terça-feira, janeiro 05, 2016

Pedaladas digitais - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 05/01

Assim fica fácil. Ao fazer comentários sobre o programa Banda Larga nas Escolas, o Ministério das Comunicações, sem considerar a qualidade do serviço prometido, diz que "o objetivo de massificação do acesso à internet nas escolas públicas urbanas foi alcançado."

A afirmação, feita a propósito de reportagem destaFolha, pode ser levada a sério somente de uma perspectiva muito restrita.

Segundo informações dos ministérios das Comunicações e da Educação, o programa do governo federal chega hoje a quase 70 mil escolas urbanas, o equivalente a 91,7% do total.

Se, em 2008, "à época de lançamento do programa, poucas escolas possuíam algum acesso", houve avanço digno de nota –mesmo considerando que a meta era conectar 100% dos colégios até o final de 2010.

Quem der atenção a outro aspecto, contudo, dificilmente chegará a diagnóstico tão otimista. É de apenas 2,3 megabits por segundo a velocidade média da internet nas escolas atendidas. São meros 3% do que o próprio governo considera ideal, 78 megabits por segundo.

Sem aprimorar a velocidade da conexão, uma iniciativa do Ministério da Educação perde muito de seu sentido. Em 2012, a pasta lançou edital para comprar tablets e distribuir entre professores da rede pública. Quase 500 mil equipamentos foram adquiridos, ao custo de R$ 152 milhões.

Pensava-se, sem dúvida, em estimular o uso de novas tecnologias no ensino. Como muitas escolas não dispõem de internet com boa velocidade, porém, docentes não conseguem fazer pesquisas e, às vezes, nem mesmo usar o tablet para tarefas administrativas online.

A inadequação é tanta que o próprio MEC adaptou seu site para que diretores e professores da rede pública não precisem manter navegação permanente na internet ao consultar documentos sobre o currículo nacional para a educação básica, atualmente em debate.

Seria mais proveitoso que o Ministério das Comunicações, em vez de celebrar um objetivo ainda longe de ser atingido a contento, se empenhasse em encontrar soluções para o problema. A não ser, é claro, que a pasta pretenda inovar com essa espécie de pedalada digital.

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