sexta-feira, novembro 01, 2013

E os motivos? - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 01/11

O aspecto mais grave da situação está no fato de que, até agora, o governo federal ainda não entendeu bem as origens e os motivos das manifestações populares



Como era inevitável e necessário, a presidente Dilma Rousseff anunciou sua tristeza com a morte em São Paulo de um rapaz de 17 anos, vítima de um tiro no tórax disparado por um policial militar.

Foi um gesto obviamente indispensável. Mas ele não absolve a presidente da necessidade de pedir desculpas ao país todo pela incompetência das autoridades no controle de manifestações populares. “A violência contra a periferia é a manifestação mais forte da desigualdade no Brasil”, disse ela.

Acontece que a desigualdade, que é histórica e visível no país inteiro, não é fenômeno recente. E tem produzido tragédias inevitáveis. Melhor dizendo, aparentemente inevitáveis. De tempos em tempos, aqui ou ali, e mesmo em estados ricos como São Paulo, o legítimo direito dos cidadãos ao protesto é deformado por atos de violência que, pelo menos aparentemente, apanham de surpresa as autoridades de todos os níveis.

A surpresa provoca uma súbita reação dos ocupantes do poder, em todos os níveis. Como a da presidente Dilma, que correu para a caneta e disponibilizou R$ 50 bilhões para ajudar em projetos declarados “de mobilidade urbana”. Um bom pedaço vai para a construção do metrô de Curitiba, que, literalmente, ganhou sem briga.

O aspecto mais grave da situação está no fato de que, até agora, o governo federal ainda não entendeu bem as origens e os motivos das manifestações populares que acabam em violência. Como disse, com louvável sinceridade, o ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho. “Não basta criminalizar essa juventude,” disse ele, reconhecendo que o governo precisa entender até que ponto a cultura da violência emigrou da periferia para as recentes manifestações de rua.

É uma posição aparentemente sensata: como em qualquer tipo de conflito, deve-se conhecer a força e os motivos — tanto os óbvios como os subterrâneos —, levando-se em conta que, muitas vezes ou quase sempre, parte considerável dos manifestantes mal sabe por que saiu para a briga.

Os poderes públicos não devem imitá-los. Só ganharão a guerra se conhecerem todos os motivos dos manifestantes destes dias. Até mesmo aqueles que eles desconhecem.

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