segunda-feira, dezembro 07, 2015

Terceira via - PAULO GUEDES

O GLOBO - 07/12

Encurralada entre a ‘collorização’ e a ‘sarneyzação’, resta à presidente atravessar ‘uma ponte para o futuro’ com a bandeira da reforma política

O míssil do impeachment foi finalmente disparado por um presidente da Câmara de Deputados que está também ameaçado de perder seu mandato. Apesar da deflagração do processo, os mais experientes oposicionistas sabem que um impeachment agora transformaria o PT em oposição antes de seu dilaceramento nas urnas. Preferem por isso retardar suas etapas, deixando encorpar ainda mais a indignação popular com a corrupção e o aprofundamento da recessão. Apostam no enfraquecimento político dos governistas em meio ao mar de lama das investigações, que podem atingir também a cúpula dos situacionistas. Mas o que vai mesmo incendiar a opinião pública é o emergente desemprego em massa. A tentativa de impedimento da presidente por irresponsabilidade fiscal ou desgoverno ético configura o cenário de “collorização” do segundo mandato de Dilma.

Um cenário alternativo, cada vez menos provável, seria a “sarneyzação” do mandato, por meio do fisiologismo do Legislativo e da cumplicidade do Judiciário, essência da velha política. As promessas de cargos e verbas para cooptação do baixo clero do PMDB e o fatiamento das investigações do “Petrolão” tiveram fôlego curto. Funcionam cada vez menos as práticas fisiológicas do Legislativo e as manobras de abafamento das investigações e de influência sobre o julgamento no Judiciário, sugestões das velhas raposas peemedebistas a Lula que teriam sido repassadas a Dilma. Um senador foi fulminado em pleno mandato quando gravado em ação e, à medida que as investigações atinjam finalmente os parlamentares, essas práticas anacrônicas e desmoralizantes terão custos proibitivos, como indica o abandono imediato desse senador por seu próprio partido. A “sarneyzação” do segundo mandato de Dilma seria uma aposta temerária no fisiologismo dos parlamentares e na cumplicidade do Judiciário.

A presidente segue encurralada entre dois cenários desfavoráveis, sendo crescente a probabilidade de seu impedimento e decrescente a de uma acomodação às degeneradas práticas da velha ordem. Resta-lhe uma terceira opção para reescrever favoravelmente sua biografia: encaminhar ao Congresso um programa emergencial de controle de gastos públicos para seus próximos três anos de governo e uma convocação para uma imediata reforma política.

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