quarta-feira, dezembro 18, 2013

Pedidos de Natal - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 18/12

Que o prefeito e o governador deixem como legado um pacto. Que assumam com a população o compromisso de que nunca mais se repetirá o caos das chuvas



Como está na hora de fazer os pedidos a Papai Noel, mando aqui minha lista, na esperança de ser atendido. Vocês verão que não há interesse pessoal em jogo.

1. Que o prefeito e o governador deixem como legado um pacto histórico. Que assumam com a população o compromisso de que nunca mais se repetirá o caos provocado pelas recentes chuvas, mostrado por imagens de cortar o coração: casas submersas, móveis boiando, famílias tendo que abandonar o que construíram com sacrifício sem saber para onde ir. Que prometam: o Rio não será mais um rio. Não é possível que a engenharia e a vontade política não descubram medidas capazes de evitar esse drama que se repete a cada ano. Utopia? Nem tanto. Já cantamos: “Rio de Janeiro, cidade que me seduz, de dia falta água, de noite falta luz.” Era também uma rotina que parecia não ter fim, e teve.

2. Que no próximo ano, a exemplo do último e glorioso campeonato, o meu tricolor não ganhe no tapetão o que deveria ter conseguido no tapete verde. Para permanecer na primeira divisão não por mérito seu, mas por capricho do regulamento, ele não precisava ser rebaixado em sua autoestima. Se essa moda pega, a de decidir partidas no tribunal e não no campo, os clubes podem achar que, em vez de contratar craques, é melhor investir em bons advogados.

3. Que o Brasil consiga coibir de uma vez a violência nos estádios de futebol. Só este ano, além da selvageria de Joinville, que escandalizou o país e repercutiu no exterior, houve até mortes em conflitos entre torcedores de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Goiânia. A solução não é tão difícil quanto parece. Numa entrevista, o técnico Carlos Alberto Parreira indicou como caminho a seguir o modelo já vitorioso na Inglaterra, que é simples: investigar, identificar e prender os criminosos. Punir sem contemplação.

4. Que num único caso seja seguido o exemplo dos traficantes. Assim como eles não desistem de voltar às favelas pacificadas e retomar seus pontos de venda, o Rio não pode desistir das UPPs. Como a democracia, elas são a pior solução, com exceção de todas as outras.

5. Que as autoridades consigam fazer valer no trânsito carioca a ordem natural das coisas: bicicletas nas ciclovias, carros nas ruas e pedestres nas calçadas. Não o contrário.

6. Que seja apenas um surto passageiro essa nova praga urbana que está assustando São Paulo: milhares de jovens desordeiros invadindo em massa shopping centers para atacar frequentadores, saquear lojas e estabelecer o pânico. As ações são convocadas pela internet, e numa das vezes chegaram a reunir seis mil invasores.

7. Eu disse que não ia pedir nada de pessoal, mas não resisto: que Papai Noel faça de minha neta Alice uma pessoa menos ciumenta. A última dela em resposta a quem perguntava por que o irmãozinho estava chorando tanto: “Ele é estranho mesmo.”

Nenhum comentário: