domingo, novembro 06, 2011

MÔNICA BERGAMO - PARA INGLÊS OUVIR


PARA INGLÊS OUVIR
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 06/11/11

Professora brasileira analisa o inglês das cantoras que se arriscam em língua estrangeira para lançar CDs internacionais
A música popular no país não anda muito brasileira. Mallu Magalhães divulga "Pitanga", com metade das faixas em inglês. Wanessa lançou em setembro o CD "DNA", com 15 músicas na língua do Tio Sam.
Claudia Leitte promete para ainda este ano a gravação de um DVD onde coloca o seu inglês para rebolar.
Ivete Sangalo, desde o ano passado, esboça querer tomar o mercado americano cantando... em inglês.

Mas é possível mostrar ao mundo as sutilezas da música brasileira que nem toda tradução consegue preservar? O repórter Chico Felitti pediu uma avaliação do inglês dos cantores brasileiros a Ângela Levy. Ela é uma das primeiras intérpretes do país (faz tradução simultânea em palestras, discursos e apresentações) e cofundadora da escola Alumni.

"Essa menina fez intercâmbio, né? Morou fora? Pronuncia um inglês americano perfeito!", reage Levy à primeira música do novo CD de Mallu Magalhães, 19, famosa desde que, aos 13, começou a colocar na internet interpretações de músicas que escrevia. Muitas em inglês.

"Aprendi inglês no [colégio paulistano] Santa Cruz, como todo mundo da minha turma", diz Mallu.
Ela também compõe em francês e espanhol. "É muito particular se expressar em cada uma das línguas. Muda tudo."

Já Wanessa passou por temporada estrangeira. "Morei nos EUA dos 16 aos 17 anos. Sempre me interessei pela língua." O intercâmbio "valeu pelo aprendizado", diz. "Mantenho os amigos que fiz lá. Procuro ver filmes sem legenda, para não perder a fluência."

"Tá bom. Tá muito bom", diz a intérprete sobre o inglês de Wanessa em "Worth It". "Foi bem brasileiro e feio o jeito que ela pronunciou 'sober state' [estado de sobriedade] nas duas primeiras vezes, mas depois o sotaque se foi. Seria aprovada. Acho..."

Para cair no gosto do público americano quando foi gravar um CD em Nova York, em agosto de 2010, Ivete Sangalo recorreu ao professor Enoque da Silva, de Salvador. 

"Foram 300 horas de treinamento em poucos meses", diz Enoque.

As aulas eram ora enquanto a cantora fazia academia e ora na cobertura dela, na capital baiana, tendo como colegas de classe o produtor, uma bailarina e o piloto de seu jato particular.

"A gente trabalhou muito as junções de certos vocábulos, para que soasse o máximo possível como a música original", diz Enoque.

Alcançaram o objetivo na dicção de "Easy", de Lionel Richie, e nas outras duas canções em inglês do show, a que ele foi como convidado? "Ela não é americana nem nunca vai ser."

"É, de fato ela não consegue pronunciar 'world' [mundo]. Mas poucos brasileiros conseguem, é um som muito difícil para nossa língua", diz Ângela sobre Ivete.

A professora ressalva: "Nenhum artista deve soar como se fosse um gringo. Sotaque é charme."

O sotaque mais charmoso, no boletim da professora, foi o de Claudia Leitte cantando "Locomotion Batucada" no Miss Universo 2011. "Ótimas pronúncia, entonação e divisão das sílabas." Melhor que Ivete? "Só é pior que a Mallu. Entende-se tudo."

O problema é atrapalhar a compreensão. Como aconteceu com seu aluno mais famoso: Roberto Carlos. "Ele queria gravar um disco em inglês, lá por 1970 e pouco. O pessoal da Embaixada dos EUA me recomendou e partimos para as aulas."

O objetivo era gravar músicas como "I Only Have Eyes for You", de Harry Warren e Al Dubin. "Mas o Roberto dizia 'I only have ice for you' ['eu só tenho gelo para você']. E eu falava: 'Roberto, assim você só oferece gelo a essa mulher, não seus olhos'."

É para evitar confusões como essa que a banda Calypso cantou só em português na turnê que fizeram pela Europa no começo do ano. "Tem muito brasileiro batalhando em todo lugar do mundo, e eles sentem falta de ouvir nossa música, nossa cultura", diz a vocalista Joelma Mendes. Mas o grupo tem planos.
"Temos o repertório de um CD em espanhol pronto", diz o guitarrista Chimbinha. "Só falta tempo para gravar."

Além das letras latinas, o Calypso também transpôs a música "Acelerou" para o inglês. A versão, chamada "Accelerate", foi apresentada no programa de Ana Maria Braga e avaliada por Ângela Levy. "Não é tão ruim que não se possa entender, mas ela começou bem mal", diz. "Ou ela [Joelma] melhora essa pronúncia ou os fãs é que vão desacelerar dela!"

Enquanto Wanessa e Ivete levam sua carreira para fora, Alexandre Pires trilha caminho oposto. Está frequentando aulas de inglês, mesmo depois de morar por quatro anos nos EUA. Até porque a língua oficial dos álbuns que lançou na América do Norte era espanhol. "Eu mal precisava falar inglês na rua, tem muitos 'de nós' por lá."

Pires chegou com sua canção "Amame" ao segundo lugar da parada latina nos EUA. Cantou "Garota de Ipanema" para o então presidente americano George W. Bush, em 2003. A escolha da canção de Vinicius e Tom Jobim, diz, foi para mostrar a Bush que ele, Pires, era um artista brasileiro. "Acho que ele não sabia não", desconfia. "Eles confundem muito quando se canta fora do inglês."

"É o momento do Brasil!", grita Ivete no palco, em cena registrada no DVD da apresentação que fez no Madison Square Garden, renomada arena multiuso de Nova York (EUA). Enquanto isso, o CD e DVD que ela gravou na gringa, ao custo de US$ 5 milhões, superam 500 mil unidades vendidas. No Brasil. E só no Brasil.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Desempenho de IPOs recentes bate o Ibovespa
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 06/11/11

Desde 26 de julho deste ano, data da última abertura de capital na Bolsa, o mercado de IPOs (oferta pública inicial de ações) secou. Sinal de que a experiência não foi boa para os investidores?

Um levantamento do banco Credit Suisse no Brasil aponta que o desempenho da maioria dos papéis das empresas que entraram na Bolsa foi melhor do que o registrado pelo índice Bovespa no mesmo período.

"A moral da história é que, apesar do mercado estar fechado [para abrir capital] neste momento, a experiência dos investidores que entraram em IPOs nos últimos dois anos é muito positiva", diz José Olympio Pereira, responsável pela área de banco de investimentos do Credit Suisse no Brasil.

"A grande maioria dessas ações 'outperformou' [teve desempenho melhor que] o mercado", acrescenta ele.

Neste ano, até julho, foram 11 ofertas, assim como em todo o ano de 2010. Dos papéis lançados em 2011, seis bateram o Ibovespa.

A valorização, porém, foi maior entre as ofertas do ano passado: dos 11 IPOs, nove subiram mais que o índice.

A captação total com as operações também foi superior em 2010: R$ 11 bilhões contra R$ 6,9 bilhões em volume levantado neste ano.

"O problema está mesmo com o mercado e não com os IPOs, que devem voltar a ser bem recebidos assim que o mercado melhorar", afirma José Olympio Pereira.

BÔNUS NA CONSTRUÇÃO
A Odebrecht captou US$ 250 milhões (cerca de R$ 435 milhões) com a reabertura de bônus perpétuos realizada em setembro de 2010.

O montante foi obtido nas primeiras 12 horas de sexta-feira passada com investidores asiáticos, europeus e norte-americanos, de acordo com Jayme Fonseca, diretor financeiro da companhia.

"Usaremos o valor para operações de 'equity' até 2012 e como capital de giro da construtora", diz Fonseca.

Os juros serão de 7,5% ao ano, mesmo valor acordado na operação do ano passado, quando foram captados US$ 500 milhões (aproximadamente R$ 870 milhões).

"Abrimos a janela por apenas 12 horas devido à volatilidade do mercado. Mantivemos o valor dos juros mesmo em situação mais adversa que em 2010. Pretendíamos fazer a operação desde o final de julho, mas tivemos que esperar o momento mais adequado", diz o diretor financeiro.

EMERGENTE É MAIS RECEPTIVO A MARCAS ESTRANGEIRAS
Os consumidores de países emergentes aceitam melhor as marcas internacionais do que os de países desenvolvidos, segundo pesquisa da Colloquy feita no Brasil, na China, na Índia, nos EUA, na Austrália e no Canadá.

O estudo aponta que, em média, 35% da população dos países emergentes consideram positivo que haja concorrência entre empresas nacionais e internacionais e afirmam até que os produtos estrangeiros são mais confiáveis. Nos países desenvolvidos, esse número fica em 7%.

Com 43%, os chineses são os que mais aprovam a concorrência com companhias internacionais. Nove em cada dez consumidores afirmaram que as marcas globais são mais confiáveis.

Os australianos foram os que se mostraram mais contrários às estrangeiras.

BULA MONITORADA
A Orizon, empresa de automação e operação de processos para seguradoras de saúde, vai expandir sua atuação no setor de medicamentos.

Especializada em serviços como elegibilidade de consultas e internação, a empresa também começou a fazer entregas de remédios em domicílio a pacientes segurados crônicos.

A meta agora é gerar um banco de dados do paciente com informações ambulatoriais e de uso de remédios.

"O que é novo é a possibilidade de combinar dados de assistência médica e clínica a consumo na farmácia.

Será possível acompanhar possíveis pacientes crônicos antes do início da doença, o que reduz o custo das empresas", diz Sergio Santos, presidente da companhia.

Bradesco Seguros, Cielo e Cassi/Banco do Brasil são acionistas da Orizon, que teve, em média, 10 milhões de transações ao mês em 2011.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

EDITORIAL O ESTADÃO - A degradação da UNE



A degradação da UNE

EDITORIAL 
O Estado de S.Paulo - 06/11/11

Quase um ano depois de ter recebido R$ 30 milhões do governo Lula para construir sua sede na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, a União Nacional dos Estudantes (UNE) até agora não conseguiu ir além da pedra fundamental, que foi lançada pelo presidente Lula da Silva em dezembro do ano passado. A concessão desse valor foi justificada por Lula como pagamento de indenização devida pelo Estado brasileiro pelos danos patrimoniais à entidade durante o regime militar.

Como a UNE não é uma entidade pública, o governo não podia transferir dinheiro dos contribuintes para custear as obras. A indenização por danos patrimoniais foi o expediente encontrado pelo governo Lula para contornar essa proibição legal. Primeiro, o governo reconheceu a responsabilidade da União na destruição do prédio da entidade, que foi incendiado em 1.º de abril de 1964. Em seguida, Lula autorizou a União a promover uma "reparação" no montante equivalente a seis vezes o valor de mercado do terreno.

É muito dinheiro, mas nada garante que os dirigentes da UNE terão a competência necessária para a obra sem precisar pedir mais dinheiro público, em troca de apoio político aos governantes de plantão.

Ao contrário do que ocorreu no passado, quando lutou efetivamente, tanto contra a ditadura Vargas quanto contra a dos militares, a UNE é hoje uma força auxiliar do governo e um reduto do PC do B. Desde a ascensão de Lula ao poder, em 2003, a UNE age como um órgão chapa-branca, apoiando todas as iniciativas administrativas e políticas do Palácio do Planalto.

Pelos serviços prestados, ficou com o direito de indicar antigos dirigentes da entidade para o Ministério do Esporte - vários deles envolvidos no escândalo de repasses irregulares de recursos públicos a ONGs fantasmas - e ganhou polpudas verbas tanto da administração direta como da indireta, sob a justificativa de divulgar programas dos Ministérios da Educação, da Saúde, da Cultura e da Igualdade Racial, promover "caravanas da cidadania" em universidades federais, realizar jogos estudantis e organizar ciclos de debates.

Só do Ministério do Esporte, a UNE ganhou um total de R$ 450 mil, entre 2004 e 2009, para promover eventos de "esporte educacional" e capacitação de gestores de esporte e lazer. Ao que parece, como os dirigentes da UNE transformam-se, em geral, em estudantes profissionais que não costumam frequentar salas de aulas, o lazer se converteu em sua principal "especialização".

Desde 1995, quando começou a obter verbas governamentais, a UNE já recebeu mais de R$ 44 milhões dos cofres públicos. Do montante acumulado nesses 17 anos, 97,4% foram desembolsados durante os oito anos de governo do presidente Lula. Os 2,6% restantes foram repassados pelo governo do presidente Fernando Henrique. Os números foram coletados pelo site Contas Abertas, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).

A exemplo do que está ocorrendo com a maioria das ONGs financiadas pelo Ministério do Esporte, a maneira como a UNE gasta o dinheiro dos contribuintes também é, no mínimo, perdulária. Depois de identificar recibos frios e gastos com restaurantes de luxo e bebida importada nas contas da entidade, o Ministério Público Federal pediu as cópias das prestações de contas da entidade aos Ministérios e empresas públicas e sociedades de economia mista com que mantém convênios. E, no dia 6 de agosto, a Procuradoria-Geral do Ministério da Fazenda lançou a UNE como inadimplente no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal (Cadin).

Procurados para esclarecer o atraso da construção de sua sede com dinheiro público, os motivos das suspeitas do Ministério Público Federal e o que levou à inadimplência no Ministério da Fazenda, os dirigentes da entidade limitaram-se a afirmar que as obras da nova sede começarão em 2012 e que as verbas recebidas do governo têm sido gastas em "congressos e bienais da cultura". Isso mostra a que nível de degradação política chegou a UNE.

DILMA FAZENDO UM MÉNAGE À TROIS

DILMA FAZENDO UMA SURUBA 


FERNANDO HENRIQUE CARDOSO - Corrupção e poder



Corrupção e poder
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO 
 O Estado de S.Paulo - 06/11/11

O novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou recentemente que os desmandos que ocorreram em sua pasta se devem a que as ONGs passaram a ter maior participação na concretização de políticas públicas. E sentenciou: ele só fará convênios com prefeituras, não mais com segmentos da sociedade civil. Ou seja, em vez de destrinchar o que ocorre na administração federal e de analisar as bases reais do poder e da corrupção, encontra um bode expiatório fora do governo.

No caso, quanto eu saiba, é opinião de pessoa que não tem as mãos sujas por desvios de recursos públicos. Não se trata, portanto, de simples cortina de fumaça para obscurecer práticas corruptas. São palavras que expressam a visão de mundo do novo ministro: o que pertence ao "Estado", ao governo, é correto; o que vem de fora, da sociedade, traz impurezas... O mal estaria nas ONGs em si, não no desvio de suas funções nem na falta de fiscalização, cuja responsabilidade é dos partidos e dos governos.

Esse tipo de ideologia vem associado a outra perversão corrente: fora do partido e do governo nada é ético; já o que se faz dentro do governo para beneficiar o partido encontra justificativa e se torna ético por definição.

Repete-se algo do mensalão. Naquele episódio, já estava presente a ideologia que santifica o Estado e faz de conta que não vê o desvio de dinheiro público, desde que seja para ajudar os partidos "populares" a se manterem no poder. Com uma diferença: no mensalão desviavam-se recursos públicos e de empresas para pagar gastos eleitorais e para obter apoio de alguns políticos. Agora são os partidos que se aninham em ministérios e, mesmo fora das eleições, constroem redes de arrecadação por onde passam recursos públicos que abastecem suas caixas e os bolsos de alguns dirigentes, militantes e cúmplices.

A corrupção e, mais do que ela, o "fisiologismo", o clientelismo tradicional, sempre existiram. Depois da redemocratização, começando nas prefeituras, o PT - e não só ele - enveredou pelo caminho de buscar recursos para o partido nas empresas de coleta de lixo e de transporte público (sem ONGs no meio...). Há, entretanto, uma diferença essencial na comparação com o que se vê hoje na esfera federal. Antes o desvio de recursos roçava o poder, mas não era condição para o seu exercício. Agora os partidos exigem ministérios e postos administrativos para obterem recursos que permitam sua expansão, atraindo militantes e apoios com as benesses que extraem do Estado. É sob essa condição que dão votos ao governo no Congresso. O que era episódico se tornou um "sistema", o que era desvio individual de conduta se tornou prática aceita para garantir a "governabilidade".

Dessa forma, as "bases" dos governos resultam mais da composição de interesses materiais que da convergência de opiniões. Com isso perdem sentido as distinções programáticas, para não falar nas ideológicas: tanto faz que o partido se diga "de esquerda", como o PC do B, ou centrista, como o PMDB, ou de centro-direita, como o PR, ou que epíteto tenham, todos são condôminos do Estado. Há apenas dois lados, o dos condôminos e o dos que estão fora da partilha do saque. O antigo lema "é dando que se recebe", popularizado pelo deputado Cardoso Alves no governo Sarney, referia-se às nomeações, ao apadrinhamento, que, eventualmente, poderiam levar à corrupção, mas em si mesmo não o eram. Tratava-se da forma tradicional, clientelista, de fazer política.

Hoje é diferente. Além da forma tradicional - que continua a existir -, há uma nova maneira "legitimada" de garantir apoios: a doação quase explícita de ministérios com as "porteiras fechadas" aos partidos sócios do poder. Digo "legitimada" porque desde o mensalão o próprio presidente Lula outra coisa não fez senão justificar esse "sistema", como ainda agora, no caso da demissão dos ministros acusados de corrupção, aos quais pediu que tivessem "casca dura" - ou queria dizer caradura? - e se mantivessem no cargo. Num clima de bonança econômica, a aceitação tácita deste estado de coisas por um líder popular ajuda a transformar o desvio em norma mais ou menos aceita pela sociedade.

Pois bem, parece-me grave que, no momento em que a presidenta esboça uma reação a esse lavar de mãos, um ministro reitere a velha cantilena: a contaminação adveio das ONGs. Esqueceu que o governo tem a responsabilidade primordial de cuidar da moral do Estado. Não há Estado que seja por si só moral, nem partido que seja imune à corrupção pela graça divina. Pior, que não se possa tornar cúmplice de um sistema que se baseie na corrupção.

O "sistema" reage a essa argumentação dizendo tratar-se de "moralismo udenista", referência às críticas que a UDN fazia aos governos do passado, como se ao povo não interessasse a moral republicana. Ledo engano. É só discutir o tema relacionando-o, por exemplo, com trapalhadas com a Copa para ver se o povo reage ou não aos desmandos e à corrupção. A alegação antimoralista faz parte da mesma toada de "legitimação" dos "malfeitos". Não me parece que a anunciada faxina, embora longe de haver sido completa, tenha tirado apoios populares da presidenta. O obstáculo a uma eventual faxina não é a falta de apoio popular, mas a resistência do "sistema", como se viu na troca de um ministro por outro do mesmo partido, possivelmente também para preservar um ex-titular do mesmo ministério que trocou o PC do B pelo PT e hoje governa o Distrito Federal. Estamos diante de um sistema político que começa a ter a corrupção como esteio, mais do que simplesmente diante de pessoas corruptas.

Ainda há tempo para reagir. Mas é preciso ir mais longe e mais rápido na correção de rumos. E nesse esforço as oposições não se devem omitir. Podem lutar no Congresso por uma lei, por exemplo, que limite o número de ministérios e outra, se não a mesma, que restrinja ao máximo as nomeações fora dos quadros de funcionários. Por que não explicitar as condições para que as ONGs se tornem aptas a receber dinheiros públicos? Os desmandos não se restringem ao Ministério do Esporte, há outros na fila. Os dossiês da mídia devem estar repletos de denúncias. Não adianta dizer que se trata de "conspirações" contra os interesses populares. É da salvaguarda deles que se trata.

JOÃO BOSCO RABELLO - Sob proteção institucional



Sob proteção institucional
JOÃO BOSCO RABELLO 
O Estado de S.Paulo - 06/11/11

O título acima foi empregado pelo novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, para resumir sua linha de trabalho à frente da pasta, que se sustentará nas estruturas de Estado e não mais em ONGs (ver matéria na página A4). O principal fator dessa mudança é o tal programa Segundo Tempo, de inclusão social de jovens de baixa renda, através do esporte, até aqui um ralo de corrupção a céu aberto.

Mas o grande impulso provocado por essa mudança de conceito deverá ocorrer em relação à Copa do Mundo - um projeto que hoje separa a Fifa e o governo brasileiro. Aldo quer o Itamaraty parceiro do ministério na condução das negociações e já fez a abordagem a diplomatas nesse sentido.

Como já trouxe a Controladoria-Geral da União para dentro do ministério, o novo ministro vai trabalhar com o fiscal de um lado e o diplomata do outro. Os cargos estratégicos serão preferencialmente ocupados por técnicos, alguns desportistas de capacidade de gestão já testada, caso de Lars Grael. Ao partido, aquilo que não comprometer a eficiência.

Até porque o que um partido deve buscar na gestão de um ministério é a eficiência que lhe dê visibilidade política e eleitoral como consequência de resultados concretos para a população.

Nada mais óbvio do que o Itamaraty na condução de um evento internacional e só não espanta que tal ainda não tenha acontecido porque nada espanta numa estrutura de 37 ministérios, dos quais pouco se sabe, a começar pelos nomes de seus titulares, alguns ainda sem contato com a presidente da República.

Reforma administrativa

Com uma das maiores bases de sustentação de todos os tempos, acrescida agora de apoio voluntário do PSD, o governo tem as condições para promover uma reforma administrativa, além da ministerial prevista para janeiro. Essa ideia tem frequentado o pensamento de algumas lideranças políticas e vem sendo defendida com veemência por observadores e cientistas políticos. Não se sabe o que vai pela cabeça da presidente Dilma, mas o tema só não virou ainda aposta pela dúvida sobre sua condição de impor a redução de ministérios aos partidos da aliança. O que concretamente ninguém duvida é que, a permanecer a atual estrutura, o governo não conseguirá evitar escândalos em série pela impossibilidade de se gerir uma máquina tão gigantesca.

Bola da vez

É o Ministério do Trabalho a preocupação da vez do governo: lá como no Turismo, Cidades e Esporte, ONGs fazem a festa, principalmente em convênios envolvendo núcleos sindicalistas País afora. Desde 2007 à frente da pasta, Carlos Lupi sai na reforma, se não for atropelado por denúncias antes disso.

Propaganda enganosa

Olhando com atenção os nomes dos delegados recém-nomeados e seus vínculos políticos, constata-se que a troca da cúpula da Polícia Civil de Brasília tem mais de marketing do que de saneamento. O novo diretor-geral, Onofre de Moraes, contemplou todas as correntes - de Roriz a Agnelo Queiroz -, na distribuição dos cargos de chefia, e o governador vendeu como a queda de toda a cúpula policial para passar a imagem de comando sobre o aparelho de segurança. Na verdade, a operação tem o único objetivo de sustar os vazamentos que comprometem Agnelo, como a recente fita em que promete ajuda ao PM João Dias para fraudar a prestação de contas de sua ONG acusada de desviar R$ 3 milhões.

FGTS

O líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), quer relatar a MP 540, que concede incentivos fiscais a diversos setores da economia. Mas o Planalto prefere Romero Jucá (PMDB-RR), que considera mais experiente para garantir a preservação da emenda que libera até R$ 5 bilhões do FGTS para obras de infraestrutura da Copa e da Olimpíada.

GOSTOSA


GAUDÊNCIO TORQUATO - Felizes, desiguais e pouco democratas



Felizes, desiguais e pouco democratas

GAUDÊNCIO TORQUATO
O Estado de S.Paulo - 06/11/11


Um ano atrás os brasileiros eram mais simpáticos à democracia. A sentença, dita assim, sem lastro estatístico, não causa tanta surpresa. Vez ou outra, somos tomados por surtos autoritários. Quando, porém, se mostra uma queda de nove pontos porcentuais na taxa - de 54% para 45% -, a afirmação soa estranha. E ao se completar o pensamento, dizendo que a queda do apoio à democracia no Brasil foi mais acentuada do que a média extraída de 18 países latino-americanos (cerca de 400 milhões de habitantes), entre os quais a Bolívia, o Peru, a Colômbia, a Venezuela, poucos hão de acreditar. Essa é a conclusão da 16.ª pesquisa feita pelo Latinobarómetro, renomado instituto chileno que, periodicamente, toma o pulso da democracia no continente.

Mas por que o nosso torrão estaria menos afeito à modelagem democrática, se exibe alto índice de satisfação social, garantido pela trombeteada conquista de 30 milhões de brasileiros que ascenderam ao patamar da classe média? Afinal, a democracia não é o sistema mais compatível com o ideal da felicidade humana?

Para quem ainda não sabe, os brasileiros foram elevados ao ranking dos povos mais felizes do planeta. É o que revela o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), ao mostrar a nota 6,8 que a nossa população atribui à sua vida, maior que a dos alemães (6,7) e apenas um pouco mais baixa que a dos belgas e irlandeses (6,9), que estão entre os mais ricos do planeta. A dissonância ganha reforço diante da divulgação de outro índice: no capítulo da igualdade de renda, o Brasil perde 13 posições, ficando atrás de países como Gabão e Mongólia. Triste constatação.

Tentemos, então, enxergar a radiografia em preto e branco: a comunidade nacional, apesar de ter menor número de pobres, continua muito desigual. Mas está satisfeita com a sua situação. Resta esclarecer um pequeno mistério: por que somos o país latino-americano com menor porcentual de aprovação da democracia?

É oportuno lembrar que índices de pesquisa não se anulam, devendo ser analisados em seus respectivos compartimentos. A leitura linear é a de que o nosso PNBF - o produto nacional bruto da felicidade - se expandiu na esteira do fator econômico. Como uma locomotiva, ele puxa os vagões das pessoas, determinando a sua maior ou menor satisfação, mais alta ou mais baixa avaliação dos governantes. Por exemplo, a presidente Dilma Rousseff (67%) só perde para o colombiano Juan Manuel Santos (75%) na apreciação sobre o desempenho dos mandatários da América Latina. Pesa, na radiografia sobre a democracia no continente, o impacto da crise econômica mundial sobre o cotidiano dos habitantes. Se o Brasil, entre as nações pesquisadas, foi menos atingido pela crise, é natural que seu governante receba o aplauso social.

Quanto ao maior desapreço por nossa democracia, a explicação passa por outros corredores. Comecemos por distinguir o Brasil da gestão Dilma do Brasil do estilo Lula. Ao sair do centro do palco, o ex-presidente fechou um ciclo, no qual ocupava todos os espaços, dirigia os atos, manobrava os bastidores, enfim, dava o tom da orquestra. Tão forte era a sua presença no palco que os atores em seu entorno, por mais esforços que fizessem para aparecer - alguns em situações constrangedoras -, eram ofuscados, permanecendo em posição secundária. Lula simbolizava o governo e suas circunstâncias.

Ao entrar em cena, a presidente Dilma mudou o cenário e a forma de atuação dos atores, a partir de sua personagem. O fator técnico ganhou proeminência, sob a régua de controles rígidos e intensa cobrança por resultados. Sob essa arquitetura, a administração expõe com nitidez as vidraças ministeriais, deixando escancarados desvios de gestores no comando de ministérios, cobrando apurações rigorosas, jogando pessoas implicadas no vapor torturante, tudo sob o bombardeio incessante das mídias e das redes sociais.

Se Lula usava o carisma como escudo para defender fronteiras devastadas do governo, Dilma usa a autoridade técnica para promover ajustes e mudanças nas frentes administrativas, dando a entender que não transige com desvios e proclamando o lema "quem pariu Mateus que o embale". Portanto, o corpo político, sob o figurino dilmista, torna-se alvo de intenso tiroteio e, assim, canaliza contra si a expressão da contrariedade social. A imagem da instituição é borrada. Basta ver a péssima avaliação que os brasileiros conferem aos políticos. Donde se pinça a inferência: a presidente ganha os louros da vitória econômica e os políticos recebem os apupos por conta da bateria de eventos negativos que marca a vida institucional. A democracia brasileira acaba sendo percebida pela população como veículo que conduz a vícios, corrupção, manutenção de costumes execráveis. Trata-se de um viés perceptivo que, infelizmente, vem ocorrendo. Sobra para ela menor apoio.

O fato é que a inflexão social sobre a nossa democracia deve ser analisada com atenção pela representação política, eis que sinaliza certo gosto pelo conservadorismo. Que pode resultar, mais adiante, em visão até mais radical. Aliás, a guinada conservadora já se manifesta há algum tempo. Pesquisa Datafolha (de meados deste ano) mostra que 55% de 5.700 pessoas ouvidas em 25 Estados se dizem favoráveis à pena de morte e 40% contra, sendo esse o maior índice desde 1991. O sentimento de impunidade estende-se pelos bolsões sociais, que enxergam nisso não apenas lerdeza do Judiciário, mas leniência do Legislativo.

Dito isso, voltemos ao aparente paradoxo. O ciclo Lula anunciou as maiores conquistas que o Brasil alcançou ao longo de décadas, a partir do alargamento do meio da pirâmide social, com a elevação da classe média ao primeiro lugar entre as classes. É verdade. Retrocedeu, porém, no campo do desenvolvimento humano. É o que mostra a recente radiografia do Pnud. Nos últimos dez anos, o País baixou seu IDH de 0,86 para 0,69. A melodia da orquestra, diz a voz do maestro, deve harmonizar os sons de todos os instrumentos.

JOÃO UBALDO RIBEIRO - À casa torno



À casa torno

 JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 06/11/11

Estou de volta a solo pátrio. Novamente pela TAP, que desta vez, apesar de a reserva da volta ter sido feita antes da viagem de ida, me botou em standby na troca de avião em Lisboa e tive problemas não só para embarcar como, depois disso, para conseguir sentar junto a minha mulher. Talvez alguém na companhia haja com isso se vingado do que contei aqui na semana passada, sobre a comida que acabou, no voo de ida. Que é que vou fazer, não é calúnia, é a pura verdade. Havia três opções no menu: lasanha, filé de badejo e cassoulet de carne mas, mas as nossas poltronas eram as últimas e, quando chegou a nossa vez, tanto a lasanha quanto o badejo tinham acabado. Imagino que, se isso acontece com frequência, o diálogo entre a comissária de bordo e o passageiro ameaçado de jejum, deve ser assim:

- Jantar, senhor?

- Quais são as opções?

- Sim ou não.

E nem falei nos forros pré-históricos das poltronas nessa mesma viagem. Achando que estava abrindo um compartimento, puxei uma ponta do forro da cadeira em frente à minha e ele se soltou, revelando por baixo uma tábua de madeira branca, onde outra parte do forro se colava com pedaços de fita adesiva (ou esparadrapo, não sei bem). Mais que depressa, pus de volta o forro, mas fiquei um pouco inquieto, tomado pelo receio, naturalmente errôneo, de que outras partes do avião estivessem mantidas com o mesmo padrão ou que as asas fossem de compensado. Isto eu não tinha contado, mas agora conto, para ir à forra do susto que levei com o tal standby. E manifesto a convicção de que por sorte não havia TAP na era das grandes navegações.

Mas, afinal, os voos em si foram tranquilos e sem turbulências e pude trabalhar na programação intensa que me reservaram, tanto na Bélgica quanto na Holanda. Nesta última, tenho um pequeno público curiosamente fiel. Num dos meus livros, traduzido para o holandês e lá continuamente reeditado, um personagem canibal que devorava portugueses e espanhóis experimenta papar um holandês e acha a carne dele infinitamente superior à ibérica. Os holandeses adoram essa distinção gastronômica e invariavelmente falam nela, felicíssimos. De resto, creio que, modestamente, não envergonhei nem o Brasil nem vocês, saí-me direitinho nas palestras e leituras que fiz. E desta vez foi bem mais fácil que em ocasiões anteriores, também na Europa. Para grande espanto meu, em nenhum dos eventos que realizei falou-se na Amazônia ou me fizeram perguntas sobre os índios. As conversas foram sobre literatura e cultura em geral e não ouvi nenhum comentário sobre como podia eu ficar escrevendo romances, enquanto o país tinha outras prioridades, como o combate à miséria, pois, para nós, atrasados ou primitivos, literatura era um luxo supérfluo a que os de consciência social não tinham direito. Acho que foi a primeira vez em minha vida, estamos fazendo progressos.

E, recém-retornado ao Brasil, assisto a um par de telejornais, leio jornais e revistas impressos e agradeço à Providência não ter tido de falar sobre muitas coisas que eu não saberia explicar. Sobressai entre elas a festiva transmissão de cargo no Ministério dos Transportes. Não posso saber se o ex-ministro é ou não inocente. Mas o fato é que se viu obrigado a sair sob acusações graves, que, examinadas, ainda podem revelar fatos até agora desconhecidos e também comprometedores. Não creio que fosse o caso de encenar-se aquela cerimônia festiva, com direito à presença da presidente, aplauso caloroso e discursos de propaganda partidária – só faltaram banda de música e foguetes. Bota-fora de primeira mesmo e, pelo menos para mim, difícil de entender e bem mais de explicar.

E, tocando nesse ministério, a gente se lembra das organizações não governamentais. Como é que uma organização é não governamental e depende de dinheiro do governo? É não governamental ou não é? Se recebe dinheiro do governo, é para fazer alguma coisa de que o governo precisa ou considera importante. Então não é não governamental; é, na minha modesta opinião, governamental e mantida com o dinheiro de nossos impostos, que já nos esfolam mais do que qualquer povo menos acarneirado suportaria. Ser não governamental e, ao mesmo tempo, ser sustentado pelo governo só aqui no Brasil mesmo, acho eu.

Tampouco me foi pedido para discorrer sobre uma notícia que saiu por lá, mas, àquela altura, ninguém nas plateias havia lido, a respeito de um deputado carioca ameaçado de morte, que vai, segundo noticiou, se não me engano, um jornal francês, buscar asilo na Europa, juntamente com a família. O jornal falou em exílio e seria muito difícil explicar como é que isso pode acontecer num país civilizado. Estamos mesmo completamente à mercê de qualquer grupo ou quadrilha armada?

E o Enem, que bom não ter de explicar as trapalhadas desse exame, do qual depende o destino de tantos jovens e no qual estão depositados tanto esforço, tantas esperanças, tanta angústia, tanta tensão e tanto sofrimento. Sei de países onde muito menos renderia uma revolta maciça e, seguramente, protestos de rua, talvez violentos. Não estou, é claro, defendendo atos violentos, mas não há desculpa para o vazamento de sequer uma pergunta e o Enem é um exemplo permanente de incompetência, que resulta em transtornos por vezes irreparáveis. E muito mais eu poderia lembrar. Estamos acostumados a suportar, calados e passivos, qualquer abuso, postura que infelizmente marca nossa história. Para isso eu não tenho explicação, nem aqui, nem em Bruxelas.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Alta fidelidade
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 06/11/11

Às vésperas do encontro de Dilma Rousseff com líderes partidários, no qual a presidente fará um apelo pela prorrogação da DRU (Desvinculação de Receitas da União), a Secretaria de Relações Institucionais apresentou à ministra Ideli Salvatti um levantamento sobre o desempenho dos partidos aliados nas 43 votações nominais ocorridas na Câmara ao longo de 2011.
Não obstante os estranhamentos entre Planalto e Congresso e as seguidas quedas de ministros, os números mostram elevada taxa de obediência. Do total de 513 deputados, 350 acompanharam o governo em 75% das votações, e 400, em mais da metade.

Papel passado O balanço, a ser apresentado à presidente antes da reunião de amanhã, servirá para aparar arestas. Nos últimos dias, o Planalto deu atenção especial às demandas dos parlamentares, sobretudo no que diz respeito ao pagamento de emendas. A DRU precisa de 308 votos para ser aprovada.

Cansei Auxiliares de Dilma que haviam encontrado Barack Obama em setembro, na Assembleia Geral da ONU, e voltaram a vê-lo em Cannes na semana passada se impressionaram: em pouco tempo, o americano lhes pareceu bem mais abatido.

Rola um clima Segundo testemunhas, Dilma e o presidente chinês, Hu Jintao, saíram da cúpula do G20 mais próximos do que entraram.

Poucos amigos Opinião unânime na comitiva brasileira: Nicolas Sarkozy era de longe o líder com a cara mais amarrada. Sem obter sucesso na tentativa de se apresentar como "salvador da crise", o francês viu seu humor mergulhar mais "do que os títulos da dívida grega", nas palavras de um assessor.

Tijolo Nova "mãe do PAC", Miriam Belchior (Planejamento) representará o governo amanhã numa das maiores feiras de construção civil do mundo, em Paris.

Agrado Dilma reunirá sete governadores na quinta-feira para tratar da revisão dos indexadores das dívidas e do aumento da capacidade de obtenção de crédito pelos Estados, dentro do Programa de Ajuste Fiscal. Mediado por Guido Mantega, o encontro atende ao pleito de líderes da oposição, como os tucanos Geraldo Alckmin (SP) e Antonio Anastasia (MG).

Digestivo Com a presidência do comitê paulista da Copa em aberto, Alckmin almoça amanhã com os deputados que inspecionam obras do Mundial. Na comitiva estará Romário (PSB-RJ), crítico da abertura no Itaquerão.

Nos trilhos 1 Nome preferido de Gilberto Kassab para sua sucessão, Guilherme Afif (PSD) elegeu o setor ferroviário como prioritário nas PPPs que comandará no governo paulista. Com isso, passarão por suas mãos os projetos de expansão do metrô e dos trens metropolitanos, temas especialmente caros ao eleitor da capital.

Nos trilhos 2 O PT-SP está empenhado em garantir ao governo federal uma espécie de "guarda compartilhada" de obras de transporte público com visibilidade eleitoral em São Paulo. Nos cálculos petistas, o BNDES já injetou R$ 2,3 bilhões em novas linhas do metrô e vai repassar R$ 1,4 bilhões para construção de monotrilhos e trens.

Exportação Em mais uma tentativa de turbinar suas prévias à prefeitura, o PSDB-SP levará os quatro pré-candidatos para rodadas de debates nos bairros mais distantes do centro da capital -modelo semelhante ao das caravanas petistas.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio
"O que a CCJ da Câmara está arquitetando é a consagração da impunidade. Trata-se de um deboche com o eleitor anistiar os cassados no mensalão antes do julgamento do Supremo."
DO LÍDER DO PSDB NO SENADO, ÁLVARO DIAS (PR), sobre o fato de a comissão ter colocado em pauta projeto que devolveria os direitos políticos a José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-SP).

contraponto
Sou você amanhã
Integrantes da comitiva que acompanhou a presidenDilma Rousseff na viagem a Cannes notaram que, dos chefes de Estado e de governo presentes à reunião de cúpula do G20, José Luis Zapatero foi o único a se manifestar abertamente sobre o sofrimento da população da Grécia diante da ruína econômica.
Enquanto o premiê espanhol discursava, um dos brasileiros ouviu um líder asiático comentar baixinho:
-É fácil ser populista quando o seu país pode ser o próximo a cair no abismo...

ELIO GASPARI - Novidade, a filantropia estatizada


Novidade, a filantropia estatizada
ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 06/11/11

Doutora Dilma quer mandar 100 mil brasileiros para o exterior, mas pode criar mais uma demanda de faxina


O COMISSARIADO do Planalto quer estatizar a filantropia. Doutora Dilma teve a ideia de criar um programa para colocar 100 mil brasileiros em universidades estrangeiras até 2014 e pediu à iniciativa privada que cuide de 25 mil bolsas. A conta está estimada em R$ 3,1 bilhões.

Em 2010 os brasileiros em universidades estrangeiras eram 8.800, contra 128 mil chineses. Pode-se sustentar que a meta é ambiciosa, mas quando o companheiro Deng Xiaoping lançou sua ideia, nos anos 70, também duvidaram dele.

O projeto está na estrutura do MEC, da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes, e do CNPq. Ambos prometem 7.300 bolsas neste ano. A ver. Para cumprir a meta precisariam escolher mais 30 mil bolsistas anuais entre 2012 e 2014. Salta aos olhos que é muita areia para pouco caminhão.

Apareceu um cheiro de convênio do Ministério dos Esportes nessa boa ideia. O comissariado está operando suas expectativas junto aos empresários a partir da Casa Civil (por onde passam seus pleitos), tratando com centrais corporativas, como a Febraban, a associação dos empreiteiros e a Confederação Nacional das Indústrias. Doutora Dilma disse o seguinte: "É um desafio para o setor privado, especialmente para a Febraban".

A filantropia empresarial brasileira é esquálida e são poucas as boas instituições que lidam com bolsas. Nelas, vigora uma preliminar: só julgam propostas de candidatos que já foram aceitos pela universidade estrangeira, e não fazem negócio com biboca. Em vez de pedir recursos, o governo também deveria pedir gestão.

Se os empresários forem chamados para botar dinheiro num panelão de entidades, o projeto acabará mandando estudantes ou professores desqualificados para vilegiaturas e cursos sem importância em universidades irrelevantes.

As universidades europeias e americanas estão caçando recursos. As boas querem dinheiro, mas não abrem mão dos seus critérios de seleção. Herdeiros de algumas das maiores fortunas brasileiras já foram recusados na liga das campeãs americanas.

A doutora Dilma teve duas boas ideias: mandar brasileiros para o exterior e cutucar a filantropia empresarial. Pelo andar da carruagem, criará demanda de faxina.

FRITURA

As centrais sindicais temem que suas contas sejam usadas como óleo na fritura do ministro Carlos Lupi, do Trabalho.

Esquisito, porque Lupi teme ser frito no óleo das contas das centrais sindicais.

NÚMEROS

Um curioso produziu um paralelo maroto para comprovar que o bilionário Warren Buffet estava mais do que certo quando disse que os derivativos da banca eram "armas de destruição em massa".

Desde 2008 6,4 milhões de famílias americanas perderam suas casas.

Durante a Segunda Guerra Mundial os bombardeios alemães destruíram um milhão de residências em Londres. Na volta, estima-se que as bombas aliadas tenham destruído 3,6 milhões de casas na Alemanha.

O paralelo é maroto porque as casas esvaziadas pelos despejos receberam outros moradores.

CUBA LIBRE

Raul Castro liberou a compra e venda de casas em Cuba. Em tese, cada família poderá ter um imóvel na cidade e outro para fins de semana. Na prática, com o dinheiro do primo Pepe, que vive como aposentado em Miami, Manuel comprará um apartamento velho em Havana e uma casa na praia. Pepe reformará o imóvel da praia e viverá como um rei. Os dois farão o melhor negócio de suas vidas.

Em Havana, um apartamento perto da praia custa o mesmo que uma casa no Morro do Alemão. Numa praia remota, nem isso.

O próximo lance poderá ser a emissão de um papel podre indenizando os donos de propriedades expropriadas nos anos 60. Esses títulos, negociados a 5% de seu valor em Miami, atrairiam investidores corajosos para entrar no mercado imobiliário cubano.

CASA DE OBAMA

Para se entender a Casa de Mãe Joana que foi a Casa Branca do companheiro Obama durante os primeiros anos do seu governo:

A certa altura foi necessário fazer um agrado no professor Larry Summers, o principal assessor econômico do presidente. Summers sentia-se desprestigiado e tinha três pleitos:

1) Jogar golfe com Obama.

2) Ser chamado para as fotografias em cerimônias importantes.

3) Carro oficial com motorista.

Em 2007, antes de ir para o governo, Summers ganhara US$ 5,2 milhões dando consultoria de um dia por semana a um fundo de investimentos. Ficou sem o carro e, mais tarde, sem o cargo.

Mais sobre a Casa de Obama, no livro "Confidence Men", de Ron Suskind, a US$ 12,00 na versão eletrônica.

MADAME NATASHA

Madame Natasha fechou sua ONG de defesa do idioma, mas continua batalhando. Ofereceu uma de suas bolsas de estudo aos gênios do banco Itaú que, na segunda-feira, soltaram uma nota dizendo que "houve intermitência na disponibilidade do site internet 30horas".

Eles queriam dizer que o sistema falhou por algumas horas, mas preferiram arriscar intermitência de disponibilidade de atenção dos outros.

24 HORAS

Nova York tem a loja da Apple funcionando 24 horas.

São Paulo tem uma novidade, diferente. Um laboratório (Cura) de exames clínicos que funciona dia e noite.

Primeiro foram as filas do SUS, que se medem em meses. Depois vieram as esperas dos laboratórios famosos que já chegaram a semanas. Criaram a ressonância magnética da madrugada.

Talvez seja a única cidade do mundo com esse tipo de serviço.

DORA KRAMER - Impávido colosso

 Impávido colosso
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 06/11/11

A decisão do Supremo Tribunal Federal, por 8 votos a 2, de garantir a constitucionalidade da lei que permite ao Executivo reajustar o salário mínimo baseado em critérios previamente definidos e não mais a partir de valor fixado anualmente pelo Congresso, é de especial relevância se examinada pela ótica política do equilíbrio de poder entre os Poderes.

Aspecto, aliás, ressaltado pelos dois ministros que deram votos vencidos, Marco Aurélio Mello e Carlos Ayres Britto.

O STF livrou o governo do desgaste anual de enfrentar o debate no Legislativo, o que era exatamente o intuito da proposta apresentada pelo Planalto,aprovada no Parlamento e contestada na Justiça pela oposição.

O Judiciário seguiu tecnicamente a lei. Nem sempre o faz, mas não se pode criticá-lo por fazê-lo. Cumpre apontar, porém, a consequência: a obstrução do debate e a reduçào da já decrescente participação do Poder Legislativo nas questões de interesse nacional.

A fixação do mínimo dará menos trabalho a partir de agora, será meramente técnica, levando em conta a inflação acumulada segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor e a variação do Produto Interno Bruto nos dois anos anteriores.

A discussão política perde espaço. Mas o governo também fica refém dos números, independentemente do fato

de a situação no ano suportar ou não o reajuste no montante previsto.

O dano maior, entretanto, é a criação de mais um fator de distanciamento do Congresso em relação aos temas que importam ao público.

Essa lei reforça a constatação do estudo feito por José Álvaro Moisés, no núcleo de políticas públicas da USP, sobre o desempenho do Congresso entre 2009 e 2010: 85% da agenda do Legislativo é dominada pelo Executivo.

Os parlamentares poderão concluir por si o quanto perdem em importância em boa medida por cessão voluntária de poder - para o Palácio do Planalto nesta terça-feira, quando a pesquisa será apresentada no Congresso.

Foi uma decisão boa para o Executivo, mas ruim para o sistema representativo.

Mãos dadas. Márcio Moreira Alves usava uma expressão que irritava muito o PMDB. Referia-se à "moral homogênea" para definir o compartilhamento de interesses fisiológicos entre a cúpula do partido.

Diante da decisão do Conselho de Etica da Assembleia Legislativa de Sao Paulo de arquivar sem investigar o caso da venda de emendas denunciado pelo deputado Roque Barbiere pode se concluir que existe uma "moral homogênea" em vigor nos órgãos ditos de controle ético nos âmbitos federal e estadual.

Assim como a maioria governista de inspiração petista faz no Congresso, a maioria governista de inspiração tucana obstrui a função fiscalizadora da Assembleia em São Paulo. Mesma medida. Na essência, não há diferença entre as situações do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda e do atual, Agnelo Queiroz, cujo afastamento está sendo pedido pelo DEM, ex-partido de Arruda, No caso do ex, havia um vídeo. Sobre Agnelo há gravações feitas pela Polícia Civil de ande,aliás, foram agora demitidos 57 delegados-chefes e 7 diretores.

O PT, partido do governador do DF, precisará caprichar nos eufemismos se resolver defender seu correligionário depois de ter capitaneado o processo que acabou levando ao afastamento definitivo de Arruda.

João sem braço. Se havia alguma dúvida de que a indicaç5o de João Paulo Cunha para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara era um gesto estratégico do PT, não há mais, desde que um projeto de anistia para a cassação de José Dirceu apareceu na pauta da CC3.

Revelado o fato, Cunha mandou retirar a proposta fazendo-se de desentendido a respeito do que sempre esteve muito bem entendido com o colega Dirceu. Como o presidente da Comissão, note-se, de Constituição e justiça,réu no processo do mensalão.

CELSO MING - Não emplacou



Não emplacou
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo - 06/11/11

Uma das poucas propostas concretas levadas à reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), terminada na sexta-feira, em Cannes, França, foi a criação imediata de um Imposto sobre Transações Financeiras (FTT, na sigla em inglês).

Mas esse projeto não mereceu mais do que uma observação paralisante no comunicado dos líderes do G-20: "Tomamos conhecimento da iniciativa de alguns de nossos países de taxar o setor financeiro, inclusive por meio de uma taxa de transação financeira, entre outros objetivos, para dar suporte ao desenvolvimento".

Para não retroagir à ideia original, elaborada pelo economista americano James Tobin, em 1971, foi o presidente da França, Nicolas Sarkozy, seu grande entusiasta, que decidiu encaminhá-la para que os dirigentes do G-20 a abençoassem e transformassem em lei. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, a acolheu com algum fervor e a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, não escondeu seu apoio, mas dois vetos decisivos bloquearam o plano no G-20: o do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que, no entanto, não objetou que fosse adotado livremente por outros países; e o do primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron.

Ao contrário do que pareceu aos desavisados, não se trata de uma CPMF global. Se é para fazer uma comparação com uma taxa vigente no Brasil, a mais parecida é o nosso Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

O fato gerador da CPMF é (foi) qualquer movimentação feita em conta corrente bancária. O IOF incide, a alíquotas variadas, sobre algumas transações financeiras (câmbio, crédito, posições compradas em derivativos cambiais, etc.). O FTT também alcançaria apenas algumas transações (veja abaixo).

Há mais uma diferença de fundo entre o IOF e o FTT. O IOF tem funções regulatórias, enquanto o FTT nasceria com objetivos arrecadatórios, embora até agora não muito claros. Alguns documentos falam em obter recursos para ajudar a capitalizar os bancos. Outros, que os volumes seriam usados para investimentos e, assim, financiariam a recuperação.

A rejeição sumária do tributo no âmbito do G-20 deixa os líderes da Europa com a opção que lhes sobrou: a de encaminhá-lo à discussão para implantá-lo na União Europeia (bloco dos 27). Ainda assim, teria de vencer a ferrenha oposição da Inglaterra.

O ex-presidente do Banco Central Europeu Jean-Claude Trichet advertiu antes de deixar o cargo que esse imposto não poderia ser regional: "Ou será global ou será impraticável". A partir do momento em que vigorasse em somente um punhado de países, bom pedaço das transações financeiras migraria para onde não houvesse tributação. A Inglaterra não o quer por entender que a city londrina, maior centro financeiro da Europa, correria o risco de perder negócios. E, de quebra, há o problema dos paraísos fiscais, grandes polos que fogem sistematicamente das leis das regulações globais.

No seu formato original, o FTT cobrado na União Europeia aplicaria alíquota de 0,1% nas liquidações de negócios com ações e títulos; e de 0,01% nos contratos de derivativos. Nesses moldes, teria potencial para arrecadar mais de 110 bilhões de euros (US$ 79 bilhões) por ano.

EDITORIAL FOLHA DE SP - Sem controle


Sem controle
EDITORIAL 
FOLHA DE SP  - 06/11/11

São preocupantes, embora não constituam a rigor nenhuma surpresa, as últimas declarações do ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União, a respeito dos mecanismos de combate à corrupção presentes no governo federal.

Na esteira das denúncias envolvendo favorecimentos a ONGs no Ministério do Esporte, a presidente Dilma Rousseff determinou que fossem reavaliados todos os repasses de verbas governamentais a instituições desse tipo, no prazo de um mês.

O ceticismo que tal medida naturalmente suscita se vê confirmado pelas declarações de Hage, na Folha de ontem. O "primeiro responsável" pelo exame de possíveis irregularidades em contratos com as ONGs, segundo o ministro, será o ministério que os celebrou.

Assim, em última análise, o próprio fiscalizado assume o papel de fiscalizador. O máximo que a Controladoria-Geral da União pode fazer é oferecer um auditor para acompanhar o processo em cada ministério.

As deficiências apontadas pelo ministro não se resumem a esse aspecto. Caso fossem acessíveis, pela internet, os termos e condições de cada convênio entre ONGs e governo, a própria sociedade poderia exercer constante fiscalização sobre o que, notoriamente, constitui porta aberta para favorecimentos a entidades fantasmas e apaniguados políticos.

Ocorre que o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) não tem sido capaz de implantar tal sistema de controle on-line. "O Serpro não tem condições de atender às demandas de todos os ministérios da Esplanada, essa que é a verdade", suspira o ministro. "Tudo atrasa."

A asseveração ganha peso especial quando se leva em conta que, ainda segundo Hage, casos como os que motivaram a saída do ministro do Esporte teriam sido evitados -ou revelados- muito antes de assumirem a dimensão que vieram a ter.

Um derradeiro toque de melancolia arremata a entrevista do ministro. "Falta dinheiro", disse Hage, para informatizar plenamente os dados sobre os convênios governamentais. Chega-se ao paradoxo em que, por carência de verbas (e também de disposição, acrescente-se), o governo perde recursos em maior quantidade -ou melhor, entrega-os a parceiros sobre os quais não se tem controle.

USPirados


USPirados


BILL GATES - O G20 e o Brasil


O G20 e o Brasil 
BILL GATES
FOLHA DE SP - 06/11/11

Bem-sucedido em seu processo de desenvolvimento, o Brasil tem compreensão sofisticada daquilo que os países pobres precisam fazer para melhorar

A estabilização da economia global e a geração de empregos estiveram, com razão, no topo da agenda da reunião do G20 na França.

Um risco real, contudo, é o de que algumas das políticas cogitadas por membros-chave do G20 corram o risco de reduzir a assistência e outros investimentos em crescimento e desenvolvimento em muitos dos países mais pobres do mundo.

Seria um erro enorme, porque é precisamente este o momento em que esses países estão preparados para acelerar os avanços da década passada e se tornarem parceiros estáveis e rapidamente crescentes na economia global.

Em vez de recuar, este é o momento de nos engajarmos mais profundamente, em mais áreas e por meio de parcerias novas e instigantes.

O presidente Sarkozy me convidou a apresentar um relatório para os líderes do G20 sobre como ampliar o financiamento para o desenvolvimento, e nesse relatório apresentei ideias muito concretas sobre como fazer isso e deitar as bases para que o mundo consiga atender as necessidades e aspirações de todos os seus 7 bilhões de cidadãos.

Uma das razões pelas quais sou otimista em relação ao futuro é o fato de que países em rápido crescimento, como o Brasil, possuem o potencial de transformar o desenvolvimento. Esse potencial enorme é a razão pela qual a Fundação Bill & Melinda Gates assinou nesta semana um acordo com o governo brasileiro para trabalharmos juntos sobre projetos de agricultura e saúde para beneficiar países pobres.

Tendo avançado com tanto êxito no processo de desenvolvimento, o Brasil tem compreensão sofisticada do que os países pobres precisam fazer para melhorar suas condições de vida. Com enormes capacidades técnicas, pode inventar ferramentas inovadoras para solucionar alguns dos problemas mais renitentes enfrentados pelos pobres.

Um exemplo disso é uma iniciativa recente para melhorar a produtividade agrícola em Moçambique, país onde uma em cada cinco crianças é malnutrida.

Graças à combinação de investimentos generosos do Japão e suporte de capacitação técnica do Brasil, Moçambique está a caminho de conquistar a segurança alimentar e, com o tempo, exportar produtos agrícolas para a região e o mundo.

Os países pobres estão usando seus próprios recursos para liderar seu próprio desenvolvimento. Líderes africanos podem levantar mais dinheiro para o desenvolvimento, com mais eficiência.

Os países do G20 podem ajudar nisso, exigindo que empresas de mineração e petróleo listadas em suas bolsas de valores divulguem o que pagam para os governos de países em desenvolvimento. Dessa maneira, os termos dos contratos envolvendo recursos naturais farão parte de registro público, e cidadãos em todos os países poderão proteger seus interesses.

Os países doadores tradicionais também têm a responsabilidade de continuar com sua generosidade assistencial. Muitos países definiram metas para assistência até 2015, e ainda têm tempo para tomar medidas para alcançar essas metas.

Para concluir, o setor privado pode aumentar seu envolvimento no desenvolvimento. O setor privado é o motor do crescimento econômico e a maior fonte de inovação no mundo, mas nem sempre investe nas necessidades dos mais pobres, porque nem sempre há incentivos para isso. Acredito que há maneiras de encorajar o investimento particular em coisas como tecnologias agrícolas e projetos infraestruturais.

Existem bilhões de dólares em mãos de instituições filantrópicas, investidores de impacto, comunidades de diáspora e fundos soberanos que poderiam ser mobilizados para ajudar os pobres.

Esse trabalho não envolve alguns poucos países ricos dando assistência à moda antiga a um mundo monolítico em desenvolvimento. Ele diz respeito a como novos parceiros podem levar energia nova e transformadora ao desenvolvimento, conservando o mundo no caminho em direção à equidade e ao crescimento econômico de longo prazo.

BILL GATES é copresidente da Fundação Bill & Melinda Gates.

Tradução de CLARA ALLAIN.

MARIA INÊS DOLCI - Meios de pagamento não devem ser discriminados


Meios de pagamento não devem ser discriminados
MARIA INÊS DOLCI

FOLHA DE SP - 06/11/11

"Você pode pagar com cheque para me ajudar?", pergunta a vendedora da loja de bolsas, malas e carteiras.

Ela explica ao consumidor que é recompensada quando consegue efetuar uma venda paga em cheque ou dinheiro.

O motivo de tamanha pressão é óbvio: economizar as taxas que despendem às operadoras de cartão de crédito.

O correto seria que os pagamentos em dinheiro, cheques e cartões de crédito não sofressem nenhuma discriminação. Não é o que ocorre de fato, porém, nas lojas de rua e dos shoppings.

Como deve, então, proceder o cliente? O primeiro passo é defender seu direito: exigir os mesmos descontos concedidos a quem usa o cheque.

Caso disponha desse meio de pagamento e lhe seja oferecido preço menor, negociar uma redução maior do que a proposta, uma vez que você estará atendendo exclusivamente o interesse do lojista e do vendedor, e não o seu.

Os comerciantes deveriam se lembrar de que os cartões de crédito evitam o manuseio e o armazenamento de dinheiro e de cheques, além de permitir uma flexibilidade maior na data de pagamento.

Afinal, muitas pessoas necessitam de alguns dias ou semanas até receber os rendimentos para fazer compras.

Essa é uma queda de braço que se acentuou com a drástica redução da inflação após o Plano Real. E que também se reforça em razão do crescimento da economia nos últimos anos.

Se houver queda mais expressiva das vendas, os lojistas serão os primeiros a aceitar cartões de crédito.

Até porque os cheques são tarifados, dependendo do tipo de conta-corrente. Nada é simples nas relações de consumo em um país em que há leis que pegam e outras que não pegam.

Sem contar que os clientes sempre têm a possibilidade de trocar de loja, caso não aceitem a forma de pagamento que eles prefiram.

ALBERTO TAMER - Brasil e G-20, dinheiro não



Brasil e G-20, dinheiro não
ALBERTO TAMER 
O Estado de S.Paulo - 06/11/11

E o G-20 decidiu rapidamente não dar dinheiro à União Europeia comprando títulos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). Não são confiáveis. Quando muito só com garantia do FMI, que por sua vez também quer mais recursos para socorrer a Europa, que já absorve e compromete 71% do seu orçamento. Uma distorção porque é dinheiro que vai faltar para socorrer os países menos desenvolvidos. A questão da semana era quem socorreria o Fundo para que ele socorresse a zona do euro. Assunto adiado para dezembro quando haverá uma nova reunião dos ministros de Finanças.

Zona do euro não é confiável. Ninguém acreditou nos números da zona do euro, porque estavam baseados em promessas antigas que não foram respeitadas. Ao contrário, a situação se agravou com mais um capítulo da tragédia grega que se transformou nesta semana em "novela das 8". Referendo ou não referendo, eis a questão.

Obama aprendeu. Ele até ironizou diante de tanta incerteza que se eterniza. "Nestes dois dias aprendi muito com o processo de decisão na Europa..." Parece que eles sabem muito bem como fazer para não decidir. Obama, como Dilma, disse que por enquanto não vai dar mais dinheiro ao FMI. Também como Dilma, fechou a mala e voltou para cuidar de seus problemas sobre os quais podem agir, como crescer sem mais inflação. Ao contrário da Europa, sabem o que devem e estão fazendo.

Brasil também diz não. O Brasil se saiu bem da reunião do G-20. Dinheiro agora, não. Dilma tentou amenizar, "foi um sucesso relativo", mas foi categórica e incisiva: "Não temos a menor intenção de fazer qualquer contribuição ao Feef. Se nem os europeus têm, porque nós teremos? Faremos por meio do FMI." E, mesmo assim, assunto ainda a discutir. É dinheiro suado. De acordo com despacho da BBC, ela teria acrescentado: "O dinheiro das reservas foi conseguido com muito suor, não pode ser usado de qualquer maneira."

Podia interpretar-se como que dizendo: vamos dar um empurrãozinho para que eles não caiam logo, mas com os dois pés escorados no FMI. A questão, neste fim de semana melancólico era saber quem ia escorar o FMI. Lagarde também saiu de Cannes de mãos vazias. Ninguém prometeu nada ao FMI. Assunto adiado para depois? Quando, ora, na reunião dos ministros das finanças em dezembro.

Toma que o problema é teu. No fundo, foi esse o recado do G-20, bem resumido pela primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard: "A Europa precisa primeiro por a casa em ordem." Que eles se reúnam com o BCE, que criem recursos para capitalizá-lo, que emitam euros se for preciso. (O Fed, nos EUA, não está criando mais de US$ 2 trilhões e deve emitir ainda mais?)

Só que até agora o BCE rejeitava assumir mais compromissos , discutia se deveriam comprar mais títulos dos países em crise. Estava mais preocupado com a inflação "galopante" de 3%. Ufa...

BCE mudou. E aqui a única notícia positiva da semana. O novo presidente do BCE, o italiano Mario Dragghi, anunciou uma redução de 0,25% nos juros para mesmo com a inflação mais alta. Deu a entender que um novo corte dos juros pode vir até mesmo antes da próxima reunião. Há pressa no momento porque nada se fez até agora e a recessão parece que deixou de ser um risco para se tornar um fato. A taxa atual ainda está em 1,25% e pode recuar para menos de 1%. Afinal, nos Estados Unidos, logo no início da crise de 2008, o Fed o fixou entre 0 e 0,5%. Eles já conseguiram sair da recessão que parece não ser mais uma ameaça e sim um "quase fato" na União Europeia que cresce apenas 0,2%.

Tudo indica que o PIB neste trimestre será negativo e não há sinais, no momento, que esse cenário se altere sem uma ação urgente e coordenada que ainda não existe.

A decisão do presidente do BCE é extraordinária e inovadora, porque seu antecessor havia, acreditem, até aumentado os juros duas vezes em plena crise!

E nós? Ora, a presidente voltou para cuidar de problemas mais sérios, como crescer, sem mais inflação e blindar a economia contra os desvarios externos.

Ah! ia esquecendo. O comunicado final do G-20 diz que os países da Europa "se comprometem a adotar uma série de medidas para ajudar a recuperação da crise e garantir estabilidade na Eurozona com saneamento das contas públicas". Outra novidade retumbante, "a China promete convertibilidade do yuan e redução das reservas". Vocês não acham que é engraçado?

CLAUDIO HUMBERTO

“A Justiça está abrindo as portas para os fichas sujas”
SENADOR WILSON SANTIAGO (PMDB) DESTRONADO POR CÁSSIO CUNHA LIMA (PSDB-PB)

DILMA PREFERE GARIBALDI PRESIDINDO O SENADO 
O ministro Garibaldi Alves (Previdência), que a presidente Dilma avalia como um dos seus melhores acertos na composição do governo, poderá ser premiado, contraditoriamente, com sua saída do cargo para disputar a presidência do Senado a partir de 2012, em substituição ao senador José Sarney. É praxe no Senado o partido de maior bancada indicar o futuro presidente, e mais uma vez o PMDB fará a escolha.

CORTE & COSTURA 
Dilma já obteve o apoio para Garibaldi das figuras centrais na escolha: o atual presidente, José Sarney, e o líder do PMDB, Renan Calheiros.

OUTRO PROJETO 
O “nome natural” para presidir o Senado seria Renan Calheiros, mas sua prioridade agora é viabilizar a candidatura ao governo de Alagoas.

MINORIA 
Senadores do PMDB não alinhados com o Planalto também desejam indicar o futuro presidente do Senado, mas são minoritários na bancada.

SEM VOZ, SEM SALDO 
A conta é de pessoas próximas. Por causa da doença, Lula deixará de arrecadar mais de US$ 1 milhão com cinco palestras adiadas.

HADDAD SAI COM DEFICIT DE 400 MIL PROFESSORES 
Focado na candidatura à prefeitura de São Paulo, por escolha de Lula, e com apoio da presidente Dilma e da máquina do governo, o ministro Fernando Haddad (Educação) deixará uma herança maldita no ensino público: faltam 400 mil professores no ensino básico (fundamental e médio) no País. A maior carência é para as disciplinas de matemática, química, física e biologia. Há escolas que nem as têm na grade.

DESPRESTÍGIO 
A conta de 400 mil é do próprio Haddad, revelada a empresários em reunião fechada. A justificativa: nenhuma criança sonha ser professor.

INTENSIVÃO 
O MEC pretende treinar 332 mil educadores até dezembro, no Plano Nacional de Formação de Professores. Mas nada garante que dê certo.

ATALHO EDUCACIONAL 
Para camuflar o cenário, o MEC usa a estrutura dos institutos federais de educação, da Ciência eTecnologia, a fim de treinar professores.

ASSIM É FÁCIL 
O governador Sérgio Cabral pode entregar de bandeja o Maracanã quando acabarem as obras. Tem bolão de apostas do vencedor da licitação de concessão para usufruir, sem ônus, o estádio.

SAMBA COMUNISTA 
Autorizada a captar até R$ 736 mil pela Lei Rouanet para cantar a colonização italiana em 2012, a escola de samba gaúcha Imperatriz Dona Leopoldina louvará a UNE, que deve ter dado uma força para um convênio com o Ministério do Esporte no programa Segundo Tempo.

AMIZADE NUCLEAR 
O presidente cocaleiro da Bolívia, Evo Morales, tem parceiro novo, além do Brasil e suas empreiteiras “amigas”: o porralouca do Irã, Mahmud Ahmadinejad, que doará US$ 274 milhões a “projetos sociais”.

GASTÃO CUNHA 
Réu no processo do mensalão, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) gastou R$ 41,9 mil da cota parlamentar no recesso de fevereiro. No recesso de julho mais
R$ 25 mil, com direito a hotel em Ilhabela (SP).

O MELHOR EXEMPLO 
Com seu indiscutível carisma e apelo popular, o ex-presidente Lula poderia usar sua atração fatal pelo pela TV para advertir contra maus hábitos que provocam o câncer. Cigarro e bebida, por exemplo.

ESPERANDO NOEL 
A canseira na Câmara dos Deputados será amenizada, em dezembro, por quatro sessões solenes, homenageando centenário do criador do Krav Magá, o curso de Direito da Unip-Tatuapé (SP), José Graziano, da FAO, e os 51 anos do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas (RS).

CAMPO MINADO 
“Lula se tornou o líder que é justamente por fazer política com o coração e não com o fígado”, exultou no Twitter o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Fígado de ferro, diga-se.

LIMPEZA 
Por recomendação do Tribunal de Contas (TCU) e Controladoria-Geral (CGU) da União, o Ministério da Saúde divulgou na sexta-feira lista de 16 exonerados no Instituto Nacional de Câncer, que recebiam em dobro.

PRESENTE DE GREGO
Se a Grécia falir, Eike Batista dará um jeito de comprar a Acrópole para construir um shopping, com a luxuosa ajuda do BNDES, claro. 

PODER SEM PUDOR
BRASÃO É MARCA 
A ex-deputada Dirce Tutu Quadros, filha de Jânio, decidiu mandar a filha Tina estudar na Inglaterra. Tudo pronto, recebeu um telefonema de sir John Towey, diretor da escola, pedindo para ela não esquecer do brasão da família. A deputada desligou o telefone sem saber o que fazer, mas logo em seguida se virou para amigos que estavam na sala e decidiu: “Levarei uma vassoura para pendurar no quarto da Tina. É o brasão dos Quadros!”

DOMINGO NOS JORNAIS


Globo: Fraude em convênios com ONGs se repete no Trabalho

Folha: Poluição no Tietê está pior do que há 18 anos

Estadão: Juro real recua para 4,5% e atinge o menor nível desde 94

Correio: Jockey Club é pivô de uma briga de R$ 14,7 bi

Zero Hora: Estudantes viram alvo fácil de ladrões viciados em crack

Estado de Minas: Índios cruzam fronteira para ganhar bolsa-família