FOLHA DE SP - 16/10
O Brasil está perto do fundo de um poço muito parecido com aquele em que se meteu nos anos de 1999 e 2003. Para sair dali, não falta muito mais que colocar um remendão imediato nas contas do governo e aprovar um plano duradouro de contenção da dívida pública. Nas outras crises, embora não tenha havido "ajuste estrutural", funcionou.
É um resumo muito breve e, assim, algo injusto, de um documento que o Ministério da Fazenda publicou ontem, "Reequilíbrio Fiscal e Retomada da Economia".
Trata-se de uma espécie de prestação de contas misturada a uma exposição de motivos contra o pessimismo sombrio de quase todas as análises econômicas que não sejam governistas. Parece também uma defesa de Joaquim Levy. Para quem quer vê-lo pelas costas ou observa sua fritura, soa ainda como prévia de testamento.
Havendo perspectiva de controle do aumento da dívida pública como ocorreria a retomada?
Baixaria o prêmio de risco, o extra em taxas de juros cobrado no país. Assim, teria fim a desvalorização descontrolada do real. As taxas de juros para empréstimos de prazo mais longo, que afetam decisões de investimento, começariam a baixar, assim como a expectativa de inflação.
Melhoraria, pois, a confiança dos empresários, também reforçada pela expectativa de que o peso dos tributos não continuaria aumentar (pois o deficit público estaria controlado), o que é controverso, mas não impossível, mas passemos.
O tamanho da desvalorização de 2015 se assemelha aos de 1999 e 2003, assim como o nível de depressão de ânimo dos empresários e de ociosidade da capacidade de produção industrial. Há uma vantagem agora: o país tem nível altíssimo de reservas internacionais e, apesar da piora do risco-Brasil, a degradação nem de longe chega perto da verificada nas outras duas crises.
A inflação em baixa não estragaria a oportunidade proporcionada pelo real mais desvalorizado, que estimula a produção doméstica, em vez de importações. O comércio global vai mal, decerto. Mas a indústria perdeu tanto espaço no último quinquênio que, "parece", tem mais espaço para recuperar. Agora não há boom do preço de commodities. Mas, nas recuperações de 2000 e 2004 também não se contou com melhoria de preços de exportações. Quase não se trata de estímulo à demanda.
Metade do texto compara indicadores econômicos dos anos em torno de 1999 (desvalorização do real) e de 2003 (crises do final de FHC e medo de Lula) com os do ciclo atual. Em curvas de gráficos, a crise dos anos Dilma parece mais com a de FHC, como se sabe.
Note-se que, na crise fernandina o Brasil quebrara e passava por mudança de regime de política econômica, de câmbio quase fixo para quase flutuante e metas de inflação.
Mais importante, para o argumento, é a dificuldade com o ajuste fiscal. Nas crises passadas, o buraco nas contas foi tapado com grandes aumentos de impostos. Agora, com carga tributária maior e campanhas várias antigoverno, está difícil. Além disso, houve, de alguma forma, recomeços. Sob FHC, mudança de política econômica com convicção, que dava apoio a uma equipe econômica capaz; no caso de Lula, confiança das elites em sua transfiguração econômica e enorme confiança popular na figura do presidente.
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