quinta-feira, novembro 12, 2015

Operação troca ministro - CELSO MING

ESTADÃO - 12/11

O projeto do ex-presidente Lula e do PT não é apenas descartar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Como apontado na Coluna de terça-feira, é montar uma política econômica de cunho populista que garanta resultados eleitorais em 2016 e em 2018.

De tudo quanto transpirou até agora, a ideia é entregar o comando da economia para quem preencha duas condições: ter o respeito tanto do mercado internacional quanto do mercado financeiro interno; e se dispor a flexibilizar, digamos assim, o rígido programa de ajuste, de maneira a estimular o consumo, a produção e o investimento e, dessa forma, devolver a confiança.

Se fosse apenas para puxar para cima quem aceitasse recolocar em prática as políticas da Nova Matriz Macroeconômica, bastaria entregar o comando da economia para o ministro Nelson Barbosa (atual defensor das pedaladas do passado), ou para o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin (o grande impulsionador tanto das pedaladas quanto dos demais truques contábeis nas contas públicas), ou para um dos prediletos do PT, o economista Marcio Pochmann. Mas estes não contam com grau mínimo de confiança dos agentes econômicos.

Por isso, o nome da vez é o do ex-presidente do Banco Central do período Lula Henrique Meirelles. A presidente Dilma já deu todas as demonstrações de que não gosta de Meirelles. Mas a esta altura, quem já engoliu sapos de tantos tamanhos não deve se opor a mais esse.

A partir daí, falta saber três coisas: se Meirelles aceitaria fazer esse jogo populista; se uma política baseada na flacidez fiscal, no crédito fácil e subsidiado, na derrubada dos juros na marra e na distribuição de pacotes de bondades conseguiria ao menos dar uma sensação de que a virada econômica começou e, a partir daí, devolver condições para um bom desempenho do PT nas urnas, pelo menos em 2018; e se a concessão de plenos poderes a Meirelles para consertar a economia teria alguma viabilidade prática.

Para responder às duas primeiras questões é preciso entender que Meirelles gostaria, sim, de assumir um desafio que poderia guindá-lo a salvador da pátria. Ou, por outros termos, gostaria de ser no resto do governo Dilma o que foi a partir de 1993 o ministro Fernando Henrique no governo Itamar Franco. Tirar o Brasil da atual encalacrada seria produzir o equivalente ao grande sucesso do Plano Real.

Mas Meirelles não perfaz o perfil de quem esteja disposto a retomar a política fracassada do ministro Guido Mantega. Poderia, sim, fazer todas as maldades necessárias para sanear a economia, embora com um discurso mais “promessista” e mais carregado de sonhos do que o de Joaquim Levy.

O problema aí é a trombada de estratégias. Para o PT, Meirelles seria aquele que pavimentaria a volta gloriosa do presidente Lula. No entanto, Meirelles, como ficou dito, tem projeto próprio. Se tudo desse certo, em algum momento essa diferença teria de aparecer.

Agora vamos ao terceiro ponto. Essa história de que Meirelles assumiria o Ministério da Fazenda com poderes de kaiser da economia é ilusão de noiva. A presidente Dilma poderia até registrar em cartório concessões desse tipo, mas, na primeira curva, tudo poderia deixar de ser exatamente assim.

CONFIRA:

Duro na queda

Quanto tempo mais o ministro Joaquim Levy aguenta? Durão ele é. O problema é que pode ser considerado demissionário bom tempo antes da queda, como Guido Mantega.

Privatizar é preciso

A veemente defesa da privatização feita nesta quarta-feira, em Brasília, no Encontro Nacional da Indústria, pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles é uma boa indicação da enorme divergência entre os pontos de vista dele e os do PT.

Sabatina

Marque com um X a resposta correta. A presidente Dilma até ontem não havia ido inspecionar os estragos produzidos pela ruptura da barragem da Samarco: (1) porque quis evitar identificação de seu governo com mais um desastre; (2) porque não quis se encontrar com o presidente da Vale, Murilo Ferreira, chateada por este ter abandonado o Conselho da Petrobrás; (3) por julgar que o relativamente baixo número de mortos não justificaria seu deslocamento; (4) nenhuma das opções anteriores.

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