Afastado da Presidência da Câmara dos Deputados e do mandato de parlamentar por ordem do Supremo Tribunal Federal, réu em dois inquéritos da Operação Lava-Jato e alvo de diversas investigações, Eduardo Cunha resiste a todas as pressões. E leva consigo a Câmara, paralisada por esse imbróglio que se arrasta há nove meses. Em uma situação absolutamente esdrúxula na política nacional, o deputado peemedebista dá mostra de que pretende levar às últimas consequências a batalha para permanecer no cargo.
Pouco importa se o apego à cadeira da presidência do plenário paralise o Legislativo federal por tempo indefinido, monte uma trincheira com o Ministério Público Federal e obrigue a mais alta Corte de Justiça a tomar decisões delicadas, sob risco de ferir o preceito constitucional de independência entre os poderes da República. Nas três ocasiões em que deliberaram sobre Cunha nos últimos meses, os ministros do Supremo decidiram por unanimidade em desfavor do deputado. Ainda assim, contra tudo e contra todos, o parlamentar resiste.
O impasse em torno de Cunha jogou um poder da República no atoleiro. Mesmo acuado, Cunha mantém uma rede de aliados dispostos a tumultuar os trabalhos na Câmara e o processo em curso contra o peemedebista. Ontem, o deputado federal Ronaldo Fonseca (Pros-DF) fez a sua parte na Comissão de Constituição e Justiça. O relator do caso na CCJ defendeu suspender a sessão do Conselho de Ética que aprovou a cassação de Eduardo Cunha em 14 de junho, sob a alegação de um suposto "efeito manada" que teria ocasionado a mudança de voto de integrantes do colegiado. A reação foi imediata. Houve parlamentar que considerou "pífia" a argumentação de Fonseca.
Independentemente do mérito do relatório na CCJ, o fato é que Cunha e sua trupe conseguiram o que tramavam: procrastinar o desfecho dessa narrativa rocambolesca, que em nada contribui para o interesse público. Com tantas idas e vindas e um recesso branco à frente, já se fala de que o destino de Cunha será selado apenas em agosto. A essa altura, a novela parlamentar estará perto de completar um ano. É tempo por demais precioso para ser desperdiçado.
O desgaste institucional provocado por Eduardo Cunha é alimentado pelo presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA). Sem qualquer respaldo político para conduzir o andamento legislativo e claramente orientado pelo padrinho político, Maranhão é incessantemente questionado por seus pares. Esse ambiente deflagrado acentua a paralisia na Câmara dos Deputados, em um momento dramático da vida nacional, quando o governo de Michel Temer e a sociedade brasileira esperam medidas decisivas para retirar o país da mais grave crise econômica da história. Não interessa a ninguém ter um poder republicano agonizante em praça pública. Exceto àqueles que insistem, a todo custo e contra todas as evidências, em perpetuar uma atuação política errática.
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