domingo, julho 26, 2009

CARLOS EDUARDO NOVAES

Torcendo pela falta


JORNAL DO BRASIL - 26/07/09

Só de se constatar que um zagueiro de área é o artilheiro do time já dá para desconfiar que alguma coisa anda errada com o Botafogo. Juninho marcou 1/4 dos 20 gols – escrevo antes da partida de quarta-feira – e ainda vem permitindo que os atacantes justifiquem seus salários pegando o rebote de seus chutes, como aconteceu com Reinaldo contra o Náutico. Depois do gol Reinaldo ajoelhou-se e agradeceu a Deus, um ingrato que deveria, isso sim, ter beijado os pés de Juninho.

O treinador Ney Franco declarou que as cobranças de faltas do zagueiro vem sendo a melhor jogada de ataque do Botafogo. Permitam-me uma correção: os chutes de Juninho são a ÚNICA jogada de ataque do time!

Dizem que o zagueiro permanece depois dos treinos aperfeiçoando cobranças de faltas até o anoitecer para atender aos apelos dos cartolas (e dos torcedores). Os outros nove jogadores ficam treinando – como direi? – a melhor maneira de receber faltas entre a intermediária e a grande área adversária. Parece que estou vendo o Ney Franco se esgoelando à beira do gramado, orientando seus atacantes:

– Não chuta, Victor! Não chuta a gol pelo amor de Deus! Prende a bola. Prende a bola e espera a falta.

– Mas eu sou um atacante, professor. Tenho que chutar.

– Esquece, Victor, esquece. Você tem é que cavar faltas. Deixa os chutes para o nosso zagueiro!

Todo o esquema tático do Botafogo se baseia nas cobranças de Juninho. Os atacantes inclusive são orientados a não criarem situações de gol (não vão marcar mesmo!). Se você duvida basta olhar para o André Lima – como reclama esse cara! – de costas para o gol adversário fazendo corpo mole à espera de uma falta. Enquanto a torcida dos outros times se levanta quando a bola ronda a área adversária, a do Botafogo fica de pé quando a bola chega a intermediária inimiga, rezando por uma entrada faltosa. A torcida do Botafogo é a única que primeiro torce para o time receber uma faltinha para depois poder torcer por um gol. Já viu disso?

É para dar oportunidade às cobranças de Juninho que o Botafogo vive de chutões para frente (mesmo porque não tem meio de campo). Se sair tocando a bola de primeira, como pede a cartilha do futebol, dificilmente alguém vai levar falta. Sem falta como sairão os gols? Se você pensa que o Botafogo recua após abrir o placar porque é um time medroso, sem confiança ou para garantir o resultado, está redondamente enganado. O recuo faz parte da estratégia dos chutões. De repente num chutão desses o zagueiro adversário sobe nas costas do Reinaldo e a torcida, feliz, poderá gritar o nome de Juninho, o salvador da pátria alvinegra.

Foi assim contra o Náutico, um jogo em que o juiz Jose Henrique de Carvalho bateu o recorde de lambanças. Validou gol em impedimento, compensou com um pênalti que não houve, não viu a cotovelada em Lucio Flavio a um palmo do seu nariz. Diz o comentarista de arbitragens da TV Globo que ele é aspirante aos quadros internacionais. Pois pelo que apitou na quarta-feira eu não o deixaria passar nem na porta da Fifa. Conseguiu uma façanha inédita: ser pior do que o gramado dos Aflitos.

Ney Franco reclamou que o time não soube matar o jogo. Matar como? Só mata quem tá vivo!

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PAINEL DA FOLHA

Nacionalismo 2010

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/07/09

A criação de uma nova estatal para gerir os recursos do pré-sal e a possibilidade de que a Petrobras seja operadora única dos campos da camada se inscrevem numa estratégia maior, construída já de olho nas eleições presidenciais. Lula quer apresentar seu legado e sua candidata, Dilma Rousseff, com a roupagem de um novo nacionalismo. O discurso, já ouvido no Executivo e no PT, é que Lula retomou o que o governo de Fernando Henrique Cardoso -e do PSDB, portanto, principal adversário de Dilma- havia tirado "do povo brasileiro" com a quebra do monopólio estatal.
Nessa lógica, ganha força a ideia de capitalização na Petrobras, o que levaria, na prática, a que o governo aumente sua participação acionária na empresa.




Outras frentes. Dentro da estratégia de um discurso nacionalista para embasar a candidatura de Dilma, já se discute no governo a criação de outra estatal, para gerir a exploração de minério de ferro.

Eureka! A ideia de fazer da Petrobras a exploradora única do pré-sal, que ganhou corpo nas últimas semanas, só foi apresentada ao grupo de trabalho que estuda o marco regulatório das novas reservas recentemente. O mentor foi Guilherme Estrella, diretor de Produção da estatal.

Yes... Fracassaram as conversas da equipe de Luiz González, marqueteiro do PSDB, com a Blue State Digital, que estruturou a bem-sucedida campanha de marketing digital e telefônico de Barack Obama na internet.

...we can! Com isso, sobra no jogo para tentar fechar com os magos da internet para 2010 o estafe de Dilma Rousseff, que teve novas e animadoras conversas com a empresa nos EUA nas últimas semanas. Em agosto, o chefão da Blue State, Ben Self, desembarca no Brasil para as tratativas finais.

Bem na foto 1. O presidente Lula deve aproveitar um evento sobre o Bolsa Família em Belo Horizonte na próxima sexta-feira para anunciar na terra do ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) um novo reajuste no valor do benefício.

Bem na foto 2. O ato selará a formatura de 457 beneficiários do Bolsa Família num plano de qualificação profissional, para que eles trabalhem em obras do PAC na região metropolitana da capital mineira. Até o fim de setembro, Lula irá a outras duas formaturas semelhantes, em Fortaleza e no Rio.

Real... Eduardo Suplicy (PT-SP) entregou em mãos a Lula, na quinta, a nota em que defende a licença de José Sarney (PMDB-AP) e diz que Marconi Perillo (PSDB-GO) prometeu ter "procedimento republicano" caso assuma a presidência da Casa. Lula rebateu na hora: "Eduardo, você acredita em Papai Noel?"

...politik. Lula voltou a dizer que se deve avaliar a gradação das "supostas faltas" de Sarney. Comparou a situação do presidente do Senado com a do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), que, segundo ele, foi alvo de severas críticas quando estava no ministério, mas depois que caiu, "a imprensa esqueceu o caso".

Eu não. Sarney telefonou na sexta-feira à noite para senadores cujos nomes foram incluídos num grupo que seria alvo de representações ao Conselho de Ética por parte de seus aliados. Disse que não comunga da manobra diversionista. Queixou-se do bombardeio que sofre e demonstrou preocupação com a saúde da mulher, Marly.

Bombeiro. Presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ) publicou em 2008 pela Gráfica do Senado um livro de 328 páginas cujo prefácio, escrito por um jornalista da Casa, avisa: "O senador não se insere em nenhum grupo que sai à espalhar rastilhos de pólvora para depois acender o fósforo e ver o circo pegar fogo".

Credenciais. Entre os discursos do senador peemedebista publicados no livro, há dois em que ele sai em defesa de Renan Calheiros (PMDB-AL), à época ainda na presidência da Casa e logo depois defenestrado por denúncias.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Em primeiro lugar, não há pena de morte para crime nenhum no Brasil. Mas, para tráfico de influência, a pena é a perda do mandato."


De CEZAR BRITTO, presidente da OAB, sobre Lula, para quem "uma coisa é matar, outra coisa é o lobby", em defesa de José Sarney ter usado o cargo para empregar o namorado da neta no Senado.

Contraponto

Ele disse, ela disse O ministro Paulo Bernardo (Planejamento), um dos mais ativos no Twitter, foi questionado, em entrevista, se se considerava "moderno" por usar a rede.
-Sou um dinossauro moderno.
A astróloga Vera Martins, seguidora de Bernardo, comentou a afirmação. A mulher do ministro, Gleisi Hoffmann, também "twitteira", entrou na conversa:
-Isso é que é ser moderno e dinossauro: usar o Twitter sem perder a referência astrológica! -, postou.
E, mais tarde, em resposta à astróloga, referendou:
-Ele é a tradução perfeita de um dino moderno!

MÍRIAM LEITÃO

Vasto mundo

O GLOBO - 26/07/09

O velho império deu o alerta. Para quem achava que a crise econômica global já estava acabada, o péssimo resultado do PIB inglês no segundo trimestre mostrou que ainda há um longo caminho pela frente. O comércio mundial está encolhendo este ano 16%. A maioria dos países fechará o ano com um PIB menor. O mundo é vasto e os países estão todos ligados nessa era global.

Há sinais de melhora, mas ainda há um longo caminho pela frente. Empresas americanas anunciaram, nos últimos dias, lucros, ou prejuízos menores. O mais brilhante dos resultados, o da Apple, prova apenas que, mesmo numa crise, uma empresa que está num setor dinâmico, com um produto novo e com um bom marketing, tem bons resultados.

Quem puxou o resultado foi o novo iPhone e não a recuperação da economia.

O que de fato melhorou? O fim do pânico financeiro que havia dominado o mundo no final do ano passado foi o primeiro passo. O segundo foi a redução do risco de uma nova depressão.

O economista que ganhou fama de vidente por ter previsto a crise, Nouriel Roubini, até disse que a recessão começará a acabar no fim de 2009 e isso provocou comemorações. Apressadas.

A segunda frase que ele sempre agrega a esta primeira afirmação é que o ano de 2010 será anêmico, o mundo vai ter um desempenho muito abaixo do potencial.

Na terceira frase, ele volta a ser o Roubini assustador de sempre: alerta que há um risco de uma nova queda recessiva em 2011. Ele e vários outros economistas estão alertando que os excessos de liberação fiscal por meios ortodoxos, ou não, podem provocar bolhas e pressões inflacionárias. A OCDE em seu último relatório tem um gráfico impressionante do crescimento do déficit público e da dívida dos 30 países que compõem a organização.

São enormes e crescentes. É impossível que não cobrem a conta, de uma forma ou outra.

A economia americana continua produzindo desempregados: meio milhão no mês passado. O mercado de trabalho está fraco, com queda de renda e horas trabalhadas.

Roubini diz que há uma relação direta entre emprego e mercado imobiliário.

Os preços dos imóveis que já caíram 45% desde o pico, terão, segundo o economista, mais 13% a 18% de queda pela frente. Ele prevê também que oito milhões de devedores deverão chegar ao fim do ano sem renda para pagar a hipoteca.

O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, falou que o maior desafio agora é evitar o pior no mercado de imóveis comerciais.

Esse foi o ponto inicial da crise e ainda não parou de piorar. O mundo está longe de poder comemorar, ainda que já possa dizer que dois fantasmas foram evitados: o colapso financeiro e a nova depressão.

A maneira superficial com que as autoridades brasileiras fazem a análise da situação econômica não nos ajuda em nada. A conjuntura tem sinais contraditórios.

Aumentou o otimismo dos empresários e subiu a ocupação da capacidade ociosa. Mas não está no nível que garanta o retorno dos investimentos.

Eles continuam suspensos ou cancelados.

Nos últimos meses houve uma queda da aversão ao risco, os investidores vieram principalmente para os países emergentes. Isso elevou a bolsa e os humores.

Porém, comparados com os outros Brics crescemos menos nos anos de boom; e agora somos o segundo pior em crescimento econômico.

À frente apenas da Rússia, que terá uma forte recessão no ano. O Brasil passou bem pelo pior da crise, por avanços conseguidos em anos anteriores, nas áreas fiscal, monetária, cambial. Mas o avanço fiscal está sendo revertido sem uma visão estratégica.

Estamos gastando mais sem um propósito definido.

Pior é a enorme dependência do setor privado ao setor público que se aprofunda no Brasil: nas mentes em geral e nas receitas das grandes empresas. O último dado de desemprego foi bom. Ele caiu pela primeira vez desde dezembro. Mas onde houve aumento do emprego foi no setor público civil e militar. As empresas e setores que estão melhores receberam dinheiro público, ou através dos bancos ou de renúncia fiscal. Quem ainda não recebeu está na fila. Esperando o governo.

Nos Estados Unidos foi divulgada, na sexta-feira, uma pesquisa feita pela Atlantic Media que traz alguns pontos de reflexão. Sete em cada dez entrevistados disseram que a economia quando se recuperar vai parecer e funcionar diferente do que era. No Brasil, quais são os sinais de que a economia está se transformando, enquanto se recupera? Perguntados se as oportunidades seriam geradas pelo governo, pelas empresas ou por esforço pessoal, a maior parte dos entrevistados, 40%, disse que elas virão do esforço próprio. A maioria, 52%, acha que o governo mais atrapalha que ajuda, mas 38% acham que o governo pode ajudar. Curioso é que metade dos que acham que o governo pode ajudar explica que é ficando menor.

Para quem imagina que é o espírito anglo-saxão funcionando, está enganado. Os hispânicos foram os que mais demonstraram acreditar que é esforço pessoal que leva às oportunidades.

Aqui no Brasil, é difícil encontrar um grupo de jovens que não comente sobre concurso público. Eles esperam que o governo crie as oportunidades e um emprego estável. Da mesma forma como é difícil encontrar uma empresa no país que não esteja aguardando alguma facilidade a ser criada pelo governo.

A crise global continua, apesar dos pequenos sinais de melhora. Aqui, muitos aguardam que o governo nos tire dela. O governo ajudaria bastante se não pusesse esqueletos nos armários.

Custou muito limpar estes armários

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PAULO ROBERTO FALCÃO

Clássico histórico

ZERO HORA - 26/07/09


O grande jogo deste domingo está programado para Presidente Prudente, em São Paulo, entre Corinthians e Palmeiras. Os dois grandes do futebol paulista terminaram a última rodada como integrantes do G-4 – o Palmeiras, ainda sem a presença de Muricy, na segunda colocação; o Corinthians em quarto lugar, ampliando o grupo da Libertadores para G-5, pois já assegurou a sua vaga com a conquista da Copa do Brasil.

O clássico é tão importante que a Globo pediu a seus comentaristas para escalarem o Corinthians e o Palmeiras de todos os tempos, uma forma de mexer com a memória afetiva do torcedor. Sempre reluto um pouco em participar, pois os esquecimentos são inevitáveis e as injustiças também. Ainda assim, coloquei no campo da imaginação os dois times, que submeto agora ao exame dos leitores.

Meu Corinthians teria Dida; Zé Maria, Ditão, Gamarra e Vladimir; Dino Sani, Rivellino, Sócrates e Neto; Casagrande e Flávio Minuano. Já o Palmeiras de todas as épocas, se fosse escalado por mim, teria Leão; Eurico, Luís Pereira, Roque Júnior e Roberto Carlos; Dudu, Ademir da Guia, Leivinha e Rivaldo; César e Edmundo.

Dificilmente algum dos jogadores que estarão em campo hoje entraria nesses times.

Fantasia

Já que estamos no terreno da fantasia, publico abaixo uma sugestão que recebi do engenheiro Antonio Rissato, de Porto Alegre, que talvez pudesse ser utilizada num 1º de Abril. Ele imaginou uma fusão entre os dois principais clubes gaúchos para formar o Grêmio Esportivo Internacional. “Grêmio e Internacional irão fundir-se num só clube. As direções do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e do Sport Club Internacional estão se reunindo periodicamente para ver a possibilidade da fusão dos dois clubes em apenas um. Fontes dos dois clubes informam que a ideia surgiu como motivo de ordem econômica e estratégica: querem criar o maior clube de futebol do Brasil, capaz de enfrentar economicamente os clubes europeus e estancar a saída de grandes jogadores do país para o Exterior. Alegam que uma cidade como Porto Alegre, à moda de cidades de mesmo porte da Europa, tal como Nápoles, Florença, Barcelona, poderiam sediar um clube de futebol com muito poder econômico, explorando o que o povo gaúcho tem de bom: o orgulho por seu Estado e particularmente por sua Capital.”

Rissato pergunta qual seria a repercussão desta notícia. Talvez fosse melhor perguntar quantos sobreviventes haveria na guerra civil.

Projeção

Nilmar tem motivos para estar agradecido ao Inter, que o recuperou para a Seleção e serviu de mostruário para o interesse dos europeus. Nem o Corinthians, com toda a sua visibilidade, conseguiu tanto.

TOSTÃO

Os novos Pelés do futebol


JORNAL DO BRASIL - 26/07/09

Nas últimas semanas, impressionou-me o espetacular noticiário sobre as contratações de Luxemburgo e Muricy. Sei que os técnicos são supervalorizados, mas não imaginava tanto. Nem o enterro de Michael Jackson foi tão falado. As pessoas ficaram mais bem informadas sobre as contratações que sobre a nova gripe e os escândalos do Senado.

Parecia que os dois técnicos eram os Pelés do futebol, e não somente os Pelés dos treinadores, o que também não são.

Parecia um fato extraordinário, como se nunca um treinador de ponta tivesse sido contratado por um grande clube nem mudado para um grande rival.

A contratação de Muricy, por demorar mais tempo, passando antes por um flerte com o Santos, foi um grande espetáculo. Tudo narrado e comentado em todos os detalhes, com capítulos surpreendentes e emocionantes. Como toda novela, teve heróis e vilões.

Um dos vilões foi o procurador de Muricy, que teria atrapalhado as negociações, como se o técnico não fosse maior de idade, não soubesse das conversas nem desse a palavra final.

Os heróis foram o presidente do Palmeiras e Muricy. Contam que o encontro dos dois foi emocionante. Muricy teria ficado empolgado com os projetos do clube.

A moda agora é todo técnico, ao ser contratado, dizer que ficou impressionado com o projeto. Tudo conversa fiada. Nenhum projeto, mesmo quando existe, se sustenta no futebol. Tudo vai depender dos resultados e das críticas da imprensa e da torcida.

Na apresentação de Muricy, o técnico falou de sua história afetiva e familiar com o Palmeiras. Nem precisava. Muricy é respeitado por seu profissionalismo. Enquanto Luxemburgo tem sido bastante criticado, pelo que faz e até pelo que não faz, Muricy é tratado como um purista, que ninguém é.

Pelo que entendi de uma entrevista de Beluzzo a uma TV, Muricy vai ganhar, mais ou menos, o que recebia Luxemburgo no Palmeiras. A diferença seria o preço da comissão técnica de Luxemburgo, que é muito maior.

Se for assim, esqueçam minha coluna anterior, quando escrevi que, enfim, apareceu um presidente lúcido, para não pagar absurdo salário a um treinador de ponta, incompatível com a receita de um clube brasileiro.

Por causa da supervalorização dos técnicos, os clubes justificam qualquer gasto para contratá-los. Pelo mesmo motivo, se acham no direito de dispensar e de culpar os treinadores pelas derrotas.

Comentaristas contribuem para essa supervalorização, ao colocar a atuação do técnico como referência para explicar tudo o que acontece em um jogo, como se o futebol fosse quase somente uma disputa programada de estratégias, de causas e efeitos, o que está longe de ser. O futebol, como a vida, tem muitas perguntas e poucas respostas.

Excelentes treinadores, como Muricy, merecem ganhar muito bem, pela responsabilidade, insegurança e importância do cargo. Mas, há limites, que não podem ser impostos por decretos. O técnico tem também o direito de pedir o que quiser. O erro é dos clubes em pagar. Há sempre uma Timemania para empurrar as dívidas para debaixo do tapete.

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ELIO GASPARI

De AntonioGallotti@edu para D.Rousseff@gov

O GLOBO - 26/07/09




Já começou o processo de sucateamento de concessionárias de serviços públicos e ele termina em estatização



PREZADA ministra Dilma Rousseff,
Mensagens como esta devem obedecer às normas da concepção dos biquínis, curtos para aguçar o interesse e suficientemente longos para cobrirem o objeto. Quero pedir-lhe que baixe o seu santo sobre as agências reguladoras das concessões de serviços públicos. Se a senhora começar hoje, o país ficará lhe devendo a conjuração de um desastre. Faça-o sabendo que ninguém lhe dará o crédito. Não o faça e dirão que foi cúmplice do sucateamento e da posterior estatização de operadoras de telefonia, distribuição de energia e de parte dos serviços de transporte urbano.
Escrevo com a autoridade de quem presidiu a Light e seu conselho de 1955 a 1978. Não essa Light de hoje. A minha controlava a energia, os telefones e os bondes do Rio e de São Paulo. Algo como a Light mais a Eletropaulo, a Telefônica, parte da Telemar e os metrôs das duas cidades. Nós fizemos muito pelo progresso material e político do país. Até hoje o Getúlio Vargas me agradece o socorro que a Light lhe deu em 1935. Nosso gerente, Alfred Hutt, era o homem do Serviço Secreto inglês no Brasil. Ele controlava um dos agentes do Comintern que veio ajudar o Luís Carlos Prestes a fazer a revolução bolchevique e contava tudo ao Palácio do Catete. O marechal Castello Branco nunca deixa de lembrar a ajuda que demos na conspiração contra o João Goulart.
A partir dos anos 60 eu ajudei a estatizar nossas operações e depois participei de alguns entendimentos para privatizá-las. (A senhora não imagina o trabalho que tive para adequar as normas de contabilidade dos acionistas estrangeiros aos costumes patrimoniais de algumas autoridades brasileiras.) No espaço de um século transformamos concessionárias em estatais e, depois, novamente em empresas privadas. Grosso modo, o pacote trocou de dono a cada 30 anos.
Veja o que a senhora tem em volta. O serviço de banda larga da Telefônica de São Paulo capotou. O ministro das Comunicações e a Anatel não se entendem e vossas tarifas para celulares estão entre as mais altas do mundo. Diversas ferrovias operam abaixo das metas contratadas. Os trens da Central do Brasil e as barcas do Rio estão à espera de quem os compre. Há geradoras de energia que não cumprem os planos de expansão. A Eletropaulo desmanda-se em apagões que incentivam um mercado paralelo de geradores a gás para condomínios de gente endinheirada. O Tancredo Neves, que é um desconfiado, diz que eu estou por trás da anarquia que é a Agência Nacional de Energia Elétrica. Finge desconhecer que não podemos mexer nas coisas daí. Estou ciente disso desde 1986, quando cheguei aqui.
Em todos os casos, as agências reguladoras queixam-se da falta de investimentos dos concessionários que, por sua vez, reclamam da burocracia. Eu já vi esse filme no cinematógrafo sem som e em technicolor. Iniciou-se o processo de sucateamento de algumas dessas companhias. Coisa incipiente, porém estratégica. Posso lhe dizer: a partir de um certo ponto, o sucateamento interessa ao concessionário, pois ele sabe que, no limite, o Estado terá que ficar com a companhia.
Entre 2015 e 2025 caducarão quase todas as concessões de serviços públicos e o Estado escolherá entre renová-las ou deixar que caduquem. Essa solução é a pior, até porque antes de se chegar a tal ponto os serviços estarão inevitavelmente degradados. Nesse negócio, dez anos equivalem a dez minutos do nosso cotidiano. Se a senhora apertar dolorosamente os parafusos a partir de amanhã, a briga será civilizada. Se deixar para depois, será dolorosa, selvagem e inútil.
Apiedo-me ao acompanhar seu trabalho de supervisão sobre o Ministério de Minas e Energia e lastimo que a senhora tenha tolerado alguns preenchimentos de cargos nas agências reguladoras atendendo a critérios rudimentares. Esse mal está feito, mas nem tudo está perdido. A vida ensina que os incapazes temem o ronco do palácio.
Torcendo pela senhora e pela sua candidatura, despeço-me,
Antonio Gallotti

SARNEY PRESIDENTE
A saúde de José Alencar produziu um cenário estapafúrdio. A partir de abril do ano que vem, se Lula fizer uma viagem ao exterior e se o vice estiver impossibilitado de assumir a Presidência, o lugar será de José Sarney. Isso porque o sucessor imediato seria o presidente da Câmara, Michel Temer, que não poderá assumir, sob pena de perder o direito de se candidatar à reeleição para a Câmara. Nas últimas semanas, com Lula no exterior e Alencar no centro cirúrgico, o Brasil já ficou cerca de nove horas sem presidente, o que não teve muita importância.

BOA ESPERA
Se tudo der certo, até o fim do ano o professor Ildo Sauer termina um livro sobre energia e petróleo. Por enquanto o título é "Metamorfoses". Sauer foi um dos principais conselheiros de Lula em matéria de energia. Em 2003 ele foi nomeado para uma diretoria da Petrobras. Dilma Rousseff trabalhou pelo seu defenestramento por mais de três anos, até que prevaleceu, em 2007. Sauer fez questão de ser demitido, para não copatrocinar teatrinhos e despediu-se com uma carta na qual disse que o governo cedeu às pressões do mercado, criando uma situação que custará R$ 10 bilhões de reais às empresas estatais e aos pequenos e médios consumidores. Se quiser, tem o que contar.

JOGO BRUTO
Nosso Guia quer Ciro Gomes disputando a eleição paulista para colocar José Serra diante da dupla do policial bonzinho e do malvado. Dilma Rousseff seria a boazinha.

PÓS-LULA
De um sábio:
"Seu eu fosse a Dilma Rousseff, caso vencesse a eleição, entregava ao Lula a administração dos recursos do pré-sal."

BOLSA IPI
Está em curso uma rodada de fogo de negociações entre a turma que defende a criação da Bolsa IPI e os caciques da Câmara dos Deputados. No interesse dos exportadores, o Senado enfiou um contrabando na medida provisória que cuida do programa Minha Casa, Minha Vida e criou um crédito tributário que poderá custar à Viúva algo entre R$ 56 bilhões e R$ 220 bilhões. Dinheiro suficiente para construir pelo menos 370 mil casas. A MP onde enfiaram contrabando quase foi aprovada antes do recesso da Câmara. A oposição (repetindo, oposição) fez força para isso, mas a base do governo atrapalhou o jogo. Como os interessados disseram que negociaram a ciranda com o Ministério da Fazenda e viram-se desmentidos numa nota oficial, é provável que o governo se empenhe para derrubar a emenda contrabandeada. Os interessados na Bolsa IPI têm até dia 13 de agosto para concluir as negociações na Câmara. Depois disso o truque vira pó.

COISA DE AMADOR
Há poucas semanas o embaixador americano Clifford Sobel convidou um grupo de parlamentares do primeiro time para um almoço de despedida. Como Sobel fez boa fama, teve mesa cheia. Terminado o ágape, ele pediu licença aos convidados para que um diretor da Boeing fizesse uma rápida exposição das virtudes dos caças F-18 que sua empresa quer vender à FAB. Um contrato de R$ 4 bilhões. Falha técnica. As boas maneiras da diplomacia dizem que isso não se faz sem aviso prévio aos convidados.

FERNANDO CALAZANS

Hora de mudar

O GLOBO - 26/07/09

O técnico do Flamengo para o jogo de hoje com o Santos – e provavelmente só para o jogo de hoje – é o mesmo Andrade, nome da história do clube, que já foi desrespeitado por mais de um desses jogadores profissionais que fazem o que querem na Gávea.
Os técnicos passam, os jogadores continuam, mas isso não surpreende. Afinal, são os jogadores que mandam no futebol e até no clube.
Os cartolas do futebol também estão saindo. Essa seria até uma ótima notícia, se o clima político do Flamengo não estivesse tão envenenado, entre outros motivos por causa das próximas eleições.
Se o ambiente interno do Flamengo já é tumultuado em tempos de estabilidade para a diretoria, imaginem em tempos de mudança.

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Por essa razão, e só por ela, não se pode afimar que o Flamengo terá uma organização melhor, agora, no seu futebol, que, de verdade, andava mesmo precisando de uma mudança radical.
Não se sabe, por exemplo, se será introduzida uma filosofia realmente profissional (ou, no mínimo, mais profissional) ou se será mantido o espírito festivo, descomprometido, de quem se vangloria com titulozinhos de campeonatos estaduais.
É no que o Flamengo foi transformado nos últimos anos. De clube nacional – e até internacional – passou a ser um clube de âmbito exclusivamente estadual, para satisfação apenas de seus cartolas de futebol.

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Qualquer reportagem feita para depreciar o Cuca e justificar sua demissão, partindo do princípio de que o técnico é o demônio e que os jogadores do Flamengo, coitadinhos, são anjos inocentes de escola primária, é puro maniqueísmo. Não pode ser levada a sério.

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Pelo menos na estreia de Renato Gaúcho, o novo técnico, notou-se uma melhora no Fluminense em relação aos últimos treinadores, mas uma coisa ligeira, porque o time é tecnicamente fraco, ao contrário do que se supunha.
Mesmo perdendo para o Atlético Mineiro, um time mais arrumado e em muito boa fase, o Fluminense mostrou, em primeiríssimo lugar, um espírito de luta que há muito tempo não se via e uma motivação que, é claro, já eram esperados. Renato Gaúcho é conhecido exatamente pela capacidade de motivar.

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Mas o elenco é, sim, um problema.
O goleiro, ao contrário de todos os goleiros do mundo em todos os tempos, joga melhor com o pé do que com as mãos (com elas, falhou no segundo gol do Atlético).
Os zagueiros – sejam dois, três ou nove – são fracos.
O meio de campo tem um Conca hoje atabalhoado, sem ter culpa por isso: é porque tem que fazer tudo sozinho, não há quem possa ajudá-lo na armação.

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No ataque, quando dava enfim um leve sinal de melhora, Fred se contundiu. Ou por sua culpa (como no caso de expusões e suspensões à vontade), ou não (como no caso da contusão), a passagem de Fred pelo Fluminense é cheia de tropeços, percalços, adversidades.
E tampouco se sabe ainda quem é (ou quem seria) seu companheiro na frente. No momento, o time nem tem um ataque titular.

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O adversário de hoje é o Cruzeiro, que está um pouco melhor do que o Fluminense no Campeonato Brasileiro, mas não muito, por causa do envolvimento na Copa Libertadores. Agora é que o Cruzeiro começou a se dedicar integralmente ao nosso campeonato, e é agora que vamos saber a que veio.

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Nilmar, Ramires, André Santos, Cristian, Ibson, Maicosuel.. lá se foram e lá se vão, mais uma vez, os melhores jogadores daqui.
Nossos times vão ficando mais fraquinhos ainda... e a maldita janela ainda nem terminou.

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DANUSA LEÃO

A distância ajuda

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/07/09



Nunca entre em nenhum bastidor de nada, para poder continuar acreditando no que vê

COMO são bonitas as coisas vistas à distancia, e como perdem o encanto quando vistas de perto. Você já entrou num restaurante de luxo às 8h da manhã? Aquele lugar onde você vai toda linda tomar seu drinque, comer bem e até fazer um certo charme, de manhã é outro mundo, com cadeiras amontoadas em cima das mesas, a cozinha numa total desordem, às vezes até suja, e os empregados -a turma da manhã não faz rapapés, como os outros- esfregando o chão, passando álcool nos copos, e as latas de lixo cheias de flores murchas; uma deprê, eu diria.
Isso não acontece só com lugares, mas também com pessoas. Você acha lindo aquele intelectual charmoso, de camisa jeans, mocassim sem meias e olheiras imensas de tanto pensar nos mistérios da vida e na essência do ser humano.
Só que as razões de seu olhar tão denso podem ser outras: ele pode estar pensando no cheque especial estourado, no carro que está precisando ser trocado e na conta do cartão de crédito que deve vir altíssima, pois sempre pagou sem nem olhar, faz parte do personagem. E você, que imaginou razões mais românticas para tanta profundidade, quebrou a cara.
E depois de ter sido tanto tempo apaixonada por Sinatra, e ainda ser -o que é a morte, diante do amor?-, ler numa revista que ele usava uma peruquinha, é uma tristeza. Você sabia, como todo mundo, desse aplique, chamemos assim, mas não queria saber, porque quem ama não quer saber de nada, a não ser se for obrigada. E como seria Sinatra em casa? Passaria os dias cantarolando "My Way" e "Strangers in the Night", como você, em seus delírios, imaginava, ou era alguém meio ranzinza (me recuso a chamá-lo de velho), que reclamava da comida e passava os dias de pijama e robe, a léguas de distância do cantor de olhos azuis que fez seu coração bater tanto?
Se morasse com ele, não haveria lugar para a ilusão, e sem ela a vida fica bem sem graça. Quem já entrou em um estúdio de TV ou de cinema e assistiu a uma gravação ou filmagem se horrorizou ao ver o que acontece por trás das câmeras, e talvez nunca mais assista a uma novela ou, pior ainda, a um filme.
É aquele mundo de gente correndo, falando alto, o diretor tentando botar ordem na bagunça, e os cenários -ah, os cenários!- feitos de compensado e papelão, as flores de plástico, as atrizes com o roteiro na mão lendo alto suas falas, tudo de mentira, mentira na qual você e a humanidade sempre acreditaram. Nunca entre em nenhum bastidor de nada, para poder continuar acreditando no que vê. E aquele escritor que você adora?
Você, que nunca perdeu seus lançamentos, ficou na fila para pegar um autógrafo, e não perde um só dos artigos que ele às vezes escreve nos jornais, ficaria decepcionada se o visse diante do computador, dizendo "ah, estou sem assunto", ou "estão faltando 20 linhas e não sei como vou terminar". Seria uma decepção.
Ou nos atiramos de cabeça para o que der e vier, e é assim que, dizem, se deve viver, ou guardamos uma certa distância das coisas e, sobretudo das pessoas, para poder continuar preservando alguma ilusão diante da vida, Mas será por aí? E será que vale a pena?

JOÃO UBALDO RIBEIRO

A gripe suína num boteco do Leblon


O GLOBO - 26/07/09

– Pô, cara, foi um sufoco sair de casa hoje! Pelo gosto da Detinha, eu não punha os pés aqui hoje.

– Por causa do teu porre ontem? Tu ontem pegou legal e olhe que eu saí antes de você anunciar que ia imitar o Michael Jackson e cair por cima da mesa logo no primeiro passo. É só o que se comenta aqui, essa tua imitação do Michael Jackson.

– Declaro amnésia alcoólica, não quero ouvir nada. E não tem nada a ver com porre nenhum, isso deixou de ser problema lá em casa. Taí, sou obrigado a reconhecer que nisso o computador me ajudou muito. A Detinha agora faz um e-mail circular todas as segundas-feiras, com uma foto minha de porre, tirada com o celular aqui mesmo, relembrando os melhores momentos do porre e pedindo desculpas em nome da cabeça do casal. É assim mesmo que ela assina, a cabeça do casal, a Detinha sempre foi meio folgada, esse pessoal criado em Copacabana é todo meio folgado. Ela já está até colecionando os e-mails e as fotos, diz que vai publicar um livro e fazer um blog. Agora eu posso tomar todas no fim de semana e abato na força que estou dando para a carreira de escritora dela, ela não pode se queixar. Não, nada de porre, tudo perfeito. O problema é a gripe suína.

– Tem alguém de gripe suína na tua casa?

– Todo mundo. Quer dizer, ninguém, mas toda hora alguém aparece com um sintoma, está ficando difícil de segurar, ainda mais com a Lucinha respondendo “deixa a vida me levar” sempre que a gente pede a ela pra maneirar. Não é por ser minha filha que eu vou negar a realidade dos fatos e a verdade dos fatos é que a Lucinha... Tu conhece a Lucinha.

– Conheço. Por sinal, todo mundo gosta dela, inclusive eu. Todo mundo acha a Lucinha uma garota sensacional. Além de muito bonita, uma cuca do melhor nível, astral fantástico, todo mundo gosta mesmo.

– Pois é, todo mundo e todo ô mundo, ól zi uêld, melhor dizendo, acho que entra mais gringo lá em casa do que na sede da ONU.

– E algum deles está gripado?

– Nunca se sabe. Deu no jornal que o sujeito pode estar contaminado sem ter ainda nenhum sintoma, ou sem ter sintoma nunca, e mesmo assim passar a gripe para outros. Aí a Detinha radicalizou. A farmácia aí do lado não tinha mais máscaras e não sei como ela descolou uma caixa, que botou numa mesinha perto da porta, junto com álcool em gel e um spray desinfetante que também não sei onde ela descolou.

– Eu não sabia que a Detinha era assim. Mas pra mim ela está exagerando um pouco, você não acha, não? Na televisão eles sempre falam que não há motivo para pânico.

– E tu acha que algum dia eles iam dizer que há motivo para pânico? Tu pode imaginar o Bonner falando “boa-noite, o Ministério da Saúde acaba de anunciar que há motivo para pânico”? Só se ele fosse apresentador de peste bubônica na Idade Média. Isso mesmo é o que a Detinha fala. E, de qualquer maneira, quando ela mete uma coisa na cabeça, não tem jeito. Agora só entra lá em casa depois de botar a máscara e esfregar álcool nas mãos. E nada de beijocas, abraços, bicadas em copos alheios, nada disso. Se não fosse o Menezes, eu só estaria aqui de máscara. Mesmo assim ela não queria que eu viesse pra cá, mas felizmente esse caso do Menezes ajudou.

– Eu não soube do caso do Menezes.

– Daqui a pouco tu ia saber, está mais comentado que a tua imitação do Michael Jackson. O Menezes saiu pra caminhar no calçadão de boné e máscara e aí, quando passou pela padaria na volta, acharam que ele era o mesmo assaltante da véspera voltando ao local do crime e, daí até descobrirem que era ele, foi um pra conferir que ninguém acredita e ele ainda chegou a tomar uns cachações até provar que não era elefante.

– Coitado do Menezes, vou me solidarizar. Mas não há motivo mesmo para essa paranoia de sair de máscara, aqui iam pensar que você ia imitar o Michael Jackson outra vez.

– Isso diz você.

– Isso digo eu, não, isso dizem as autoridades. As autoridades da saúde pública e as autoridades no assunto.

– Tá legal, então. O que dizem as autoridades? Dizem que o quadro clínico não é suficiente para se diagnosticar se é a gripe suína ou a comum, dizem ou não dizem?

– É, acho que sim. Mas tem o exame de laboratório.

– Que leva quantos dias para ser feito? Já ouvi quatro, já ouvi cinco, já ouvi uma semana.

– É, mas aí o médico pode receitar os remédios que o Ministério da Saúde já comprou.

– Mas, no caso, o que dizem as autoridades de que você falou? Eu respondo por você. Dizem que o remédio não faz mais efeito, depois que o sujeito já está com os sintomas uns dois dias. Sacou? Antes, não tomava o remédio porque os sintomas são enganadores e o sujeito pode até piorar ou morrer, se tomar o remédio sem necessidade. Depois, não adianta tomar o remédio, porque não faz mais efeito.

– Ah, não acredito. Então por que compraram tanto remédio?

– Pergunte às autoridades. De um jeito ou de outro, você vai achar motivo para pânico.

GOSTOSA


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LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Isaac e Édipo

O GLOBO - 26/07/09

Kalman J. Kaplan ensina nas universidades americanas de Wayne State e Illinois. Tem escrito sobre paralelos bíblicos para os mitos gregos e publicou uma comparação das histórias de Isaac e Édipo, duas versões para o drama familiar que, segundo a ortodoxia freudiana, está na origem da civilização e das suas neuroses. Isaac era o filho amado que Deus mandou Abraão imolar, Édipo o filho enjeitado condenado a cumprir a profecia feita a seu pai de que um filho o mataria. São duas figuras igualmente sacrificiais e expiatórias, e Kaplan estranha que Freud, mesmo sendo um judeu secular, não tenha preferido o exemplo bíblico ao grego para a sua tese sobre o conflito mais antigo da humanidade. O que diferencia Isaac de Édipo é a natureza do sacrifício e a consequência da expiação de cada um. Deus poupa Isaac da imolação e pai e filho chegam a um acordo que, no fim, é o acordo inaugural do judaísmo. Os terrores do filho diante do pai são atenuados pela sua ritualização – como a circuncisão, que é uma castração simbólica – e o terror do pai diante do filho é transferido: a vinda do Messias, o filho que sustará ele mesmo a faca imoladora e desafiará o pai, fica para um futuro indefinido. Já Édipo cumpre a sua danação. Mata o pai, ganha as glórias passageiras do reino de Tebas e da cama da mãe, mas é derrotado pelo remorso. Sucumbe ao destino reincidente de todo homem e inaugura não uma religião mas um complexo.
O Jesus das escrituras tem muitos precedentes em mitos da antiguidade, heróis expiatórios de outras culturas cujo martírio precede a ressurreição e voltam dos seus abismos e das suas provações como líderes ou deuses. A especulação, hoje disputada, de Freud era que todos os mitos de redenção tinham origem na revolta dos filhos rebeldes contra o pai tirano, nas hordas primitivas. Os filhos matavam e comiam o pai e aplacavam o remorso, o medo de serem literalmente comidos por dentro em retribuição, designando um dos seus como o culpado, sacralizando o crime e o criminoso e imolando o irmão/herói numa oferenda ao pai vingativo. Os mitos judaicos e os mitos gregos substituíam o monomito primevo de formas diversas, mesmo que os dois mitos fossem essencialmente os mesmos. A história de Isaac é um mito de conciliação, a de Édipo um mito de recorrência trágica. As duas buscam a superação do conflito pai x filhos, a de Isaac pela integração sob os olhos de Jeová – nas palavras do profeta Malaquias, “e converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição” –, a de Édipo pela resignação aos ciclos da condição humana, inegociáveis, pelo menos até que venha a psicanálise. Já a tradição messiânica dá no Cristo, cujo triunfo histórico se deve ao seu ineditismo. No mito cristão o filho confronta o pai, mas filho e pai são a mesma coisa. O pai não mata o filho, o filho é imolado em oferenda a si mesmo. E é a carne do irmão/herói, não a do pai, que os irmãos comem, simbolicamente, na eucaristia, subvertendo o rito primevo enquanto o
repetem.
E o mito cristão não é cíclico. Ele rompe a reincidência protelatória do mito judaico e a dos eternos retornos do mito grego. Seu herói venceu, expiou a culpa coletiva transformando-se por nós no seu próprio pai sem precisar matá-lo, e em vez de um acordo como o de Isaac com Abrahão com a benção de Jeová ou a submissão a um destino trágico como a de Édipo, trouxe uma novidade que nenhum mito, antes, oferecera: a salvação.

INFORME JB

Um novo rosto na fila do Supremo

Vasconcelo Quadros

JORNAL DO BRASIL - 26/07/09

José Antônio Dias Toffoli (foto) faz de conta que não sabe de nada, mas é o nome do PT e do governo para a vaga a ser aberta no Supremo até agosto do próximo ano, quando o ministro Eros Grau chega à expulsória. Nos bastidores, os boatos são de que ele poderia optar pela aposentadoria até o fim do próximo mês. Neste caso, o último trabalho de Toffoli seria o desenho jurídico do marco regulatório à Petrobras na exploração do pré-sal. Pesa a favor a simpatia do Palácio do Planalto pela gestão dos negócios jurídicos e seu resultado para os cofres do governo. Nos últimos dois anos a AGU evitou o desembolso de R$ 255 bilhões, um recorde comparado com a ação de antecessores. Aos 41 anos, Toffoli seria o mais jovem ministro depois da Constituição de 1988.

Não é comigo Contraponto

Durante a posse do procurador Roberto Gurgel, semana passada, o presidente Lula mostrou sua opção: não nomear amigos para o MPF ou o Judiciário. Uma autoridade cutucou Toffoli e comentou baixinho: "Você dançou!". O titular da AGU respondeu na hora em três tempos. "Não me atinge. Não sou candidato ao Supremo e não sou amigo do presidente". Antes de chegar à AGU, Toffoli foi assessor jurídico da Casa Civil na gestão do ex-ministro José Dirceu.

O presidente da OAB, Cezar Britto, diz que o presidente Lula foi parcial ao afirmar que não dá para condenar Sarney por antecipação. "Nós nos damos o direito de achar que também é precipitado defendê-lo", observou o advogado. Para a OAB, as declarações do presidente só podem ser interpretadas como uma posição de aliado político.

Coisa pública

Para a OAB as denúncias que jogaram José Sarney no olho do furacão refletem a crise do Senado. "E a repetição de erros de governantes que não conseguem separar o público do privado e se sentem donos da coisa pública", diz Britto.

Vetos

O Código de Ética do PT que entra em vigor no dia primeiro de agosto, vai dar o que falar. Ele proíbe os filiados de qualquer posição de indicarem pessoas para cargos públicos. Também obriga quem for escolhido para cargo público a preencher um formulário chamado de "carta-compromisso", detalhando o patrimônio.

Quarentena

Os ministros filiados ao PT, segundo o novo código, serão forçados a quarentena de um ano. Não podem exercer atividade remunerada que tenha relação com a pasta que ocuparam.

Horta fértil

A impressão deixada pelo texto do novo código é a de que chove dinheiro na horta do PT: doações para as campanhas só serão aceitas após prévia aprovação. E a lista de doadores com os respectivos valores será aberta ao público pela internet.

Antes da greve

Os policiais federais vão parar no próximo dia 11 para pressionar o governo a reclassificar os aprovados no concurso de 2004. O grupo envolve cerca de 2.500 policiais nomeados uma classe abaixo. Os dirigentes sindicais dizem que é o último protesto antes de uma decisão mais radical.

Sinais

Sarney tem dito aos mais próximos que a exposição de seus familiares é a parte mais delicada da crise. Como a divulgação das investigações da Polícia Federal se restringiu até agora a Fernando Sarney, é um sinal de que ele pode rever a permanência para evitar que Roseana e Zequinha sejam alcançados.

Estelionato

O ministro Márcio Fortes diz que os futuros beneficiários do programa Minha Casa, Minha Vida não precisam pagar para se cadastrar. Quem o fizer estará caindo num duplo estelionato: perde dinheiro e a inscrição é inválida. "É caso de polícia", adverte.