Desinchar este Estado que falhou conosco, para que se concentre no essencial, é promover, sim, justiça social. E por aí deveria surgir a discussão das privatizações
Se, por um lado, nossa saída do Partido Social Liberal representou um baque no primeiro momento — afinal, o projeto de renovação da legenda seguia o curso planejado apesar de todos os desafios —, por outro, a ruptura vem mostrando a força do Livres e dos movimentos liberais, estejam eles instalados em partidos ou não. O quanto as ideias de liberdade vão triunfar nas urnas já em 2018 ainda é uma incógnita, mas é fato que o discurso encontra cada vez mais eco na sociedade e estará presente nos debates. O ano que passou deu provas disso. Mas por que estamos sensibilizando as pessoas em todo o país?
A pauta liberal passa pela economia e pelos costumes. Com o Brasil em lenta recuperação após crise tão severa, o componente econômico toca profundamente as pessoas, pois impacta diretamente a vida dos brasileiros em um momento em que o Estado é colocado em xeque pela falta de capacidade de investimentos. O modelo intervencionista dos últimos anos faliu na prestação dos serviços mais básicos à população. Essa é a realidade dos que sofrem com a insegurança, dos que não têm esgoto em suas casas e dos que atravessam noites em filas de hospitais. Por isso, são urgentes reformas.
Desinchar este Estado que falhou conosco, para que se concentre no essencial, é promover, sim, justiça social. E por aí deveria surgir, por exemplo, a discussão das privatizações. Como bem lembra a economista Elena Landau, que com muita honra aderiu ao nosso movimento, a própria Constituição define o que é vedado à iniciativa privada e o que é essencial. Não está lá escrito bem claro que saúde, segurança e educação são deveres do Estado e direitos de todos?
Há questões de comportamento que também precisam ser debatidas sob o mesmo prisma. Nós, do Livres, defendemos a revisão gradual da política de drogas, começando pela descriminalização da maconha. Sabe por quê? Consideramos que a prioridade do combate à violência deva ser a preservação da vida em um país onde ocorreram mais de 61 mil assassinatos em 2016, o pico da série histórica do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. E pior, sequer existe um Indicador Nacional de Investigação de Homicídios para o planejamento estratégico, diferentemente de outras nações. Ao contrário da caricatura que setores reacionários à esquerda e à direita tentam pintar, as pautas comportamentais do Livres são baseadas em evidências científicas, não em demagogia barata.
Ser liberal, portanto, não é onda passageira. É pensar políticas públicas de outra maneira. No Facebook, só o nosso movimento conta com quase 160 mil seguidores. Quando deixamos o PSL, já tínhamos conseguido renovar 12 diretórios estaduais e estávamos para atrair um grupo de jovens deputados alinhados aos nossos princípios. Infelizmente, alguns pegam carona se cobrindo de um superficial verniz liberal, mas não sobrevivem à história de suas práticas. Nós continuamos fortes e em busca de gente genuína, que não defenda liberdade só no nome ou da boca para fora. Aprendemos com nossos erros e nos mantemos convictos de que não existe solução para os nossos problemas fora da democracia. Fora dela, o que existe é barbárie.
Paulo Gontijo é presidente do Livres
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