Mensagem deixa claro que, no dia 9 de março, a empresa já havia acertado a colaboração com o MPF. Ocorre que, em documento oficial, Janot assegurou que o primeiro contato da JBS para fazer uma delação só ocorreu no dia 27 daquele mês
Marcelo Miller e o documento oficial, de responsabilidade de Janot, em que se nega que o então procurador tenha atuado na delação da JBS. Como se nota, ele participou até de seu planejamento
Pois é… E o comprometimento ilegal do Ministério Público Federal com a delação dos Batistas (Joesley e Wesley) e associados é, tudo indica, maior do que se poderia supor, conforme revela reportagem da Folha desta quarta. Até agora, a doutora Raquel Dodge está muda. A continuar assim, ainda se acaba achando que ela não tem o que dizer. Antes que chegue ao ponto, algumas considerações.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a soprano do golpe que tentaram dar no presidente Michel Temer, recorreu até ao Supremo contra a CPMI da JBS. O homem acha que o Poder que ele próprio integra não tem competência e autonomia para investigar lambanças que eventualmente envolvam atos do Ministério Público Federal. Mais: a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) também decidiu apelar ao tribunal para impedir que Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete de Rodrigo Janot, fale à comissão na condição de testemunha. Senador e entidade afirmam que ela busca intimidar os sacrossantos procuradores e o trabalho virtuoso que se faria lá no Ministério Público Federal. Será mesmo?
Não fosse a CPMI, não se teria quebrado até agora o sigilo de mensagens enviadas por e-mail por Marcelo Miller, o ex-procurador que era um dos bravos de Janot e que já admitiu ter participado de forma indevida de entendimentos para que a JBS chegasse a um acordo de delação. Na sua versão, limitou-se a fazer correções gramaticais em textos. De fato, já se sabe que o papel do MPF foi muito maior.
Um e-mail enviado por Miller para seu próprio endereço — é uma forma a que pessoas recorrem para guardar anotações e fazer lembretes — sugere que ele fez, na verdade, o roteiro da delação. O texto é do dia 9 de março, dois dias depois de Joesley gravar a conversa com Michel Temer, e 15 dias antes da gravação com o senador Aécio Neves, em que este pede R$ 2 milhões ao empresário. Segundo Janot, em sua denúncia, trata-se de “propina”. Ele só não diz o que Aécio ofereceu em troca.
O e-mail de Miller é impressionante porque evidencia que:
Pois é… E o comprometimento ilegal do Ministério Público Federal com a delação dos Batistas (Joesley e Wesley) e associados é, tudo indica, maior do que se poderia supor, conforme revela reportagem da Folha desta quarta. Até agora, a doutora Raquel Dodge está muda. A continuar assim, ainda se acaba achando que ela não tem o que dizer. Antes que chegue ao ponto, algumas considerações.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a soprano do golpe que tentaram dar no presidente Michel Temer, recorreu até ao Supremo contra a CPMI da JBS. O homem acha que o Poder que ele próprio integra não tem competência e autonomia para investigar lambanças que eventualmente envolvam atos do Ministério Público Federal. Mais: a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) também decidiu apelar ao tribunal para impedir que Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete de Rodrigo Janot, fale à comissão na condição de testemunha. Senador e entidade afirmam que ela busca intimidar os sacrossantos procuradores e o trabalho virtuoso que se faria lá no Ministério Público Federal. Será mesmo?
Não fosse a CPMI, não se teria quebrado até agora o sigilo de mensagens enviadas por e-mail por Marcelo Miller, o ex-procurador que era um dos bravos de Janot e que já admitiu ter participado de forma indevida de entendimentos para que a JBS chegasse a um acordo de delação. Na sua versão, limitou-se a fazer correções gramaticais em textos. De fato, já se sabe que o papel do MPF foi muito maior.
Um e-mail enviado por Miller para seu próprio endereço — é uma forma a que pessoas recorrem para guardar anotações e fazer lembretes — sugere que ele fez, na verdade, o roteiro da delação. O texto é do dia 9 de março, dois dias depois de Joesley gravar a conversa com Michel Temer, e 15 dias antes da gravação com o senador Aécio Neves, em que este pede R$ 2 milhões ao empresário. Segundo Janot, em sua denúncia, trata-se de “propina”. Ele só não diz o que Aécio ofereceu em troca.
O e-mail de Miller é impressionante porque evidencia que:
1: JANOT FALTOU COM A VERDADE EM DOCUMENTO OFICIAL
No dia 8 de março, Mario Celso Lopes, um ex-sócio dos Batistas, foi preso no âmbito da operação Greenfield em razão de operações realizadas quando ligado ao grupo. Escreve Miller:
“Perguntar por que o MPF postulou a prisão do ex-sócio se a empresa já se apresentou à colaboração”
IMPORTÂNCIA DO TRECHO – Ora vejam: então, no dia 9 de março, a empresa já havia acertado a colaboração com o MPF. Ocorre que, em documento oficial, Janot assegurou que o primeiro contato da JBS para fazer uma delação só ocorreu no dia 27 de março. Já se sabia que isso, muito provavelmente, era mentira. Francisco de Assis e Silva, advogado do grupo e um dos delatores, afirmou ter tratado da delação com Pelella no dia 2 de março. Mais: à Corregedoria do MPF, ele afirmou que as tratativas para uma delação começaram a ser feitas no dia 20 de fevereiro. Poderia ser palavra contra palavra, certo? O, digamos, auto-e-mail de Miller não deixa dúvida sobre a inverdade de Janot, a menos que o então procurador tivesse o hábito de mentir para si mesmo.
2: AS GRAVAÇÕES COM MICHEL TEMER E AÉCIO NEVES FORAM ARMAÇÕES PREVIAMENTE COMBINADAS
Escreve Miller: “Estamos trazendo, pela primeira vez, BNDES, que era a última caixa preta da República, estamos trazendo fundos, Temer, Aécio, Dilma, Cunha, Mantega e, por certo ângulo, também Lula. Temos elementos muito sólidos de corroboração.”
IMPORTÂNCIA DO TRECHO: Notaram? Ele escreve dois dias depois de Joesley ter feito a gravação com Temer, o que evidencia que ela era parte da trama. Mais impressionante: Joesley gravaria a conversa com Aécio, aquela que trata dos tais R$ 2 milhões, apenas 15 dias depois. Estava tudo planejado. Aquilo a que se chamou “Ação Controlada” era, na verdade, um flagrante armado. A propósito: tentem achar em que trecho o senador promete algo ao empresário, o que caracterizaria “corrupção passiva”. Não há.
Janot assegurou em diversas entrevistas que só ficou sabendo da gravação que Joesley fizera com Temer quando a empresa o procurou, no dia 27 de março, propondo um acordo. Eis aqui: pegar o presidente, como se nota, era mesmo parte da tramoia, da conspiração. Mas pegar com o quê? Bem, relembrem a gravação. Com nada!
Um “nós” e um “eles”
Outra coisa que impressiona no e-mail que Miller mandou para si mesmo é o uso dos pronomes. Ele era do Ministério Público Federal, lotado na Procuradoria Geral da República, mas, sempre que se refere ao MPF, este aparece como “eles”; todas as vezes em que surge um “nós”, Miller está se referindo à JBS.
Acontece que ele só deixou o MPF no dia 5 de abril. No dia 11, para escândalo dos escândalos, já participou de uma reunião sobre acordo de leniência como advogado… da JBS, aquela mesma para o qual fez o roteiro de delação premiada. Também em documento oficial, Janot asseverou que Miller não teve participação nenhuma nas delações. Está provado ser mentira.
Quantas vezes afirmei aqui que a operação toda é legalmente imprestável? Eis aí a qualidade das delações homologadas por Edson Fachin, cujo papel, em todo esse rolo, não me parece devidamente esclarecido. Como esquecer que Ricardo Saud o acompanhou a gabinetes de senadores quando candidato ao STF? Por quê? Quais são os vínculos? Ora, Saud veio a ser justamente um dos beneficiários do imoral acordo de delação, homologado pelo ministro.
A cada dia fica mais claro: tratava-se mesmo de uma tentativa de golpe.
IMPORTÂNCIA DO TRECHO – Ora vejam: então, no dia 9 de março, a empresa já havia acertado a colaboração com o MPF. Ocorre que, em documento oficial, Janot assegurou que o primeiro contato da JBS para fazer uma delação só ocorreu no dia 27 de março. Já se sabia que isso, muito provavelmente, era mentira. Francisco de Assis e Silva, advogado do grupo e um dos delatores, afirmou ter tratado da delação com Pelella no dia 2 de março. Mais: à Corregedoria do MPF, ele afirmou que as tratativas para uma delação começaram a ser feitas no dia 20 de fevereiro. Poderia ser palavra contra palavra, certo? O, digamos, auto-e-mail de Miller não deixa dúvida sobre a inverdade de Janot, a menos que o então procurador tivesse o hábito de mentir para si mesmo.
2: AS GRAVAÇÕES COM MICHEL TEMER E AÉCIO NEVES FORAM ARMAÇÕES PREVIAMENTE COMBINADAS
Escreve Miller: “Estamos trazendo, pela primeira vez, BNDES, que era a última caixa preta da República, estamos trazendo fundos, Temer, Aécio, Dilma, Cunha, Mantega e, por certo ângulo, também Lula. Temos elementos muito sólidos de corroboração.”
IMPORTÂNCIA DO TRECHO: Notaram? Ele escreve dois dias depois de Joesley ter feito a gravação com Temer, o que evidencia que ela era parte da trama. Mais impressionante: Joesley gravaria a conversa com Aécio, aquela que trata dos tais R$ 2 milhões, apenas 15 dias depois. Estava tudo planejado. Aquilo a que se chamou “Ação Controlada” era, na verdade, um flagrante armado. A propósito: tentem achar em que trecho o senador promete algo ao empresário, o que caracterizaria “corrupção passiva”. Não há.
Janot assegurou em diversas entrevistas que só ficou sabendo da gravação que Joesley fizera com Temer quando a empresa o procurou, no dia 27 de março, propondo um acordo. Eis aqui: pegar o presidente, como se nota, era mesmo parte da tramoia, da conspiração. Mas pegar com o quê? Bem, relembrem a gravação. Com nada!
Um “nós” e um “eles”
Outra coisa que impressiona no e-mail que Miller mandou para si mesmo é o uso dos pronomes. Ele era do Ministério Público Federal, lotado na Procuradoria Geral da República, mas, sempre que se refere ao MPF, este aparece como “eles”; todas as vezes em que surge um “nós”, Miller está se referindo à JBS.
Acontece que ele só deixou o MPF no dia 5 de abril. No dia 11, para escândalo dos escândalos, já participou de uma reunião sobre acordo de leniência como advogado… da JBS, aquela mesma para o qual fez o roteiro de delação premiada. Também em documento oficial, Janot asseverou que Miller não teve participação nenhuma nas delações. Está provado ser mentira.
Quantas vezes afirmei aqui que a operação toda é legalmente imprestável? Eis aí a qualidade das delações homologadas por Edson Fachin, cujo papel, em todo esse rolo, não me parece devidamente esclarecido. Como esquecer que Ricardo Saud o acompanhou a gabinetes de senadores quando candidato ao STF? Por quê? Quais são os vínculos? Ora, Saud veio a ser justamente um dos beneficiários do imoral acordo de delação, homologado pelo ministro.
A cada dia fica mais claro: tratava-se mesmo de uma tentativa de golpe.
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