sexta-feira, agosto 09, 2013

Concessões vão mudar expectativas, diz Mantega - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 09/08

Faz um ano que o governo anunciou o programa de concessões de rodovias e ferrovias com o propósito de chegar em junho com todas as licitações já realizadas. Da modelagem inicial praticamente nada vingou. Tudo foi refeito e renegociado mais recentemente pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. As pessoas originalmente envolvidas no processo não permaneceram até o fim.
O programa de concessões que começou a ser divulgado no dia 15 de agosto de 2012 é, hoje, a principal - senão a única - arma que do governo para dar impulso aos investimentos. Junto com o leilão de petróleo do campo de Libra, formam um evento que o governo quer ver muito bem sucedido para mudar as expectativas. Estas, pessimistas, contaminaram os indicadores de confiança de consumidores e empresários. A queda da confiança é, em geral, a antessala da desaceleração econômica.
Não há dados mais objetivos sobre o desempenho da economia em julho, exceto do setor automotivo. É, portanto, cedo para dizer se houve uma inflexão da produção e do consumo. Mas economistas do setor privado, que acompanham minuciosamente os indicadores, identificaram possível retração da produção industrial, na comparação com junho. Seria uma queda de cerca de 1%.
O índice de confiança do setor de serviços da Fundação Getulio Vargas (FGV) é, segundo um desses economistas, bastante aderente ao PIB de serviços e estaria apontando para uma perda de fôlego importante também nessa área. Há, no setor privado, quem estime crescimento de 1,5% para a indústria de serviços neste ano, o menor desde 2003.
Nos próximos dez dias serão divulgados diversos indicadores relativos ao segundo trimestre e as informações serão positivas. O PIB pode ter crescido mais de 1% sobre o primeiro trimestre. Já o terceiro trimestre, sem um bom resultado em julho, tende a ser ruim, avaliam.
Assessores graduados da área econômica já perceberam que houve uma queda relevante no ritmo de crescimento em julho e que o padrão do segundo trimestre é de difícil sustentação no restante do ano. O ministro da Fazenda avalia que julho, apesar de ter tido 23 dias úteis, é sempre mais fraco por causa das férias, mas não crê que isso comprometa a performance da economia daqui por diante.
Num curto espaço de tempo teria havido, assim, uma mudança não desprezível na performance da economia. Uma sequência de motivos explicariam o esfriamento do "espírito animal". Os bancos, à exceção das instituições públicas, fecharam as torneiras do crédito; as condições financeiras externas e internas do país mudaram drasticamente entre o primeiro e o segundo trimestres - com a elevação da taxa Selic, o anúncio do fim dos estímulos monetários pelo Fed e a depreciação do câmbio. As manifestações de protesto popular nas ruas das principais cidades do país adicionaram uma nuvem de fumaça no cenário, intensificando a desconfiança dos agentes econômicos.
A reação do governo às manifestações mostrou fragilidade. Os cinco pactos propostos como tentativa de dar vazão à insatisfação popular tiveram vida curta.
A antecipação do debate eleitoral foi uma péssima iniciativa que só agregou mais incertezas, segundo um empresário. Se há pouco mais de dois meses Dilma Rousseff estava reeleita, agora o jogo sucessório embaralhou. Não há um candidato óbvio. Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) não foram os catalizadores dos eleitores descontentes. Marina Silva foi, mas há dúvidas sobre se ela, conseguindo criar o partido (Rede), tenha fôlego para vencer. A última vez que apareceu um candidato novo, desconhecido, que conquistou o eleitorado foi Fernando Collor de Mello, lembrou esse empresário.
Esses são fatores que, somados, formam um quadro de incógnitas e recomendam cautela ao setor privado. A tendência é esperar as eleições, ver quem vence, qual será a política econômica a partir de 2015 para, então, retomar os investimentos.
Assim como no início do ano se esperava, no governo e fora dele, que os investimentos fossem a vedete do crescimento neste ano, os prognósticos de agora para o terceiro trimestre podem estar errados.
"Vamos ter as concessões, os investidores estrangeiros virão porque falta no mundo oportunidade de rentabilidade. Se os leilões forem um sucesso, vai bater nas expectativas", diz Mantega. As fichas do governo estão na mesa.

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