FOLHA DE SP - 06/06
Escolas terão de ser bem mais tolerantes e, no próximo ano, de redobrar esforços para recuperar quem ficou para trás
O que fazer com os alunos neste ano? Reprová-los se não atingirem os níveis mínimos de conhecimento esperados? Passar todo mundo por decreto?
A pandemia atingiu em cheio a educação. Da noite para o dia, as escolas tiveram de interromper as aulas presenciais e improvisar programas de ensino à distância. Alguns se deram melhor, e outros, pior. Estudantes mais velhos, mais motivados e mais ricos sofrem o menor impacto. Seu prejuízo talvez seja administrável. Já os mais novos, os não tão entusiasmados e os mais pobres amargam as piores consequências.
Fingir que nada aconteceu e manter os critérios de sempre para reprovações é o pior caminho. Aliás, a reprovação, mesmo em tempos normais, é um péssimo caminho. Há ampla evidência empírica de que ela causa mais prejuízos do que traz benefícios. Quem duvida deve consultar os trabalhos e revisões sistemáticas de autores como Shane Jimerson.
A alternativa, então, é a aprovação automática? Também não. Se as autoridades anunciarem hoje que todos os alunos vão passar de ano independentemente do que façam, aqueles que já não são muito fãs de estudar não farão mais nada até dezembro. Isso nem é pedagogia, é natureza humana. Mas os mesmos trabalhos que mostram que a repetência não funciona senão em raríssimas situações indicam que a promoção automática tampouco é a resposta. Ela apenas posterga problemas.
A dura verdade é que educar dá trabalho, exigindo que cada estudante seja acompanhado de perto e receba o apoio necessário para seguir com sua turma. Quanto antes as dificuldades forem identificadas, melhor o prognóstico.
O corolário disso é que, neste ano, escolas terão de ser bem mais tolerantes no seu nível de exigência e, no próximo, terão de redobrar seus esforços para recuperar os que ficaram para trás. Tudo isso num contexto de muita dificuldade econômica para as instituições privadas e demanda extra para as públicas.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
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