares para a produção de explosivos.

Não é, contudo, um caminho fácil, ressalva o diplomata.

O primeiro ponto a destacar é diferenciar um explosivo nuclear (como aquele que a Índia explodiu no Rajastão em 1974, bem como, provavelmente, o artefato mais recentemente detonado pela Coreia do Norte) de uma bomba atômica, mais complexa.

No mundo de hoje há cinco potências nucleares originais (EUA, Rússia, GrãBretanha, França e China), três de fato (Índia, Paquistão e Israel) e uma que diz que é, mas nem todos acreditam (Coreia do Norte).

O Brasil é um dos poucos países sem armas atômicas que têm o domínio do ciclo nuclear completo. Além das potências nucleares, apenas Alemanha, Holanda, Japão, Israel e África do Sul detêm a capacidade de enriquecimento; a Coreia do Norte optou pelo plutônio, obtido através do reprocessamento do combustível queimado, uma tecnologia simples.

Desde o início das atividades nucleares no Brasil, sempre tivemos uma conduta em matéria de salvaguardas absolutamente irrepreensível, destaca o diplomata brasileiro. O primeiro tratado de salvaguardas com a AIEA era baseado apenas no Estatuto da Agência, já que o TNP e o Tlatelolco ainda não haviam nascido.

Mais tarde, o Brasil colocou em vigor para si o Tratado do Tlatelolco (início dos anos 90), o que implicou colocar todas as suas atividades nucleares sob as salvaguardas da AIEA, adotando, na prática, os mesmos procedimentos de salvaguardas previstos no TNP, que o Brasil se recusara a assinar por considerá-lo “discriminatório”.

Quando o Brasil resolveu aderir ao TNP, no governo FH, não foi preciso fazer qualquer atualização, extensão ou aprofundamento dos mecanismos de salvaguarda já aplicados ao Brasil.

A criação da ABACC (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle), uma espécie de Euratom bilateral e simplificada, que estabelece o controle recíproco das atividades nucleares do Brasil e da Argentina, é um dos pontos altos de nossa política, considerado equivalente ao protocolo adicional de salvaguardas que nos querem convencer a assinar.

Sobre o caso iraniano, o diplomata assume a posição do governo brasileiro: se os iranianos forem impedidos de enriquecer urânio pelo arbítrio dos mais poderosos, diz ele, fortalece-se uma prática perigosa, que poderá ser um dia utilizada contra nós por um pretexto qualquer.

MÍRIAM LEITÃO

O legado do tempo
Miriam Leitão
O GLOBO - 06/06/10

O presidente Lula rejeitou o exemplo de Hugo Chávez de perseguir mandatos sucessivos e seguiu o modelo Álvaro Uribe que aceitou a ordem da Suprema Corte de que um terceiro mandato era inconstitucional. Melhor: nem esperou a Justiça.

Mesmo assim, Lula corre risco de perder esse ponto positivo em sua biografia política desrespeitando tão abusivamente as leis eleitorais.

Lula se equivoca quando pensa que a medida do sucesso do seu governo será a capacidade de eleger seu sucessor.

Isso nem sempre prova alguma coisa. Só o tempo decantará o que há de marketing nessa avaliação positiva para traçar o retrato definitivo que ficará do presidente na História. Ter feito o sucessor não está entre requisitos do bom julgamento.

Até Paulo Maluf elegeu seu sucessor. Isso não fez diferença em sua desastrosa biografia política.

Lula será avaliado no futuro pelo que fez ou deixou de fazer. No seu caso, algumas coisas que deixou de fazer serão parte integrante da sua lista de méritos. Seu programa continha promessas capazes de incinerar avanços duramente conquistados nos anos anteriores, como a normalização das relações com a comunidade financeira internacional, a estabilização, a abertura comercial. Como já é História, ele não fez o que prometeu — e que sugeriam vários dos economistas do seu grupo político — e assim acertou.

Mas certamente pesará contra ele o comportamento abusivo de uso da máquina governamental e o descumprimento das leis eleitorais que ele tem praticado nos últimos meses. É um desrespeito à Presidência e ao Judiciário que ele esteja usando o governo, em suas várias instâncias, para afrontar a Justiça Eleitoral e as normas desse período de campanha.

Em pleno comício no ABC, dias atrás, Lula disse que ele tem que dar exemplo, por isso não faria campanha, quando já estava fazendo o que negava fazer.

Prometeu voltar no segundo semestre para fazer campanha na porta de fábrica.

Se ele pudesse se despir da Presidência, poderia fazê-lo. Ou até o mais básico, se ele pagasse os custos das suas viagens políticoeleitorais já seria um pouco melhor, mas quem paga para ele desrespeitar a lei eleitoral são os contribuintes brasileiros.

Até agora o país está vivendo uma situação em que o crime compensa. O TSE dá suas sentenças e elas são ignoradas. No pior dos casos, o TSE postergou tanto a pena para o PT que ela recairá em 2011, quando já não fará mais diferença no atual pleito. O tribunal tem dado sinais de perigosa flexibilização em algumas interpretações.

Se o TSE não for rigoroso, o que estará em jogo é a própria autoridade da Justiça Eleitoral no país.

Além das suas viagens eleitoreiras, o país viveu o abuso de pagar com recursos do contribuinte as viagens da pré-candidata quando ela era ainda ministra, mas já fazia campanha.

Dizer que aqueles palanques que o Brasil viu, e o brasileiro pagou, não eram comícios, é dizer que somos todos bobos.

Casos como os dos dias passados em visitas às obras do São Francisco, em que pouco se fiscalizava e muito se posava e discursava para a campanha, ou o extemporâneo e caro circo do lançamento do PAC-2 são fraturas expostas nas regras do bom comportamento político.

Se a candidata do presidente for eleita, isso não apagará o mal feito. Ficará o país sabendo que Lula inaugurou a temporada do vale tudo no governo federal quando o governante quer eleger o sucessor. Isso avacalha a democracia que o país está construindo.

A conta parcial de alguns desses eventos foi apresentada por requerimento do deputado Raul Jungmann (PPSPE): R$ 3 milhões. Quem paga campanha é partido — para isso tem até dinheiro público distribuído às legendas — mas não pode ser com o orçamento do Palácio do Planalto.

É acintoso.

As declarações da linha do “nunca antes” não vão impor realidades. Quando baixar a poeira do marketing superlativo do atual presidente, o país registrará o bom e o ruim do legado da era Lula. Mesmo agora, adianta pouco falar que desde Geisel nunca se investiu tanto em estradas, se elas estão intransitáveis; que a Saúde está perto da perfeição, se há filas de pacientes para cirurgias; relançar as notas do real para se vincular a um plano ao qual se opôs; ampliar o gasto público para forçar um crescimento econômico exuberante na reta final, se as estatísticas vão mostrar que nos anos de boom mundial o Brasil cresceu menos que a média dos outros países e dos vizinhos. Nada ficará da tese de que 2003 é a data inaugural do Brasil, porque a História registrará o processo de modernização que começou antes e continuará depois de Lula.

Também não servirá para a História sua tese de que foi vítima do mensalão. O escândalo será visto como é: não uma conspiração contra ele, mas o pior caso de corrupção da História do Brasil e ocorrido no coração do governo Lula, com o concurso dos seus mais próximos colaboradores.

Seus méritos serão mais bem dimensionados quando passar a temporada dos autoelogios, aos quais Lula se entrega com ímpeto enquanto deprecia outros governantes. Suas boas políticas serão valorizadas quando não forem peças de palanques. Os avanços desses oito anos serão constatados e calculados não pela capacidade de eleger quem quer que seja, mas pelo balanço lúcido e informado que o tempo permitirá fazer.

Hoje, seu afã de eleger, a qualquer custo, a candidata que escolheu só vai malbaratar sua herança, vai fazer mal à democracia brasileira, vai apequenar a Presidência e desrespeitar o papel institucional da Justiça Eleitoral.

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS

Ensaboa, mulata
ANCELMO GÓIS

O GLOBO - 06/06/10

Veja só. O censo de 1872, o primeiro feito no país, registrou que o percentual de escravas ocupadas no serviço doméstico era de 24,3% do total.

Em 2010, passados 138 anos, 23,3% das mulheres pretas e pardas que trabalham estão no serviço doméstico, diz a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.

Segue...

Os dados são do Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, 2aedição, coordenado por Marcelo Paixão, do Instituto de Economia da UFRJ.

No mais, é como diz o samba “Ensaboa”, de Cartola e Monsueto: “Ensaboa, mulata/ Ensaboa!/ Ensaboa! Tô ensaboando...”

Nova classe média

Este ano o crescimento das vendas na Casa&Vídeo na Zona Norte do Rio e na Baixada é em média 25% superior ao alcançado nas lojas da Zona Sul, de poder aquisitivo maior.

A empresa está contratando 300 funcionários no Rio para fazer frente ao boom de consumo da classe C.

No mais

Há uma semana, ninguém fala da ameaça nuclear do Irã. Mahmoud Ahmadinejad, o homembomba, deveria ser grato ao primeiroministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que conseguiu, com uma estupidez, desviar a atenção da ditadura iraniana.

Ninguém merece.

O DOMINGO É (mais uma vez) de Mariana Ximenes, 29 anos, a linda paulista que ilumina o Rio, desde que se tornou atriz da TV Globo. Agora, aos 29 anos, vive a primeira vilã de sua carreira, a Clara da novela “Passione”. Nos próximos capítulos da trama de Silvio de Abreu, aliás, ela será desmascarada por Diana, personagem de outra loura, Carolina Dieckmann.

Mariana também brilha num cinema perto de você, no elenco do longa “Quincas Berro d’água”, dirigido por Sérgio Machado

Questão de altitude

Quarta, a Fifa faz sua assembleia geral na África do Sul, país da Copa. Um dos temas interessa de perto o Brasil: a adoção de restrições a jogos em condições extremas (altitude, calor etc).

A CBF até hoje não engoliu a conjuração dos países hermanos para manter partidas na altitude de cidades como La Paz, a 3.600m do nível do mar.

Colégio eleitoral

Uma das propostas a serem discutidas na pajelança da Fifa diz respeito à eventual ampliação do colégio eleitoral para escolha de dirigentes das confederações (como o caso da CBF).

Serra vira filme

A vida de José Serra ganhará 12 filmetes dirigidos por Guilherme Coelho, que serão veiculados na internet.

Ferreira Gullar falará sobre o tempo em que o tucano presidiu a UNE (1963/64). O poeta, à época, dirigia o CPC, braço cultural da entidade.

ZONA FRANCA

Amanhã, às 19h, na Travessa do Shopping Leblon, será lançado o livro “Sustentabilidade e geração de valor — a transição para o século XXI”, organizado por David Zylbersztajn e Clarissa Lins com artigos de Israel Klabin, Sérgio Abranches, Celso Lemme, José Luiz Alquéres e Célia Rosemblum.

Rosana Abreu lança sua coleção de inverno de caixas de madeira pintadas (rpachecoabreu@gmail.com).

O ministro Miguel Franco assume a embaixada de Moscou em julho.

Sérgio Volpato abre inscrições para escolinha de futebol no Rio Cricket.

Julio Zucca abre quarta curso sobre produção cultural.

O advogado João Augusto Basilio ministra curso na PUC-Rio.

Carnaval de cinema

“Salgueiro apresenta: o Rio no cinema” é o título do enredo da vermelho e branco da Tijuca, criação do carnavalesco Renato Lage, o melhor da Sapucaí (veja a logomarca, acima).

Cocoricó

Acredite. Quinta passada, às 14h30m, uma senhora passeava pela Rua Uruguaiana, no Centro do Rio, carregando um galo com... coleira. Há testemunhas.

Até figurinha

A febre do álbum da Copa chegou a níveis impressionantes.

Uma carioca postou na agência N. Sra. da Paz dos Correios duas figurinhas que completariam o álbum do filho de uma amiga que mora no Humaitá.

O envelope chegou ao destino vazio, colado com uma fita adesiva que não existia quando foi enviado.

Ilha da fantasia

Outro dia no Chopin, edifício de bacanas em Copacabana, houve uma festa a fantasia. A dona do baile avisou o porteiro: — O senhor vai identificar fácil os convidados. Todos que estiverem fantasiados ou vestidos de forma diferente, mande subir.

Ao que o paraíba (ou seria sergipano?) ponderou: — Se a senhora soubesse o tanto de gente vestida diferente que entra aqui. Nem precisa de festa a fantasia.

Pano rápido.

MARCEU NA COPA

Novas impressões de viagem

ÁFRICA DO SUL GAY I: O casamento entre homossexuais é legalizado na África do Sul desde 2006. Há muitos gays aqui. Mas, como o preconceito permanece imenso, a turma se esconde no armário. As lésbicas, por exemplo, são as maiores vítimas de estupros.

ÁFRICA DO SUL GAY II: Outro dia, no shopping Mandela Square, em Johannesburgo, o repórter Marcos Penido, do GLOBO, foi abordado assim por um nativo insuspeito, figura discreta, careca, já de certa idade: “Baby, não está com frio?” Era um gay fofo, preocupado com a friagem no nosso Penido, que é espada e fumava na área descoberta, sob menos de 10 graus.

TOP, TOP, TOP: Sabe aquele gesto de “top, top, top”, em que uma mão aberta bate na outra fechada, comum no Brasil, que significa “se f...”? Aqui todo mundo faz. Até Mandela e o bispo Desmond Tutu. Mas, para eles, é coisa inocente. Só quer dizer que um lugar está cheio.

PAÍS DO BUNDO: “Bunda”, em zulu, dialeto mais usado pelos sul-africanos (até os brancos falam), é... “bundo”, no masculino.

Aliás, como os brasileiros, os nativos apreciam demais esta parte do corpo feminino, bem farta nas mulheres daqui também (veja mais sobre o “bundo” das africanas no Caderno de Esportes de hoje).

LOURA AFRICANA: O vinho da África do Sul é ótimo. Mas a cerveja também. Segundo pesquisa de campo feita com brasileiros pelo DataGois/MarceuNaCopa, a Castle, marca mais popular do país, é bem melhor do que qualquer uma das nossas louras nacionais mais vendidas.

RESQUÍCIOS DO APARTHEID: Por lei, desde o fim do apartheid, em 1994, todas as escolas têm de aceitar crianças negras e brancas. Mas não há brancos nas escolas públicas. E, nos colégios privados, apesar de a criançada preta e branca sentar lado a lado, na hora do recreio, normalmente, brincam e lancham separadas.

CHAP CHAP: Você pergunta a um sul-africano se está tudo bem, e ele responde: “Chap chap”. Dá bom dia, e ouve: “Chap chap”. Quer saber se a vida anda boa, e ele: “Chap chap”. Dá tchau, e... “Chap chap”. É gíria local, similar ao nosso “beleza”.

NO MAIS... Chap chap.

COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, MARCEU VIEIRA, AYDANO ANDRÉ MOTTA, BERNARDO DE LA PEÑA E VIVIAN OSWALD