
terça-feira, maio 05, 2009
ARNALDO JABOR
A ideia de "totalidade" que animou a "razão humana" por milênios acaba de falecer. Acabou de morrer com o socialismo. O homem pensa como um organismo, deseja que a vida seja um corpo funcional. Tudo aspirava a ser "um". Toda razão sempre aspirou à totalidade.
Agora só há fragmentos. Os pensadores ainda fingem gostar do fragmentario, do caótico, do incontrolável. Mentira. Cada fragmento se reerige em totalidade. De onde falamos, quando pedimos o bem? Falamos de uma "harmonia perdida", como se ela fosse ainda possível, ou tivesse algum dia existido.
Só a ficção previu a ilógica do mundo atual. Kafka e Beckett previram o mundo de hoje muito mais claramente que os cientistas políticos. Disseram para Brecht: "Kafka foi o primeiro autor bolchevista". Brecht observou: "E eu sou o último escritor católico".
Por que praticar o bem se ele não é mais possível? O mal virou uma necessidade social. Não dá mais para viver sem praticar o mal. Não dá para estragar a nossa felicidade cada vez que olhamos para crianças famintas. O mal é um mecanismo de defesa. O mal é sempre o "outro". Nunca somos "nós". Hitler nos absolveu a todos. Stalin nos fez santos.
Achamos que a "tarefa democrática" seria um subproduto do capitalismo, como se ele almejasse a diferença, a contemplação das diversidades. É ilusão achar que o capitalismo almeja o heterogêneo. Vejam a obviedade da crise financeira, gerada pelos vícios da voracidade e do egoísmo. Sempre houve um grande "auê" com as injustiças da ditadura. Mas, e o mal dos democratas? Estamos na era do erro inextrincável. Do crime "sem criminosos".
Nem bem nem mal. São as coisas que estão controlando os homens. É o CO2 que controla os governos e não o contrário. As coisas tomaram o poder. Cito Heiner Muller: "A máquina odeia o homem, pois para todo sistema de ordem ele apresenta um fator de perturbação. O homem faz sujeiras, não funciona. Logo, é preciso que ele se vá, o capitalismo deseja a perfeição do sistema estrutural da máquina".
Os fiascos de hoje são defeitos de fabricação. Ou o lixo que o lixo do capitalismo gera. A gripe suína nasce de onde? Deste grande pesadelo poluído e sem controle. No Brasil, muitas catástrofes são "fora do lugar". A evolução técnica convive com o ambiente de miséria e dá no "mal functioning". Explodem pela soma de novas tecnologias com o excesso de atraso: traficantes no morro com supermetralhadoras.
Todos sabíamos que a bolha poderia explodir. Explodiu. Esse malogro traz uma nova era? Terrível ou não, alguma verdade vem aí. Que nova verdade será essa? A prudência, a parcimônia?
Nossa catástrofe maior é a impotência política, Há também o naufrágio da insensibilidade crescente diante do horror. Os fatos estão além da piedade. Há o tédio crescente pela catástrofe, quando a alma vira uma grande pele de rinoceronte.
Mas, há ainda um grande amor brasileiro pelo fracasso, pela falência de propósitos. Quando o fracasso acontece, é um alívio. A fracasso é bom porque nos tira a ansiedade da luta. Já perdemos, para que lutar?
O mal do Brasil não está no assassino serial, está nos pequenos psicopatas que nos roem a vida. Não está na infinda crueza da burguesia nordestina (pior que a do Sul e Sudeste); está muito mais no seu riso, na sua cordialidade. O mal não está na máfia das passagens aéreas no Congresso, nas roubalheiras, mas nos simpáticos jaquetões dos nossos parlamentares, em suas gargalhadas soltas.
Ao denunciar o mal, vivemos dele. Vivemos da denúncia e com ela lucramos. Eu lucro sendo um cara "legal" que denuncia o mal e, assim, escapo da fome, comendo a comida de quem lamento.
Como quase nada acontece no Brasil, a não ser o desatino, o erro da tentativa, o tiro pela culatra, a incompetência arrogante, quando um desastre ou escândalo acontecem, a plateia fica calma. Nossa vida fica mais real e podemos então, aliviados, botar a culpa em alguém.
E dizemos: "Viram? Nada dá certo aqui… a culpa é deles…" Eles quem?
Há uma tradição de que nossa vida é um conto-do-vigário em que caímos. Somos sempre vítimas de alguém. Nunca somos nós mesmos. Ninguém se sente vigarista.
Há os fiascos em preparação, como as reformas do Estado que o Congresso não deixa fazer; há as catástrofes da lentidão dos processos jurídicos; há os eternos denunciadores do fim, fotógrafos, escritores, jornalistas (eu?), gente que denuncia o mal do mundo para o mundo, denúncias que são um pleonasmo maldito para nada.
A vitória é burguesa. "Seja marginal, seja herói." O fracasso é legal, a vitória é careta. A vitória dá culpa; o fracasso é um alívio.
A crise, a catástrofe, o bode preto têm um sabor de "revolução". É como se a explosão "revelasse" algo, uma tempestade de merda purificadora. Além disso, para os carbonários, depois de tudo arrasado, a pureza renasceria do zero.
O Brasil é visto como um grande "bode" sem solução - paraíso da esquerda pessimista, dos militantes imaginários. Quem quiser positividade é traidor. A Academia cultiva o "insolúvel" como uma flor. Quanto mais improvável um objetivo, mais "nobre" continuar tentando. O masoquista se obstina com fé no impossível.
A falência nos enobrece. O culto português à impossibilidade é famoso. Numa sociedade patrimonialista como Portugal do século XVI, onde só o Estado-rei valia, a sociedade era uma massa sem vida. Suas derrotas eram vistas com bons olhos, pois legitimavam a dependência ao rei. Fomos educados para a desgraça. Até hoje somos assim; só nos resta xingar e desejar o mal do país.
Vejam como o Brasil se animou com a crise. Assim como o atraso sempre foi uma escolha consciente no século XIX, o abismo para nós é um desejo secreto. Há a esperança de que no fundo do caos surja uma solução divina.
"Qual a solução para o Brasil ?", perguntamos. Mas, a própria ideia de "solução" é um culto ao fracasso. Não nos ocorre que a vida seja um processo, vicioso ou virtuoso e que só a morte é solução. Para o bem ou para o mal.
CLÁUDIO HUMBERTO
40 MIL POLÍTICOS RECEBIAM BOLSA FAMÍLIA
Mais de 40 mil candidatos às eleições de 2006 e 2008 eram beneficiários do programa Bolsa Família, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União realizada nos programas sociais do governo federal. O TCU ainda não sabe (ou ainda não divulgou) quantos foram eleitos desse total. A descoberta foi possível com o cruzamento dos CPFs dos candidatos registrados na Justiça Eleitoral com os dos beneficiados pelo programa.
FARRA CONTINUA
Já botando gente pelo ladrão, o programa Bolsa Família vai aumentar o número de cadastrados e elevar a renda mínima de R$ 120 para R$ 137.
SÓ CEGO NÃO VÊ
Se o Rio sediar a Olimpíada de 2016, Drummond e Ary Barroso não verão nada sem os óculos, roubados de suas estátuas quase todo mês.
TARSO NO CAMINHO
O lançamento antecipado do ministro Tarso Genro ao governo gaúcho atrapalhou a negociação para o PMDB-RS apoiar Dilma para presidente.
TRAGÉDIA POUCA É BOBAGEM
São Pedro foi taxativo: Roseana Sarney tem que governar o Maranhão até debaixo d’água
CASSOL EMPERRA LICENÇA PARA JIRAU
O Palácio do Planalto está pelas tampas com o governador de Rondônia, Ivo Cassol, que foi cassado pelo TRE e atualmente espera no corredor da morte no Tribunal Superior Eleitoral. Ele está emperrando a liberação da licença do Ibama para construção da hidrelétrica Jirau, investimento de R$ 9 bilhões no Estado, alegando que vai alagar 4 hectares de uma reserva, criada por ele em terras da União, portanto, sem amparo legal.
PROPOSTA IGNORADA
A Energia Sustentável, concessionária de Jirau, propôs investimentos de R$ 60 milhões e doar 7 hectares de floresta para cada hectare inundado.
CHAMADO ÀS FALAS
Lula vai receber Ivo Cassol amanhã, com Dilma Roussef (Casa Civil) e Edison Lobão (Minas e Energia), para dar um chega-pra-lá nele.
MÁSCARA E MORDAÇA
Mexicanos usam máscara e seu presidente Felipe Calderón usa mordaça para calar a imprensa, endurecendo o regime com apoio americano.
MEMÓRIA 1.0
Não chega a 1Mb a memória do presidente Lula, que “nunca deu passagens à Europa para os filhos”. E nem precisou: a herdeira da Andrade Gutierrez forneceu, alguns anos atrás, estada em Paris da filha Lurian.
CHECK-IN DE MOCRÉIA
É simples resolver o gasto extra às nossas custas: já que Lula vê “hipocrisia” em vetar passagens para mulher de deputado, anistiando-os, de agora em diante só não paga consorte bonita e sem botox.
CAFÉ COM O PRESIDENTE
Mais água, nem pensar: a Presidência da República reservou R$ 11,8 mil para o café de Lula, convidados e assessores até o fim do ano. O quilo do “Gourmet”, 100% arábica, custa R$ 14. Só dele são 520 pacotes.
NON, GRACIAS
O governo da Colômbia dispensou a ajuda do Brasil no resgate do militar Pablo Moncayo, há quase 12 anos em poder dos bandidos das Farc. Marco Aurélio Garcia, aspone de Lula, continua sem ter o que fazer.
PÕE NA CONTA
Os organizadores da OTC, a maior feira de petróleo do mundo em Houston (EUA), discutem a devolução dos US$ 50 que 400 empresários pagaram pela palestra da ministra Dilma Rousseff, cancelada ontem.
TRABALHISTA NO STF
O presidente da Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas, Luis Salvador, encaminhou carta a Lula pedindo um advogado trabalhista para a vaga a ser aberta no Supremo Tribunal Federal com a saída da ministra Ellen Gracie. O trabalhista Roberto Caldas está em campanha.
QUEM QUER VOTAR?
Projeto do deputado Guilherme Campos (DEM-SP) obriga os podres poderes a divulgar na internet passagens utilizadas e seus beneficiários, e revertendo milhagens em favor dos órgãos, não dos viajantes.
SEMPRE ELAS
As companhias aéreas colaboram para a farra de passagens no setor público: malandramente, só concedem crédito de milhagem a pessoas físicas. Com isso, escapa da pressão por trocar milhas por descontos.
PENSANDO BEM...
...reabilitados por Lula com a “hipocrisia das passagens”, os “300 picaretas” qualquer dia pedem indenização por calúnia.
PODER SEM PUDOR
SÓ MUDOU O ADEREÇO
O governador paulista, José Serra, foi ao Maranhão, já em campanha para presidente, e o deputado tucano Sebastião Madeira foi obrigado a ouvir, da quarta fila do palanque, elogios ao então ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, e à irmã Roseana, então e atual governadora. Ouviu também as gozações do deputado Domingos Dutra (PT). Após a visita de Lula a Balsas, dias depois, Madeira foi à forra:
– Agora, você ficou na quinta fila do palanque e ouviu de Lula os mesmos cumprimentos para os mesmos personagens. Não mudou nada, só o adereço. E vá se conformando com o comando da oligarquia.
VINÍCIUS TORRES FREIRE
Associação faz pesquisa sobre imagem de bancos; crítica de "mitos" sobre o seu negócio, divulga escassa informação |
A banca anda tiririca com a queixa contínua sobre "spreads" etc. Atribui ao governo e a Henrique Meirelles, presidente do BC, a responsabilidade pela deflagração da "campanha" e pela má fama mais recente.
Nos dois meses seguintes à explosão da crise, em setembro de 2008, o povo dos bancos dizia (ou ao menos conta que dizia) ao pessoal do Banco Central que a lerdeza do BC no relaxamento do crédito contribuía para o tumulto. Passado o terror, banqueiros contam que não foi nada improvável a quebra de um banco menor naquele trimestre final de 2008.
Tal azedume entre as partes, ex-pares e futuros pares, ficou público em janeiro, quando Marcio Cypriano, do Bradesco, pediu corte emergencial de juros em reunião de empresários e governo. Meirelles rebateu que o problema não era a Selic, mas o "spread" bancário. Desde então, fala-se um tanto menos de Selic. Esperto, Meirelles passou o "problema de imagem" para a banca.
No domingo, em entrevista a esta Folha, Fabio Barbosa, presidente da Febraban, tentou outra vez desfazer o que chama de mitos sobre a atividade bancária, de fato objeto de vários disparates populistas.
Barbosa diz que o crédito dos bancos privados cresceu na crise, "em termos nominais". Bem, desde setembro, cresceu 2% (em termos reais, caiu). Nos públicos, cresceu 18%. Mais divertido, diz que, "principalmente em setores mais sensíveis a preços", uma redução de juros nos bancos estatais faria a banca privada se mexer. A expressão divertida é: "mais sensíveis a preços". A gente imagina então que parte dos negócios dos bancos não é sensível a preços, a idas e vindas do mercado. Bancos fixariam os preços (juros) e pronto. Quando isso ocorre em outros mercados, a gente suspeita de oligopólio.
A Febraban se queixa de que os dados sobre "spread" (divulgados pelo BC) são limitados e mal-entendidos. De fato, o número do BC é uma média. Esse valor absoluto pouco diz sobre a situação dos vários mercados de empréstimos. Serve mais para indicar se o "spread" subiu ou caiu, muito ou pouco. Mas a Febraban contesta o dado com um estudo que também trata de valores absolutos, misturando de resto maçãs com jacas, pois enfia na conta os "spreads" de juros regulados. Faz uma contrapropaganda tão frágil como aquilo que critica.
Barbosa repele outra vez a ideia de que bancos ganham dinheiro com a Selic alta: o dinheiro que os bancos captam custaria 2% mais que a Selic (se investirem só em juros da Selic, perdem dinheiro, óbvio, embora vários papéis do governo paguem mais que Selic). Mas esse custo é o de uma média de bancos? Uma das médias criticadas pela Febraban (como a do "spread")?
Das associações empresariais grandes, a Febraban é a mais pobre e enviesada no quesito produção e divulgação de informações. "Contribuiria para o país" se fornecesse mais números para o debate.
INFORME JB
PT do Rio vai para o tudo ou nada
Leandro Mazzini
JORNAL DO BRASIL
O PT do Rio vive um dilema que transcendeu as hostes e mexe com os palácios do Planalto e Guanabara: lança candidato ao governo ou apoia a reeleição de Sérgio Cabral? Tudo gira em torno do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (foto). O presidente Lula o incentiva, mas sob os holofotes torce para que o partido reforce a chapa do PMDB e abra forte palanque na campanha presidencial de Dilma Rousseff. O presidente estadual do PT, Alberto Cantalice, defende a coalizão. "Os 10 prefeitos do PT têm parceria com Cabral". Mas Lindberg bate pé, e por tanto o fazer, virou o trunfo da legenda: "Ele é um nome nacional, que ajuda a fortalecer o PT", lembra o ministro da Igualdade Racial, Edson Santos. O quadro mensurável de forças na legenda, segundo Cantalice, hoje está assim: "60% querem a aliança e 40%, a candidatura própria".
Brilho da estrela Lá ou cá
O que os maiores nomes do PT querem hoje é que a estrela do partido recupere seu brilho no Rio, e não vire apenas um partido de negociação, sem nomes políticos. "Podemos fazer uma aliança programática, mas com o PT forte", diz Edson Santos.
O ministro da Igualdade Racial, que é deputado federal, diz que seu plano A é concorrer à Câmara. Não descarta, porém, o Senado, se o nome for indicado.
Bené
Já o chefe estadual petista, Alberto Cantalice, diz que a vaga para o Senado é de Benedita da Silva, hoje secretária de Cabral.
Um por todos...
E cresce também no partido a ideia de que Lindberg seja vice de Sérgio Cabral.
Trilha do Lula
Foram concluídas as filmagens da produção Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto. O diretor já trabalha na ilha de edição. E estuda agora nomes de compositores para a trilha sonora.
Trailer
A ministra Dilma Rousseff chorou. O chefe de gabinete do homem, Gilberto Carvalho, ficou emocionado. Ambos já assistiram ao vídeo promocional de sete minutos do filme. O lançamento será em janeiro.
Pauliceia
Por falar em Dilma, ela será homenageada em grande ato do PT paulista no sábado.
Rio 2016
O COB enviou as imagens da visita do COI ao Rio para mais de mil emissoras mundo afora.
Crime e castigo
A Justiça de Alagoas enquadrou o empresário Alberto Rodrigues da Silva, dono da pousada Encontro das Águas, em Maragogi. Foi condenado a sete meses de detenção por construir a pousada em área de preservação permanente, sem licença ambiental.
Brasilllll!
Mas... como o crime é comum em praticamente todo o litoral brasileiro, e a pena é inferior a quatro anos, o empresário poderá cumpri-la com prestação de serviços à comunidade.
Saúde mineira
Para manter a tradição de capital que mais investe no programa, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, vai contratar 40 equipes para o Programa Saúde da Família.
Plantão médico
Atualmente, 512 equipes da PSF atuam em BH, e cobrem 75% da área carente da cidade.
Sai, mosquito
Só para constar. Em BH, a prefeitura já recolheu 50 mil pneus em poucos meses num trabalho contra a dengue.
Caó, a lei...
O ex-deputado pedetista Carlos Alberto de Oliveira escreve o livro Abolição da escravatura, em que lembra os 20 anos da Lei Caó, criada quando ele era constituinte. A lei aperfeiçoou a Lei Afonso Arinos, como instrumento legal contra o preconceito.
... e Brizola
Caó foi o primeiro negro a assumir uma secretaria de Estado (Trabalho e Habitação), em 1983, no primeiro governo de Leonel Brizola – o que será muito bem lembrado no livro.
COISAS DA POLÍTICA
Suplicy pensa sair para governador
Tales Faria
JORNAL DO BRASIL - 05/05/09
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) tem um jeito meio devagar de falar e de gesticular, o que faz com que muitos de seus interlocutores pensem até que ele é meio bobão. Mas de bobo Suplicy não tem nada. Aliás, diz-se em Brasília que não há bobos no Congresso. Se o leitor quiser ter uma ideia de como está antenado o senador, basta conversar um pouco com ele, por exemplo, sobre as eleições de São Paulo. Você ouvirá que a situação está em aberto na política do estado, especialmente dentro do PT, e que ele próprio ainda não decidiu se será candidato a governador. Na linguagem política isso quer dizer o seguinte: Suplicy está estudando detidamente a hipótese. Tanto que tem até um levantamento de potenciais adversários dentro do partido. Ele conta 13 nomes logo de saída:
– A Marta (Suplicy, sua ex-mulher e ex-prefeita da capital) e o senador Aloizio Mercadante são dois candidatos naturais. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci é o predileto do presidente Lula, segundo foi revelado pelo Mercadante. Mas há outros nomes fortes. O ministro Fernando Haddad, da Educação; o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia; o prefeito de Osasco, Emílio de Souza; o ex-prefeito de Guarulhos Eloi Pietá; o Edinho Silva, que foi prefeito de Araraquara duas vezes; o prefeito de São Bernardo e ex-ministro, Luiz Marinho; o José Felipe, prefeito de Diadema; o deputado federal José Eduardo Cardoso, que é secretário-geral do PT; o presidente nacional do partido, deputado Ricardo Berzoini; e até o deputado José Genoino, que passou por problemas mas foi presidente nacional do PT. Todos são nomes muito fortes para concorrer ao governo do Estado.
– Mas o senhor também é um nome muito forte
– De fato, de todos esses nomes, se formos considerar qual teve a maior proporção de votos no Estado, sou um nome. É um dado de realidade. Em 2006, fui reeleito senador com quase 9 milhões de votos, 47,8% do eleitorado.
– O senhor poderia até disputar com a ministra Dilma Rousseff a indicação para candidato a presidente.
– Nesse caso, já tivemos uma longa conversa, na qual a ministra se mostrou empolgada com o meu programa Renda Básica pela Cidadania. Eu respondi que, estando ela assim tão empolgada em levar a ideia adiante, eu declarava meu apoio formal à sua candidatura. Informei ao presidente Lula, em janeiro, num voo entre Brasília e São Paulo, que não seria pré-candidato a presidente e que estou engajado na campanha da ministra. Ou seja, nós estamos nos entendendo muito bem. Profundamente.
– Então é mais um dado a favor de sua candidatura ao governo?
– Sinceramente, está tudo em aberto. Tudo em aberto. Não tomei qualquer decisão. Agora, realmente muitas pessoas têm me procurado insistindo que devo ser candidato. Veja aqui, por exemplo, tenho este e-mail de um ex-aluno que é vereador em Barra Bonita. Ele diz: "É chegada a sua hora de assumir o governo de São Paulo". O argumento é de que, como governador, posso ajudar melhor a ministra Dilma na implantação do projeto Renda Básica da Cidadania. Recebi uma pesquisa de um eleitor, feita por e-mail, em que uma boa parte das pessoas defende que eu continue como senador, pois meu mandato vai até 2015. Mas outra parte defende com ardor que eu concorra ao governo. Tenho amigos que dizem até que devo começar a ampliar o leque de assuntos para tratar da campanha. Não falar só no Renda Básica.
– E para onde o senhor está pendendo?
– Olha, estou conversando, conversando muito. Pretendo falar com todos no PT que podem ser candidatos ou que têm algum tipo de participação no processo. Ter um diálogo com todas essas pessoas.
– Inclusive a Marta?
– Sim. Inclusive a Marta. No ano de 2000, pediram-me que eu fosse candidato a presidente, mas aliados da Marta argumentaram que eu não anunciasse isso, para não atrapalhar sua candidatura à prefeitura. Deixei para anunciar só depois que ela se firmou. E fiz campanha por ela. Em 2004, também, quando a Marta foi candidata à reeleição. Em 2006, não coloquei meu nome para governador, e ela disputou a vaga com o Mercadante. Em 2008, também a apoiei. Agora está tudo em aberto.
ANCELMO GOIS
Em março, de cada 100 carros que saíram das fábricas no País, 87 eram flex, movidos por mais um de tipo de combustível.
O Brasil deve ser o único País com uma rede de postos onde se vende, quase sempre, uma gama de combustíveis – como gasolina, álcool, GNV e diesel.
ERA DA INCERTEZA
Veja como, em tempos de incerteza, cresce a legião que procura concursos públicos. A Prefeitura de São João da Barra, RJ, recebeu 25 mil inscrições numa seleção para 280 profissionais de saúde. É que o salário de médico e dentista é de... R$ 6 mil.
Agora, o problema é o local das provas, dia 17. Na cidade, de 32 mil habitantes, não há espaço capaz de abrigar tanta gente.
‘MULHER DO LULA’
Na oração ao ar livre pela saúde de Dilma Rousseff, domingo, em Santa Clara do Guandu, lugar pobre de Nova Iguaçu, RJ, as crianças, no meio da praça, respondiam a outras que perguntavam quem é a ministra:
– É a mulher do Lula, ora!
O PETRÓLEO É NOSSO
Ainda sobre a Marcha da Petrobras, música de 1959 lembrada agora por Lula: segundo Valéria Barbalho, filha de Nelson Barbalho, autor da letra, Gonzagão só gravou um compacto.
É que a americana RCA proibiu na época o artista de incluí-la num LP, “por ser subversiva”.
A VOZ DO TUPI
O locutor desse comercial da Petrobras que saúda o início da operação do Campo de Tupi, no pré-sal, é o ator José de Abreu.
Há quem ache que o tom de voz lembra o de Lula. Mas, o Pandit de Caminho das Índias diz que a voz é a sua de sempre.
BANCO DO GORDO
A Câmara de Fortaleza discute projeto que obriga empresas de ônibus a por assentos exclusivos para passageiros obesos.
A VIAGEM NATIMORTA
Yaakov Keinan, ex-embaixador israelense aqui, enviou carta à comunidade brasileira em seu país, pedindo afastamento da presidência honorária do Centro Cultural Brasil-Israel, por causa da visita, agora cancelada, de Mahmoud Ahmadinejad.
No texto, critica o governo Lula por receber o iraniano e afirma: “Essa visita mostra uma faceta do Brasil que não concorda com a cultura brasileira, que estou disposto a promover”.
DOR DE BARRIGA
Ontem, na posse da diretoria Andima, no Rio, Sérgio Cabral meteu o malho em Cesar Maia:
– Em 2008, Lula esteve no Rio 14 ou 15 vezes. Em nenhuma, o ex-prefeito o recebeu. Até por educação, deveria ter ido ao aeroporto e inventado uma desculpa: “Olha, não vou ficar, porque estou com dor de barriga”.
BOLSA CONTROLE
O governo anunciou semana passada um acordo entre os ministérios do Desenvolvimento Social e da Previdência para aprimorar o controle sobre a execução do Bolsa Família e do programa de Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social. Pois bem. Porém, não explicou que as medidas eram uma exigência do TCU, que encontrou uma brecha que poderia provocar pagamentos irregulares no Bolsa Família.
ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA - O vem-não-vem do presidente do Irã deixou um saldo negativo para o Brasil: o país teve todo o desgaste da articulação para o encontro de Lula e Mahmoud Ahmadinejad, mas acabou não tendo nenhuma vantagem. Perdeu muito (em críticas) e não ganhou nada.
A vinda do iraniano era um passo pragmático, mas arriscado, de política externa. Havia bons motivos -políticos, para reforçar a independência brasileira em relação a Washington; estratégico, para puxar o Irã para dentro da chamada "comunidade internacional"; econômico, para recuperar a perda de 40% nas exportações brasileiras para o país entre 2007 e 2008.
Como tudo o que é arriscado, podia dar certo ou dar errado e virar um fiasco. Foi o que ocorreu. O bônus evaporou-se e ficou o ônus da aproximação com o Irã, que está no olho do furacão internacional.
Para "cima", o regime de aiatolás irrita os governos ocidentais, a começar do norte-americano, com seus programas nuclear e balístico (mísseis), numa região em que qualquer faísca já é explosiva.
Para "baixo", é acusado de perseguir judeus, Bahá'ís, homossexuais e feministas, que ameaçavam fazer protestos em Brasília, no Rio, em São Paulo e onde mais coubesse, contra a chegada de Ahmadinejad amanhã. Mas ele avisou que só vem depois da eleição de 12 de junho (ou seja: se ganhar).
Desde a semana passada, a embaixada em Teerã enviava sinais de que Ahmadinejad estava recuando da viagem. Porque a disputa está quente. E porque tudo o que candidatos não querem é virar alvo de protestos em países alheios.
A aproximação com o Irã, entretanto, continua. E nas mesmas bases das relações com Israel. O Brasil condena os ataques verbais de Ahmadinejad a Israel, como faz diante da matança de crianças em guerras.
Nos dois casos, a condenação é pontual, a decisões e atos de governos, não a países. Os regimes passam, os países ficam. O mundo globalizado e o comércio também.
CARLOS HEITOR CONY
Doenças e doentes
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/05/09
Quinta-feira passada, na sessão habitual da Academia Brasileira de Letras, presentes dois médicos acadêmicos, Ivo Pitanguy e Moacyr Scliar, comentou-se aquilo que os jornais estão chamando de “pandemia”: a gripe suína. Na condição de sanitarista, Scliar explicava o que podia e dava conselhos genéricos aos colegas, que, apesar de imortais, muito se preocupam com tudo aquilo que ameaça a própria e discutível imortalidade.
Não vou repetir os conselhos do Scliar. Ao final, eu lhe perguntei se não havia um jeito de mudar o nome da doença. Morrer não chega a ser das coisas mais agradáveis, e morrer de gripe suína é dose, um pleonasmo do azar.
Não é nada não é nada, quando cheguei em casa, soube pelos telejornais que os suinocultores de todo o mundo haviam conseguido mudar o nome da gripe, que passou a ser uma referência técnica, parecida com uma doença de ficção científica.
Em criança, falavam em espinhela caída. Até hoje não sei do que se trata, mas sinto ainda frio na espinha quando penso na doença que era comum no Lins de Vasconcelos.
Birra especial tinha pela sífilis, que era “syphilis”, provocada por um micróbio que atendia ao nome científico de Treponema pallidum. Nada contra o ‘Treponema’ em si – que também não sei o que é –, mas contra o “pallidum”. Quando me diziam ‘Este menino está pálido’, eu corria ao espelho para examinar a devastação, que acreditava ter início pela língua.
Nome de doença é importante pra burro. Lembro a piada do sujeito que encontrou o rapaz e perguntou pelo pai. ‘Morreu’. O sujeito se espantou: ‘Morreu? Mas como?’. ‘De pneumonia’. Alarmado, fez outra pergunta: ‘Dupla?’. A resposta foi: ‘Simples’. O sujeito deu um suspiro de alívio: “Ah!...”.
DORA KRAMER
Doutrina PC Farias
O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/05/09
Em 1992, Paulo César Cavalcanti Farias (1945-1996) pronunciou três devastadoras palavras na CPI encarregada de investigar denúncias de corrupção do governo Fernando Collor e inaugurou uma tese que na época provocou constrangimento, mas, de lá para cá, só fez ganhar adeptos.
“Somos todos hipócritas”, decretou ele em alto e bom som na sala da CPI, ao ser questionado se a origem do dinheiro circulante no chamado “esquema PC” era o caixa 2 da campanha presidencial da qual ele havia sido tesoureiro três anos antes.
O plenário silenciou, impactado ante o argumento que buscava fazer de todos ali, deputados e senadores, cúmplices tácitos de práticas usualmente adotadas, mas jamais confessadas.
O ex-tesoureiro não conseguiu se safar, mas alcançou o objetivo imediato de nivelar por baixo todos os que ali estavam.
Não houve reação à altura na ocasião. Tampouco houve correção de procedimentos nestes 15 anos que separam o Brasil que enxergou no impeachment de um presidente por corrupção a elevação de patamar da democracia brasileira do País que vê o presidente da República lançar mão daquele mesmo argumento para defender o direito do Congresso de transgredir impunemente.
É possível que haja relação de causa e efeito entre uma coisa e outra. Se as palavras de PC Farias tivessem mexido com os brios dos políticos, a democracia poderia ter avançado de verdade e provavelmente hoje não se ouviria o presidente Luiz Inácio da Silva chamar de “hipocrisia” as críticas aos abusos do Congresso no uso dos benefícios públicos - no caso, passagens aéreas - para fins de natureza privada.
O problema é que de lá para cá os critérios de conduta só fizeram afrouxar. E tornaram-se definitivamente elásticos quando o partido defensor da ética incorporou a frouxidão ao assumir o poder. No dizer que Lula, “somos todos hipócritas” ao exigir dos congressistas e de todos os detentores de função pública, com mandato ou não, um mínimo de respeito à probidade.
O presidente poderia ter arrumado outro modo - menos agressivo à opinião corrente entre o público pagante - para mostrar seu apreço ao Congresso, mas escolheu fazê-lo em afronta à luta pela melhoria dos costumes.Poderia ter sido um incidente, não tivesse ele sido reincidente. E aqui a referência não é apenas à notória defesa do uso do caixa 2 em campanhas eleitorais como algo já incorporado à vida política nacional.
Nestes anos de governo por mais de uma vez o presidente já considerou “hipócritas” as restrições impostas às ações dos governantes no uso da máquina pública em períodos próximos a eleições.
O político Luiz Inácio pode pensar como quiser, mas o presidente Lula tem o dever de só dizer o que possa contribuir para melhorar o País. No caso das passagens, antes tivesse feito suas as palavras do advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, em entrevista à Veja desta semana.
“Quem exerce função pública só pode gastar dinheiro público no interesse público. É preciso acabar com esse costume de passar a mão na cabeça dizendo que o erro foi pequeno, que coisa de mil reais, que foi só uma passagem aérea. Mesmo o erro pequeno precisa de punição.”
AOS CÉSARES
Fala-se pouco ou quase nada a respeito, mas era o PSDB, na figura do hoje governador de Minas Gerais Aécio Neves, quem presidia a Câmara quando foram instituídas duas normas cujas consequências agora se paga: a verba indenizatória e o sistema pelo qual as medidas provisórias interditam a pauta de votações do Legislativo.
Ambas as ideias visavam na época a resolver problemas aparentemente incontornáveis. A verba entrou em cena no lugar do aumento de salários - reivindicado pelos parlamentares e repudiado pela opinião pública.
A sistemática das MPs mudou imaginando-se que, assim, o Congresso teria o maior interesse em apressar as votações, pois até então deixava as medidas provisórias ao sabor de infinitas reedições por parte do Executivo.
A mudança foi intensamente negociada com os líderes e o Palácio do Planalto, onde dava expediente Fernando Henrique Cardoso. Olhando da perspectiva de hoje, a dúvida é se houve erro de cálculo ou se foi tudo muito bem calculado para aumentar o poder do Executivo sobre a agenda do Legislativo.
Qualquer que tenha sido o tropeço do passado, fato é que o PSDB não dá um passo para corrigir a situação, o que levanta a suspeita de que pretende manter tudo como está na esperança de voltar ao poder sem perder a prerrogativa de também extrapolar.
Na campanha eleitoral esta será uma questão sobre a qual os candidatos terão de ter uma posição clara. Se disserem que o “problema é do Congresso”, estarão dizendo também que não investirão um pingo de suas energias para alterar as relações entre Legislativo e Executivo e que o reequilíbrio entre os Poderes está - e continuará - fora das respectivas agendas.
MÍRIAM LEITÃO
Hoje se improvisa
O GLOBO - 05/05/09
Foi-se o tempo em que se dizia “o Itamaraty não improvisa.” Hoje, tudo acontece. Presidente não é avisado do lado de quem vai se sentar, o país se omite na condenação a um genocida, demora a reagir ao discurso do presidente iraniano e o convida a visitar o Brasil em momento tão errado que ele mesmo cancela. O ministro da Energia admite que vai ceder ao Paraguai, o da Fazenda ofende a Espanha.
O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad cancelou a visita. Ufa! Menos constrangimentos a todos. O Brasil tem negócios com o Irã e quer mantê-los, mas montar escada para o proselitismo dele é que não pode fazer. A atual fase da diplomacia confunde as coisas, como na visita do presidente Lula à Líbia, em que ele elogiou a “democracia” de Muamar Kadafi.
A diplomacia brasileira tem sido palco de trapalhadas seriais. A pior delas, que parece anedota, é a de o presidente Lula ter descoberto que se sentaria ao lado do presidente do Sudão, Omar al-Bashir, acusado de genocídio, crimes de guerra e contra a Humanidade. O Brasil já tinha feito um papelão no Tribunal Penal Internacional ao se omitir na condenação e na ordem de prisão emitida contra ele pelo TPI. Bashir é acusado de ser o responsável pela morte de 200 mil a 400 mil pessoas na guerra étnica de Darfur.
Logo depois, houve a reunião árabe com os países do Mercosul. A diplomacia árabe tentou arrancar um sinal positivo em favor do presidente do Sudão. Nada é por acaso em diplomacia, e nada é sem significado: a distribuição de pessoas à mesa de um jantar oficial, por exemplo. A regra mais elementar do protocolo de qualquer chancelaria é verificar onde o presidente vai se sentar num jantar oficial. Trata-se de evitar constrangimentos, sinais de desprestígio ou prepará-lo para os temas que interessem ao comensal do lado.
Os árabes foram profissionais, o Brasil mostrou um desleixo inacreditável e o presidente Lula teve que resolver ele mesmo o problema, da pior forma: levantar-se e sair do jantar para não ficar ao lado de um delinquente político. Mas aí vem o preço da ambiguidade: se o Brasil não quis condená-lo no Tribunal Penal Internacional, por que então o presidente não pode tê-lo na cadeira ao lado? Uma trapalhada de quinta, num país que sempre teve tradição de ter uma diplomacia de precisão.
Está entre as funções clássicas do Itamaraty evitar as trapalhadas dos outros ministros através de providência simples, como: informar o chefe da delegação brasileira de qualquer assunto delicado, e destacar secretários ou conselheiros para acompanhar esses ministros e socorrê-los em determinados temas.
Pelo visto, não houve socorro a tempo para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que provocou uma gafe e um fiasco na última reunião do FMI. A gafe foi com a Espanha, com quem o Brasil tem comércio e relações políticas intensas. Mantega disse que o G-20 não deveria ter mais nenhum integrante, e isso quando a Espanha estava tentando entrar no grupo. Em seguida, veio o fiasco: ele pediu a volta de Cuba ao FMI. Mas Cuba saiu do Fundo porque quis.
A reação ao discurso do presidente Mahmoud Ahmadinejad contra Israel foi imediata. Os árabes aplaudiram, um número grande de países repudiou. O Brasil nada fez na hora e só três dias depois soltou uma nota repudiando o discurso.
A ambiguidade paralisante da política externa em relação ao assunto tem razão de ser. Em entrevista concedida à revista Piauí, Marco Aurélio Garcia, um dos ministros das relações exteriores que o Brasil tem, foi claro sobre Israel: “Temos de parar com essa diplomacia de punhos de renda. Os judeus têm o hábito de achar que qualquer crítica é uma manifestação contra a existência de Israel. Se um cara entra aqui e detona uma bomba e mata dez pessoas, é terrorista, mas quando Israel bombardeia duas escolas da ONU e mata crianças não é terrorista?”. Depois de dizer que o governo de Israel apoiou o apartheid, a ditadura de Somoza e de Salazar, terminou afirmando: “Não me venham (os israelenses) agora bancar os bacanas para o meu lado.”
Garcia pode até ter razão em alguns pontos, mas é contraditório, porque o Brasil nada tem a opor a outras ditaduras, como a chinesa, a saudita, a cubana. Além disso, é um linguajar inapropriado. Ele é, neste momento, uma das vozes da diplomacia brasileira. E esse é um dos piores lados da diplomacia do governo Lula. O Itamaraty, sob Celso Amorim, aceitou o inaceitável: dividir o comando da diplomacia. Aí, virou terra de ninguém, ou de todo mundo.
Terra dos amadores, por exemplo, como o ministro Edison Lobão, que antes de iniciar uma negociação com o Paraguai, e sabedor de que o presidente Fernando Lugo, em suas peripécias sexuais, precisa desesperadamente se fortalecer, já começa a conversa dizendo em que pode ceder. Evidentemente, Lugo respondeu que não é o suficiente, e quer mais. Crescer para cima do Brasil é sua única saída. Quem viu a sutileza, a firmeza e o profissionalismo com que foi negociado o Acordo de Itaipu, pela equipe do então chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro, tem uma desagradável sensação de retrocesso.
Com Leonardo Zanelli