quinta-feira, agosto 07, 2014

Um país legítimo - SÓCRATES NOLASCO

O GLOBO - 07/08


Judeus não foram para a Palestina, eles já estavam lá. Em Israel há projetos que integram os dois povos



O articulista da “Folha de S. Paulo” Ricardo Melo escreveu: “Inexiste solução para a crise do Oriente Médio, que não inclua o fim do Estado de Israel.” Porém, qualquer argumento está fadado ao fracasso se as análises que o sustentam partem de crenças e não de fatos. Quando isso ocorre, tem-se um texto com impressões pessoais, usadas como recurso para provar ao leitor que aquele que o escreveu está correto.

Faltam informações a Melo sobre a origem do povo judeu. Vitimizar os civis de Gaza lhe serve como argumento, mas não resolve o problema dos palestinos submetidos ao Hamas. Para ele, o que garante a existência do Estado de Israel é o apoio dos EUA. Se for só isto, os índios brasileiros teriam um futuro melhor caso os EUA os apoiassem?

Israel sobreviveu à Guerra de 1948 e se tornou um país democrático, do ponto de vista religioso, político e social. Dos países do Oriente Médio, é o que tem o IDH mais alto. Nele, homens e mulheres são iguais perante a lei, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é reconhecido, há liberdade religiosa, representatividade dos árabes e minorias no parlamento e eleições livres, o que o distingue dos países da região. Nele há igrejas, mesquitas e sinagogas. É um dos países que mais investem em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB, tem o maior número de autores publicados nos campos das ciências naturais, engenharia, agricultura e medicina. Até hoje, dez israelenses ganharam o Prêmio Nobel em diferentes áreas. É este país que Melo quer eliminar? Será que seus argumentos foram produzidos pelo desencanto de quem assiste à derrocada da esquerda no mundo, uma esquerda ineficiente para transformar as sociedades, mas eficiente, como a direita, para fomentar guerras?

Sobre um solo duro e seco, construiu-se com otimismo e fé um país que não mede esforços para resgatar judeus, como foi o caso dos etíopes. A democracia israelense não incomoda só países que fazem parte do Oriente Médio, mas também políticos sul-americanos que se distanciaram das necessidades da população, para investirem na permanência no poder. O judeus começaram sua história como escravos fugidos do Egito que retornaram à terra de seus patriarcas para constituírem uma nação. Nela proclamaram um reino, posteriormente divido em dois. Um deles foi derrotado pelos assírios (722 AC) e o outro pelos babilônios (586 AC). Exilados pelos vitoriosos, retornaram à terra de seus ancestrais, criando nela um segundo Estado. Contudo, foram derrotados pelos romanos (70 DC) e, contrariando os precedentes, os vencidos sobreviveram em comunidades dispersas, ressurgindo dois mil anos depois pela terceira vez.

Em 1948, Israel se tornou independente. Os judeus não foram para a Palestina, eles já estavam lá. Atualmente em Israel há projetos que integram árabes e judeus que se recusam a ser inimigos, como é o caso do “Hand in hand”, “Seed of peace” e Shalom Arshav (Paz Agora). É este país que se quer acabar?

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