domingo, maio 17, 2015

Bilionários do Rio, salvem a Casa Daros - ELIO GASPARI

FOLHA DE SP - 17/05

Foi deixado sobre uma mesa do jantar oferecido a Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton em Nova York um manifesto dirigido aos bilionários do Rio de Janeiro. Está assinado por John D. Rockefeller Jr., fundador do Museu de Arte Moderna de Nova York, Henry Frick, um patrão malvado, colecionador de obras primas (três quadros de Vermeer), e Lila Wallace, uma mulher que gostava de flores. Todos mortos há tempo.

É a seguinte sua íntegra:

"Companheiros da cidade do Rio de Janeiro,

Como bilionários, somos companheiros de infortúnio. Soubemos pela Niomar Moniz Sodré, a criadora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que Ruth Schmideiny, nossa colega suíça, resolveu fechar a Casa Daros, uma das maiores iniciativas culturais abertas na cidade nas últimas décadas, sem um tostão de dinheiro público. O magnífico casarão de Botafogo é um belo espaço, com 12 mil metros quadrados de salões.

Dona Niomar nos trouxe a lista de bilionários brasileiros e contamos dezesseis com patrimônios superiores a US$ 1 bilhão que de alguma maneira estão ligados ao Rio. Juntos, vocês têm perto de US$ 100 bilhões. Companheiros, salvem a Casa Daros. No Rio, o Museu da Cidade está fechado, o zoológico está aos cacos e um cidadão tomou um tiro na cabeça diante da mulher porque entrou na esquina errada. Deixem o governo fora disso. Mostrem que assim como sabemos ganhar dinheiro, sabemos devolvê-lo.

Não mencionaremos vossos nomes porque conhecemos a inveja popular e a ganância dos jornalistas interessados em nos expor, como se tivéssemos feito algo de errado.

Vocês vivem numa cidade com três lindos palácios: o do Catete, o Laranjeiras e o Itamaraty. Em todos moravam companheiros nossos. No Catete, o barão de Nova Friburgo. No do Itamaraty, o visconde Rocha Leão. No Laranjeiras, Eduardo Guinle. De um jeito ou de outro, todos foram passados ao Tesouro do Brasil, sustentado pelos impostos de vosso povo. Isso aconteceu numa época em que o trecho da Quinta Avenida que dá vista para o Central Park de Nova York era conhecido como Milha dos Milionários. Hoje esse espaço chama-se Milha dos Museus.

O Tesouro americano não comprou mansões por lá. A casa com a coleção de Henry Frick continua na esquina da rua 70, até porque foi projetada para ser museu. Mais adiante a Neue Gallery. O palacete do banqueiro Felix Warburg é hoje o Museu Judaico. A mansão de Andrew Carnegie, muito mais modesta que o Palácio do Catete, é um centro de exposições. Do outro lado da rua está nosso orgulho, o museu Metropolitan, criado por ilustres companheiros.

Na cidade em que vossos antecessores passaram seus símbolos de ostentação para os cofres públicos, falta a marca da vossa capacidade de mostrar interesse pelo bem do público que alimenta esses cofres.

Assumam a Casa Daros. Nossa vida de bilionários é dura e sabemos que dar dinheiro é coisa mais trabalhosa do que ganhá-lo. (Os comunistas e os invejosos não acreditam nisso, mas é verdade.) A Dona Niomar é uma conhecida maledicente, mas ela nos contou que um de vocês pagou perto de US$ 2 milhões a um ex-ministro da Fazenda do vosso governo neossocialista. Nenhum de nós fez esse tipo de coisa. Podemos ter gasto fortunas brigando com sindicatos, mas essa é outra história. Henry Frick diz que ninguém associa seu nome às greves que destroçou, nem mesmo aos dois tiros que um anarquista meteu-lhe no pescoço. Quem haveria de pensar nisso na galeria onde está o monumental Autorretrato de Rembrandt? Alguns de vocês mantêm instituições meritórias, mas é pouco. Na média, os bilionários do Rio são uns mãos-de-vaca.

Assinamo-nos aproveitando a oportunidade para lembrar que a nossa colega Lila Acheson Wallace e seu marido eram dois jovens sonhadores quando nós já éramos milionários. Enriqueceram e deram quase tudo o que tinham. Ela deu uma fortuna ao museu Metropolitan e será eternamente lembrada pelos quatro nichos de flores frescas que ficam no saguão. Custaram uma mixaria, pois são sustentadas por uma doação de US$ 4 milhões.

Como ensinou Andrew Carnegie: "Morrer rico é uma vergonha".

John D. Rockefeller Jr.

Henry Frick

Aderindo: Andrew Carnegie e Lila Acheson Wallace"


Aposentadorias

Não se deve dar como fava contada que a doutora Dilma vete a mudança aprovada pela Câmara no cálculo do tempo de serviço e da idade para as aposentadorias.

Os deputados não acabaram com o fator previdenciário nem inventaram uma moleza. Criou-se apenas uma regra adicional. Ela ampara homens que somem 95 anos juntando a idade ao tempo de contribuição para a Previdência. Para mulheres, 85 anos.

O Planalto acha que há espaço para uma negociação, coisa que já poderia ter acontecido se houvesse uma liderança governista na Câmara.

Menos, doutora

Dilma Rousseff disse que a legislação que exige conteúdo nacional na construção de navios, plataformas e unidades de produção da Petrobras vai continuar: "Podem contar, no meu governo, será mantido".

A doutora sabe que o futuro a Deus pertence, mas, no presente, seu governo marqueteia essa política enquanto quatro encomendas feitas a produtores nacionais já foram substituídas por unidades importadas com cerca de 80% de conteúdo nacional japonês ou de Cingapura.

São importadas pelas empresas que deveriam construí-las.

Negócio da China

Numa época em que abundam empresas quebradas e projetos sem recursos, renasceu a lenda segundo a qual a China salvará os náufragos. Ilusão. Os chineses entrariam no projeto do trem-bala e colocariam US$ 7 bilhões na OGX de Eike Batista. Tudo parolagem.

Em benefício dos chineses, deve-se dizer que nenhuma dessas lorotas foi inventada por eles para enganar brasileiros. É coisa de brasileiros empulhando brasileiros.

Dilma e Reagan

Numa única ocasião a doutora Dilma chamou o secretário -executivo Ricardo Leyser, do Esporte, de "Glayser" e colocou-o na pasta dos Transportes. Disse que estava no "Recanto das Gaivotas". Depois corrigiu: "Jardim das Gaivotas". Estava na "Vivenda das Gaivotas". Até aí nada demais para quem tem 38 miniStros. Mais adiante lembrou que os beneficiados pelo "Minha Casa, Minha Vida" deixarão de pagar aluguéis de "R$ 300 a R$ 400 mil". Tudo bem para quem não paga aluguel desde 2003.

Em 1982, quando visitava o Brasil, Ronald Reagan ergueu um brinde aos seus anfitriões e ao "povo da Bolívia". Percebeu o engano e corrigiu: a Bolívia era o país para onde iria nos próximos dias. Nada feito, ele ia para a Colômbia.

Como Reagan era detestado pela esquerda, disseram horrores dele.

Levy no Bradesco

Os educatecas do MEC continuam atrasando os repasses para as universidades federais. Conseguiram provocar o fechamento do Museu Nacional e de quatro escolas da UFRJ.

Aperto fiscal é uma coisa, trapaça é outra. Se alguém fizesse isso com Joaquim Levy quando ele era diretor do Bradesco, ia para a rua. Levy estudou engenharia (de graça) na Federal do Rio.

Mobilidade

O juiz Sergio Moro foi a São Paulo e andou de táxi. Parece pouco, mas, para quem vê carros oficiais de maganos de Brasília estacionados na porta de restaurantes, é uma enormidade.

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