quarta-feira, dezembro 24, 2008

FELIZ NATAL


UM NOEL PARA AS LEITORAS DO BLOG


UMA NOEL PARA OS LEITORES DO BLOG
A mamãe noel foi enviada por APOLO
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LUIZ WEIS

Conto-do-vigário na sucessão


O Estado de S. Paulo - 24/12/2008
 

 
A sucessão de 2010 começou cedo e começou mal. Cedo porque o horizonte de incerteza econômica levou o presidente Lula a pôr desde logo na avenida o bloco da candidatura Dilma Rousseff. Já não bastasse o fato de a ministra continuar desconhecida para quase a metade dos brasileiros, apesar da profusão de holofotes voltados para a sua figura, Lula não iria correr o risco de descortinar a sua campanha quando (ou se) o desemprego tiver se instalado nas manchetes - do primeiro trimestre de 2009 em diante, ao que se calcula.

Se não se instalar, sinal de que o temido contágio do colapso financeiro internacional se limitou a uma "gripe pequenininha", como prevê a ministra, tanto melhor para a operação Dilma-10: ela terá ganho tempo extra para corrigir os eventuais erros de implantação de um nome sem passagem prévia pelas urnas. O público, porém, tem mais com que se preocupar que com uma eleição a 22 meses de distância. E só lhe resta torcer para que a imersão do presidente na montagem do suporte político da candidata não embace sua concentração na crise.

Agora, a sucessão começou mal porque o PT armou um conto-do-vigário, querendo atar a eleição a uma cruzada contra o neoliberalismo. A deixa partiu do secretário nacional de Comunicação do PT, Gleber Naime, numa reunião de dirigentes partidários. "A crise tem pai e mãe", proclamou. "Ela é uma crise do modelo neoliberal, daqueles que no Brasil defenderam as idéias de desregulamentação do Estado, ou seja, o PSDB e o DEM. E esse debate o PT vai fazer. Os neoliberais perderam."

Seguiu-se, dias depois, a própria Dilma. "Nossa visão de Estado não é neoliberal. Somos governo com responsabilidade fiscal, mas também social", discursou ela para uma platéia de prefeitos petistas. "A diferença (em relação ao passado) é radical", emendou. É inconcebível que ela não saiba, antes de tudo, que o governo Fernando Henrique foi privatista, mas não neoliberal. Se fosse, o sistema financeiro nacional estaria tão desregulamentado como o dos EUA e, como este, em frangalhos.

Além disso, no atual governo, desde a hora zero, a ex-ministra de Minas e Energia não precisa que ninguém lhe ensine que Lula encampou a política econômica do antecessor, embora a desancasse como "herança maldita". Não só a encampou, mas soube tocá-la com uma competência que seus adversários, não fosse a baixaria da política, poderiam fazer a fineza de admitir, em nome da verdade. A mesma competência, por sinal, com que levou adiante o Bolsa-Família.

Este descende em linha direta dos vários programas de transferência de renda iniciados no segundo mandato de FHC, especialmente o Bolsa-Escola - cujos ancestrais, por sua vez, foram uma administração tucana (a do prefeito de Campinas já falecido José Roberto Magalhães Teixeira) e outra, petista (a do governador do Distrito Federal Cristovam Buarque).

O petismo fabrica uma diferença - "radical", ainda por cima - em relação ao PSDB para esconder as semelhanças recíprocas, para o bem e para o mal, que não tem como admitir de cara limpa. Até o primeiro caso documentado de mensalão é obra tucana (na campanha do atual senador Eduardo Azeredo ao governo de Minas em 1998).

Por último, falar em neoliberalismo no Brasil numa hora destas é de um anacronismo atroz. Qualquer que tenha sido seu apelo na década passada, hoje deve ter tantos adeptos quanto os da restauração da monarquia. E o provável adversário de Dilma, o ex-ministro e governador paulista José Serra, nunca deu nem sequer uma piscadela para a ideologia do absolutismo do mercado.

Está na cara a intenção de escamotear a inconveniente verdade da convergência de posições entre o PT - pelo menos o PT da Carta aos Brasileiros, de 2002 em diante - e o PSDB, no que toca aos problemas de fundo do País. O próprio Fernando Henrique, que também diz uma coisa para fora e outra para dentro, já deixou escapar que a disputa entre as duas legendas é puramente política.

Trata-se, pois, de uma disputa pelo poder, velha como as montanhas, entre confederações rivais de interesses cristalizados que compõem os respectivos partidos ou se exprimem por seu intermédio. Essa convergência básica não é uma jabuticaba - dá em qualquer democracia estável. Nelas, o tempo destila na sociedade e nos principais partidos um consenso sobre o núcleo essencial das políticas de Estado.

As divergências não se evaporam; ao contrário, tendem a se intensificar - mas na periferia das grandes questões em jogo. Nos EUA, por exemplo, o consenso em torno do New Deal de Roosevelt durou cinco décadas, dos anos 1930 até a contra-revolução conservadora inaugurada com a eleição de Ronald Reagan. Na Grã-Bretanha, o consenso em favor do Welfare State, a partir do primeiro governo trabalhista do pós-guerra, só se desfez com o advento do thatcherismo, em 1979.

Quando Dilma e Serra (ou, vá lá, Aécio Neves) enfim disserem a que vêm, ver-se-á que, removida a retórica, ambos estarão propondo, ao fim e ao cabo, o mesmo - desenvolvimento com justiça social, a ideologia brasileira por excelência desde a Revolução de 1930 (à parte as discordâncias posteriores sobre o papel do Estado como produtor de bens e provedor direto de serviços).

O resto - embora não seja pouco nem descartável - é questão de métodos. Métodos de construir maiorias parlamentares, métodos de ocupar e conduzir o Estado, métodos de conquistar popularidade, métodos de fazer política externa. Sem Lula a ofuscar as coisas com a sua exacerbada oralidade e seu inigualável carisma, isso ficará patente no próximo período de governo, com Dilma ou Serra.

Quantas vezes, enfim, será preciso repetir que, para os historiadores do futuro, a continuidade dará a marca do ciclo iniciado com a eleição de FHC e só terminará no dia ainda distante em que o Planalto não hospedar nem petistas nem tucanos? 

EU PESCADOR


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JOSÉ NÊUMANNE

Só quem trabalha pode pagar o almoço


O Estado de S. Paulo - 24/12/2008
 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encasquetou com a idéia fixa de que ele vai livrar o Brasil da crise se fizer o brasileiro consumir. Por isso, fingiu descer do palanque eleitoral para trocar o papel de eterno candidato pelo de garoto-propaganda do consumismo redentor. A idéia parte do pressuposto aparentemente simples, mas na verdade apenas simplista, de que, se o consumidor comprar, o comércio venderá, levando a indústria a produzir, a empresa a empregar e o trabalhador garantirá, destarte, sua renda para assegurar o próprio poder de compra. Usando uma parábola futebolística da preferência presidencial, é como se uma partida começasse aos 90 minutos e o cronômetro fosse rodando para trás até chegar ao zero - com o resultado predeterminado pelo árbitro. Caberia aos jogadores dos dois times cumprirem as determinações prévias de fazer os gols necessários para a derrota, a vitória ou o empate determinados pelo supremo juiz.

A torcida do Corinthians, contudo, sabe que não se joga o jogo assim, mas na ordem inversa das coisas: ele começa no primeiro minuto e acaba no último; o destino das equipes é determinado por suas atuações; e, embora o juiz possa influir no resultado, não é esperado nem lícito que o faça. Pois dessa forma é também a vida real da economia: o campeonato começa com a disposição de produzir da sociedade, continua com a sua capacidade de poupar e se completa com a necessidade de consumir. Embora corintiano roxo, o presidente parece não ter percebido que os desmandos do clube levaram o time à Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro. E foram o empenho e engenho dos jogadores, sob uma gestão adequada, que o levaram de volta à Primeira, não apenas a vontade suprema da diretoria nem o entusiasmo da torcida.

Sua Excelência Excelentíssima e seus áulicos poderão argumentar que a teimosa disposição dos japoneses para poupar não os salvou dos estilhaços da crise dos mercados financeiros internacionais. Japoneses são tão viciados em poupança quanto os brasileiros em gastança e tudo indica que estão sendo mais atingidos pelo tsunami de Wall Street que nós aqui nestes tristes trópicos. É fato também que os séculos de cultura e civilização vividos pelos europeus de nada lhes têm valido para livrá-los do pânico da recessão, que assombra o mundo. A antiga habilidade de produzir mais e melhor (inventando sistemas como a linha de montagem, por exemplo), que deu aos antigos colonos da Nova Inglaterra o domínio sobre o mundo, não impediu que a hecatombe fosse nutrida no seio de seu sistema financeiro. Mas isso não modifica leis fundamentais da sobrevivência humana que o apóstolo São Paulo resumiu numa frase genial, que o presidente Lula, mais que seus assessores, comunistas, et pour cause, ateus, deveria ter aprendido, após tantos anos de freqüência de missas: "Quem não trabalha não come."

Os economistas liberais da Escola de Chicago adaptaram a sentença curta, dura e sincera do primeiro teólogo cristão para "não há almoço grátis". E a bruta sentença paulina sobrevive nestes tempos bicudos de pós-capitalismo: não há produção sem consumo nem vice-versa. O trabalho precede a refeição e, em termos atuais, a paga. Pois a produção garante a remuneração, não cabendo nessa equação a velha dúvida entre a precedência do ovo sobre a galinha ou da galinha sobre o ovo. Talvez esta não seja a melhor hora para concentrar esforços na poupança, mas certamente comprar sem freios nada resolve, se não por qualquer outro motivo pelo menos pela óbvia razão de que só compra quem tem dinheiro no bolso e dinheiro, ao contrário do que Lula possa pensar, não é um papel pintado impresso na Casa da Moeda, mas um signo de troca resultante da capacidade de uma sociedade de produzir, poupar e consumir. Não se produzem riquezas só com vontade política e as complicadas malhas da economia real são impermeáveis às leis do marketing político, matéria na qual ele é mestre incontestável.

Lula é um gênio intuitivo fora do comum, muito acima da média, em matéria de comunicação política, por dominar como poucos a linguagem dos anseios populares de consumo e conforto: todos adoramos comer e comprar, mas quem gosta de trabalhar feito um mouro? Quando apela ao consumo, noçço líder atinge o que há de mais vulnerável no organismo humano: o estômago. Ele sabe o que faz: seu segredo de prestidigitador de massas é o cardápio do trabalhador, enriquecido de proteína pela oferta de emprego propiciada pela bonança internacional (que está, aliás, na raiz da crise, mas quem se importa com isso?) e pela mudança completa de seus hábitos de vida. O observador desapaixonado que for à periferia de qualquer cidade de qualquer região brasileira perceberá a olho nu essa conquista. O morador dessas "comunidades" de baixa classe atribui, com orgulho, o fato de poder possuir um televisor e trocar a geladeira - sem falar na rede elétrica que lhe chega, sem sequer a obrigação de pagar, graças aos "gatos" tolerados -, ao fato de ter, afinal, alguém de sua grei na gerência dos negócios republicanos. Daí, o prestígio do presidente subir sem parar feito um foguete sem rota de retorno.

Neste momento, os índices de desemprego não são assustadores, quem está desempregado come sua cota de Bolsa-Família e a alta burguesia financeira não se sente abalada pelo sismo de Wall Street. Enquanto essa satisfação generalizada perdurar, ninguém trará o foguete Lula de volta ao solo. Só que perdurar não é sinônimo de se perpetuar e não há dor perene nem glória perpétua. O castelo só não ruirá se a crise não cruzar seus muros e a arma para evitar isso é o trabalho árduo, tema inglório em comícios, e não o consumismo desenfreado, fácil de propor, mas difícil de cumprir sem a premissa da poupança e da produtividade. 

O IDIOTA


INFORME JB

PAC da Copa sai em abril de 2009


Jornal do Brasil - 24/12/2008
 

O ministro do Esporte, Orlando Silva, anunciou ontem: sai em abril o PAC da Copa de 2014. A principal notícia, acrescentou o ministro, e de acordo com o presidente Lula, é que o governo federal não vai dar dinheiro para os estados construírem estádios, mesmo com a crise às portas. No mês de março, a Fifa dirá o nome das 10 cidades-sede para o evento. A partir daí, o ministério prioriza, no mesmo PAC, a mobilidade de tráfego e transporte – num trabalho conjunto com o Ministério das Cidades, além de estradas, portos e aeroportos. Orlando terá em mãos um mapeamento de infra-estrutura com as cidades mais preparadas para investimentos – só que caberá à Fifa decidir quais são, e o governo terá de adaptar seus projetos aos interesses da federação.

Rio 2016

Segunda-feira, o ministro Orlando Silva encontrou-se com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Nawaf Bin Faisal, e ouviu do sheik: "Sou um voluntário para a campanha do Rio pela Olimpíada".

Aposta

O prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), e o senador Ignácio Arruda (PCdoB-CE) reuniram-se com Orlando Silva, também comunista, ontem à tarde. Mas não falaram de esporte.

Lula lá, de novo

O presidente Lula prepara nova agenda de viagens para a África ano que vem. Quer conhecer agora mais oito países, entre eles Quênia e Etiópia.

Praia do mosquito

A paradisíaca (por enquanto) Búzios sofre com o descaso político. A cidade, um dos mais belos balneários do país, está infestada de mosquitos da dengue. Isso, só percebem os que chegam lá depois de horas atravessando estradas ruins.

Quem é quem

Manda em Búzios hoje o prefeito Toninho Branco, ou Octávio Raja Gabaglia – ou ambos juntos.

Cortando asas

A Agência Nacional de Aviação Civil adiou mais uma vez, a pedidos, a audiência pública que faria dia 30, no Rio, para debater a ampliação de operações do Aeroporto Santos Dumont, além do processo de concessões de terminais no país.

Batendo asas

O fato é que tem muita gente graúda já fugindo dessa briga entre Gol e TAM contra a Azul.

Sarkozy em Angra

O casal Nicolas Sarkozy e Carla Bruni alugou uma ilha de conhecido milionário, em Angra dos Reis, famosa por seu belo litoral no Sul do Rio. A dupla pretende passar ali o Réveillon, cercada de seletos amigos, além do pai de Carla. Isso, se resolverem deixar o também belo litoral baiano.

Ano novo

O Senado deverá ter, a partir do ano que vem, um novo regimento interno. O objetivo é tornar a Casa mais eficiente, explica o senador Marco Maciel. Ele preside a comissão temporária criada especificamente para isso.

Coitado do Mão Santa

Para desespero do senador Mão Santa, que adora falar, a comissão já estuda limitar os discursos e as sessões solenes, em busca de mais celeridade no processo legislativo. Estuda-se também, segundo Maciel, dar mais poder de decisão às comissões em certos projetos, que não seriam levados a plenário.

Balanço da AGU

A AGU informou à coluna que realmente economizou para o país R$ 640 milhões, mas foi "ao barrar ações contra a União no STF". Levando em conta o balanção de 2008, em outras frentes de trabalho, a economia para o governo alcança R$ 55,4 bilhões.

SÔNIA RACY - DIRETO DA FONTE

Mais dinheiro por 30 dias


O Estado de S. Paulo - 24/12/2008
 

São Paulo teve peso na aprovação no comitê gestor do Simples Nacional em relação à prorrogação, para o dia 13 de fevereiro, do recolhimento de tributos por parte das empresas que aderiram ao regime especial de arrecadação. Segundo se apurou, a iniciativa foi encabeçada por São Paulo e Maranhão, representantes dos 27 Estados no comitê gestor do Simples.

Para Mauro Ricardo Costa, secretário da Fazenda do Estado, esta medida é de grande alento para as empresas como um todo e a paulista em particular. “No caso de São Paulo, serão R$ 170 milhões”, soma. No País? “A conta chega a R$ 2 bilhões”, afirma. 

O que mudou? As empresas ganharam uma folga de 30 dias para usar os recursos como capital de giro.

Caminho das pedras 

Sérgio Cabral deve trilhar os passos de José Serra e Aécio Neves.

Estuda diminuir impostos para a indústria local.

Matemática 

Contabilidade fresca do setor: a produção siderúrgica, no fim de ano, caiu 50%.

O consumo interno, 70%

Matemática 2

Contabilidade da Vale: em seus canteiros de obra, trabalham 41.681 mil pessoas. Na empresa, 46 mil. De Roger Agnelli: “O País precisa de investimentos para continuar gerando empregos.”

Alô presidente

Vai sair salgada a próxima conta telefônica de Garibaldi Alves Filho.

O presidente do Senado e candidato à reeleição contou que vai passar as férias grudado no celular. “Vou fazer campanha pelo telefone, porque cada senador irá para o seu Estado, e eu não tenho jatinho para ir atrás deles”. 

Resposta light

Tem gente no governo que nem disfarça mais. O deputado Raul Jungmann enviou requerimento de informações a Petrobras. 

Queria saber qual era o cronograma financeiro de desembolso na construção da refinaria Abreu Lima, em parceria com a PDVSA. Advinhem qual foi a resposta?

Um espaço em branco. A Petrobras sequer tentou encher lingüiça.

TUTTY VASQUEZ

A matemática do caos


O Estado de S. Paulo - 24/12/2008
 

É dura a vida das autoridades responsáveis pela ordem urbana em dia de enchente em São Paulo. Enquanto o povo espera socorro no bem-bom do teto dos ônibus, centenas de peritos em emergência calculam o tamanho do problema. São contas intermináveis. Nesta última vez que o fim do mundo veio passar o fim de tarde na cidade, eles somaram 45 pontos de alagamentos - 37 deles intransitáveis -, 174 quilômetros de congestionamentos, 10 bairros sem energia, 64,8 milímetros de chuva, 31 vôos atrasados, 9 cancelados, 15 árvores caídas, 562 áreas de risco, 5.500 famílias à beira do desabrigo.

Os caras têm tudo na ponta da língua. Quer ver só? Que tanto da previsão de chuva para o mês caiu em duas horas na segunda-feira? Um terço do esperado para dezembro desabou entre 14h e 16h. Some-se a isso o movimento diário de 74 mil pessoas na rodoviária, mais 1,5 milhão de turistas descendo para o litoral e, antes que se possa chegar a um resultado, as águas já baixaram e a cidade parece pronta pra outra.

PRIMEIRA-BARBIE

Na saída do morro do Pavão-Pavãozinho, no Rio, Carla Bruni deixou para trás uma choradeira danada na comunidade. As crianças da favela queriam levá-la pra casa para brincar de boneca com a primeira-dama. Acharam, decerto, que era presente de Papai Noel.

Ausência sentida

Com a repercussão na imprensa francesa da viagem de Nicolas Sarkozy ao Brasil, tem muita gente em Paris achando que Camila Pitanga é a primeira-dama do Lula. Dona Marisa Letícia não devia dar esse mole ao marido!

Fim do caminho

As chuvas no Rio têm poupado a capital de grandes temporais. Em compensação, a maré vermelha que chegou à orla carioca deixa o mar com cor de água de enchente. Com a vantagem de que só se molha quem quiser.

PANORAMA POLÍTICO

Agenda anticrise


O Globo - 24/12/2008
 

O presidente Lula não pretende limitar sua ação, no próximo ano, ao gerenciamento da crise. No final de janeiro, anuncia a política para a exploração do petróleo do pré-sal, quando acredita que se abrirão as portas para novos investimentos no país. Sua estratégia prevê manter a aposta no otimismo. Lula vai percorrer o país visitando as obras do PAC e inaugurando uma centena de escolas técnicas. 

Vai ser um ano de inaugurações" - Franklin Martins, ministro de Comunicação de Governo, falando sobre a estratégia do presidente Lula para o próximo ano 

O embate no PT pela liderança 

Candidato a liderar a bancada do PT na Câmara, Cândido Vacarezza (SP) diz que não vai para a disputa no voto, mas seu adversário, Paulo Teixeira (SP), diz que a questão será resolvida no voto. Vacarezza fala em "construir a unidade" e Teixeira em "dar protagonismo" à bancada na formulação da agenda política nacional. Nenhum deles pertence à maior corrente do partido, a Construindo Um Novo Brasil. Vacarezza é da tendência Novos Rumos; Teixeira é da Mensagem. Vacarezza diz: "Não vou brigar para ser líder, quero somar". Teixeira afirma: "Posso analisar uma proposta de acordo, mas vou manter minha candidatura". 

EMBANANADOS. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e o líder Arthur Virgílio (AM) se reuniram anteontem com os candidatos à presidência do Senado: Garibaldi Alves (PMDB-RN) e Tião Viana (PT-AC). Tasso Jereissati (PSDB-CE) ficou com a tarefa de conversar com o senador José Sarney (PMDB-AP). Os tucanos pretendem tomar uma decisão de bancada em 15 de janeiro. "Nossa preocupação é com a independência", diz Arthur. 

Reflorestamento 

Para estimular a reposição florestal, o senador Gilberto Goellner (DEM-MS) quer que os proprietários de terras recebam isenção de taxas e do Imposto sobre Propriedade Territorial Rural, além de deduções no Imposto de Renda.

Desabafo 

Falando sobre as dificuldades que o PAC enfrentou na sua implantação, o presidente Lula comentou na coordenação de governo: "Se no tempo do Juscelino existisse TCU, Ibama, Funai e Ministério Público, não tinha construído Brasília". 

Câmara: podar o mandato dos senadores 

A rivalidade entre a Câmara e o Senado vai muito além da PEC dos Vereadores. Os deputados estão trabalhando num projeto de lei para reduzir os mandatos dos senadores de oito para cinco anos. Eles debatem também uma fórmula para acabar com os suplentes ao Senado. Uma das alternativas em análise prevê que o deputado mais votado ocupe vaga no Senado quando o titular se licenciar ou renunciar ao mandato. 

Eles vão esperar: nem Jucá nem Padilha 

Agora é sério. Está na página do PMDB na internet. O presidente do PMDB, Michel Temer, num encontro com representantes do PMDB Mulher, oficializou sua intenção de se licenciar do cargo caso seja eleito, em fevereiro, para a presidência da Câmara. O partido não vai antecipar a sua convenção nacional. Temer, cujo mandato acaba de ser prorrogado, afirmou que a deputada Iris Araújo (GO), primeira vice, vai assumir interinamente a presidência do partido. 
O PREFEITO eleito do Rio, Eduardo Paes, pediu ontem ao prefeito Cesar Maia que não demita nenhum diretor financeiro da administração indireta. 

O ACORDO militar com a França resolveu pendenga no comando da Marinha. O país vai investir no submarino nuclear, mas também adquirir quatro submarinos convencionais. 

O PRESIDENTE do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), recebeu novo parecer que defende o seu direito a concorrer a reeleição na mesma Legislatura.

DORA KRAMER

A prova do retrovisor


O Estado de S. Paulo - 24/12/2008
 

Nessa mesma época, um ano atrás, o Senado acabara de derrubar a renovação da CPMF e, junto com ela, o governo anunciava também o fim do mundo. O presidente Luiz Inácio da Silva acusava a oposição de inviabilizar sua administração com a retirada dos R$ 40 bilhões de arrecadação anual do imposto do cheque.

O cenário para 2008, no entanto, era de abundância absoluta: situação internacional confortável, inflação controlada, crescimento das despesas públicas preocupante, mas, no geral, tudo estava muito bem arrumado para um período de gastança e exuberância eleitoral no pleito municipal, que funcionaria como uma espécie de plebiscito em favor do projeto de sucessão do presidente Lula.

Um ano depois, verifica-se o equívoco das previsões. Aquele que parecia o assunto mais fundamental do planeta, a queda da CPMF, saiu da agenda e sequer é levado em conta em qualquer análise de conjuntura.

A gastança pública prosperou, mas não teve relação direta com o resultado da eleição nem confirmou a expectativa de que o quadro seria favorável em qualquer hipótese. De pé, e mais forte do que nunca, só ficou mesmo a popularidade do presidente da República.

A crise internacional chegou no segundo semestre, ainda não mostrou se seus dentes são mesmo afiados, mas deu uma meia-trava no horizonte de País das maravilhas. Nesse meio tempo as urnas municipais levaram ao Palácio do Planalto a notícia de que a popularidade e o poder de fogo do presidente Lula não são suficientes para ganhar uma eleição.

Houve abalos de autoconfiança no governo e na oposição, o que obrigou uma revisão de planos. Constatação óbvia: a conjuntura é fluida, as previsões são irresistíveis, mas frágeis ante a força dos fatos. Quer dizer, implicam necessariamente uma enorme margem de erro. 

Donde a total impossibilidade de se satisfazer, desde já, a curiosidade nacional a respeito do que acontecerá em 2010. Mais não fosse, porque ainda falta acontecer 2009.

Segundo as pesquisas, os governadores José Serra e Aécio Neves ganham a eleição presidencial de qualquer candidato que não seja Lula. Isso significa que o PSDB está com os dois pés dentro do Palácio do Planalto?

Nem com os dois, nem com um, mas pode ficar no ora veja depositado nos quatro se repetir as bobagens de 2002, 2006 e 2008, aqui com bom resultado final, mas uma preliminar desastrosa.

Um dado novo da agenda de 2009 pode mudar tudo também: o início da tramitação da emenda que acaba com a reeleição e institui cinco anos de mandato para presidentes, governadores e prefeitos.

O governo faz de conta que não patrocina a proposta e apresenta como álibi uma sugestão de reforma política, cujo único ponto de consenso é a abertura de uma "janela" para o troca-troca de partidos.

O essencial é que o fim da reeleição ensejará a volta do debate sobre o terceiro mandato, ou até a prorrogação de um ano, para Lula. Uma proposta quase impossível de passar, mesmo com a popularidade do presidente nos píncaros.

Por muito menos o governo perdeu batalhas nas urnas e no Congresso. Portanto, as obras estão em aberto à disposição das querências dos personagens envolvidos, mas na dependência das "poderências" determinadas pelas circunstâncias.

De sólido em matéria de previsões, o ativismo do Judiciário foi a exceção confirmadora da regra. 

Flor do recesso

Governos quando não sabem direito como lidar com um assunto de forma objetiva, mas precisam dar a impressão de providências, criam um grupo de trabalho ou fazem uma reunião.

É nesse quadro que se insere a idéia do Palácio do Planalto de convocar os governadores para um grande encontro em janeiro para de discutir medidas conjuntas de combate à crise.

A chance de entendimento entre governadores e presidente na distribuição de perdas e ganhos é a mesma do acordo em torno da reforma tributária, tal a diversidade de interesses em jogo.

A menos que, nesse caso, o presidente Luiz Inácio da Silva esteja disposto a desagradar, no papel de árbitro. 

Poder dos partidos

O deputado Miro Teixeira apresentou uma série de consultas ao Tribunal Superior Eleitoral - a serem examinadas após o recesso -, cuja origem é a declaração de posse dos mandatos eletivos pelos partidos, não pelos candidatos, e o objetivo (grosso modo) é tentar desmontar a premissa de que os partidos podem tudo.

O assunto merece detalhamento mais bem explicado, mas por ora Miro resume o espírito da coisa na seguinte frase: "No Brasil nós fingimos ter uma democracia organizada por partidos, mas os partidos não se regem por práticas democráticas".

Até 2009

Que a virada do ano consiga virar suas excelências de frente para a sociedade.

EU NOEL

ABRINDO O PRESENTE 

NAS ENTRELINHAS

Imposturas de Lula e Dilma


Correio Braziliense - 24/12/2008
 

Na crise, a cúpula do governo se rende à infinita paixão que nutre por si mesma e transfere à população responsabilidades e culpas que lhe pertencem


O presidente da República tem, mui patrioticamente, repetido o bordão da gastança. Onde quer que vá, discursa com a narina inflamada do indignado, acusa meia dúzia de “torcer pela crise” e exorta a platéia a gastar dinheiro. “Se tem dívidas, pague. Mas se não tem, vá e faça suas compras”, é o brado do homem, nas paradas de caixeiro-viajante país afora. 

Ruim de palanque, mas boa de escritório, invariavelmente a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, aparece depois do chefe para preencher as lacunas da retórica. Diz ela que as pessoas pararam de gastar porque temem perder o emprego — devido à tal crise, é claro. Ora, raciocina a ex-guerrilheira, se ninguém compra, as lojas não vendem. Se as lojas não vendem, não fazem encomendas à indústria. Que por seu lado, não produz. No fim das contas, o operário vai mesmo ser mandado embora, assim como o comerciário e daí pra frente todos os demais. 

Há nas grandes linhas do comportamento da alta cúpula governamental uma ligeira impostura. E me explico. Ele transfere à chusma uma responsabilidade do comandante. Sim, pois, pelo que dizem nossos historiadores econômicos, o Brasil nunca, jamais, desde a industrialização, teve problemas quanto à propensão ao consumo por parte da população — variável decisiva de uma das equações que explicam o crescimento de um país. 

Por outro lado, desde a fundação da República até hoje, passamos por crises fiscais cíclicas (quem duvida pode se certificar lendo A ordem do progresso – Cem anos de política econômica republicana, organizado por Marcelo de Paiva Abreu, Editora Campus, 445 páginas). Em geral, elas são provocadas pela ganância dos políticos, gastadores irresponsáveis do dinheiro público, sugado a tragadas cada vez mais profundas pelo Estado perdulário e corrupto. 

Nos países em desenvolvimento, a despoupança do setor público gera um desequilíbrio tal que afeta os preços, a produção ou ambos. Ao chegar ao poder, em 2003, o presidente Lula encontrou o coquetel completo de inflação e baixo crescimento paridos do déficit público. 

Para resolvê-lo, não só adotou, mas aprofundou uma política que passou a vida inteira xingando (na verdade, o faz até hoje), de controlar o caixa com mão de ferro. Resolveu o velho problema formando poupança pública. Provavelmente, você, leitor atento, já ouviu falar do resultado dessa política: é o superávit primário, aquele mesmo que os esquerdistas só o mencionam após um adjetivo pejorativo. 

Por tê-lo feito, Lula soltou as amarras que detinham a nau. A despoupança pública virou poupança. Os investimentos privados aconteceram, a taxa de juros caiu, houve ganho de renda em todos os setores. Os brasileiros, sempre gastadores, voltaram às compras. 

Como o mundo também se expandia — ou seja, havia vento a favor —, fiat lux, o neoliberalismo tocado pelo PT, mais puro que o dos tucanos, produziu um crescimento acima de 6% na economia brasileira. Melhor, sem correlação negativa nos preços. A inflação esteve domada todo esse tempo. Um lindo céu azul, até hoje devidamente refletido nos altíssimos índices de aprovação do presidente. 

Mas... 
E esse é o mal da hipocrisia, ainda mais nos políticos, pior naqueles que vencem eleições. O homem condenara a vida inteira as políticas das quais lançava mão depois de eleito. Reeleito, começou a duvidar delas. Diante da claudicância, seu governo rendeu-se à infinita paixão que nutre por si mesmo. O rigor fiscal dos primeiros anos anuviou-se. A permissividade quanto às despesas públicas misturou-se a interesses tacanhos e partidários. O Orçamento do próximo ano já mostra explosivo e exorbitante gasto com pessoal. 

Incapaz de cortar investimentos, o Congresso fez a escolha de sofia. Ao discutir as despesas de 2009, aplicou corte sumário sobre bolsas de estudo para pesquisa e sobre os gastos correntes dos hospitais universitários. Duas temeridades, sobre as quais o próprio governo chiou. Mas tirar de onde? 

O vento parou de soprar a favor e uma tormenta irresistível se avizinha. Já em meio à chuva grossa e ondas pesadas, confundidas ingenuamente com cândidas marolas, o comandante sai de sua cabine e grita: remem, a todo vapor a frente, remem. Tenha santa paciência, senhor. Já não há lastro no barco para essa aventura. Reconstrua-o ou lance a âncora. Mas, por favor, não jogue culpa e responsabilidade sobre aqueles que não as têm.

COLUNA PAINEL

Ou vai ou racha


Folha de S. Paulo - 24/12/2008
 

Se novembro já foi ruim, com a eliminação de 40 mil empregos, dezembro será muito pior. Na avaliação do Ministério da Fazenda, devem se aproximar de meio milhão os postos perdidos no mês, que já é tradicionalmente difícil para o mercado de trabalho. A notícia, assim espera a equipe do ministro Guido Mantega, deve dar o empurrão necessário para a redução da taxa de juros já na próxima reunião do Banco Central, no final de janeiro. "Não precisamos mais pedir para os juros caírem. Agora, são os números que pedem", diz um assessor da Fazenda.
O argumento do ministério: se os juros não caírem logo, não haverá tempo para sentir o impacto ainda em 2009. Seria o adeus ao crescimento de 4%.

Barrigada
A Fazenda trabalha com queda de 1% do PIB no último trimestre do ano, na comparação com os três meses anteriores. No primeiro trimestre de 2009, o PIB deve andar de lado, com variação entre zero e 0,5%. Crescimento mesmo, só a partir de abril -se o BC deixar. 

Turbinado
Candidato a presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB) fará em janeiro viagens por 20 Estados, para falar com deputados em suas bases. Vai de jatinho à maioria dos lugares, cortesia do deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), que cedeu sua aeronave particular. 

Lembra?
O uso de jatinho foi uma marca da fracassada campanha de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) ao cargo em 2005. Nas duas eleições seguintes para a presidência da Câmara, os candidatos preferiram vôos de carreira. 

Nem vem
O PMDB da Câmara não aceita nem discutir ceder a poderosa Comissão de Constituição e Justiça para o PT, que sonha emplacar ali José Genoino (SP). O peemedebista favorito para presidir a CCJ é Tadeu Filipelli (DF), com Colbert Martins (BA) correndo por fora. 

De ombros
Apesar das pressões para que desista da reeleição, Garibaldi Alves (PMDB-RN) promete reforçar sua campanha em janeiro. "Após as festividades, vou intensificar os contatos com as bancadas", afirma.

Com o xerife 1
O Ministério Público Federal arquivou procedimento administrativo instaurado em 2006 por uma das câmaras em Brasília para investigar indícios de gestão fraudulenta e abuso de poder do Opportunity e da Brasil Telecom, em razão de reajustes nas tarifas telefônicas que não teriam observado as resoluções da Anatel. 

Com o xerife 2
O caso não morreu, no entanto. Para tomar sua decisão, o MPF alegou que o caso já está sendo apurado pela Comissão de Valores Mobiliários e pelo Poder Judiciário. As investigações nos dois órgãos continuam. 

Vôo alto
Para garantir créditos de ações trabalhistas em ação contra o Banco Central do Paraguai, o advogado paulista Luiz Fernando Bomfim pediu o seqüestro de um Boeing de propriedade do governo do país vizinho. Perdeu na primeira instância e recorreu. O tribunal regional federal decidiu, então, que o destino do "Aerolula paraguaio" será determinado pelo STJ. 

Autobiográfico
O último evento oficial de Lula em 2008 será a inauguração do Parque Dona Lindu, em Recife (PE), na terça-feira. Obra do prefeito petista João Paulo, que deixa o cargo, leva o nome da mãe do presidente e inclui um memorial em homenagem aos retirantes. 

Pró-memória
Novo amigo do peito de Lula, Nicolas Sarkozy era unha e carne com o antigo PFL, atual DEM, antes de virar presidente da França. Até há alguns anos, militava junto com os então pefelistas na Internacional Democrata-Cristã, entidade que reúne partidos de centro-direita do mundo. 

Tiroteio


"O ministro Lupi se baseia num sistema de apuração do desemprego que é muito precário. Mesmo assim, tenho a impressão de que sua manifestação está exageradamente otimista." 

Do ex-ministro do Trabalho 
ALMIR PAZZIANOTTO , sobre a afirmação do titular da pasta, Carlos Lupi, de que foi "pífia" a queda de empregos em novembro.

Contraponto 

Mexericos da Candinha

Em recente entrevista ao programa humorístico "CQC", o líder da bancada do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), qualificou o colega Gustavo Fruet (PSDB-PR) como um dos maiores fofoqueiros do Congresso.
Dias depois de o programa ir ao ar, o tucano enviou ao petista o livro "A Rainha da Fofoca", da americana Meg Cabot.
A dedicatória continha um trecho enigmático, envolvendo o ministro das Relações Institucionais e o presidente do PSDB, pernambucanos como Rands:
-Te contei a última do Zé Múcio e do Sérgio Guerra?
Era um blefe, mas bem que Rands ficou curioso.

FERNANDO RODRIGUES

11 vezes crise


Folha de S. Paulo - 24/12/2008
 

Descontadas as preposições, "crise" foi a palavra mais usada por Lula no seu pronunciamento à nação anteontem na TV. O presidente usou o termo 11 vezes.
O objetivo era combater o pessimismo. Estimular os consumidores a irem às compras. Mas se era para inocular ânimo nos telespectadores, talvez o presidente devesse ter evitado pronunciar tantas vezes a palavra maldita "crise".
Lula parece não se preocupar com esse tipo de detalhe. Sua rotina é simples: 1) diz qual deve ser a idéia geral de seu discurso; 2) alguém escreve e 3) ele interpreta lendo diretamente no teleprompter -o equipamento que projeta em um espelho falso, em frente à câmera, o texto da fala presidencial. O petista, aliás, domina a engenhoca de leitura como nenhum de seus antecessores no Planalto. Lula tornou-se um craque nessa arte.
Em várias cerimônias públicas ou até em comícios ao ar livre, sempre que pode, leva o teleprompter a tiracolo. Eis aí um traço de modernidade quase nunca percebido ou reconhecido no presidente: ele lê muito bem seus textos na TV.
Ironia à parte, o clima geral em Brasília neste final de ano é de pânico moderado. Não existe o menor consenso no governo sobre como será exatamente o impacto da desaceleração econômica. Daí a razão de o presidente se esfalfar diariamente para tentar manter um certo otimismo no país.
O pior cenário para Lula parece ser também o mais provável. A carnificina ocorre no primeiro semestre de 2009. Demissões, queda nas vendas e nos níveis salariais. O restante do ano se arrasta. O Natal vem sem brilho. Por fim, 2010 começa com os eleitores querendo mudanças, favorecendo a oposição.
Para impedir a consumação dessa profecia quase auto-realizável, Lula terá ainda muitos discursos a fazer. E será cada vez mais difícil para ele evitar a palavra "crise".

MÓNICA BÉRGAMO

FUNIL


Folha de S. Paulo - 24/12/2008
 

E já começam a circular nomes e candidaturas para substituir Ellen Gracie no STF (Supremo Tribunal Federal) caso ela vá mesmo para a OMC (Organização Mundial do Comércio). Além de José Dias Toffoli, advogado-geral da União, estão no páreo Luiz Fux, ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), e Cesar Asfor Rocha, do mesmo tribunal.

PERDÃO
O presidente Lula deu indulto de Natal a todos os presos condenados a menos de oito anos e que já tenham cumprido um terço da pena, até o dia 25; aos que foram condenados a mais de oito anos mas já tenham completado 60 anos de idade e cumprido, também, um terço da pena; aos que tenham cumprido, em regime fechado ou semi-aberto, 15 anos da pena, ou 20 anos, se reincidente; e a condenadas que tenham cumprido um terço da pena, mas que sejam mães de filho com deficiência mental ou física ou menores de 16 anos. Também serão contemplados pela medida paraplégicos, tetraplégicos e cegos.

CONVITE À FILOSOFIA
A primeira-dama da França, Carla Bruni, conversou sobre filosofia com o ex-secretário da Educação Gabriel Chalita (PSDB-SP) no almoço oferecido pela socialite Bethy Lagardère anteontem, no Rio. Falaram sobre Sartre, Simone de Beauvoir e Hannah Arendt.

O IDIOTA


ÉLIO GASPARI

Lula 2.0 tem a voz do velho sindicalista


O Globo - 24/12/2008
 

Na noite de segunda-feira Nosso Guia fez ao mesmo tempo uma prestação de contas do governo Lula 1.0 e o discurso de posse de Lula 2.0. Um mostrou resultados, o outro ofereceu esperança. 

Poucos presidentes puderam dizer como ele: "De 2003 para cá, o salário mínimo cresceu em termos reais 51% e o emprego também cresceu fortemente. Em 2007, batemos um recorde: 1 milhão 812 mil novos empregos com carteira assinada. Em 2008, novo recorde: até outubro, 2 milhões 148 mil empregos. Resultado: a taxa de desemprego caiu de 12,3% em 2003 para 7,6% em outubro de 2008. (...) Mudamos de cara e de astral." 

Pode-se avaliar a distância que separa o Lula 1.0 do 2.0 quando se vê que, no mesmo dia em que sua fala foi ao ar, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged, informou que em novembro passado perderam-se 41 mil empregos formais. Pior: enquanto Lula falava à tarde num crescimento de 4% para 2009, o Banco Central informava que a previsão de seus sábios baixa a bola para 3,2%. 

Deixando-se de lado leviandades verbais como a "marolinha", Lula artilhou-se na estratégia certa de combate à crise: deve-se estimular o consumo e o governo deve ser o indutor do resgate. Se a banca internacional e seus fâmulos nativos não estivessem mudos e quebrados, esmolando na porta do companheiro Obama, essas posições de Nosso Guia seriam vistas como excentricidades populistas. Infelizmente, Lula 2.0 tem amarrada à perna esquerda a bola de ferro de um organismo extraconstitucional chamado Copom. Um dia alguém fará a conta e descobrirá que essa invenção do tucanato causou mais males ao Brasil que as tropas de Solano Lopez. Não contentes com a marca da maior taxa de juros do mundo, conseguiram também a excentricidade de terem sido os únicos a subir a Selic enquanto o resto do mundo reduzia suas taxas ao longo do ano. 

Colocando-se acima do poder republicano do presidente (por abdicação do titular), os Copomitas refletem a anarquia financeira da mesma forma que, durante a ditadura, os superpoderes do Alto-Comando do Exército refletiam a anarquia militar. Com uma diferença: a anarquia financeira derreteu a economia mundial. Nosso Guia diz muito bem quando fala em jogatina "desavergonhada". O doutor Henrique Meirelles e os seus colegas de Copom chamam essa mesma coisa de "mercados". 

O discurso de fim de ano de Lula 2.0 teve um grande momento: 

"É imprescindível que os trabalhadores defendam a produção e o emprego." 

A frase é ambígua, mas na hora em que o presidente da Vale, doutor Roger Agnelli, comemorou os 40 anos do AI-5 sugerindo "medidas de exceção" para as relações trabalhistas, nada melhor do que o discreto reaparecimento de um velho líder sindical. Se os trabalhadores não prestarem atenção, o mesmo empresariado que vai ao BNDES pegar o dinheiro do FAT a juros camaradas, haverá de tungar seus direitos trabalhistas. Acabarão retardando o recolhimento de impostos e antecipando a renegociação das horas extras. Agnelli gostaria que o governo passasse a faca na proteção que as leis dão ao trabalho, assim como a Fiesp gostou quando a ditadura passou a faca nas garantias individuais da patuléia. Depois, quando a História aparece com a conta, bota-se toda a culpa nos militares ou na reforma trabalhista do governo Lula.

ANCELMO GÓIS

Pouso forçado


O Globo - 24/12/2008
 

A Anac, a pedido de Sérgio Cabral, suspendeu a audiência pública do dia 30 para decidir se autoriza ou não vôos para novos destinos no Santos Dumont. 

A data, em pleno período de festas, foi considerada imprópria. Cabral, como se sabe, já havia conseguido trazer a audiência de Brasília para o Rio. 

Aviso prévio 

É a agonia sem fim. A Infraero deu um ultimato de 15 dias para a Flex, que nasceu de uma costela da velha Varig, sair das instalações que ocupa no Aeroporto Santos Dumont. 

Coisa de pele 

No encontro de Lula e Sarkozy, houve um momento fofo em que o francês virou-se para o brasileiro e disse, profundo: 

- Lula, você não sabe o quanto eu gosto de você... 

Aécio e Cabral 

Ontem, no fim da preliminar em que atuou ao lado do peemedebista Sérgio Cabral no Maracanã, no Jogo das Estrelas de Zico, o tucano Aécio Neves respondeu assim a um gaiato que perguntou se os dois governadores também vão estar no mesmo "time" na eleição de 2010: 

- É possível, é possível... 

No mais 

Ao dizer que "a Amazônia é de todos", Jean Levitte, assessor de Sarkozi, mostrou, quem sabe?, ser daqueles utópicos que defendem um mundo sem fronteiras. Paris, por exemplo, seria de todos. Qualquer africano moraria lá sem pedir licença. 

Mas o francês, como se diz em Frei Paulo, deveria mesmo é catar coquinhos.

QUARTA NOS JORNAIS

Folha de S.Paulo - BC prevê freada no crédito em 2009

O Estado de S.Paulo - Queda da receita provoca déficit nas contas do governo

Jornal do Brasil - Muros cercarão favelas

O Globo - Crise eleva juros para consumidores no Natal

Gazeta Mercantil - Crédito opõe bancos de médio porte e BC

Valor Econômico - Tolerância de fornecedor alivia o aperto de crédito

Correio Braziliense - Mesmo com juros altos, brasiliense vai às compras

Estado de Minas - Bancos usam crise para subir os juros