domingo, agosto 23, 2009

ELIO GASPARI

A pequena mentira que aborreceu Stálin

O GLOBO - 23/08/09



A relação agreste de Dilma Rousseff com a verdade custou-lhe sossego e poderá custar a candidatura

A MINISTRA Dilma Rousseff tem uma relação agreste com a verdade e isso vem lhe custando o sossego, podendo custar a candidatura à Presidência da República. Nosso Guia desafiou Lina Vieira ("essa secretária") a mostrar sua agenda para provar que se encontrara com a ministra Dilma Rousseff. A servidora estimou que o encontro pode ter ocorrido no dia 19 de dezembro passado, mas anotação na agenda parece que ela não tem.
É Lina Vieira quem precisa provar que esteve no Planalto e até agora tem o suporte da memória de sua chefe de gabinete. Outro servidor capaz de recordar a data do interesse pelo caso de Fernando Sarney era o diretor de fiscalização, Henrique Freitas, que ficou com a cabeça a prêmio. A ausência da data do crime leva água para a teoria segundo o qual o encontro não ocorreu. É a palavra de uma contra a da outra.
A repórter Leila Suwwan foi conferir a agenda da ministra no final de dezembro de 2008 e descobriu que os encontros e eventos incluídos no sítio do Palácio do Planalto estavam embaralhados, misturando dias e cerimônias. Desapareceram os dados do dia 19 de dezembro.
Há um mês, o repórter Luiz Maklouf Carvalho mostrou que o currículo de Dilma Rousseff estava acelerado com um título inexistente. A ministra negou a autoria do documento, acrescentando uma correção acrobática: não é mestre nem doutora pela Unicamp, mas frequentou os cursos. Em 2006, ao ser entrevistada no programa "Roda Viva", ela ouviu o jornalista Paulo Markun ler sua biografia, informando que foi viver em Porto Alegre "depois de fazer doutorado em economia monetária e financeira".
Agora Suwwan mostrou que sua agenda pública não merece fé. A Casa Civil atribui o sumiço do dia 19 a um erro ocorrido há meses, na transferência de dados. Quem quer acreditar nessa versão é obrigado a supor que aconteceu uma enorme coincidência.
O aspecto agreste da relação de Dilma com a verdade está na crença de que há uma relação entre o poder e a consistência das versões que sustenta. Uma coisa é anexar títulos inexistentes, outra é fazer piruetas depois da exposição do erro. Uma coisa seria dizer que solicitou pressa à secretária da Receita na investigação das contas de Fernando Sarney. (Pressa, no caso, pode ser um fator neutro.) Outra é entrar numa discussão de agendas tendo a sua remendada.
Quem manda muito acha que pode tudo e, em alguns casos, prevalece enquanto tem o poder. Passa o tempo e a casa cai por conta de detalhes devastadores. Dois exemplos:
Em janeiro de 1971, o ex-deputado Rubens Paiva foi preso e desapareceu. Os comandantes militares da ocasião contaram que ele estava sendo transportado por dois soldados da PE num Volkswagen quando o carro foi fechado numa estrada do Alto da Boa Vista. Seguiu-se um tiroteio, o prisioneiro saiu do Volks e embarcou num automóvel dos sequestradores.
Tudo bem: faltava explicar como Paiva, com mais de 1,80 m, pesando em torno de cem quilos, sentado no banco de trás, saiu pela porta esquerda do Fusca, atravessando uma linha de tiro. Passaram-se 17 anos e o repórter Fritz Utzeri, com base na versão oficial, desmoralizou a farsa. Uma pequena mentira estragou a grande patranha.
Outro caso, que aborreceu o generalíssimo Josef Stálin: em 1936 ele mandou sua polícia prender velhos bolcheviques, acusando-os de terem planejado um assassinato. Deu tudo certo, os presos confessaram, os juízes julgaram e o pelotão de fuzilamento liquidou o caso. Numa das confissões, um preso contou que participara do planejamento do atentado, em 1934, numa reunião no hotel Bristol de Copenhague. O Bristol fora demolido em 1917. Como escreveu Stálin: "Por que diabos vocês meteram o hotel nisso? Deviam ter dito que foi na estação ferroviária. Ela ainda está lá".
Tanto os generais brasileiros de 1971 como o comissariado de 1936 acreditavam ter poder suficiente para desprezar detalhes. Num regime democrático, com imprensa livre (desde que fique longe dos áudios do Sarneystão), os pequenos truques produzem grandes desastres.

PURO-SANGUE
Sucessão presidencial é como nuvem e muda de forma a cada momento. Atualmente, o formato da chapa tucana tem José Serra na cabeça e Aécio Neves na vice.

REAL COBIÇA
Recomeçou a temporada de caça aos cofres de Furnas e de seu fundo de pensão, o Real Grandeza. Em fevereiro passado, uma mobilização de funcionários e aposentados derrotou um ataque especulativo contra a composição do conselho do fundo. Bem-sucedido, resultaria na captura do núcleo financeiro da instituição. Em outubro, haverá nova eleição para a diretoria do Real Grandeza.
Por conta dos ventos que sopram, o diretor de operações de empresa, Fábio Resende, pediu para ir embora. Trata-se de um veterano da empresa. Sua diretoria controla 3.200 funcionários em 45 municípios. Um sonho para os parlamentares do PMDB que, tendo um pé na estatal, querem botar os dois.
O governo Lula inovou. Num mundo em que as pessoas melhoram de biografia quando chegam aos cargos, inverteu-se o jogo: ganha respeito quem pede o boné. É a lei Marina-Arns.

DANÇA DE CADEIRAS
O chanceler Celso Amorim deverá mexer no primeiro escalão do Itamaraty. Pelo que se lê nos búzios, as mudanças seriam as seguintes: o embaixador Antonio Patriota trocará Washington pela chefia da delegação do Brasil na ONU, em Nova York. Para seu lugar iria Mauro Vieira, atual embaixador em Buenos Aires. Caso o atual secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães não vá para o ministério do sabe-se-lá-o-quê, vago desde a saída do professor Mangabeira Unger, poderá ir para Buenos Aires.

ESPINHOS DO PSDB
A armação eleitoral do PSDB tem três espinhos. O pior está no Rio Grande do Sul, onde há pesquisas mostrando que Dilma Rousseff lidera a disputa por pequena margem. O outro está no Paraná, onde o tucanato dividiu-se. O terceiro mora no Amazonas, onde Lula conseguiu 87% dos votos em 2006.

FOFOCA
Enquanto o Gabinete de Segurança Institucional de Nosso Guia diz que não tem os vídeos da circulação pelo Palácio do Planalto (o que é mentira ou incompetência), a segurança da Casa Branca deu-se a uma divertida fofoca. O presidente Bill Clinton e sua mulher Hillary estrearam um equipamento que permitia ao Serviço Secreto saber exatamente em que lugar da Casa Branca estavam. Cada um deles carregava um pequeno transmissor e o rastreamento do casal parecia um videogame. Quando o bip-bip do marido indicava que ele entrava no aposento onde estava Hillary, o bip-bip da senhora informava que ela estava indo para outro lugar.

PRESENTE
A oposição ainda não tinha digerido os dois presentes que recebeu do governo (a transmigração de Marina Silva e a demissão de Lina Vieira) quando os çábios do Planalto decidiram botar outro mimo na bandeja: a recriação da CPMF. Na quinta-feira, o deputado Ciro Pedrosa, do PV de Minas Gerais, reanimou a tramitação do tema na Câmara, requerendo a sua inclusão na ordem do dia. O PMDB garantiu ao ministro José Gomes Temporão que aprova o projeto de lei complementar que restabelece o tributo. Resta saber quais garantias o governo deu ao partido.

DANUSA LEÃO

Que alguém me explique

FOLHA DE S PAULO - 23/08/09


Tanto quanto o pouco demais nos entristece, o muito exagerado pode nos causar um certo desconforto

ACREDITO QUE todas as pessoas do mundo ficariam felizes se soubessem que todos, sobretudo os menos favorecidos, pudessem melhorar de vida e ter acesso aos bens materiais que fazem com que o nosso cotidiano seja mais fácil e mais agradável. Não seria bom saber que aos 20 anos todos os meninos e meninas vão poder ter um carrinho? Que todos os jovens, ao se casar, terão direito a um apartamentinho, mesmo pequeno, mas com o mínimo necessário para viver decentemente, com lugar para o bebê que certamente virá? Então estamos todos de acordo; mas existem algumas coisas que não entendo e acho quase injustas. Tanto quanto o pouco demais nos entristece, o muito exagerado pode nos causar um certo desconforto.
É bom pensar que um garoto da favela conseguiu dar a volta por cima e tornar-se um grande jogador de futebol, cobiçado por clubes do mundo inteiro, e com isso tirou da pobreza quase absoluta uma família inteira: pai, mãe, irmãos, sobrinhos, primos, amigos. Mas quando leio que um desses meninos, pelo fato de ter nascido com o dom de chutar bem uma bola, ganhou 50, 80 ou 100 milhões de dólares, ou que uma modelo brasileira, por ter tido a sorte de nascer fotogênica, foi incluída na lista das personalidades do show business (ou algo parecido), como uma das que mais faturaram no ano, fico meio mal.
Alguma coisa está errada; tem que estar. É claro que, se esses fenômenos ganham o que ganham, tem gente por trás deles ganhando muito mais; de onde vem o dinheiro que paga as viagens e reuniões solenes dos dirigentes da Fifa pelos países do mundo, e os altíssimos salários desses dirigentes? Os lucros e poderes da indústria da moda e dos perfumes já sabemos de onde vêm: do bolso daquelas que acham que, se usarem um vestido ou um perfume que saiu na revista no corpo de Kate Moss, vão ficar iguaizinhas a ela, e fico pensando: será justo que um desses escolhidos pela sorte mereçam uma fortuna tão grande quanto a que eles ganham?
Houve uma época em que fiz as contas e lembro que o salário de um desses jogadores milionários, dividido pelos 30 dias do mês, dividido pelas 24 horas do dia, fazia com que ele ganhasse por hora mais do que muita gente, mas muita gente mesmo, conseguiria ganhar em um ano. Por uma questão de equilíbrio, com todos os fantásticos dons com que eles nasceram, esses contratos não poderiam -deveriam- ser mais razoáveis? Porque 50 milhões de dólares é muito dinheiro, aqui e em qualquer lugar do mundo. Dinheiro demais, eu diria. E tanto, que quem ganha essa grana toda, sem estar preparado para isso, acaba como Romário, tendo que leiloar um apartamento para pagar suas dívidas. Eles são, em sua maioria, tão ingênuos, que a cada namorada, um filho.
Talvez seja esse excesso de grana que faz com que não se sinta, em nenhum jogador, o amor que existia pela camisa da seleção. Eles são escalados e entram em campo pensando no possível contrato que poderão assinar com um time do exterior, assim que o juiz der o apito final; e se o Brasil, por acaso, for campeão, melhor ainda. E não sei por que, lembro de Garrincha, tão modesto, tão simples, tão genial, tão inesquecível. E tão gostado por todos, mais do que qualquer dos outros de antes ou depois dele jamais foram nem serão.
E fico pensando que ganhar essas fortunas é tão injusto -a palavra é péssima, mas não sei qual seria a certa- quanto viver passando necessidades.

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MÍRIAM LEITÃO

Não sem a mulher

O GLOBO - 23/08/09

O presidente Barack Obama está perdendo a guerra dele. Na campanha, ele culpava George Bush por ter dispersado esforços com a guerra do Iraque e dizia que o fundamental era o Afeganistão.

Dias atrás, quando o presidente Hamid Karzai aprovou a lei do estupro, para fazer concessões aos eleitores conservadores, a verdadeira guerra estava começando a ser perdida.

Uma sociedade não se salva sem as suas mulheres.

Elas são condutoras do progresso.

Não sou eu que digo, são os estudos que mostram que mães com maior escolaridade garantem que a futura geração estude mais. Pela educação, o país, como um todo, evolui. No Afeganistão, 80% das mulheres são analfabetas. Estavam proibidas de estudar durante o regime Talibã e continuam ameaçadas e encurraladas no regime que transformaria o Afeganistão.

Há uma constatação generalizada, diz o “New York Times”, “do Banco Mundial, ao Comando Geral das Forças Armadas Americanas às instituições beneficentes como Care”, que focar a mulher é a forma mais efetiva de combater a pobreza, o extremismo, a violência.

“No Afeganistão, o sacrifício no jogo político é feito pelas mulheres e as crianças”, disse a deputada Fawzia Koofi à CNN. O casamento forçado de meninas é prática normal no país. Elas são a moeda de troca em disputas e em cobranças de dívidas. Em torno de 60% das meninas são obrigadas a se casar antes de 16 anos e o alto índice de gravidez entre 10 e 14 anos explica a elevada mortalidade materna, informa a revista inglesa “Economist”.

Não sem as mulheres.

Não há modernização sem elas. Por isso foi tão desanimador que Karzai até justificasse a lei que permite que os maridos estuprem suas mulheres ou as deixem morrer de fome, caso não consintam com o sexo. É uma lei destinada a uma minoria étnica do país, mas os sinais de que as mulheres, de novo, estão sendo soterradas no país são cada vez mais fortes.

As fotos que os jornais brasileiros trouxeram nas edições de sexta-feira eram animadoras, de um certo ponto de vista. Apesar da intimidação dos talibãs, do risco de morte inclusive, elas, usando suas burcas, fizeram fila para votar. O comparecimento geral foi bem menor porque os grupos radicais estão cada vez mais fortes. Mesmo assim, era possível registrar depoimentos como o da afegã Bibi Robiah a Lourival Santanna, do “Estado de S. Paulo”: “Estamos com medo, mas é nossa obrigação votar, por nosso país, para nossos filhos viverem em paz e terem emprego.” As mulheres no poder não são iguais entre si. A atual secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, dá muito mais relevo à questão de gênero, em sua agenda, do que sua antecessora, Condoleezza Rice. Criou no Departamento de Estado o cargo de Embaixadora da mulher e nomeou para o posto sua ex-chefe de gabinete.

Em todas as viagens tem dedicado tempo, feito gestos, discursos e reuniões sobre os vários problemas dessa inquietante questão. Na África, fez um forte discurso condenando a prática do estupro coletivo.

Todo esse esforço será em vão se aceitarem a lei aprovada no parlamento afegão, e que teve até votos de algumas das mulheres parlamentares conservadoras.

Karzai disse que a lei foi mal interpretada no Ocidente.

Há como interpretar errado o direito dado a um homem de estuprar a mulher? Isso não precisa de tradução. É imundo em qualquer língua, em qualquer cultura.

Hillary explicou assim sua insistência no tema: “A democracia não significa nada se metade das pessoas não pode votar, ou se seus votos não contam, ou se sua taxa de alfabetização é tão baixa que seu voto pode ser posto em questão. É por isso que quando viajo eu falo sobre os direitos da mulher, eu encontro mulheres ativistas, eu levanto as preocupações das mulheres nas conversas com os líderes com os quais eu converso.” Esse não é um assunto lateral. Tem sido posto à parte tempo demais. Mas os indicadores das mulheres falam muito sobre uma sociedade, e o grau de avanço a que se chegou. “Eu tendo a acreditar que a transformação do papel da mulher na sociedade é o último grande impedimento ao progresso universal”, disse Hillary.

A Índia é uma democracia há mais de 60 anos, com regularidade de eleições, e hoje consta em todas as listas de candidatas à potência.

Hillary lembra, no entanto, que sem o empowerment (aumento do poder) das mulheres, a transformação não acontecerá. É até pior do que a secretária de Estado está dizendo. Na Índia, hoje pólo de alta tecnologia, o índice de analfabetismo das mulheres é de mais de 40%. Não, sem as mulheres, a Índia não será potência mundial.

No especial que o “NYT” tem publicado nos últimos dias, “Salvando as mulheres do mundo”, as estatísticas vão piscando na tela da reportagem.

“Só 1% dos donos de terra são mulheres; a ONU calcula em cinco mil os assassinatos de ‘honra’ por ano, a maioria no mundo muçulmano; 130 milhões de mulheres sofreram corte genital; 21% das mulheres jovens de Gana disseram que sua iniciação sexual foi pelo estupro.” O jornalista Nicholas Kristoff, um especialista no tema, e Sheryl WuDunn dizem que o mais importante desafio moral no século XIX era a escravidão, no século XX foi o totalitarismo, no século XXI é a violência contra a mulher. Nenhum país pode dizer que o problema está superado. Em todos, há muito a fazer.

Recentemente um amigo me perguntou se eu ainda era feminista e disse que pensava que eu estava além de tudo isso, por ser uma mulher bem-sucedida. Sonho estar além de tudo isso.

Mas, não sem as outras. Não sem todas elas.

GOLPE (ELEITORAL) CONTRA A AGRICULTURA

EDITORIAL

O ESTADO DE S. PAULO - 23/8/2009


Empenhado em ganhar as próximas eleições a qualquer custo, o presidente Lula decidiu recrutar para a campanha os desordeiros do MST. Para garantir seu apoio, planeja golpear um dos setores mais produtivos e estrategicamente mais importantes da economia brasileira, o agronegócio. Para isso, o presidente exigiu de seus ministros a apresentação, nas próximas duas semanas, dos novos índices de produtividade usados como critério para a desapropriação de terras. A intenção é clara. O comando eleitoral do Palácio do Planalto não está interessado em produtividade. Se estivesse, daria mais apoio a quem realmente produz e já demonstrou vocação para modernizar a própria atividade e competir entre os melhores do mundo. O agronegócio brasileiro assusta os concorrentes da Europa, dos Estados Unidos e das maiores economias do resto do mundo por sua capacidade competitiva. No centro do governo, é acusado de improdutivo e de não respeitar a "função social" da propriedade agrícola.

Se perguntarem ao presidente Lula por que ele prometeu aos dirigentes do MST a renovação dos tais índices de produtividade, ele não poderá fornecer nenhuma resposta razoável, porque nenhuma resposta desse tipo estará disponível. Não há, no Brasil, nenhum déficit na produção e na oferta de alimentos. A agropecuária brasileira tem sido capaz, há muitos anos, de produzir muito mais que o necessário para o consumo interno. Se é preciso complementar a oferta de algum produto, como o trigo, a receita de exportação gerada pelo setor é muito mais que suficiente para financiar a compra. De janeiro a julho deste ano, as exportações do agronegócio renderam US$ 37,73 bilhões, enquanto as importações consumiram apenas US$ 5,88 bilhões.

Esse bom resultado, um superávit de US$ 31,85 bilhões, sustentou o saldo comercial brasileiro e contribuiu de forma importante para o País enfrentar a crise sem abalo nas contas externas. Num cenário adverso, com a procura externa retraída e as condições de concorrência muito mais duras, o agronegócio brasileiro mais uma vez mostrou sua eficiência. Ninguém condenou a indústria por trabalhar, desde o agravamento da crise, bem abaixo de sua capacidade produtiva, como observou a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Nem haveria por que censurar. Mas querem cobrar da agropecuária índices de produtividade impostos pela burocracia de Brasília, em qualquer condição econômica e sem nenhum benefício para o País, porque não falta comida - barata - nem matérias-primas de origem agrícola.

O objetivo de Lula não é, obviamente, cuidar dos interesses da economia brasileira. Não é preciso mexer na posse da terra - e ele sabe disso - para abastecer o mercado nacional nem para tornar competitivo o produto brasileiro. Os verdadeiros produtores, grandes, médios e pequenos, têm cuidado de todos esses pontos, com o esforço próprio, com a ação da Embrapa (quase destruída, há alguns anos, pela intervenção petista) e com algum apoio do Ministério da Agricultura. O objetivo presidencial, por exclusão, só pode ser eleitoral. Não por acaso a decisão de Lula foi anunciada depois de 3 mil pessoas arrebanhadas pelo MST montarem acampamento e promoverem manifestações e desordens em Brasília. Bem tratados pela demagogia presidencial, serão convertidos em tropas de choque para atuar na campanha eleitoral coordenada por Lula, o chefe de fato do PT.

Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Gustavo Cassel, só tem de se preocupar com os novos índices quem não se preocupa com a produção. Isso é retórica de quinta categoria. Quem menos se preocupa com produtividade e bom uso da terra é o seu Ministério. Se houvesse alguma seriedade na chamada "política agrária", a próxima iniciativa deveria ser um reexame dos objetivos da "reforma" e de sua utilidade para o Brasil. O resultado de um exame honesto seria facilmente previsível: o único objetivo da política atual é a manutenção de massas de manobra disponíveis para servirem a quem as financia. O financiamento, a propósito, é feito com dinheiro público. Cabe ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, denunciar mais essa perigosa farsa da "política agrícola". Sua omissão será desmoralizante.

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TEMPOS DE RETROCESSO

EDITORIAL

FOLHA DE S. PAULO - 23/8/2009


Lula e seus aliados transformam a política em acobertamento mútuo e camaradagem sem nenhum escrúpulo

SEM NOVIDADE. Sustentando o senador José Sarney no Conselho de Ética, o PT simplesmente repete o clássico roteiro a que já se assistiu durante o escândalo do mensalão, o episódio dos "aloprados" e a manipulação do caso Oi-Brasil Telecom.
Provoca alguma tristeza, e alguns sorrisos, o drama pessoal do líder petista no Senado, Aloizio Mercadante, que anunciou em plenário sua disposição de continuar no cargo, apesar da demissão "irrevogável" veiculada na véspera.
A respeito de seu choroso depoimento no Senado, afirmando que continuaria a ser líder da bancada petista, mais vale o silêncio do que qualquer comentário crítico.
Não cabe, aqui, julgar dilemas individuais de quem quer que seja. O que importa notar, entretanto, é o vazio partidário e político que se abriu no país, conforme se consolidou o poder de Lula na Presidência e os acordos que possibilitaram seu exercício.
Mais do que cogitar acerca do caráter pessoal dos participantes da comédia, seria importante refletir sobre as condições práticas do que, a torto e a direito, chama-se a "governabilidade".
Será de fato necessário preservar uma suposta ordem nos negócios de Estado ao preço do pleno desprezo pela ética básica dos cidadãos?
Será que, em nome de uma candidatura artificial e estranha às instâncias partidárias -a da ministra Dilma Rousseff-, cumpre defender não os interesses de um partido aliado, mas esta ou aquela personalidade sob o foco das investigações?
No fundo, reedita-se hoje um comportamento político que, há quase sete décadas, foi definido pelo sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda no seu clássico "Raízes do Brasil".
Lula e seus "companheiros", Lula e seus aliados, seus acólitos, ou seja lá que nome tenham: tudo corresponde exatamente ao perfil do "homem cordial", traçado por Sérgio Buarque.
Princípios, valores, códigos e programas não importam nesse modo de viver a política.
O "cordial", no caso, não se refere às características próprias de amabilidade e simpatia que um político possa ter -sobram a Lula, faltam a Dilma Rousseff, pouco importa. Trata-se, sobretudo, do predomínio do favorecimento pessoal sobre o cálculo e a racionalidade de Estado.
Lula, Sarney, Mercadante e tantos outros abdicaram de valores e princípios. A política se transforma em acobertamento mútuo e camaradagem sem escrúpulo.
Naufragam nesse processo tanto o PT -antigo arauto da renovação social e ética no país- como o PMDB, valioso instrumento, se é que alguém se lembra, da luta contra a ditadura.
O que resta de toda a farsa? Talvez a atitude de alguns políticos que abandonam o partido; talvez as reações de uma aturdida opinião pública, que acompanha cada lance de desmoralização institucional e de vergonha pessoal vivida durante o governo Lula. Tempos cordiais. Tempos de retrocesso e de vexame.

MERVAL PEREIRA

Mercadante Virou suco

O GLOBO - 23/08/09

Estava na sexta-feira no Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, esperando a hora de embarcar de volta para o Rio, quando minha atenção foi atraída por uma máquina de fazer suco de laranja. A fruta entra por um tubo, é espremida e seu bagaço é jogado numa lata de lixo pelo mesmo tubo que sobe para pegar outra laranja. De vez em quando uma laranja sai do lugar e um balconista tem que abrir a máquina e colocar a laranja no tubo certo com a mão

Enquanto admirava essa maravilha da modernidade, o celular tocou. Era o senador Aloizio Mercadante que, naquela mesma tarde, havia feito um patético discurso no Senado revogando sua decisão irrevogável de sair da liderança do PT no Senado, em protesto contra o acochambramento que livrou o presidente do Senado José Sarney dos processos no Conselho de Ética.

Enquanto ouvia as explicações de Mercadante, não me saía da cabeça aquela laranja que não entrara no fluxo normal de produção de suco e que a mão do balconista teve que recolocar no devido lugar.

O balconista tinha a cara do Lula, e a laranja era o próprio Mercadante, que acabou virando suco. Essa não é lá uma grande metáfora, mas foi assim mesmo que me ocorreu.

O senador petista tem 54 anos, mas mantém uma relação infantilizada com o presidente Lula, a quem não consegue dizer não.

Como se todos os seus eleitores, e os que acompanham sua vida pública, fossem obrigados a entender seu drama pessoal.

Até entendo, mas não compreendo que com seus avanços e recuos Mercadante tenha jogado fora uma carreira política que, embora também marcada por avanços e recuos, tinha lá sua importância dentro do PT.

Ele me diz que está convencido de que a tarefa que tem pela frente é lutar, dentro do PT, para retomar as origens do partido que ele considera abandonadas pelo pragmatismo político que domina as relações partidárias no Congresso.

A versão de Mercadante para a conversa de cinco horas com o presidente Lula não coincide com relatos muito mais cruéis vazados pelo Palácio do Planalto e por setores petistas, que dão conta de que a conversa “amiga e franca, relembrando momentos históricos dos últimos 30 anos” foi, na verdade, um “puxão de orelhas” do presidente Lula em seu pupilo, a quem teria dito: “Não dá para vacilar diante do primeiro embate. As alianças têm duas mãos”.

Ora, o presidente Lula assume nessa frase todo o pragmatismo que levou o PT a apoiar primeiro Renan Calheiros, e agora José Sarney, episódios em que o senador Aloizio Mercadante vacilou, ficando sem apoio de nenhum lado.

Na votação para salvar Renan Calheiros da cassação no plenário do Senado, ele se absteve e deu o sinal para que sua bancada seguisse o caminho que aparentemente era o mais fácil para cumprir as determinações do Palácio do Planalto e não sujar as mãos publicamente.

Não ganhou o reconhecimento de Renan Calheiros e perdeu credibilidade diante dos seus eleitores. Desta vez, tentou uma manobra mais coerente com seu discurso e a direção nacional de seu partido passou por cima dele como um trator, desautorizando-o publicamente, seguindo orientação pessoal do presidente Lula.

Ao anunciar que renunciaria à liderança do partido, Mercadante estava fazendo o gesto político que o reconciliaria com a opinião pública, mas o colocava em choque com todo o aparato partidário e com o Palácio do Planalto.

O senador Eduardo Suplicy passou por esse mesmo problema em 2006, e só não foi boicotado pela cúpula do PT porque ela não tinha, àquela altura, força política para retalia-lo, ferida de morte pelo mensalão, a gota d’água que transbordou o copo de mágoas do establishment petista contra Suplicy, que defendeu as investigações.

Mas Suplicy por pouco não se elegeu, quase sendo atropelado pelo candidato do DEM Afif Domingues.

A revogação da palavra por parte de Mercadante pode significar seu suicídio político na reeleição de 2010, mas ele não tinha opção, pois o partido já o avisara que poderia não ter a legenda para disputar uma das vagas para o Senado se persistisse nessa posição de dissidente.

Concomitantemente, a exprefeita Marta Suplicy lançou sua candidatura ao Senado, e dificilmente Mercadante terá força política para demovê-la do intento.

Mas para um político que pretende representar a ala moderna do partido — tem twitter, Orkut, myspace, facebook, blog — e que defende a retomada dos princípios éticos que teriam fundamentado o Partido dos Trabalhadores em outras épocas, Mercadante, que queria passar a ideia de ser um peixe fora d’água nesse novo petismo, agora parece uma caricatura de si mesmo — na feliz percepção do Chico Caruso — pendurado num cargo que sabe que não tem condições políticas de exercer.

O episódio dos “aloprados” na eleição de 2006, em que um grupo de petistas comprou dossiês contra José Serra, então seu adversário ao governo de São Paulo, e Geraldo Alckmin, candidato tucano à Presidência da República, já marcara sua vida política, pois seu principal assessor de campanha eleitoral era o comandante da operação ilegal que ele alega até hoje ter sido montada à sua revelia.

Mas Mercadante tem uma utopia: a aliança política entre PT e PSDB para garantir a governabilidade, sem a necessidade de negociar com o PMDB a cada passo, como aconteceu agora no episódio Sarney.

A julgar pela reação irada dos petistas diante da revelação de que acatara também pedidos do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e do líder tucano, Arthur Virgilio, essa será mais uma utopia a ser arquivada.

E, do lado dos tucanos, se depender de José Serra, o “mitômano” Mercadante também não terá vez nessa eventual coligação. Se é que ele terá um mandato para defende-lo no próximo Congresso.

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VINÍCIUS TORRES FREIRE

Uma historieta da banca sob Lula

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/08/09


Desde 2003, vem diminuindo a participação relativa dos bancos estrangeiros e do BNDES no estoque de crédito

MAIS DO QUE sabido e até motivo de quizila entre o ministro da Fazenda e banqueiros, os bancos estatais foram responsáveis por cerca de 80% da expansão do estoque de crédito desde o estouro da crise. Mas qual foi o perfil da atuação de públicos e privados nos anos Lula ou FHC?
De início, pode-se dizer que em 2009 foi a primeira vez em que se verificou uma nítida atuação de bancos públicos com o fim de atenuar um ciclo de baixa econômica. Até porque nos anos FHC e, ainda pior, nos anos de hiperinflação, é muito difícil fazer tal tipo de avaliação.
Nos anos FHC, em vez de ciclos, a economia viveu choques recorrentes. Houve ainda privatizações e liquidações de bancos públicos, liquidação de bancos privados, a entrada de estrangeiros, a cobertura de rombos nos estatais malversados; enfim, a grande reforma do sistema bancário. Foram tantas mudanças que fica difícil discutir um comportamento típico da banca pública ou privada.
Segundo, nota-se que, logo no início de Lula, a fatia dos bancos públicos comerciais no estoque de crédito cresce bem. Da média de 18% do crédito, em 2002, a fatia dos estatais passa a 21% em meados do primeiro ano de Lula e flutua em torno disso até o estouro da crise, em setembro de 2009 (nessas contas, excluiu-se de propósito o BNDES, uma categoria à parte). Os bancos privados nacionais ficam com uma parcela de uns 50,5% do início de Lula até meados de 2007, quando o crescimento econômico se acelera. Em setembro de 2008, tal participação chega a 53%. Pós crise, em junho de 2009, os privados nacionais voltavam a 50%; os estatais comerciais iam a 26%.
A mudança mais notável e persistente nesse período é a retirada relativa dos bancos privados estrangeiros (em certos casos, trata-se de retirada literal: saída do país). Da média de 33% do mercado em 2002, a participação dos estrangeiros cai para 24%, em junho de 2009 (ainda excluindo-se da conta o BNDES).
Nota-se também a perda de participação relativa do BNDES no total de crédito, queda de 28% nos anos Lula. Ressalte-se a palavra "relativa": a oferta de crédito do BNDES sempre cresceu e, sozinho, o banco ainda responde por 17% do crédito.
Falta de fundos, de decisão política e novas alternativas de financiamento privado devem ter contribuído para o encolhimento relativo do BNDES. Numa economia mais estável, empresas buscaram financiamento externo e, no final desse período, também no enfim nascente mercado de capitais doméstico.
Resumo da ópera, por um breve período os bancos privados nacionais começaram a aumentar agressivamente sua fatia no crédito em relação aos bancos comerciais estatais: aquele de bom crescimento econômico, entre 2007 e 2008. É provável que tal história se repita com a volta do crescimento. É provável que os estatais comerciais não tenham fôlego e tamanho para manter sua atual fatia de mercado. E, ainda, que não seja possível manter uma expansão do BNDES tal como a que se deve registrar neste ano, quando o governo até se endividou para aumentar os fundos do banco.
Enfim, o mix estatal-privado parece funcionar. Mas reformas como a dos compulsórios e dos juros regulados poderiam bem azeitá-lo.

ELIANE CANTANHÊDE

Casa de Zumbis

FOLHA DE S. PAULO - 23/08/09

BRASÍLIA - Na Presidência, José Sarney não tem condições de presidir sessão nenhuma, arrastando os pés tristemente do gabinete ao plenário sob uma nuvem de ostracismo. Sua voz e sua mão nunca mais vão parar de tremer na tribuna.

Na liderança do PT, Aloizio Mercadante é um fantasma dele mesmo, numa função fantasma. Líder de uma bancada subjugada pelo Planalto e que se desfez em pedaços e em intrigas, ele não fala mais para seus pares petistas, nem para a base aliada, nem para a oposição.

Na liderança do PSDB, o principal partido da oposição, Arthur Virgílio engaveta os seus discursos irados e recheados de um certo lustre intelectual para conviver hoje, amanhã e sempre com o depósito feito por Agaciel Maia para pagar hotel em Paris e com os milhares de reais que saíram do público para financiar o estudo privado de um amigo assessor.Sarney, Mercadante e Virgílio são zumbis de um Senado zumbi. E não só do Senado, mas da política.

Sarney, o veterano de fala mansa e conversa agradável, não teve mais condições de eleger a filha Roseana ao governo do Maranhão e levou um suadouro de uma delegada negra e estreante nas eleições no Amapá. Enfraquecido em seus três feudos -o Maranhão, o Amapá e o Senado-, vai se agarrar desesperadamente a Lula, ao preço da aliança formal do PMDB com Dilma.

Mercadante, que se regozijava com a condição de senador mais votado do país, hoje já não dá para o gasto. Vêm aí as eleições para o governo de São Paulo, mas ninguém fala no nome do senador mais votado do Estado. Aliás, como veio o governo "do amigo" Lula, mas ninguém falou no seu grande assessor econômico para a Fazenda.

E Virgílio, uma ilha nos mais de 80% de Lula no Amazonas, entrou na política como jovem brilhante e está para sair como neurótico estridente e inconsequente. É um resumo cruel.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


CLÓVIS ROSSI

As bases, a Amazônia, a (des)União

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/08/09

Pelo menos até ontem, os presidentes da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) estavam desafiando velha lei não escrita da política segundo a qual só convém se reunir depois de tudo acertado. Nada havia sido combinado a respeito da cúpula do grupo, dia 27, em Bariloche.
O tema é o uso de bases na Colômbia pelos Estados Unidos. Para EUA e Colômbia, apenas para combater terrorismo e narcotráfico (aliás totalmente imbricados hoje na Colômbia). Para a Venezuela de Hugo Chávez, é parte do "cerco do império" ao país bolivariano.
A Colômbia já anunciou que o acordo com os Estados Unidos sairá com ou sem manifestação da Unasul. O Brasil até aceita o acordo se houver as tais garantias jurídicas de que seu alcance é mesmo o que Colômbia e EUA dizem ser.
Mas o chanceler Celso Amorim lembra que o Brasil tem um interesse próprio no caso, que não passa por tentar equilibrar-se entre Colômbia e Venezuela para não dinamitar a recém-nascida Unasul.
O interesse chama-se Amazônia, no raio direto de alcance do acordo como é óbvio. "A preocupação com o interesse externo pela Amazônia existe em todo governo brasileiro, de direita, de centro, de esquerda, democrático ou ditatorial", afirma o chanceler.
Essa preocupação já foi transmitida ao colombiano Álvaro Uribe e, anteontem, a Barack Obama.
Aliás, o telefonema de Lula a Obama parece uma espécie de habeas-corpus preventivo para a hipótese de a cúpula da Unasul terminar em impasse (ou coisa pior). Se há uma chance de que Obama converse em algum momento com a turma do sul, algum presidente conciliador poderia propor algo assim: antes de qualquer declaração aqui em Bariloche, vamos esperar o que Obama tem a dizer.
Não é solução, claro, mas é uma rima (pobre) para evitar que o "U" de união seja desmentido.

PAULO ROBERTO FALCÃO

Velocidade

ZERO HORA - 23/08/09

O Atlético Mineiro parece estar perdendo o fôlego na competição, mas continua sendo uma equipe respeitável e tem o comando de Celso Roth. Só por isso já se pode prever muita dificuldade para o Grêmio neste domingo, embora o time de Paulo Autuori venha obtendo bons resultados em casa. Há ainda um outro componente: o Atlético luta para voltar ao G-4 e vem de uma série de resultados pouco satisfatórios, inclusive o empate da última quinta-feira com o Avaí, depois de estar vencendo por 2 a 0.

As oscilações do Grêmio são bem conhecidas. Ganha em casa, perde fora. Mas não consegue atuações convincentes nem mesmo quando goleia, como aconteceu contra o Flamengo, naquele jogo em que Victor foi o melhor em campo. Autuori está preocupado com a falta de velocidade do time. E esta deve ser mesmo uma preocupação, pois velocidade depende muito do estilo dos jogadores. Não adianta pedir para um jogador lento correr mais do que ele faz normalmente.

E as peças de reposição são insuficientes para o treinador mudar o estilo do time. Com Souza, Tcheco e Douglas Costa, o Grêmio tem boa técnica, e pode ter velocidade se esses jogadores não reterem demasiado a bola. Basta tocar de primeira para o time ganhar rapidez. Na frente, sem Maxi López, o ataque também se torna mais lento, mas Jonas e Perea estão lá para concluir, não para correr. Tudo isso Celso Roth sabe muito bem e, provavelmente, vai repassar aos seus jogadores.

Brasilianos

Começa neste fim de semana um Campeonato Italiano com muitos brasileiros, mas sem o charme de outras épocas, quando a Itália era o principal centro futebolístico da Europa. Agora a Espanha e a Inglaterra também têm competições fortes, com clubes qualificados, verdadeiras seleções multinacionais. A Inter, de Milão, tetracampeã, tem três brasileiros como titulares, todos da Seleção: o goleiro Júlio César, o lateral Maicon e o zagueiro Lúcio. Embora tenha perdido Ibrahimovic para o Barcelona, o clube contratou o camaronês Eto’o e o argentino Diego Milito. Outro clube que entra para disputar o título é a Juventus, que tem o brasileiro Felipe Melo. O Milan, sem Kaká, terá Ronaldinho Gaúcho, Alexandre Pato e Thiago Silva, todos em busca de afirmação. Já a Roma, de Juan e Júlio Baptista, entra menos cotada na competição.

Baixinhos

Quatro dos seis atacantes convocados por Maradona para enfrentar o Brasil, em Rosário no dia 5 de setembro, estão entre os melhores do mundo: Carlos Tévez, Lionel Messi, Sergio Aguero e Diego Milito.

GOSTOSA

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TOSTÃO

Relações perigosas

JORNAL DO BRASIL - 23/08/09

José Sarney, em uma de suas inúmeras e indefensáveis defesas no Senado, quis sensibilizar os políticos e a população ao questionar quem não atenderia aos pedidos de uma neta, neto ou de um namorado de uma neta. Ele sabe que a maioria dos que o critica faz e faria o mesmo.

O nepotismo e tantas outras re lações interesseiras, perigosas, perniciosas e antiéticas, mesmo se não forem ilegais, acontecem, com mui ta frequência, na política, na so ciedade e no esporte. “É dando que se recebe”, uma praga nacional.

Muitas pessoas bem intencionadas não sabem, ou fingem não saber, o que é ético e/ou legal. Fa zem o que a maioria faz. É a lei da esperteza e da acomodação.

É cada dia mais frequente, na administração dos clubes e nas comissões técnicas dos times de futebol, a presença de parentes e de convenientes amigos de técnicos e dirigentes. Assim, dirigentes de clubes, federações e da CBF se perpetuam no poder. Em alguns clubes, parentes se alternam no comando. No Cruzeiro, entra Per rella e sai Perrella.

A desculpa esfarrapada de to dos, no esporte e na política, é que precisam se cercar de pessoas de confiança.

O nepotismo tem que ser combatido, já é proibido no serviço público, mas há inúmeras outras relações tão ou mais perigosas.

Muitos dirigentes trabalham muito próximos de empresários. Um agente costuma administrar a carreira de um técnico e de vários jogadores que estão sob o comando desse mesmo técnico. Os conflitos de interesses são inevitáveis. Os técnicos falam que sabem separar as coisas. Parafraseando Caetano Veloso, de perto, ninguém é 100% íntegro.

Alguns jornalistas não escapam dessas relações perigosas. Gostam de ser amigos de jogadores, técnicos e dirigentes. Recebem informações privilegiadas e, em troca, no mínimo, não criticam suas fontes.

É difícil até elogiar um jogador ou um técnico. Alguns empresários se aproveitam disso para valorizar seus clientes. Os agentes entopem os e-mails de comentaristas com ótimas informações sobre seus jogadores. Por isso e outros motivos, não coloco e-mail na minha coluna.

No Brasil, os profissionais são, a cada dia, mais valorizados pelas relações sociais e corporativistas que pela competência técnica.

A rede de interações é extensa e com dezenas de conexões. O ser humano está cada dia mais interligado, mais só e menos livre.

Críticas

Mesmo ainda fora de forma, Adri a no ainda é o melhor reserva para Luís Fabiano. Faltam também bons reservas para Kaká e Robinho. Prefiro Grafite a Nil mar. Com o canhoto An der son, que não foi novamente chamado, a seleção brasileira fez a me lhor exibição sob o comando de Dunga, contra Portugal. Não há um armador que jogue mais pela esquerda.

Dunga foi feliz ao criticar co mentaristas que valorizam mais a tática que a técnica dos jogadores e, infeliz, por criticar os analistas que nunca foram atletas profissionais. Há vários excelentes, principalmente na ESPN Brasil. A técnica é o conteúdo, e a tática, a forma. A técnica é mais importante, mas não sobrevive sem a forma.

FERNANDO CALAZANS

Consciência da crise

O GLOBO - 23/08/09

Pelé está pedindo ajuda aos clubes do Rio. Lamenta que Flamengo, Botafogo e Fluminense estejam em situação tão ruim na Primeira Divisão e que o Vasco esteja até em boa situação — só que na Segundona.
Enquanto isso o presidente do Flamengo, Delair Dumbrosck, que eu não sei mais se é interino ou efetivo, diz que o time ainda chegará ao G-4, podendo até brigar pelo título brasileiro.
Penso que Pelé está sendo mais realista do que o presidente do Flamengo. Os clubes do Rio — inclusive o Flamengo — estão mais próximos da necessidade de ajuda do que do grupo de quatro da Copa Libertadores e do que do título de campeão.

A julgar pela quantidade de mensagens recebidas de botafoguenses, tricolores e rubro-negros desencantados ou mesmo indignados com seus clubes e com o futebol do Rio em geral, as grandes torcidas cariocas estão muito mais afinadas com o pensamento do craque eterno do que com o do presidente passageiro.
O futebol do Rio está em queda há muitos anos, desde os tempos do doutor Caixa d?Água na Federação.
Finalmente agora, depois de muitos anos sem ver um time do Rio ser campeão brasileiro, a crise chega à torcida da cidade e do estado — quero dizer, a consciência da crise.

Chega, é claro, aos torcedores mais lúcidos, àqueles que sabem que o primeiro passo para corrigir os erros é reconhecer que os erros existem.
Um desses torcedores mais lúcidos indaga — e eu indago junto com ele — se não está na hora de os homens do futebol do Rio se sentarem a uma mesa, os presidentes dos quatro, cinco, seis ou vinte clubes, junto com o presidente da Federação, e todos irmanados — com um objetivo comum — estudarem o que podem fazer para que o futebol de todo o estado volte a ser um dos melhores ou mesmo o melhor do país, como já foi um dia.
Hoje, o futebol do Rio de Janeiro, cidade e estado, é motivo de chacota, de piada.

Há quem sugira também que, depois dessa e de outras reuniões, os clubes do Rio enviem uma comissão de representantes a outros estados — Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas, Paraná, Goiás, Santa Catarina — para aprenderem alguma coisa sobre futebol, sobre administração de clubes, sobre organização e profissionalismo.
Na volta, fariam uma pequena cartilha para distribuir a Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco, América, Bangu e outros tantos clubes que já protagonizaram um dos mais encantadores, belos e lucrativos campeonatos estaduais deste país.

Cartilhas com pequenas dicas — com o bê-á-bá, digamos assim — para voltarem a ter um mínimo de eficiência e competência. Cartilhas para serem distribuídas a cartolas que passaram por esses clubes nos últimos 10, 20 anos, e que os conduziram à situação deprimente de penúria que vivem hoje. Cartolas de todos os clubes, nomes pra lá de conhecidos, nomes que se perpetuam, nomes que não se renovam, e que deixaram seus clubes nessa situação.

O maior problema da reunião seria convencer tais cartolas a fazer esse esforço comum. Porque cada um quer saber em primeiríssimo lugar de si mesmo, pouco quer saber de seu clube e muito menos dos outros clubes, ou seja, do nosso futebol estadual em geral.

Se tivéssemos um presidente de Federação empenhado em reerguer esse futebol, seria mais provável que conseguisse mobilizar os cartolas dos diversos clubes a elaborar um programa coletivo. Mas o presidente da Federação é outro igual a todos os outros.

E assim assistimos todos ao declínio sem fim do nosso futebol do Rio. Sobre o mesmo tema — “A falência do futebol carioca” — Roberto Porto está publicando um ótimo artigo no ESPN.com.br.

GOSTOSA


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JOÃO UBALDO RIBEIRO

De quatro


O GLOBO - 23/08/09

De vez em quando eu olho aqui, olho acolá, leio o jornal do dia, vejo alguns noticiários de televisão e concluo que se, por exemplo, o governo decretasse que, de agora em diante, os cidadãos e cidadãs iam ter de ficar de quatro, enquanto estivessem em agências bancárias e repartições públicas, poderíamos esperar ver todo mundo engatinhando no dia seguinte, sem reclamar.

– Estamos baseados em estatísticas – explicará um porta-voz do ministério responsável. – Em média, os assaltos a bancos são iniciados com 86,6% dos clientes de pé, o resto sentado e nenhum de quatro. Por outro lado, não há registro de assaltos iniciados com os clientes de quatro. A mesma coisa com mau atendimento em repartições públicas, porque, entre as pessoas que ficaram de quatro nas filas do SUS, somente 23,8% deixaram de ser atendidas. Portanto, essa medida terá como efeito a redução drástica dos assaltos a bancos e do mau atendimento em órgãos públicos.

Claro, resta-nos alguma altivez e poderemos esperar protestos indignados. Haverá passeatas e caras pintadas por todo o Brasil e, depois de manifestações ruidosas, as demandas dos rebelados serão atendidas. Ninguém pode ir contra a objetividade estatística e deixar de cooperar com a segurança e a tranquilidade públicas, de maneira que se negar a ficar de quatro estará fora de cogitação, mas o ministério se obrigará a fornecer luvas de couro e joelheiras gratuitas a todos os que tiverem de ficar de quatro. (E aí se fará a licitação para a compra desses equipamentos, vai ter subfaturamento, a Polícia Federal vai pegar três quadrilhas, sai no Jornal Nacional – e o resto da história já sabemos, todo mundo solto, o script habitual, mas isso já é outra conversa).

O pessoal se esquece, mas eu não – e prometi que volta e meia tocaria no assunto, só por ranhetice mesmo – daquele famoso kit de primeiros socorros para usuários de automóveis. Vocês se lembram, havia um ou mais itens dele que só eram fornecidos por um fabricante. Ameaçados de sanções terrificantes, os donos de carros morreram em dez ou 15 pratas, não lembro bem, para comprar o kit. Deve ter sido um belo catado. Pouco depois, o governo anunciou que não era nada daquilo, realmente o kit era ainda pior do que kit nenhum e ficou tudo por isso mesmo. Tenho certeza de que o dinheiro arrecadado foi todo destinado à melhoria das estradas do País. E ninguém protestou nem se recusou a pagar, não houve nem necessidade de enrolação enfeitada por números e porcentagens pseudoestatísticas.

E assim vamos, cada vez mais protegidos pelo manto generoso do Estado e seu incansável governo. Suponho que, à luz (ou à sombra) de medidas como as tomadas contra o fumo, está implantada, ou começando a implantar-se, a noção de que o indivíduo é social e juridicamente responsável por sua saúde, nos casos em que não cuidar dela possa prejudicar outros ou onerar os serviços públicos. Por consequência, não somente fumar deve ser coibido como, talvez mais ainda, ingerir bebidas alcoólicas. O sujeito que bebe de forma contumaz está, é claro, minando seriamente sua saúde. Frequentemente, os bêbedos também matam ou aleijam inocentes, que não têm nada a ver com a cachaça alheia. E não somente os bêbedos adoecem assim. Quantos pais de família irresponsáveis não ingerem produtos tidos (e como tal provados por "estatísticas") como cancerígenos, ou causadores de entupimento nas artérias, e por aí vai?

Diante da confusão criada por esse quadro, caberia ao Estado, mais cedo ou mais tarde, definir o que é saúde. Não sei que rumos tomaria tal empreitada, mas, com certeza, certos grupos, não apenas fumantes e alcoolistas, seriam punidos, como os gordos. Ou os que se recusam a fazer exercícios físicos. Não descarto a hipótese de um imposto especial sobre as grandes gorduras (o popular carnê-barriga) ou a contribuição permanente de indolência física. Para não falar na saúde mental, que compõe o quadro geral da higidez. Imagino que, num futuro que espero ainda remoto, poderá ser declarado maluco quem não apoiar o governo. Sei que pensam que maluco sou eu, quando imagino esse tipo de coisa, mas basta recordar a internação, em hospitais psiquiátricos, de dissidentes de regimes do tempo da Cortina de Ferro. Mais proximamente, antevejo medidas contra a depressão, seguramente um sério problema de saúde. Não custará nada proibir livros, peças, filmes e músicas que possam levar à depressão ou a sentimentos, em última análise, deletérios para o equilíbrio mental e emocional e, deste modo, para a saúde. De novo, maluco sou eu, mas me lembro do nazismo, que, afinal, não está tão distante assim e nunca realmente deixou de existir.

As mais novas providências para nos proteger acabam de ser tomadas em relação às farmácias. As normas, pelo que sei, são iguais para todas as farmácias, não importa se na menor das cidades ou numa grande capital. O ímpeto inovador do Estado faz com que ele veja as farmácias das pequenas cidades remotas sob a mesma ótica que as grandes cadeias, nas áreas metropolitanas. Nem mesmo fazer as vezes de agência bancária onde não existe nenhuma vai ser possível para as farmácias. Enfim, teremos farmácias - as que sobrarem depois das novas medidas e acho que em Itaparica não vai restar nenhuma - de Primeiro Mundo. Sim, os nossos principais problemas em relação a farmácias são a venda de remédios sem receita e a automedicação com a ajuda dos balconistas. Nenhum deles vai ser, nem de longe, resolvido pelas novas regras, mas, como eu digo sempre, não se pode querer tudo neste mundo e com má vontade é que não se vai para a frente. Quando pensei no exemplo dos quatro pés, não achei que era uma metáfora, mas agora estou achando.

PAINEL DA FOLHA

Saco sem fundo

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/08/09

Nem bem o PT se vergou ao máximo para salvar a pele de José Sarney, o PMDB já dá sinais de que tamanha prova de fidelidade não será suficiente para garantir o apoio homogêneo do partido a Dilma Rousseff em 2010. É preciso, repete um cacique atrás do outro, ‘resolver a situação nos Estados’.

O rompimento entre o PT de Jaques Wagner e o PMDB de Geddel Vieira Lima na Bahia foi levado a Lula como aviso de que as coisas vão mal em outras praças. Embora o PMDB não tenha impedido Geddel de disputar com um petista que está no cargo, o partido reivindica a garantia de que o PT fará esse gesto de boa vontade em lugares como o Rio de Janeiro.

A favorita - Dilma tem andado para cima e para baixo com o relatório da pesquisa Vox Populi que lhe confere mais de 20% de intenção de voto. E reclamado da imprensa, que não teria dado o devido destaque ao levantamento.

Mero detalhe - Para desmerecer a provável candidatura presidencial da senadora Marina Silva, petistas lembram que ‘o PV é o partido do Zequinha Sarney’. Mas e Sarney pai, com quem Dilma se amarrou até o pescoço? Essa parte não entra na conversa.

Exemplo - De um expoente do PT paulista, cético em relação ao projeto Ciro-SP e seguro de que o partido terá candidato próprio a governador: ‘Se Lula pudesse tudo, o Tarso não teria se lançado candidato no Rio Grande do Sul’.

Casa nova - O destino do senador Flávio Arns, de saída do PT, deve ser o PSB. Ele havia cogitado o PSC de Ratinho Jr., mas no Paraná a sigla está na órbita petista. E o PV local não abandona o governador Roberto Requião (PMDB).

Abafa o caso - Na sexta, não se ouviu palavra de nenhum senador ‘demo’ sobre a revogação do irrevogável pedido de afastamento de Aloizio Mercadante da liderança do PT. Na bancada, ninguém mais quer ouvir falar em crise.

O retorno - O ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, que tem se esquivado de depor no processo administrativo instalado para apurar responsabilidade pelos atos secretos, deve finalmente ser ouvido nesta semana. A previsão é que até outubro a investigação esteja concluída.

Preliminar - Agaciel evitou depor antes do ex-diretor de RH José Carlos Zoghbi, seu parceiro na condução da Casa.

There will... - O clima na Receita é o pior possível. Com a remoção de Henrique Jorge Freitas da Subsecretaria de Fiscalização, disseminou-se no órgão a convicção de que o ministro Guido Mantega (Fazenda) desmontará por inteiro não apenas a equipe que ascendeu com Lina Vieira mas a própria política de cerco aos grandes contribuintes.

...be blood - De um funcionário da Receita, sobre as substituições feitas por Mantega e pelo secretário-executivo da Fazenda, Nelson Machado: ‘Eles querem sangue’.

Nas estrelas - As cabeças mais ajuizadas do governo estão de cabelo em pé com o movimento para ressuscitar a CPMF, encampado por parte expressiva da base aliada. Avaliam que, se ninguém colocar o pé no freio, o roteiro está escrito: aprova-se o imposto do cheque na Câmara, apenas para vê-lo em seguida derrotado no Senado, de forma mais acachapante do que em dezembro de 2007.

Menos, menos - Ao contrário de outros governadores de Estados produtores de petróleo, como Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Paulo Hartung (PMDB-ES), Jaques Wagner (PT-BA) avalia que não cabe pagamento de royalties a entes federados no caso do pré-sal, situado a grande distância da costa: ‘Daqui a pouco vão prospectar na Lua e projetar a sombra na Terra para ver quem recebe royalties’.

Tiroteio

Se nem o Edison Lobão, aliado preferencial, consegue dizer que a Dilma é simpática, imagine o que o eleitor vai achar dela.
Do deputado JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA), sobre declaração do ministro de Minas e Energia, segundo quem a colega da Casa Civil ‘não tem a simpatia de grandes líderes do passado’.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Truque conhecido


O GLOBO - 23/08/09

Baraca em apuros. A direita lunática americana o bombardeia. Já o chamaram de um nazista pior do que Hitler, pois está levando o país para o comunismo. Há um movimento, os “birthers” – de “birth”, nascimento –, alegando que Obama nasceu no Quênia, que o registro do seu nascimento no Havaí é falso, que portanto ele não nasceu em território americano e não pode ser presidente. E, inevitável: surgem histórias sobre a sua suposta bissexualidade.

A reação a um novo presidente, negro, eleito para mudar, com uma plataforma progressista e cuja vitória deixou o partido adversário destroçado, era previsível. Com os republicanos sem força e sem líderes, os lunáticos assumiram. Hoje se diz que o líder de fato da oposição é Rush Limbaugh, cujo programa de rádio em cadeia tem um público estimado de 15 milhões de pessoas, todos, supõe-se, reacionários furiosos como ele. Foi Limbaugh que lançou o epíteto de Hitler bolchevique.

Se a reação a Obama era esperada mesmo que ele não cumprisse metade do que prometia como candidato e seu programa progressista não fosse tão progressista assim – como não está sendo –, a virulência inédita da oposição e os apuros do Baraca têm uma causa específica. Ele propôs uma reforma do sistema de seguro de saúde do país, no que seria sua primeira grande legislação social – e a coisa mais “progressista” do seu governo até agora. Pra quê.

Os Estados Unidos são o único dos países industrializados que não têm um sistema universal de assistência médica garantida. Bill Clinton tentou corrigir isso, mas não aguentou a reação dos mesmos lóbis que agora alimentam a rejeição a Obama e atiçam os lunáticos, chamando a reforma de um primeiro passo para o socialismo. Obama empunhou a bandeira largada por Clinton, mas parece não estar sabendo carregá-la. Seu plano é confuso, sua atuação em sua defesa é hesitante – e as feras não largam do seu pé.

Especula-se que os lóbis (grandes seguradoras, indústria farmacêutica, empresas hospitalares e de previdência privada) vencerão de novo, ou que Obama só conseguirá uma reforma aguada. Os debates públicos sobre a questão têm sido violentos. Lendo e ouvindo o que dizem por lá não se pode deixar de admirar a maneira como interesses particulares conseguem transformar ameaças ao seu poder – no caso americano, o direito elementar de todos a assistência assegurada – em ameaça ideológica e guerra pela alma de uma nação, passando pela demonização de um governo. Um truque que conhecemos bem.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Não sei. Tomara”
EX-PRESIDENTE FHC, SOBRE SE A CANDIDATURA DE MARINA SILVA EM 2010 BENEFICIA O PSDB

FOI DE FRANKLIN A IDEIA DE NEGAR REUNIÃO
Voluntariosa e arredia a palpites, Dilma Rousseff (Casa Civil) está inocente no caso da polêmica com a ex-secretaria da Receita Federal Lina Vieira. Não foi dela a ideia de negar o encontro com a funcionária, mas sim do ministro Franklin Martins (Propaganda), que no Planalto alimenta a reputação de “gênio” das comunicações. Não se imaginava que refutar a reunião provocaria tanto desgaste à imagem da ministra.
HOUVE O ENCONTRO
Nem mesmo os mais crentes governistas duvidam do encontro Dilma-Lina. Houve, sim, mas não produziu qualquer consequência prática.
SEM APRESSAR
Senadores governistas como Romero Jucá e Renan Calheiros só não creem que Dilma tenha mandado “apressar” as ações contra Sarney.
FATOR TIÃO
Como já revelamos, para Dilma e o PT algo devastador contra Sarney ajudaria a candidatura de Tião Viana (AC) a presidente do Senado.
QUASE SOBRANDO
Representante do PV no governo, o ministro Juca Ferreira (Cultura) teme perder o cargo após a chegada de Marina Silva ao partido.
‘CORTINA DE FUMAÇA’ ENCOBRE ERROS DA PETROBRAS
As sucessivas investidas do governo contra grandes empresas privadas têm sido vistas por muitos como “cortina de fumaça” para encobrir as denúncias que recaem sobre a Petrobras e atrapalhar a mira dos críticos. Afinal, as empresas privadas, ao contrário da estatal, são elogiadas no mercado por conta das medidas adotadas para enfrentar a crise econômica global. E não dão cambalhotas contábeis.
MAIORIA SÓLIDA
Renan diz que até torcia para que a oposição recorra ao plenário do Senado. Lá, ele acha que a absolvição de Sarney seria acachapante.
EM NOME DO PAI
O ex-bispo presidente do “Papairaguai”, Fernando Lugo, amarga brutal queda de popularidade: só 50% da população ainda confia nele.
MOSTRANDO OS DENTES
A Presidência da República pode sorrir à vontade: vai gastar R$ 83,1 mil em material odontológico, “porque o atendimento aumentou 60%”.
MUDANÇA DE PLANOS
A candidatura de Marina Silva bagunçou a vida dos irmãos Viana, imperadores do Acre. O senador Tião pode desistir de concorrer ao governo em favor de Jorge, que tem maior densidade eleitoral.
FOCO ERRADO
Enquanto o governo federal mira nas empresas privadas, o Tribunal de Contas da União não para de achar irregularidades na estatal Valec, (ir)responsável pela construção da Ferrovia Norte-Sul e um exemplo de desvios de recursos públicos que impedem o investimento privado.
FALASTRÃO E CALOTEIRO
Até agora o governo de Hugo Chávez não mandou um centavo para integralizar a participação venezuelana (US$ 475 milhões) na Refinaria Abreu de Lima, na parceria com a Petrobras em Pernambuco.
SOB CONTROLE
Em decisão inédita, a Justiça Federal gaúcha reconheceu negligência do poder no controle da hepatite C. A medida pode beneficiar milhares de portadores da doença afetados pela falta de testes preventivos.
NO RETROVISOR
O governo esconde o que é ruim: comemora a criação de 138 mil postos de trabalho em julho, mas faz de conta que não repara o resultado de julho do ano passado, 32% superior ao registrado agora.
CIDADÃO, GO HOME
O Senado restringiu o acesso pela chapelaria (entrada principal) aos portadores de credenciais, como os jornalistas. Já o cidadão, que sustenta aquilo tudo, para entrar no Senado é obrigado a enfrentar uma fila enorme literalmente na porta dos fundos, na entrada da biblioteca.
PADRE PEDÓFILO
Secretário do governo da Bahia na gestão Paulo Souto, o padre Clodoveo Piazza é acusado pelo Ministério Público do Estado por prática de pedofilia por um ex- interno da ONG Auxílio Fraterno. O padre foi inclusive signatário do Estatuto da Criança e do Adolescente.
JOVEM JUIZ
O presidente do Superior Tribunal de Justiça, Cesar Asfor Rocha, estará no Rio de Janeiro, nesta segunda, para o lançamento do livro “Cartas a um Jovem Juiz”, de sua autoria. O evento será às 17h, na sede do TJ-RJ.
UM CLÁSSICO
Sessão retrô logo mais no cineminha do Torto: “Pacto sinistro”.

PODER SEM PUDOR
A VOLTA DE NICÉIA
Nicéia Camargo, ex-primeira-dama de São Paulo, reiterou na CPI do Banestado a disposição de encarar o falecido senador ACM. Destacou para defendê-lo, o deputado José Rocha (ex-PFL-BA) se referiu a ACM (aquele da violação do painel do Senado e do grampo telefônico na Bahia) como “homem de comportamento ético”, Nicéia perdeu a paciência:
– O senhor mora na Terra?
– Sua pergunta é cínica – devolveu o deputado.
– Cínico é o senhor!
O barraco foi interrompido pelo presidente da CPI, Antero Paes de Barros.