sábado, julho 13, 2013

Sobre trapalhadas e a falta de médicos - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE  - 13/07

Pressionado pelas ruas e com a popularidade em baixa, o governo Dilma trabalha no improviso. E, por erro próprio, tem dificuldades de implementar ideias positivas para o país, como a medida que estabelece o trabalho social obrigatório para estudantes de medicina


Uma história é a trapalhada política de Dilma Rousseff. Refiro-me à dificuldade da presidente em conseguir convencer a sociedade sobre a necessidade e a urgência de determinada medida governamental. Outra história, completamente diferente da primeira, é ser criticada por tentar implementar medidas para resolver a falta de médicos na maioria dos municípios brasileiros. Agir de forma diferente seria virar as costas para moradores de cidades pobres do interior do país.

As trapalhadas políticas e as ações positivas, mesmo que improvisadas, podem até ser analisadas em conjunto, mas é mais honesto separar a crise enfrentada pelo governo e os programas de saúde, no caso o Mais Médicos. Por mais que o Palácio do Planalto e os ministros petistas sejam os primeiros a tentar grudar os dois assuntos, como se únicos. Sem partidarismos, o debate até poderia render, mas a histeria ecoa na Esplanada e na oposição, extasiada e esperançosa de finalmente chegar às urnas com chances de derrotar o PT, depois de 12 anos. As intrigas e as guerras partidárias explodem na cara dos humildes.

Por partes, pois. Primeiro, o desgaste. É fato, Dilma aparenta estar perdida, irritadiça e cansada. Como também está parte dos auxiliares. A cada entrevista pública dos ministros Ideli Salvatti e Gilberto Carvalho fica claro o esgotamento físico. Não é fácil trabalhar com ameaças e pressões cada vez maiores. A presidente, por sua vez, pode até não estar mais irritada ou ríspida — isso, diriam assessores, foi sempre assim —, mas tudo parece mais grave quando as coisas vão mal.

Dilma tem errado em sequência e, se não fosse o bate-cabeça da oposição e os escândalos peemedebistas, estaria ainda mais nas cordas. A petista jogava bem com a plateia favorável, conseguindo se desvencilhar até mesmo das denúncias envolvendo ministros e até assessores. Quando tudo estava bem, até a queda de um ministro servia para Dilma reforçar a imagem de gerente eficiente, alguém incapaz de se curvar ao “malfeito”.

Improviso
Com as manifestações e a queda da popularidade, Dilma se sentiu obrigada a tomar decisões urgentes, o que significou improvisos, como o Programa Mais Médicos. Ao misturar duas medidas controversas, a presidente ganhou a indisposição da classe médica — leia-se, sindicatos e federações — e dos oposicionistas de plantão. Quem deveria ser consultado, porém, como sempre, ficou distante do debate.

Os moradores de cidades pobres precisam de médicos e qualquer iniciativa para isso deve ser comemorada. Mesmo que esteja se falando de atenção básica. Apenas quem perdeu um familiar ou amigo por falta de estrutura mínima sabe o que é não ter alguém que pelo menos oriente sobre determinado mal. Assim, mesmo que de forma improvisada e errática, o governo federal tem o mérito de abrir o debate, apoiado por médicos acadêmicos e por profissionais de saúde do serviço público.

Se temos apenas 1,9 médico por mil habitantes, precisamos aumentar tal percentual. Se a solução imediata passa por abrir o país aos estrangeiros, isso preciso ser implementado sem deixar brechas para que maus profissionais entrem no Brasil. Se pagamos caro, com dinheiro de impostos, universidades públicas para estudantes de medicina ou de outros cursos, que eles retribuam o investimento para a sociedade, na forma de trabalho obrigatório. Tal iniciativa é razoável, implementada em países desenvolvidos e, dentro da academia, considerado um ponto superado.

Pressionado pelas ruas e com a popularidade em baixa, o governo Dilma trabalha no improviso. E, por erro próprio, tem dificuldades de implementar ideias positivas para o país.

Outra coisa
E a história dos boatos contra o Programa Bolsa Família? Não deu em nada, evidentemente. O governo se aproveitou da Polícia Federal para apurar o vazio. E, durante o curso das investigações, interlocutores espalharam versões sobre empresas e pessoas envolvidas no crime. Agora que nada se provou, os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) deveriam ter convocado uma coletiva para explicar a apuração e as declarações precipitadas. Mas tudo acabou numa singela nota à imprensa, assinada pela própria PF. Depois ainda reclamam da oposição.

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