terça-feira, maio 18, 2010

ARNALDO JABOR

O buraco negro entre governo e sociedade
ARNALDO JABOR
O GLOBO - 18/05/10



Diante do pedido de urgência para se votar o projeto Ficha Limpa, irritado com a pressa de mais de 1,8 milhão de assinantes pedindo a sua aprovação, o senador Romero Jucá produziu uma frase definitiva que ilumina o país: "Esse projeto Ficha Limpa não é um projeto do governo; é da sociedade..."
Com raro e inspirado brilho, o senador, líder do governo Lula, o homem das sete fazendas imaginárias, deu-nos um show de ciência política.
A frase é uma síntese do Brasil. É como se o inefável Jucá dissesse: "O tempo do governo é diferente do vosso. O problema é de vocês - apressadinhos comem cru".
Sérgio Buarque de Holanda teria aplaudido esse belo resumo de nossa organização política e poderia completar, como em seu livro seminal "Raízes do Brasil": "... para o funcionário patrimonial, a própria gestão política se apresenta como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses em que prevaleçam a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos...".
E completa: "a democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e semifeudal importou-a e tratou de acomodá-la a seus direitos e privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido no Velho Mundo o alvo da luta da burguesia contra os aristocratas. E assim puderam incorporar à situação colonial, ao menos como fachada ou decoração, alguns lemas que pareciam os mais acertados para a época, exaltados nos livros e discursos...".
Para políticos como Jucá, a única "democracia" é um vago amor pelos amigos, uma poética queda para a camaradagem, a troca de favores, sempre com gestos e abraços risonhos, na doce pederastia de uma sociedade secreta.
Somos tecnicamente uma "democracia", que é vivida por eles como porta aberta para oportunismos, pois a "cana" é menos dura...
A frase iluminada de Jucá mostra-nos que há uma fenda secular, um abismo entre sociedade e governo, e que há uma inversão de valores - o governo tem vida própria e a sociedade existe apenas para legitimá-lo. O Estado é uma ilha de interesses políticos habitada por uma "sociedade" feita de 513 deputados, 82 senadores, funcionários públicos etc...
A frase de Jucá pode ser montada com o belo chiste do Tuma Jr., com seu corpanzil de leão marinho barbudo: "Tirem o cavalo da chuva... Não vou sair!" Sair por quê? Sair de sua "casa", de sua "propriedade", logo ele que sabe dos segredos de alcova de seus colegas, ele que administrou como delegado até o caso de Celso Daniel? "Não vou cair calado!", berrou.
Não é sublime tudo isso?

Nunca antes em nossa história alianças tão espúrias tiveram o condão maravilhoso de nos ensinar tanto sobre o Brasil. A cada dia, nos tornamos mais sábios, mais cultos sobre essa grande chácara de oligarquias.
Lula teve a esperteza política de usar essa anomalia secular em proveito de seu governo.
Todos os presidentes têm de fazer isso, senão não governam, sabemos. Mas Lula protegeu demais as mentiras para que a falsa verdade do país permaneça. Viciou malandros com uma dieta gorda, cevou-os com uma fé na impunidade sem limites que abriu um caminho difícil de fechar.

Aliás, essa foi a realização mais profunda do governo Lula: o escancaramento didático do patrimonialismo burguês e o desenho de um nascente patrimonialismo de Estado.
Sinto nesses sintomas parlamentares a volúpia de ir contra o senso comum, contra o que a maioria pensa; há uma postura sádica de contrariar a população, de proteger uma obscuridade secreta, de defender o direito à mentira como um bem precioso, um direito natural. Eles se banham na beleza de um "baixo maquiavelismo", no cinismo dos conchavos, atribuem uma destreza de esgrima às chantagens e manipulações. "Esperteza" é um elogio muito mais doce do que "dignidade". Lembram da resistência espantosa de Renan para não sair da presidência da Câmara? Isso parece até um "heroísmo" em prol do personalismo colonial atávico, contra essa "violência" que cidadãos "menores" chamam de "interesse público".
Precisamos entender que o atraso é um desejo, uma ideologia. Eles são fabricados entre angus e feijoadas do interior, em favores de prefeituras, em pequenos furtos municipais, em conluios perdidos nos grandes sertões. O atraso dá lucro.
Se o desejo da sociedade se impuser, se a transparência prevalecer, como viverão felizes as famílias oligárquicas? Como vão vicejar as fazendas imaginárias, as certidões falsificadas, os rituais das defraudações, as escrituras e contratos superfaturados? Que será da indústria da seca, não só a seca do solo, mas a seca mental, em que a estupidez e a miséria são cultivadas para criar bons serviçais para a burguesia semifeudal? Como ficarão as doces camaradagens corruptas em halls de hotel, os almoços gordurosos, as cervejadas de bermudão, as gargalhadas, as "carteiradas" autoritárias, os subornos e as chaves de galão? Como serão os jantares domingueiros, como manter a humilhação e a fidelidade consentida das esposas de botox, o respeito cretino dos filhos psicopatas? Como se manterá a obediência dos peões, dos capatazes analfabetos? Que será do "sistema" cafajeste e careta que rege o país?
Os congressistas talvez acolham o projeto Ficha Limpa pela pressão popular e pela proximidade das eleições; mas tudo a contragosto, com medo de que sejam desarmados os curraizinhos onde paparicam seus eleitores, com medo de perder o frisson dos jaquetões lustrosos, dos bigodes pintados, das amantes nos contracheques, das imunidades para humilhar garçons e policiais.
Eles formam um país isolado. Eles detestam tudo que os obrigue a "governar" o outro país, a chamada "sociedade".
Estão no Congresso para se proteger de fichas sujas, para levar "vantagem em tudo, certo?" Se não, qual a vantagem da política?

JOSÉ SIMÃO

Copa! Já tem torcida pirata!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/05/10


E sabe quem vai cantar o Hino Nacional da seleção do Dunga? A VANUSA! Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Mulher é assaltada dentro da delegacia de Salto. Então muda pra Assalto. DELEGACIA DE ASSALTO! E sabe como se chama o administrador da cadeia de Camboriu? Leandro KRUEL! E essa: "Assaltante rendido a cadeiradas". Sabe como se chama o assaltante? AZAR Sulman. Quando ele nasceu, a mãe falou: "Você vai se chamar Azar, vai ser ladrão e vai dar um azar danado". Rarará!
E o novo patrocinador da Selecinha do Dunga: Nestlé. Pra gente levar chocolate! E muita gente fica falando: "E se o Dunga ganhar a Copa?". O problema não é ganhar ou perder. É o SOFRIMENTO! E sabe quem vai cantar o Hino Nacional da seleção do Dunga? A VANUSA! Rarará! E a Coreia do Norte? Como não pode sair gente do país, eles contrataram uns chineses pra torcer. É verdade. Terceirizaram a torcida. TORCIDA PIRATA! Rarará! E o Lula no Irã? Conseguiu pronunciar o nome do presidente do Irã: Mahmoud virou Barhboud!
Companheiro BARBUD! E sem querer, fez um trocadilho: em vez de urânio falou IRÂNIO! Rarará! O presidente do Irânio! E o Lula comparou a Dilma Rouchefe com o Mandela. Tá certo! Mandela usar terninho, ela usa. Mandela falar fácil, ela fala. Mandela pra cá, Mandela pra lá, ela vai. E descobri por que o Serra é contra o fumo. Porque é intragável. Rarará!
Ele disse que seu humor é péssimo durante o dia, mas que vai melhorando e o ápice é à noite! Então, ele só pode ser presidente no Japão. Tem fuso horário do Japão!
E essa é a minha seleção. Seleção do Simão: Nem, Cu de Frango, Zóio, Bafo e Três Peidim. Hugo, Sabugo, Refugo, Caçapava, Beirute, Mermão e eu. Gol: Carlinhos Mecânico do time de solteiros de Bento Ribeiro.
Hino oficial: Vanusa. Patrocínio: Nestlé. Hexa garantido. Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou, como ainda disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece. Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Itupeva tem um inferninho chamado Pinto Alegre!
Ueba! Mais direto, impossível! Viva o antitucanês! Viva o Brasil! E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante! "Urânio": companheiro que enriquece urina. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA

BRASIL S/A

A vez dos pobres
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 18/05/10

FMI aponta vantagens dos países emergentes, como Brasil, frente ao longo ajuste do mundo rico


Os países emergentes, Brasil entre eles, do Grupo dos 20 (G-20), o bloco das maiores economias do mundo, têm uma avenida à frente para crescer e encurtar a distância que os separa do mundo rico. O desafio será evitar a tentação de calçar salto alto e esmorecer.

Os países ricos ficarão menos ricos. E a periferia que os cerca, caso na Europa de Grécia, Portugal e Espanha, vai provar o gosto amargo da penitência que até meados do século passado asfixiava a afluência do mundo emergente, submetido aos constrangimentos para cortar dívida e deficit por que vão passar seus credores de ontem.

Esta é a síntese do primeiro estudo regular do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a situação orçamentária dos países. Seu título é sugestivo: “Navegando os desafios fiscais futuros”.

Os mares serão revoltos durante anos para os 29 países listados pelo FMI no grupo das economias avançadas. E mais calmos para as 27 economias emergentes, se mantidas as políticas que preservem o desenvolvimento econômico e social com estabilidade. O FMI tomou a situação fiscal do G-20 como amostra, dividindo o bloco entre as nove economias avançadas e as dez emergentes que o compõem (a 20ª é a representação institucional da União Europeia no grupo).

De 2008 a 2015, os deficits primários vão continuar pressionando a dívida pública dos países avançados do G-20. Ela já engordou 20 pontos percentuais do PIB (Produto Interno Bruto) desde o início da crise e, segundo o FMI, tende a adicionar outros 20 pontos até 2015, chegando a 117% do PIB. É a turma do pires na mão.

Na outra ponta do G-20, a turma de Brasil, China, Rússia, Índia, Argentina, Turquia, México, Indonésia, Arábia Saudita e África do Sul, a projeção é que a dívida bruta caia 5 pontos de percentagem do PIB no mesmo período, atingindo em 2015 um patamar menor que no início da crise. O time dos emergentes só não será financiador dos países ricos, embora China já ostente tal condição há muito tempo, devido aos seus deficits em contas correntes.

Emergentes sem crise
Na avaliação do FMI, não haverá problema em financiá-los. O saldo de dívida menor na saída de crise vai manter os gastos financeiros relativamente baixos, apesar da previsão de aumento dos juros nos países avançados ao longo do período. A expectativa é que a margem de juros, em média, continue maior entre os emergentes que nos EUA e na Europa. A melhora fiscal relativa também se deve a que entre os emergentes os estabilizadores automáticos de renda, como seguro desemprego, são menores que entre os países mais ricos.

Os novos dependentes
A comparação por país revela um quadro dramático de dependência dos fluxos financeiros operados nos mercados pelos países ricos, nos próximos anos, vis-à-vis os emergentes. A dívida dos EUA, por exemplo, saltou de 62,1% do PIB em 2007 para 83,2% ano passado e, na simulação do FMI, chegará a 110% em 2015. A do Japão passará de 188% para 250% do PIB em 2015. A da Inglaterra, de 44% para 91%.

No mesmo período, a dívida bruta do Brasil passou de 65% em 2007 para 68,9% do PIB no ano passado e cairia a 54% em 2015. Mas há casos melhores. A dívida da China praticamente não variou de 2007 a 2009, e continuaria oscilando em torno de 18% do PIB até 2015. A da Índia deve diminuir de 79% do PIB em 2007 para 67% em 2015.

País dispersa ajuste
O que faz diferença é a qualidade das políticas fiscais. Entre os países ricos, além das medidas desesperadas tomadas para reverter a marcha para a depressão, todos têm gastos exponenciais com saúde e previdência, agravados pelo envelhecimento da população e mesmo a sua redução. Tal problema é menor para a maioria dos emergentes.

Grave é a dispersão de grande parte do ajuste fiscal dos últimos anos por alguns dos emergentes em gasto supérfluo, normalmente com o inchaço improdutivo do Estado. Mas há nuanças em tal quadro.

O destaque é que, ao Brasil, é como se já tivesse sido consumida a vantagem para crescer. O gasto público representou 40% do PIB em 2009, 10 pontos percentuais acima da média dos emergentes, contra receita de 36% do PIB aqui e 25% para nossos irmãos de turma. Isto é: os outros fizeram mais com menos. Essa diferença, sem avanço de produtividade, vai pesar cada vez mais contra nós daqui em diante.

Não dá para ter tudo
A recente descoberta do governo de que precisa economizar o gasto fiscal frente ao crescimento rodando à base de 8% ao ano, bem mais do que é possível absorver a produção sem gerar déficits externos ingovernáveis e atiçar a inflação, é outra forma de se comprovar a assimetria entre os modelos de crescimento dos emergentes revelado pelo estudo inédito do FMI. A maioria prioriza a expansão movida a investimentos que expandam a oferta industrial e a infraestrutura.

É o caso das economias asiáticas em geral e das do Leste Europeu, recém-chegadas ao livre mercado. O social não é deixado para trás, mas equilibrado com a necessidade de financiar o investimento sem desequilibrar as contas fiscais e criar sequelas, entre inflação e a questão cambial. No Brasil, saltou-se do social desamparado dos tempos do ajuste fiscal, de 1994 a 2003, à corrida para recuperar o tempo perdido — mas acumulada à expansão do investimento depois de 2006 e com o agigantamento do Estado em todo o período. Vai-se ter de optar. E é isso que estará em jogo nas eleições de outubro.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Rugido 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 18/05/2010

Vai dar "confucius". A RF pretende cobrar imposto de renda de um grupo de juízes de São Paulo que recebeu o "auxílio-voto". A verba foi paga a magistrados para que desempenhassem função de desembargador. Eles ganharam mais de R$ 8 milhões com caráter de verba indenizatória, sobre a qual não incide imposto.

Mas para Marcelo Neves, do CNJ, trata-se de subsídio com direito a mordida do leão.

Economy class
Marina Silva recusou oferta de Guilherme Leal. Não usará o jato de seu vice na campanha e sim avião de carreira. E apenas alugará aeronave em caso de emergência de agenda.

Leal, aliás, demorou cinco meses e 27 dias para confirmar informação da coluna: a de que teria aceitado ser o vice da candidata verde.

Econômica 2

E os verdes tentam não repetir Enéas na TV: negociam com o pequeno PHS, dono de intermináveis...18 segundos.
Fico
Ronaldo Bianchi aceitou continuar na secretaria de Cultura com Andrea Matarazzo

Pelo menos por enquanto.

Fila única
Almoço marcado para ontem entre Dilma e integrantes do Iedi, dirigido por Josué Gomes da Silva, foi cancelado. Motivo? A agenda apertada da candidata petista.

Mas os empresários esperam ouvir Marina Silva e José Serra, que também estão marcados. Em tempo: os convites aos presidenciáveis foram feitos em ordem alfabética.

Susto
Eleonora Rosset teve momento ninja na quinta. Depois de ser atacada por um assaltante na Marginal, ela reagiu com... cotovelada no fígado do delinquente. Que por sua vez socou sua cabeça antes de fugir.


Recuperada, a psicanalista partiu com Ivo para NY, onde participa da homenagem a Henrique Meirelles.

Justa, a causa
O BNDES fechou acordo para doar R$ 1 milhão ao Instituto Elpídio dos Santos para obras em São Luiz do Paraitinga. Com o Iphan, irão recuperar a Igreja do Rosário, a Casa de Oswaldo Cruz e a própria sede do instituto.

Do ninho

Aécio é o vice de José Serra. Pelo menos foi o que o ex-governador disse domingo, de Paris, a amigos mais próximos em São Paulo, por telefone. Com isso, reafirmou o que já havia deixado escapar, em círculo intimíssimo, quinta-feira.

Oficialmente, porém, Aécio está pedindo para que sua assessoria informe que nada mudou na sua posição sobre o assunto.

Dúvida cruel: o tucano deixará a confirmação para os 45 minutos do segundo tempo?

Pequeno polegar
A Anac continua na sua política de incentivar as pequenas. Acaba de dar licença para nova companhia aérea começar a operar ainda neste semestre no Brasil.

A Noar Linhas Aéreas, com sede em Caruaru, começa voando no Nordeste.
Cacildis
Cadela de rua virou mascote da São Paulo Companhia de Teatro - menina dos olhos de Serra.
Foi batizada de Cacilda.

Tijolo sobre tijolo
Marcello Dantas, criador do Museu da Língua Portuguesa, está de malas prontas. Vai montar um centro cultural em Aracaju.
O pedido do Banco do Estado de Sergipe é que o local traduza a identidade do povo sergipano.

Cordeiro na floresta
Na última das três festas montadas para comemorar seu aniversário, Sig Bergamin ganhou de Murilo Lomas, um bolo de Isabella Suplicy. Que foi cortado, sábado, em baile funk, no Rio.

Mais precisamente, no Castelão das Pedras, em Rio das Pedras.


Na frente
Juscelino Pereira e Pio Bofa recebem hoje, no Piselli, pequeno grupo. Vão jantar e degustar os vinhos do cobiçado produtor Pio Cesare da região de Piemonte, na Itália.
Glória Pires não decidiu se vem de Paris para fazer o lançamento de sua biografia 40 Anos de Glória. Enquanto ela pensa, o livro chega esta semana às livrarias.

Mário Moitta, pianista português, comanda concerto 4 Estações 4 Fados. Hoje, no Buchanan"s Lounge by Ranieri.

Christian de Portzamparc, um dos arquitetos mais populares da França, vem ao Brasil para o Architectour 2010, que acontece em Gramado. Em setembro.

Depois da Copa do Mundo, Mallu Magalhães arruma as malas e zarpa para o Canadá. É convidada do Expressions of Brazil, em Toronto.

Ruy Castro passa seus conhecimentos sobre biografia. Em curso, a partir de hoje no Centro Cultural B_arco.

Marília Gabriela canta clássicos da música norte americana como Cry Me a River e Over the Rainbow. No Bourbon Street, dia 22 de junho.

Textos de Alan Pauls e Rodrigo Fresán inauguram, hoje, o blog da Cia das Letras.
O Cinco a Seco abre temporada de shows, sexta-feira, na Sala Crisantempo.

Atenção rebeldes solteiros sem causa. Foram marcadas duas passeatas do Movimento dos Sem Namorados. Dia 29, no Ibirapuera e dia 30, em Copacabana. A intenção é formar mais casais até o Dia dos Namorados.

GOSTOSA

CARLOS HEITOR CONY

Trotes eletrônicos

Carlos Heitor Cony
Folha de S. Paulo - 18/05/2010
 
Quando o uso do telefone tradicional tornou-se comum, ao alcance de quase todos, os mais conservadores temeram que a privacidade de cada um ficasse ameaçada. Afinal, com o número do aparelho num catálogo geral podia-se penetrar na intimidade do lar, da empresa, na vida de todos.
Houve época em que os trotes eram frequentes. Quem não tinha muito o que fazer pegava o telefone, discava um número qualquer, xingava a mãe do sujeito, acusava a mulher de adultério, cobrava uma dívida inexistente.
Lembro um sujeito que, nos anos 40, deu um tiro no seu telefone porque um gaiato ligava todos os dias para cobrar maior vigilância sobre a mulher, que, segundo a voz anônima, era uma galinha.
Com o computador começou a haver não apenas o trote, mas a informação ociosa, poluidora da telinha. Ofertas de dinheiro fácil, de mulheres também fáceis, em épocas eleitorais a agenda dos candidatos pelos grotões do Brasil afora, campanhas mirabolantes disso e daquilo, um mundão de propostas que não interessam a ninguém.
Há também trotes, encontros que não se realizam, convites falsos, denúncias de falências, de corrupção, de pedofilia, que agora entrou na moda.
Certa vez, fiquei sabendo que um cidadão famoso havia morrido e fora sepultado no São João Batista às escondidas. Empresário importante no mercado, sua morte não podia ser divulgada. Teriam arranjado um sósia, que ocupou seu lugar na família, na empresa e na sociedade.
Tempos atrás, recebi uma oferta de um apicultor que me queria vender uma colmeia de abelhas. Nos meus delírios mais extravagantes, já pensei em chegar a papa, a ser barítono do Metropolitan, a craque do Real Madrid. Mas Deus é testemunha de que nunca pensei em mexer com abelhas. 

XICO GRAZIANO

Logística
Xico Graziano 
O Estado de S.Paulo - 18/05/10

Todos os rios correm, finalmente, para o mar. Disso ninguém duvida. Curiosamente, porém, aqui, no Brasil, certos rios parecem seguir ao contrário, rumo ao interior. Em São Paulo, o Rio Tietê anda para trás, até encontrar o Paraná. Já pensaram se eles desaguassem em Santos?

Nos EUA, o Rio Mississippi faz direitinho o seu trajeto. Ele sai lá do interior, no Meio-Oeste norte americano, e deságua direto no Golfo do México. Transformou-se, assim, desde o início da colonização americana, numa privilegiada via de navegação. Serve às pessoas e, principalmente, ao transporte de cargas. Situado a 1.500 km de distância, os agricultores de Iowa, Ohio, Illinois contam com a bênção das águas doces para escoar sua produção. A hidrovia do Mississippi torna barato o cereal dos gringos na exportação. Sorte da natureza, misturada, claro, com investimentos públicos na famosa hidrovia.

Aqui, os produtores rurais que se aventuraram pelo Centro-Oeste brasileiro, abrindo as fronteiras de Mato Grosso e Goiás, incluindo agora Mato Grosso do Sul e o Tocantins, passam agruras maiores, advindas de sua distância. Eles dependem de esburacadas rodovias para descarregar sua safra de grãos, que viaja de caminhão por cerca de 2 mil km até o Porto de Santos, ou Paranaguá. Demora demais, causa perdas e encarece o frete.

Essa questão, chamada logística, virou um pesadelo para os agricultores nacionais, especialmente os mais apartados do litoral brasileiro. Na roça, o produtor rural domina a tecnologia, sabe cultivar, obtém resultado, dorme em paz, rezando apenas pela chuva no tempo certo. Na hora de vender o fruto de seu trabalho, todavia, ele se amargura.

O preço se rebaixa no desconto do frete. Nos últimos anos, dependendo do preço da tonelada de soja, o custo do transporte em Mato Grosso representou de 32% a 48% do grão desembarcado na China. Incrível. Somente o trajeto até o destino final sobrepuja o custo, somado, do fertilizante, do óleo diesel, dos agroquímicos, da colheita. Deprime a concorrência.

O conceito da logística remete aos líderes militares desde os tempos bíblicos. Longas e distantes guerras de conquista exigiam o deslocamento de vultosas cargas, tropas, equipamentos, alimentos. Toda a organização das tarefas necessárias ao sucesso da brutal empreitada cabia aos especialistas, responsáveis por assegurar recursos e suprimentos para a guerra.

Trazida para os tempos modernos, a ideia da logística militar passou a ser utilizada na gestão empresarial, englobando basicamente transporte, armazenagem e informação. Nas atividades rurais, dadas as distâncias da produção, tornou-se uma disciplina essencial. Estudiosos do desenvolvimento a consideram fundamental na infraestrutura de um país.

Pois bem, dez entre dez especialistas da economia rural salientam que na deficiência da logística reside o maior gargalo da agropecuária nacional. Portos antigos e mal aparelhados, em parte dominados por grupos corporativos, alguns mancomunados com a corrupção, restringem os embarques. Filas quilométricas se formam na chegada, aguardando a lentidão da saída nos navios. Brutal ineficiência.

Da roça até o porto, então, nem se fala. Péssimas rodovias freiam o tráfego, quebram molas, causam perdas. No país dos caminhões, as ferrovias viram miragens, a exemplo da Norte-Sul, em construção desde 1987. Quando existem, os trens não mostram vantagem de custo sobre a rodovia, conforme se verifica no trecho entre Alto Araguaia (MT) e Santos. O poder de monopólio da concessionária equipara o frete da rodovia ao da ferrovia. Contrassenso total.

Quanto às hidrovias, sua construção anda devagar, qual tartaruga. Duas rotas aquáticas funcionam bem: a hidrovia Tietê-Paraná e a Madeira-Amazonas. Mas ambas, juntas, transportam apenas 13% da produção agrícola do Centro-Oeste. Dificuldades no licenciamento ambiental ou escassez de recursos não explicam a demora na operação de novas hidrovias. Falta, isso sim, decisão política para investir na infraestrutura da produção. Uma questão de planejamento. Quer dizer, de sua falta.

Puxado pela agropecuária, cuja agronomia aprendeu a dominar o cerrado, um virtuoso processo de interiorização acomete a economia brasileira há, pelo menos, 20 anos. Desde 1985 até 2005, o Centro-Oeste cresceu 63,5%, bem acima da média nacional, de 39,8%. Somados, os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, mais o Distrito Federal, respondem hoje por 37% da safra nacional de grãos. Lideram, também, o rebanho bovino.

Com estruturas administrativas menos viciadas e mais enxutas, ostentando 11,5 milhões de habitantes (exceto Brasília), o eldorado nacional se desenvolve, mesmo contra os gargalos da infraestrutura. A nova fronteira de progresso foge da costa atlântica, alcançando ainda Rondônia, Tocantins, o sudoeste baiano, o sul do Maranhão, parte do Piauí. Cresce a riqueza longe das mazelas metropolitanas. Sensacional.

É verdade que a expansão da fronteira agrícola apresenta problemas ambientais, interferindo no desmatamento, tanto na Amazônia quanto no cerrado. Também se pode argumentar que a distribuição fundiária mostra um padrão concentrado, grandes fazendas em poucas mãos. Mas, no fundo, tais questões negativas refletem o descaso governamental com essa virtuosa agenda. Falta um projeto do Estado para organizar a nova fase do desenvolvimento do Brasil.

Logística, na cabeça do homem simples do campo, deriva do raciocínio. Pergunte-se a qualquer um deles. Não faz sentido produzir alimento ou matéria-prima e, na hora da venda, ver seu dinheiro sumir na mão do intermediário que banca o frete. Não tem lógica. Melhor, falta logística.

AGRÔNOMO, É SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.

JAPA GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

Bolsa Copa 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 18/05/2010

Bola fora O Bolsa Copa, que prevê prêmio de R$ 100 mil e pensão vitalícia para ex-jogadores que ganharam mundiais, está gerando polêmica no futebol. O presidente do Corinthians, Andres Sanchez, vai pedir ao presidente Lula que volte atrás e vete a ideia.

"Estou desesperado para falar com ele: "Cê tá louco, meu?'", diz Sanchez. "É certo ajudar, mas já existe dinheiro para isso." Por lei, os clubes repassam 1% do valor de cada contrato que firmam com jogadores para a Faap (Federação das Associações de Atletas Profissionais), que deveria amparar ex-craques. "Ninguém sabe para onde vai esse dinheiro."
Dever de Casa
A Federação arrecadou R$ 8 milhões no ano passado. Só do Corinthians, diz Sanchez, foram R$ 2,8 milhões. "Quem tem que ajudar jogador é a Faap, e não o governo."
Vermelho
"Ele [Sanchez] está relativamente certo", diz o ex-jogador Wilson Piazza, campeão do mundo em 1970 e presidente da Faap. "Mas nem todos os clubes cumpriam a lei, e não conseguimos ajudar mais." Em 2008, a Federação ganhou ação na Justiça determinando o pagamento. Entre os processados estão Grêmio, Atlético-PR e SPFC. Os clubes não se manifestaram.
Quatro Rodas
Ainda futebol: a Scania deve entrar no lugar da Volkswagen no patrocínio do ônibus do Corinthians.
Côncavo
O PSDB contratou pesquisa do Ibope que mostra Dilma Rousseff (PT-RS) crescendo e encostando em José Serra (PSDB-SP). A diferença entre os candidatos, na última pesquisa do instituto, em abril, era de sete pontos. E agora recuou para um empate técnico -com Serra pouco à frente. A sondagem, feita na semana passada para consumo interno, não será divulgada.
Convexo
O resultado explica a cautela do PSDB em relação às pesquisas dos institutos Vox Populi e Sensus, divulgadas nos últimos dias, que também mostraram empate, com ligeira vantagem para Dilma.
Boleiro 
Integrantes da coordenação de campanha de José Serra (PSDB-SP) cogitam mudar a data da convenção que lançará oficialmente a candidatura dele à Presidência. Marcada para o dia 12 em Salvador, ela concorrerá com a abertura da Copa do Mundo, que será no dia 11, véspera do evento tucano.
Modelo Marta
O badalado cabeleireiro Celso Kamura, que cuida das madeixas de Marta Suplicy (PT-SP), foi importado para Brasília na sexta passada para renovar o visual de Dilma Rousseff. A indicação foi do marqueteiro João Santana. "O cabelo dela não tinha corte. Cortei na nuca e nas laterais. E dei uma iluminada nas pontas. É um "look" elegante e bem básico", diz.
Modelo Marta 2
Kamura viajou "morrendo de medo" de Dilma. "Imaginava que ela fosse fria, brava. Mas não é nada daquilo." Ele ficou cerca de duas horas com a pré-candidata, na casa dela.
Modelo Marta 3 
E Marta e Dilma, que vão se encontrar em Nova York nesta semana, planejam bater perna na cidade para comprar roupas.
Exportação
Estão previstos encontros de Dilma também com especialistas em marketing político.
Sotaque
A TV Globo e a emissora portuguesa SIC firmaram um contrato de coprodução de dramaturgia. O acordo será de dois anos e prevê duas novelas.

A primeira, com o nome provisório de "Caminho da Felicidade", terá supervisão de texto de Aguinaldo Silva e está em fase de pré-produção. A trama será gravada em Portugal com atores daquele país.
Curto-circuito
DORA LONGO BAHIA inaugura a exposição "Trash Metal", hoje, a partir das 20h, na galeria Vermelho.

O BALLET Imperial da Rússia apresenta o espetáculo "Don Quixote", hoje, às 21h, no teatro Bradesco. Livre.

A SEMANA DE MODA Casa de Criadores acontece nos dias 24, 25 e 26 de maio, no Centro de Convenções Frei Caneca.

O DEPUTADO estadual Fernando Capez preside hoje, a partir das 19h30, o 1º Encontro Estadual sobre Tráfico de Pessoas, na Assembleia Legislativa de São Paulo.

O 12º FESTIVAL do Cinema Brasileiro em Paris, organizado pela Jangada Association, acaba hoje com a exibição de "Filhos de João - Admirável Mundo Novo Baiano". 14 anos.

A MOSTRA de decoração "Personalidades" será aberta hoje, às 20h, na loja Q&E, na al. Gabriel Monteiro da Silva.

O FÓRUM City de Urbanismo acontece na quinta, das 9h às 12h15, no Museu Brasileiro de Escultura.

VERA SIMÃO realiza hoje a abertura do evento Casar 2010, a partir das 19h30, no Terraço Daslu.

MARCELO COUTINHO

O Mercosul ainda é importante?
Marcelo Coutinho 
O Estado de S.Paulo 18/05/10

Criado em 1991, o Mercado Comum do Sul cumpriu papel muito importante de integração regional, expandindo extraordinariamente o fluxo de comércio entre os países membros. Hoje, contudo, vive uma longa paralisia, acompanhada por alguns retrocessos na liberalização comercial que levantam dúvidas sobre seu futuro e a capacidade do bloco de disputar espaços com os concorrentes mundiais, sobretudo a China.

Entre outros aspectos, o Mercosul foi concebido como uma forma de enfrentar o forte processo de globalização em andamento desde os anos 70. Em apenas duas décadas, entre 1990 e 2010, assistimos à criação de mais de mil arranjos regionais em variados continentes. Passamos a viver num verdadeiro mundo de regiões. Tal fenômeno mostrou como nunca que a política internacional é, antes de tudo, uma política regional, onde são encontradas as origens e as soluções de boa parte dos desafios do mundo contemporâneo.

No caso do comércio internacional, a formação de blocos econômicos foi interpretada ora como um movimento protecionista, ora como um processo complementar da globalização. As vertentes mais liberais chegaram a argumentar que o Mercosul seria uma etapa da liberalização do comércio, isto é, uma forma preliminar de abrir ao mundo as economias sul-americanas, em particular o Brasil. Erroneamente, o Mercosul também foi visto como um organismo apenas "neoliberal", compreendido no contexto das reformas estruturais em direção ao mercado. O regionalismo aberto era percebido pelas forças mais à esquerda como um modelo essencialmente comercialista, sem preocupação com as populações locais. Ainda que isso seja parcialmente verdadeiro, o fato é que os governos de esquerda, uma vez no poder, ignoraram a importância do bloco para a institucionalização do Cone Sul e o seu real desenvolvimento.

Eufóricos com o crescimento em 2010, a maioria dos analistas sustenta que o Brasil teria agora quase todas as condições macroeconômicas para um grande salto. Faltaria resolver o problema do déficit externo para que não diminua sua atividade econômica nos próximos anos. A deterioração da qualidade de nossas exportações e o acúmulo dos déficits em transações correntes viraram sérios obstáculos. Este ano o Banco Central calcula uma fenda superior a US$ 50 bilhões nas contas externas, recorde resultante de uma balança comercial quebrada.

Há poucos casos em que um país tenha conseguido realmente oferecer qualidade de vida à sua população exportando só commodities. A Austrália é lembrada geralmente como exemplo de sucesso. Mas por suas especificidades o país da Oceania não é uma boa comparação com o Brasil. Embora de tamanho territorial compatível, aquele país tem menos de um sexto da nossa população e está próximo dos emergentes industriais da Ásia.

Se no curto prazo o saldo externo negativo é facilmente superado pelas reservas internacionais já acumuladas, no médio e longo prazos percebe-se uma inquietação crescente com o balanço de pagamentos do Brasil, entre outros motivos, porque ele já criou grandes turbulências no passado. Temos um histórico de desequilíbrios estruturais e de desconfiança dos investidores, que mais de uma vez já nos desviaram da rota do crescimento.

A experiência varia, mas o enredo é quase sempre o mesmo. Por uma razão ou outra, as importações começam a pesar mais que as exportações e, assim, começamos a compensar o déficit comercial com os fluxos financeiros até a saturação. Antes que o mecanismo de mercado espontâneo inverta a distorção cambial, ampliando exportações e diminuindo importações com base nos diferenciais de inflação interna e externa, nosso crescimento é interrompido.

No contexto de estabilidade de preços, controle inflacionário, entrada de capitais externos, crescimento da produção e do consumo, restaria ainda perseguir uma balança comercial mais favorável. Em tal cenário, o Mercosul tornou-se ainda mais importante para o desenvolvimento brasileiro, porque não só cativa os mercados da região para nossos produtos com maior valor agregado, como também poderia ampliar a escala da indústria regional, deixando-a mais competitiva.

O Mercosul tem pouca importância para o comércio internacional, mas pode criar áreas novas de ingresso no mercado externo, desde que se constitua num polo de exportação manufatureira. Embora as desonerações, a queda dos juros e a desvalorização cambial venham a colaborar, uma política de comércio exterior bem-sucedida no mundo globalizado não deveria prescindir do regionalismo, secundado por outros acordos de livre-comércio.

Não se vê outra forma de evitar a "recommoditização" de nossas exportações, preservando a diversidade e a produtividade da economia do País, sem um organismo regional que integre efetivamente as cadeias produtivas, como os asiáticos fazem há anos, e não necessitando de uma tarifa externa comum para isso. O Mercosul oferece um arcabouço institucional e alguma confiança mútua entre seus integrantes necessários para fazer dele um pacto industrial capaz de reposicionar a região nas relações econômicas internacionais. Mas faltam as lideranças para iniciar esse processo de reformas que revigorem e readaptem o organismo ao cenário de hoje.

O sinal amarelo foi aceso no ano passado, tornou-se ainda mais claro com a crise grega e está diretamente relacionado à queda significativa das nossas exportações de manufaturados, que demoram a se recuperar, mesmo depois do reaquecimento da economia. A China vem ocupando parte do nosso espaço em praticamente todo o Hemisfério Ocidental e acabou se transformando numa das principais parcerias da América do Sul, a quem vende produtos industriais e compra mercadorias não intensivas em tecnologia e emprego. Não só a China, mas a Índia também já nos ultrapassou no comércio internacional. Mesmo com as suas limitações, a integração no Mercosul ainda é a melhor forma de enfrentarmos esse desafio.

PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)

O ABILOLADO

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Habitação tem crise de representação sindical 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 18/05/2010

Uma sequência de notas técnicas publicadas pelo Ministério do Trabalho desde o final do ano passado provocou um conflito de representatividade no setor da habitação no Estado de São Paulo.

Em novembro, o ministério excluiu o sindicato patronal Secovi SP da representação dos condomínios no Estado.

O Secovi SP representa 17 mil companhias e 29 mil condomínios. A entidade atua junto a empresas de incorporação, loteamento, comercialização, administração imobiliária e condomínios.

Em 29 de janeiro, uma nova nota, assinada por Luiz Antonio Medeiros, à época secretário de Relações do Trabalho do ministério, voltava atrás e restituía ao Secovi SP a representação dos condomínios.

Outra nota, porém, veio em abril e excluiu novamente o Secovi da categoria.

A instabilidade culminou no surgimento de novos sindicatos patronais no Estado.

O Secovi acusa um líder de trabalhadores de estar envolvido na fundação dos novos sindicatos patronais. A entidade registrou denúncia no Ministério Público do Trabalho da 15ª região, de Campinas, contra o presidente do sindicato dos trabalhadores Sinconed, que estaria "orquestrando a fundação de sindicatos patronais".

"Isso é conflito de interesse, pois, na condição de patronal, um trabalhador estaria representando si próprio em convenções coletivas de trabalho", diz João Crestana, do Secovi.

"Não há provas de que eu participei de fundação de sindicato patronal. Eu estive na porta de uma reunião de fundação, mas não entrei. Estava lá, pois tudo o que diz respeito ao meu trabalho me interessa. Como o Secovi não representa mais condomínio, agora, outros sindicatos surgirão", diz Valdir Pereira, presidente do Sinconed.
O Ministério não respondeu.
Sala de Aula
O grupo Eurodata, rede especializada em qualificação profissional, acelera o processo de expansão com nova estratégia para atender as classes C e D. O objetivo é passar das atuais 300 franquias para 500 até o fim do ano. O principal motor da expansão é a nova bandeira lançada pelo grupo, a Eurodata Interativa, em que as aulas são individualizadas, acompanhadas por monitores, por meio de softwares pedagógicos. "O modelo permite levar qualificação profissional para regiões remotas do país, onde as grandes estruturas não conseguem chegar. Cidades com 10 mil habitantes já têm condições de receber a unidade", diz Ramon Fogeiro Asensio, presidente do grupo. Uma das vantagens é o custo menor para o investidor. Para montar uma Eurodata, o investimento é de R$ 250 mil, enquanto na Interativa é de R$ 70 mil. O grupo prevê faturar R$ 100 milhões neste ano -com crescimento de 25% sobre o ano passado. A Eurodata, que tem mais de 180 mil alunos, está presente em 24 Estados do país.
Dívida/PIB da Espanha parece a brasileira 
A tabela apresenta a dívida pública bruta de alguns países. A Espanha está na mira do mercado e deverá encerrar 2010, com uma relação de dívida/PIB similar à brasileira. Então, temos problema?

Para o economista Fausto Morey, da Prestec/Grau Gestão, sim e não. A tragédia espanhola está ligada ao salto da dívida, de 39,7% para 61,8% do PIB em apenas dois anos. "A situação da dívida brasileira é estável e parece confortável quando comparada a outras", afirma.

"Assusta é saber que um país em boa situação financeira possa se transformar em "problema grave.'" Nas contas brasileiras, o que mais chama a atenção é o crescimento dos créditos concedidos aos bancos oficiais, em especial o BNDES, diz. "Entre dezembro de 2007 e março de 2010, o valor saltou de R$ 14,1 bilhões para R$ 149,9 bilhões ou quase 5% do PIB, inacreditáveis 1.000% aproximadamente."
Em Campanha
A BM&FBovespa vai reunir em Nova York na sexta-feira a comunidade financeira internacional e a pré-candidata Dilma Rousseff. Este será o primeiro da série de eventos que a Bolsa pretende realizar com todos os pré-candidatos à Presidência. O objetivo é debater as diretrizes propostas pela candidata em seu programa.
Demão
O Sitivesp (Sindicato da Indústria de Tintas e Vernizes do Estado de São Paulo) empossou na última semana Ricardo Stiepcich, da Futura Tintas, como novo presidente da entidade para o triênio 2010-2013. O setor reúne 491 empresas no país e movimentou no ano passado US$ 3,53 bilhões.
Em Queda
Em abril de 2010 foram protestados 59.916 títulos, segundo pesquisa do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos da Seção São Paulo, junto aos dez tabeliães de protesto da capital. A queda foi de 17,8% ante março. Dos títulos protestados, 10.028 foram cheques. Já as duplicatas foram 41.396. As notas promissórias foram 6.338.
Na Balança
A Portonave S/A Terminais Portuários de Navegantes realizou ontem o embarque de carga mais pesada que já foi feito pelo terminal, um transformador da empresa WEG com 110 toneladas. A embarcação fará o transporte do transformador até Cingapura, onde sofrerá transbordo para outro navio que o levará ao destino final, Jeddah, na Arábia Saudita.
Mais Um
O TozziniFreire Advogados terá nova sócia na área de Mercado de Capitais, Luciana Maria Agoston Burr. A advogada atuou como associada estrangeira no escritório Greenberg Traurig, LLP, em Nova York, em 2004.
Freio de Mão
A Avis Rent a Car inicia programa de expansão. A locadora prevê até 2012 a abertura de mais 60 franquias no Brasil. As regiões de Itu, Jundiaí, Ribeirão Preto, São José dos Campos e Sorocaba estão entre as prioridades.
Metro Quadrado 1
O preço médio dos lançamentos empresariais de Campinas foi 243% maior que o de salas comerciais já existentes no centro da cidade no primeiro trimestre. Segundo estudo da consultoria Binswanger Brazil, o valor médio de venda do metro quadrado de lançamentos foi R$ 4.690.
Metro Quadrado 2
Para locação, a diferença no período foi de 225%. O metro quadrado mais caro para locação na cidade está no Parque Empresarial Campinas, que sai por R$ 55.

MERVAL PEREIRA

Bons ventos para Lula
Merval Pereira 

O Globo - 18/05/2010

Os últimos dias trouxeram boas notícias para o presidente Lula em ambos os fronts em que atua com disposição inusitada para quem está em fim de mandato.

No front interno, seu esforço acima da lei teve a recompensa de levar pela primeira vez sua candidata à liderança de duas pesquisas eleitorais. Seria a comprovação de que o crime compensa.

No plano externo, o governo brasileiro saiu-se bem de uma empreitada arriscada ao fechar um acordo tripartite com Irã e Turquia sobre enriquecimento de urânio. Os dois assuntos se entrelaçam em ano eleitoral, com a política externa ganhando um destaque nunca anteriormente registrado em campanhas presidenciais.

Este não é um fenômeno apenas brasileiro, mas recorrente no novo mundo multipolar, especialmente em países que surgem como lideranças emergentes.

O fato de que Lula tem sido destacado pelos meios de comunicação internacionais como dos principais líderes mundiais ganha especial relevo na campanha petista, que, paradoxalmente, tenta desqualificar a importância da mídia nacional.

Nem as pesquisas, porém, indicam que a vitória de Dilma Rousseff são favas contadas, nem o acordo resolve o impasse sobre o programa nuclear iraniano.

Os dois fatos, no entanto, demonstram a capacidade operacional de Lula, que se transformou em um respeitável líder de atuação global, mesmo que não tenha chegado a uma solução definitiva como tentam fazer crer o governo brasileiro e os militantes petistas.

O fato de ter alcançado um acordo, mesmo parcial e de efeito altamente questionável, é louvável pela intenção de substituir pela negociação medidas mais drásticas por parte da comunidade internacional.

Mas, para que o acordo fosse eficaz, teria que ser seguido de gestos concretos do Irã, o que não aconteceu até o momento.

Por tudo isso, querer fazer de Lula o novo grande líder mundial é tão precipitado quanto arriscado, pois é possível que o acordo que obteve no Irã se transforme em motivo de chacota, ou de repúdio, internacional.

A “vitória da diplomacia”, como classificou Lula, pode em poucos dias se transformar na demonstração de que os iranianos conseguiram passar a perna em dois políticos ambiciosos e desejosos de poder ( Lula e o primeiroministro turco, Recep Tayyip Erdogan), e com isso ganhar tempo para continuar no seu projeto nuclear paralelo.

Desde que não fique posteriormente demonstrado que Brasil e Turquia não foram enganados, mas cúmplices do Irã em mais uma manobra destinada a dificultar as sanções internacionais. Ou que o Brasil aceitou participar de mais uma farsa iraniana para se contrapor aos Estados Unidos no plano internacional.

Das hipóteses que estão nas discussões internacionais, a melhor para o Brasil, e a que considero correta, é a de que tentou sinceramente levar o Irã de volta ao convívio internacional, embora sem sucesso.

Não é preciso nem mesmo pedir uma só razão para que se acredite que o governo de Teerã irá cumprir o mesmo acordo que firmou com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e depois rompeu, em outubro do ano passado.

O fato de o governo do Irã ter anunciado horas após a divulgação do acordo que continuará a enriquecer urânio a 20% sem a fiscalização dos organismos internacionais já demonstra que a disposição de descumprir o espírito do acordo esteve presente desde sempre.

A única razão para a AIEA exigir que o urânio seja enriquecido fora do Irã é impedir que o governo teocrático de Teerã tenha o controle do programa nuclear fora das vistas do resto do mundo.

Se ele anuncia a disposição de continuar a enriquecer o urânio sem a supervisão da AIEA, o resultado do acordo conseguido pelo Brasil é nulo.

O mínimo que poderá acontecer é a AIEA exigir que seja aumentada a quantidade de urânio pouco enriquecido a ser enviada para a Turquia, já que desde o fracassado acordo do ano passado, o Irã continuou a enriquecer urânio, e hoje seu estoque deve estar bem maior do que era naquela ocasião.

Esse acordo internacional, mesmo que apenas simbólico, terá porém efeito na campanha presidencial, alavancando ainda mais a popularidade de Lula e sua capacidade de tentar influir no resultado da eleição a favor da candidatura oficial de Dilma Rousseff.

As lideranças petistas já passaram a cantar as glórias internacionais de “Nosso Guia”, transformado na retórica governista no novo líder mundial, potencial candidato a Nobel da Paz. Lula, de fato, é um possível vencedor do Nobel, mas se vencer será menos pela política de aproximação com o Irã, e sim como “campeão mundial contra a fome”, título que ganhou recentemente da ONU.

Aliás, a relação do governo Lula com países que desrespeitam os direitos humanos, como Irã e Cuba, só faz tirar-lhe pontos na cotação internacional.

O Nobel da Paz é anunciado no início de outubro — ano passado foi no dia 9 —, justamente entre o primeiro turno da eleição presidencial, a 3 de outubro, e um eventual segundo turno, a 31 de outubro.

Mesmo que não seja o vencedor, certamente o programa da candidata oficial tentará tirar proveito do prestígio internacional de Lula.

A liderança nas pesquisas do Vox Populi e do Sensus, na verdade um empate técnico, mesmo se for confirmada pelos dois institutos de opinião mais tradicionais, o Ibope e o Datafolha, chega mais tarde do que estava previsto pelos governistas, e com maiores dificuldades.

O fato de que essa liderança foi conseguida pela primeira vez após esforço pessoal de Lula, que transgrediu a legislação eleitoral em duas ocasiões, no programa do 1ode maio e no do PT, só demonstra a dificuldade da empreitada.

O fato é que este é o melhor momento da campanha da candidata oficial até as convenções de junho, e ajudará a manter os palanques regionais e as coligações para garantir o tempo de televisão.

GOSTOSA

JAIR MARI e GRAHAM THORNICROFT

A luta antimanicomial e a psiquiatria
JAIR MARI e GRAHAM THORNICROFT
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/05/10

Nenhum sistema de saúde mental pode funcionar sem que haja a disponibilidade de leitos suficientes para acolher o paciente em crise


HOJE É O DIA reservado para comemorar a luta antimanicomial. Dia de levantar a questão: quais os princípios que devem nortear as políticas de saúde mental?
Os serviços de assistência à saúde mental em países em desenvolvimento não estão conseguindo atender às necessidades de tratamento dos pacientes, face à alta morbidade psiquiátrica na população.
Um princípio fundamental da disseminação da assistência mental à comunidade é a noção da igualdade de acesso das pessoas aos serviços em seu bairro ou região de moradia.
Outro princípio fundamental é a garantia dos direitos de autodeterminação e autonomia dos indivíduos com transtornos mentais como cidadãos. Esses princípios foram ratificados pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotados em 1991.
São textos que estabelecem três pontos importantes, em se tratando da pessoa com transtorno mental: o direito de ser tratada sem discriminação; o direito à presunção de capacidade legal, a menos que a incapacitação fique claramente demonstrada; e a necessidade de envolvimento dos usuários dos serviços e seus familiares no desenvolvimento de políticas que afetam diretamente suas vidas.
As mudanças nas políticas de saúde mental podem ser divididas em três fases: o estabelecimento dos asilos psiquiátricos, a partir de 1880 até 1955; o declínio do sistema de institucionalização e isolamento, pós-Segunda Guerra; e a reforma dos serviços de saúde mental de acordo com abordagem baseada em evidências, no equilíbrio e na integração de serviços comunitários e hospitalares.
A integração entre comunidade e serviços hospitalares é reconhecida como um "modelo de assistência equilibrado", no qual a maioria dos serviços funciona na comunidade, em centros próximos à população atendida, onde a internação hospitalar é reduzida e, geralmente, efetivada nas enfermarias psiquiátricas dos hospitais gerais.
Os países em desenvolvimento devem estruturar cinco categorias de recursos para organizar o desenvolvimento dos serviços: clínicas ambulatoriais para atendimento de pacientes; equipes de saúde mental comunitária; serviços de atendimento ao paciente em crise; assistência domiciliar baseada na comunidade; e serviços de encaminhamento para emprego, ocupação e reabilitação.
A assistência orientada para a comunidade deve preencher, ainda, os seguintes requisitos: atender às necessidades de saúde pública, com prioridade para o tratamento dos doentes mais graves; desenvolver centros locais e acessíveis; mobilizar a participação dos usuários e seus familiares nas políticas de planejamento; e provisionamento dos serviços de saúde mental.
A Associação Mundial de Psiquiatria nomeou uma força-tarefa para produzir diretrizes sobre as etapas, os obstáculos e os erros a serem evitados na implementação de um sistema de saúde mental comunitário.
O conteúdo desse editorial estará no próximo número da "Revista Brasileira de Psiquiatria" e o relatório completo será divulgado na edição de junho do "World Psychiatry".
O relatório levantou vários erros-chave. Primeiramente, não há planejamento de saúde mental sem a participação de psiquiatras e usuários.
Em segundo lugar, o planejamento deve ser acompanhado por sucessão racional de eventos, de modo a evitar o fechamento de um hospital psiquiátrico antes que o serviço comunitário de assistência esteja solidamente estabelecido na mesma área.
Nenhum sistema de saúde mental pode funcionar sem a disponibilidade de leitos suficientes para acolher o paciente em crise. Outro erro comum é associar a reforma a um interesse ou grupo político particular, o que pode fazer com que qualquer mudança de governo comprometa as ações tomadas por predecessores.
Concluindo, os princípios fundamentais de orientação das políticas de saúde mental nos países em desenvolvimento preveem que estas devem se basear nas necessidades de saúde pública, levar em consideração a proteção dos direitos humanos e serem projetadas levando em conta sistemas de saúde mental baseados em evidência e custo-efetividade.
É o momento, portanto, de se buscar um consenso para a defesa da melhoria de serviços de saúde mental de qualidade, capazes de atender milhões de pessoas sem recursos e completamente desassistidas, nos países em desenvolvimento.
JAIR MARI é professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo).
GRAHAM THORNICROFT é professor do Instituto de Psiquiatria do King's College, em Londres.

MÍRIAM LEITÃO

À meia-bomba 
Miriam Leitão 

O Globo - 18/05/2010

O acordo que o Brasil e a Turquia acabaram de fechar com o Irã tem os mesmos termos do acordo fechado com as Nações Unidas, em outubro, e do qual o Irã recuou. Mesmo se o presidente Mahmoud Ahmadinejad cumprir todas as cláusulas, restará saber que respostas ele dará para as inúmeras dúvidas das Nações Unidas sobre o programa militar nuclear do país.

Existem dois problemas mais graves, entre muitos, nas relações entre o Irã e a comunidade internacional na área nuclear. O primeiro é o que o presidente Lula tratou nas negociações: um acordo para que ele entregue o urânio enriquecido entre 3% a 5% para armazenamento em outro país, em troca do direito de importar urânio enriquecido a 20% para seu programa nuclear para fins pacíficos.

Outro é que o Irã tem um programa nuclear militar com cinco centrais, algumas delas foram instaladas às escondidas, e não permite a supervisão internacional adequada. O urânio que o país está entregando seria apenas a metade do que já tem em estoque. Por isso, o mundo recebeu com dúvidas e reservas a iniciativa diplomática de estreia do Brasil na tentativa de resolver uma parte do conflito mais intratável do planeta: o Oriente Médio.

O Irã tem ambições claras, explícitas, de se tornar uma potência atômica. É um objetivo nacional do país, porque ele se sente cercado de inimigos. Toda a sua relação com a fiscalização internacional tem sido de negativa e hostilidade. O mundo não desconfia de Ahmadinejad à toa. Está coberto de razão para imaginar que um país que já escondeu a verdade possa escondê-la de novo; e que um país que se nega a cumprir os pedidos da ONU esteja querendo apenas ganhar tempo.

Em conversa que tive ontem com três embaixadores com larga experiência internacional — o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, Rubens Barbosa, que foi embaixador em Londres e Washington, e Sérgio Amaral, que chefiou a missão brasileira em Londres e Paris, — firmei a convicção de que esse assunto é bem mais complexo do que tem sido apresentado em certas análises.

Não há quem não queira para o Brasil um papel de maior protagonismo no cenário internacional. A convicção entre veteranos da diplomacia brasileira é que é normal, e esperável, que o país tenha cada vez mais influência. Mas há dúvidas sobre se esse movimento trará os dividendos esperados pelo governo brasileiro.

De qualquer maneira, a iniciativa criou chances de que seja derrotada a proposta de sanções contra o governo iraniano no Conselho de Segurança da ONU, porque a maioria a favor das sanções está se estreitando.

Se as sanções não forem aprovadas, isso será uma derrota americana, mas não necessariamente uma vantagem para o Brasil.

É muito difícil saber exatamente o que o Brasil tem a ganhar com tudo isso. Do aspecto puramente comercial, o Irã representa 0,59% do comércio brasileiro. Do ponto de vista político, o Brasil está avalizando um governo que está neste exato momento matando os seus opositores, condenandoos ao enforcamento. Nada mais primitivo do ponto de vista institucional do que um governo que sufoca, literalmente, seus dissidentes.

Isso é coerente com o apoio brasileiro ao regime cubano. Não é coerente com a rejeição ao governo de Honduras, que é justificada pelo argumento de que a eleição presidencial daquele país foi precedida de um golpe de Estado. Se temos como princípio não apoiar governos que tenham relação com golpes, como diz o governo brasileiro sobre Honduras, então o Brasil não deveria fazer a defesa do regime repressor cubano. Mas a diplomacia brasileira fica mais desengonçada quando o Brasil exige, como fez, que a Espanha desconvide Honduras como condição para participar de um encontro ibero-americano.

Apoiar Ahmadinejad em si, que reassumiu o governo numa eleição fraudulenta e tem calado a oposição de forma truculenta, não é coerente com os valores que o Brasil defende. A grande dúvida de todo o processo é o que leva o presidente Lula a usar todo o seu capital político acumulado em todos esses anos em defesa de um regime, de um presidente e de um programa nuclear que estão cercados de dúvidas inteiramente procedentes por parte da comunidade internacional.

A diplomacia do presidente Lula gosta de cantar vitórias que não teve. Ela perdeu sucessivas apostas.

Apostou em Doha contra a Alca ou acordos bilaterais.

Ficou sem Alca, sem Doha e fez poucos acordos bilaterais.

Apostou em ampliação do Mercosul, ele não se ampliou e tem andado para trás. Concentrou esforços na luta para ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e ainda não tem. O governo acha agora que, com essa jogada de altíssimo risco, poderá se credenciar como uma força diferenciada na busca da paz mundial. Pode ter bombardeado suas possibilidades de conseguir o objetivo almejado.

A característica da diplomacia brasileira é vender-se com um bom marketing aqui dentro. Por isso, vai aproveitar para faturar o acordo de Teerã. Para um governo que só pensa na eleição, é uma excelente chance para propaganda.