quarta-feira, junho 06, 2012

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


9h - Roland Garros, tênis, ESPN e ESPN HD

13h - Mare Nostrum (natação), etapa de Canet, Bandsports

19h30 - Sport x Palmeiras, Campeonato Brasileiro, Sportv (menos PE)

21h - Los Angeles Kings x New Jersey Devils, hóquei, ESPN e ESPN HD

21h50 - Internacional x São Paulo, Campeonato Brasileiro, Globo (para SP)

21h50 - Santos x Fluminense, Campeonato Brasileiro, Band (para SP, menos Santos)

21h50 - Ponte Preta x Flamengo, Campeonato Brasileiro, Band e Globo (menos SP)

22h30 - Oklahoma City Thuder x San Antonio Spurs, Space e Space HD

Lula se acha onipotente ou constatou que não é? - JOSÉ NÊUMANNE

O ESTADÃO - 06/06


Tolo foi imaginar que a comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) do Congresso para apurar o nefasto conúbio entre a quadrilha do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e agentes do Estado brasileiro resultaria, pelo menos, no esclarecimento da praga da corrupção no Brasil. Afinal, ela terminou sendo instalada contra os interesses do governo, que sabia dos riscos que corria, e da oposição, que, ao contrário da mulher do árabe da piada (que a espancava ainda que não tivesse noção dos motivos,que ela conhecia bem), sabia que terminaria levando a pior, mesmo ignorando por quê.

E o foi para servir única e exclusivamente aos interesses de um brasileiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que queria vingar-se do governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, que o desmentira publicamente ao dizer que o informou sobre a compra de votos das bancadas governistas, o tal do mensalão.

Mais tolo ainda será prever que ela inevitavelmente dará com os burros n"água. De fato, até agora a CPMI nada acrescentou às fartas evidências, investigadas pela Polícia Federal (PF), dos crimes cometidos pelo contraventor e de suas relações nada republicanas com o falso Catão Demóstenes Torres, (ex- DEM), de Goiás, Estado de origem do acusado de ter operado o mensalão, Delúbio Soares. O relator, Odair Cunha (PT-MG), foi acusado de ser "tchutchuca" com governistas denunciados e "tigrão" contra oposicionistas, pelo deputado Fernando Francischini, paranaense do PSDB, partido que se comporta como espelho, atuando de forma diametralmente oposta.

Seu colega de bancada Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo Dilma na Câmara, foi pilhado transmitindo torpedo por telefone celular do plenário ao governador (até agora "blindado") do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), fazendo jura de amor fiel em vernáculo capenga: "Nós somos teu"... Ou seja, o espetáculo é deprimente para o Poder Legislativo e depreciativo para a democracia de um modo geral.

O objetivo inicial real da comissão, no entanto, foi plenamente cumprido, pois a vingança de Lula está sendo totalmente consumada: o tucano que o delatou sangra no matadouro público, ao lado de outro goiano, o senador Demóstenes Torres, que fingia ser santo enquanto servia aos interesses do anjo do Mal.

Nada mal para quem está entrando no 18.º mês fora do majestático poder presidencial e ainda enfrentando um agressivo câncer na laringe e um tratamento nãomenosincômodo,queotêm impedido de se movimentar e se manifestar com a desenvoltura necessária para atender a outros desafios que se impôs ao descer a rampa do Planalto na companhia da sucessora que escolheu.

Atear fogo no rabo de palha do tucano tem sido tarefa facilitada pela desenvoltura com que o delator permitiu ser delatado em vexatórias conversas telefônicas com o bicheiro pródigo.

Mais difícil será eleger o segundo poste consecutivo, agora para a Prefeitura de São Paulo, e convencer o Supremo Tribunal Federal (STF) a adiar o julgamento do mensalão, sem causa justa, para depois das eleições.

Para os milhões de telespectadores de seu amigo Carlos Massa, o Ratinho, no SBT, no primeiro depoimento na televisão após sair da Presidência e ter sido diagnosticado o câncer, Lula não se fez de rogado quanto à própria responsabilidade pela indicação do candidato desconhecido.

Em nenhum momento de seu pronunciamento (entrevista não, por favor!) ele usou a terceira pessoa para dividir a decisão como partido ou mesmo o plural majestático para revelar a humilde generosidade dos reis, que ele não precisa ter com seus súditos. Foi Lula - e só ele - quem decidiu que a eleição municipal paulistana será vencida pelo novo e que seu ex-ministro da educação cabe exatamente nesse figurino.

O conviva de seus ágapes de rabada e anfitrião de refeições com o mesmo prato foi compassivo ao deixar de questionar a negação de sua reconhecida esperteza quando do episódio decisivo para a entrada de José Serra (PSDB) na disputa: a quase adesão e o recuo do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), à candidatura que Lula impôs ao PT. É difícil, mas não importante, saber se aquele foi surpreendido pela mudança de atitude do antecessor na Prefeitura ou se apenas passou a perna em Lula. Mas é fato que, ao anunciar que o único tucano que apoiaria seria o ex-governador, Kassab não deixou saída para o agora candidato nem para seus descontentes aliados, levados a se unir contra o adversário comum para não serem afastados de um dos raros postos executivos no País inteiro fora do alcance do poder do PT de Lula, Dilma, Zé Dirceu e aliados oportunistas, ops, governistas.

A ausência de Marta Suplicy (PT) no lançamento da candidatura de Haddad mostrou que os elogios de Lula no Programa do Ratinho não a convenceram a ajudá-lo a arrastar o poste pela periferia de São Paulo. Talvez ele devesse convencer seus amigos das montadoras a emprestarem uma carreta, ir ao Ceagesp, encher a caçamba de flores e levá- las à senadora, entregando as de joelhos e convocando os meios de comunicação para divulgarem a imagem. Certo é que a difícil missão de alçar Haddad à Prefeitura depende mais da boa vontade da ex-prefeita que da demonização renitente dos adversários tucanos.

Missão árdua também será convencer o STF a adiar um julgamento que já tarda mais de cinco anos com base no argumento fajuto de que seu resultado perturbará as eleições municipais deste ano. Como a chantagem de que ele está sendo acusado pelo ex-presidente do Judiciário Gilmar Mendes não foi gravada, é até possível conceder-lhe o benefício da dúvida.

Será, contudo, uma dúvida muito fragilizada pela inverossimilhança: não é fácil acreditar que a causa da reunião tenha sido a má campanha do Corinthians no Brasileirão ou um relato dele sobre as dificuldades que está enfrentando para beber água com gás, que tanto aprecia.

Disso tudo fica uma questão: Lula ainda se acha onipotente ou acaba de constatar que não é?

Ueba! Ronaldinho vai pro Gargalo! - JOSÉ SIMÂO

FOLHA DE SP - 06/06


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Inglaterra em festa! Jubileu real! "Rainha Elizabeth completa 60 anos no trono." Então não é jubileu, é piriri. PIRIRI REAL! E a véinha é muita fofa, dá vontade de apertar. E 60 anos dando adeusinho. Ela deve ter LER, lesão por esforço repetitivo, de tanto dar adeusinho! E o príncipe Charles com aquelas orelhas de Mickey. Parece um Fusca com as portas abertas. E a rainha é sogra do monstro do lago Ness. E qual o papel do príncipe quando ele sentar no trono? Neve ou Primavera? Rarará! Viva a putarquia britânica. E um leitor me disse que o chapéu da rainha tava parecendo aquele embrulho que a avó fazia quando cozinhava angu e enrolava um pano pra não esfriar! E diz que o Blair maquiou tantos documentos pra invadir o Iraque que ele devia ser primeiro ministro da Avon.
E o Ronaldinho Gaúcho? O R10! Vai pro Atlético Mineiro! Vulgo Galo. Com o R10 vai se chamar Rabo de Galo. Ou então Galo da Madrugada! O Ronaldinho vai pro Gargalo! Rarará!
E como disse um torcedor: "Vamos ver se o R10 acerta uma". Esta devia ser a campanha da torcida atleticana: "Erre dez, mas acerte uma". Rarará!
E o Centro de Treinamento Cidade do Galo vai virar Cidade do Gole! Aliás, sabe o que o Ronaldinho foi fazer no Galo? Cozinhar o galo! E diz que, com a chegada do Ronaldinho no Galo, até o galo vai acordar tarde. Cocorocó! Tipo duas da tarde! Rarará!
E haja galinha! Vai ser pagode, gole e galo. Pagole no Galo! E como disse um outro ainda: "O Clube Atlético Mineiro vai virar Clube Alcoólico Mineiro!". Rarará!
E o rei Juan Carlos Caçador de Elefante em Brasília? Sabe o que a Dilma falou pra ele? "Eu sou gorda, mas não sou elefante." Ops, elefanta. É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é lúdico! Olha este cartaz no Carrefour: "Camarão Conzido". Eles conzinharam o camarão. Em vez de frintar, eles conzinharam!
E este outro cartaz no supermercado: "Queijo Fudido, 4,30 Kg". Tá difícil, viu? O queijo tá fudido, e o camarão, conzido. Rarará!
E mais um para minha série "Os Predestinados"! Direto de BH, consultor de vendas da Renault: Nicolau CARISSIMO! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Blindagem da guerra fiscal - CLÓVIS PANZARINI


O ESTADÃO - 06/06

No Parlamento brasileiro, conjuga-se com mais frequência o verbo "blindar" do que o "legislar". Blindam- se senador da base aliada,governador festeiro ou ministro amiguinho. Agora querem blindar a guerra fiscal.

Hoje, os benefícios fiscais relativos ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devem ser concedidos e revogados nos termos previstos na Lei Complementar Federal n.º 24, de 1975, recepcionada pela Constituição federal de 1988. Referida lei exige que qualquer proposta concessiva de benefício fiscal ou financeiro-fiscal relativo àquele tributo seja aprovada pela unanimidade dos Estados. O foro de decisão é o Conselho de Política Fazendária (Confaz). Fora disso, a concessão é inconstitucional.

A regra da unanimidade implica, por óbvio,poder de veto de qualquer Unidade Federada, que tem o sagrado direito de impedir que proposta lesiva à sua economia e/ou ao seu erário seja aprovada. Essa exigência não é resquício do regime autoritário então vigente,como têm pontuado leigos em matéria tributária, mas, sim, imposição da lógica econômica do tributo: sendo as operações interestaduais tributadas, o ICMS cobrado pelo Estado remetente da mercadoria é integralmente devolvido ao adquirente dela no Estado de destino, por meio do direito ao crédito do montante pago pelo fornecedor interestadual. Esse crédito é moeda para pagamento de ICMS em seu Estado.

A alíquota interestadual transfere, portanto, receita do Tesouro do Estado destinatário da mercadoria para o do remetente. Mais do que isso, ela faz com que decisões tributárias de um Estado repercutam na economia dos demais. Talvez os críticos dessa regra não saibam que o artigo 113 do Tratado da União Europeia também exige que as decisões de política sobre tributos indiretos sejam tomadas por unanimidade. Fosse zerada a alíquota interestadual do ICMS, não haveria necessidade de cada Estado consultar os demais para fazer política tributária. Estaria, então, tributando exclusivamente o consumo de seus cidadãos/eleitores e suas decisões não teriam nenhum efeito sobre a economia e o Tesouro dos demais Estados.

Entretanto, a regra da unanimidade não "pegou" eos Estados,como intuito de atrair investimentos para seus territórios - sempre com a justificativa de que o governo federal não tem política de desenvolvimento regional-,vêm desrespeitando a Constituição e oferecendo benesses de ICMS a empreendedores selecionados. Agridem,assim,o princípio da isonomia: com a guerra fiscal, tem-se, concorrendo no mesmo mercado, produtos idênticos com cargas tributárias diferentes. A sutileza da guerra fiscal é que seu "funding"é alimentado pelos cofres dos Estados destinatários das mercadorias subsidiadas, e não pelo generoso Estado concedente do benefício. É o seu aspecto cruel: além de ter a competitividade das suas empresas ofendida, o Estado destinatário paga a conta da "festa".

No ano passado, o Supremo Tribunal Federal,numa única sessão,declarou inconstitucionais 21 leis e decretos estaduais concessivos de benefícios fiscais de ICMS, e há uma Proposta de Súmula Vinculante (n.º 69) naquela Corte para tornar tal entendimento celeremente aplicável a todos os atos de concessão unilateral desses benefícios, o que porá fim a esse trágico conflito. Mas os Estados" guerreiros"não se dão por vencidos e reagem.Querem legalizar a farra, acabando com a exigência da unanimidade( poder de veto)para a aprovação dos benefícios fiscais.

Tramita no Senado o Projeto de Lei Complementar (PLS 85/11) que estabelece novas regras para a concessão de benefícios de ICMS, substituindo a unanimidade por quórum de maioria absoluta(14 votos) dos Estados, sendo pelo menos um de cada uma das cinco regiões geoeconômicas do País. Aprovado esse projeto,os Estados "guerreiros" - há mais de 14 nessa categoria-poderão alegremente legalizar seus" programas de incentivos fiscais de ICMS" para atrair indústrias para seus territórios e os demais assistirão, inermes, à deterioração da competitividade de seu parque industrial e de sua receita tributária. É a legalização da guerra fiscal.

O vexame da diplomacia espanhola - ELIO GASPARI

O GLOBO - 06/06


Deu gosto ouvir a referência da doutora Dilma aos "problemas enfrentados por viajantes brasileiros na Espanha" no seu discurso de boas-vindas ao rei Juan Carlos. Não precisava ter sido assim. Monarcas são feitos para enfeitar festas, e Elizabeth II está aí para provar isso. Se a polícia do aeroporto de Barajas e o serviço diplomático espanhol fizessem seu serviço, em vez de ser obrigado a ouvir um tranco, o soberano poderia, feliz, ter anunciado o fim do problema.

Há anos os brasileiros que chegam a Madri arriscam ser tratados como delinquentes. Em 2008 foram deportados 2.200, e em 2011 mandavam-se de volta quatro por dia. Para conter a imigração ilegal exige-se que preencham inúmeros requisitos, entre eles uma carta-convite (original, selada; se for xerox, volta). Isso vale até mesmo para quem chega a Barajas às 9h para pegar uma conexão às 11h45m. Tudo dentro das leis europeias. Já houve gente dormindo no chão, senhoras sem acesso à bagagem onde estavam seus remédios, jantar de três sardinhas e quatro horas de espera para ir ao banheiro. Há poucos dias um artista plástico foi devolvido porque faltava o carimbo na carta-convite de seu empresário italiano. De nada adiantou mostrar que já entrara e saíra da Espanha com aqueles mesmos papéis. Tudo bem, coisa de policiais.

Em fevereiro a doutora Dilma anunciou que Pindorama aplicaria aos espanhóis o elementar princípio da reciprocidade. Desde abril, o país que deporta brasileiros tem seus cidadãos deportados.

A polícia de Barajas manteve sua rotina. Os celulares são confiscados e, se a vítima quer telefonar, paga cinco euros, mesmo que a outra linha esteja ocupada. A Alemanha não pede carta-convite a quem vai fazer conexão, mas a Espanha continua exigindo-a. Enquanto isso, sua diplomacia dedica-se a repetir platitudes.

Trata-se de um problema pontual de gestão. Deve-se deportar quem não tem os papéis em ordem, mas não há por que aporrinhar quem está a caminho de Lisboa, ou quem pode comprovar sua boa-fé. Pode-se tratar os viajantes que chegam à Espanha com educação e bom-senso. Resta tomar cuidado para evitar que a meganha queira terceirizar a fiscalização, envolvendo representantes da embaixada brasileira em Madri.

Certamente haverá diplomatas mostrando que pouco pode ser feito, por causa disso ou daquilo. Neste caso, os doutores devem ver o que aconteceu com seus similares do serviço consular americano no Brasil. Houve tempo em que os interessados num visto de entrada nos Estados Unidos faziam filas de madrugada nas ruas adjacentes aos consulados. Quando o companheiro Obama esteve na terra, a espera para marcar uma entrevista era de 107 dias em São Paulo e 105 no Rio. Se alguém reclamava, respondiam com banalidades. Em janeiro passado, de olho na caixa do turismo e nos votos da Flórida, o companheiro mandou que esses prazos fossem reduzidos. Em vez de repetir parolagens, a máquina administrativa americana pôs-se a trabalhar. A espera em São Paulo caiu para onze dias e o Rio já marcou entrevistas para o dia seguinte.

A polícia de Barajas e a diplomacia espanhola negaram ao rei a oportunidade de mostrar que os espanhóis foram à luta.

Investir - ANTONIO DELFIM NETTO


FOLHA DE SP - 06/06

Já devíamos ter aprendido que a única constante da evolução econômica é a ciclotimia que, a cada crise, coloca a ideia de que é preciso mudar tudo.

Quando se olha o enorme fracasso das economias centralizadas no século 20 com relação às descentralizadas, mesmo as que se mantiveram politicamente fechadas, temos quase um experimento em condições controladas: a organização das atividades econômicas através dos mercados bem regulados e apoiados num Estado que mantém com eles relações amigáveis provou ser muito mais produtiva.

A volta à centralização não parece, pois, ser a solução. A explicação é que os mercados produzem incentivos que conciliam melhor os interesses individuais com os coletivos. Os preços relativos que se formam estimulam o uso mais eficiente dos fatores produtivos e dão maior liberdade de escolha aos consumidores. Em compensação, são menos estáveis: há maior flutuação da atividade e do nível de emprego.

O caso chinês é paradigmático: a combinação de economia de mercado selvagem do século 18 com ausência quase total de liberdade política construiu, em 35 anos, a segunda potência econômica mundial.

Na Constituição de 1988, o Brasil escolheu para si a combinação de um Estado forte -constitucionalmente limitado pela vigilância do STF-, capaz de regular amigavelmente o setor privado com um comportamento republicano e democrático e cujo objetivo é o de uma sociedade em que a igualdade de oportunidades vá ampliando cada vez mais o seu espaço.

No momento em que o mundo está caindo aos pedaços e parece reduzir-se o entusiasmo com a economia brasileira, é preciso reafirmar nosso compromisso com aquela construção. Temos melhorado muito. Infelizmente, a taxa de crescimento anual continua medíocre: entre 1985 e 1995, ela foi de 3%, e, entre 1996 e 2011, de 3,1%, mas houve uma redução importante da taxa de inflação, que caiu de 933% ao ano para 6,5% no período.

Houve, também, uma significativa melhora na distribuição de renda: em 1996, a relação entre as rendas dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres era de 32. Em 2009, havia caído para 21.

A mudança mais importante foi no setor externo, no qual soubemos aproveitar os bons ventos. Depois de termos frequentado o FMI por duas vezes (1998 e 2002), somos hoje credores daquele organismo e temos reservas da ordem de US$ 370 bilhões.

Nossa situação interna e externa é melhor do que a da maioria dos países, mas não podemos retardar mais o esforço para aumentar a eficiência do setor público e ampliar os investimentos, cooptando o setor privado, diante do crescimento anual do PIB de 1,9% no primeiro trimestre de 2012.

O econômico e o luxo - ABDON BARRETO FILHO


CORREIO DO POVO - RS - 06/06

Segundo as pesquisas e análises, o luxo é um valor intangível, mas completamente perceptível pelo consumidor. O luxo contém detalhes que fazem diferenças positivas. Luxo não quer dizer ostentação. Não precisa conter ouro, prata, mármore ou pedras preciosas para serem considerados produtos de luxo. Existem produtos de luxo compostos de materiais como couro, madeira, entre outros. O importante é a combinação de materiais, o design e, principalmente, a qualidade final que é entregue e percebida pelo cliente.

O luxo é valorizado também no composto promocional utilizado e nos canais de distribuição. Observa-se que os anúncios veiculados nos meios de comunicação de produtos de luxo evitam informar preços e condições de pagamentos. Anunciam com bom gosto a existência de produtos, valorizando as suas marcas e o relacionamento com seus clientes. De uma maneira geral, raramente, encontram-se liquidações de produtos de luxo. Quando existem, viram notícias espontâneas. No "Marketing Mix" de produto de luxo, observa-se que o ponto de venda é preparado com "atmosfera" compatível com a proposta do bem e/ou serviço oferecido para estimular o consumo e a sua memorável "experiência". No caso do produto estático/imóvel, quando o consumidor deve fazer o deslocamento até ele para realizar o ato de consumo, os cuidados devem ser redobrados. Os meios de hospedagem, os restaurantes, os meios de transporte, entre outros, devem ficar atentos que, além da infraestrutura e dos equipamentos utilizados, é no "momento da verdade" que a condição de "luxo" pode ser testada. A recepção, a solicitação de um pedido, a impecável mesa com talheres e guardanapos, assim como apartamentos com itens como colchão, travesseiro, lençol, climatização, TV a cabo, acústica, entre outros itens de conforto, podem transformar a experiência em um restaurante e hotel em consumo de luxo.

Convém salientar que, no mercado de massa, com ingresso maior de consumidores de classes econômicas emergentes, as marcas de luxo são pressionadas para manterem seus produtos e buscar novos clientes. Novas marcas, novos artigos com elementos de luxo estão disputando novos consumidores. As empresas que produzem bens e/ou serviços de luxo procuram inovar e determinar uma série de ações, inclusive preparando a educação dos seus futuros clientes. As referências de consumo possibilitadas por globalização da economia, inovações tecnológicas, desregulamentações de mercados e os meios de comunicação influenciam as marcas e os produtos de luxo. O "efeito demonstração", quando os países pobres imitam os países ricos, abre novas ameaças e oportunidades para o marketing e para as vendas. As comparações são inevitáveis, e o cliente quer o melhor, aqui e agora. Convém salientar que as pessoas de menor poder aquisitivo desejam consumir produtos sofisticados, e a maioria deseja bens e/ou serviços bons, bonitos e baratos. São desafios para as empresas que nem sempre conseguem produzir o bom, o bonito e o barato, pela combinação óbvia dos fatores de produção utilizados, exigindo economia de escala, tecnologia apropriada e sofisticada. Será? São reflexões. Respeitam-se todas as opiniões contrárias. Pensem nisso.

O que as intervenções do BC no câmbio sinalizam - EDITORIAL O ESTADÃO


O ESTADÃO - 06/06
Alguns dias atrás parecia que o Banco Central( BC)decidira que a taxa cambial não podia ultrapassar R$ 1,90 por dólar. Quando chegou a R$ 2,o BC reagiu com várias intervenções usando swap cambial para conter a desvalorização do real, com a qual o ministro da Fazenda mostrava se muito satisfeito.
A interpretação dada para a intervenção era que o BC temia o efeito inflacionista da desvalorização, queria mostrar ao mercado que continuava presente para evitar excessos e que não estava gostando da flutuação do câmbio, apesar de uma reação positiva das exportações coma subida do dólar.

Ao sair do mercado cambial sem comprar ou realizar operações de swap cambial para oferecer dólar futuro, as reservas internacionais caíram no final do mês chegando no dia 30 de maio a US$ 372,434 bilhões ante US$ 372,738 bilhões em 22 de maio. Convém esclarecer que isso não significa necessariamente uma queda das reserva sem dólares,masque outros ativos incluídos nessas reservas, como o dólar canadense, sofreram também pequena desvalorização que mudou o valor geral das reservas internacionais.

No entanto, ontem o BC voltou a oferecer swap cambial conseguindo reduzir a desvalorização da moeda nacional.

Essa intervenção no mercado cambial - lembrando que o swap cambial é uma operação menos custosa do que a simples compra de dólares,que obriga o BC a oferecer títulos da dívida interna para limitar o efeito expansionista dessa compra - pode ter várias interpretações. O BC quis lembrar ao mercado que a especulação baseada na desvalorização contínua do real é perigosa.Pode também favorecer uma desvalorização no momento em que tem de enfrentar importante amortização da dívida externa. Ou, simplesmente, quis avisar que dispõe de instrumentos para conter as tentativas de aumento de preços.

De qualquer maneira,terá de entregar no prazo estabelecido os dólares oferecidos,o que acarretará uma queda das reservas que poderá ser mal recebida no exterior, num momento em que o Brasil parece estar deixando de ser a bola da vez entre as melhores oportunidades de investimentos no mercado financeiro mundial.

Com reservas de US$ 372 bilhões, o País ainda oferece boas garantias aos credores externos. Todavia, se houvesse - hipótese que não pode ser afastada - necessidade de recorrer a essas reservas para cobrir o déficit das transações correntes, começaria a despontar a desconfiança dos investidores e credores.

Economia estagnada - ROGÉRIO MORI

BRASIL ECONÔMICO - 06/06


As informações sobre o res1ultado do PIB brasileiro do primeiro trimestre de 2012 apenas confirmaram o que a esmagadora maioria dos economistas esperava: um crescimento próximo a zero relativamente ao último trimestre do ano passado. De fato, o comportamento de vários indicadores relativos à atividade econômica apontava nessa direção, como foi o caso do desempenho da atividade industrial nos três primeiros meses do ano.

É curioso observar que a estagnação da economia brasileira vem se arrastando desde o segundo semestre de 2011 e o Banco Central tem reduzido sistematicamente a meta da taxa básica de juros-Selic -ao longo desse tempo. No entanto, a atividade econômica do país permanece em ritmo lento e não dá sinais de reação no curto prazo, mesmo com os esforços do governo no sentido de tentar estimular o consumo. Vale lembrar que a Selic atingiu o menor patamar desde a implementação do Real, em 1994, e as perspectivas apontam na continuidade da trajetória de queda nos próximos meses.

O ponto central nessa discussão remete às razões para um desempenho tão fraco da nossa economia (o pior entre os Brics) em um ambiente em que o governo proporciona estímulos à demanda há um tempo considerável. Esse diagnóstico é fundamental para estabelecer o escopo das ações que devem ser adotadas em termos de política econômica daqui para frente.

A análise do resultado do PIB do primeiro trimestre dá pistas sobre os problemas a serem enfrentados. De um lado, fica claro pela ótica da produção que a indústria segue em ritmo lento. De outro, observa-se pela ótica da demanda que as importações têm crescido a um ritmo forte. A somatória desses elementos revela que parte do consumo interno tem se direcionado para o resto do mundo. Isso decorre do fato de que a moeda brasileira encontra-se relativamente forte, o que elimina a competitividade da produção nacional frente ao resto do mundo. Em outras palavras, parte do problema relativo ao nosso baixo crescimento reside na moeda brasileira apreciada neste momento.

Outro elemento que começa a surgir no contexto da nossa economia diz respeito ao aparentemente elevado endividamento relativo das famílias brasileiras neste momento. Nos últimos anos, o crescimento da renda das classes C e D e a expansão do crédito representaram um importante motor no sentido de estimular o crescimento econômico brasileiro. No entanto, ao longo desse período, o comprometimento da renda com o pagamento de dívidas por parte das famílias cresceu enormemente. Isso significa que o espaço para novas dívidas pode estar relativamente limitado neste momento.

O governo parece ciente desse processo, mas continua a bater na tecla do crédito, criando estímulos para a redução das taxas de juros na ponta do empréstimo e diminuindo a Selic.No curto prazo, a reação do consumo tem sido limitada a esses estímulos (até mesmo porque seria pouco prudente o acúmulo de novas dívidas para quem já está relativamente muito endividado). Nesse sentido, o governo poderia utilizar instrumentos alternativos além do crédito, como, por exemplo, aumentar a renda disponível das famílias via redução da alíquota do Imposto de Renda.

O governo poderia utilizar alternativas além do crédito, como aumentar a renda das famílias reduzindo o Imposto de Renda

CLAUDIO HUMBERTO

“O senhor Pagot debocha de todos nós”
Senador Pedro Simon (PMDB-RS), propondo a convocação de Luiz Pagot, ex-DNIT

BRASIL FINANCIA AEROPORTO MILIONÁRIO... NA ÁFRICA

Por aqui está devagar, quase parando, mas Gana, na África, que não sediará Copa do Mundo ou Olimpíada, ganhou financiamento de 174 milhões de dólares (R$ 350 milhões) do contribuinte brasileiro, através do BNDES, para construir o aeroporto internacional de Tamale, ao norte da capital, Acra. A construtora Queiroz Galvão tocará a obra, sob a responsabilidade da administração portuária estatal Ghana Airport.

SITUAÇÃO CRÍTICA

No Brasil, 17 dos 20 principais aeroportos estão em “situação crítica”, segundo o Ipea, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

TÁ FEIA A COISA

O Ipea atestou também que os investimentos nos aeroportos do Brasil “foram inferiores à necessidade”.

DECADÊNCIA

Obsoletos e com instalações arcaicas, doze dos nossos principais aeroportos operam acima do limite de sua capacidade, aponta o Ipea.

NOSSA GRANA

O Brasil deu US$ 250 mil para a criação de uma rede de apoio aos refugiados do Afeganistão, através da ONU em Genebra, Suíça.

PT AMEAÇA ‘TUDO OU NADA’ NA CPI DO CACHOEIRA

Após a união do PSDB ao PMDB para convocar o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), os petistas ameaçam o “tudo ou nada” na CPI mista do Cachoeira: marcou para quinta (21) a decisão de convocar Luiz Antonio Pagot, ex-DNIT, e Fernando Cavendish, ex-Delta, além do jornalista Luiz Carlos Bordoni, que diz ter sido pago por Cachoeira para atuar na campanha do governador Marconi Perillo (PSDB) em 2010.

ALIÁS...

...para alegria de Lula, a CPI do Cachoeira ganha o maior jeitão de CPI do Perillo, o cada vez mais enrolado governador tucano de Goiás.

ENROLOU-SE

Na CPI do Cachoeira, ontem, Walter Paulo Santiago, dono da Faculdade Padrão, trocou “honrado” por “enrolado”.

MÍNIMOS DETALHES

A filha de Walter Santiago assistiu de sala reservada ao depoimento do pai na CPI. Reclamou: “Querem saber até com quem vou me casar”.

MAL CONCEITUADO

A Faculdade Padrão, de propriedade de Walter Paulo Santiago, acusado de participar do esquema de Cachoeira, obteve nota 2 na avaliação do Inep, do Ministério da Educação.

PEQUENO DETALHE...

O banqueiro André Esteves agora quer comprar a fatia da família Ermírio de Moraes no Banco Votorantim, e com apoio do Banco do Brasil, dono da outra metade. O problema é saber de onde sairão os R$ 3 bilhões que o Votorantim precisa para se manter saudável.

...COM DINHEIRO ALHEIO

André Esteves – que até já tomou cartão vermelho dos acionistas do Fundo Garantidor de Crédito, os grandes bancos privados – tem fama no mercado de comprar sem gastar dinheiro, ou usando o dinheiro dos outros, como no caso do Banco Panamericano, de Silvio Santos.

SILVIO, O TERNO

Após causar briga com membros da CPI do Cachoeira e descer a lenha nos acusados, o deputado Silvio Costa (PTB-PE) garantiu ontem aos colegas: “Vou ser duro sem perder a ternura, igual ao Che Guevara”.

AJOELHOU...

Virou galhofa mundial a notícia de que o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, é pai de mais um filho, concebido quando ainda era bispo. Aliás, quem se ajoelharia no confessionário do amigo de Lula?

CAMINHO SEM VOLTA

O ex-poderoso secretário de governo do Distrito Federal, Paulo Tadeu, que perdeu todo o poder para o novo chefe da Casa Civil, Swedenberg Barbosa, encontrou uma saída honrosa: deixou o cargo e retomou o mandato de deputado federal para defender Agnelo Queiroz, mas não voltará.

HONRA AO MÉRITO

O ex-vereador Wladmir Garcez, que está preso, ex-secretário do Trabalho do governo Marconi Perillo (PSDB), ganhou a Ordem do Mérito Anhanguera.

AMIGOS APOSENTADOS

Fora o mensalão, Lula pode ter outra encrenca: denúncia do Ministério Público Federal, de 2011, pedindo devolução de R$ 9,5 milhões por dez milhões de cartas da Dataprev a aposentados louvando crédito consignado, em 2004. O ex-ministro Amir Lando é parte na ação.

GOD SAVE

Alguém perguntou no Twitter se, à semelhança de Elizabeth II, o Estado do Maranhão também vai comemorar o Jubileu de Diamante de Sarney. 

PODER SEM PUDOR

RESISTÊNCIA DE AMADORES

Nos tempos de chumbo de 1964, Leonel Brizola confiou ao amigo Danilo Groff a missão de mobilizar aviões para transportar ao Rio Grande do Sul o maior número possível de interessados em resistir ao golpe militar. Certo de que estavam grampeados, Brizola combinou falar apenas em código, ao telefone. De fato, ao ligar dias depois, Groff informou:

– Consegui arrumar os passarinhos!

– Muito bem! Quando eles voam? – perguntou Brizola, em código.

– Só faltam os pilotos – informou Groff, entregando o ouro aos bandidos.

QUARTA NOS JORNAIS


Globo: Ruralistas dominam comissão que definirá o Código Florestal
Estadão: Caixa dá 35 anos para pagar imóvel
Correio: Casa com juro menor e 35 anos para pagar
Valor: Cruzeiro do Sul vende ações pouco antes da intervenção
Estado de Minas: Reféns da impunidade
Zero Hora: Novo empurrão na economia – Até 35 anos para pagar casa própria

terça-feira, junho 05, 2012

Como uma deusa - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 05/06

Continua a briga de Rosana, a cantora do sucesso “O amor e o poder”, com os sites Google e Wikipedia, nos quais era citada, lembra?, com 58 anos de idade e não com os 44 que constam de certidão enviada pela artista. Mas agora os sites dizem que ela tem... 50. Deve ir à Justiça.

Novo xerife da Justiça

Hoje, o STJ deve eleger o sucessor de Eliana Calmom como corregedor do Conselho Nacional de Justiça. Deve ser o ministro Francisco Falcão. Toma posse em agosto.

Será?

Há quem especule que, com a Delta em recuperação judicial, o grupo JBS pode voltar a se interessar pela enferma. É que a recuperação deixa tocar a empresa sem a faca no pescoço dos credores. A conferir.

Quem se interessa?

A ThyssenKrupp vai conduzir a venda da CSA com a ajuda de um banco de investimentos estrangeiro. Espera concluir o negócio no último trimestre.

Baque no soçaite

O banqueiro Luiz Octávio Índio da Costa, dono do Banco Cruzeiro, que sofreu intervenção do BC, ontem, é frequentador das páginas de “Caras”. Ex-namorado de Daniella Cicarelli, já abriu sua casa, em São Paulo, para almoço em homenagem a Maddona e show particular de Tony Bennet.

Parceiros de alma
Jorge Mautner, parceiro desde 1970 de Nelson Jacobina, o músico que morreu subitamente, quinta passada, aos 58 anos, vai escrever uma biografia do amigo, com o qual compôs “Maracatu atômico” e “Lágrimas negras”, entre outras.

VEJA A MÁGOA do jovem torcedor do Flamengo. Domingo, na loja Espaço Rubro Negro, em Belford Roxo, Baixada Fluminense, um adolescente mostrou seu desapontamento com Ronaldinho numa fila por autógrafos dos ídolos rubro-negros veteranos Júlio César, Adílio e Rondinelli, gigantes da maior geração de craques já surgida no clube da Gávea. O garoto, repare, cobriu com adesivos o nome do jogador, que pôs o clube na Justiça e, ontem, assinou com o Atlético-MG. Que Deus ajude o sem sal Ronaldinho a ser feliz, e não desampare o Flamengo jamais

Cine Demóstenes
Demóstenes, o senador encrencado com Cachoeira, largou o blog demostenestorres.com.br. Desde abril, quem escreve é João Paulo Teixeira, um colaborador, que faz críticas de cinema.

Aliás...

Os últimos filmes citados parecem mensagens cifradas. Repare: “O delator”, “Os bons companheiros”, “Todos os homens do presidente” e “Um sonho de liberdade”. Faz sentido.

Deborah 2014

O táxi carioca KXD 2126 faz campanha para Deborah Colker, a coreógrafa. Pôs no vidro este adesivo: “Deborah Colker para coreografar as cerimônias de abertura/ encerramento da Copa do Mundo de 2014/Olimpíadas 2016. É o nosso maior talento na área”.

Eterna Gabriela
Com a nova versão de “Gabriela”, na TV Globo, o fotógrafo Antonio Guerreiro, ex-marido de Sônia Braga, que atuou na primeira versão da fogosa na TV, tem recebido pedidos de compra de fotos da bela, feitas na época da novela. Uma cópia como esta não sai por menos de R$ 15 mil.

Vai sair do papel

Ben Schneider, diretor do Programa Brasil do conceituado Massachusetts Institute of Technology, nos EUA, deve vir ao país de Dilma até o fim de junho, a mando do novo reitor do MIT, Rafael Reif. Vem acertar detalhes da implantação de um centro tecnológico 
do instituto aqui.

Reage, Flamengo

Os empresários Jorge Rodrigues e Getúlio Brasil, beneméritos do Flamengo, promoverão um fórum para discutir o futuro do clube, dia 28.

Crime e castigo

Serão julgados dia 12 de julho, na Auditoria Militar, no Rio, os ex- PMs Marcelo José Leal Martins e Marcelo de Sousa, acusados de corrupção passiva no caso da morte de Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães. Rafael morreu em julho de 2010, atropelado por Rafael Bussamra, quando andava de skate no Túnel Acústico, na Gávea.

Quem criou, cuide - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 05/06


A política entrou esses dias na fase "cada um que trate do seu problema". Lula, da campanha de Fernando Haddad; Fernando Cavendish, da Delta; e os governadores, dos malfeitos em seus estados
Há alguns meses, os petistas cantavam, todos contentes, que o palanque de Fernando Haddad logo seria encorpado com o PR. Em janeiro, por exemplo, quando ainda não tinham a menor chance de conquistar o PSB ou o PCdoB, tudo estava certo para que o PR entrasse na campanha de Haddad pela prefeitura de São Paulo, conforme informavam seus caciques em Brasília. Passados alguns meses, o PR fecha com José Serra, do PSDB. Nos bastidores, os petistas desdenham, dizendo que não faz falta o partido do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento e de Valdemar Costa Neto, réu no mensalão do PT. Há quem diga que é porque o PT não quis pagar o preço de escolher um integrante do PR para vice de Haddad. Pode até ser. Mas o fato mais relevante de janeiro para cá foi que Haddad, por mais que se esforçasse, não saiu do lugar. 
De janeiro para cá, o único fato novo na sucessão de São Paulo foi o ingresso de José Serra como candidato. O outro foi o afastamento da senadora Marta Suplicy (PT-SP) dos atos paulistanos de seu partido. Marta, atualmente, sempre tem um “compromisso pessoal”, como anunciou ontem para justificar a ausência na convenção do PT que homologou a candidatura de Fernando Haddad a prefeito. 
Ora, todos que lidam nesse ramo sabem da preferência dos políticos. Eles sempre fazem da agenda partidária um sacerdócio. Não tem batizado de neto que os afaste dos momentos importantes de suas respectivas legendas nem que seja apenas uma “passadinha”, entre o batizado em si e o almoço de comemoração. Que esposa de político não ouviu do marido: “Vou ali só fazer um discurso e já volto”. Que marido de deputada ou senadora não ouviu: “Olha, preciso dar uma passadinha ali, só para marcar presença, dizer umas poucas palavras”? Faz parte da vida deles. 

Por falar em vida...Ao alegar um compromisso pessoal para faltar ao evento mais importante de seu partido este mês — ainda mais quando todos sabem da importância dela nesta campanha —, Marta deixa um recado nas entrelinhas, literalmente: a campanha de Haddad não representa prioridade para ela nem é caso de vida ou morte. E, se ela tiver outro compromisso pessoal que considere mais interessante ou inadiável, não tem nem uma “passadinha” onde quer que o candidato esteja. Portanto, quem criou Haddad que carregue a campanha dele por São Paulo afora — leia-se Lula. 
E Lula, em São Paulo, jamais venceu eleição de prefeito usando apenas o prestígio pessoal. Ali, se a população não sentir firmeza no candidato, não vai. E, se nem os partidos aliados de Dilma apoiarem Haddad — caso do PR, que se diz independente, mas nem tanto —, restará a João Santana buscar o milagre da multiplicação dos votos, o que, em se tratando do PT paulista, é um desafio e tanto. Até porque, em junho de 2010, temporada das eleições presidenciais, Dilma estava empatada com José Serra em alguns institutos e à frente do tucano em outros. Agora, Fernando Haddad está atrás em todos. Assim, fica difícil até evitar que outros potenciais aliados terminem lançando candidatos próprios. Afinal, em política, a prioridade de todos é a sobrevivência. Ninguém gosta de embarcar em barco que não demonstra estabilidade na largada. 

Por falar em barco...Outro Fernando que está numa canoa sem remos é Cavendish, da Delta. E a partir de hoje, é bom que ele se prepare, porque, convocados os governadores, a semana deve ser tomada por uma pressão violenta no sentido de chamá-lo a depor na CPI do Cachoeira. E, depois que a J&F desistiu de comprar a empresa, Cavendish deixou de ser o “antigo dono da Delta, empresa envolvida nos negócios de Carlos Cachoeira”. Além disso, acresceu ao título de proprietário a mensagem: “Quem criou a confusão — ou permitiu que os desvios ocorressem, sem interferir — que responda pelo imbróglio”, assim como Lula responderá pela campanha de Haddad. 
Pelo visto, a política entra agora na fase do velho ditado “quem pariu Matheus que o embale”. Nesse sentido, vale ainda observar atentamente o comportamento do PSDB durante o depoimento do governador de Goiás, Marconi Perillo, na CPI, na semana que vem. E também dos petistas, no caso de Agnelo Queiroz, do Distrito Federal. A sensação que se tem é a de que, se a canoa desses governadores começar a fazer água, seus partidos vão largá-los no meio da rua. A conferir.

Tataranetos - BENJAMIN STEINBRUCH

FOLHA DE SP - 05/06

A Argentina continua sendo uma parceira estratégica que o Brasil precisa conservar a qualquer custo



Desde a dramática crise de 2001, escrevi cinco artigos sobre a Argentina. Todos sustentaram que os problemas do país vizinho tiveram origem numa série de equívocos de governo: a abertura precipitada do mercado, a extinção de incentivos à indústria, a política cambial desastrada e, por fim, a religiosa obediência à cartilha ortodoxa e recessiva do FMI.

Sempre critiquei também o calote da dívida externa, anunciado em 2001 e consumado em 2005, que colocou - e ainda mantém - a Argentina no acostamento do mercado financeiro internacional. Nunca, porém, deixei de defender a ideia de que, apesar dos equívocos cometidos pelos governos do vizinho, o Brasil deveria manter solidariedade ao povo argentino.

Não mudei de ideia. Novamente nossos parceiros do Sul enfrentam a escassez de divisas externas, problema agravado naturalmente pela crise internacional oriunda da União Europeia.

No início da década passada, o Brasil pouco podia fazer além de oferecer apoio diplomático nas discussões internacionais, porque enfrentava também sua crise de balanço de pagamentos. Hoje, a situação é muito diferente. O País pode e deve oferecer ajuda efetiva, não por caridade, mas porque a sustentação da Argentina nos interessa muito, como veremos a seguir.

Nos primeiros nove anos após a criação do Mercosul, de 1995 a 2003, o Brasil teve déficit sucessivos no comércio com a Argentina, acumulando no período saldo negativo de US$ 10,4 bilhões. Depois, a situação se inverteu, e o país passou a ter superávit seguidos, a ponto de contabilizar ganho de US$ 30 bilhões de 2004 até agora, incluído o primeiro quadrimestre deste ano.

Esses números mostram que a Argentina tem sido uma parceira espetacular. Que outro adjetivo pode ser atribuído a um país que proporcionou às contas externas brasileiras receita líquida de US$ 30 bilhões em pouco mais de oito anos? Com um detalhe importante: esse país compra do Brasil principalmente produtos manufaturados. No ano passado, importou US$ 20,4 bilhões em manufaturas, quase o dobro do valor das compras equivalentes feitas no Brasil pelos Estados Unidos.

É verdade que a Argentina tem aprontado algumas malcriações nas suas relações comerciais, como a criação de barreiras formais e informais, sem poupar o Brasil. É verdade também que o governo atual voltou a cometer equívocos, como a reestatização da YPF. A despeito disso, porém, a recomendação da solidariedade entre vizinhos deve prevalecer. Até porque o Brasil também costuma dar o troco com descortesias variadas.

A Fiesp, entidade da qual sou vice-presidente, tem atuado para que prevaleça o bom senso nas relações comerciais entre os dois países. Para tentar ajudar na conciliação, fez levantamento envolvendo 38 produtos argentinos de exportação considerados estratégicos pelo governo vizinho. E descobriu que, embora esses produtos tenham qualidade e competitividade, o Brasil compra apenas US$ 2 bilhões na Argentina e US$ 10 bilhões em outros países.

Isso quer dizer que há uma real oportunidade de aumentar as importações brasileiras de manufaturados argentinos sem nenhum ônus para a balança comercial brasileira, porque esses itens já são importados de outros mercados. Em contrapartida, poderá haver ganho para a Argentina, com a redução do déficit comercial que tem com seu principal parceiro do Mercosul.

Por que não compramos esses produtos dos argentinos? A pesquisa da Fiesp mostrou que a principal razão é o desconhecimento dos fornecedores e concluiu que, superada essa desinformação, o Brasil pode elevar em US$ 6 bilhões as importações da Argentina.

A despeito de todos os preconceitos mútuos, muitos deles apenas folclóricos ou oriundos de rixas futebolísticas, a Argentina continua sendo uma parceira estratégica que o Brasil precisa conservar a qualquer custo. Primeiro, pelo resultado comercial que ela nos proporciona e, segundo, pela própria exigência geopolítica da boa vizinhança. Como bem lembrou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, “o Brasil dos tataranetos de nossos tataranetos ainda será vizinho da Argentina”

Português e competitividade - JOSÉ PASTORE

O Estado de S. Paulo - 05/06


Assisti, na sexta-feira, ao seminário Em Defesa da Língua Portuguesa, organizado conjuntamente pelas Academias Brasileira e Paulista de Letras. Acompanhei as apresentações com minha mente voltada para a notícia, publicada no dia anterior, segundo a qual o Brasil vem perdendo posições no ranking de competitividade global. Já está na 46.ª posição entre os 59 países pesquisados.

Uma das principais razões desse triste retrocesso está na má qualidade da educação e na baixa produtividade do trabalho. Nas exposições apresentadas, chamaram a minha atenção as graves consequências que decorrem da deturpação da língua portuguesa. No Brasil, uma ala crescente de professores insiste em divulgar e enaltecer o uso das corruptelas em lugar de ensinar as regras fundamentais do vernáculo. Para eles, falar certo é elitista e escrever corretamente é esnobe. Para ser do povo, é preciso falar e escrever de costas para as regras da linguagem.

É a penetração de um nefasto populismo no ambiente do ensino. Trata-se de um cenário falsamente democrático que se destaca pelo cultivo do erro e dos desvios de linguagem. Ou seja, virou politicamente incorreto seguir a gramática. Os próprios livros didáticos se afastam das normas básicas da linguagem e desorientam alunos.

Esse "politicamente correto" está causando uma grande confusão mental, para não dizer uma desorganização do espírito. Os resultados são devastadores. Basta observar o péssimo desempenho dos estudantes brasileiros no ranking internacional determinado pelos exames do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês).

O menosprezo pela linguagem adequada afeta o desempenho dos alunos nas demais disciplinas. Ninguém pode aprender bem História, Biologia,Matemática ou Física, se não dominar sua língua. Ou melhor, ninguém consegue pensar bem, se não manejar corretamente a palavra escrita e oral.

Esse é um dos maiores problemas da escola atual. A maioria dos jovens aprende, quando muito, o necessário para passar nos exames, mas não aprende a pensar.

O quadro é grave e tem reflexos ao longo de toda a vida das pessoas. Os concursos de ingresso nas carreiras públicas e os testes realizados nas empresas privadas barram 80% ou 90% dos candidatos por deficiência de linguagem. Isso mina a produtividade de toda a força de trabalho e do próprio País.

Querer vencer a corrida da competitividade nessa base é sonho de uma noite de verão. Há muito tempo se sabe que o avanço na eficiência e o progresso das nações dependem muito mais do capital humano do que do capital físico acumulado. Não há um só exemplo de país que se tenha desenvolvido sem a boa educação de seu povo.

É bom lembrar que a busca por eficiência é uma corrida em relação a um ponto móvel. A evolução das tecnologias e dos métodos de produção corre muito depressa e exige atualização constante dos trabalhadores. Para acompanhar a meteórica mudança, não basta ser adestrado. É preciso ser educado e, sobretudo, bem educado.É só com a boa educação que se consegue aprender continuamente e acompanhar a referida evolução. E não há como fazer isso sem um bom comando da linguagem. Sem isso, seremos marginalizados social e economicamente. Afinal, é a língua que explica o mundo às pessoas.

É urgente nos livrarmos do populismo defendido por atores desavisados e por corporações que menosprezam e combatemo mérito e as regras básicas do sistema de pensamento - asseguradas pela linguagem correta. O tal politicamente correto está nos colocando a caminho do economicamente ultrapassado numa hora em que os povos estão sendo desafiados a acompanhar avanços que correm a uma velocidade estonteante e jamais registrada pela história da humanidade.

Vila, com amor - SONIA RACY


O ESTADÃO - 05/06

Organizadores do Movimento Pela Vila comemoram: está sendo elaborado projeto de lei, pelo vereador José Américo, para pedir o tombamento da Vila Madalena.

Entre as reivindicações dos moradores, está a criação de regras para a crescente verticalização comercial no bairro que, alegam, é feita sem o devido estudos de impactos.

O Pela Vila – que conta, até agora, com 1.500 assinaturas – também pede a proteção de prédios relevantes e a inclusão da região no rol de bens do patrimônio histórico da cidade.

Vila 2
Não é a primeira vez que um projeto urbanístico envolve o bairro. A ideia de se fazer um boulevard foi arquivada em 2009, pela Prefeitura, após discordâncias entre moradores, comerciantes e donos de bares.

Vila 3
Também não é exclusividade da Vila esse tipo de reivindicação. Moradores de Pinheiros (bairro vizinho) protestaram, na semana passada, contra a demolição de um prédio histórico na rua João Moura.

Rebeldia
Em provável tentativa de se valorizar, expoentes do PR-SP expuseram a tucanos os apelos do comando da campanha de Haddad, para evitar o apoio da legenda à candidatura de Serra. Afirmaram ter recebido oferta da vaga de vice para Aurélio Miguele que, diante da recusa, o QG haddadista tentou convencê-los a fechar com Chalita.

Rebeldia 2
Também deve crescer a pressão para que vereadores tucanos contrários à coligação proporcional na Câmara paulistana silenciem. Além do PSD, o PP, que está prestes a fechar com Serra, colocou na mesa a exigência do “chapão”.

Exigência
Já que terá mesmo de vender a TAP, o governo português sonha e diz desejar que o novo dono seja brasileiro. Entretanto, a legislação impede. A compradora terá de brotar de algum país da Europa.

Tem gente achando que German Efromovich, da Avianca, pode tentar conseguir nacionalidade europeia.

Árvore virtual
Hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente, a Fiesp planta uma semente virtual no Facebook. Missão? Descobrir, na esteira da Rio+20, o que os internautas querem para o planeta nos próximos vinte anos.

As frases mais curtidas e comentadas se transformarão em folhas da copa de uma árvore.

Tá ligado
Novidades sobre o projeto-piloto de táxi elétrico que Kassab lança hoje em São Paulo: serão dez carros, modelo Leaf, da Nissan; e um dos pontos ficará na região da Avenida Paulista.

Privê
Antes de falar no Fronteiras do Pensamento, Cameron Sinclair vai se encontrar, hoje, com Fernando Henrique Cardoso, no Instituto FHC.

O arquiteto britânico é conhecido por soluções para lugares marcados por crises humanitárias.

Brasil, sil, sil
Enfim um brasileiro campeão do mundo. É William Galharde. Modalidade? Tosa de animais.

O rapaz acaba de conquistar o título da Intergroom, em Nova Jersey, depois de aparar, à mão, o pelo de um cãozinho terrier.

Na frente
Zizi Possi e Paula Lima fazem participação especial no musical Samba, Suor, Brasileiro. Direção teatral de José Possi Neto. Hoje, no Teatro Municipal.

Lúcia Menezes lança, hoje, o CD Lucinha. No Tom Jazz, em Higienópolis.

Renata Castello Branco abre exposição Paraisópolis – Uma Cidade Dentro da Outra. Com lançamento de livro. Hoje, no Sesc Pompeia.

A GS1 promove, dia 14, o Brasil em Código, evento sobre automação e logística. No Sheraton WTC.

O restaurante Jaú será inaugurado hoje. Nos Jardins.

A Conectas pilota o debate Internet e Revoluções: Mudar o Mundo num Click?. Dia 11, no Teatro Eva Herz.

A Shoes4you e Flávia Alessandra recebem para brunch de lançamento da coleção de sapatos assinada pela atriz. Hoje, no Baretto do hotel Fasano, nos Jardins.

Viva a república - HÉLIO SCHWARTSMAN


Folha de S. Paulo - 05/06



SÃO PAULO - Terminam hoje as celebrações do jubileu adamantino da rainha Elizabeth 2ª. Os britânicos e os súditos das outras 15 nações das quais ela é o chefe de Estado já são bem grandinhos para decidir se querem ou não mantê-la no posto. E, ao menos no caso dos ingleses, tudo indica que querem.
A pergunta que não quer calar é: de onde vem tanto fascínio com a realeza? A resposta passa pelo essencialismo, a irresistível tendência dos seres humanos de enxergar uma natureza secreta por trás das coisas.
Monarcas souberam explorar isso bem, proclamando que se sentavam no trono por direito divino. Depois do Altíssimo, eram eles que mandavam. Para reforçar a obediência, desde Homero reis reservaram para si os melhores papéis ficcionais. Todos os heróis da "Ilíada" são soberanos ou herdeiros. O mesmo vale para Gilgamesh, os reis Saul, Davi e Salomão, o ciclo arturiano, Beowulf e até as histórias infantis, povoadas por príncipes e princesas. Não é exagero afirmar que, em nossas cabeças, as noções de herói e rei se misturam.
Após 3.000 anos de doutrinação política e literária, seria uma surpresa se não víssemos a realeza favoravelmente. O problema é que, com o progresso da civilização, o princípio mesmo da monarquia se tornou moralmente injustificável. Como defender que um ser humano tenha privilégios em virtude não de seu esforço (ou, se admitirmos o direito de herança, do de seus pais), mas apenas de seu nascimento? É difícil imaginar ideia mais antidemocrática que essa.
O mais incrível é que, em tempos nos quais apenas sugerir que possa haver diferenças naturais entre raças, gêneros e grupos sociais já aciona a patrulha do politicamente correto, milhões de pessoas ainda se encantem com a mais absurda das dicotomias jamais criadas pelo homem: a divisão do mundo em soberanos e súditos. Daí que, mesmo sendo inexpressivo, o movimento republicano inglês tem toda a minha simpatia.

Hora de ampla desoneração tributária - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 05/06


O governo tem incluído, nos diversos pacotes de estímulo ao consumo, o abatimento de impostos, de fato um dos mais pesados componentes do chamado custo Brasil. É o reconhecimento implícito de que a carga tributária, em tendência de alta desde o início do Plano Real, em 1994, funciona hoje como importante obstáculo à retomada de fôlego da economia - praticamente estagnada no primeiro trimestre.

Em todo setor que se analise há sempre o mesmo problema de excesso de impostos. No momento, por exemplo, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, trabalha em medidas para reduzir custos na telefonia e nas telecomunicações. Em entrevista ao GLOBO, o ministro detalhou ações destinadas a aumentar a concorrência nestes segmentos, uma intenção sempre bem-vinda.

Reduzir o peso da conta dos serviços de comunicações significa dar importante contribuição a toda a economia, em fase de perigosa perda de produtividade. Diminuição no número de áreas de DDD, regulação para ampliar o compartilhamento das redes pelas diversas empresas, corte em tarifas nas ligações de telefones fixos para celulares são alguns itens alinhados pelo ministro.

Mas ele reconhece que parte crucial de um programa de redução de custos nas comunicações é de responsabilidade dos estados, cujo ICMS sobre as contas desses serviços varia entre 25% e 35%, enquanto os impostos federais são de 8%. Será preciso, então, um grande acordo com os governadores, em que a União também faça alguma concessão.

O ministro usa o conhecido - e correto - argumento de que o corte de impostos, ao reduzir o custo final para o usuário, aumenta o consumo; logo, o faturamento das empresas. E, portanto, repõe, num segundo momento, a receita tributária inicialmente perdida. Há vários exemplos concretos deste círculo virtuoso. O Estado de São Paulo atingiu este objetivo no álcool e em artefatos de couro. O ICMS foi cortado, e, depois, o volume maior das vendas ampliou a arrecadação.

A visão do ministro Paulo Bernardo para o corte de tributos nas comunicações pode ser estendida a toda a economia, envergada sob o peso de uma fatura de impostos na faixa dos 36% do PIB, a mais elevada entre as economias emergentes, no mesmo nível de países europeus, em que os serviços públicos têm uma qualidade muito acima dos oferecidos pelo Estado brasileiro. Custo muito alto para benefícios sofríveis.

A presidente Dilma tem razão quando diz que, em vez de uma ampla reforma tributária, para a qual seria necessária uma engenharia política quase inexequível, é mais realista atacar a questão dos impostos passo a passo. Sim, mas não por meio de pacotes tópicos, em que é visível o atendimento a demandas de grupos empresariais mais organizados nas pressões sobre Brasília.

No momento em que a capacidade de endividamento das famílias parece se esgotar - reduzindo o efeito de incentivos creditícios ao consumo -, fica cada vez mais evidente que o país precisa, de uma vez por todas, acionar a alternativa dos investimentos. No caso dos públicos, na precária infraestrutura. E o outro recurso são políticas horizontais, e não tópicas, de desoneração tributária. Além do mais, o momento é propício porque a redução da conta de juros da dívida, devido aos cortes na Selic, concede uma folga fiscal para a cobrança de impostos mais baixos. Não se deve perder a oportunidade.

Tropa de choque - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 05/06

O governador Agnelo Queiroz (DF), reagindo à frouxa atuação do PT, criou uma força-tarefa em seu governo para fazer sua defesa prévia na CPI do Cachoeira. Ela é formada pelos secretários mais próximos. Eles estão conversando com os integrantes da CPI para esclarecer as citações ao nome do governador nos grampos da PF. A tentativa petista de jogar a responsabilidade de sua negligência para cima do PMDB não foi digerida por Agnelo.

Sem cortes: cartilha da assessoria do PT
A assessoria do PT produziu documento sobre as investigações Vegas e Monte Carlo. É uma compilação de tudo o que há sobre todos os citados nas investigações. O resumão tem dois capítulos: "Demóstenes Torres" e "Os demais agentes políticos citados nas investigações". O material é recheado com comentários e informações publicadas na mídia. Há um item sobre citações ao ministro Gilmar Mendes (STF). Mas também há sobre seus pares, José Toffoli e Luiz Fux. E, ainda, sobre os governadores Agnelo Queiroz, Sérgio Cabral e Marconi Perillo. No blog deste colunista, há um link para o inteiro teor da referida cartilha.

"O PT não me pediu nada. Adotei um critério para aprovar os depoimentos. O caso do Perillo é mais complicado, mas o Agnelo também foi citado nas investigações da PF” — Ciro Nogueira, senador (PP-PI)

SÓ PENSA NA CRISE. A presidente Dilma reuniu um grupo de ministros no Planalto, ontem de manhã, para avaliar a crise. Estavam lá também o secretário do Tesouro, Arno Augustin (na foto), e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. No final do dia, a conversa foi retomada, com a chegada dos ministros que têm obras e programas em execução: Aloizio Mercadante (Educação), Fernando Bezerra (Desenvolvimento Regional), Aguinaldo Ribeiro (Cidades) e Paulo Sérgio Passos (Transportes).

Ligando tudo
Os integrantes da CPI disputam quase a tapa o acesso ao programa "I2". Ele permite cruzar todos os dados de cada investigado. Ocorre que o Congresso só tem seis chaves de acesso ao software mais requisitado da comissão.

Bolsas
Está em negociação, na MP 559, substituir a dívida das universidades, com débito total de R$ 17 bilhões, por bolsas de estudo. Se vingar, serão 263 mil vagas em cursos integrais. É mais que o ProUni, que este ano ofereceu 195 mil vagas.

Bloqueio recorde
A Justiça federal bloqueou pagamento de R$ 169,2 milhões à Federação Brasileira de Hospitais. O bloqueio é recorde dos últimos anos e refere-se a ajuste inflacionário de cruzeiro (Cr$) para real (R$) nos repasses do SUS. A Federação dizia representar quatro mil hospitais, mas a AGU descobriu que tinha muito hospital atuando sozinho na Justiça. O bloqueio evita duplicidade de pagamento com dinheiro público.

Na contramão
O governador Eduardo Campos (PSB-PE) recebeu informe revelando que o prefeito de Recife, João da Costa (PT), virou uma espécie de herói da classe média local por ter enfrentado e derrotado os cardeais da direção nacional do PT.

Alerta vermelho
Petistas contrários à reeleição de João da Costa, em Recife, temem a reação do eleitorado de esquerda no caso de imposição da candidatura do senador Humberto Costa (PT). Seu suplente é Joaquim Francisco (ex-PFL), hoje no PSB.

O MINISTRO José Antonio Dias Toffoli (STF) comunicou ontem à presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia (STF), que está pronto para dar seu voto no caso do Fundo Partidário do PSD. Toffoli tinha pedido vista em 24 de abril.

MAUS-TRATOS. A presidente Dilma explicou ao rei Juan Carlos: na Inglaterra os brasileiros "inadmitidos" têm acesso à embaixada, a telefone e alimentação. Na Espanha, ficam confinados e sem direitos.

O GOVERNO começou a oferecer ontem remédios para a asma gratuitamente em todas as farmácias. O Ministério da Saúde estima atingir 800 mil crianças.

Na morte do jovem padre - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE S.PAULO, 5/6

Inocêncio Mártires Coelho logo estará no caminho da Comissão da Memória e da Verdade instituída em PE


AO MENOS um dos que conduziram os processos de acusação durante a ditadura está sob o risco, afinal, de ter pesquisada e exposta a sua parte na contribuição sórdida, e muitas vezes criminosa, desses colaboracionistas do sistema de torturas, condenações, mortes e desaparecimentos. O portador do enganoso nome de Inocêncio Mártires Coelho é, por certo, dos que mais merecem, em vida ou em memória, ser reconhecido pelo que foi e fez.
Inocêncio Mártires Coelho logo estará no caminho da Comissão da Memória e da Verdade que o governador Eduardo Campos instituiu em Pernambuco. Em suas primeiras atribuições citadas, a comissão deverá investigar autoria e circunstâncias do ocorrido ao jovem padre Antonio Henrique Pereira Neto, em 1969.
Auxiliar de dom Hélder Câmara, à época arcebispo de Olinda e Recife, padre Henrique sabia que sua função o punha na mira do bando de oficiais do Exército e usineiros que agia no Estado. Não a deixou.
Padre Henrique foi emboscado. Seu corpo ficou com as marcas da tortura brutal. E dos tiros, até seu cadáver ser largado em um ermo da periferia de Recife. A barbaridade do crime ecoou no mundo todo.
Pressões internacionais para que fosse investigado perderam-se, todas, na indiferença do governo e dos militares. Mas havia indícios, havia pistas, havia nomes. E pessoas e instituições dispostas a buscar a identidade da autoria.
Como em outros inquéritos e processos, Inocêncio Mártires Coelho foi o representante de um Ministério Público travesti, par constante do AI-5. Criou todos os embaraços e deixou livres todas as ameaças ao próprio d. Hélder, a seu grupo de fiéis e a quem persistisse no caso do jovem padre.
Inocêncio Mártires Coelho engavetou tudo. É possível que a comissão recupere esse material. Se não, a par da investigação sobre padre Henrique, é muito provável que em jornais e de sobreviventes da época obtenha, se quiser, o suficiente sobre os ainda intocados colaboracionistas do regime nas condenações e na negação dos crimes da ditadura. E Inocêncio Mártires Coelho foi aí uma eminência.

Um livro impossível - VLADIMIR SAFATLE


Folha de S.Paulo, 5/6


"Ensaios sobre Cultura", de Celso Furtado (Contraponto, 198 páginas), é um livro impossível de ser escrito. Ele reúne artigos e intervenções do economista sobre as relações entre cultura e economia, assim como textos de sua autoria à ocasião de sua rápida passagem pelo Ministério da Cultura, entre 1986 e 1988.
Tal livro é impossível porque, atualmente, não é mais pensável um economista falando com profundidade sobre processos de formação cultural e sobre as relações necessárias entre desenvolvimento e criatividade.
Afundada em uma autoilusão que lhe leva a se ver como uma "ciência matemática", a economia ensinada nas universidades em nada mais se assemelha ao impressionante cruzamento entre história, teoria social e sensibilidade para os processos culturais, que fizeram a marca da experiência intelectual brasileira de Celso Furtado.
Acreditando que sua cientificidade é paga necessariamente com seu afastamento do campo das ciências humanas, a economia de hoje deleita-se com modelos de "ação racional" que nada têm a ver com o modo com que ações sociais realmente se constituem por meio da mobilização de crenças, valores e aspirações.
Dessa forma, economista algum é mais capaz de escrever algo como: "Falar de desenvolvimento como reencontro com o gênio criativo e como realização das potencialidades humanas pode parecer simples fuga na utopia. Mas que é a utopia senão o fruto da percepção de dimensões secretas da realidade, um afloramento das energias contidas que antecipa a ampliação do horizonte de potencialidades aberto ao homem? Esta ação de vanguarda constitui uma das ações mais nobres a serem cumpridas pelos intelectuais nas épocas de crise".
Mas, não contente em simplesmente escrever sobre as relações entre desenvolvimento e criatividade, Celso Furtado quis implementá-las. Sua passagem pelo Ministério da Cultura foi um dos momentos mais ousados de criação de políticas culturais no Brasil.
Por meio deste livro, descobrimos quão avançado era seu projeto original de Lei de Incentivo à Cultura. Celso Furtado sugeria que não apenas as empresas pudessem se beneficiar de isenção fiscal ao financiar atividades culturais. Também as pessoas físicas poderiam abater parte de seu Imposto de Renda ao financiar projetos que elas escolheriam a partir de uma lista fornecida pelo MinC. Dificilmente poderíamos pensar em ideia mais bem acabada de democratização da produção cultural e valorização dos impostos.
Ações ousadas como essa só são possíveis para pessoas capazes de aliar conhecimento técnico e sensibilidade cultural. Pessoas impossíveis, como Celso Furtado.

As dúvidas do mensalão - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 05/06


Antes mesmo de começar, o julgamento do mensalão já suscita crises políticas e polêmicas jurídicas. Se, como tudo indica, ele começar a partir do dia 1, de agosto, uma quarta-feira, ou no dia 6, uma segunda-feira, estaremos às vésperas do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV — no dia 21 de agosto.

E provavelmente o julgamento estará chegando ao final perto do dia da eleição para prefeitos e vereadores, 7 de outubro, daí a preocupação de Lula.

Isso quer dizer que, com todo o atraso já verificado, principalmente devido ao fato de que o ministro Ricardo Lewandowski ainda não entregou seu voto de revisor, os eventuais efeitos políticos do julgamento não serão evitados.

Lula e seus seguidores não estão seguros de qual será o resultado e gostariam que fosse anunciado somente depois que as urnas tivessem sido fechadas.

Mas, se ao contrário do que teme o PT, os mensaleiros forem absolvidos, esse certamente será um mote da propaganda petista com bastante apelo eleitoral.

Dependendo das penas que eventualmente receberem, 22 dos 38 réus do mensalão — entre eles o ex-ministro José Dirceu — poderão terminar o julgamento com a prescrição do crime de formação de quadrilha, o que equivale a uma absolvição.

De acordo com especialistas, especificamente para o crime de quadrilha, a prescrição se dá em oito anos, mas só se o máximo da pena for superior a dois anos (a pena máxima para esse tipo de crime é de três anos).

A prescrição pode vir a ocorrer em quatro anos se os réus, ao final do processo, forem condenados a menos de dois anos no crime de formação de quadrilha.

Como o recebimento da denúncia foi em 28 de agosto de 2007, ela já teria ocorrido no ano passado. A interpretação mais acatada é que o prazo para a prescrição do crime de formação de quadrilha é contado a partir do recebimento do processo no STF.

Outra interpretação, embora menos provável de ser adotada, é de que o momento em que cessou a associação teria acontecido em 2005, quando o então deputado Roberto Jefferson denunciou a existência do mensalão.

Se a condenação for superior a dois anos, a prescrição ocorrerá em 2015. E, mesmo na interpretação menos provável, a prescrição seria em agosto de 2013.

Com o calendário fixado em três dias da semana dedicados na parte da tarde ao mensalão — segundas, quartas e quintas —, o julgamento deverá entrar por setembro, o que fará com que o ministro Cezar Pelusotenha que se aposentar antes de seu final.

Se a proposta do presidente Ayres Britto, de fazer sessões diárias para julgar o processo, pela manhã e à tarde, tivesse vingado, esse contratempo seria evitado.

Será preciso saber se o ministro Peluso apresentará seu voto antes de se aposentar, no início de setembro. Caso não o faça, o julgamento poderá continuar com os dez juízes restantes, sem que seja necessário substituí-lo.

Pode ser, no entanto, que a maioria considere imprescindível que o plenário esteja completo para que o julgamento continue, e, nesse caso, será preciso esperar a decisão da presidente Dilma sobre o novo ministro para retomar o julgamento.

O novo ministro, por sua vez, poderá pedir vista do processo para se inteirar dele a fim de proferir seu voto, o que garantirá que o julgamento entre por 2013.

A maioria do Supremo não quer dar ao julgamento do mensalão um caráter excepcional e por isso não aceitou cortar o recesso de
julho para ganhar tempo, e da mesma maneira deve entender que o julgamento pode prosseguir sem a necessidade de um novo ministro ser indicado.

O número par pode provocar novamente situações constrangedoras como os empates acontecidos em alguns casos, mas há também a possibilidade de que o ministro Dias Toffoli se considere impedido de participar do julgamento por já ter sido advogado do PT.

Nesse caso, o julgamento entrará por setembro com nove ministros no plenário do STF. A pressão do ex-presidente Lula para adiar o julgamento a fim de que o anúncio do resultado não coincida com as eleições municipais, cujo primeiro turno é no dia 7 de outubro, também ajudou a que esse detalhe político fosse considerado irrelevante pela maioria do Supremo, que procura dar ao julgamento o ar de normalidade.

Alguns mensaleiros estão interessados diretamente no atraso do julgamento também para poderem concorrer às eleições municipais, como o deputado João Paulo Cunha, que pretende se candidatar a prefeito de Osasco.

Se for condenado no processo do mensalão, ficará impedido de concorrer, enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de políticos condenados por colegiado.

Ele já conseguiu uma vantagem, pois o registro da candidatura precisa ser feito até o dia 5 de julho e é concedido de acordo com a situação do político naquela data.

Mas, ainda assim, Cunha correrá riscos, pois há interpretações de que, condenado no processo do mensalão, ele não poderá tomar posse mesmo se eleito.

Tudo indica que a Assembleia- Geral da OEA em Cochabamba não aprovará a proposta do Equador, que é apoiada por diversos outros países “bolivarianos” como Bolívia e Nicarágua, de reduzir a autonomia da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Apesar do discurso agressivo do presidente equatoriano, Rafael Correa, ontem, acusando a CIDH de ser dominada por ONGs e grupos econômicos ligados aos interesses dos Estados Unidos, o movimento para contê- la não tem a simpatia da maioria dos países, e a comissão continuará cumprindo seu papel de advertir contra os abusos dos direitos humanos e a falta de liberdade de expressão.

Como não deve haver uma disputa acirrada, o governo brasileiro ficará dispensado de explicitar sua posição, que tendia para o apoio aos países “bolivarianos”.

BC e BC do B - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 05/06

A intervenção no Cruzeiro do Sul não é fato isolado. Faz parte do mesmo processo que levou a uma série de resgates de instituições financeiras com dinheiro do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Além do PanAmericano, que foi fraude, apareceram rombos no Schahin, Matone, Oboé e Morada. O assunto compete ao Banco Central como autoridade bancária do país, mas tem sido sempre delegado ao FGC.

Oboé e Morada foram liquidados. Schahin, Matone e PanAmericano, vendidos para outras instituições. Os compradores nada desembolsarem e ainda receberam vultosos empréstimos do FGC. A explicação do Banco Central é que esses outros tiveram "soluções de mercado", ou seja, apareceram compradores, e que o Cruzeiro do Sul não teve. É mais complicado do que isso. O PanAmericano foi o maior dos rombos e recebeu o melhor tratamento.

Como a Caixa Econômica tinha feito a insensatez de entrar de sócia no banco - que carregava essa bomba de efeito retardado - o FGC deu um empréstimo. Depois, descobriu-se novo rombo e foi dado novo empréstimo. Só depois foi encontrado um comprador, o BTG, que pagou 10% do valor da dívida do banco com o Fundo e ficou com o negócio.

Os bens dos administradores e dos antigos donos não ficaram indisponíveis, já os dos donos e administradores do Cruzeiro do Sul ficaram. Que os do Cruzeiro do Sul fiquem indisponíveis, nada mais justo, já que lidam com dinheiro coletivo e têm que responder caso não tenham feito uma boa administração. Mas na soma dos casos, o que se vê é que instituições com problemas semelhantes têm sido tratadas de forma diferente.

O Banco Central é a autoridade bancária do país, mas tem agido através do FGC como se o Fundo fosse uma espécie de BC do B. O que se explica no Fundo e no próprio Banco Central é que a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe financiamento do BC a bancos privados. A única possibilidade seria através do redesconto, uma espécie de cheque especial que custa caríssimo e deixa a instituição sem capacidade de se financiar no interbancário.

Sem espaço para agir, o BC está usando o FGC, que recentemente passou por uma mudança no estatuto, que autorizou, a posteriori, o que já havia sido feito nos vários casos anteriores. Só que o Fundo foi criado não para gerir banco falido, nem para resgatar instituição quebrada, nem para ser um balcão de compra e venda de banco. Foi criado para garantir o dinheiro dos depositantes.

Um banco que está com rombo deste tamanho simplesmente não pode nem pensar em comprar outro banco. Mas o Cruzeiro do Sul comprou o Prosper no fim do ano passado. O BC ainda não deu autorização, mas o negócio foi anunciado. Ao fim do primeiro trimestre, o Cruzeiro do Sul emitiu bônus externos no valor de R$ 2,8 bilhões. O FGC disse que não garantirá esses bônus.

As agências de risco Austin Rating, Risk Bank e LFRating classificavam o Cruzeiro do Sul como um banco de nota A, com perspectiva estável, que oferecia boa garantia de crédito. A Austin já tinha detectado um aumento forte de inadimplência. O total do crédito em atraso da instituição triplicou entre dezembro de 2010 e setembro de 2011. O crédito podre, com nível H, ou seja, atraso de mais de seis meses, subiu 40%. As ações do banco tinham um desempenho semelhante ao do setor, com queda de 11% até 29 de maio, última terça-feira. Daí até sexta as ações despencaram 40%.

O economista Roberto Luis Troster disse que a dinâmica do crédito piorou para todos os bancos, e não apenas para o Cruzeiro do Sul:

- Uma pesquisa recente do Ipea mostrou que 92% das famílias não querem tomar crédito por um tempo e que 31,7% delas estão com as contas atrasadas. O IBGE disse que 14,1% das famílias estão superendividadas.

Logo que começou a crise de 2008, bancos pequenos não conseguiram se financiar no mercado, e o Banco Central incentivou os grandes a comprarem carteiras de crédito dos menores. Na época, o Cruzeiro do Sul vendeu carteira, e vários outros menores, também. Depois, o FGC financiou a compra de instituições com problemas. Só no PanAmericano ele colocou mais de R$ 4 bilhões, isso sem falar no que a Caixa teve que pôr antes, durante, e depois no banco. O Banco do Brasil comprou participação no Votorantim e recentemente informou-se que os dois sócios farão aportes de capital entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões. Um dos problemas é a alta inadimplência na carteira de veículos.

Enfim, há confusão suficiente por aí e o mar não está para peixe. É preciso fiscalização mais frequente do Banco Central e preventiva. O BC tem que ter mais instrumentos para agir em situações como essa e não operar sempre através do FGC.

Se perguntado, o BC dirá que o Fundo Garantidor de Crédito é uma entidade privada, dinheiro dos bancos, e que atuou em todos esses casos porque quis. Em conversa franca com banqueiros e executivos do mercado, eles contam que o BC tem empurrado o FGC, que se deixou empurrar. Os grandes bancos, que administram o fundo, tinham emprestado para esses bancos que apresentaram problemas. Para sanar o óbvio caso de conflito de interesses, foi mudado o estatuto e nomeada outra direção para o FGC.