sexta-feira, julho 31, 2009

CLÓVIS ROSSI

Os búzios estão de volta
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/07/09

SÃO PAULO - Paulo Skaf, o presidente da Fiesp, acha "precipitado" decretar o fim da crise. Não tenho a mais remota ideia se é ou não. Mas tenho a mais absoluta certeza, aliás uma das minhas raríssimas certezas, de que é precipitado, insano mesmo, acreditar em previsões sobre a economia.
Os exemplos de fracassos dos adivinhos são incontáveis. O mais recente deles é o caso Vale. Os analistas, informa a
Folha, previam um lucro, no segundo trimestre, de entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões. Deu R$ 1,466 bilhão.
Não é um errinho trivial, certo? Não é que os analistas imaginassem R$ 1,6 bilhão e tenha dado R$ 1,4 bilhão. É um erro colossal. Deu um terço do previsto pelos analistas, pouco mais, pouco menos.
Só se surpreende com o erro quem quer. A rainha da Inglaterra, por exemplo, surpreendeu-se com a eclosão da crise e, durante visita à mitológica London School of Economics, perguntou como era possível que viesse tamanho tsunami sem que ninguém avisasse.
Pois bem, agora Tim Besley, professor da LSE, mandou carta à rainha tentando explicar o inexplicável. Diz, entre outras coisas, que "otimismo excessivo misturado à arrogância convenceram os gênios das finanças de que eles haviam criado uma maneira de diluir riscos no mercado financeiro". Acrescenta: "O fracasso foi não ver, de forma coletiva, como isso se somava a uma série de desequilíbrios sobre os quais nenhuma autoridade central tinha jurisdição".
Pois é, o fracasso subiu à cabeça de incontáveis economistas, analistas, consultores, o diabo, que continuam a jogar seus búzios sem parar (e os jornalistas a publicar os resultados sem avisar que erraram antes e podem estar errando de novo).
Eu fico com editorial do F"inancial Times" de segunda-feira: "Nenhuma teoria econômica pode produzir as façanhas que seus usuários habituaram-se a esperar dela".

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