O GLOBO - 17/04
Todas as peças juntas não fecham o quebra-cabeças da Petrobras e a história não fica em pé. Mas o governo pode respirar aliviado porque o ex-diretor Nestor Cerveró em nenhum momento se contrapôs à presidente Dilma.
Perguntado exaustivamente, ele não desmentiu a presidente. Afirmou que mandou para a diretoria executiva o contrato que tinha as cláusulas.
A presidente Dilma, no primeiro ato desta confusão, soltou aquela nota afirmando que tomou a decisão sem ver as cláusulas de put option e Marlim que favoreceram a Astra na compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena. Cerveró fugiu da pergunta se realmente omitiu do conselho. Disse que as cláusulas não tinham a menor importância; que elas estavam no contrato; que a diretoria executiva recebeu todos os documentos. Ele coletivizou a culpa da suposta omissão da informação ao conselho.
— Não existem decisões individuais na companhia — disse Cerveró.
A briga passou a ser então entre Graça Foster e Nestor Cerveró. A presidente Dilma foi poupada. Graça Foster disse que em nenhum momento ele apresentou aquelas informações para o conselho de administração; sequer verbalizou a existência das cláusulas. Cerveró disse que tudo foi encaminhado à diretoria executiva, e que essas cláusulas são comuns, corriqueiras. Graça disse que existe o put option e o put price: ou seja, é normal ter no contrato a possibilidade de saída de um dos sócios, mas a dúvida é sobre o preço pago nessa saída.
A presidente da empresa disse que Nestor Cerveró foi punido ao ser mandado para uma diretoria mais restrita. Cerveró disse que não foi punido, pelo contrário, foi muito elogiado pela diretoria quando deixou o cargo de diretor internacional da Petrobras. Ser diretor de uma subsidiária é menos do que um cargo na diretoria da empresa mãe. Só que se a ideia era puni-lo por lesar a empresa, ou por sonegar informações, entregar a ele justo o cofre da empresa que teve lucro de US$ 1 bilhão no ano passado é uma estranha forma de punir:
— Não fui rebaixado, nem fui punido, não existe emprego de diretor.
Cerveró disse que foi um grande negócio; Graça Foster diz, com base no inquestionável prejuízo, que foi um mau negócio. O ex-presidente José Sérgio Gabrielli disse que foi um bom negócio. Segundo Cerveró, foi a decisão da empresa de não completar o projeto que o fez fracassar. Se concluído, o Brasil teria que investir mais US$ 3 bilhões.
O balanço da Astra diz que ela comprou por US$ 42 milhões, mas Graça Foster e Nestor Cerveró — numa rara concordância — disseram que ela pagou, na verdade, US$ 360 milhões. Graça se referiu a acertos contábeis entre a Astra e a Crown, que vendeu a ela. Cerveró contabiliza investimentos feitos pela Astra na refinaria para chegar ao número.
Uma coisa já se sabe ao fim dessas semanas de discussões sobre Pasadena: não se deve convidar Dilma Rousseff, Graça Foster, José Sérgio Gabrielli e Nestor Cerveró para contarem a mesma história. Também não se pode afirmar que a presidente Dilma é uma boa gerente. Ela aceitou um relatório “técnica e juridicamente falho”, não chegou a olhar nem os termos do contrato antes de aprovar, como presidente do conselho da maior empresa do país, um negócio que até agora provocou um prejuízo de US$ 550 milhões.
Foi um péssimo negócio. A Astra teve um lucro astronômico. A cláusula de saída pode ser comum, mas não com tanta vantagem para um dos lados. Depois que se descobriu tudo, foram necessários sete anos para que o “culpado” recebesse, como punição, a diretoria que cuida de um caixa que dá lucro de US$1 bilhão num ano. Tudo continua fora da ordem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário