É importante interpretar as recentes iniciativas de poderes supostamente independentes para enfrentar a crise política e econômica que nos ameaça. Após cem dias de turbulência, o Executivo define finalmente sua estratégia. Encurralada pela crise de duas cabeças, a presidente Dilma Rousseff, que já havia convocado Joaquim Levy para a economia, entrega agora a coordenação política para Michel Temer. Dilma teve de executar esses dois movimentos, pois eram os que lhe restavam para promover o ajuste econômico e evitar o caos político.
"Dilma é a primeira presidente da República que não foi parlamentar. Ela não conhece o Congresso", havia criticado o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. "Dilma Rousseff confiou excessivamente em sua precária formação em economia. Tornou-se, portanto, indissociável do equivocado rumo tomado pela economia. Suas digitais estão em toda parte. A presidente tem de interditar a economista. Dilma deve se comprometer com a recuperação dos fundamentos fiscais, indicando pessoas com quem não gostaria de trabalhar e que provavelmente também não gostariam de trabalhar com ela", escrevi nesta coluna em novembro passado. Fomos ambos atendidos.
O Poder Legislativo ensaia uma agenda própria. Renan Calheiros quer examinar no Senado a independência do Banco Central. Eduardo Cunha quer levar adiante na Câmara de Deputados uma inadiável reforma política. Breve saberemos se o PMDB está apenas renegociando as condições de capitulação da presidente à velha política, oferecendo sustentação parlamentar e seguro presidencial contra impeachment a preços moderados ( ministérios do Turismo e da Pesca) quando comparados ao mensalão e ao petrolão. Ou, alternativamente, se está usando sua independência para aperfeiçoar nossas instituições.
Agora, a peça decisiva. Nossa transição do Antigo Regime para a Nova República dependeria então de uma aposta em menos oportunismo e fisiologia? Apesar da sensata sugestão de Cunha para a redução do número de ministérios, seria ingênuo contar com papas renascentistas para fazerem as reformas. Nossas esperanças estão agora com o Poder Judiciário. As atuações de Joaquim Barbosa, antes, e Sergio Moro, agora, são claras indicações de que há novas exigências éticas para o exercício da política
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