quinta-feira, agosto 01, 2013

Décadas nada perdidas do país do futuro - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 01/08
Se o Brasil precisava de uma boa notícia, ela chegou por intermédio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O país das décadas perdidas registrou avanços significativos nos indicadores sociais durante os últimos 20 anos, com o Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) passando de muito baixo em 1991 para alto em 2010. O avanço foi da ordem de 47,5%: de 0,493 para 0,727, consideradas, pela ordem decrescente do grau de desenvolvimento - que é tão melhor quanto mais se aproxima de 1 -, a longevidade (0,816), a renda (0,739) e a educação (0,637). Destaque-se que quase 86% das cidades brasileiras estavam bastante mal na foto do início dos anos 1990, percentual hoje reduzido a 0,57%.
A esperança de vida ao nascer foi de 64,7 anos para 73,9. A renda per capita passou de R$ 346,31 para R$ 793,87. A educação, única variável que ainda não atingiu patamar alto, foi, em compensação, a que mais evoluiu no período: 128%, sobressaindo a faixa etária de 5 a 6 anos, cuja frequência escolar pulou de 37,3% para 91,1%. A nota ruim é que, embora a diferença entre os extremos do IDHM do país tenha caído de 0,612 (em 2000) para 0,444 (em 2010), os 50 melhores resultados estão no Sul e no Sudeste e os 50 piores, no Norte e no Nordeste. Coincidentemente, as mais bem-sucedidas nessas duas últimas regiões, a nordestina Fernando de Noronha (PE) e a nortista Palmas, capital do Tocantins, obtiveram 0,788, empatando em 76º lugar no ranking nacional.

Também preocupa que o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2013, publicado pelo Pnud em parceria com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e a Fundação João Pinheiro, não traduza o sentimento das ruas. A insatisfação com os serviços públicos contrasta com os dados apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não que as manifestações e os indicadores sejam contraditórios. Afinal, o fato é que, nesses últimos 20 anos, o Brasil passou a figurar entre as 10 maiores economias do planeta, sem nem de longe aproximar-se do clube dos 10 com melhor qualidade de vida. Ou seja, o Estado continua em débito com a população no que diz respeito a responsabilidades sob seu encargo, como educação, saúde e mobilidade urbana.

Iniciados na última década do século passado com a conquista da estabilidade econômica proporcionada pelo Plano Real e acelerados com os programas sociais implementados mais fortemente nos anos 2000, os avanços ora registrados são extraordinários, ao mesmo tempo que insuficientes. E preocupa que a conjuntura de crise internacional da qual os países emergentes que compõem o acrônimo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) pareciam a salvo, comece a comprometer também essas economias. Há, portanto, muito a fazer para que o porvir não nos reserve mais décadas perdidas, repetindo o passado e confirmando a máxima de que somos o país do futuro. A baixa na popularidade dos governantes, da presidente da República a prefeitos, é alerta a ser observado com atenção máxima por autoridades de todos os poderes e níveis de governo.

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