folha de sp - 05/08
Embora o Palácio do Planalto mantenha um ar de distanciamento que corresponde pouco com a realidade, três dos principais atores políticos do governo Dilma Rousseff foram a campo nesta quarta (5) admitir com franqueza o óbvio: é grave a crise, e no momento, incontrolável.
O mais eloquente foi o vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), alçado desde o começo do ano a coordenador político. Num tom raramente visto de nervosismo, ele clamou por união nacional e admitiu a gravidade da situação política e econômica.
O recado era direcionado principalmente, mas não apenas, ao Congresso em rebelião. A manutenção da votação de uma "pauta-bomba" na terça (4), após os líderes concordarem que ela deveria ser adiada, é sinal claro do clima em Brasília.
O vice-presidente também se colocou como alguém com "capacidade de reunificar todos", o que num contexto em que o cargo da chefe está ameaçado por eventuais pedidos de impeachment e pela baixíssima aprovação, poderá ser objeto de especulações distintas.
Temer havia se reunido mais cedo com Joaquim Levy (Fazenda), principal porta-voz até aqui dos apelos ao Congresso. O ministro deu também sua palhinha, dizendo não desejar "ruptura" no Congresso e apontado a gravidade da crise.
Por fim, um improvável Aloizio Mercadante (Casa Civil) falou em "acordos suprapartidários" para superar ao menos a crise econômica –como se ela fosse dissociável da política. De todo modo, a fala completa o cenário de que o governo, ou parte dele, parece ter entrado em pânico.
O que vem por aí não ajuda os governistas. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), maquina sua vingança contra o que considera perseguição pelo Planalto. Para cada declaração defendendo a responsabilidade nas decisões, uma ação de bastidor para alfinetar o governo, como poderá ser atestado nas votações da noite desta quarta.
Nesta quinta (6), Dilma e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, aparecerão no programa de TV do PT e, até aqui, o partido não deu sinais de que irá mudar isso. Chamará para si um provável megapanelaço, que servirá de aperitivo para o protesto que pedirá a saída de Dilma do governo no dia 16.
Isso ocorre no momento em que o mesmo Cunha limpa a área para eventual apreciação das contas de 2014 de Dilma e eventuais pedidos de impeachment, em acordo tático com a oposição. Dono da bola e pressionado pela certa denúncia que sofrerá pela Procuradoria-Geral da União por acusações de levar dinheiro no petrolão, o presidente da Câmara ditará o "timing" de todo o processo.
Por fim, o fantasma das apurações da Lava Jato segue em ritmo acelerado de assombração. O temor de delações premiadas que possam comprometer ainda mais o PT e o governo só fez crescer, além do impacto simbólico da nova prisão do ex-ministro José Dirceu.
Enquanto o PT acredita que poderá rebater nas ruas esse tsunami, com atos no dia 20, os principais atores do governo dão sinais de que entenderam a natureza do problema.
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