domingo, julho 21, 2013

Ingenuidade de muitos e esperteza de alguns - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR

GAZETA DO POVO - PR - 21/07

A repetição está ficando cansativa: passeatas e manifestações públicas começam de maneira ordeira e pacífica, até que, de repente, grupos iniciam desordens, depredações e saques em lojas e em agências bancárias. A imprensa corre para caracterizar esses desordeiros como uma pequena minoria, que não representa o sentimento popular expresso nos protestos pacíficos. E invariavelmente a polícia é acusada de arbitrariedade e de violência na repressão dos protestos...

Há verdade e há ingenuidade nessa interpretação, e uma rápida visita aos vídeos dos tumultos em São Paulo e Rio seria bastante instrutiva. Em São Paulo, por exemplo, quando a sede da prefeitura da cidade estava sendo defendida pela Guarda Municipal Urbana desarmada, a multidão avançou sobre o prédio e os guardas tiveram de fugir em correria para não serem linchados (não é necessário acreditar no que estou dizendo: os vídeos estão no YouTube à disposição de quem quiser vê-los).

A esmagadora maioria dos que vão às ruas protestar está demonstrando, apenas, seu desencanto com os canais convencionais de expressão política; não se sente representada condignamente pelos parlamentares e se mostra decepcionada com ações e omissões dos governantes que escolheram. Mais que isso, mostra-se descrente com os jogos de capa e cartola e os truques de prestidigitação que lhe são impingidos pelas “lideranças políticas” como possíveis “soluções” para a voz das ruas. No entanto, desconhecer que esse desencanto geral está sendo capitalizado por grupelhos políticos radicais ou simplesmente por criminosos e meliantes é de uma ingenuidade colossal. E dessa ingenuidade nasce uma intolerância absoluta com qualquer ação policial para reprimir as violências de rua, os saques e as depredações que vão se repetindo sob nossos olhos.

Vamos ser práticos: quando a situação degringola e começa a violência sem limites nem controles, não há métodos suaves e indolores para debelá-la. E, antes de rotular essa minha opinião como fascista ou arbitrária, sugiro aos críticos que façam uma breve pesquisa a respeito de como os países maduramente democráticos enfrentam essas situações em que a multidão se transforma em turba. Máscaras e artifícios para cobrir o rosto são pura e simplesmente proibidos (aliás, é ridículo usar máscaras de Guy Fawkes, um personagem da história inglesa desconhecido por nove entre dez brasileiros nos protestos); gases e armas não letais para reprimir a violência de populares são utilizados sem cerimônia; depredadores e saqueadores são presos sem complacência nem hesitação. O secretário de Segurança do Rio de Janeiro foi claro e preciso: não existem manuais nem protocolos científicos a respeito de como se enfrentar a violência descontrolada. E, antes que os ingênuos de plantão venham com a teoria de que a população pode agir violentamente, mas os agentes do Estado não o podem para dar o exemplo de civilidade, é bom lembrar que entre as prerrogativas exclusivas do Estado está exatamente o monopólio da violência legal, ou seja, do uso da força para restaurar um mínimo de ordem pública.

Escrevo estas linhas com duas certezas: a primeira é de que serei interpretado de maneira equivocada e aligeirada por muitos. Não importa: não cheguei à idade que tenho para ter medo de patrulhas ideológicas de qualquer tipo. A segunda é que ainda temos – como nação – de aprender muito a respeito do delicado equilíbrio entre os direitos da cidadania e seus deveres. Nenhuma democracia verdadeira sobrevive quando a população esquece que, para que o direito de cada um seja respeitado, é necessário que esse cada um esteja pronto a respeitar a vida, a integridade, a propriedade e os direitos dos outros.

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