sábado, abril 13, 2019

Procuram-se moderados - MARIO VITOR RODRIGUES

REVISTA ISTO É,  
EDIÇÃO Nº 2572

O atual cenário, construído a partir das manifestações em 2013, levou o sujeito ponderado ao ostracismo. À mudez absoluta

Se há um argumento que funciona na nossa política é o vitimismo. Assumir o papel do perseguido, daquele que não tem espaço para expor suas ideias ou que, na melhor das hipóteses, se vê intimidado quando ousa defendê-las em voz alta, é batata.

A sensação de injustiça acaba gerando dois sentimentos centrais, ambos positivos para quem se esconde debaixo de tal capa: pena e simpatia. Com isso, fica mais fácil angariar aliados para sua causa.

Funciona tão bem que levou a esquerda ao poder, espaço em que se encastelou por quase duas décadas. Serviu também na medida para impulsionar o bolsonarismo na última eleição. Contudo, verdade seja dita, se há uma minoria neste País, esta não se espelha em nenhum dos polos ideológicos que hoje se digladiam e envenenam o debate público.

Radicais à esquerda e à direita disputam, isso sim, a hegemonia. E achatam aqueles que realmente configuram um grupo menor, às vezes tido como pária em um ambiente forjado pelo acirramento da disputa.

Falo dos moderados.

Não se trata, ao contrário dos casos anteriores, de mera retórica. Não cabe sugerir falsidade no argumento.

De fato, o atual cenário, construído a partir das manifestações em 2013, levou o sujeito ponderado ao ostracismo. À mudez absoluta.

Hoje em dia, vale dizer, quem não compra os discursos difundidos por um dos polos político-ideológicos em voga é desprezado. Leva a culpa, de um lado, por ter permitido a vitória de Jair Bolsonaro, de outro, por ter consentido que o PT ficasse tanto tempo em posse da caneta. Trocando em miúdos, é visto como um mero covarde.

Pois bem, lamento decepcionar a maioria, mas engrosso as fileiras das vítimas reais. E, devo dizer, com certa dose de orgulho.

De forma alguma apoio esta ou aquela facção. Não faria sentido — até porque não é verdade — admitir saudades do tempo em que Dilma Rousseff ou mesmo Lula davam as cartas. Se devo lamentar algo relacionado à dinastia petista é o fato de a sociedade ter preferido dar de ombros em vez de reconhecer e repudiar o lulopetismo.

Entretanto, isso jamais me levará a endossar os argumentos do atual governo. Uma postura agressiva, apolítica, antidemocrática e empapada de populismos baratos, que buscam perpetrar uma lavagem cerebral semelhante àquela outrora empregada pelo PT.

Trata-se, conscientemente, de apostar na moderação. E, sabedor de que não estou sozinho, lamentar que sejamos tão poucos. Ou ainda tão tímidos.

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