quarta-feira, julho 15, 2009

AUGUSTO NUNES

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O sentimento da honra foi revogado pelo abraço em Palmeiras dos Índios

15 de julho de 2009

abraco-lula-collor

“Primeiro a gente vota, depois a gente debate”, decidiu o senador Paulo Duque na abertura dos trabalhos da CPI da Petrobras, com a autoridade de presidente eleito pela certidão de nascimento. A suspeita de que o mais idoso inquilino da Casa dos Horrores anda tentando, aos 81 anos, primeiro calçar o sapato para depois colocar a meia só não virou certeza porque pesou o conjunto da obra. Veterano de guerra do PMDB fluminense, sargento reformado da tropa do cheque, Duque estava lá para repassar o cargo o quanto antes ao senador João Pedro, do PT do Amazonas, escolhido pela base alugada para presidir o enterro da CPI.

O Primeiro Coveiro informou que o relator seria Romero Jucá, do PMDB de Roraima, e marcou para agosto o começo do velório. ”Não há necessidade de polemizar, nem de politizar”, antecipou Jucá. Conjugados pelo n° 1 do ranking dos procurados pelo Banco da Amazônia, os dois verbos excluem da relação de depoentes o senador José Sarney e a ministra Dilma Rousseff. A maioria governista pretende poupar desse desconforto também o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Há pelo menos um argumento consistente: como atestou o pito telefônico que levou de Dilma, Gabrielli chora quando é repreendido.

Enquanto os três senadores da oposição oficial sonhavam com a formação de um quarteto que teria Fernando Collor como crooner, sorriam juntos em Palmeira dos Índios o presidente Lula e o caçador de marajás que, na campanha de 1989, caçou uma aventureira chamada Miriam Cordeiro para jurar na TV que o inimigo tentou obrigar a antiga namorada a interromper com um aborto a gestação da filha. O sonho do trio foi implodido pelas imagens do primeiro abraço trocado em público pelo autor da afronta e por quem a sofreu ─ e que, passados 20 anos, sofre de amnésia seletiva.

A revogação do sentimento da honra, consumada no interior de Alagoas, é a evidência mais contundente de que a abertura da caixa-preta da Petrobras apavora o coração do poder. Vale tudo para que o Brasil continue ignorando os segredos ali guardados. Talvez transformem os incontáveis espantos localizados nas catacumbas do Senado em coisa de delinquente aprendiz.

PARA....HIHIHIHI

Velhinho de programa

Como tenho algumas horas livres, de madrugada, e precisando ganhar uns extras, resolvi me tornar um 'Velhinho de programa'.
Idoso charmoso, com lindos olhos meio verdes (cobertos com cataratas), loiro (só dos lados), atlético (sou torcedor), corpo malhado (pelo vitiligo), e sarado (das doenças que já tive), um metro e noventa (sendo mais ou menos um de altura e noventa de largura).
Atendo em motéis, residências, elevadores panorâmicos, etc.
Só não atendo em 'drive-in' por causa das dores na coluna. Alegro festa de Bodas de Ouro, convenções e excursôes da terceira idade. Meço pressão, aplico injeções e troco fraldas geriátricas, tudo com o maior charme. Atendo no atacado e no varejo. Traga suas amigas.
Maiores de sessenta e cinco, por força de lei, não pagam, mas só terão direito à entrada pela 'porta' da frente. Serão concedidos descontos para grupos: quanto mais nova, maior o desconto. Por questões de vaidade, não serão permitidas filmagens, pois, no momento, estou precisando operar uma hérnia inguinal, meio anti-estética.
Como fetiche, posso usar touca de lã, pantufas e cachecõis coloridos.Outra vantagem: Já tenho 'Parkinson' o que ajuda muito nas preliminares.
Total discrição, pois o 'Alzheimer' me faz esquecer tudo que fiz na noite anterior.....!!!!

COLABORAÇÃO DE FLÁVIO

GOSTOSA


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ELIANE CANTANHÊDE

Collor: esse é o cara!

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/07/09

O novo procurador geral da República, Roberto Gurgel, nem tomou posse ainda (pelo menos até esta quarta, 15/07), mas pode ir se preparando para entrar na roda da CPI da Petrobras, que acabou sendo finalmente instalada no Senado. Como investigador.

A CPI está nas mãos do Planalto, com oito integrantes da bancada governista, incluindo presidente e relator do PMDB e do PT, e só três da oposição. O grande risco é não servir nem para inglês ver.

Assim, a estratégia do PSDB e do DEM é atacar em várias frentes: os requerimentos irão para a CPI, para a Mesa do Senado e para o novo procurador Gurgel, a quem caberá instaurar inquérito, caso surja algum fato que assim justifique.

Ou seja: o objetivo da oposição é usar os instrumentos da CPI para buscar o maior número de informações sobre o que anda acontecendo na maior estatal do país, mas recorrendo a outras instâncias para tentar levar as investigações adiante.

Além disso, CPIs são palcos e atraem holofotes. Quanto mais teatro, melhor. E uma cena cômica (ou dramática?) foi a disputa da oposição e do governo pela simpatia de... Fernando Collor de Melo, que caiu da Presidência em função exatamente de CPIs. Se ele for para o lado oposicionista, o placar muda para 7 a 4. O mais provável é que oscile entre um lado e outro.

Lula foi rápido: botou Collor debaixo do braço e não apenas o levou para solenidades em Alagoas como ficou de tititi com ele diante dos fotógrafos. Enquanto, em Brasília, o demo José Agripino Maia e o tucano Arthur Virgílio tentavam articular a candidatura dele, Collor, para presidir a CPI. Imagina se colou? Com aquela maioria governista?!

Sendo assim, a oposição vai tocando o barco como dá. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), um dos que se dizem mais animados, já tem prontos uns 40 requerimentos para a comissão, para levantar contratos duvidosos, conclusões de velhas sindicâncias, novas frentes de investigação e já abrir a lista de depoimentos.

Mas, cá para nós, nem ele parece tão convencido assim de que a CPI será para valer, como nos velhos tempos. Aqueles tempos em que Collor, em vez de membro da CPI, como agora, era alvo delas --e do PT que agora defende.

A CPI da Petrobras, criada oficialmente para remexer maracutaias da maior e mais conhecida estatal brasileira no exterior, nasce, assim, desequilibrada pró-governo e anti-investigação. E ainda por cima tem o efeito de surrupiar parte do espaço da mídia para os escândalos do Senado e as investigações autônomas contra os Sarney.

Definitivamente, já não se fazem mais CPIs como antigamente...

CLÓVIS ROSSI

Valores


Folha de S. Paulo - 15/07/2009

A seção brasileira do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) informa que o próximo relatório de Desenvolvimento Humano do Brasil terá como tema "valores". O tema surgiu de uma pesquisa que envolveu 500 mil brasileiros, a partir da pergunta "O que deve mudar no Brasil para sua vida melhorar de verdade?".
As respostas majoritárias foram: respeito, justiça, paz, ausência de preconceito, humanidade, amor, honestidade, valor espiritual, responsabilidade e consciência -conjunto de conceitos afinal reunido no tema "valores".
Surpreso com esse tipo de preocupação em um país tão escandalosamente macunaímico? Até o coordenador do relatório, Flávio Comim, se diz surpreso, mas atribui o resultado ao fato de que, pela primeira vez, esse tipo de pesquisa continha uma pergunta aberta, com o que "as pessoas falaram o que quiseram".
Para mim, o resultado é absolutamente surpreendente. Juraria que, fora um punhado de indignados, uma parcela importante, talvez majoritária, dos brasileiros tivesse incorporado exatamente o oposto, ou seja, a ausência de qualquer tipo de respeito a valores do tipo honestidade, responsabilidade e consciência.
Está todo mundo cansado de saber que a corrupção, o trambique, a cara-de-pau, não são uma exclusividade dos políticos. Com perdão por recorrer a um desgastado lugar-comum, cristalizou-se a ideia de que o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, como dizia antiga propaganda de cigarro.
Vai ver que o brasileiro cansou da esculhambação. Talvez tenha percebido que a esperteza, no fim do dia, come o esperto. Vai ver descobriu que quem suborna o guarda da esquina ganha bem menos do que quem suborna gente mais graúda.
Tomara. Aguardemos o relatório do IDH em 2010.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


FERNANDO CALAZANS

As faltas e o tabu

O GLOBO - 15/07/09

É muito curioso no futebol brasileiro o relacionamento entre técnicos, jornalistas esportivos e as faltas que não param de aumentar em nossos jogos.
Nesta última rodada, esse relacionamento se revelou, mais uma vez, com muita clareza.
Não é a primeira vez, não é a décima, é apenas mais uma vez. No entanto, o assunto permanece como uma espécie de tabu.
Pouquíssima gente na mídia relaciona o número crescente de faltas, há muitos e muitos anos, aos técnicos, a suas táticas e à necessidade de vencer a qualquer preço, não importam quais sejam os meios.
Aqui no Globo, tivemos uma frase de Carlos Alberto Parreira antes da rodada: “Não precisamos ser violentos (...) Mas gostaria que o time (Fluminense) fizesse um pouco mais de faltas”.
Sim, Parreira ainda era o técnico do Fluminense. No círculo dos treinadores brasileiros, ele, Parreira, é um dos mais educados e muito provavelmente o mais instruído, muito acima mesmo da tosca média geral. Se ele já está pensando assim, imaginem os outros.

Os outros como, por exemplo, o técnico do Goiás, Hélio dos Anjos, autor de outra frase bem interessante, esta depois da rodada, reclamando das“ faltas táticas” do adversário, o Sport (claro, de Leão). “Eu sei o que é falta tática!!!”, bradava Hélio dos Anjos.
E sabe mesmo, quanto a isso não há dúvida. Hélio dos Anjos sabe o que é “falta tática”, pois é um dos que mais a utilizam. Depois do jogo de domingo, porém, ele reclamava das faltas táticas do “Outro”.
Vocês se lembram que, em palestra a aspirantes a treinador, um professor doutor desses defendeu o que chamou não de falta tática, mas de “falta inteligente”. (Inteligente como ele, naturalmente).

E onde entra o jornalista esportivo em tudo isso? Entra com o tabu: não se pode ou não se deve relacionar os técnicos à quantidade de faltas dentro de campo.
E chega a ser pitoresco, nas transmissões de tevê por exemplo, a variedade de explicações e interpretações de narradores, comentaristas e comentaristas de arbitragem, para as faltas, uma atrás da outra: é o juiz que marca faltas demais; é o estado do campo, molhado, escorregadio ou mesmo ruim; é o jogador que chega “atrasado” na bola; é o jogador que “não teve a intenção”; é a marcação muito forte; é a “pegada” ; é o nervosismo e assim por diante.

A falta nunca é intencional. Como se não ouvissem e não lessem os treinadores falando abertamente, em entrevistas e até em palestras, que seu time tem que fazer mais faltas, que deve empregar as faltas táticas, as faltas inteligentes ou que outra denominação inventarem.
No máximo, pode-se atribuir a falta ao jogador, ao brucutu. Aos técnicos, jamais. Pode-se criticar – e até com razão – o juiz que marca faltas demais. Mas o técnico – que manda fazer as faltas – não se critica.
Parece que ninguém sabe, não parece?

Há muitos anos começou a cair a qualidade do juiz de futebol brasileiro. Hoje em dia, ela é lamentável. Para combater o juizinho chato que marca falta em qualquer esbarrão, nasceu a corrente dos juízes “que deixam o jogo correr”.
Como os árbitros são ruins em qualquer corrente, e como não existe critério na direção da arbitragem brasileira, temos jogos em que se marca qualquer jogada de corpo a corpo e temos jogos em que não se marcam as faltas mais estúpidas.

O juiz hoje não pune ou deixa de punir porque foi falta ou não foi. Ele pune o que quer e quando quer. A verdade é que o futebol está cada vez mais violento.

ELIO GASPARI

O que significa "controlar" a Receita?

Folha de S. Paulo - 15/07/2009


Todas as explicações dadas para a fritura de Lina Vieira pedem que na outra ponta esteja um otário

O MINISTRO Guido Mantega seguiu o tom de um governo que defende a blindagem das cavalariças do Senado em nome da governabilidade: decidiu fritar a secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Logo ela, que reagiu ao festival de incentivos aos sonegadores votados pela bancada governista no Congresso dizendo que "o bom contribuinte se sente um otário". Pelas contas do Ipea, os otários estão preferencialmente no andar de baixo. Quem ganha até dois salários mínimos é um otário de primeira e trabalha 197 dias por ano para pagar seus impostos. Quem ganha mais de 30 salários mínimos é otário de segunda e rala 106 dias. O grande sonegador ganha perdões e parcelamentos.
Otário será quem acreditar que Lina Vieira "não controlou a Receita". Isso não é motivo de demissão, mas de homenagem. Controlada, a Receita vira balcão. Os auditores fazem seu serviço de acordo com a lei e as normas do serviço. Se ela foi frita porque não aceitou algumas propostas de controle, o caso está mais para a jurisdição do Código Penal do que para as leis tributárias.
Otário será quem acreditar que a demissão de Lina Vieira deveu-se a uma queda na arrecadação. Se a atividade econômica do país contraiu-se e o governo conjura a crise com redução de tributos, o lógico seria uma queda na arrecadação de tributos.
Será otário também quem acreditar que Lina Vieira fez algo de errado ouvindo o sindicato dos auditores para o preenchimento de postos de chefia. O Unafisco, ao contrário do sindicato dos pipoqueiros, reúne servidores do Estado que chegaram à Receita por concurso público. Com 8.000 associados na ativa, agrupa 95% da categoria. Ao contrário do que sucede com o sindicalismo palaciano, suas eleições têm mais de 70% de comparecimento e nos últimos dez anos alternaram vitórias da situação e da oposição. Por 85% a 15% os auditores vetaram a associação do Unafisco a qualquer central sindical. Mais: abundam exemplos de diretores da guilda que deixaram suas funções sindicais e retornaram ao chão das repartições. Pode-se reclamar do gosto que o Unafisco tem pelas greves (uma a cada dois anos), mas deve-se reconhecer que foi ele quem mordeu os calcanhares da quadrilha aninhada na cúpula da Receita. A primeira denúncia aconteceu em 1995, e em 2008 um magano foi demitido, e outro, destituído.
Durante os últimos meses, a secretária da Receita recebeu poderosas sugestões para nomear os superintendentes em Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza. Não atendeu. Se tivesse atendido, o governo passaria pelo constrangimento de justificar a indicação de afilhados de empresários, ministros e governadores para funções técnicas.
Se a Receita de Lina Vieira foi aparelhada politicamente, como é que se explica a fiscalização da contabilidade da Petrobras dos doutores Sérgio Gabrielli e Almir Barbassa? Em matéria de aparelhamento, a Petrobras é uma universidade. Aparelho não incomoda aparelho. Se o ministro Guido Mantega contrariou-se com essa fiscalização, não deve contar para ninguém, pois o sentimento comprometerá sua biografia.
No pior cenário, é possível que Lina Vieira tenha ido para a frigideira porque não controlou a Receita. Falta definir "controle"

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PAINEL DA FOLHA

Jeitinho jurídico

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/07/09

A ordem para anular todos os atos secretos criou um vácuo jurídico. Para solucionar o imbróglio, haverá interpretações diferentes para cada ‘categoria’ de atos. O maior nó diz respeito a nomeações sem publicação. Para evitar que os assessores tenham de devolver os salários, o socorro será um princípio de direito administrativo segundo o qual o Estado não pode ‘enriquecer’ à custa do trabalho de alguém. Os valores recebidos seriam mantidos como ‘indenização’.
Agora se busca uma brecha para o aumento da verba indenizatória de R$ 12 mil para R$ 15 mil. Técnicos da Casa reviram a papelada em busca de uma resolução de plenário que tenha convalidado o ato secreto. Sem isso, os senadores podem ter de ressarcir a diferença.

Capitania 1 - A Fundação José Sarney abrigou, em 2001, a mostra dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, organizada pela Brasil Connects. O conselho da empresa é presidido por Edemar Cid Ferreira, dono do Banco Santos e amigo de Sarney. Três meses depois, os dois viajaram juntos para Veneza.

Capitania 2 - Na época, a oposição acusou a governadora Roseana Sarney de ter gasto R$ 4 milhões para reformar o prédio da fundação para sediar a mostra, e outro R$ 1 mi para prorrogá-la duas vezes, alegando sucesso de público.

Pavilhão - O Convento das Mercês, que abriga a Fundação Sarney, também foi palco da convenção do PMDB em 2006, na qual o partido definiu apoio às candidaturas ao Senado de Roseana e Edison Lobão, pelo antigo PFL.

Pai da matéria - Presidente da CPI da Petrobras, João Pedro (PT-AM) é autor de um controverso projeto que prevê mudança nas regras de distribuição dos royalties da exploração do petróleo da camada pré-sal.

Jurássico - Do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), que se irritou com o estilo de Paulo Duque (PMDB-RJ) na sessão de instalação da CPI: ‘Ele pode não ser um trator. Mas seguramente é um dinossauro’.

Outro lado - A Petrobras diz que não patrocina diretamente a Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês, e sim a Fundação Sarney.

Quem quer... - Lula aproveitará a Marcha dos Prefeitos, hoje, para anunciar o cumprimento da promessa de reduzir as contrapartidas dos municípios e Estados para as obras do PAC, prometida como compensação à queda de arrecadação, meses atrás.

... dinheiro? - O agrado aos prefeitos virá na forma de portaria do Ministério das Cidades. Além de redução global de até 40% no desembolso de prefeituras e governos estaduais, o governo federal dará um bônus condicionado à execução da obra -como forma de ‘acelerar’ o PAC.

Vejam só! - Lula não deve deixar de cutucar os prefeitos por um dado revelado em pesquisa da própria CNM, a entidade dos municípios: a redução do IPI de carros, tão criticada, levou a um ganho de R$ 800 milhões com arrecadação de IPVA pelas prefeituras.

Barrados... - Os governadores de Estados produtores de petróleo vão cobrar de Lula a promessa de que seriam ouvidos antes que o governo batesse o martelo sobre as novas regras do pré-sal. O compromisso foi selado em setembro de 2008 na casa de Sérgio Cabral (RJ) em Mangaratiba.

...no baile - Na ocasião, Lula cogitou aumentar a participação dos Estados e municípios em royalties da extração de petróleo fora do pré-sal, como forma de compensá-los pela nova política.

Tiroteio

Agora eles estão negociando a própria ética. A criação do Conselho entrou no conchavo.
Do senador CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF), sobre os desentendimentos entre os partidos que levaram ao adiamento da eleição do presidente do Conselho de Ética do Senado.

Agenda. Dilma Rousseff mudou a rotina das sessões de radioterapia que terá de fazer como parte do tratamento de câncer linfático. Em vez de passar a semana toda em São Paulo, a ministra fará as aplicações quinta e sexta-feiras.

Contraponto

Longo prazo

Internado desde quarta-feira passada no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o vice-presidente José Alencar se animou com a notícia de que, em breve, terá seus dois primeiros bisnetos. Assim que soube da novidade, ele cobrou da equipe:
- Podem tratar de me segurar, porque eu quero ver os meus bisnetos!
Ao que um dos médicos questionou:
- O senhor faz questão de estar presente no batizado?
Bem-humorado, Alencar, que tem 77 anos e acabara de passar pela 14ª cirurgia, respondeu, de pronto:
- Não. Eu quero ir à formatura deles!

TOSTÃO

Hoje é dia de torcer


JORNAL DO BRASIL - 15/07/09

O Cruzeiro, que não estava entre os principais favoritos no início do ano, evoluiu durante a competição, principalmente depois da chegada de Kléber e Leonardo Silva. Hoje, por ter uma equipe um pouco melhor que a do Estudiantes e por jogar bem e ganhar a maioria das partidas no Mineirão, o Cruzeiro tem mais chances de conquistar a Libertadores.

Existe uma mistura de respeito e temor quando se enfrenta um time argentino. Eles têm muito mais títulos que os brasileiros nessa competição. Mas, com pouquíssimas exceções, os times argentinos que venceram decisões no Brasil ganharam porque eram grandes equipes, melhores que seus adversários, e não porque eram argentinos.

Independentemente do resultado, Adilson Batista e os jogadores do Cruzeiro merecem elogios. Não se pode analisar um time por apenas um jogo.

Hoje, quero ver Fábio repetir as excepcionais partidas dos últimos anos, como Raul e Dida, em 1976 e 1997.

Hoje, quero ver os laterais, Jonathan e Magrão, novamente apoiarem bem, sem deixar muitos espaços nas costas. Quando o Estudiantes recuperar a bola, os dois deveriam fazer parte da linha de zagueiros, e não da linha do meio-campo. Jonathan me lembra Maicon, quando saiu do Cruzeiro, pela força física e pela técnica. Maicon tinha a mesma deficiência na marcação, que corrigiu na Itália.

Hoje, não quero ver os zagueiros cometerem erros. Leonardo Silva, que era um fraco zagueiro, cresceu no Cruzeiro. Ele é importante nas jogadas aéreas, na área do Cruzeiro e na do adversário.

Hoje, quero ver Marquinhos Paraná jogar como sempre, com a cabeça em pé, e tocar a bola com precisão e simplicidade.

Hoje, quero ver Henrique ser novamente um bom coadjuvante. Quem sabe, ele acerta um chute como o do gol que fez contra o São Paulo?

Hoje, quero ver Ramires jogar bem e correr como um queniano, como a torcida, carinhosamente, o chama. Ramires não atuou bem depois que voltou da Seleção. Ele não precisa tentar ser um craque, que não é. Ramires tem que jogar do jeito que sabe, que é diferente dos outros. Por isso, ele surpreende e é importantíssimo para qualquer equipe.

Hoje, quero ver novamente Wagner driblar, passar, finalizar e cruzar bem, principalmente quando se desloca para a esquerda, quase como um ponta.

Hoje, quero ver Wellington Paulista fazer as coisas que sabe fazer bem, que são finalizar e se antecipar aos zagueiros nos cruzamentos.

Hoje, quero ver Kléber ser um gladiador e jogar com grande talento, como tem feito, com exceção do primeiro jogo, quando foi apenas gladiador.

Hoje, quero ver Adilson Batista comandar bem o time como nos últimos tempos, depois que deixou de fazer coisas que só ele e seus amigos entendiam. O torcedor do Cruzeiro, que entende de futebol, percebeu a evolução do técnico e passou a apoiá-lo. Adilson não é mais vaiado, se tornou querido da torcida e é, hoje, um dos principais treinadores do Brasil.

Hoje, como não sou blogueiro nem tenho compromisso de comentar durante e após o jogo, vou deixar de ser um analista. Hoje é dia de torcer.

O VERME

RUY CASTRO

Gardênia no cabelo

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/07/09

RIO DE JANEIRO - Em 1948, o baiano Jorge Cravo, Cravinho, 21 anos, relapso estudante de administração em Nova York, não saía do cinema. Não pelos filmes, de que não queria nem saber, mas pelos minishows de palco que os cinemas apresentavam entre as sessões -cinco ou seis por dia, estrelando um grande cantor ou orquestra.
Com um único ingresso, Cravinho assistia ao primeiro show, via o filme uma vez, assistia ao segundo show, dormia na sessão seguinte, assistia ao terceiro show, ia namorar a garota da bombonière durante mais uma sessão e assim por diante. E quem se apresentava nos cinemas? Frank Sinatra, Duke Ellington, Billy Eckstine, Tommy Dorsey, Nat King Cole etc. Certo dia, foi a vez de Billie Holiday.
Ao fim do último show de Billie, o emocionado Cravinho postou-se nos fundos do cinema e a viu sair, linda, de vestido justo e gardênia no cabelo. Seguiu-a até um botequim, entrou também e sentou-se ao balcão, a um ou dois banquinhos da deusa. Mas respeitou sua solidão e não a importunou.
Dois anos depois, de volta ao Brasil, Cravinho escreveu-lhe uma carta, aos cuidados da Decca, sua gravadora, convidando-a a cantar na Bahia. Para sua surpresa, Billie respondeu, autorizando-o a falar com um brasileiro amigo dela, chamado Guinle (Jorginho, claro), a respeito disso. Mas nada resultou, e a própria carta se perdeu.
Passaram-se séculos e, nos anos 80, Cravinho vendeu sua fabulosa coleção de LPs de cantores de jazz para um americano. E pode-se imaginar a surpresa deste ao abrir um LP de Billie Holiday e ver cair uma carta da cantora, dirigida a seu fã brasileiro, o qual só depois se lembrou de que a guardara dentro de um disco.
Nesta sexta-feira, são 50 anos da morte de Billie. Foi uma morte anunciada, mas Cravinho e o mundo até hoje não se refizeram.

INFORME JB

Governo já tem um boi de piranha

Vasconcelo Quadros

JORNAL DO BRASIL - 15/07/09

O governo fez barba, cabelo e ainda conseguiu engessar a CPI da Petrobras, instalada ontem com presidente (João Pedro) (foto), vice-presidente (Marcelo Crivella) e relator (Romero Jucá) da ala governista. A estratégia é burocratizar as atividades da comissão, fechando o cerco em torno dos requerimentos que serão submetidos a votação. O placar de 8 a 3 vai evitar tudo que possa causar transtorno. O Palácio do Planalto e seus líderes já sabem que o grande problema da estatal é a caixa-preta que trata dos patrocínios. Decidiram fechar a porta. O máximo que permitirão será um corte horizontal na própria carne, deixando que a oposição leve a cabeça de Wilson Santarosa – o responsável pelo setor devassado pelo TCU e, agora, boi de piranha.

Blindagem Água fria

O êxito da tropa de choque governista aliviou o presidente do Senado, José Sarney. A ofensiva o coloca como o primeiro alvo da blindagem iniciada ontem sob orientação do presidente Lula, que não quer problemas para a candidatura da ministra Dilma Rousseff. Depois, vem a Petrobras. Mas já é consenso na base governista que haverá dificuldades para explicar o repasse de R$ 1,4 milhão da estatal para a Fundação José Sarney.

A eleição do petista João Pedro para a presidência da CPI foi uma estratégia para esfriar o jogo caso a oposição se empolgue. Se aparecer uma denúncia mais bombástica do que as que já estão por aí, bastará o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, anunciar que vai reassumir sua vaga no Senado para que o tumulto seja instalado. Como João Pedro é suplente de Nascimento, seria necessária uma nova eleição. Não há no regimento do Senado nada que impeça a eleição de quem não é titular, mas a opção por João Pedro quebra uma tradição. É jogo marcado.

Agora ele quer

Seis horas antes da eleição, num debate com Heráclito Fortes (DEM-PI) pela rádio CBN, João Pedro detonou a CPI, afirmando que não havia fato determinado a ser investigado. "Todo o governo era contra, mas isso agora é passado. Vamos fazer uma investigação transparente, democrática", jura o petista. E se o ministro Alfredo Nascimento resolver voltar? "Faz uma nova eleição", diz ele. É uma CPI natimorta, empurrada goela abaixo e sem chance de defesa à oposição.

"Sacanagem"

O senador Paulo Duque (PMDB-RJ) presidiu a eleição com mãos de ferro. Não permitiu apartes nem quando o candidato da oposição, Álvaro Dias (PSDB-PR), invocou o artigo 14 do regimento interno para replicar a citação de seu nome por Aloizio Mercadante. "Aqui não tem artigo 14 coisa nenhuma", respondeu Duque, chamando logo para a votação. "Era uma sacanagem", explicou Duque, que vai presidir o Conselho de Ética.

De volta ao poder

O ministro Marco Aurélio acumula neste recesso, até domingo, as presidências do Supremo Tribunal Federal, do Conselho Nacional de Justiça e do Tribunal Superior Eleitoral, para despachos urgentes. O presidente e o vice-presidente do STF estão na Rússia, em visita oficial. O ministro Ayres Britto, presidente do TSE, também viajou.

Aprendiz

O jogador Raí pediu ontem empenho do governador José Serra na aplicação da Lei do Aprendiz. Ao contrário de outros estados, o governo paulista preenche pouco mais de um sexto de sua capacidade de absorção. Hoje são 48.113 os aprendizes contratados. Poderiam ser 320 mil.

GOSTOSA


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COISAS DA POLÍTICA

O desacerto da promiscuidade

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 15/07/09

Na base das sociedades políticas encontra-se a separação entre o poder de legislar e a ação executiva. Mesmo nos sistemas parlamentaristas, quando o Poder Executivo é normalmente exercido por parlamentares, as duas atividades são definidas e limitadas. O parlamentar, quando investido de função executiva, como membro do governo, é subordinado à instituição legislativa. Quando falta ao governo a confiança do Parlamento, forma-se nova maioria ou, nos casos extremos, convoca-se o povo para eleger outros legisladores e, com eles, outro governo.

Nos sistemas presidencialistas esta separação é exigida mais ainda, pela natureza do sistema, eficiência administrativa e exigências éticas. Os parlamentos surgiram contra os governos monocráticos. Essa consciência de que cabe ao povo, mediante delegados escolhidos, decidir o seu destino, a que damos hoje o nome de democracia representativa, consolidou-se, como é lugar-comum reconhecer, na fundação dos Estados Unidos. A ideia central é a de que a soberania sobre o Estado, sendo imanente ao povo, só pode ser exercida na separação dos deveres e direitos. O povo elege os dois "departamentos", para usar a terminologia norte-americana, para que se contraponham, e assim se defenda o interesse geral. No fundo, o Parlamento deve ser a mobilização permanente dos cidadãos. E, de acordo com os célebres pronunciamentos do Kentucky e da Virgínia, o dever do cidadão é o de sempre desconfiar do governo. Uma vez constituída a administração dos bens públicos, o povo deve manter a sua soberania por intermédio do Poder Legislativo, que determina as leis e as normas e fiscaliza o Poder Executivo, podendo, se for o caso, destituí-lo, por meio do instituto do impeachment. Mas o Parlamento deverá estar também sob a vigilância permanente dos cidadãos.

A Constituição dos Estados Unidos proíbe que membros do Poder Legislativo exerçam funções executivas, e que membros do Poder Executivo sejam eleitos para o Parlamento, enquanto permanecerem em sua função (Article I, Section 6, n.2). Em suma: nenhum senador ou deputado pode pertencer ao Poder Executivo, seja como ministro ou servidor menor. Não pode o membro do Poder Legislativo subordinar-se a ninguém, a não ser ao povo. Aqui, no entanto, desde a Constituição de 1891, essa promiscuidade tem sido um dos maiores infortúnios republicanos. A República nasceu com apenas um poder de fato: os mesmos homens faziam as leis, cumpriam-nas ou não, conforme a conveniência, e eram os excelsos membros dos altos tribunais (como é exemplar o caso de Epitácio Pessoa).

É nessa origem espúria, a que o talento de Ruy Barbosa (e, lamentavelmente, com suas próprias razões) não ousou opor-se, que podemos encontrar os vírus da infecção generalizada do Congresso – e não só do Senado. Os parlamentares ditam as normas que irão cumprir, elaboram os orçamentos que seus amigos, companheiros e representantes dos mesmos financiadores, irão executar. No caso em que, marginalmente, o povo é favorecido, isso se dá apenas pelo interesse eleitoral imediato. Quando anunciam a reforma política, as propostas visam a assegurar o domínio das oligarquias partidárias, como a da instituição das listas fechadas, nunca buscam o aperfeiçoamento democrático.

Nenhuma reforma política terá qualquer efeito se essa promiscuidade não for interrompida – e já. A divisão dos poderes, desde Montesquieu, deve ser clara: quem legisla não pode executar. Em nossa história, como bem lembrou há dias Wilson Figueiredo, a infecção começou a agravar-se com o AI-5, quando os parlamentares, em lugar de entregar as chaves do Congresso ao porteiro, mantiveram as aparências do regime, em troca dos benefícios conhecidos. Nos últimos anos, com a liberdade de imprensa, os vícios dessa promiscuidade passaram a ser mais evidentes. Apesar disso, a tolerância da cidadania, reelegendo notórios corruptores e corruptos para os poderes legislativos da União e dos estados, impediu que a infecção fosse curada, no Estado e na sociedade.

O único remédio – se queremos salvar a República e evitar o pior – é convocar Assembléia Constituinte exclusiva, com a delegação popular única e imperativa, para redigir nova carta, prazo de trabalho definido e dissolução automática. Não há terceira via: estamos entre a razão moral e a anomia.

ANCELMO GÓIS

POLUIÇÃO DO PRÉ-SAL

O GLOBO - 15/07/09

Com a CPI da Petrobras em instalação no Senado, a estatal foi um dos temas mais discutidos na reunião de Lula com os ministros.
Carlos Minc contou que as licenças ambientais no pré-sal têm saído com rapidez. Mas o ministro lembrou que os campos do pré-sal emitem percentual de CO² de 12% a 20%, contra só uns 3% dos campos atuais.
SEGUE...
Lula concordou que a Petrobras tem de priorizar investimentos para evitar lançar na atmosfera milhões de toneladas de carbono.
Tecnologia para isso (seu nome técnico é CCS) existe.
OPTOU PELO ACARAJÉ
Geddel Vieira Lima, que sonhou ser candidato a vice na chapa de Dilma, tem avisado aos colegas do PMDB que disputará o governo da Bahia.
CASO MESBLA
A 12ª Câmara Cível do Rio julgou improcedente ação de Ricardo Mansur contra o Bradesco, no valor de uns R$ 8 bi.
O empresário alegava ter comprado a Mesbla aconselhado pelo bancão, que, depois, teria “puxado o tapete”. A Justiça inocentou o banco da aventura.
LATTE VERSATO
Leite derramado, best-seller de Chico Buarque, será lançado na Itália pela editora Feltrinelli.
CLÁUDIA LEITTE S.A.
Cláudia Leitte, a baiana nascida em São Gonçalo, RJ, contratou um executivo só para cuidar do marketing de sua carreira.
A cantora tirou do mercado fonográfico Edison Coelho, ex-vice-presidente das gigantes BMG, Universal e EMI.
FUTURO NATIMORTO
A tendência do governo é acabar com a tal Secretaria de Assuntos Estratégicos, o Ministério do Futuro, ocupado por Mangabeira Unger.
A falta que fará é... Não sei.
RUMO À RÚSSIA
O Itamaraty acertou esta semana com vários ministérios a missão governamental que irá à Rússia este mês.
Vão debater as exportações de carne e frango (que sofrem com cotas por lá) e de aviões da Embraer (os russos têm preferido os modelos europeus e americanos).
MARCELLIN CAILLOU
O clássico infanto-juvenil Marcellin Caillou, do ilustrador e escritor francês Jean-Jacques Sempé, vai ganhar uma edição em português da Cosac Naify, com tradução do jornalista Mario Sergio Conti.
PROCESSO SEGUE
A 2ª Turma do TRF do Rio negou ontem pedido de Garotinho para que fosse arquivada a ação na qual é acusado de formação de quadrilha por dar sustentação política ao ex-chefe de polícia Álvaro Lins.
ARCOS DA LAPA
O BNDES está em vias de aprovar um projeto de uns R$ 800 mil para restauração dos Arcos da Lapa, no Rio. Viva!
AGRESSOR FALIU
O juiz Rodrigo Brito, da 6ª Vara Empresarial do Rio, decretou a insolvência civil (falência de pessoa física) de Bruno Sá, que, em 1995, agrediu Luiz Maciel numa boate em Ipanema.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


DORA KRAMER


Engenheiro de obra desfeita

O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/07/09

O presidente do Senado, José Sarney, abriu mão da divisa de respeito conquistada como condutor do primeiro governo civil da transição democrática em sua passagem pelo Palácio do Planalto, entre março de 1985 e janeiro de 1990.
O que fez pela democracia lá, Sarney desfaz agora, ao transformar o Senado Federal em quintal do Palácio do Planalto. Ao mentir a seus pares, ignorar o desejo da maioria e impor ao colegiado a presença de um presidente cuja figura - por justiça ou contingência - sintetiza o pior da política brasileira, José Sarney desrespeita a instituição.
Menospreza a independência do Parlamento, se deixa tutelar pelo Poder Executivo, abre as portas do Congresso para a interferência oficial do presidente da República e, portanto, agride a Constituição e afronta a própria essência do regime democrático que anos atrás ajudou a reconstruir.
Por aquela contribuição perdoaram-se seus malfeitos biográficos. A fim de não incorrer no pecado da condenação por crime de opinião, não incluamos entre eles seu apoio ao regime militar. Fiquemos, pois, no gosto pela política patrimonialista e no desastre da política econômica atrelada a interesses eleitorais.
Mesmo saído da Presidência da República tão rejeitado que sequer pôde atuar no processo da própria sucessão, Sarney recuperou-se e por anos se manteve à tona graças ao reconhecimento de sua obra de tolerância em prol da democracia.
Numa época em que ainda se ouviam com nitidez os roncos da reação, em que a memória da censura e a ação da mão pesada do poder pertenciam a um cotidiano familiar, de Sarney se falou de tudo e mais um pouco. Mas, do presidente, não se ouviu nem viu um só gesto que pudesse ser interpretado como a mais leve ameaça ao mais contundente dos adversários.
Com esse capital, o José Sarney da boa conduta democrática se sobrepôs e sobreviveu ao Sarney das velhas práticas. Atravessou o período delicadíssimo da Constituinte numa condução politicamente impecável.
Deu espaço à consolidação da relação promíscua Legislativo-Executivo sob a égide do lema “é dando que se recebe”. Mas não o fez sozinho nem por vontade exclusiva. Teve parceiros poderosos, muitos dos quais celebrados em postos de honra para a eternidade.
Nunca, porém, interferiu no processo. Mesmo, conforme alertou à época, considerando que muitas das decisões dos constituintes tornariam o Brasil ingovernável. Em boa medida, estava coberto de razão. Nem por isso invocou a parceria da força, ainda relativamente viva em vários setores. Nos quartéis, inclusive.
Deixou que a democracia seguisse o seu destino, aos trancos e barrancos, mais erros que acertos.
No fim da carreira, contudo, achou por bem inverter a equação. Entrega o Senado na bandeja à Presidência da República. Não importa que a força agora venha das ruas e não das Armadas.
O fato inquestionável é que José Sarney patrocina o aprofundamento do desequilíbrio entre os Poderes que, não obstante não ter sido por ele inventado, poderia ter sido limitado por ação de consciência democrática.
Há 25, 30 anos, o presidente José Sarney aceitou a evidência: era menor que o País, que o projeto de transição engendrado por um conjunto de forças capitaneado por Tancredo Neves e, de acordo a circunstância, se conduziu.
Agora, o senador José Sarney, talvez pela urgência e premência da falta de tempo, transforma suas agruras individuais em sinuca coletiva. A maioria dos partidos da Casa por ele presidida pediu que se licenciasse quando apareceram as primeiras denúncias envolvendo gente nomeada por ele para a cúpula administrativa do Senado.
A quase totalidade dos senadores passou a desejar sua renúncia depois que as acusações o atingiram pessoalmente. E Sarney - que até por dever dos ofícios já prestados, teria um nome a zelar -, simplesmente ignora a posição e o constrangimento de seus pares e se esconde sob as asas do presidente da República, ao modo de um Renan Calheiros qualquer.
Vê seu destino ser decidido em reunião de ministério, assiste a bancada do PT ser enquadrada como se de delegação popular não dispusesse, enxerga perfeitamente o obstáculo que representa a que o Senado ao menos tente dar uma virada, e nada faz além de pensar em si.
Que o presidente Luiz Inácio da Silva não veja o cenário sob uma ótica institucional, sabe-se desde que o PT por ele comandado recusou-se a avalizar todas as ações de avanço nos últimos anos - da transição com Tancredo à estabilização da moeda, passando pela Constituinte.
Mas de José Sarney, pelo passado ora tão invocado e celebrado, era se esperar uma compreensão mais elaborada da História e uma visão mais aprimorada da democracia no Brasil.

CONCEITO DE ÉTICA
Determinados integrantes fazem do Conselho de Ética do Senado uma contradição em termos.

CLÁUDIO HUMBERTO

"Eu vou fazer, eu vou ajudar a eleger a minha sucessora”
PRESIDENTE LULA, LOGO DEPOIS DE TER DITO QUE NÃO PODE FALAR SOBRE AS ELEIÇÕES DE 2010.

ANULAÇÃO: CADA SENADOR PERDEU 6 ASSESSORES
A anulação dos 663 “atos secretos” do Senado, determinada pelo seu presidente, José Sarney, extinguiu a criação de seis cargos de assessores para cada gabinete de senador. Assim, foram canceladas as nomeações de 486 assessores. Outros “atos secretos” anulados expõem a anarquia administrativa no Senado, como a resolução que prorrogou o funcionamento de uma certa “Comissão de Fins de Semana”.
“POLÍCIA” EXTINTA
Foram anulados por José Sarney “atos secretos” criando a “Secretaria de Polícia do Senado” e transformando três servidores em “policiais”.
CONTA TUCANA
Aspone do tucano Arthur Virgílio (AM), Carlos Alberto Nina Neto recebeu mais de R$ 210 mil do Senado, enquanto estudava teatro na Espanha.
PROMESSA É DÍVIDA
Wellington Salgado (PMDB-MG) fez uma promessa: quando terminar o mandato de senador vai cortar o cabelo para “matar o personagem”.
SOB CONCURSO
O Ministério da Saúde está contratando uma centena de servidores, com salários que chegam a R$ 8 mil mensais. Mas são todos concursados.
DOIS GAÚCHOS SE REBELAM CONTRA O SENADO
Os advogados gaúchos Irani Mariana e Marco Giordani entraram na Justiça Federal contra a União e os senadores Efraim Morais (DEM-PB), primeiro-secretário, e o ex-presidente Garibaldi Alves (PMDB-RN), pelo pagamento de horas extras não trabalhadas de 3.883 funcionários durante recesso do Senado em janeiro. O pagamento de horas extras provocou gastos de R$ 6,2 milhões. Os 81 senadores estavam em férias.
DIFÍCIL EXÍLIO
A polícia alemã está de olho em nova leva de imigrantes ilegais de Minas e Goiás, usando falso passaporte português.
SAÍDA
O vice-governador do DF, Paulo Octavio (DEM), deixará de ser secretário de Turismo do DF. Assumirá
Adriano Amaral, seu homem de confiança.
AVISO
O presidente da CPI da Petrobras, senador João Pedro (PT-AM), já avisou: não vai deixar a oposição “politizar o debate” de olho em 2010.
PAVIO CURTO
Sem paciência com a gritaria na reunião, Paulo Duque (PMDB-RJ) deu início aos trabalhos da CPI da Petrobras com bate-boca: cortou Sérgio Guerra (PSDB-PE) e pediu para que se pronunciasse depois, “lá fora”.
DO CONTRA
Senadores da oposição avaliam que deixar a presidência da CPI da Petrobras com o petista João Pedro é uma “tentativa descarada do governo” de sepultar as investigações. Ele sempre foi contra a CPI.
INDICAÇÃO SOB EXAME
O ministro Nelson Jobim (Defesa) foi à parada militar de 14 de Julho, em Paris, mas antes de viajar enviou à Casa Civil a indicação do seu chefe de Gabinete, Murilo Marques Barbosa, para presidir a estatal Infraero.
LÍNGUA MORTA
Aspones abundam na Agência Nacional de Petróleo, mas o português escasseia: “recursos vultuosos” (sic) e “haviam (sic) representantes” só pioraram a posição do diretor Haroldo Lima contra a CPI da Petrobras.
NO BOLSO DO COLETE
Servidores do Ministério do Meio Ambiente prometem greve a partir de amanhã (16) para que o governo cumpra promessa de “valorização salarial”. O ministro Carlos Minc poderia ajudar com leilão de coletes.
QUEIMA TOTAL
Já na porta de saída por decisão unânime do TSE, o governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), tenta vender os 40% da companhia de estadual de energia ao Grupo Rede, que já controla 60% da empresa.
VALENTE MACHISTA
Com três gatos pingados, o PSOL arde em chamas na Câmara. Luciana Genro (RS) acusa o líder Ivan Valente (SP) de “machista desequilibrado”. O bombeiro, vejam, é o terceiro membro da bancada, Chico Alencar (RJ).
ENGANAÇÃO
Lula sugere que a carga tributária brasileira (35% do PIB), é pequena e cogita aumentar, citando Suécia, Dinamarca e Bélgica, onde a tributação beira os 50%. Mas lá os serviços (e os políticos) são de primeiro mundo.
FEIRA DE INUTILIDADES
Michael Jackson está sob a terra sem cérebro. Pior são as celebridades vivas que aparentemente ainda têm um.

PODER SEM PUDOR
JÂNIO: BOLSOS PROTEGIDOS
Segundo relato do seu biógrafo, Nelson Valente, Jânio Quadros caminhava certa vez com a mulher, Eloá, na rua Costa Rica, na região dos Jardins, em São Paulo, quando foi interceptado pelo inefável Paulo Maluf:
– Oh, meu querido presidente! – gritou, abrindo os braços.
– É o senhor? Causou-me um susto. Pensei tratar-se de assalto – reagiu Jânio, ferino, metendo as mãos no próprio bolso. O gesto foi tão sutil que Maluf não o percebeu. Depois Jânio comentaria com d. Eloá, suspirando:
– Não conheço nada que alcance o senhor Paulo Maluf na honra...