sexta-feira, novembro 03, 2017

Clicar e comprar - CELSO MING

ESTADÃO - 03/11

O e-commerce acumula crescimento de 20% em todo o mundo, mas o Brasil ainda está longe dos padrões internacionais


Celso Ming, Raquel Brandão e Ana Beatriz Assam, especial para 'O Estado'


Basta um clique ou um toque na tela do celular para que a compra de um vestido, uma televisão ou a contratação de uma viagem aconteça. A facilidade do e-commerce, nome dado ao comércio pela internet, levou esse tipo de varejo a acumular crescimento mundial de 20% nos últimos dez anos, aponta a consultoria Euromonitor.

Projeções recentes do Credit Suisse mostram que, nos Estados Unidos, maior mercado consumidor online, 20% dos shopping centers serão fechados nos próximos cinco anos. Apenas em 2017, 8.600 lojas devem fechar, batendo amplamente o recorde de 6.200 casos registrados em 2008, primeiro ano da recessão que devastou a economia americana.

No Brasil, o varejo físico também levou pancada. Em 2016, mesmo com 19 novos shopping centers, o número de lojas nesses centros comerciais caiu 12,9%. Essa retração não pode ser creditada apenas ao avanço do e-commerce, pois o impacto da crise econômica não pode ser desdenhado. No entanto, enquanto as receitas do varejo total cresceram somente 1,9% no primeiro semestre de 2017 ante mesmo período de 2016, as do e-commerce avançaram 7,5%.

Ainda que se trate de uma revolução silenciosa, na expressão de Pedro Guasti, presidente da Ebit e do Conselho de E-commerce da Fecomercio-SP, o comércio eletrônico aposta em duas estratégias, já adotadas no exterior, para impulsionar as vendas.

A primeira é a venda por plataformas móveis, como smartphones e tablets. Guasti explica que atualmente “25% de compras online são realizadas por esse meio, mas devem chegar a 33% no fim do ano”. Este é um canal especialmente eficiente no Brasil, onde o acesso à internet às classes C e D tem aumentado pela intensificação do uso dos celulares.

A segunda estratégia reproduz o que os gigantes do comércio eletrônico, o chinês Alibaba e a americana Amazon, põem em prática desde que surgiram. É o marketplace. Funciona como shopping centers virtuais, nos quais sites grandes hospedam produtos de empresas menores, em troca de comissão. Mas é o comercializador do produto que se responsabiliza por operações posteriores à venda, como a entrega do produto. Em 2016, as vendas por marketplace responderam por R$ 7 bilhões dos R$ 44 bilhões de faturamento do e-commerce brasileiro. A Ebit, que faz pesquisas de mercado sobre o setor, estima que, neste ano, chegue aos 25% das receitas.

Convém ter ideia das proporções. O comércio eletrônico ainda corresponde a só 4% do varejo brasileiro e está muito distante dos padrões de países avançados. O relatório da Euromonitor indica que, em 2016, o e-commerce mundial se expandiu 8,5%. As vendas feitas pela Coreia do Sul contribuíram com 18% do total; as feitas pelos americanos, 10%; as do Brasil, menos de 5%.

Paulo Ferezin, especialista em Varejo da consultoria KPMG, diz que o baixo crescimento reflete a cultura de consumo do País, ainda atrelada a lojas físicas. Mas, com hábitos mudando, o varejo tradicional deve se adaptar. “Metade das compras online é concluída após o cliente testar o produto na loja física. É preciso saber conquistar o cliente nesse momento.”

CONFIRA

» Comerciários sob mira

Nos Estados Unidos, onde o varejo emprega 15 milhões de pessoas, já se sente o impacto da expansão do e-commerce. Desde janeiro, 50 mil postos de trabalho foram fechados. Pedro Guasti, da Ebit, diz que bom contato com o cliente não é habilidade tão importante. É preciso mais conhecer estratégias de marketing e ter intimidade com tecnologia e manipulação de dados.

» Estratégia brasileira

O marketplace já foi adotado pelas redes Via Varejo (Casas Bahia, Extra.com e Ponto Frio), Magazine Luiza, Máquina de Vendas e B2W (Submarino, Americanas.com, Shoptime e Sou Barato).

» Mês esperado

Novembro é o melhor mês do e-commerce. No dia 11, o Alibaba faz seu “Dia do Solteiro”, a mais importante data do e-commerce mundial, com vendas de até US$ 18 bilhões. No Brasil, a última sexta-feira do mês é agitada pela Black Friday, que, em 2016, garantiu faturamento de R$ 1,9 bilhão ao setor.

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