terça-feira, outubro 13, 2015

Sangue e suor - NATUZA NERY - PAINEL FOLHA

FOLHA DE SP - 13/10

A ameaça de impeachment chega ao seu nível mais elevado nesta semana com o governo perdido sobre como evitar o processo de deposição. Apesar de reuniões picadas aqui e ali com pouquíssimos ministros nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff ainda não tem um gabinete de crise plenamente estruturado para impedir a cassação de seu mandato pelo Congresso. Após reuniões com sua equipe nesta segunda, porém, Dilma estaria convencida a "partir para a guerra".


Tudo... Ministros defendem que a presidente adote o discurso do "nunca roubei" e vá para cima do chefe da Câmara, Eduardo Cunha.

...ou nada Para o grupo, não há outra alternativa a não ser dizer, publicamente, que "quem tenta tirá-la do cargo é um político acusado de cometer atos ilícitos" no esquema da Petrobras.

No ar Nas conversas travadas nesta segunda no Palácio da Alvorada, auxiliares reconheceram as chances reais de o impeachment ser deflagrado. Caso isso ocorra, Dilma faria um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV.

Padrinho Preocupado com o grau de instabilidade atingido pela crise,o ex-presidente Lula avisou que irá a Brasília nos próximos dias.

No escuro Sem ponte com o presidente da Câmara, o Planalto não conseguiu, nos últimos dias, se antecipar aos movimentos do adversário. Agiu, portanto, mais por intuição que por informação.

Placar Petistas afirmam que a única frente do governo que tem funcionado bem até agora é aquela encarregada de reunir votos contra a deposição da petista na Câmara. Segundo cálculos de três ministros, haveria apoio "sólido" de 230 deputados.

Imprevisível Por outro lado, a avaliação da cúpula do Planalto é a de que, se houver pressão das ruas, muitos desses congressistas desistiriam de apoiar a presidente.

Falta confirmar A falta de quorum para manter os vetos presidenciais, semana passada, também joga dúvidas sobre essa previsão.

Time Dilma escalou Miguel Rossetto (Previdência) para mobilizar os movimentos sociais. José Eduardo Cardozo (Justiça) medirá o pulso do STF para avaliar se há apoio contra o impeachment.

Vai dar? O governo não sabe se possui maioria confortável no Supremo Tribunal Federal para contestar a eventual abertura de um processo contra a presidente.

Munição "Mas já queimamos o cartucho do STF quando tentamos evitar o julgamento no TCU. E o STF nos derrotou", diz um ministro, com dúvidas sobre se recorrer ao Supremo seria a melhor estratégia neste momento.

Radar Nas últimas semanas, diferentes interlocutores do Planalto levaram a Brasília a informação de que muitos empresários ensaiam retirar o apoio ao governo.

Contenção O Palácio do Planalto, no entanto, ainda não tem ninguém escalado para tentar conter a notícia de sangria no setor privado.

Sede ao pote Uma ala do PSDB não concorda com a estratégia do partido de combinar o jogo do impeachment com Eduardo Cunha. Na avaliação de alguns tucanos, isso está expondo a legenda.

Apanha calado Há meses apanhando de Eduardo Cunha pela imprensa, nenhum ministro ou dirigente petista de peso condenou publicamente o principal adversário de Dilma. O grupo de deputados do partido que pediu seu afastamento da Câmara o fez de forma isolada, sem o aval da cúpula.

Medo Parte desse silêncio resultou da percepção de que o peemedebista, a esta altura, já estaria tão fragilizado que não teria mais condições de operar um processo de deposição da presidente. A outra parte vem da crença de que ainda seria possível fazer um acordo com ele.

Será? Petistas afirmam que falta mobilização não só da militância mas também dos dirigentes do partido nos Estados. "Estamos esperando Godot", diz, frustrado, um integrante do partido.


CONTRAPONTO

"A permanência de Eduardo Cunha na presidência da Câmara é a maior afronta à República e à democracia que este país já viu."
DO SENADOR RANDOLFE RODRIGUES (Rede-AP), sobre a revelação de que contas secretas na Suíça eram usadas por Cunha para pagar despesas pessoais.


TIROTEIO

Momento tiete
Em sua viagem oficial aos Estados Unidos, no fim de junho, Dilma Rousseff conversava com seu homólogo Barack Obama quando notou Kátia Abreu os cercando. Ao perceber a inquietude de sua ministra da Agricultura, a presidente brasileira foi logo apresentando os dois.

Kátia, admiradora declarada de Obama, quase não conseguiu reagir diante do mandatário norte-americano.

–É que ela é fã dele –explicou Dilma para os assessores que acompanhavam a cena.


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