sexta-feira, outubro 09, 2015

A mala não fecha - PAULO SILVA PINTO

CORREIO BRAZILIENSE - 09/10

Todo mundo já se viu naquela situação de juntar coisas demais para a viagem e enfrentar dificuldade para fechar a mala. A gente aperta, faz força, acha que conseguiu, e então o zíper se rompe. É assim que o país está com os gastos públicos. A carga tributária equivale a 35% de tudo o que se produz aqui. E nem assim dá conta de cobrir as despesas do governo. O orçamento, provavelmente, vai fechar de novo no vermelho neste ano.

O que muitos se perguntam é para onde vai tanto dinheiro, já que os serviços públicos são insatisfatórios e exigem que muitos recorram à saúde e à educação pagas. Só que a gente não leva na mala só o que é nosso. A bagagem é da família toda.Tem um monte de tranqueiras, incluindo aquele jogo de panelas usadas que a tia pediu para levar. Nem experimente jogar fora sem antes convencê-la da falta de serventia.

Abrir mão do convívio com a família é sempre uma alternativa. Sair do país para não mais voltar, porém, está longe de ser uma operação trivial. Temos aqui um conjunto de direitos e oportunidades que já nos parece natural. Nem todos estão disponíveis, ao menos de modo imediato, para quem migra ao primeiro mundo. A solução óbvia de eliminar itens da bagagem - e das despesas públicas - passa por decisão coletiva. Há coisas que você nem sabia que tinham dono, mas é só ameaçar jogar fora que ele aparece.

A melhor alternativa pode ser substituir alguns itens por outros mais eficientes. O velho sobretudo de lã pode dar lugar a um casaco leve, que proporciona conforto térmico maior ocupando um terço do espaço. Na analogia em questão, isso equivale ao ganho de produtividade do setor público. Todo mundo concorda, a princípio, menos o dono do sobretudo. Fazer mais por menos é discussão que passa por muitos pontos, incluindo força de trabalho equivalente à do setor privado, em custos e resultados.

Para muita gente, o item mais inútil das despesas públicas, e que deveria ser cortado de imediato, é a taxa de juros, a maior do mundo. Abrir mão da política monetária, porém, é como dispensar a mala e tentar viajar com todos os itens na mão. Melhor trabalhar duro e comprar uma bagagem de boa qualidade.


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