quarta-feira, março 30, 2011

MÍRIAM LEITÃO

Nova volta na chave 
MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 30/03/11

Nos primeiros três meses do ano passado, entraram US$20 bilhões no país, metade foi dinheiro de curto prazo de empresas e bancos. Este ano, no mesmo período, entraram US$38 bilhões. É esta escalada que o Banco Central quer reduzir. Tem entrado muito empréstimo de prazo curto, de um ano, para aproveitar a diferença de juros ou financiar capital de giro a custo baixo.
Os bancos aproveitam o diferencial de juros, como sempre fizeram. Com juros baixíssimos lá fora e de 11,75% aqui dentro, é fácil ver que há uma vantagem enorme. O BC acha que, além de arbitragem de juros, há também muitas operações de captação de bancos para alavancar créditos no mercado doméstico com funding mais barato. Além disso, empresas não financeiras têm se aproveitado para financiar seu capital de giro através de captação lá fora.
Aí ocorrem os problemas. O primeiro é que desta forma empresas e bancos contornam as medidas tomadas pelo Banco Central para reduzir a oferta de crédito, ou seja, as autoridades acham que essa captação está neutralizando as medidas chamadas "macroprudenciais". O outro problema é que essa entrada excessiva de dólares derruba ainda mais a moeda americana, produzindo mais distorções na economia brasileira. Ainda há um terceiro complicador: as empresas ficam mais expostas ao risco cambial e se o dólar subir abruptamente, como aconteceu em 2008, isso pega as empresas no contrapé.
Foi o que fez o Banco Central tomar a decisão que anunciou ontem, de elevar para 6% o IOF sobre empréstimos de prazo até 360 dias no exterior. É uma tentativa de alongar prazos, evitar vazamentos nas medidas de contenção de crédito, e impedir excessiva exposição cambial das empresas. Pelas contas que fizeram, o ganho de captação no exterior para aplicação aqui no Brasil, com a taxa Selic em 11,75%, cairia de 8,75% para 2%. Isso, na opinião do governo, é um desestimulo à continuação dessa forma de entrada de capital.
Um dos objetivos da medida é fortalecer as regras criadas para conter o excesso de oferta de crédito anunciadas no final do ano passado, como ferramenta auxiliar no combate à inflação. Ontem mesmo o BC divulgou que o crédito continuou subindo em fevereiro e já atinge 46,5% do PIB. Isso, apesar dessas medidas, como a elevação do recolhimento compulsório ao Banco Central, tanto nos depósitos à vista quanto nos depósitos a prazo. As regras do final do ano foram baixadas para que os bancos ficassem com menos recursos para emprestar. Mesmo assim, o volume de crédito subiu. Em parte porque os bancos e empresas recorreram ao mercado internacional, onde há muita liquidez com juros baixos.
O indicador preocupante do crédito não é a relação dívida/PIB, mas sim o nível de comprometimento da renda das famílias com o pagamento do principal e os juros das dívidas que tomaram. Hoje, se pegarmos o rendimento de uma forma ampla - salários, aposentadorias, benefícios como Bolsa Família - o nível de comprometimento das famílias com as dívidas é de 24%. Nos Estados Unidos, é de 18%. Isso apesar de lá as dívidas serem de mais longo prazo e a custo muito menor. Ou seja, há sim um risco maior no endividamento brasileiro, apesar de os níveis de inadimplência não serem altos. É por isso que o BC tem se preocupado em reduzir o ritmo do crescimento do crédito.
Os dólares continuarão entrando em grande quantidade no Brasil pelas inúmeras oportunidades de investimento, mas o que o Banco Central quer com medidas como a que anunciou ontem é financiar o déficit em transações correntes mais com Investimento Direto Estrangeiro do que com capital de endividamento de curto prazo.
José Alencar fez uma trajetória de extraordinário sucesso no setor empresarial. Construiu riqueza do nada. Uma pequena loja na cidade de Caratinga virou um império empresarial.
Eu o entrevistei em Montes Claros, em 1995, para uma reportagem sobre a competição que as empresas estavam enfrentando após a abertura da economia. "Competição é comigo mesmo", disse, cercado por máquinas modernas que haviam substituído a forma mais rudimentar de produção de têxteis. Ele tinha aproveitado o câmbio baixo pós-real para modernizar suas fábricas.
Entrou tarde na política mas fez uma trajetória bem-sucedida. Foi um vice-presidente que tinha suas próprias opiniões - como as sempre repetidas contra os juros altos - mas não constrangia o presidente, ao qual sempre manifestou absoluta lealdade.
Em 2008, eu perguntei a ele como era conviver por 11 anos com o câncer. Ele me disse uma frase inesquecível: "A morte é natural como a vida." E foi com essa naturalidade que ele tratou cada etapa dessa longa luta que perdeu ontem. Enquanto lutou, ele ensinou que doença é natural como a saúde. A sensação que fica é esta: de uma pessoa que mostrou que os maus momentos devem ser enfrentados com naturalidade e esperança. 

O IDIOTA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Importador questiona rigor a produto estrangeiro
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

A intenção do governo de exigir que os produtos importados cumpram os mesmos padrões de qualidade técnica cobrados dos similares nacionais reaquece indisposição no setor de máquinas e equipamentos entre fabricantes locais e importadores.
Empresários de diversos setores saíram de uma reunião no Ministério da Fazenda, na semana passada, com a tarefa de elaborar uma lista dos importados que ingressam no país e competem com brasileiros, sem, no entanto, ter de cumprir normas técnicas igualmente rigorosas.
Entre os participantes do setor privado, todos membros do GAC (Grupo de Avanço da Competitividade), estavam presentes Abimaq (que reúne setor de máquinas), Abramat (material de construção), Abiquim (químico) e Abinee (elétrica e eletrônica).
Fora do processo, a associação de importadores de máquinas industriais (Abimei) quer participar da equipe que vai discutir a lista.
"É um receio que aflige todo empresário que precisa comprar produto de fora. Pode haver tendência de gerar burocracia e aumentar o tempo no porto", diz Ennio Crispino, presidente da entidade.
"A Abimei não participa pois o foco é indústria nacional. Importadores não precisam estar no grupo que discute competitividade da indústria brasileira", diz a Abimaq. "Só seremos contra a importação prejudicial à concorrência justa."
Nas próximas semanas, os empresários devem oferecer uma lista dos produtos mais afetados. O governo deve editar medida provisória que detalhe a avaliação de alguns importados pelo Inmetro.

Medidas do BC terão pouco efeito, diz consultoria
Apesar das iniciativas do Banco Central de tentar frear a concessão de crédito no Brasil, o valor dos empréstimos no país aumentarão 17,3% neste ano, segundo dados da EIU (Economist Intelligence Unit).
A porcentagem é pouco mais de três pontos percentuais menor que a registrada no ano passado, de 20,5%.
O valor total das operações de crédito a pessoas físicas e empresas chegou a R$ 1,7 trilhão em 2010, de acordo com o Banco Central.
A redução do crescimento do crédito no Brasil só começará a ocorrer de maneira mais efetiva em 2013, segundo estimativa da EIU.
Argentina e Equador registrarão em 2011 aumentos maiores que o do Brasil pelo segundo ano consecutivo, de acordo com a consultoria.

PARA DEPOIS DOS R$ 3 MILHÕES
A concorrência na gestão de fortunas dos bancos anda acirrada. O Santander, com 7.000 clientes e cerca de R$ 30 bilhões em ativos, uma presença ainda pequena na área, incrementou sua equipe e ainda prepara novas contratações.
"Os bancos viram que o segmento "private" é um bom negócio em época de crise", diz a diretora do Private Banking Santander, Maria Eugênia Lopez, sobre o segmento que reúne clientes com aplicações a partir de R$ 3 milhões.
"Fazemos a gestão do patrimônio do investidor como um todo. É um cliente que quer manter a liquidez, para aproveitar oportunidades, como adquirir empresas. Ele compra até crédito imobiliário para ter liquidez."
A área econômica também mudou. O investidor quer saber, por exemplo, o que fazer quando sobem os juros, diz ela. "Deixamos de ser um "private" teórico para ser um "private" prático."
No "private" do Credit Suisse Hedging Griffo (R$ 33 bilhões de patrimônio), o cliente também tem de ter R$ 3 milhões em aplicações para entrar no segmento.
Além de serviços comuns, como fundos exclusivos, não tributados, o banco afirma se destacar por produtos lançados antes da concorrência, como fundos com derivativos ligados à variação do ouro ou do euro, com parte do capital protegido.

EMBATE

O principal desafio para os empresários em 2015 será reter capital humano e desenvolver talentos, de acordo com pesquisa realizada pela consultoria Deloitte que será divulgada hoje.
Diretores de 352 empresas foram ouvidos na pesquisa. No total, 56% deles apontaram que reter capital humano é o principal desafio hoje.
Uma porcentagem maior (60%), no entanto, acredita que esse será o maior problema a ser enfrentado daqui a quatro anos.
Para 2015, 54% dos empresários preveem que gerenciar os custos sem comprometer a qualidade do serviço será um desafio.
Lidar com a concorrência -problema para 48% dos executivos hoje- será motivo de maior preocupação no futuro, ainda de acordo com o estudo da Deloitte.

TORPEDO NA DENGUE
Um milhão de paulistas irão receber, a partir de hoje, mensagens de texto em seus celulares com alertas sobre combate à dengue.
A campanha para prevenir a doença foi desenvolvida em uma parceria entre a secretaria de Estado da Saúde e a Vivo.
As mensagens serão encaminhadas para todo o Estado de São Paulo, com foco nas regiões de Santos, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto -áreas com histórico de forte transmissão da doença.
A campanha vai lembrar os clientes da Vivo que 80% dos focos do mosquito da dengue estão dentro das casas e quais os cuidados para evitar a doença.
Os municípios de São Paulo registraram 3.390 casos de dengue no primeiro bimestre do ano. Ribeirão Preto concentrou 49,9% dos casos

AMBIENTAL

ACE Seguradora lança no Brasil um tipo de apólice que cobre prejuízos contra poluição ambiental.
Em caso de poluição, o produto defende bens coletivos como lençóis freáticos, mananciais, rios, praias, atmosfera, fauna e flora.
"A legislação brasileira é muito rígida com relação a uma possível agressão com substâncias poluidoras aos bens coletivos e a sociedade não possuía uma apólice de seguro específica para cobrir este risco", diz Jeferson Bem, executivo da ACE.

Sobremesa 
A marca de sorvetes argentina Freddo chega ao Estado de São Paulo em abril. A primeira sorveteria será na capital. Até o fim do mês, a rede inaugura a segunda loja, em Alphaville. O plano é chegar ao fim de 2012 com 15 pontos de venda.

Inauguração... 
A VTT abre hoje na cidade de Barueri (SP) seu primeiro centro de pesquisa de bioenergia fora de seu país-sede, a Finlândia. O projeto, que desenvolverá soluções para o mercado sul-americano do setor, é realizado em parceria com a Kemira.

...finlandesa 
Entre os planos da empresa, está o investimento de mais cerca de R$ 5 milhões no Brasil até o final de 2012, de acordo com o presidente global da companhia, Erkki KM Leppävuori, que pretende ter uma equipe de 30 pessoas no país.

Contrato... 

Negócios envolvendo os países da Dinamarca e do Brasil serão discutidos em reunião marcada para hoje. O encontro será realizado entre a ministra das Relações Exteriores daquele país, Lene Espersen, e empresários brasileiros.

...energético 

Durante a reunião, será assinado um contrato de cerca de R$ 40 milhões para exportação de um projeto de eficiência energética para uma usina sucroalcooleira na Bolívia. O projeto foi desenvolvido pela Dedini e pela Danfoss.

Internet 
A Basekit anuncia hoje a abertura de escritório em São Paulo e o investimento de US$ 6,5 milhões (cerca de R$ 10,7 milhões) para sua expansão. A empresa inglesa de "webdesign" abrirá unidades em Buenos Aires, Barcelona e Cidade do México.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION

ZUENIR VENTURA

O mal na rede
ZUENIR VENTURA 

O GLOBO - 30/03/11

Se já não bastasse a chamada ciberguerra, que está pondo em alerta o mundo virtual, com os hackers lançando na rede 55 mil vírus diariamente, crescem no Brasil as denúncias contra a tribo dos psicopatas, homofóbicos e racistas que andam pondo em risco a integridade de pessoas e instituições. O deputado Jean Wyllys, do PSOL, informou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara que vem recebendo "sistematicamente ameaças de morte" em blogs e sites, desde que começou a reestruturar a frente parlamentar pela cidadania das Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT). A cantora Claudia Leitte recebeu ameaças pelo Twitter contra ela e contra seu filho Davi, de 1 ano e cinco meses, sem contar o uso de suas fotos num site inglês de pornografia. Caetano Veloso manifestou sua indignação pelo fato de não ser punido "o cara que aparece no YouTube ameaçando explodir o Ministério da Cultura com dinamite". Alguém que não me lembro citou outro dia uma mensagem no Twitter em que o autor avisava que assim que acabasse de tomar sua cerveja ia sair espancando gays na Avenida Paulista. Isso sem falar na pirataria, apropriação indébita e textos apócrifos. Há mais contraventores e desajustados na internet do que se imagina. Já contei aqui como a repórter Juliana Tiraboschi fingiu na rede que era uma jovem deprimida à beira do suicídio. "Decidi me matar e quero saber qual o método menos doloroso", escreveu. Logo um internauta sugeriu um coquetel de medicamentos por ser "mais letal e menos doloroso". Outro aconselhou uma "overdose de barbitúrico" por sua ação rápida. Um terceiro ensinou a preparar um explosivo capaz de "te incinerar instantaneamente". Houve quem se preocupasse com o preço. "Se fizer do jeito certo, o enforcamento não é tão doloroso, além de ser barato e fácil. Só precisa uma corda." Surpresa, ela comentou: "Ninguém se mostrou perturbado. Apenas um dos meus interlocutores perguntou qual o motivo da minha decisão." 
Nem a existência de uma lei prevendo reclusão de dois a cinco anos para a prática, indução ou incitação de discriminação ou preconceito consegue evitar que um instrumento tão útil e poderoso como a internet seja usado impunemente para promover o mal. 
Em meio a tanta baixaria na internet, uma leitura animadora destes últimos dias tem sido o "Blog do Villas" (Boas Corrêa), dando conta da melhora do estado de saúde de Marcos Sá Corrêa, seu filho e um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Ferido ao cair de uma escada, Marcos foi operado na cabeça e está internado há cerca de um mês sob os cuidados do grande Paulo Niemeyer. A torcida, a esperança, a confiança de seus amigos é que o pior passou. 

GOSTOSA

ELIO GASPARI

O pleito da "autonomy" para o BC
ELIO GASPARI

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

NO DIA 9 DE AGOSTO de 2006, Clifford Sobel, o novo embaixador americano no Brasil, mal completara uma semana no país quando se encontrou com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Era um período em que, nas suas palavras, passava pela fase de "aprendizado". Dessa reunião resultou um telegrama que entrará para a história das relações entre os dois países.
De acordo com narrativa mandada pela embaixada ao Departamento de Estado, Meirelles queixou-se da persistência de uma "mentalidade inflacionária" na economia e defendeu a necessidade de uma lei que desse autonomia ao Banco Central.
Em seguida, "pediu que o governo dos Estados Unidos usasse discretamente sua relação com o do Brasil para discutir a importância de mandar ao Congresso uma legislação garantindo ao BC essa autonomia".
Meirelles sugeriu que o secretário do Tesouro, Henry Paulson, "levantasse o assunto com Lula e com o ministro da Fazenda Guido Mantega". Uma modalidade benigna de apoio aéreo. Mais adiante, quando a conversa rumou para o tema do clima para os investimentos americanos no Brasil, o presidente do Banco Central disse que, mesmo estando fora da área sob sua responsabilidade, poderia "ajudar nos bastidores" para a remoção de obstáculos.
Meirelles rebateu a narrativa da embaixada: "As declarações atribuídas a mim não refletem com propriedade o tema de qualquer conversa que eu tenha tido". Sobel, por sua vez, não quis discutir o assunto.
De duas, uma: ou o telegrama deturpou o teor da conversa, ou o presidente do Banco Central brasileiro foi buscar apoio para sua independência na Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos. Não se tratava de recrutar Paulson para derrubar as barreiras às exportações brasileiras de etanol, mas para que ele influísse junto a Lula e Mantega.
A boa norma recomenda que o presidente de Banco Central receba embaixadores estrangeiros na presença de um assessor encarregado de tomar notas. Terminada a conversa, fica o registro. Serve para evitar a proliferação de narrativas posteriores e até mesmo para preservar a memória das negociações. Infelizmente, não há notícia de que Meirelles tenha feito isso. Pelo lado do diplomata estrangeiro, todo burocrata sabe que o teor de sua conversa será transmitido à chancelaria que paga o salário do visitante.
Sobel entrou para a diplomacia pela porta do partido republicano. Empresário bem-sucedido e político derrotado nas urnas, ocupara por quatro anos a embaixada na Holanda. Um veterano do Departamento de Estado não enviaria a Washington um telegrama cujo resumo dá a impressão de ter havido uma primitiva proposta de toma lá, dá cá. Meirelles pediu a ajuda de Paulson num ponto da conversa e, em outro, feita uma ressalva, ofereceu-se para ajudar os interesses americanos, nos bastidores.
Para quem gosta de teorias conspirativas sobre a finança mundial, ou mesmo quem apreciou o documentário "A Verdade da Crise", no dia 25 de abril de 2008 o economista Luiz Gonzaga Belluzzo foi convidado por Lula para substituir Henrique Meirelles na presidência do Banco Central. No dia 30, em Nova York, os papéis brasileiros foram promovidos à categoria de grau de investimento pela agência Standard & Poor"s, a Bolsa subiu 6,6%, e a mudança foi esquecida.

ILAN AVRICHIR

Sistemas de avaliação de desempenho no Brasil
ILAN AVRICHIR
O Estado de S.Paulo - 30/03/11

Os jornais publicaram recentemente notícias, de profundidades variadas, sobre o conflito que se instaurou entre músicos e maestro na mais tradicional orquestra sinfônica do País. No epicentro, a decisão do regente de aplicar provas aos músicos como parte do que ele qualifica como esforço de melhoria contínua do nível artístico do conjunto.

Como toda crise, essa não foi provocada pelo fato que a fez eclodir. Existe um contexto favorável ao seu surgimento: dificuldade de obter fontes de financiamento para a manutenção de bons conjuntos, indefinições quanto ao papel do Estado na sustentação das orquestras, falta de apoio da maioria dos setores da sociedade, etc. Sobre esses aspectos bastante se escreveu nas últimas semanas.

Meu objetivo, aqui, é chamar a atenção para um aspecto da cultura organizacional brasileira, fundamental para o aperfeiçoamento da qualidade da gestão e que corre o risco de passar despercebido nesse episódio. Trata-se da dificuldade de estabelecer sistemas de avaliação de competência, desempenho ou mérito.

No meio acadêmico, no qual atuo, destaco dois episódios relativamente recentes. Um foi a iniciativa de instituir a avaliação de docentes na Universidade de São Paulo (USP). Vários professores vieram a público protestar contra a medida, sindicatos mobilizaram-se e os seus propositores foram apresentados das piores maneiras possíveis. Outro foi a introdução da avaliação dos egressos - primeiro, por meio do "Provão" e, atualmente, do Enade. A ambos se opuseram, entre outros, os estudantes, que chegaram a sabotar o exame. Até hoje, sob argumentos diversos, os egressos da USP e de universidades federais não se submetem a essa avaliação.

A professora Lívia Barbosa, no livro Igualdade à Brasileira, documenta como são recorrentes as tentativas de que o acesso a cargos e a progressão nas carreiras, no Brasil, se faça em função de mérito e competência, e como são igualmente repetidos os ataques a esse tipo de iniciativa e o seu fracasso. Ela chama a atenção para o fato de que a primeira Constituição brasileira, de 1824, já consignava que a admissão aos cargos públicos se faria sem outro critério que não o dos "talentos e virtudes" dos postulantes. A Constituição de 1891 reafirmou as condições de capacidade como critério de acesso. E as Cartas de 1937, 1946, 1967, 1969 e 1988 estabeleceram que o critério de admissão deve ser o concurso aberto. No entanto, os projetos para concursos públicos apresentados ao Congresso Nacional são, um a um, arquivados ou têm curta duração. O Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), criado no governo Getúlio Vargas, que teve, entre outros, o papel de fiador da modernização dos serviços públicos, foi sistematicamente proibido de realizar exames competitivos. A Constituição de 1988 foi acompanhada de manobra para conceder estabilidade aos funcionários não concursados à época. Recentemente, assistimos a embate no Congresso em que tabeliães defenderam seu direito de se manter à frente de cartórios em contraposição a profissionais concursados, em flagrante afronta ao que estabelece essa mesma Constituição.

Como ressalta Lívia, as pessoas dizem-se adeptas da meritocracia. Quase todas as ouvidas por ela concordaram que o desempenho deve ser o principal, se não o único critério de avaliação de funcionários. Mas, sob argumentos diversos, os que são diretamente envolvidos na implementação desse tipo de sistema terminam por ser contra. Rompimento da solidariedade entre os afetados, intensificação predatória da competição, ameaça às conquistas sociais, redução da qualidade produzida são alegações recorrentes.

Não é nosso propósito sustentar que a adoção de sistemas de avaliação de competência e desempenho tenha apenas aspectos positivos e quem se opõe a eles nunca tenha razão. Tampouco afirmar que aqueles que utilizam sistemas meritocráticos não cometem erros. Introduzir mudanças é projeto delicado. Precisa ser precedido e acompanhado por vários cuidados e técnicas. Mais básico e genérico é o que Kurt Lewin chamou, há mais de 50 anos, de descongelamento: a instalação, entre os afetados, da percepção dos benefícios, se não da inevitabilidade, da mudança.

No caso em questão, a avaliação de desempenho na Orquestra Sinfônica Brasileira, não é possível saber a distância se esses cuidados foram tomados. Várias coisas, no entanto, parecem problemáticas. O maestro afirmou, em entrevista publicada no Estado (12/3), que "as provas, desde o início, são apenas um elemento, parte de um processo mais amplo. (...) As audições têm como objetivo identificar as deficiências e oferecer aos músicos um feedback, para que eles possam se aperfeiçoar, refinar sua arte". As avaliações teriam, portanto, um caráter formativo, e não excludente. Nada sugere, contudo, que a forma como os resultados das provas se integrarão ao processo de avaliação de desempenho esteja definido, claro e comunicado aos músicos. Tampouco em que situações desempenhos considerados ruins podem resultar em demissão, situação que parece assustar mais os músicos.

Nesta, como em outras situações semelhantes, creio que o caminho seria discutir os benefícios e problemas das avaliações, minimizar seus aspectos disfuncionais, admitir erros eventuais na condução do processo, lidar com receios reais e imaginados dos afetados e seguir adiante. As evidências de que as avaliações de desempenho e a meritocracia trazem benefícios muito superiores aos problemas que causam são muitas e generalizadas. A introdução desse tipo de sistema na administração pública e privada no Brasil trará benefícios à eficiência da máquina estatal, competitividade à empresa privada e avanço às instituições democráticas.

PROFESSOR, É DIRETOR NACIONAL DA GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA ESPM

BRAZIU: O PUTEIRO

CELSO MING

Mais uma tentativa
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/03/11

Medida macroprudencial passou a ser um balaio onde cabe muita coisa, inclusive medidas macroprudenciais.
Por medidas macroprudenciais entendam-se procedimentos obrigatórios destinados a reduzir o risco de certas operações. No caso, trata-se de operações financeiras. Mas poderiam ser de outra natureza: exposição (excessiva) de um patrimônio qualquer a moedas estrangeiras, a ações, a investimentos de risco ou, até mesmo, ao mercado imobiliário, etc.
Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a imposição de um IOF de 6% na tomada de financiamentos estrangeiros. E deu à providência o tratamento de "medida macroprudencial". Dessa vez, ela serve, em princípio, para atuar simultaneamente sobre duas áreas: a do câmbio e a do crédito. Na prática, não reduz risco nenhum.
A tomada de empréstimos externos pelas empresas vem crescendo vigorosamente. No período de 28 de março de 2010 a 28 de março de 2011, eles saltaram de US$ 20,6 bilhões para US$ 38,5 bilhões ou 87%. Essa forte entrada de financiamentos externos foi recebida pelo governo como fator que contribui para derrubar o preço do dólar no câmbio interno.
O ministro Guido Mantega avisou que, com essa decisão, o governo trata de reduzir o risco cambial das empresas brasileiras. Mas não dê muita importância a essa afirmação. Quem sai na chuva é para se molhar. Bancos e empresas que captam recursos externos sabem o que estão fazendo. Não precisariam de guarda-chuva e galochas de Brasília para se abrigarem de eventual risco cambial.
Mantega quer segurar o dólar e, também, evitar alta dos juros para atacar a inflação. Além de evitar pressão sobre o câmbio, a intenção é desestimular o endividamento dos bancos para moderar o crescimento do crédito e para que o consumo se retraia e a inflação possa ser controlada.
O Banco Central divulgou ontem os números mais recentes (até fevereiro) sobre a evolução do crédito. Apesar de todas as medidas macroprudenciais anteriores, cujo objetivo era limitar a expansão do crédito bancário, essas operações continuam crescendo. Seu estoque foi de 46,3% do PIB em janeiro e avançou para 46,5% do PIB em fevereiro. Em 12 meses, cresceu 21%. Há uma semana, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, avisou que um crescimento superior a 15% neste ano seria indesejado, porque trabalharia contra a política de juros que está aí para derrubar a inflação.
O problema é que as tais medidas macroprudenciais tomadas para conter o crédito (aumento do compulsório dos bancos e exigência de mais capital para operarem no crédito) não estão fazendo efeito. Tanto não estão, que o crédito vem aumentando, como ficou dito, quando teria de diminuir.
Também aí, o governo é dúbio. Dá a impressão de querer segurar o crédito, mas faz pouco para isso e deixa que o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica (bancos oficiais) continuem deitando e rolando, especialmente nesse segmento.
As decisões tomadas ontem para conter a expansão da dívida externa dos bancos e das empresas são de baixo alcance. Desencorajam operações de até 365 dias, mas não de 366 ou mais. E, do ponto de vista tanto dos bancos e empresas como da economia brasileira, é discutível se convém desestimular o endividamento externo, justamente quando os recursos são abundantes, disponíveis e baratos.

CONFIRA
José Alencar

Na década de 1980, o polo têxtil de Americana (SP) continuava sendo o mais importante do Brasil. Mas pairava sobre ele a ameaça do sucateamento, na medida em que ficou quase 30 anos sem renovação. "O setor têxtil está desaparecendo, porque o governo não ajuda em nada" - era o que diziam os empresários na Americana de então. Mas não se mexiam.

Empresa modelo
Zé Alencar quebrou essa escrita, porque reconstruiu, quase do nada, em 1975, em Montes Claros (MG), a Coteminas, indústria têxtil que se tornou modelo e cujo sucesso calou muito empresário que pretendia sobreviver só com subsídios, tarifas protecionistas e juros favorecidos distribuídos pelo governo. 

FERNANDO DE BARROS E SILVA

O empresário cordial
FERNANDO DE BARROS E SILVA

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

SÃO PAULO - José Alencar era um tipo bonachão, sorridente e contador de "causos". Dava a impressão de estar sempre confraternizando com as pessoas. Mesmo durante seu calvário, parecia se comportar de forma amena e otimista. Conquistou a simpatia popular e será lembrado sobretudo por essa teimosia mansa contra a morte.
Em termos políticos, Alencar desempenhou alguns papéis importantes para Lula. A começar pela eleição, em 2002, quando, num ambiente de muita desconfiança contra o petista, funcionou como uma espécie de "sossega-empresário". O vice não era um industrial qualquer. Tinha peso. Sua presença na chapa reforçava, para além da retórica, os compromissos assumidos na famosa "Carta ao Povo Brasileiro", dirigida aos mercados.
Justiça seja feita: o artífice da aliança com o PL e da escolha de Alencar como par do metalúrgico não foi Lula, mas José Dirceu.
Em 2005, quando eclodiu o mensalão, Dirceu caiu e Lula viveu a maior crise de seu governo. A palavra impeachment passou a rondar o noticiário, mas Alencar em nenhum momento se assanhou. Não deu margem para que alguém achasse que poderia contar com ele para desestabilizar o presidente. Dilma, em situação semelhante, poderia ter a mesma confiança?
Alencar foi ainda uma espécie de grilo falante do governo, sempre protestando contra os juros altos. Com o passar do tempo (e o sucesso de Lula), essa ideia fixa o transformou num personagem algo folclórico, meio café com leite.
Ruim -nada folclórico, mas bem típico do patriarcalismo brasileiro- foi seu comportamento diante da filha que se negou a reconhecer e a maneira com que se referiu à mãe, procurando desqualificá-la.
Alencar era, enfim, o próprio empresário cordial -um símbolo da aliança entre capital e trabalho num governo de comunhão nacional. Não há dúvida de que Lula, pai dos pobres, mãe dos ricos, tinha nele uma espécie de cara-metade.

GOSTOSA

JOSÉ NÊUMANNE

Ficha Limpa não pode ignorar Constituição
JOSÉ NÊUMANNE 
O Estado de S.Paulo - 30/03/11

É definitivamente lamentável que a onda de indignação despertada na sociedade brasileira pela votação do Supremo Tribunal Federal (STF) que adiou a vigência da Lei da Ficha Limpa para a eleição de 2012 não passe de um tsunami cívico inócuo. Pois não produzirá efeitos nem contra a corrupção do serviço público nem no fortalecimento da democracia.

Cai no vazio por dois motivos básicos e óbvios: a causa não é sólida e a mobilização é festiva e efervescente. Se esse tipo de ira coletiva se manifestasse na rejeição a outros malfeitos dos homens públicos, ele seria mais nobre, mais útil e mais efetivo. Desafinando mais uma vez o coro dos descontentes, aqui proponho uma reflexão retrospectiva e aprofundada para chegar à autêntica raiz de nossos problemas institucionais. E destes, mais grave do que a improbidade administrativa - que a lei condena, mas não alcança - é a impunidade generalizada.

O prestígio e a ineficácia da Lei da Ficha Limpa são frutos dos mesmos enganos. Um deles foi a tentação de tentar tornar a Constituição a panaceia universal, capaz de resolver as distorções sociais e curar as doenças crônicas de nossa organização política. Se se contém um paradoxo numa frase curta - do tipo "a lei é dura, mas é lei" -, o que dizer, então, da enxúndia produzida pelos constituintes ansiosos em corrigir a História do Brasil com boas intenções, que, como lembrava minha arguta avó, sempre terminam debaixo de sete palmos de terra em algum cemitério - daqueles que João Cabral retratou em seus poemas?

A Constituição de 1988 consagra, é claro, o princípio da probidade administrativa. Tal seria se não o celebrasse! Mas, ao mesmo tempo, garante a qualquer cidadão acusado de violá-lo o direito de se defender plenamente, o que implica uma plêiade de recursos, que, por sua vez, legitimam um sem-fim de chicanas e gambiarras. São tão complexas as engrenagens do Direito no Estado democrático que o fazem mover-se em direções opostas, tornando permanentemente necessária a interpretação de um Poder republicano, o Judiciário, para que a máquina não pare de funcionar. Um dispositivo constitucional obriga o mandatário público a ser honesto. Outro, logo adiante, lhe assegura o direito de percorrer os labirintos dos escaninhos da Justiça para ter sua eventual infração punida.

Falso, enganoso e nocivo pode ser o resultado final da tentativa de criar atalhos nesses caminhos tortuosos. Um dos enganos mais comuns resultantes dessa tentativa de atenuar a subida ao patíbulo foi cometido pelos constituintes quando venderam à sociedade a mentira sutil de que milhões de assinaturas de cidadãos comuns teriam mais legitimidade - e, portanto, mais força - do que as iniciativas rotineiras dos representantes escolhidos pela maioria do eleitorado. Na democracia representativa, a representação não deve ser trocada pela intervenção direta do representado. Um abaixo-assinado não pode substituir o exercício máximo de poder do povo, que é escolher seu representante diante da máquina de votar. Por isso, mesmo tendo cedido ao senso comum de aceitar as iniciativas ditas populares na atividade legislativa, os constituintes não tiveram como retirar do legislador a palavra final de aprovar, ou não, a proposta do eleitor que não se elegeu.

A Lei da Ficha Limpa não é melhor do que as outras só por ter sido originada numa mobilização popular e avalizada por milhões de assinaturas de pessoas que não legislam diretamente, mas o fazem de maneira indireta pela voz de representantes por elas escolhidas nas urnas. Ao contrário, como resulta de um benemérito, mas superficial, desejo de extinguir a corrupção, o que não pode ser feito por uma penada, consolidou uma série de providências de aparência sedutora, mas perigosas na vigência. Em suma, a lei é ambiciosa e mal feita, uma mistura fatídica de vontade de fazer o bem não importando a quem atingir.

É necessário o primado da probidade para o exercício do poder público, mas não convém sobrepô-lo a outros direitos da cidadania. Por exemplo: ninguém aceitaria que agora, no meio do campeonato estadual, a Federação Paulista de Futebol substituísse a fórmula que adotou (de um octogonal decisivo) para definir o campeão pelo sistema de pontos corridos, empregado no Brasileirão. Não se trata de decidir qual é o melhor sistema. Trata-se, isso sim, de partir do pressuposto insubstituível de não mudar uma regra no meio da competição. Se isso vale num torneio esportivo, como não valeria na mais importante disputa cívica, o processo em que o cidadão indica quem legislará e quem governará? Portanto, se o STF fez mal ao permitir que, em 2010, o eleitor votasse sem saber se poderia, ou não, eleger certo candidato, deixando em aberto a decisão sobre a validade da Lei da Ficha Limpa na eleição do ano passado, agiu bem ao dar primazia ao conceito da regra que não pode ser mudada e ao respeito à decisão do eleitor, no exercício do soberano direito de escolher quem o representa.

Agora a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) defende a necessidade de o STF se pronunciar de vez sobre dois pilares do Estado Democrático de Direito ameaçados pela pressa com que o abaixo-assinado dos faxineiros da República foi tornado lei pelos representantes do povo.

Um deles é o princípio de que nenhuma norma legal pode retroagir. A Justiça precisa, de fato, dizer ao eleitor se este terá garantido o direito, nos próximos pleitos, de votar em alguém que tenha sido condenado por improbidade antes da promulgação da lei, em 2009.

Outra questão fundamental a ser avaliada pela última instância judiciária é a negação pela Lei da Ficha Limpa da presunção de inocência concedida a quem não houver tido a condenação passada em julgado, ou seja, reconhecida em todas as instâncias do Poder Judiciário. Aqui está em jogo o célebre conceito da dúvida a favor do réu (in dubio pro reo). A obrigação do STF é dirimir a questão antes de o eleitor ter de tomar a decisão.

ANTONIO DELFIM NETO

Antenado
ANTONIO DELFIM NETO

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, publicou no último dia 23 (http://tinyurl.com/4gp3gaz) um resumo das conclusões de uma importante conferência ("Repensando a política macroeconômica") patrocinada pelo organismo.
Ela reuniu o que há de mais significativo no mainstream da teoria macroeconômica para uma reflexão sobre a profissão. Quebrou-se o "encanto".
Mesmo os mais renitentes reconhecem que a era da moderação, que antecipou a crise, tinha pouca coisa a ver com as virtudes da política produzida pelos bancos centrais, supostamente apoiados numa "ciência".
Agora que o futuro é passado, sabemos que a crise foi gerada por uma soma de equívocos cometidos sob os olhos dos bancos centrais, portadores da ideologia que os "mercados" eram capazes de controlar os riscos embutidos em inovações financeiras aparentemente benignas, que eles (como confessou Alan Greenspan) nem sequer entendiam.
Vamos destacar três, das nove conclusões/"tentativas" recolhidas por Blanchard:
1ª) Estamos entrando num magnífico mundo novo, muito diferente em termos do exercício da política macroeconômica. Na velha discussão sobre os papéis do mercado e do Estado, o pêndulo avançou -pelo menos um pouco- na direção do Estado;
2ª) A macroeconomia deve ter múltiplos objetivos e muitos instrumentos para implementá-los. O objetivo da política monetária, por exemplo, precisa ir além do controle da inflação. Precisa incluir o crescimento do PIB e a estabilidade financeira e incorporar entre seus instrumentos medidas macroprudenciais. A política fiscal não pode restringir-se aos "gastos" menos a "receita" e os "multiplicadores" que influenciam a economia.
Existem, potencialmente, dezenas de instrumentos, cada um com seus próprios efeitos dinâmicos que dependem do estado da economia e das outras políticas.
3ª) Temos muitos instrumentos e não sabemos como utilizá-los. Em muitos casos, não temos certeza sobre o que eles são, quando e como devem ser utilizados e se vão ou não funcionar.
A conclusão é que os problemas são mais complexos do que pareciam. Como não sabem bem como usar os novos instrumentos, mas sabem que, potencialmente, podem ser mal utilizados, como devem trabalhar os formuladores da política econômica?
O melhor é uma política cuidadosa, paciente e de pequenos avanços: o pragmatismo é essencial! Parece claro que o Banco Central de Alexandre Tombini está mais antenado com as dúvidas do "estado da arte" reveladas na conferência do que os "cientistas financeiros" que o criticam...

BRAZIU: O PUTEIRO

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Me dê motivo
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/03/11

Crescendo geometricamente, a Vale e a saída de Roger Agnelli têm sido centro do noticiário das últimas semanas. Mas apesar dos quilômetros de análises, matérias e ponderações, não há explicação clara e objetiva para a forma pela qual está sendo feita a mudança de liderança na ex-estatal.

É direito, sim, dos acionistas, trocar o comando de qualquer empresa. Entretanto, forçar a saída de um executivo, que só fez a empresa crescer e se fortalecer, "pela porta dos fundos", é fato que merece maior transparência. Tanto assim, que foram sondados pelo menos três executivos, ao longo desses dois anos de fritura de Agnelli, sem sucesso. Eles sutilmente se esquivaram de um "problema" que significa salário de R$ 20 milhões por ano.

Ontem, Alcides Tápias, ex-Bradesco e ex-colega de Agnelli, perguntou: "Será que ele está saindo porque foi eficiente, fez coisas boas demais para a Vale e seus acionistas?".

E mais. Se a solução encontrada for mesmo a opção por um executivo que já trabalhe na empresa, é possivel que boa parte da diretoria saia, dependendo da escolha.

Me dê motivo 2
É fato que a forma de comunicação de Agnelli foi pautada, em primeiro lugar, pelo mercado de ações.

Foi assim quando o executivo anunciou a demissão de funcionários na crise, evitando desvalorização da empresa e irritando Lula. Outras empresas fizeram o mesmo sem alarde, dispensando gradualmente. E foram poupadas da ira do presidente. Foi assim quando a Vale resistiu à construção de novas siderúrgicas, evitando concorrência com seus compradores. De novo foi criticada por Lula. E assim foi no atendimento de pedido de partidos políticos.

Se ter mentalidade de empresa privada é razão para ser queimado em praça pública...

Ninho
E onde está Roger Agnelli? Pelo que se apurou, no fim de semana, ele estava em Angra dos Reis. Isolado.

Interessa
De Gilberto Carvalho, da secretaria geral da Presidência, sobre mudanças no cálculo das aposentadorias, em discussão com as centrais sindicais: "Posso garantir que esse assunto me interessa, até porque fiz 60 anos em janeiro".

É, o tempo passa...

Melhor, estraga
A arrecadação de SP, segundo números fresquinhos de Andrea Calabi, vai muito bem, obrigado. Em fevereiro, o ICMS cresceu mais de 10% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Significa que a economia brasileira, ou pelo menos a paulista, ainda não arrefeceu. Como quer o Banco Central, temendo inflação.

Um dado em especial chama atenção: o do crescimento do pagamento de impostos de importação. Aumentou nada menos que 15%. É o efeito "real" do real valorizado em ação.

Ela vai

Dilma disse sim a João Dória. Confirmou presença no Fórum de Comandatuba, em abril. Michel Temer também vai.

Speak, speak?
Carlos Wizard Martins, da rede de idiomas Wizard, tem motivos para visitar novamente a China, desta vez na comitiva de Dilma. Sua empresa fechou acordo com o governo de Xangai, segunda maior cidade chinesa, para ensinar inglês para cerca de 10 mil estudantes da rede pública.

A Wizard conta com três escolas no país e prevê abrir outras quatro ainda em 2011.

Objeto de desejo
Armen Petrossian, da Petrossian, Patricia Abdalla e Adriana Tutundjian, abrem amanhã a primeira loja do caviar no País. No Shopping Cidade Jardim.

Antecedida por um jantar seleto e fechado hoje, onde os convidados poderão degustar as... ovas.

Janis

Chico Lowndes, Rufino Ferreira e Sidinei Silva, donos do Sonique, inauguram o primeiro bar com a chancela da Woodstock Ventures.

A casa abre hoje e promete repertório rock. E decoração com peças originais da época.

Na frente

A Galeria Luisa Strina terá vernissage da paranaense Keila Alaver. No sábado.

Artur Grynbaum, do Boticário, inaugura concept store Eudora, nova marca de beleza do grupo. Hoje, no Shopping Morumbi.

A ópera Carmen, de Bizet, abre a Temporada Lírica 2011 do Theatro São Pedro. Hoje.

A Fundação Itaú Social acaba de lançar nova edição do Prêmio Itaú-Unicef.

A mostra de fotos Movimento Coletivo, do projeto Trecho 2.8, marca hoje a inauguração da Galeria da Rua, nos Jardins.

No Morumbi, o camarote The Red Pub, da TAM, copatrocinadora dos shows do U2 no Brasil, vai se assimilar a um pub irlandês. Dias 9, 10 e 13 .

Fabrizio Fasano abre exposição na galeria Mônica Filgueiras. Dia 6.

Jum Nakao, Fernanda Yamamoto, Ronaldo Fraga e Agustina Comas estão à frente do curso Trajetos Costurados. A partir de sexta, no Centro Universitário Belas Artes.

José Alencar deixa saudades. Não só pela coragem e bom humor com que enfrentou sua doença durante 13 anos, mas principalmente pela contribuição doada ao Brasil.

FERNANDO RODRIGUES

O vice e a tolerância
FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

BRASÍLIA - Há cerca de oito anos, a então poderosa vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, visitava o Brasil. O ministro da Fazenda da época, Antonio Palocci, esforçava-se para dar informações sobre a solidez da economia e das medidas para conter a taxa de inflação.
Por coincidência, era uma das interinidades de José Alencar no Planalto. Palocci e Krueger foram até ele. Ouviram imprecações contra as altas taxas de juros.
Apesar do espanto de Anne Krueger, a conversa transcorreu calma. Teve até um desfecho bem-humorado pela presença de espírito de José Alencar: "Eu vou dizer uma coisa para a senhora. Aqui, quem bate nos juros sou eu. Não vou deixar para a oposição bater, não". Palocci lembrou-se ontem de detalhes dessa história depois de saber da morte do ex-vice.
Houve dezenas de episódios semelhantes nos oito anos em que Alencar secundou Lula. Ele divergia em público sem provocar crises. Houve um estranhamento inicial, é verdade. Depois, compreendeu-se ser natural num governo com 500 mil funcionários existir alguém com coragem de pensar de forma contrária ao senso comum.
"Ele provou que a polêmica num ambiente de democracia e respeito faz muito bem ao país", avalia Palocci, talvez um dos mais açoitados pelas críticas do ex-vice-presidente contra os juros altos.
Na prática, José Alencar colaborou ao empregar um caráter mais maduro ao cargo que ocupou. Se as pessoas têm opiniões, por que não apresentá-las em público? Antes, bom era o vice quase mudo, com ideias circunscritas aos limites estabelecidos pelo Planalto.
Ao vocalizar seus conceitos sobre a economia, Alencar emprestou também respeitabilidade a uma tese antes um pouco órfã dentro do establishment. Não saiu vitorioso. Os juros continuam na Lua. Mas o Brasil tornou-se mais adulto. Mais tolerante com quem ousa pensar com a própria cabeça.

GOSTOSA

RUY CASTRO

Que sirva de lume
RUY CASTRO

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

RIO DE JANEIRO - A UFRJ, cuja capela queimou na segunda-feira, na Praia Vermelha, no Rio, é a sucessora da Universidade do Brasil, a primeira universidade federal, "do Brasil", criada em 1920. O prédio, de que só ficaram as paredes, é parte do conjunto arquitetônico levantado em 1852 por d. Pedro 2º para servir como um hospital de "alienados", o que então abrangia qualquer desvio da norma, incluindo alcoolismo -não por acaso, Lima Barreto foi um de seus hóspedes.
Passo sempre por ali e, além de admirar a beleza do conjunto, vivo lamentando seu abandono. Pela lateral da avenida Venceslau Brás, pichada, descascada e com o paisagismo arruinado, pode-se imaginar suas condições estruturais.
Tudo no Rio que era "nacional" e continuou aqui na mudança da capital para Brasília, em 1960 -a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional, o Observatório Nacional, o Colégio Pedro 2º, a floresta da Tijuca e muitos outros próprios federais, incluindo uma rede de hospitais-modelo-, foi mantido a pão e água por Brasília nos últimos 50 anos. Era como se a morte por asfixia fosse uma disposição federal contra essas instituições -na verdade, contra o Rio, para este ver quem mandava no país.
Nesses 50 anos, o Rio (às vezes, seu governador; em outras, seu povo; com frequência, ambos) foi oposição a quase todos os presidentes em Brasília: Jânio, Jango, Castello, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Sarney e Collor, pelo menos. Foi bonito, mas nos custou caro. Eles nos tiraram indústrias, serviços e bancos, fundiram a Guanabara com o Estado do Rio e dilapidaram nosso patrimônio histórico. E o Rio também errou.
Bem ou mal, e graças apenas a si próprio, o Rio sobreviveu. Está hoje mais vivo do que nunca. Que o fogo na capela sirva de lume para que se salve o muito que aqui ainda se guarda de história do Brasil.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Não quero voto de ignorante”
DEPUTADO JAIR BOLSONARO (PP-RJ) AO ESCLARECER DECLARAÇÕES PRECONCEITUOSAS NA TV

DURVAL OBTEVE “A JATO” PROTEÇÃO DO AMIGO ROSSO 
Demonstrando sua influência sobre o então governador Rogério Rosso, o operador e delator do mensalão do DF, Durval Barbosa, obteve “a jato”, em 1º de setembro, mesmo dia em que foi solicitada, a proteção da Polícia Civil. Ansioso para atender Durval, Rosso despachou de próprio punho sobre o ofício pedindo a segurança. O documento nem mesmo estava assinado, conforme cópia em poder desta coluna. 

SOU O CARA 
Durval nem se deu ao trabalho de requerer proteção. O documento não assinado, acolhido por Rosso, é de Edmilson Edson “Sombra” Santos.

CONTA E RISCO 
A Polícia Civil assumiu após a Polícia Federal lavar as mãos: Durval se recusou a trocar Brasília pelo Programa de Proteção à Testemunha.

TAPETE PERSA 
Lula agora diz que apoia a investigação da ONU no Irã sobre direitos humanos. Faltam menos de 51 dias para dizer que a ideia foi dele...

MAIA NO VIBER 
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), baixou em seu iPhone o aplicativo Viber, que permite ligações gratuitas e longe dos grampos. 

“AJUDA” A PORTUGAL DEVERIA SER LEVADA À OPOSIÇÃO
Antes de Dilma anunciar uma possível ajuda a Portugal, o assunto foi discutido nos bastidores com o demissionário primeiro-ministro José Sócrates, do Partido Socialista. Mas qualquer ajuda deveria ser tratada com Pedro Passos Coelho, líder do PSD, à frente nas pesquisas para as eleições de junho. Seu partido tem 42,2% das intenções do voto, aponta sondagem TVI/Intercampos, contra 32,2% do PS de Sócrates.

BRAZUCAS EM AÇÃO 
Os marqueteiros Antônio Lavareda e André Gustavo, da agência Arcos, do Recife, atuam há um ano para Passos Coelho (PSD), em Portugal.

Ó, CÉUS 
A Anac deu ok para a entrada em operação da Mais Linhas Aéreas, sediada no Rio. Voará com Fokker 100, de triste memória na TAM. 

HOLOFOTE APAGADO 
O sumiço do ministro Nelson Jobim (Defesa) terminou na segunda (28): tirou cinco dias de férias de Dilma e dos boatos sobre desavenças.

FICOU DEVENDO 
Quase canonizado em vida, José Alencar morreu recusando o gesto que se espera de todo homem que não é canalha: fazer exame de DNA em ação de reconhecimento de paternidade. Renegou a filha mais velha e insinuou que a mãe, enfermeira de Caratinga, era “prostituta”.

KAKAY COM ADRIANA 
Antonio Carlos de Almeida Castro, admirado criminalista de Brasília, assumiu a defesa de Adriana Villela, filha do ex-ministro do TSE José Guilherme Vilela, assassinado há 20 meses. Kakay se impressionou com os erros da Polícia Civil do DF, que considera a melhor do País.

ADEUS, MIKONOS 
A morte do ex-vice-presidente José Alencar atrapalhou os planos de Dilma de esticar a viagem, dando um pulo na Grécia. Pretendia passar o 31 de março longe das celebrações programadas em vários quartéis. 

TAMANCADA 
Da leitora Ana Santos no site do lisboeta Correio da Manhã, sobre Lula: “Não só acolhemos criminosos e prostitutas vindos do Brasil, como ainda oferecemos títulos de doutor a estrangeiros”. Foi o mais lido.

ESTÁ LÁ? 
O site da Universidade de Coimbra, onde Lula agora é doutor “honoris causa”, dá menos audiência que a nossa TV Brasil: só havia um comentário sobre Lula, mas dava erro na página. Ora, pois. 

FRITADA DE BEDRAN 
O ex-conselheiro da Anatel Antônio Bedran, que deseja a recondução, tem sido fritado pela turma da ex-ministra Erenice Guerra. No Ministério das Comunicações depositam brasas embaixo do caldeirão dele. Em árabe, Bedran é um tipo de ovelha. Come-se assada ou cozida.

DURO DE CARREGAR 
Líder nas pesquisas, o candidato à presidência da República do Peru, Ollanta Humala, contratou no Brasil três marqueteiros do PT, mas não diz quem são nem a pau. 

FESTA PORTUGUESA 
Os reitores da UnB e da gaúcha UFRGS, e a pró-reitora foram com tudo pago por nós à cerimônia do doutoramento de Lula em Coimbra e para habituais “acordos de cooperação” com a Universidade. 

PERGUNTA NA IMIGRAÇÃO 
A ajuda a Portugal incluirá kit-aeroporto para maus-tratos a brasileiros? 

PODER SEM PUDOR
DESPACHO A JATO 
Governador da Paraíba, Ernane Satyro estava impaciente: ainda teria de receber um prefeito e já estava atrasado para um compromisso. Seu chefe de gabinete teve o cuidado de pedir ao prefeito que objetivasse a conversa:
– Vá direto ao assunto e seja breve. O governador é muito objetivo.
– Vim tratar sobre dois assuntos – disse o prefeito, já diante do governador – Eu sei que o sr. é objetivo e prático...
– Muito bem, amigo velho – interrompeu Satyro – diga então qual o segundo assunto!

BRAZIU: O PUTEIRO

QUARTA NOS JORNAIS

Globo: Combustíveis sobem mais e pressionam a inflação
Folha: Crédito cresce, apesar de medidas do governo
Estadão: Coalizão articula dar armas aos rebeldes contra Kadafi
Correio: Alencar, um brasileiro
Valor: Crédito terá aperto com IOF maior para dinheiro de fora
Estado de Minas: Adeus, guerreiro
Jornal do Commercio: Governo reage e vai contratar legistas
Zero Hora: Após escândalo, Estado anuncia devassa no Daer