terça-feira, março 10, 2009

ARNALDO JABOR

No Brasil, o perigo está no "bem"


O Globo - 10/03/2009
 

Lá do fundo da Idade Média o arcebispo de Olinda e Recife, José Ribeiro Sobrinho, excomungou uma família e os médicos que fizeram um aborto em uma menina de 9 anos estuprada pelo padrasto e grávida de gêmeos. E o estranho ser togado de arcebispo ainda boquejou: "A lei de Deus está acima da lei dos Homens." Ou seja, a Santa Joana d"Arc foi queimada viva pela lei de Deus. A inquisição foi Lei de Deus, com as milhares de horrendas torturas feitas sob as bênçãos de um Deus cruel? Espantosamente, o Vaticano, nos últimos dias, apoiou a decisão deste arcebispo medieval de Olinda e Recife. Isso me lembra outro prelado idiota que uma vez excomungou um juiz que autorizou o aborto de um feto descerebrado e falou sobre o estupro: "Os filhos de mulheres estupradas devem nascer e serem educados pela igreja, como órfãos infelicitados". Talvez fosse essa a pior desgraça, o sinistro destino para uma criança: "Quem é você?" "Eu sou o filho do Moto-Boy assassino, educado pelo arcebispo José Ribeiro Sobrinho". 

É espantoso o descompasso da Igreja Católica com os tempos atuais, justamente quando a História está de novo tão cruel, quando nós precisamos tanto de doçura, tolerância, que não é dada por este papa Bento XVI, de olhos frios e inquisitoriais. Ele foi vacilante com o bispo maluco que negou o Holocausto, como sendo um lero-lero de judeus, foi evasivo com os pedófilos religiosos da América, é contra os anticoncepcionais, contra as homossexuais, contra tudo. Daí o sucesso dos canalhas que inventaram os bancos de dízimos e os supermercados da fé. 

No mundo inteiro há uma reviravolta ética, um maniqueísmo ao avesso, um cinismo que nos habitua ao inaceitável. Bush, a besta quadrada do apocalipse, jogou o mundo no caos, em nome de Deus. Enquanto isso, em nosso mundinho brasileiro, na aliança do governo Lula com os mais nefastos canalhas, vemos uma inversão do mal em bem. O bem do Brasil (leia-se Lula) tem de passar pela aliança com os escroques para atingir um bem futuro de uma sociedade mais justa (leia-se 2010). Aliou-se ao PMDB - o mal da hora -, na sua maioria filhos do pior patrimonialismo nordestino, essa pasta feita de bigodes, cabelos pintados, focinhos vorazes, gargalhadas boçais e salivantes, inimigos antigos se beijando. Pode até ser que isso possa ser um bem a longo prazo alertando-nos para o óbvio: é preciso reformar a política no país. 

Como se sentem, diante dessa aliança, os intelectuais que tanto apoiaram o PT, os bondosos de carteirinha, os cafetões da miséria, os santos oportunistas? Pela lógica "revolucionária", eles não justificavam todas as sacanagens pela utopia de um futuro, por uma pureza maior herdada do socialismo? 

Na época da Guerra Fria era mole. Contra todas as evidências (Hungria em 56, Praga em 68), o mal era o capitalismo, e o bem o socialismo. Agora, com a crise, está de volta esse simplismo criminoso. Aquele picareta exibicionista do Slavoj Zizek já está inventando um stalinismo renovado, como vereda para a verdade luminosa. Tentamos inventar um mal separado do bem, mas está tudo misturado. 

E essa bolha maldita que enriqueceu o mundo em dez anos e depois derrubou tudo? O bem financeiro virou o mal? Está difícil entender. Durante a ditadura, éramos o "bem". O mal eram os milicos. Acabou a dita e as "vitimas" (dela) pilharam o Estado. 

O bem está virando um luxo, e o mal é quase uma necessidade social. Sem participar um pouco do mal, não conseguimos viver. Como ser feliz olhando as crianças famintas? Temos de fechar os olhos. A felicidade é uma virtude excludente. Ser feliz é não ver. O mal está virando um mecanismo de defesa. Quem é o mal: o assaltante faminto ou o assaltado rico? Ou nenhum dos dois? Como praticar o bem? Apenas se horrorizando com o mal? O que é o bem hoje? É lamentar tristemente uma impotência, é um negror melancólico? 

O Mal é sempre o outro. Ninguém diz, de fronte alta: "Eu sou o mal!" Ou: "Muito prazer, Demônio de Almeida". 

Até o homem-bomba se acha o bem, pois sua missão é destruir a modernidade, e para a razão da tecnociência eles são o mal porque incompreensíveis. O mal no mundo hoje é o "incompreensível".

Nem um "bem" tradicional se sustenta mais, vejam o arcebispo excomungante e o papa burocrático. 

Todo pensamento aspira à totalidade. O bem é um desejo de harmonia, de Uno, de totalidade ou o bem é suportar heroicamente o incontrolável, a falta de esperança, a impotência democrática? 

Hoje, com a queda das utopias, a razão tenta se adaptar ao absurdo pós-moderno. Mas, ao denunciar o Mal, vivemos dele. Eu mesmo ganho a vida denunciando o que acho "mal". Quem controla o mal? A verdade é que o mal está entranhado na matéria profunda do mundo. A verdade é que fomos construídos nessa dialética louca entre tragédia e harmonia, entre guerra e paz e isso é incontrolável. 

Muitas vezes na História o "bem" foi devastador. Nietzsche escreveu em sua obsessão de libertar o homem: "Foram os espíritos fortes e os espíritos malignos, os mais fortes e os mais malignos, que obrigaram a natureza a fazer mais progressos." (in "Gaia ciência") 

No Brasil, o mal não é épico, como falou Nietzsche, referindo-se, claro, à solidez estúpida da metafísica e da religião. No Brasil, o que nos assola é o pequeno mal, enquistado nos estamentos, nos aparelhos sutis do Estado, nos seculares dogmas jurídicos, nos crimes que são lei. O mal aqui está nos pequenos psicopatas que, quietinhos, nos roem a vida. 

O mal do Brasil não está na infinita crueldade dos torturadores ou das elites sangrentas; está mais na sua cordialidade. Aqui, o perigo é o Bem.

INFORME JB

Verba só para quem tiver diploma


Jornal do Brasil - 10/03/2009
 

Ministério do Planejamento vai publicar uma instrução normativa determinando que, em suma, a partir do ano que vem, os municípios só poderão firmar convênios com a União depois que seus gestores – secretários de Administração, Finanças e afins – passarem por um intensivão sobre gestão e prestação de contas de convênios. Isso valerá, a priori, para as cidades do Amazonas e Mato Grosso, os dois primeiros estados que entraram no programa que começa este mês, envolvendo o Senado e o Tribunal de Contas da União. Esquema bolado pelo presidente do Congresso, José Sarney, e pelo presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, com as bênçãos do ministro Paulo Bernardo (foto). Auditores e fiscais do tribunal e técnicos do Poder Legislativo vão às cidades ministrar os cursos – que serão feitos também por TV, durante seis meses no máximo. A meta é estender o programa ao restante do país.

 

Modelo 2010

Famoso entra, celebridade sai, e na festa de 80 anos de Hebe Camargo, domingo à noite, na casa de Lucília Diniz, quem chamou a atenção foi José Serra. No meio dos figurinos de smoking, o governador entrou de terno com pinta de presidenciável.

24 horas

Notívago, Serra virou alvo dos piadistas de plantão. Diziam que ele já estava indo para o trabalho.

Na moita

Hebe de vez em sempre critica os políticos de Brasília e manda aquela banana para a turma. Sabe quem apareceu lá como convidado? O senador Edison Lobão Filho (DEM-MA), suspeito de usar laranja em transações comerciais.

Dudu sertanejo

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, começou a Maratona Sertaneja. Calma, não é show. É um amontoado de obras no sertão pernambucano com agenda forte e diária.

Sem-tela

O jornalista e cineasta Sérgio Henrique Sá Leitão, diretor da Agência Nacional de Cinema, foi exonerado a pedido.

Mercado aberto

A Polícia Federal está de olho. Os árabes estão expulsando os chineses da tradicional Feira do Paraguai, no Setor de Indústria e Abastecimento de Brasília – onde os produtos, digamos, não têm aquele selo de garantia.

Apito & batom

As autoridades de Lima, capital do Peru, decidiram incumbir as policiais de controlar o trânsito na cidade. Elas seriam menos suscetíveis às propinas.

Zerado

Registre-se a tempo, um assunto já citado na coluna, o Grupo Técnico de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento zerou a taxação da importação do glifosato – antes em 35,8% – um herbicida muito importado da China e essencial hoje para as lavouras. A Monsanto dominava o mercado nacional.

Data venia?

Aconteceu em Nanuque, em Minas. Um jovem acusado de estupro invadiu só de cueca a casa de um juiz, sem saber quem era o dono. Limpou a geladeira e foi tirar uma sesta – na cama do homem. Foi preso em flagrante.

Tranquila

A ministra Dilma Rousseff estava com o governador Jaques Wagner, em Salvador, no sábado, quando foi informada sobre as denúncias da Veja de que teria sido monitorada por Protógenes Queiroz. Deu de ombros e continuou sorrindo à mesa.

Brasillll!

Desabafo ontem do presidente do Senado, José Sarney, sobre o rol de denúncias de todos os lados: "Está tudo uma vergonha".

Radiografia...

A Assembleia Legislativa de São Paulo divulga hoje a 5ª edição do Índice Paulista de Responsabilidade Social – versão 2008.

... paulista

O índice faz uma radiografia dos municípios do estado, e é composto por quatro indicadores: três deles mensuram as condições atuais dos 645 municípios em termos de renda, escolaridade e longevidade; o quarto divide as cidades em cinco grupos de acordo com sua situação geral.

PAINEL

É isso ou isso


Folha de S. Paulo - 10/03/2009
 

Em nova rodada de conversas com governadores sobre o pacote habitacional, Dilma Rousseff voltou a decepcionar a audiência ao frisar que União, Estados e municípios ficarão fora da execução das obras. A iniciativa privada se encarregaria de tudo nas três faixas de renda atendidas pelo programa. Mais decepção se viu quando a ministra deixou claro que o pacote será o único a receber verbas federais, acabando com os repasses para outras parcerias na área de habitação. "Não vai ter duas coisas. Vai ter uma só. E é isso."
Na contramão de sua fase sorridente, Dilma manifestou impaciência com a demora da 
CEF em fechar a proposta, interrompendo várias vezes e em tom ríspido o vice-presidente do banco, Jorge Hereda.


Mãozinha
Após pedido de Dilma na semana passada, o secretário de Habitação de SP, Lair Krähenbühl, enviará dados sobre projeto aprovado no Estado para reduzir custos cartoriais de moradias populares. A ideia, disse a ministra, é que o Planalto envie proposta similar ao Congresso como parte do pacote habitacional. 

Trailer
Depois de algum suspense, José Serra (PSDB) decidiu participar de seminário sobre desenvolvimento amanhã em São Bernardo do Campo. O governador paulista dividirá as atenções com Dilma, convidada de honra do prefeito Luiz Marinho (PT). 

Meu garoto
O corintiano Lula abriu a reunião da coordenação política, ontem, todo entusiasmado com o desempenho de Ronaldo diante do Palmeiras: "Ainda está fora da forma ideal, mas fez pelo menos cinco boas jogadas e saiu como o melhor em campo". 

Preliminares 1
Em parceria com o PP de Paulo Maluf, os partidos que tentam manter vivo o "bloco de esquerda" se reuniriam ontem à noite em São Paulo com Paulo Skaf, na tentativa de colocar de pé a candidatura do presidente da Fiesp ao governo de São Paulo pelo PSB. O encontro foi marcado na casa do ex-deputado Cunha Bueno (PP). 

Preliminares 2
A primeira providência definida pelo grupo é a encomenda de pesquisa para testar o nome de Skaf entre os pré-candidatos ao Palácio dos Bandeirantes.

Entre amigos 1
Responsável pelos kits de R$ 47 milhões distribuídos na rede escolar do Pará, com fotos da governadora Ana Júlia, a Double M recebeu R$ 67 mil na campanha da petista. A agência subcontratou a gráfica Delta para confeccionar as agendas do kit, também velha conhecida: faturou R$ 600 mil na eleição de 2006. 

Entre amigos 2
A Delta, por sua vez, "quarteirizou" o serviço, e as agendas acabaram sendo produzidas por uma empresa da Paraíba. O governo diz ter parecer jurídico da Secretaria de Educação avalizando todo o processo. 

Senha
Apesar da anunciada disposição para esticar a CPI dos Grampos, a avaliação, na própria bancada do PSDB, é que os rumores sobre arquivos relativos ao governo FHC acabarão resultando num acordo de cavalheiros semelhante ao da CPI dos Cartões. 

Tudo meu
Integrantes da CPI foram surpreendidos pelo presidente, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), que ontem confirmou estarem na comissão os documentos apreendidos do delegado Protógenes Queiroz. Ele havia dito o contrário. 

Vez da caça
Os advogados de José Dirceu entraram com petição na 7ª Vara Criminal de SP pedindo vista do inquérito sobre o vazamento de informações da Operação Satiagraha. Querem acesso ao material levantado por Protógenes sobre o ex-ministro para processar o delegado da PF. 

Visita à Folha
José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Mirian Guaraciaba, assessora.

Tiroteio
"O Senado voltou ao tempo da brilhantina, com Sarney, Renan e Collor. Estamos vivendo uma típica novela de época." 
Do senador 
RENATO CASAGRANDE (PSB-ES), sobre a troca de comando na Casa, que contrapôs PMDB e PT.

Contraponto

Pegadinha

Tocou o celular de Arlindo Chinaglia. Agora desprovido da assessoria que o acompanhava na presidência da Câmara, o próprio deputado atendeu. Do outro lado da linha, um homem que se apresentou como "vereador em Marília" convidou-o para uma visita à cidade.
-O senhor sabe, 2010 está aí...
Chinaglia, um dos interessados na vaga de candidato do PT ao governo de São Paulo, passou a combinar detalhes de agenda pré-eleitoral com o interlocutor até que, depois da terceira ou quarta pergunta, emendou:
-Desculpe, mas como é mesmo o seu nome?
Rindo muito, 
o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, se identificou. E ouviu o diabo do correligionário.

GOSTOSA


CHUPANDO O PIRULITO

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MERVAL PEREIRA

Feitiço contra feiticeiro


O Globo - 10/03/2009
 

São assustadores, para quem se preocupa com a democracia, os documentos revelados pela revista "Veja" sobre o inquérito da corregedoria da Polícia Federal que investiga supostos desvios de conduta e abuso de poder do delegado Protógenes Queiroz no comando da primeira parte da Operação Satiagraha. O caráter megalômano desse delegado, que já ficara revelado em suas declarações públicas e em seu blog, ao que tudo indica fez com que extrapolasse seu mandato legal, montando uma investigação paralela sobre os mais diversos temas e personagens, nem mesmo a vida pessoal da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teria ficado a salvo da sanha desse delegado-justiceiro, que já se considera "uma lenda", a levar-se em conta o título de uma autobiografia que estaria escrevendo. 

Tão assustador quanto as revelações que possa ter levantado contra o banqueiro Daniel Dantas, a quem chama de bandido, é saber que um delegado montou, com a cumplicidade da direção da Abin, um grande esquema de investigação paralela na suposição de estar fazendo um ato patriótico. 

Quando Samuel Johnson, um dos principais intelectuais do século XVIII, decretou que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas, estava justamente tratando de situações em que, a pretexto de salvar a pátria, cometem-se crimes e tenta-se tirar proveito próprio. 

O delegado Protógenes Queiroz se intitula "representante do povo" e acredita "que a vitória está com as pessoas de bem que lutam por um país melhor". 

No inquérito, ele dizia que, "a fim de evitar o mal maior", estaria de prontidão para agir contra (...) "corsários saqueadores das riquezas do nosso país", e se jactava de que a "organização criminosa de Daniel Dantas" teme apenas a Polícia Federal, ou melhor, "a execução dos trabalhos pelo autor da presente". 

Depois, afastado do inquérito pelo temor de que tivesse usado a Polícia Federal para atos ilegais, até mesmo a escuta clandestina do gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, passou a viajar pelo país a palestrar e anunciou em seu blog que sofrera um atentado quando dirigia seu automóvel no Jardim Botânico, no Rio. 

Esse "atentado" nunca foi devidamente esclarecido, e o justiceiro continuou sua saga, num linguajar tão messiânico quanto ininteligível, pelo raciocínio tortuoso e pela concordância verbal precária. A forma, no entanto, não seria problema se não pecasse pelo conteúdo. 

Já entraram para o folclore os erros cometidos pelo delegado em seu inquérito, o mais exemplar deles o de afirmar que o doleiro Naji Nahas tinha informações privilegiadas do FED, o Banco Central americano, sobre a cotação dos juros americanos. 

Seu inquérito contra o que chama de "organização criminosa" do banqueiro Daniel Dantas teve que ser todo refeito por uma força-tarefa da Polícia Federal para tentar montar um caso sólido, que resista às brechas da lei, em cima dos documentos apreendidos na operação inspirada em Gandhi. 

Os documentos sobre a investigação interna da Polícia Federal só se tornaram de conhecimento público pela reportagem da revista "Veja", pois os deputados que fazem parte da CPI dos Grampos, que os receberam da Polícia Federal na semana passada, não se dariam ao trabalho sequer de analisá-los, pois o prazo regimental da comissão havia se encerrado. 

O relatório oficial, do petista Nelson Pellegrino, não chega a nenhuma conclusão, e seria contestado por um relatório alternativo. Mas a existência desses documentos muda o rumo da investigação da comissão, que deverá ser prorrogada para que todos os dados sejam apurados devidamente. 

Também a Polícia Federal promete divulgar em breve o resultado de seu inquérito. O delegado Protógenes nega a existência de tais documentos, que teriam sido recolhidos por seus companheiros da Polícia Federal em seus apartamentos. 

Esse desmentido, feito de maneira ambígua, já que ele apenas declara o que se sabe, isto é, que não espionou ministros e autoridades citados pela "Veja" como vítimas de seu esquema paralelo e não eram objeto da Operação Satiagraha, é facilmente verificável. 

Basta que a Polícia Federal, ou a CPI dos Grampos, diga que tudo o que a revista divulgou é uma completa fantasia. Mas o próprio Protógenes, em seu blog, e depois seu advogado, em entrevistas, não parecem tão seguros sobre os dados serem mentirosos, pois reclamam do vazamento do inquérito. Com seu linguajar próprio, sempre ressaltando que o país está em perigo, Protógenes protesta: 

"Outro fato importante e criminoso é a divulgação [...] de documento sigiloso de uma investigação presidida pelo delegado Amaro Vieira Ferreira [...], além de levar ao conhecimento público do documento, revela a identidade nominal de dois oficiais de inteligência da Abin, o que é gravíssimo, não merece ser desprezado tal fato, pois a banalização fragiliza as instituições no tocante a segurança externa do Brasil." 

O fato é que a atuação espetaculosa da Polícia Federal "republicana", uma entidade de propaganda política inventada pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, tornou-se um feitiço contra o feiticeiro. 

Os setores governistas que alimentaram essa lenda urbana, com o objetivo de reforçar a impressão de que no governo popular do PT os ricos também choram, agora estão sendo alvo das escutas clandestinas e da disputa de poder. 

Além do mais, a produção ilegal de provas pode novamente favorecer mais os acusados. A grande maioria das pessoas algemadas sob os holofotes espetacularmente nas diversas operações dos últimos anos foi solta, e não há notícia das consequências de todas essas acusações. O resultado é que cresce a sensação de impunidade.

ILIMAR FRANCO

O "spread" da Caixa

Panorama Político 
O Globo - 10/03/2009
 

Governadores e ministros reunidos ontem para debater o novo programa de habitação foram duros na crítica à Caixa Econômica. Ficaram escandalizados com o impacto do seguro de vida no valor do imóvel. A parcela do seguro na prestação de um cidadão com 50 anos é de 37,5%. "É escorchante", disse um dos presentes. Apenas 2% dos mutuários morrem antes de pagar o financiamento. 

BB quer comprar o Banrisul 

Quando o governo Lula chegar ao seu final, em 2010, é possível que nenhum banco público estadual sobreviva. O Banco do Brasil já adquiriu o Besc (Santa Catarina), o BEP (Piauí) e a Nossa Caixa (São Paulo). Agora está negociando o preço da compra do BRB (Brasília) e realizando auditoria para definir o valor do Banestes (Espírito Santo). Os próximos alvos do BB são o Banpará (Pará) e o Banese (Sergipe). O caso do Banrisul (Rio Grande do Sul) é o mais complicado, pois será preciso mudar a Constituição estadual. Mas no BB se avalia que a compra da Nossa Caixa abriu uma janela ideológica para viabilizar o negócio. 

O PMDB está nadando de braçada na sucessão presidencial" - Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional 

Vento a favor 

A direção nacional do PCdoB passou o fim de semana reunida. Fez a primeira avaliação de suas perspectivas eleitorais para 2010. Os comunistas fixaram como meta eleger uma bancada de 30 deputados federais. Em 2006 foram 13. 

Eles não pegam onda no mesmo mar 

O ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) previu ontem, em seu ex-blog, que "o impacto social do desemprego é progressivo e será sentido no segundo semestre". Já os tucanos têm uma visão ufanista do tema. A página do PSDB na internet garante que "os governadores eleitos pelo PSDB vão gerar um milhão de novos empregos em 2009". Os tucanos citam ainda as medidas de geração de empregos adotadas em Minas Gerais e São Paulo. 

Emenda pelo direito de votar 

Os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), recebem hoje um abaixo-assinado com 22 mil assinaturas pela aprovação de emenda constitucional que permite aos brasileiros residentes no exterior votar para deputado. Hoje, eles só votam para presidente. A emenda é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Há 2,6 milhões de brasileiros com direito a voto que moram no exterior. Em 2006, 41,3 mil votaram para presidente. 

O PRESIDENTE Lula vai apresentar a ministra Dilma Rousseff aos EUA. Na quinta-feira, participam de seminário no "Wall Street Journal" e, na sexta-feira, de reunião com CEOs de grandes empresas. 

O BALÃO do pré-sal murchou. Avaliação corrente é que houve precipitação do governo. Com o preço do barril em baixa, a regulação está engavetada. 

RECÉM-ELEITO presidente da Comissão de Infraestrutura, o senador Fernando Collor (PTB-AL) que implementar sabatinas de verdade para os indicados para agências reguladoras.

PT: QUEM TE VIU, QUEM...


ELIANE CANTANHÊDE

Tensão pré-sal e pré-Obama

Folha de São Paulo - 10/03/09

BRASÍLIA - Se Obama vier com esse papinho de multiplicar as compras de petróleo brasileiro para reduzir a dependência venezuelana, Lula já tem uma resposta pronta: Negativo. Ou, como Celso Amorim diz, não em "diplomatês", mas em bom e claro português: "Querem comprar mais? Então comprem mais etanol. E sem sobretaxa!".
Essa reação, meio extemporânea, foi por causa de uma reportagem do jornal espanhol "El Pais", com o título "Obama quer o petróleo de Lula". E para quê? Para diminuir a dependência que os EUA têm do petróleo da Venezuela, sem falar de outros países nada amistosos. Até onde se saiba, o tema petróleo não está previsto no encontro Obama-Lula, no sábado. Aliás, nem foi colocado na reunião preparatória entre Amorim e a secretária de Estado, Hillary Clinton. Ao contrário, a intenção é aprofundar as conversas que vão de vento em popa desde o governo Bush sobre cooperação em biocombustíveis.
O governo brasileiro acha que o tema é chique e pega bem. Já falar em aumentar a venda de petróleo brasileiro para os EUA tem uma série de inconvenientes, e a reportagem do "El País" trouxe esse novo e explosivo, da redução da dependência norte-americana do petróleo da Venezuela e de Hugo Chávez. O Brasil correu a desmentir, por vários motivos.
Três deles: 1) a Venezuela é aliada preferencial e já está bastante atingida pela queda da demanda e do preço do petróleo no mercado internacional;
2) Lula vai a Obama como presidente do Brasil e como enviado informal da América do Sul para abrir portas, não para fechar;
3) apesar de as vendas de petróleo já estarem naturalmente aumentando, não é realista falar em aumentar mais nesta fase pré-pré-sal. O etanol é um vistoso e simpático pássaro na mão; o petróleo do pré-sal é um caro, incerto e não sabido pássaro voando. Entre ele e a Venezuela, Venezuela, claro!

CLÓVIS ROSSI

Déficit de civilização

Folha de São Paulo - 10/03/09

LONDRES - Desço em Heathrow, o principal aeroporto britânico, e logo estou no trem que, em apenas 15 minutos, vai me deixar na estação de Paddington, praticamente no centro de Londres. Parece o cúmulo de civilização: o meio de transporte mais civilizado, apenas 15 minutos para fazer um percurso que em São Paulo só Deus sabe quando tempo tomaria, nada de aperto.
O banho de civilização dura apenas o tempo de começar, na telinha do trem, o noticiário da BBC. Primeira notícia: o atentado que matou dois soldados britânicos estacionados na Irlanda do Norte, as primeiras mortes em 12 anos, desde que a maior parte do IRA (Exército Republicano Irlandês) depôs as armas.
Mas um tal de Real IRA continua matando gratuita e estupidamente. Menos mal que o Sinn Fein, que foi o braço político do IRA nos tempos dos "problemas", como se aludia elipticamente ao conflito na Irlanda do Norte, condenou sem hesitações o atentado, ao contrário de certas esquerdas tupiniquins que continuam achando que as Farc são uma força revolucionária, e não assassinos.
Qualquer pessoa dotada de um cérebro ativo sabe que não será matando que se vai conseguir a abolição da monarquia na Irlanda, a introdução da república e a fusão com a outra Irlanda.
Segunda notícia: o ditador Omar Bashir, do Sudão, aparece desafiante em Darfur, fazendo um comício dias depois de ter sido pedida a sua prisão pelo Tribunal Penal Internacional de Haia. Bashir é um bárbaro, como todos os ditadores, Darfur parece fora do mundo civilizado -e o mundo civilizado não se incomoda. Antes de chegar a Paddington, já estava achando que os grampos do delegado Protógenes Queiroz, contados pela revista "Veja", eram o menos letal dos casos de déficit de civilização.

DORA KRAMER

Penitência de impenitentes

O Estado de São Paulo - 10/03/09

A ideia de retomada da CPI dos Grampos na Câmara Federal e a súbita disposição do presidente do Senado de esclarecer denúncias feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos são movimentos semelhantes. Primos legítimos do afastamento do ex-diretor do Senado Agaciel Maia, da retirada de Edmar Moreira da corregedoria da Câmara, da promessa de divulgação das notas fiscais referentes aos gastos da verba indenizatória.

Reações tardias a decisões equivocadas, frutos de práticas viciadas que, uma vez desmoralizadas pelos fatos, levam a recuos táticos. Servem para confundir a opinião pública durante algum tempo, disfarçam, mas não corrigem os pecados originais. No caso da CPI, o de jamais pretender realmente apurar responsabilidades.

Mesmo de posse do material apreendido pela Polícia Federal no computador do delegado Protógenes Queiroz, apontando a existência de um esquema paralelo de espionagem de autoridades durante a Operação Satiagraha, a CPI havia decidido encerrar os trabalhos com um relatório anódino e um voto em separado do presidente pedindo punições por falsos testemunhos.

Protégenes, Paulo Lacerda e Milton Campana, ex-diretores da Abin, cometeram perjúrio na avaliação do deputado e ex-delegado da PF Marcelo Itagiba, mas, ainda assim, o relator Nelson Pelegrino – com a anuência dos colegas – relatou ter chegado a lugar algum.

Por meses a fio a CPI apenas simulou investigar. Não usou de suas prerrogativas para levantar novas informações, não cruzou dados, não confrontou as falsidades ditas em depoimentos e deliberadamente deixou de lado documentação que, no mínimo, indicaria que a grita contra a “grampolândia” que assolava a capital federal não fora produto de alucinação nem de má-fé.

Ao vencerem os prazos, simplesmente preparava a retirada nos moldes já conhecidos: fingindo ter cumprido o dever, mas sem criar nenhum dano ou desconforto, em clima de acordo. Mais ou menos o que aconteceu à época da CPI dos Cartões Corporativos. Governo e oposição preparavam a cerimônia de enterro da comissão quando surgiu a história do dossiê FHC. A comissão ganhou sobrevida, por um breve momento pareceu que havia mesmo disposição de tirar as coisas a limpo, mas tudo terminou como se nunca tivesse começado.

Agaciel Maia teria sido mantido no cargo caso prevalecesse a vontade do presidente do Senado, José Sarney. Foi afastado, mas saiu homenageado, carregado em triunfo.Edmar Moreira, não se duvide, ficaria posto em sossego na corregedoria não fosse a pressão da opinião pública. Ainda assim, voltou normalmente ao convívio dos seus sem risco aparente de punição.

O sigilo da verba extra começou o ano sendo defendido pela maioria dos parlamentares, inclusive os presidentes da Câmara e do Senado. Evoluiu para divulgação parcial mediante cobrança intensa e, daí, para a promessa de liberação total das informações a partir de abril.

Nesse meio tempo já aparece a proposta de incorporação da verba aos salários, numa óbvia tentativa de anular aquela concessão à transparência. Havendo a incorporação, não há mais como cobrar prestação de contas dos gastos.

No caso da célere reação de José Sarney pedindo à Polícia Federal que investigue quem está espionando a vida do senador Jarbas Vasconcelos, o pecado original foi a indiferença à denúncia de que boa parte do PMDB usa o partido para fazer negócios escusos.

A opção pelo silêncio revelou-se contraproducente para os negócios do PMDB. Fatos seguintes dispensaram o senador pernambucano da apresentação de provas, nomes e recibos. A ofensiva sobre o fundo de pensão dos funcionários de Furnas e a negociação das vagas de outros partidos em comissões permanentes para pagar a eleição de Sarney à presidência do Senado preencheram a lacuna.

Com o prestígio de Jarbas Vasconcelos em alta na proporção inversa da perda de força do PMDB como parceiro cobiçado, o desdém só renderia mais prejuízos. Mudou-se a estratégia antes do prometido discurso de Jarbas para hoje, relatando – aí já com a apresentação de nomes – como descobriu que sua vida estava sendo vasculhada em busca de um escândalo que sustentasse a operação vingança por meio de dossiês.

Algo já tentado pelos notórios aloprados em 2006, repetido na Casa Civil quando da CPI dos Cartões, em 2008, e posto em marcha outra vez, da mesma forma matreira.Qual seja a de proclamar o óbvio com veemência e sem o menor compromisso com resultados.

Sarney considerou “gravíssimas” as denúncias de espionagem, pediu investigação “profunda” à PF, que, além de não atuar sob orientação da presidência do Senado, não tem conseguido dar uma só resposta consistente aos vários inquéritos de conclusões até hoje em aberto. Nada autoriza expectativa diferente a respeito da ação contra Jarbas Vasconcelos, cuja única finalidade crível agora é a de propiciar uma conveniente mudança de escândalo.

OS MALUCOS


TERÇA NOS JORNAIS

Globo: Justiça bloqueia os bens de grupo que representa MST

 

Estadão: Sem-terra fazem invasões e depredações em 8 Estados

 

JB: Pacote para os mais pobres

 

Correio: Polícia caça concurseiros a serviço de criminosos

 

Valor: Crise global dá impulso a títulos do agronegócio

 

Gazeta Mercantil: Merck paga US$ 41 bi pela Schering-Plough

 

 Estado de Minas: Marajá tem até 'ilha da fantasia'

 

Jornal do Commercio: Prefeitura já admite negociar com camelôs

 

Leia os destaques de capa de alguns dos principais jornais do país.