O apoio da população é importante, mas Bolsonaro estará cometendo um erro estratégico gravíssimo se resolver contar apenas com as ruas
No domingo, dia 26, centenas de milhares de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro foram às ruas de mais de 150 cidades em todos os estados e no Distrito Federal. Os organizadores e os principais divulgadores das manifestações conseguiram sucesso em transformar o que havia surgido como uma pauta negativa e radical em uma plataforma positiva, de defesa das reformas propostas pelo presidente e por seus ministros Paulo Guedes, no caso da reforma da Previdência, e Sergio Moro, autor do pacote anticrime.
Como havíamos dito neste espaço, houve, sim, a participação de radicais antidemocráticos – seja agredindo profissionais de imprensa, como ocorreu em Curitiba, seja pedindo o fechamento do Congresso, do Supremo Tribunal Federal ou um golpe militar, mesmo tendo sido desautorizados pelo próprio Bolsonaro dias antes da manifestação. Esse grupo, com seus cartazes e slogans, fez a festa dos adversários do governo, que espalharam as imagens como se elas representassem a essência dos atos deste domingo – uma distorção facilmente desmascarada quando se observa os dados do projeto “Monitor do debate político no meio digital”, que entrevistou manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo. Quando perguntados sobre o motivo principal de sua participação no ato, 75% dos entrevistados mencionaram o “apoio às reformas propostas pelo governo” – embora a pesquisa não tenha aferido a adesão a projetos específicos –, enquanto apenas 6% citaram o “repúdio à atuação dos ministros do STF”, outros 6% se declararam “contra o boicote do Centrão ao governo” e 2% responderam “intervenção militar”. Esse distanciamento do radicalismo fez com que mesmo líderes que foram críticos à convocação dos atos acabassem elogiando a maneira como eles se deram, como foi o caso da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP).
Ainda que nem todos dentro desse grupo de 75% estejam entusiasmados com a reforma da Previdência, ela ganhou grande destaque nos discursos feitos durante as manifestações. Aqui reside a louvável excepcionalidade dos atos do dia 26. Há duas grandes verdades sobre a reforma da Previdência: ela é necessária para que o país não quebre; e ela exigirá sacrifícios de praticamente todos os brasileiros. Seria compreensível que a população, diante desses dois fatos, simplesmente se resignasse ao destino inevitável de ter de trabalhar por mais alguns anos, ou de não conseguir ter uma aposentadoria nos valores desejados. Mas o brasileiro foi além disso: ele tomou uma postura ativa, indo às ruas pedir a mudança, colocando o interesse do país acima do interesse pessoal imediato – e dizemos “imediato” porque bem sabemos que só a reforma da Previdência pode garantir que os trabalhadores de hoje possam receber uma aposentadoria no futuro, em vez de encontrar um país falido. É possível que estejamos diante de um aumento na conscientização sobre a importância da reforma; mesmo que regras de transição e outras informações não estejam na ponta da língua dos apoiadores do governo, a noção de que ela é necessária para que o Brasil não quebre é suficientemente simples para que seja compreendida por qualquer cidadão.
A pergunta que todos se fazem agora é: que impacto essa presença nas ruas terá sobre o modus operandi do governo e sobre aqueles que votarão as reformas no Congresso? É importante que haja uma demonstração de apoio da população, mas Bolsonaro estará cometendo um erro estratégico gravíssimo se resolver contar apenas com as ruas para conseguir a aprovação do projeto, insistindo em bater de frente com os demais poderes. Por isso, é animador que, na manhã desta terça-feira, Bolsonaro tenha se reunido com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e do Supremo, Dias Toffoli, para que os três poderes costurem um pacto pelo crescimento do país. O encontro já pode ser considerado um resultado das manifestações, partindo de iniciativa do presidente para desfazer qualquer mal-estar causado por críticas mais exaltadas dos manifestantes. Um texto-base, escrito por Toffoli, foi aprovado pelos participantes da reunião; a versão definitiva será divulgada apenas em junho, mas já se sabe que as reformas estarão presentes.
Mas Bolsonaro não aprovará as reformas sem antes colocar ordem na própria casa. Os líderes do governo na Câmara e no Senado, até o momento, não conseguiram nem mesmo dar coesão ao partido do presidente, o PSL, colocando-o para trabalhar pelas reformas – basta ver como várias emendas que enfraquecem a Nova Previdência têm origem no próprio partido, ou a confusão criada pelo líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), que quase colocou em risco a MP da reforma administrativa. Sem união interna, será quase impossível costurar uma base de apoio com outros partidos em torno de um compromisso com o país. O momento pede inteligência e liderança para que o pedido das ruas não se perca.
No domingo, dia 26, centenas de milhares de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro foram às ruas de mais de 150 cidades em todos os estados e no Distrito Federal. Os organizadores e os principais divulgadores das manifestações conseguiram sucesso em transformar o que havia surgido como uma pauta negativa e radical em uma plataforma positiva, de defesa das reformas propostas pelo presidente e por seus ministros Paulo Guedes, no caso da reforma da Previdência, e Sergio Moro, autor do pacote anticrime.
Como havíamos dito neste espaço, houve, sim, a participação de radicais antidemocráticos – seja agredindo profissionais de imprensa, como ocorreu em Curitiba, seja pedindo o fechamento do Congresso, do Supremo Tribunal Federal ou um golpe militar, mesmo tendo sido desautorizados pelo próprio Bolsonaro dias antes da manifestação. Esse grupo, com seus cartazes e slogans, fez a festa dos adversários do governo, que espalharam as imagens como se elas representassem a essência dos atos deste domingo – uma distorção facilmente desmascarada quando se observa os dados do projeto “Monitor do debate político no meio digital”, que entrevistou manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo. Quando perguntados sobre o motivo principal de sua participação no ato, 75% dos entrevistados mencionaram o “apoio às reformas propostas pelo governo” – embora a pesquisa não tenha aferido a adesão a projetos específicos –, enquanto apenas 6% citaram o “repúdio à atuação dos ministros do STF”, outros 6% se declararam “contra o boicote do Centrão ao governo” e 2% responderam “intervenção militar”. Esse distanciamento do radicalismo fez com que mesmo líderes que foram críticos à convocação dos atos acabassem elogiando a maneira como eles se deram, como foi o caso da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP).
Ainda que nem todos dentro desse grupo de 75% estejam entusiasmados com a reforma da Previdência, ela ganhou grande destaque nos discursos feitos durante as manifestações. Aqui reside a louvável excepcionalidade dos atos do dia 26. Há duas grandes verdades sobre a reforma da Previdência: ela é necessária para que o país não quebre; e ela exigirá sacrifícios de praticamente todos os brasileiros. Seria compreensível que a população, diante desses dois fatos, simplesmente se resignasse ao destino inevitável de ter de trabalhar por mais alguns anos, ou de não conseguir ter uma aposentadoria nos valores desejados. Mas o brasileiro foi além disso: ele tomou uma postura ativa, indo às ruas pedir a mudança, colocando o interesse do país acima do interesse pessoal imediato – e dizemos “imediato” porque bem sabemos que só a reforma da Previdência pode garantir que os trabalhadores de hoje possam receber uma aposentadoria no futuro, em vez de encontrar um país falido. É possível que estejamos diante de um aumento na conscientização sobre a importância da reforma; mesmo que regras de transição e outras informações não estejam na ponta da língua dos apoiadores do governo, a noção de que ela é necessária para que o Brasil não quebre é suficientemente simples para que seja compreendida por qualquer cidadão.
A pergunta que todos se fazem agora é: que impacto essa presença nas ruas terá sobre o modus operandi do governo e sobre aqueles que votarão as reformas no Congresso? É importante que haja uma demonstração de apoio da população, mas Bolsonaro estará cometendo um erro estratégico gravíssimo se resolver contar apenas com as ruas para conseguir a aprovação do projeto, insistindo em bater de frente com os demais poderes. Por isso, é animador que, na manhã desta terça-feira, Bolsonaro tenha se reunido com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e do Supremo, Dias Toffoli, para que os três poderes costurem um pacto pelo crescimento do país. O encontro já pode ser considerado um resultado das manifestações, partindo de iniciativa do presidente para desfazer qualquer mal-estar causado por críticas mais exaltadas dos manifestantes. Um texto-base, escrito por Toffoli, foi aprovado pelos participantes da reunião; a versão definitiva será divulgada apenas em junho, mas já se sabe que as reformas estarão presentes.
Mas Bolsonaro não aprovará as reformas sem antes colocar ordem na própria casa. Os líderes do governo na Câmara e no Senado, até o momento, não conseguiram nem mesmo dar coesão ao partido do presidente, o PSL, colocando-o para trabalhar pelas reformas – basta ver como várias emendas que enfraquecem a Nova Previdência têm origem no próprio partido, ou a confusão criada pelo líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), que quase colocou em risco a MP da reforma administrativa. Sem união interna, será quase impossível costurar uma base de apoio com outros partidos em torno de um compromisso com o país. O momento pede inteligência e liderança para que o pedido das ruas não se perca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário