FOLHA DE SP - 04/03
RIO DE JANEIRO - Já não basta o aumento das tarifas. A última conta de luz recebida por uma amiga trazia a ameaça: "Aviso de corte. Até o dia [espaço em branco] não constava em nossos registros o pagamento de conta(s) de energia no total de R$ [espaço em branco], o que implicará no corte de fornecimento, cobrança de multa e inclusão no Serasa e similares. Detalhes ao lado". Mas, no dito ao lado, outro espaço em branco. Só que a conta de minha amiga está há anos no débito automático e em dia, como ela informou à empresa. Esta reexaminou seus arquivos e levou horas, mas concluiu que não constava nenhum débito e mandou desconsiderar o aviso.
Na mesma semana, mãe, filha e genro tiveram seus cartões de crédito clonados. Com o da filha, foi feita uma despesa de R$ 2.000; com o do genro, de R$ 13 mil. Apesar dos valores incompatíveis com o histórico dos cartões, nenhum dos dois foi bloqueado. Já o da mãe, cuja despesa era de quatro dólares, foi.
Eu próprio tenho sido vítima desse samba do cibernauta doido. Uma operadora está me cobrando há meses por duas linhas de telefonia móvel que não pedi para ter, não tenho, não uso e não pretendo usar. Por causa disso, recebo telefonemas vociferantes vindos de sujeitos em cidades como Belo Horizonte e Fortaleza, mas nenhum me assegura que, se eu pagar as contas fantasmas, conseguirei cancelar essas linhas idem.
E há os Correios, batendo seus próprios recordes de ineficiência. Encomendas que recebo de ou envio para EUA, México ou Portugal têm levado até quatro meses para chegar. Junte a isto a falta d'água, os voos cancelados nos aeroportos, as cidades intransitáveis. Os serviços no Brasil estão se dissolvendo.
Bem, eles nunca foram grande coisa, mesmo. O problema será se as instituições –firmes há 30 anos– também estiverem correndo risco de dissolução.
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